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João Augusto Tárik Fernandes Icaro Rossignoli Tendências africanas na construção do Estado e da nação pós-colonial

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Joo Augusto Trik Fernandes Icaro Rossignoli

Tendncias africanas na construo do Estado e da nao ps-colonial

Rio de Janeiro 2015Tendncias africanas na construo do Estado e da nao ps-colonial

Este artigo um dilogo com aquele escrito por J. Isawa Elaigwu e Ali A. Mazrui intitulado Construo da nao e evoluo das estruturas polticas. A princpio traaremos brevemente o perfil acadmico dos autores e, em seguida, faremos uma exposio das ideias principais levantadas no seu artigo. Acrescentaremos tambm, guisa de reflexo, algumas contribuies ao tema.

Os autores

Jonah Isawa Elaigwu nasceu na Nigria em 1948. Ele se graduou em Cincia Poltica pela Universidade de Ahmadu Bello (ABU), na cidade nigeriana de Zaria, em 1971. Ele obteve mestrado e doutorado em Cincia Poltica pela universidade americana de Stanford entre 1971 e 1975. Nesse mesmo ano, ele retornou ABU como professor palestrante. Em 1979 ele transferiu-se para a Universidade de Jos, tambm na Nigria, como professor palestrante snior, eventualmente tornando-se chefe do Departamento de Cincia Poltica. Autor de uma grande quantidade de livros, seu trabalho centrado na discusso sobre as origens e a dinmica do federalismo nigeriano.

Ali A. Mazrui nasceu na cidade queniana de Mombassa em 1933. Graduou-se na Universidade de Manchester, na Inglaterra, em 1960. Em seguida, obteve mestrado e doutorado pelas universidades americanas de Columbia e Oxford, respectivamente, entre os anos de 1961 e 1966. Mazrui foi professor da faculdade Makerere, no Uganda, at 1973, ano em que foi forado a exilar-se devido represso poltica do regime Idi Amin. Tornou-se ento professor na Universidade de Michigan, tornando-se depois diretor do Centro de Estudos Afro-americanos e Africanos. Em 1989, foi indicado para um posto na Universidade de Binghamton, em Nova York, como professor da rea de humanidades e diretor do Instituto de Estudos Culturais Globais (IGCS). Em 2005, foi considerado nmero 73 entre os 100 mais influentes intelectuais pblicos no mundo pelas revistas Prospect Magazine e Foreign Policy. Mazrui foi presidente da Associao de Estudos Africanos e, alm de suas funes acadmicas, tambm serviu como conselheiro especial do Banco Mundial para a frica e membro do Conselho Islmico Americano. Seus interesses centrais de estudo incluem a cultura poltica africana, relaes internacionais africanas, o isl poltico e relaes norte-sul. Ele foi autor e coautor de mais de vinte livros, incluindo a participao em artigos e edio do oitavo volume da coleo da UNESCO sobre a Histria Geral da frica. O professor Mazrui faleceu de causas naturais em sua casa na cidade de Vestal, estado de Nova York, em outubro de 2014.

Significados do Estado e significados da nao

Os autores iniciam o trabalho estabelecendo distines entre os conceitos de Estado e de nao, apontando que ambos envolvem aspiraes dos dirigentes africanos no contexto posterior descolonizao. Por um lado, a inteno de dar maior estabilidade ao Estado e, por outro, de conferir uma identidade nacional populao desse Estado.

O debate colocado nos moldes corretos pelos autores ao identificar a nao como uma construo identitria envolvendo um sentimento de pertencimento comum dos habitantes de um territrio. Menos pertinente a distino entre elementos objetivos (idioma, histria, integrao econmica e poltica etc) e subjetivos (o sentimento comum e fidelidade junto ao grupo). Parece muito mais que a nao baseia-se prioritariamente na segunda categoria, de sentimento identitrio, sem negar que os elementos objetivos so importantes condies histricas para a construo ideolgica. Mas h tambm uma tendncia a confundir, atributos da nao com o que, na realidade, so componentes do Estado (governo comum, experincia poltica comum).

