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Artigo Sobre Individualismo Moral
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O INDIVIDUALIMO MORAL DE MILE DURKHEIM E SEU
CONTRAPONTO AOS UTILITARISTAS CLASSICOS
Aluno: Ronaldo Jesus dos Santos
Orientador: Sidnei Ferreira de Vares
Resumo: A proposta deste Trabalho foi analisar o problema que mile Durkheim se
deparou nas sociedades modernas no sculo XIX, a saber, o Individualismo Moral. O
contraponto em questo seria a relao entre indivduo e sociedade, suas divergncias
so encontradas no individualismo Utilitarista dos economistas clssicos. Dessa forma,
Emile Durkheim expe questes fundamental tais como: a do estado de natureza do
homem, sua condio de indivduo e sua capacidade para viver em sociedade. Esta
reflexo o levar a busca pelo conceito de individualismo fazendo com que
individualismo moral seja diferente do individualismo egosta. A concluso a de que
h uma integrao social que superaria essa conduta utilitria e simples remediada pelos
economistas clssicos, que apesar da sociedade reger os indivduos por meio da coero
esse tem vida prpria e est ativo na sociedade.
Palavras-chave: Individualismo moral, Individualismo egosta, Indivduo, sociedade.
THE INDIVIDUALIMO MILE DURKHEIM MORAL AND COUNTERPOINT
TO YOUR CLASSICAL UTILITARIANS
Abstract: The purpose of this work was to analyze the problem mile Durkheim
encountered in modern societies in the nineteenth century, namely the Moral
Individualism. The contrast in question is the relationship between individual and
society, their differences are found in the utilitarian individualism of the classical
economists. Thus, Emile Durkheim sets out key issues such as: the state of nature of
man, his individual condition and its ability to live in society. This reflection will lead
the search for the concept of individualism causing moral individualism is different
from selfish individualism. The conclusion is that there is a social integration to
overcome this conduct utilitarian and simple remedied by the classical economists, that
although individuals of society governed by coercion that has its own life and is active
in society.
Keywords: moral individualism, selfish individualism, individual, society.
1. Introduo
um interesse persistente dos estudiosos das obras de Durkheim glosarem o tema
do individualismo moral que aparece nos textos de autores. Tratar-se-ia de um problema
fundamental, tendo em vista que o individualismo moral um problema da vida e os que acreditam na causa exposto a entender o problema das relaes sociais, problema
esse, que rompeu gerao com seus modos de analisarem o mundo no se pode dar ao
luxo de no pens-lo quando se quer bem viver e alcanar uma norma moral legtima e vlida a todos.
Dois foram os percursos pelos quais percorremos e pudemos descobrir as razes
das divergncias entre o pensador France e os utilitaristas: Os utilitaristas clssicos parte
da ideia que para promover os indivduos a viverem em sociedade era necessrio o
mtodo egosta, onde cada individuo busca seu interesse individual, j Durkheim, por
sua vez, critica severamente a ideia, pois, a vida em sociedade est muito distante de
interesses individuais, porquanto, como moralidade da operao simultnea vemos
como caractersticas bsicas os conceitos de compaixo e o respeito pelas leis e pelos
outros, e promove a elaborar uma moral a partir dos fatos sociais.
Os utilitaristas clssicos so propositivos em suas palavras ao nos dizer que o
objetivo da filosofia moral a qual apregoam, toma como defesa que o cabo de nossas
aes a felicidade e que o correto definido em cumprimento das melhores
consequncias, que so determinadas em cumprimento da maximizao imparcial da
felicidade dos afetos por nossas aes. Ou seja, fazer com que execute a maior soma de
felicidade possvel a todos aqueles que sofrem de alguma forma os resultados naturais
do que fazemos, remeter essa maximizao independente de serem pessoas que por ns
temos afeto. Com isso entre salvar algum prximo de um perigo eminente de incndio
e salvar alguns estranhos, tendo em vista que, salvar alguns estranhos maximiza a
felicidade, o padro moral utilitarista tem como defesa e certificao salvar a alguns
estranhos do que algum prximo.
A Filosofia moral utilitarista de John Stuart Mill bem identificada em trs
partes: a felicidade desejvel; a felicidade geral desejvel, a felicidade a nica
coisa desejvel como fim, sendo tudo o resto desejvel apenas como meio ou parte
desse fim. Diante dessas alegaes na maximizao da felicidade, ns debruamos no
esclarecimento da Especialista Fernanda Belo Gontijo:
Em primeiro lugar, Mill usa as seguintes figuras de linguagem para mostrar que
a felicidade desejvel: assim como podemos comprovar que determinado objeto pode
ser visto, dar-se a conhecer que as pessoas o vem e estabelecer a verdade que um som
audvel dando a conhecer que as pessoas o ouvem, tambm estabelecemos a verdade
que a felicidade desejvel demonstrando assim, que as pessoas a desejam. De
segundo, provar que a felicidade geral desejvel: Mill alega que se cada pessoa
deseja a sua prpria felicidade, de modo consequente todas as pessoas desejam a
felicidade de todas as pessoas. Mas essa generalizao um tipo de falcia da
generalizao precipitada: uma amostra pequena usada para sustentar uma concluso
tendenciosa. Nada se tem por garantia que quem desperta em almejar a sua prpria
felicidade venha a desejar a felicidade de todas as pessoas. Por fim, a terceira visa
mostrar que a felicidade a nica coisa desejvel como fim ultimo e o resto desejvel
apenas como meio ou parte para a felicidade. Mill alegava da seguinte maneira: defende
o fato de as pessoas desejarem outras coisas diferentes da felicidade, como a virtude,
por exemplo. Admite que a virtude seja digna de ser desejada e que deve ser desejada
por si mesma e acrescenta que tanto a virtude quanto outros ingredientes da felicidade (a
msica, a sade, etc.) no so radicalmente distintos ou separados da felicidade.
(GONTIJO, 2010, p . 1-18)
Diferentemente pensa e trabalha Durkheim, para quem a moral objeto de
cincia. A propsito Durkheim, tencionava fundar uma cincia da moral de inspirao
positivista, pela qual a moral entendida como uma cincia dos costumes e enxergava na sociedade o habitat do Homem e do exerccio da vida moral, lugar onde os grupos
sociais se organizam e interagem. A moral durkheimiana um sistema de fatos
realizados ligados ao sistema total do mundo. Essa ideia de se fazer uma cincia da
moral no era nenhuma novidade na poca de Durkheim, ou mesmo antes dele, no era
um pioneirismo. No entanto, a diversidade das concepes quanto ao que tal cincia
deveria ser era to grande quanto o nmero daqueles que pretendiam fund-la.
inclusive bastante provvel que o projeto de matriz durkheimiana tenha sobrevivido
prova do tempo, muito mais em virtude de sua vinculao com a constituio da
Sociologia institucionalizada academicamente do que enquanto cincia da moral pura e simplesmente, ou enquanto base para reformas morais e polticas (WEISS, 2010,
p. 31).
No captulo segundo so expostos, sucintamente, os equvocos identificados por
Durkheim, nas interpretaes da moral a respeito das causas do estado doentio1 que se
observava nas sociedades modernas, levaram-no a enfatizar em sua tese A Diviso do
Trabalho Social, a importncia de fatos morais na integrao dos homens vida
coletiva. Ele acreditava que a Frana encontrava-se mergulhada numa crise devido ao
vazio provocado pelo desaparecimento dos valores e das instituies protetoras advindas do perodo feudal, como as corporaes de ofcios. Conflitos e desordens
seriam os sintomas da anomia2 jurdica e moral presente na vida econmica, cujo
progresso sem precedentes no tinha sido acompanhado de igual desenvolvimento de
instituies dotadas de uma autoridade qualificada de regulamentar os interesses e
estabelecer limites. A prpria moral profissional encontrava-se ainda num nvel
rudimentar. Quando a sociedade perturbada por uma crise, torna-se momentaneamente
incapaz de exercer sobre seus membros o papel de freio moral, de uma conscincia
superior dos indivduos.
