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O INDIVIDUALIMO MORAL DE ÉMILE DURKHEIM E SEU CONTRAPONTO AOS UTILITARISTAS CLASSICOS Aluno: Ronaldo Jesus dos Santos Orientador: Sidnei Ferreira de Vares Resumo: A proposta deste Trabalho foi analisar o problema que Émile Durkheim se deparou nas sociedades modernas no século XIX, a saber, o Individualismo Moral. O contraponto em questão seria a relação entre indivíduo e sociedade, suas divergências são encontradas no individualismo Utilitarista dos economistas clássicos. Dessa forma, Emile Durkheim expõe questões fundamental tais como: a do estado de natureza do homem, sua condição de indivíduo e sua capacidade para viver em sociedade. Esta reflexão o levará a busca pelo conceito de individualismo fazendo com que individualismo moral seja diferente do individualismo egoísta. A conclusão é a de que há uma integração social que superaria essa conduta utilitária e simples remediada pelos economistas clássicos, que apesar da sociedade reger os indivíduos por meio da coerção esse tem vida própria e está ativo na sociedade. Palavras-chave: Individualismo moral, Individualismo egoísta, Indivíduo, sociedade. THE INDIVIDUALIMO ÉMILE DURKHEIM MORAL AND COUNTERPOINT TO YOUR CLASSICAL UTILITARIANS Abstract: The purpose of this work was to analyze the problem Émile Durkheim encountered in modern societies in the nineteenth century, namely the Moral Individualism. The contrast in question is the relationship between individual and society, their differences are found in the utilitarian individualism of the classical economists. Thus, Emile Durkheim sets out key issues such as: the state of nature of man, his individual condition and its ability to live in society. This reflection will lead the search for the concept of individualism causing moral individualism is different from selfish individualism. The conclusion is that there is a social integration to overcome this conduct utilitarian and simple remedied by the classical economists, that although individuals of society governed by coercion that has its own life and is active in society. Keywords: moral individualism, selfish individualism, individual, society.

Artigo Sobre Individualismo Moral

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Artigo Sobre Individualismo Moral

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  • O INDIVIDUALIMO MORAL DE MILE DURKHEIM E SEU

    CONTRAPONTO AOS UTILITARISTAS CLASSICOS

    Aluno: Ronaldo Jesus dos Santos

    Orientador: Sidnei Ferreira de Vares

    Resumo: A proposta deste Trabalho foi analisar o problema que mile Durkheim se

    deparou nas sociedades modernas no sculo XIX, a saber, o Individualismo Moral. O

    contraponto em questo seria a relao entre indivduo e sociedade, suas divergncias

    so encontradas no individualismo Utilitarista dos economistas clssicos. Dessa forma,

    Emile Durkheim expe questes fundamental tais como: a do estado de natureza do

    homem, sua condio de indivduo e sua capacidade para viver em sociedade. Esta

    reflexo o levar a busca pelo conceito de individualismo fazendo com que

    individualismo moral seja diferente do individualismo egosta. A concluso a de que

    h uma integrao social que superaria essa conduta utilitria e simples remediada pelos

    economistas clssicos, que apesar da sociedade reger os indivduos por meio da coero

    esse tem vida prpria e est ativo na sociedade.

    Palavras-chave: Individualismo moral, Individualismo egosta, Indivduo, sociedade.

    THE INDIVIDUALIMO MILE DURKHEIM MORAL AND COUNTERPOINT

    TO YOUR CLASSICAL UTILITARIANS

    Abstract: The purpose of this work was to analyze the problem mile Durkheim

    encountered in modern societies in the nineteenth century, namely the Moral

    Individualism. The contrast in question is the relationship between individual and

    society, their differences are found in the utilitarian individualism of the classical

    economists. Thus, Emile Durkheim sets out key issues such as: the state of nature of

    man, his individual condition and its ability to live in society. This reflection will lead

    the search for the concept of individualism causing moral individualism is different

    from selfish individualism. The conclusion is that there is a social integration to

    overcome this conduct utilitarian and simple remedied by the classical economists, that

    although individuals of society governed by coercion that has its own life and is active

    in society.

    Keywords: moral individualism, selfish individualism, individual, society.

  • 1. Introduo

    um interesse persistente dos estudiosos das obras de Durkheim glosarem o tema

    do individualismo moral que aparece nos textos de autores. Tratar-se-ia de um problema

    fundamental, tendo em vista que o individualismo moral um problema da vida e os que acreditam na causa exposto a entender o problema das relaes sociais, problema

    esse, que rompeu gerao com seus modos de analisarem o mundo no se pode dar ao

    luxo de no pens-lo quando se quer bem viver e alcanar uma norma moral legtima e vlida a todos.