Sem dvida, os autores tem razo em demonstrar que a construo da ideia de nao entre os atuais Estados africanos um processo extremamente recente, que se inicia somente na dcada de 1960. Outro elemento importante a compreenso de que identidades nacionais incluem vrias dinmicas, no apenas a de substituio de uma por outra. De forma que pode haver uma concatenao de identidades. Um habitante da frica ocidental pode se identificar ao mesmo tempo como Iorub e nigeriano, por exemplo. Essa relao dialtica entre nao e naes de contedo tnico caracterstica do territrio africano, por incluir tradies antigas que sobreviveram (ainda que modificadas pelo processo colonizador) e novas tentativas baseadas nos Estados herdados da poca colonial. A construo da nao no se basearia necessariamente em legitimar somente um tipo de vivncia cultural, mas em agregar uma unidade na diferena.

O nico ponto com o qual temos discordncia no qual os autores afirmam que na frica se d um processo inverso dinmica ocidental (europeia?) na relao entre Estado e nao. Segundo Elaigwu e Mazrui, a construo do Estado e da nao podem se dar simultaneamente, assim como um elemento pode preceder ao outro. Nesse ponto, afirmam que na frica tem-se visto, via de regra, o Estado preceder a construo da nao. Uma exceo apontada o caso da Eritreia, no qual afirma-se que a existncia de uma nao levou a anseios pela formao de um Estado. Eles afirmam ento que essa dinmica inversa ao caso ocidental da modernidade, no qual identidade nacional teria precedido a formao do Estado moderno (p. 523). Entretanto, estudos como o de Eric Hobsbawm sobre a construo nacional europeia demonstram a precedncia da construo do Estado e seu papel na integrao de distintas identidades comunais ou regionais (um processo complexo e de longa durao). A construo de um Estado a partir de formaes locais parece preceder construo da identidade nacional tambm nesse caso.

Podemos acrescentar que a atual configurao, na qual quase a totalidade dos Estados africanos manteve a estrutura da poca colonial, no era a nica configurao possvel. No falamos somente em relao estabilidade das fronteiras, mas tambm deciso de buscar edificar certas identidades nacionais referentes a seus territrios. Uma possibilidade era a consolidao de uma identidade pan-africana. Como demonstra Elikia M'Bokolo em sua obra de referncia sobre a histria da frica, era uma inteno marcada de certos dirigentes a construo de uma federao africana onde distintos territrios manteriam sua autonomia. Esse o caso do gans Kwame Nkrumah. Tal federao se basearia em uma experincia histrica comum na colonizao e na resistncia a ela.

preciso demonstrar atravs de mais investigaes como a construo de um sentimento nacional nos pases da frica no era algo dado, mas uma disputa onde essa era somente uma das variantes possveis. Tratou-se sobretudo de um conflito entre a preponderncia de interesses locais e interesses centralizadores, nos quais os ltimos tem demonstrado capacidade de alcanar um lugar nas mentalidades. Porm, os casos de vrias guerras civis entre regies com populaes de origem tnica distinta revelam o quanto esse processo incipiente. Trabalhos como o de Joo Paulo Henrique Pinto sobre a construo do Homem Novo sob o governo do Movimento Popular de Libertao de Angola (MPLA) demonstram isso. Apesar das intenes do grupo dirigente em eliminar vnculos tnicos, a nova identidade teve uma marca muito superficial sobre as mentalidades desse pas, quando muito acrescentando (em vez de substituir) as noes j existentes de pertencimento. O caso da Nigria, apresentado por J.D. Fage tambm exemplar. Disputaram o poder as regies do Norte (muulmana), Oeste (iorub) e Leste (ibo) por vrios anos, na instvel federao que haviam constitudo desde 1960, incluindo tentativas de secesso. Depois de muitos esforos, houve o alcance de certo equilbrio precisamente no reconhecimento de um grande nmero de provncias com larga autonomia, que mantm-se unida na federao nigeriana.

A herana colonial nos moldes estatais

Elaigwu e Mazrui apontam como a maioria dos novos Estados africanos herdou sistemas polticos e jurdicos estabelecidos pelo colonizador. Eram, sobretudo nas colnias britnicas e francesas, constituies federais e parlamentares pluripartidrias em moldes europeus. Uma tese central nos trabalhos de Mazrui a da inadequao de estruturas ocidentais (assim como a das socialistas) estabelecidas pelos governos africanos recm-sados da ordem colonial.

Essas estruturas criadas durante a colonizao como uma reproduo espelhada das instituies metropolitanas, para gerir os afazeres do homem branco em seus esforos. Um dos argumentos principais levantados por essa tese precisamente a de que tal estrutura serviria muito mais aos interesses de explorao econmica e subordinao poltica do colonizador do que para uma construo nacional efetivamente africana. Esse arcabouo poltico e jurdico tambm sustentava uma relao na qual as antigas elites locais eram subordinadas ou integradas de forma perifrica dinmica do poder e havia uma tendncia excluso de mecanismos de participao popular.