O fato moral, na expresso de Durkheim, um fenmeno social como os outros,
passvel de estudo e compreenso cientfica, fazendo uso dos mtodos das cincias
positivistas possibilitando a construo de uma moral laica e cientfica, livre da influencia da Igreja ou mesmo de ideologias de matiz filosfica. Para Durkheim:
1 Na tentativa de curar a sociedade da anomia, ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgnica entre os membros da sociedade. A soluo estaria em, seguindo o exemplo de um
organismo biolgico, onde cada rgo tem uma funo e depende dos outros para sobreviver, se cada
membro da sociedade exercer uma funo na diviso do trabalho, ele ser obrigado atravs de um sistema
de direitos e deveres, e tambm sentir a necessidade de se manter coeso e solidrio aos outros. O
importante para ele que o indivduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgnica, interiorizada e no meramente mecnica. 2 No livro Da Diviso Do Trabalho Social, Durkheim usa a palavra anomia, numa tentativa de explicar certos fenmenos sociais. No sculo XIX, as instituies sociais se encontravam enfraquecidas, os valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condies miserveis,
desempregados, doentes e marginalizados. Desta forma, numa sociedade integrada essa gente no podia
ser ignorada, Aos problemas que ele observou, ele considerou como patologia social, e chamou aquela
sociedade doente. A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia
era o meio para isso. O papel do socilogo seria, portanto estudar, entender e ajudar a sociedade em que
est imerso.
Moral (...) tudo o que fonte de solidariedade, tudo o que fora o indivduo a contar com seu prximo, a regular seus movimentos com base em outra coisa que no os
impulsos de seu egosmo, e a moralidade tanto mais slida quanto mais numerosa e forte so aqueles laos de solidariedade (DUKHEIM, 2008, p. 338).
Interessante notar que, tambm para Durkheim, a moral comea onde existe vida
coletiva, donde autonomamente forjam-se regras de convivncia que estrutura e
favorece as trocas e trabalhos sociais. A moral comea onde comea a vida em grupo. E
a princpio, o fato moral da obrigao uma das primeiras caractersticas da regra
moral. Seja como for, o fato que Durkheim se manteve como um autor relevante no
cenrio intelectual e sua cincia da moral tambm continuou como um tema de interesse
no debate contemporneo, muitas vezes adquirindo uma conotao distante daquela que
possua no cenrio intelectual original na qual foi concebida.
No captulo Terceiro so expostas as contraposies dos utilitaristas clssicos, os
moralistas e Durkheim, com o famoso caso Dreyfus possibilitamos a analisar a
problemtica obscura em toda a Europa a questo do individuo e a sociedade ponto
fundamental nos estudos de Durkheim. Confrontam-se aqui duas distintas orientaes
filosficas: o individualismo egosta e o individualismo moral depurado no final do
sculo XIX. Marcar essa total diferena, e nenhuma similaridade, entre os dois sistemas
de pensamento, foram um dos resultados dessa pesquisa. No obstante isso, o principal
resultado de nossa pesquisa foi encontrar em Durkheim pontos de interseo entre os
indivduos e a sociedade, e mostrar que o individualismo moral no se trata somente de
um mtodo terico e investigativo era acima de tudo uma preocupao pratica. Cabe ao
leitor crtico avaliar se estamos corretos.
2. A posio de Durkheim sobre moral
Para Durkheim, a crise moral que assolava sua poca, era resultado da desintegrao
das instituies sociais como a famlia, religio e grupos polticos. Isso o levou a firmar
uma proposta normativa, tendo por ideal a moral laica, firmada pelo estudo do
fenmeno moral como dever ser moral. certo que nos limites da pesquisa que nos
propomos, no temos a pretenso de operar um estudo exaustivo com o fito de tratar da
moral na sua totalidade, mas em Durkheim, oferecer uma expresso paulatina de seu
pensamento e sua principal proposta no universo da moral. Uma dificuldade, e, talvez, o
maior problema de compreender a moral de Durkheim, seja a relao entre o dever ser
moral e sua cincia, no entanto, ele quer demonstrar no o que a moral , mas como ela
deveria ser e isso resultaria na sua cincia da moral. possvel antever sua ideia de
estabelecimento dessa cincia nos manuscritos dos seus alunos no Liceu, em 1883,
projetando assim uma cincia da sociedade. Durkheim define o que seria cincia para ele:
As caractersticas que um sistema de conhecimento deve possuir para que seja considerado. A partir disso podemos generalizar e dizer que o objetivo da
cincia consiste em estabelecer relaes de identidade ou de causalidade (dado
que estabelecemos que o objetivo da cincia o de explicar) e que explicar
estabelecer relaes de identidade e causalidade entre coisas. Tendo isso em
considerao, examinemos [o que seja] uma cincia. Em primeiro lugar,
preciso que a cincia tenha um objeto de explicao que lhe seja prprio. Por
prprio, queremos dizer que esse objeto no contemplado por nenhuma outra
cincia e que bem definido. Como podemos explicar algo se ele no for bem
definido? Em segundo lugar, esse objeto precisa ser submetido ou a lei da
identidade ou a lei da causalidade, porque sem isso [teramos] nenhuma
explicao e consequentemente nenhuma cincia possvel. Mas essas duas caractersticas por si s no bastam para tornar um sistema de
conhecimento uma cincia. Para explicar um objeto, preciso que este seja
acessvel a ns. Se o objeto fosse inacessvel, ento, obviamente no
poderamos estuda-lo cientificamente. O termo utilizado para designar a
disposio da mente para estudar um objeto mtodo. Portanto a terceira caracterstica de uma cincia a de que esta possui um mtodo para estudar seu
objeto. 3
Decorrente dessa problemtica, Durkheim durante sua carreira acadmica
observa a possibilidade e a necessidade de trabalhar na proposta de uma cincia da moral, amparado pelo seu conhecimento de filosofia, o qual aplicaria seus modos de conhecer e explicar as ideias dos valores morais. Podemos observar aquela proposta do
autor numa das suas grandes obras, sua tese de doutorado na clebre discusso sobre Da
Diviso do Trabalho Social, esta tinha a pretenso de ser uma obra de cincia da moral
ou pelo menos aquilo que entendia ou que deveria ser tal cincia.
Este livro , antes de tudo, um esforo para tratar os fatos da vida moral de
acordo com os mtodos das cincias positivas. Mas o uso que se tem feito
dessa expresso no o nosso, e desnatura seu sentido. Os moralistas que
deduziram suas doutrinas, no de um princpio a priori, mas de algumas
proposies emprestadas de uma ou mais cincias positivas como a biologia, a
psicologia, a sociologia, qualificam sua moral de cientfica. Esse no o
mtodo que nos propomos seguir. Ns no queremos obter a moral a partir da
cincia, mas fazer a cincia da moral, o que algo bem diferente. Os fatos
morais so fenmenos como os outros; eles consistem em regras de ao que
so reconhecidos por certas caractersticas distintivas; deve, portanto, ser
possvel observ-los, descrev-los, classific-los e buscar as leis que os explicam (DURKHEIM, 2010, p. 43).