    Dois foram os percursos pelos quais percorremos e pudemos descobrir as razes

    das divergncias entre o pensador France e os utilitaristas: Os utilitaristas clssicos parte

    da ideia que para promover os indivduos a viverem em sociedade era necessrio o

    mtodo egosta, onde cada individuo busca seu interesse individual, j Durkheim, por

    sua vez, critica severamente a ideia, pois, a vida em sociedade est muito distante de

    interesses individuais, porquanto, como moralidade da operao simultnea vemos

    como caractersticas bsicas os conceitos de compaixo e o respeito pelas leis e pelos

    outros, e promove a elaborar uma moral a partir dos fatos sociais.

    Os utilitaristas clssicos so propositivos em suas palavras ao nos dizer que o

    objetivo da filosofia moral a qual apregoam, toma como defesa que o cabo de nossas

    aes a felicidade e que o correto definido em cumprimento das melhores

    consequncias, que so determinadas em cumprimento da maximizao imparcial da

    felicidade dos afetos por nossas aes. Ou seja, fazer com que execute a maior soma de

    felicidade possvel a todos aqueles que sofrem de alguma forma os resultados naturais

    do que fazemos, remeter essa maximizao independente de serem pessoas que por ns

    temos afeto. Com isso entre salvar algum prximo de um perigo eminente de incndio

    e salvar alguns estranhos, tendo em vista que, salvar alguns estranhos maximiza a

    felicidade, o padro moral utilitarista tem como defesa e certificao salvar a alguns

    estranhos do que algum prximo.

    A Filosofia moral utilitarista de John Stuart Mill bem identificada em trs

    partes: a felicidade desejvel; a felicidade geral desejvel, a felicidade a nica

    coisa desejvel como fim, sendo tudo o resto desejvel apenas como meio ou parte

    desse fim. Diante dessas alegaes na maximizao da felicidade, ns debruamos no

    esclarecimento da Especialista Fernanda Belo Gontijo:

    Em primeiro lugar, Mill usa as seguintes figuras de linguagem para mostrar que

    a felicidade desejvel: assim como podemos comprovar que determinado objeto pode

    ser visto, dar-se a conhecer que as pessoas o vem e estabelecer a verdade que um som

    audvel dando a conhecer que as pessoas o ouvem, tambm estabelecemos a verdade

    que a felicidade desejvel demonstrando assim, que as pessoas a desejam. De

    segundo, provar que a felicidade geral desejvel: Mill alega que se cada pessoa

    deseja a sua prpria felicidade, de modo consequente todas as pessoas desejam a

    felicidade de todas as pessoas. Mas essa generalizao um tipo de falcia da

    generalizao precipitada: uma amostra pequena usada para sustentar uma concluso

    tendenciosa. Nada se tem por garantia que quem desperta em almejar a sua prpria

    felicidade venha a desejar a felicidade de todas as pessoas. Por fim, a terceira visa

    mostrar que a felicidade a nica coisa desejvel como fim ultimo e o resto desejvel

    apenas como meio ou parte para a felicidade. Mill alegava da seguinte maneira: defende

    o fato de as pessoas desejarem outras coisas diferentes da felicidade, como a virtude,

    por exemplo. Admite que a virtude seja digna de ser desejada e que deve ser desejada

  • por si mesma e acrescenta que tanto a virtude quanto outros ingredientes da felicidade (a

    msica, a sade, etc.) no so radicalmente distintos ou separados da felicidade.

    (GONTIJO, 2010, p . 1-18)

    Diferentemente pensa e trabalha Durkheim, para quem a moral objeto de

    cincia. A propsito Durkheim, tencionava fundar uma cincia da moral de inspirao

    positivista, pela qual a moral entendida como uma cincia dos costumes e enxergava na sociedade o habitat do Homem e do exerccio da vida moral, lugar onde os grupos

    sociais se organizam e interagem. A moral durkheimiana um sistema de fatos

    realizados ligados ao sistema total do mundo. Essa ideia de se fazer uma cincia da

    moral no era nenhuma novidade na poca de Durkheim, ou mesmo antes dele, no era

    um pioneirismo. No entanto, a diversidade das concepes quanto ao que tal cincia

    deveria ser era to grande quanto o nmero daqueles que pretendiam fund-la.

    inclusive bastante provvel que o projeto de matriz durkheimiana tenha sobrevivido

    prova do tempo, muito mais em virtude de sua vinculao com a constituio da

    Sociologia institucionalizada academicamente do que enquanto cincia da moral pura e simplesmente, ou enquanto base para reformas morais e polticas (WEISS, 2010,

    p. 31).