J.D. Fage mostra que, com a exceo dos pases que enfrentaram guerras de independncia (Arglia, Angola, Moambique e Guin-Bissau), o sistema administrativo foi simplesmente posto nas mos de membros da chamada nova elite africana, que antes ocupava apenas postos subalternos da administrao colonial e era dona de poucas empresas. Como mostra Adiele Afigbo em seu artigo sobre as estruturas sociais geradas no perodo colonial, as novas elites foram criadas num cenrio de educao e maneiras europeias. Isso contribuiu para que muitas vezes essas novas elites fossem vistas pela populao rural ou mesmo pelas classes trabalhadoras como uma mera ocupante dos postos dos colonizadores. Esse foi um elemento importante nos vrios questionamentos a essa ordem que partiram, sobretudo, dos estratos militares e/ou dos sistemas de partido nico. Estes relegariam a dinmica de disputa entre velha e nova elite a um segundo plano, trazendo tona um novo estilo de fazer poltica.

Processos de integrao e mutao dos Estados O processo de edificao da nao, compreendida como comunidade estvel, historicamente evoluda de pessoas tendo em comum um territrio unificado sob a autoridade de um governo nico, um pas, um Estado (...)gerou conflitos internos nos Estados africanos, pois as vrias naes, entendidas como um povo ou uma tribo(ELAIGWU, 2010) que pertenciam a esses Estados, entraram em coaliso, em diversos momentos, com o projeto central de nao, realizado pelas elites locais ps-coloniais, assentadas no poder do Estado. A concepo de nao como um conjunto de tradies e instituies em comum pode ser entendido, nesse contexto, como o objetivo principal no processo de edificao da nao. As elites africanas, herdeiras da administrao colonial, pretendiam manter a antiga estrutura politica, com fins de centralizao da autoridade politica. Por isso, afirma-se que pretendiam, primeiramente, a construo do Estado, para depois buscarem a edificao da nao, que consistia em instaurar a unidade entre os grupos heterogneos habitantes no pas. Dessa forma, muitos governos se organizaram na forma de partido nico, inclusive com forte carter personalista. Esses partidos variavam ideologicamente, entre moderados e radicais. Outros objetivos como ampliar as perspectivas para a participao politica e distribuir os recursos menos abundantes(ELAIGWU, 2010) ficaram em segundo plano, na maioria dos pases africanos, no perodo ps-independncia, tratado nesse trabalho.Como foi dito, as elites locais, ps-coloniais, pretendiam favorecer a questo de construo do Estado, em relao edificao da nao. A formao de uma conscincia nacional seria mais facilmente alcanada, com um Estado forte, ou seja, com uma autoridade central estabelecida. A partir dela, os dirigentes poderiam planejar como se desenvolveria a identidade nacional, quais seriam os elementos principais da nacionalidade, quais seriam os principais pontos de convergncia, para identificao dos membros da populao entre si. Os pases, recm-independentes, herdaram a organizao administrativa colonial, que funcionava para a manuteno da ordem e explorao das riquezas. As elites politicas locais herdaram das autoridades coloniais um governo central armado de instrumentos coercitivos e de manuteno da ordem. Os poderes pblicos eram maiores detentores de recursos econmicos do pas. Em suma, a principal preocupao das elites herdeiras, posteriormente independncia, era consolidar e expandir a autoridade do Estado. Ou seja, no pretendiam, aps a independncia, eliminar toda a estrutura de poder anterior, mas sim conquista-la. No entanto, estruturas multinacionais e poli tnica no mudaram logo aps a independncia. Edificao da nao, para os novos dirigentes, era um objetivo de longo prazo. A finalidade das estruturas politicas coloniais, aps a independncia permaneceram as mesmas. No perodo ps-independncia o regime colonial virou instrumento de manuteno da ordem e uma ferramenta de explorao.