Mas ento de que forma deveria ser essa cincia da moral? Sobre qual aspecto o autor quer trat-la? Em sua tese de doutorado, Raquel Weiss expressa o que de fato
esse mtodo no deveria consistir: Fazer uma cincia da moral no nem deduzir um sistema moral a partir de um princpio a priori, mtodo este que ele considerava ser
propriamente filosfico, nem extrair a moral a partir da cincia, seja esta cincia a psicologia, a sociologia ou a biologia (WEISS, 2010, p. 81).
O esclarecimento da comentadora Raquel Weiss nos facilita a compreenso
dessa cincia, sendo o domnio da moral, onde visa ser o conjunto de fatos j existentes,
ou seja, aplica-se ao domnio do ser moral. Entende-se que a cincia da moral, dita por
Durkheim totalmente focada em uma perspectiva terica, uma vez que se preocupa em
conhecer aquilo que existe, ou seja, aquilo que a moral , no algo para alm daquilo
que pensam os moralistas que se atm as questes metafsicas. Durkheim v a cincia
3 Durkheim, David mile. Science and Philosophy. In: Durkheim et al., Durkheim's philosophy lectures: notes from the Lyce de Sens course, 1883-1884 (Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 42-
3). [As referncias a este texto sero sempre feitas a partir da verso em ingls, uma vez que se trata da
nica verso desse manuscrito publicada em livro. Para facilitar a conferncia com o texto original
francs, disponvel apenas na internet, citamos o texto a partir do nome da lio em questo, no caso,
Science and Philosophy ou Science et Philosophie. O endereo a partir do qual se pode ter acesso ao texto
o seguinte: mile Durkheim, Cours de Philosophie Fait au Lyce de Sens, Durkheim Pages, 1883,
http://durkheim.uchicago.edu/Texts/1884a/00.html. WEISS, Raquel Andrade. mile Durkheim e a
Fundamentao Social da Moralidade. 2010. 280f. Tese (Doutorado em Filosofia) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010.
tal como ela , esta se ocupa de fatos e no de ideias transcendentais, pois, isso seria
papel da metafsica. O pensador francs constri sua ideia de moralidade, vendo a
sociedade como habitat dessa vida moral, a partir dela que os grupos sociais se
organizam. Ele nega uma razo pura prtica, defendida por Kant ou por qualquer outro
moralista de sua poca. Podemos indagar se h critrios, qualquer juzo de valor sobre
valores? Porventura, h critrio para discernir entre o certo e o errado? A no ser o
prprio costume de cada sociedade? Isso nos faria adentrar num relativismo? Ento, se
Deus no existe e a cincia no pode tudo, tudo permitido?
Para Weiss (2010), Durkheim responderia essas indagaes com um sonoro no,
e ainda assim ele sempre teve que lidar com aquelas indagaes, por exemplo, no caso
do telogo tomista Simon Deploige, este se dedica a escrever um livro para confrontar
as ideias durkheimianas. No livro Le Conflict de la Morale et de la Sociologie, Deploige
afirma que a sociologia como um monstro inimigo de qualquer reflexo acerca da
moral. A comentadora Weiss deixa claro em sua tese o incmodo de Durkheim, por
causa dessa acusao e ao cit-lo mostra para qual direo devemos olhar se quisermos
entender sua posio a respeito:
Para ns, no h, nem pode haver, um conflito entre a moral e a sociologia: a
nica coisa que exigimos que a arte moral seja precedida por uma cincia da moral mais metdica do que as costumeiras especulaes da moral dita
terica. Toda nossa tese pode ser resumida da seguinte maneira: para
determinar o que deve ser a moral em um determinado perodo, preciso
antes de tudo saber aquilo que a moral , saber como distinguir aquilo que
moral daquilo que no o , e no podemos responder a essa questo se,
anteriormente, no tivermos estudado os fenmenos morais em si mesmos e
por si mesmos. No podemos simplesmente encontrar um critrio apenas
como um ato de vontade; a nica coisa que podemos fazer observar e
encontrar esse critrio a partir dos fatos (DURKHEIM, 1913, p. 328.) 4
Ento se vamos partir da ideia que a moral parte de fatos morais, quais so suas
caractersticas? Durkheim reala que a moralidade consiste em realizar fins impessoais, gerais, independente do individuo e de seus interesses particulares (DURKHEIM, 2008, p. 118). Para ele, o fato moral caracteriza-se por ser obrigatrio um dever conforma-se a ele , mas tambm envolve uma dimenso de desejo, o indivduo aspira a agir moralmente, a partir do que identifica como bem. Ele implica o
reconhecimento de que a vida social integrada e regulada promove, ou melhor, expressa
a solidariedade social e envolve a compreenso da conduta moral como possibilidade de
realizao de um ideal coletivo.
Diante de nosso mtodo de pesquisa, olhando para a sociedade e chegamos a
algumas concluses, do tipo que se existe uma moral comum, geral para todos os
homens que pertencem a uma coletividade, partindo do pressuposto de um ponto de
referencia impessoal para julgar as aes. Durkheim chegar a pensar que a moral comea, na vinculao a um grupo, do tipo que for (DURKHEIM, 2008, p. 48), e que
4 Para fins de conhecimento dessa obra que h muitos possa ser desconhecida, trata-se da obra:
DURKHEIM, E. Analyse du Conflit de la Morale et la Sociologie. In : DEPLOIGE, Simon. Le Conflit
entre la Morale et la Sociologie. Paris: Nouvelle Librairie Nationale, 1913. Tambm encontrado em:
WEISS, Raquel. A Concepo de Educao de Durkheim como chave para a passagem entre Positivo e
Normativo. In: MASSELLA, Alexandre Braga et al. (orgs.). Durkheim: 150 anos. Belo Horizonte.
Argvmentvm, 2009, pp. 169-189.
ao mesmo tempo, cada indivduo exprime a moral comum sua maneira,
compreendendo-a e vendo-a sob um ngulo diferente.
Pode-se perguntar se existe moral ou morais? E se cada indivduo tem uma
prpria, qual a razo de se estudar a moral de modo cientfico? Para responder tais
questionamentos ns remetemos ao texto de Durkheim, para que haja compreenso de
seu pensamento.
No reino moral, como ns demais reinos da natureza, a razo do indivduo no
tm privilgios s pelo fato de ser razo de indivduos. A nica razo pelo qual podereis reivindicar legitimamente, aqui como em qualquer lugar, o direito de
intervir e de se elevar acima da realidade moral histrica, como a finalidade e
reforma-la, no nem a minha razo nem a vossa, a razo humana,
impessoal, que no se realiza verdadeiramente seno na cincia. Assim como a
cincia das coisas fsicas nos permite corrigir a vida fsica, a cincia dos fatos
morais nos pe em condies de corrigir, de reaprumar, de dirigir o curso da
vida moral (DURKHEIM, 1970, p. 82).
Desta forma, as duas caractersticas do fato moral no so mais que dois
aspectos de uma nica e mesma realidade, que a realidade coletiva. A sociedade
ordena porque exterior e superior aos indivduos, o que faz com que a vontade deles se
submeta autoridade dela, por desej-la. Ou seja, temos essencialmente na viso de
Durkheim, um caminho a percorre, e nos levar aos dois primeiros elementos da
moralidade: a disciplina que por sua vez encontra-se um duplo objeto que regulariza e contm (Cf. DURKHEIM, 2008, p. 33).
E como isso acontece? A regra libera e liberta porque ensina o domnio de si e a
moderao. Limitar o homem condio de sua sade moral e de sua felicidade, dessa
forma, a disciplina emerge como o primeiro elemento da moralidade. O segundo
elemento da moralidade a adeso dos indivduos aos grupos sociais (IDEM, p. 61) dos quais toma parte, e nesses grupos h uma tripla ao em que se submetem a famlia,
a ptria e a humanidade e que por essa razo os tornam moralmente completo.
Entretanto esses grupos no tm todo o mesmo peso, existe neles uma hierarquia, um
deles possuindo preeminente e constituindo o fim, por excelncia, da conduta moral:
trata-se da sociedade poltica ou ptria, que subordina as famlias e encarnao parcial
da ideia de humanidade.
Conforme Maria Helena Augusto nos prope comparar as caractersticas
apontadas por Durkheim, para o fato moral, o dever e o bem com as atribuies dos dois
primeiros elementos da moralidade, quesitos citados no pargrafo anterior, visando de
um lado a disciplina, podendo se aproximar da obrigatoriedade, do dever, enquanto expresso de uma legislao imperativa que reclama inteira obedincia dos homens e do
outro uma convergncia com a ideia da sociedade concebida como coisa boa e
desejada (AUGUSTO, 2009, p. 220).
claro que, no momento atual em que vivemos a quem diga que esse mtodo
no tem relevncia, porm o mtodo durkheimiano tem por objetivo transformar em noes bem distintas e precisas as impresses confusas da conscincia moral comum. (DURKHEIM, 2009, p. 103).
Sabe-se que nos dois elementos da moralidade pode ocorrer incoerncia pelas
circunstncias da imposio sobre o nosso foro ntimo e que de certa forma nos parecer
como imoral e violento. Porm em Durkheim, a vontade s pode ser plenamente moral
quando autnoma, surgindo ento, como um princpio da moralidade seu terceiro elemento.
No terceiro elemento, o da autonomia da vontade, constitui para Durkheim a
possibilidade de construir uma moral racional e , de fato, a dimenso que permite falar
de autonomia individual, que consiste em ajudar a conscincia moral a enxergar, com
mais clareza nela prpria, as ideias confusas e divergentes que nela operam. Desde
ento no entender de Durkheim, o adequado cumprimento dessa terceira exigncia da
moral deve ser considerado sob dois ngulos: de um lado, envolve o reconhecimento da
integrao social como condio necessria para uma vida autnoma, de outro, denota a
exigncia da responsabilidade consciente dos indivduos em relao vida coletiva.
Afinal, Essa a maior novidade apresentada pela conscincia moral dos povos contemporneos; a inteligncia tornou-se e tem se tornado cada vez mais um elemento
da moralidade (DURKHEIM, 1947, p.18).
O que nos leva a conquistar essa autonomia? Do ponto de vista de Durkheim, a
autonomia possvel se forem considerados os dois elementos, seus componentes: a
liberdade de pensamento e a autodeterminao. Segundo Miller, de um lado, a capacidade e a possibilidade de as pessoas formarem seus prprios julgamentos e
opinies; de outro, a autodeterminao que permite a cada um controlar sua prpria
vida (WATTS MILLER apud AUGUSTO, 2009, p. 222).
Como apresentado anteriormente, a autonomia para Durkheim a nica
possuidora de algum valor para ns. Essa autonomia no determinante de nossa prpria natureza que flui no momento de nosso nascimento em funo de nossos
atributos constitutivos (DURKHEIM, 2008, p. 123). Ela para ns uma construo essa autonomia, s ocorrer na medida em que buscamos adquirir um conhecimento
melhor das coisas. Seu objetivo no implicar que as pessoas procurem um meio para
escapar do mundo e de suas leis, pois somos parte desse mundo, estamos inseridos nele,
e sem isso nossa conscincia seria vazia e sem contedo.
Conforme Maria Helena Augusto oferece uma explicao concisa a respeito
dessa ideia, qual seja:
A vontade s pode ser plenamente moral quando autnoma quando utiliza a razo em sua atividade, o homem age moralmente e, ao mesmo tempo, atua
com autonomia, porque segue as leis da natureza. Entretanto, a nica
autonomia a que possvel aspirar no inata, mas construda, na medida em
que uma inteligncia mais completa das coisas posta em movimento
(AUGUSTO, 2009, p. 222).
Dessa forma, o homem submete-se s regras e pe-se a servio do grupo,
entendemos que os indivduos so formados por aquilo que a sociedade faz deles, isto
porque indivduos sozinhos no fazem algo acontecer, seja mudar um sistema, uma
regra, um pensamento, conquanto o homem no humano seno porque vive em sociedade desta forma, a sociedade a condio para existncia do indivduo (DURKHEIM, 1947, p. 114).
Se analisarmos os indivduos da nossa modernidade, nota-se que somos
impulsionados para mudanas polticas, e o fruto dessas mudanas nos condicionam ao
movimento da sociedade. Grupos que procuraram por um ideal mudaram a histria. E o
que dizer das famlias que no tomam decises sozinhas, aquelas que procuram num
outro membro da famlia a melhor deciso, o que dizer das sociedades indgenas onde o
conceito de moralidade esta diretamente ligada ao grupo em decises tomadas entre
eles, ou seja, quando h uma imoralidade do indivduo da tribo, o grupo que toma a
deciso da punio. da natureza humana viver em sociedade, at para crescer
carecemos do outro para sobreviver, somos dependente do outro e nossa
conscientizao moral fruto do que a sociedade nos impem.
Segundo Maria Helena Augusto, na medida em que os indivduos so socializados, quando se tornam conscientes da necessidade da adeso voluntria s
regras impostas socialmente, possvel a constituio de identidade autnomas alis, essa a nica forma de atingir a autonomia e a nica forma realmente humana de
sobrevivncia (AUGUSTO, 2009, p. 223). E nisso nos conduzimos a determinarmos o terceiro elemento da moralidade que por sua vez conduzir s palavras de Durkheim
sobre a moralidade:
Para agir moralmente, no mais suficiente apenas respeitar a disciplina,
aderir a um grupo; preciso ainda que, seja no deferimento regra, seja no devotamento a um ideal coletivo, tenhamos a conscincia, a mais clara e
completa possvel das razes de nossa conduta. Porque essa conscincia
que confere nosso ato essa autonomia que a conscincia pblica atualmente
exige de todo ser verdadeiramente e plenamente moral (DURKHEIM, 2008,
p. 124).
Portanto, o problema da moral para Durkheim abordado na perspectiva de
haver a possibilidade de fundar uma cincia da moral, estabelecida a partir dos fatos
morais, os quais estes no tm nenhum conceito ligado filosofia da moral ou os meios
empregados pelos moralistas, pois esses meios utilizam ideias metafsicas e Durkheim,
no tem interesse em conceitos inatos ou transcendentais para formular sua concepo
de moral, antes decorrer unicamente naquilo que existe, do que emprico. trabalhar
o indivduo como membro da sociedade, ainda que afirmem que na tese de Durkheim,
no h autonomia nos indivduos, pelo fato dele remeter o indivduo sociedade.
Durkheim apresenta, de forma clara, o conceito de autonomia individual no da maneira
que pensam o senso comum. Conforme comenta Maria Helena Augusto:
No obstante a explicita afirmao feita por Durkheim acerca do novo tempo,
de uma nova sociedade, de uma nova moral, da emergncia do indivduo
enquanto categoria importante, e da necessidade de que este atue, faz com
que o indivduo no pense como sujeito de suas prprias aes, mas atuante
de forma efetiva na sociedade (AUGUSTO, 2009, p. 228).
Todavia, grande parte dos crticos aponta incongruncia quanto a sua pretenso,
isto , pretender tratar a moral, fenmeno complexo, relativo (a cada sociedade) e que
dispe de dimenses positivas e corretamente subjetivas (se pensarmos na maneira
como cada indivduo internaliza as regras, normas, etc.). Contudo, no se pode perder
de vista que Durkheim produziu cincia numa poca na qual a cincia tinha grandes
expectativas.