Ideologia e sistemas polticosA maioria dos Estados africanos permaneceu ainda muito dependente das antigas colnias, aps a independncia. Executivos autoritrios constituram-se para solucionar os problemas de sucesso politica. Com isso, ocorreu a tendncia subordinao dos governos locais ao governo central em diversos pases africanos, como Gana e Qunia, aps a independncia. Nigria foi um caso oposto. Considerada a fragilidade, muito amide constatada nos Estados africanos, grande parte das elites que garantiram a passagem do poder preferiu sistemas unitrios de governo(ELAIGWU, 2010). Esse direcionamento politico dos pases africanos associa-se a um conceito de ideologia que consiste num sistema geral e coerente de princpios, por uma perspectiva totalizante, obsesso do futuro, viso dicotmica amigo-inimigo, etc.(STOPPINO, 1998). Como consequncia dessa tendncia centralizadora dos governos, alterou-se a relao com autoridades tradicionais. Dessa forma, ocorreram trs tipos de reao frente s instituies tradicionais: limitao dos poderes dos chefes pelas elites da passagem ao poder, isolamento dos chefes no obscurantismo politico, ou atribuio de nenhuma funo, papel na nova ordem politica, evidenciando um enfraquecimento desses chefes locais no contexto politico ps independente. Contudo, em muitos pases, interesse no socialismo acompanhava a afirmao de valores tradicionais (FAGE, 2010).

A preocupao dos governantes africanos em fortalecer o Estado, mantendo as estruturas colnias antigas, demonstra que esses polticos visavam garantir o poder para si, o qual, anteriormente, pertencia s metrpoles. O projeto ideolgico desses governos pretendia o desenvolvimento econmico, sobretudo. A ideologia, nesse caso pode ser compreendida como um sistema de ideias conexas com a ao, que compreendem um progresso e uma estratgia para a ao e sua atuao (...) e tambm como um Sistema de crenas explicitas, integradas e coerentes, que justificam o exerccio do poder, explicam e julgam os acontecimentos histricos, identificam o que bom e o que mau em poltica e outros campos de atividade e fornecem uma orientao para a ao (STOPPINO, 1998). A ideologia se fazia necessrio, devido aos diversos conflitos internos com grupos locais, subnacionais. Conflitos tnicos, raciais ocorriam frequentemente, justificando a presena, para as elites de cada Estado, de governos autoritrios, com um proposito ideolgico intensivo. Alm disso, como relata J, D. Fage, nos anos 70 e 80, a maioria dos pases africanos passaram por crises econmicas de escassez na produo de alimentos, urbanizao intensa, no planejada, endividamentos externos, fora problemas relacionados sade da populao, como a disseminao do vrus da AIDS. Esses fatores fizeram com que os pases africanos tornassem-se mais dependentes (ao menos economicamente) de rgos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. Estes impuseram aos pases africanos, medidas econmicas, reduzindo a liberdade econmica deles. Todo esse quadro de crise imps uma subordinao dos pases africanos a agentes externos, enfraquecendo a soberania destes. Portanto, a tendncia formao de governos centralizados, autoritrios na frica, pode ser explicada por esses fatores, alm de um maior afastamento da influencia das antigas metrpoles. Esses governos almejavam um Estado forte para poder combater todas essas ameaas, alm de como j foi dito, criar uma unidade entre os diversos grupos existentes dentro de seus territrios.