3. O Individualismo Moral
Decorrente da apresentao de Durkheim, na busca de formular uma moral
cientifica, coesa, sem nenhuma pretenso de uma filosofia da moral, e sim racional,
emprica que buscando uma forma de compreender a sociedade moderna que estava
desestruturada e sem perspectiva, v-se uma problemtica j citado anteriormente no
pensamento sociolgico de mile Durkheim, a relao do individuo e a sociedade, e
principalmente os questionamentos inseridos sobre esse assunto que requer nossa total
ateno com base, no individualismo moral.
Mas onde se sustenta esse individualismo moral? Qual seria a obra alem da tese de
doutoramento do socilogo Frances, que se debruou sobre esse assunto? E quanto aos
tericos que defendem esse individualismo em Durkheim? Essas perguntas uma
tentativa de expor a grandeza desse terico das Cincias Scias com o fim ultimo de
explicar nossa pesquisa decorrente dos pormenores do individualismo moral.
H alguns sculos atrs, mile Durkheim prescrevia um artigo sobre o controverso
caso de Dreyfus, onde no final do sculo XIX, trazia uma grande comoo sociedade
francesa. A questo que, h seis meses, divide to dolorosamente o pas est se transformando: na origem, simples questo de fato, ela se generalizou aos poucos (DURKHEIM, 2007, p. 01). No debate o questionamento estava posto sobre a relao
de intelectuais e artistas com a poltica, o que fez Durkheim discorre uma reflexo sobre
as problemticas atenuantes como o estado de natureza do homem, e as condies de
viver em sociedade. Conforme Durkheim, o pressuposto do individualismo moral tem
suas primcias na tica kantiana sendo uma condio fundamental, a autoridade do Estado e os Direitos do Homem para a sua realizao (SUREZ, 2010, p. 31). [minha traduo]
5
A reflexo social ao longo dos sculos teve como tema central o desenvolvimento
do individuo, onde vrios escritos de pensadores como Kant, Rousseau e Montesquieu e
obras de autores renomados contemporneos como Giddens, Aron e Beck. Sendo o
sujeito da sua prpria historia, observava o individuo, como fruto dos projetos da
Modernidade na exaltao e emancipao do progresso e seus ideais. Vale lembra-se
aqui que num primeiro momento a aproximao ao individualismo aparece com
questes de estudos da psicologia, e sendo Durkheim o pai da sociologia, dedicou sua
vida a longos tratados e escritos para melhor esclarecer a crise e constituio do ser humano como individuo e indagando na historia, rastreando as dinmicas que levaram a
que o individuo se converta, para as sociedades modernas, em objeto de respeito e
exaltao (SUREZ, 2010, p. 32). [minha traduo]6
Fazer uma afirmao do individualismo como um simples egosmo, faz com que
Durkheim se dedique a causa com mais profundidade, e toda discusso ao redor do caso
Dreyfus7, emite uma resposta a seu contemporneo, a saber, Brunetire, onde o pai da
5 La autoridad del Estado y ls Derechos del Hombre para su realizacin. (SUREZ, 2010, p. 31) 6 Y constituicin del ser humano como individuo es indagando en la historia, rastreando las dinmicas
que llevaron a que el individuo se convirtiera, para las sociedades modernas, en objeto de respeto y
exaltacin. 7 Conforme Richard Sennet (1988), o pretexto foi o julgamento por crime de alta traio e condenao
sobre a pena mxima, dentre um processo irregular, do capito Alfred Dreyfus. Na realidade a
condenao de um inocente e o protesto dos intelectuais numa campanha pela reviso do processo,
escondia um conflito de propores mais graves entre as diversas foras da sociedade francesa. De fato,
um conflito ideolgico entre a velha Frana representada pelo exrcito, igreja e a alta burguesia, e a
Frana que tinha nos segmentos progressistas as heranas das trs revolues. (SENNET, Richard. O
sociologia em respostas no seu artigo clarifica o conceito de individuo e sua importncia
por meio daquele que seriamente entra nos processos da reflexo, atestando que o
desenvolvimento do individuo tem como pressuposto o uso da razo. Tambm
importante relatar seu empenho frente a esse questionamento da poca, o seu total
empenho e posicionamento no debate, onde baseado em referencia da autora Raquel
Weiss encontramos, um Durkheim dedicado causa do General:
Dentre as cartas recentemente descobertas de Durkheim ao latinista Salomon
Reinach8, uma delas particularmente destinada a trocar informaes e opinies sobre o andamento do processo que pedia a reviso da condenao do
General, dando testemunho do seu real engajamento com essa questo.
Portanto, sua defesa do individualismo moral era muito mais do que um argumento terico; era, acima de tudo, uma preocupao prtica, que procurou
fundamentar com argumentos consistentes com seus pressupostos tericos mais
gerais, tornando o referido artigo, publicado em 1898 na Revue Bleue em
resposta ao artigo de Brunentire, o melhor ponto de partida para se entender
esse ideal to intensamente defendido por Durkheim (WEISS, 2010, p.38).
Para construo desse argumento, Durkheim apresentar, num artigo, que emitiu
grande repercusso na Frana conhecido pela historia da poltica Francesa, de
codinome, o Individualismo e os Intelectuais. Os aspectos do seu pensamento frente ao
artigo publicado por Brunetire, um opositor da absolvio do Capito Dreyfus
colocaria Durkheim a refletir todo seu modo de ver as sociedades modernas, tomando
partido na defesa desse General Francs.
A questo em torno da inocncia ou no do Capito Dreyfuss deixara de ser
uma questo da veracidade dos fatos ele certamente se refere aqui aos documentos que supostamente comprovariam o ato de traio do Capito e que
estariam na base de sua condenao, documentos estes que posteriormente se
provaram forjados. Passara a ser uma questo em torno de princpios, daqueles
advogados pelos intelectuais e que seriam o ponto de partida para que estes se achassem no direito de julgar o caso segundo seus prprios entendimentos
(WEISS, 2010, p. 39).
Do mesmo modo, a deciso essencial em demonstrar as deliberaes prtica de
Durkheim, que estavam calcadas sobre suas bases ticas estabelecidas encontramos
nessa manifestao vigorosa a clausula de Brunetire, vemos a fora com que ele
rejeitava um atentado quele que ele considerava ser o verdadeiro e mais sagrado ideal de seu tempo, em nome do qual se deveria combater qualquer tentativa de impor uma
autoridade tradicional diante das liberdades (WEISS, 2010, p. 40).
declnio do Homem publico. So Paulo, Cia de Letras: 1988. Encontrado tambm no Ensaio de
(MASCARENHAS, Cyro. A Sndrome do Individualismo: E Durkheim com isso?
htt://recantodasletras.com.br/ensaios/588467. Ensaio produzido em 1990.) 8 Esses documentos foram encontrados pelo historiador brasileiro Rafael Faraco Benthien em
2009, durante sua pesquisa nos arquivos da Bibliothque Mjane em Aix-em-Provence Essas cartas,
precedidas de uma introduo e acompanhadas de notas explicativas, sero publicadas na prxima
edio da Durkheim Studies. A carta mais relevante a esse respeito a que data de 15 de Junho de
1898. mile Durkheim, Lettres d'mile Durkheim Salomon Reinach - mimeo, org Rafael Benthien, 2009. Citado a referencia aqui na nota de rodap tambm em; WEISS, Raquel Andrade. mile Durkheim
e a Fundamentao Social da Moralidade. 2010. 280f. Tese (Doutorado em Filosofia) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010.
Dessa forma, o Direito do Homem na Revoluo Francesa visa o individualismo
como um alcance possvel na tica kantiana, ou um individualismo de correntes
utilitarista, corrente esse que por definio, em via de regra, remete aos aspectos
egostas motivado por interesses proprios. Reconhecer o individualismo como ponto de
partida na corrente utilitarista seria uma combinao engenhosa para conseguir um fim
astuto e fcil para inabilitar o individualismo, pois, tais ensinamentos sejam tratadas como libertrios, algo que faz sentido, porm, aquilo que no se pode admitir fazer uso da razo, como se esse individualismo fosse o nico existente ou mesmo o nico
praticvel (WEISS, 2010, p.40).
Conforme a especialista Surez (2010), afirma em seu artigo a distino que
Durkheim expe do individualismo utilitarista e o individualismo moral:
O primeiro considerava a sociedade como um estado no natural ao que o
indivduo devia entrar para conseguir seus prprios interesses; o segundo era a
base para construir, desde a prtica real, qualquer projeto coletivo de progresso
da sociedade. A discusso com as ideias de Spencer, Kant e Rousseau permitir
a Durkheim voltar a perguntas fundamentais relacionadas com a natureza
humana, a condio do indivduo e a constituio da sociedade. Frente ao auge
das teorias utilitaristas e liberais, Durkheim se perguntava se o homem era
egosta por natureza e se na verdade suas necessidades eram ilimitadas (SUREZ, 2010, p.32-33). [minha traduo]9
Portanto, o que est por trs dos questionamentos de Durkheim a pergunta
sociolgica crucial a relao entre individuo e sociedade. E se essa falta de ordem era
manifesta na poca de Durkheim, ela no deve ser despercebida por agora, at porque a
significao que se sancionou ao termo individualismo mesmo aquele mais prximo da dependncia negativa que se imputa s doutrinas utilitaristas. Como, ento,
Durkheim estabelece esse outro individualismo? Encontramos a resposta em seu artigo,
o individualismo e os intelectuais:
Mas existe um outro individualismo, sobre o qual mais difcil de triunfar. Ele
tem sido professado h mais de um sculo pela maior parte dos pensadores:
aquele de Kant e de Rousseau, aquele dos espiritualistas, aquele que a
Declarao dos direitos do homem tentou, de forma mais ou menos feliz,
traduzir em frmulas que ensinamos correntemente em nossas escolas e que se
tornou a base de nosso catecismo moral. Acredita-se, verdade, poder atingi-lo
atacando o primeiro, mas ambos diferem profundamente e as crticas que se
aplicam a um no poderiam convir ao outro. Bem longe de fazer do interesse
pessoal o objetivo da conduta, ele v em tudo aquilo que um mbil pessoal a prpria fonte do mal. Para Kant, eu s posso estar seguro de estar agindo
corretamente se os motivos que me determinam no so vinculadas s
circunstncias particulares nas quais me encontro, mas minha qualidade de
homem in abstracto. [...] Do mesmo modo, se para Rousseau a vontade geral,
que a base do contrato social, infalvel, se ela expresso da justia
9 El primero, consideraba a la sociedad como un estado no natural al que el individuo deba entrar para
lograr sus propios intereses; el segundo, era la base para construir, desde la prctica real, cualquier
proyecto colectivo de progreso de la sociedad. La discusin con las ideas de Spencer, Kant y Rousseau le
permitir a Durkheim volver a perguntas fundamentales relacionadas con la naturaleza humana, la
condicin del individuo y la constitucin de la sociedad. Ante el auge de las teoras utilitaristas y la
liberales, Durkheim se preguntaba si le hombre era egosta por naturaleza y si en verdad sus necesidades
eran ilimitadas. (SUREZ, 2010, p. 32-33).
perfeita, porque ela resultante de todas as vontades particulares [...]. Assim,
tanto para um quanto para o outro, as nicas maneiras de agir que so morais
so aquelas que podem convir a todos os homens indistintamente, isto , que
esto implicadas na noo de homem em geral (DURKHEIM apud WEISS
2010, p.41).
fato que, Durkheim, rejeita a concepo do individualismo egosta dos
utilitaristas, porm, afirmaes frente as concepo Kantiana e de Rousseau seria a
melhor maneira de entender a identidade de seu individualismo fazendo com que aja
alguma justificativa a ser dada em nossa compreenso e entendimento do
individualismo a qual o mesmo defendia. Ainda que seja difcil de entender tal
argumento, na influencia desses autores, desta forma, que se trata ou pelo menos em
certa parte seu modo de pensar o individualismo, pois, Durkheim assinala ao respeito
pelo indivduo sobre um carter abstrato de ser humano, tal como tomava como defesa
Kant e Rousseau, e que no o declara justo pelos mesmos motivos, nem os define com
os mesmo argumentos.
Nisso tudo, o que h de mais relevante, em sua opinio, essa ideia de um
dever moral que no concerne nossa individualidade emprica, mas que tem
como destinatrio a nossa condio de homem, condio esta que temos em comum com todos os nossos semelhantes (WEISS, 2010, p.41).
Deixemos, pois, uma ressalva importante quanto ao propsito de Durkheim
formular esse tipo de individualismo cujo seu objetivo est enraizado ao pensamento de
se fazer da pessoa humana um ideal sagrado:
Essa pessoa humana, cuja definio como a pedra-de-toque a partir da qual o
bem deve se distinguir do mal, considerada como sagrada, como se diz, no
sentido ritual da palavra. Ela tem algo dessa majestade transcendente que as igrejas de todos os tempos emprestam aos seus Deuses; concebida como
investida dessa propriedade misteriosa que produz vazio em volta das coisas
santas, que as subtrai aos contatos vulgares e as retira da circulao comum. E
precisamente da que vem o respeito da qual faz objeto. Quem quer que
atente contra a uma vida de um homem, nos inspira um sentimento de horror,
anlogo aquele sentido pelo crente que v profanarem seu dolo. Uma moral
desse tipo no simplesmente uma disciplina higinica ou uma sbia economia
da existncia; uma religio na qual o homem , ao mesmo tempo, o fiel e o
Deus (DURKHEIM, 2007, p. 3-4).
Analisando alguns contemporneos como, por exemplo, o terico Michel
Foucault, uma analise no interior do cristianismo frente a necessria individualizao do
ser humano agua como a excentricidade do cristianismo habita precisamente no progresso marcado do esprito individualista, pois nele, a quantia dos atos deve ter
determinada extenso de acordo com a inteno, coisa com a qual introduziu por
excelncia o que s pode dar apreo ao individuo.
Ora, tudo concorre precisamente a fazer crer que a nica religio possvel
essa da humanidade, cuja moral individualista constitui a expresso racional. A que, com efeito, poderia, doravante, se prender a sensibilidade coletiva?
medida que as sociedades tornam-se mais volumosas, se espalham sobre vastos
territrios, as tradies e praticas so obrigadas, para poder se dobrar
diversidade das situaes e mobilidade das circunstancias, a manter-se em um
estado de plasticidade e de inconsistncia que no oferece resistncia o
suficiente s variaes individuais (DURKHEIM, 2007, p. 08).
Dessa maneira, um equivoco demonstrar a moral individualista como sendo
opositor da moral crist, mas, pelo contrrio, oriundo dessa e tem como o rito por grau
elevado de perfeio no livre exame. Visto que, o individualismo como remetido
anteriormente no simplesmente um axioma econmico ou uma estrutura filosfica;
ele antes de tudo, uma existncia de fato que percorre as instituies e a vida nas
sociedades modernas. A forte integrao social constituda desde ento, de aes
concretas, fruto de sua universalidade enquanto condio humana, emitindo assim, um
ato respeitoso do ser humano frente sociedade.