Em sntese, a construo do Estado como prioridade, que resultou em Estados autoritrios, pode ser explicada pela busca de uma edificao da nao imposta de cima e de uma busca por uma soberania forte, constantemente ameaado pela interferncia de agentes externos (rgos internacionais e potncias mundiais, incluindo antigas metrpoles), em decorrncia de problemas estruturais j citados. Por esses motivos, a construo do Estado pode ser vista como uma compensao fragilidade dos pases africanos, que os tornavam altamente suscetveis a qualquer interferncia externa. As relaes entre civis e militaresAps a realizao de um longo e tardio processo de independncia em grande parte dos Estados africanos, esse continente entrou em um perodo to devastador e conflituoso quanto sua luta contra colnias europeias. Na segunda metade do sculo XX os cidados africanos presenciaram a maior srie de golpes militares j vista em um espao temporal to curto. Na longa lista que, segundo Elaigwu, em meados dos anos 1980, a frica conhecera mais de 70 golpes de Estados militares (ELAIGWU, 2010, p. 554), figuram naes importantes como Arglia, Congo, Nigria, e Etipia e Libria (os dois nicos pases da frica Subsaariana que se mantiveram livres na disputa colonial). Em sua sucinta anlise acerca das numerosas intervenes militares ocorridas no ps-independncia, o Professor Isawa Elaigwu define quatro possveis causas. Sua primeira crtica feita ao ambiente sociopoltico, em muito herdado pelas administraes coloniais. Essa herana foi, em parte, o fator responsvel pela gerao das clivagens no seio das estruturas sociopolticas, os desacordos entre dirigentes, a incompetncia poltica dos dirigentes, o mal-estar econmico, etc. (ELAIGWU, 2010. p. 554). Viso tambm debatida nos trabalhos de Aklilu Habte e Teshome Wagaw (em que esses enfocam o papel da educao, com a disputa entre dirigentes nacionalistas e chefes tradicionais), e de Elikia MBokolo (em um olhar mais geral sobre a clivagem social e a gesto poltica no perodo de conquistas europeias). A segunda causa talvez seja o maior exemplo entre o movimento pendular das relaes entre civis e militares, em que as questes que deveriam ter um carter exclusivamente civil so responsveis por decises militares. Esse processo poderia ser classificado como um tipo de politizao no meio militar, incentivando assim motivaes sociomilitares no exerccio de poder. A terceira causa dada por Elaigwu diz respeito ao contexto internacional, de modo geral. A influncia que as questes sociopolticas de outros exercem sobre um determinado Estado seria o ponto mais importante. A quarta e ltima circunstncia relacionada ao grande nmero de golpes de Estados militares so causas de temas mais amplos, como a disputa chefe militar X chefe poltico. Dessa maneira, com a interveno consolidada os militares podem ocupar trs posies (segundo a diviso de C. E. Welch Jr e A. K. Smith), para implantar as mudanas desejadas e resolver as crticas q os prprios, ainda como oposio, faziam aos governos civis. A primeira possvel posio que o novo governo poderia se adequar a de tutor, com a difundida estratgia militar de manuteno da ordem pblica, e da coero social. Essa coao externa, para o psicanalista Freud, em sua anlise sobre o comportamento das massas artificiais (como o exrcito), empregada pra evitar sua dissoluo e impedir mudanas na sua estrutura (FREUD, 1921, p.46), conseguindo assim o poder necessrio para construo do governo militar. Um exemplo de Estado militar que desempenhou o papel de tutor foi o Zaire do presidente Mobuto. O segundo modelo o do regime reformista, que daria grande importncia edificao da nao e ao desenvolvimento econmico ordenado. Elaigwu, para melhor compreenso desse modelo, destaca o exemplo da Nigria, com seus importantes programas econmicos e a formao de um novo modelo anti-imperialista, porm a partir do estudo do sistema europeu (com os dirigentes nacionalistas analisados por Aklilu Habte e Teshome Wagaw). O ltimo modelo, menos frequente, o do regime radical, que, em grande parte dos casos, acabava por se transformar em um sistema reformador ou de tutor.O fracasso na construo de um governo junto aos interesses da sociedade, por grande parte dos regimes de grande relevncia para o autor. Segundo Elaigwu (2010, p.557):Regimes militares e regimes civis, ambos, no demostraram suficiente capacidade em mobilizar a populao em prol do fortalecimento da nao, salvo em referncia a um pequeno grupo de Estados cujos chefes utilizaram a ideologia e as estruturas de um partido nico no curso da construo nacional.

ConclusoDessa forma, podemos analisar as principais caractersticas e eventos histricos que contriburam para a formao do continente africano no sculo XX. Com grande enfoque dado edificao da nao e do Estado (com suas diferentes definies), e o papel da interveno europeia, so apresentadas a construo e as modificaes das instituies nacionais, com o interesse das novas elites, ocupantes do poder no ps-independncia e herdeiras do passado colonial. A formao dos Estados e os resqucios de colonialismo tambm esto exemplificados nos modelos polticos adotados, principalmente acerca da questo do sistema de partido nico e o pluripartidarista, modificados com as intervenes militares. A educao foi, assim como a formao ideolgica, alguns dos principais fatores na edificao da nao, na maioria dos pases africanos, deixada de lado at recentemente, o que ocasionou uma construo tardia de uma identidade coletiva. Em resumo, com a anlise dos processos de formao do Estado e edificao da nao, que, segundo Elaigwu, so simultneos, somos capazes de compreender com mais preciso a formao do continente africano no decorrer do sculo XX, com seu perodo colonial, sua luta por independncia e o nascimento de Estados livres.

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PROFESSOR Jonah Isawa Eliagw (register) athttp://www.idomaland.org/icon/professor-jonah-isawa-elaigwu