Por essa razo, temos um ponto chave no pensamento de Kant, a saber, o
imperativo categrico onde , pois, um s, e sua formula geral a seguinte: Procede apenas segundo aquelas mximas, em virtude da qual podes querer ao mesmo tempo em
que ela se torne em lei universal (KANT, 1959, p.83). Parece-nos que esse mtodo adotado por Kant seria a razo mais clara do individualismo proposto por Durkheim,
havendo assim, uma ideia de humanidade frente totalidade universal e sobre qualquer
pessoa particular, e sobre essa mxima certo respeito nessa individualidade tinha como
viso ser abstrata e universal; construda a partir da juno de vrios elementos,
transmitindo assim o verdadeiro destino para ao moral. Mas, se no podemos afirmar
que o individuo da experincia seja merecedor e livre de tal respeito, o que seria? Um indivduo enquanto ideal? Esse o critrio de individuo para condenar a moralidade de
qualquer ao? Conforme a especialista Raquel Weiss:
Uma ao ser boa se respeitar e contribuir para a dignificao do indivduo, e
ser m se o ofender, se o denegrir, se o tomar como um meio para outro fim
qualquer. Kant afirma que uma lei no ser moral se o indivduo no for
tomado como fim, e Durkheim parece dizer o mesmo: uma mxima que o instrumentalize ser em si mesma uma profanao, e jamais poder ser
considerada moral.(WEISS, 2010, p. 42).
Porm, ainda que Durkheim emita sua conformidade frente teoria Kantiana,
encontramos tambm uma larga discordncia. Ora, este jamais aceitaria a afirmao de que esse respeito que se atribui pessoa humana seja derivado do carter sagrado que se
lhe impe o que pressuporia a tese de que a pessoa humana no em si mesma, a coisa
sacrossanta por excelncia (WEISS, 2010, p. 42). Dentre esse matiz, Durkheim no toma como defesa o individualismo porque admite algo na prpria natureza humana que
o torne sem restrio respeitvel, ou seja; a definio de pessoa humana o que se aceitou como forma de moralidade e essa explicao que ns emite uma clareza desse
ato, idealiza de algo que seria constitutivo de todo e qualquer indivduo o que constitui objeto de adorao. Se antes a sociedade criara Deus como esse objeto de adorao, ela
agora criara o indivduo (WEISS, 2010, p. 42).
Em pequena ou grande poro, Durkheim descreve em seus trabalhos posteriores
esse desafio de compreender as questes do individuo e a sociedade, sua originalidade
encontra-se na sua tese de doutoramento, Da Diviso do Trabalho Social, obra que
transmite um rio de guas vivas para compreender a temtica do problema do
individualismo, ns debruamos a afirmar que no houve uma descontinuidade ou uma
ruptura sobre os assuntos ligados sobre seu posicionamento poltico e as questes do
individualismo propriamente dito, como tambm as questes valorativas que o autor
buscava explicar. Desta maneira, Doutora Raquel Weiss comenta e complementa nossa
alegao:
No que se dissesse que Durkheim jamais tivesse se posicionado em defesa de
tal ou qual sistema de valores, ou que nunca houvesse atuado politicamente,
mas isso simplesmente no era problematizado, ou era citado apenas
tangencialmente. O mximo que se chegava a mencionar era seu malfadado
projeto de fundar uma tica cientfica. Mas isso no de todo incompreensvel, e nem pode ser entendido como uma conspirao para esconder seu lado politicamente engajado ou suas posies valorativas para
apresent-lo apenas como aquele positivista obcecado em explicar os fatos. (WEISS, 2010, p.29)
Em sua tese de Doutoramento, Durkheim faz varias especulaes quanto as
interpretao da filosofia utilitarista10
inglesa, de que a solidariedades sociais resulta da busca do individuo pela realizao econmica, e secundariamente ao consensus
universalis comtiano, que pressupe a unidade moral como substrato da vida em
sociedade (VARES 2012, p. 26). Para os utilitaristas, Durkheim em sua teoria nega o individuo como sendo a base da solidariedade social.
Embora o Livro Da Diviso do Trabalho Social, tenha o papel fundamental de
identificar a funo da diviso do Trabalho para vida em sociedade, encontramos outro vis extremamente importante que seriam os embates de Durkheim entre
individuo e sociedade dando primazia a sociedade no mundo contemporneo.
A obra de Durkheim aproxima-se no s de autores como Bonald, quando
considera o primado da sociedade sobre o individuo, mas tambm se aproxima
da tradio filosfica iluminista, quando aceita o individualismo e o racionalismo como valores supremos da contemporaneidade. Todavia, enfatiza
o autor, a sociologia durkheiminiana no se esgota em nenhuma dessas
interpretaes mencionadas apenas com finalidades meramente pontuais
(ARON, 2003, p. 867).
Umas das caractersticas fundamentais da modernidade aparecem como
individuaduao, s sociedades complexas, frente diviso do trabalho tende-se a uma
expanso ligada estritamente aos fenmenos sociais; a dignidade e o valor humano so
ntidos em suas convices. Organizaes sociais formam assim, uma necessidade no
individualismo, onde cada vez mais so requeridas as capacidades individuais, e a
diversificao de talentos refora as atividades profissionais.
Como dito anteriormente, a relao de troca tal como defende os utilitaristas,
tem uma noo de que a sociedade movida por indivduos isolados esse
individualismo bastante diferente da proposta dado pelo individualismo moral de Durkheim. Para Durkheim esse culto ao individuo no pode ser considerado anmalo, 10 Tericos como Stuart Mill e Jeremy Bentham, acreditavam que a felicidade pode ser medida e ser
comparados quantitativamente por meio de clculos, embora nenhum foi capaz de fazer um calculo
semelhante na pratica. Desta forma, se tratando da moral, de qualquer ato ou lei, definido por sua
utilidade para com os seres sensveis juntos. Utilitrio uma palavra relacionada com o que
intrinsecamente valioso para cada individuo. (CHUST, Jos Vicente Mestre. La propuesta de John Stuart
Mill y la Felicidad. Site: Historia y Humanidades by sute 101, 30 de Septembro: 2009. )
pois, resulta do prprio desenvolvimento do corpo social sendo, portanto, uma
necessidade das novas formas organizacionais modernas (Cf. GIDDENS, 1986, p. 9-
10).
Para Vares (2012), a diviso do trabalho est longe de afastar os indivduos e
sim agreg-los, pois, as atividades sociais tornam-se complexas e os sentimentos
comuns entre seus membros se atenuam, fazendo com que a condio humana do qual
partilham o mesmo grupo seja capaz de aproxim-los.
Mas sobre essa tica parece-nos que Durkheim emite certa substituio da
pessoa humana a da sociedade. Em resposta, no bem assim que ocorre; se sobre os
indivduos a coero exercida menor nas sociedades modernas, no se pode afirmar
que no exista valores morais, e sim uma nova forma de moralidade mais tnues
desenvolvidas em seus membros, ou seja, a total aceitao do valor absoluto da pessoa
humana.
Para o nosso esclarecimento, encontramos na obra de Jean Duvignaud respaldo
para compreenso desse individualismo moral, essa transfigurao do culto a prpria
sociedade.
O trao mais marcante desta diviso de tarefas na trama da vida social reside,
com efeito, na troca das relaes que ela provoca. () Ora, o que essa troca se no o lao invisvel e latente que liga os grupos e os indivduos ao todo
social, lao coercitivo, mas tambem principio moral solidariedade? (DUVIGNAUD, 1982, p. 21).
Dessa forma, a oportunidade de mostrar que o individualismo moral no um
fato natural, mas social, levar a um caminho a ser percorrido no campo metodolgica
quanto histrico. Afinal, o que se eleva a dedicar-se a essa realidade a conscincia
coletiva, porquanto, uma sociedade integrada ser a que assegurar a todos os seus membros a possibilidade de realizar sua vocao prpria, de maneira que haja
coincidncia entre os fins procurados pelos indivduos e os fins coletivos (PIZZORNO, 2005, p. 68).
3.1. Aspecto metodolgico do individualismo e historicidade do individualismo
Analisando o fenmeno do individualismo no pensamento de Durkheim
encontram-se dois aspectos fundamentais para a sua teoria: a metodologia e a historia.
Como citado anteriormente viso metodolgica de Durkheim estabelecer um objeto
prprio da sociologia, onde identificar a existncia dos fatos sociais diferente de
qualquer tentativa dos fatos individuais ou psquicos analisado pelas cincias
psicolgicas.
Segundo Musse (2007), O mtodo deve ser adequado ao objeto especifico das
cincias sociais. O primeiro movimento metodolgico consiste, assim, em delimitar o
territrio e os limites da sociologia. Desta forma, os fatos sociais no s so qualitativamente diferentes dos fatos psquicos; possuem outro substrato, no
evolucionam no mesmo meio, nem dependem das mesmas condies (DURKHEIM, 1995, p. 43).
O fato social tem como definio um carter externo aos indivduos com poder impositivo, a coero o indicio mais forte do carter externo, impessoal e objetivo do
fenmeno social (MUSSE, 2007, p. 15). Portanto, Durkheim na sua tese de doutoramento, Da Diviso do Trabalho Social, analisa os aspectos dos fatos sociais,
como algo coercitivo e externo aos indivduos. Ou seja, os fatos sociais, no so
demonstrados somente nas organizaes sociais, antes de tudo, encontrado no
indivduo, pois, o mesmo tem vida prpria nas sociedades. Portanto, torna-se, algo de
muita pesquisa e compreenso exegtica do autor para que assim, no emita um valor
negativo e mal compreendido do autor como fazem alguns tericos, levando Durkheim
a um simples sociologismo e a morte do indivduo nas sociedades modernas.
Em citaes anteriores, a obra que se atribui a formulao sociolgica de
Durkheim como meio de ilustrao encontra-se no livro O Suicdio, o pensador francs detm-se com um problema comum onde relacionaria as esferas pessoais e
unicamente individuais.
Sem embargo, o suicdio como fato social o permitir demonstrar ao autor
francs que at aquilo que para o individuo algo que corresponde a sua esfera pessoal, como o caso da deciso de continuar ou interromper o curso da sua
prpria vida, se pode explicar pela relao deste individuo com a sociedade.
No obstante, no seu trabalho prvio sobra a diviso do trabalho social,
Durkheim demonstrou que tanto a noo de individuo como o reconhecimento
do valor da pessoa so resultado e no ponto de partida de um longo processo histrico nas sociedades ocidentais. (SUREZ, 2010, p. 33) [minha
traduo]11
Estes pensamentos direcionar Durkheim a um largo afastamento de pensadores
como Spencer, Rousseau e Kant que de alguma forma, tiveram certa influencia em sua
trajetria Acadmica, mas, que no compartilhava de determinadas ideias, como a
questo da existncia de um estado de natureza individual onde os indivduos
ordenaram um contrato, dando um movimento constituio da sociedade.
Ora, j um fato notvel que esses tericos do individualismo no sejam
menos sensveis aos direitos da coletividade que aos do indivduo. Ningum
insistiu mais vivamente que Kant sobre o carter supra-individual da moral e do direito; um tipo de ordem qual o homem deve obedecer porque ela a
ordem sem poder discuti-la; e se lhe foi censurado s vezes por ter ultrajado a
autonomia da razo, pode-se dizer igualmente, no sem fundamento, que ele
ps na base de sua moral um ato de f e de submisso irrefletidos. Alis, as
doutrinas se julgam, sobretudo, pelos seus produtos, ou seja, pelo esprito das
doutrinas que suscitam: ora, do kantismo provieram a tica de Fichte, que j
impregnada de socialismo, e a filosofia de Hegel do qual Marx foi o discpulo.
Quanto Rousseau, sabemos como seu individualismo acrescido de uma
concepo autoritria da sociedade (DURKHEIM, 2007, p. 04).
Segundo Girola (2005), para Durkheim, o que permite a existncia da sociedade
um conjunto de crenas, prticas e costumes compartidos que no so necessariamente
11 Sin embargo, el suicidio como hecho social Le permitir demostrar al autor francs que hasta aquello
que para el individuo es algo que corresponde a su esfera personal, como lo es la decisin de continuar o
interrumpir el curso de su propia vida, se puede explicar por la relacin de este individuo con la sociedad.
No obstante, en su trabajo previo sobre la divisin del trabajo social, Durkheim demostr que tanto la
nocin de individuo como el reconocimiento del valor de la persona son resultado y no punto de partida de un largo proceso histrico en las sociedades occidentales. (SUREZ, 2010, p. 33)
produto de um contrato. Para alm dessa vertente, quando direcionamos nosso olhar
para a historia, estes estados de natureza individual no contem aprovao inteiramente.
O que se consegue enxergar, a partir das condies dentre as sociedades tradicionais e
s sociedades modernas, o ser humano como individuo inserido dentro da prpria
sociedade. Desta forma, Durkheim distingui os processos sociais com os processos
individuais, isso esta bem clarificada na passagem da solidariedade mecnica em
direo diviso do trabalho para se achegar ao desenvolvimento de uma possibilidade
e aptides mais vezes individualizadas.
Longe de o individuo ser o fato primitivo, e a sociedade o derivado, s muito
lentamente o primeiro se liberta do segundo. Mas apenas de a vida do individuo tomar forma e se expandir, nem por isso a vida coletiva se reduz.
Esta se torna mais rica e consciente. As aes do grupo, de impensadas que
eram, torna-se voluntarias. (DURKHEIM, 2003, p. 83)
4. Consideraes Finais
Portanto, o conceito de individualismo moral em Durkheim, visa inserir a
discusso entre a proposta feita pelos utilitaristas clssicos e pensar os aspectos em que
a sociedade moderna entendia e compreendia as relaes entre individuo e sociedade,
cujo papel utilitarista dispunha em promover os indivduos a viverem em sociedade
sobre aspectos egostas, fazendo com que, cada indivduo encontrasse seus interesses na
base da individualidade, em Durkheim isso impensvel, conquanto que a vida em
sociedade est para alem de interesses individuais. Para Durkheim, sua raiz do
individualismo moral est inserida em partes na tica Kantiana, ainda que o mesmo seja
contrrio a determinados requisitos metodolgicos como foi detalhado anteriormente,
segundo Giddens: o individualismo moral se funda em um sentimento de respeito pelos outros pela dignidade do Homem em geral [...] O que eleva o individualismo
moral saber que o mesmo no tem parmetros na glorificao de si mesmo, mas sim uma simpatia por todo o que humano (GIDDENS, 1993, p. 31). Ademais, a garantia dada pelo estado, no alcance dos Direitos do Homem, votar, refletir e escrever mostrou
consequncias da fraqueza do sistema quando analisado as intempries do famoso caso
Dreyfus. E por essas razes que esse terico das cincias sociais paulatinamente coloca
em clareza o tamanho do estrago que as sociedades modernas, ou por que no dizer a
modernidade ns deixou como pano de fundo para analisar o futuro que ns
enfrentaramos tempos outrora.
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