    No captulo segundo so expostos, sucintamente, os equvocos identificados por

    Durkheim, nas interpretaes da moral a respeito das causas do estado doentio1 que se

    observava nas sociedades modernas, levaram-no a enfatizar em sua tese A Diviso do

    Trabalho Social, a importncia de fatos morais na integrao dos homens vida

    coletiva. Ele acreditava que a Frana encontrava-se mergulhada numa crise devido ao

    vazio provocado pelo desaparecimento dos valores e das instituies protetoras advindas do perodo feudal, como as corporaes de ofcios. Conflitos e desordens

    seriam os sintomas da anomia2 jurdica e moral presente na vida econmica, cujo

    progresso sem precedentes no tinha sido acompanhado de igual desenvolvimento de

    instituies dotadas de uma autoridade qualificada de regulamentar os interesses e

    estabelecer limites. A prpria moral profissional encontrava-se ainda num nvel

    rudimentar. Quando a sociedade perturbada por uma crise, torna-se momentaneamente

    incapaz de exercer sobre seus membros o papel de freio moral, de uma conscincia

    superior dos indivduos.

    O fato moral, na expresso de Durkheim, um fenmeno social como os outros,

    passvel de estudo e compreenso cientfica, fazendo uso dos mtodos das cincias

    positivistas possibilitando a construo de uma moral laica e cientfica, livre da influencia da Igreja ou mesmo de ideologias de matiz filosfica. Para Durkheim:

    1 Na tentativa de curar a sociedade da anomia, ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgnica entre os membros da sociedade. A soluo estaria em, seguindo o exemplo de um

    organismo biolgico, onde cada rgo tem uma funo e depende dos outros para sobreviver, se cada

    membro da sociedade exercer uma funo na diviso do trabalho, ele ser obrigado atravs de um sistema

    de direitos e deveres, e tambm sentir a necessidade de se manter coeso e solidrio aos outros. O

    importante para ele que o indivduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgnica, interiorizada e no meramente mecnica. 2 No livro Da Diviso Do Trabalho Social, Durkheim usa a palavra anomia, numa tentativa de explicar certos fenmenos sociais. No sculo XIX, as instituies sociais se encontravam enfraquecidas, os valores

    tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condies miserveis,

    desempregados, doentes e marginalizados. Desta forma, numa sociedade integrada essa gente no podia

    ser ignorada, Aos problemas que ele observou, ele considerou como patologia social, e chamou aquela

    sociedade doente. A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia

    era o meio para isso. O papel do socilogo seria, portanto estudar, entender e ajudar a sociedade em que

    est imerso.

  • Moral (...) tudo o que fonte de solidariedade, tudo o que fora o indivduo a contar com seu prximo, a regular seus movimentos com base em outra coisa que no os

    impulsos de seu egosmo, e a moralidade tanto mais slida quanto mais numerosa e forte so aqueles laos de solidariedade (DUKHEIM, 2008, p. 338).

    Interessante notar que, tambm para Durkheim, a moral comea onde existe vida

    coletiva, donde autonomamente forjam-se regras de convivncia que estrutura e

    favorece as trocas e trabalhos sociais. A moral comea onde comea a vida em grupo. E

    a princpio, o fato moral da obrigao uma das primeiras caractersticas da regra

    moral. Seja como for, o fato que Durkheim se manteve como um autor relevante no

    cenrio intelectual e sua cincia da moral tambm continuou como um tema de interesse

    no debate contemporneo, muitas vezes adquirindo uma conotao distante daquela que

    possua no cenrio intelectual original na qual foi concebida.

    No captulo Terceiro so expostas as contraposies dos utilitaristas clssicos, os

    moralistas e Durkheim, com o famoso caso Dreyfus possibilitamos a analisar a

    problemtica obscura em toda a Europa a questo do individuo e a sociedade ponto

    fundamental nos estudos de Durkheim. Confrontam-se aqui duas distintas orientaes

    filosficas: o individualismo egosta e o individualismo moral depurado no final do

    sculo XIX. Marcar essa total diferena, e nenhuma similaridade, entre os dois sistemas

    de pensamento, foram um dos resultados dessa pesquisa. No obstante isso, o principal

    resultado de nossa pesquisa foi encontrar em Durkheim pontos de interseo entre os

    indivduos e a sociedade, e mostrar que o individualismo moral no se trata somente de

    um mtodo terico e investigativo era acima de tudo uma preocupao pratica. Cabe ao

    leitor crtico avaliar se estamos corretos.

    2. A posio de Durkheim sobre moral

    Para Durkheim, a crise moral que assolava sua poca, era resultado da desintegrao

    das instituies sociais como a famlia, religio e grupos polticos. Isso o levou a firmar

    uma proposta normativa, tendo por ideal a moral laica, firmada pelo estudo do

    fenmeno moral como dever ser moral. certo que nos limites da pesquisa que nos

    propomos, no temos a pretenso de operar um estudo exaustivo com o fito de tratar da

    moral na sua totalidade, mas em Durkheim, oferecer uma expresso paulatina de seu

    pensamento e sua principal proposta no universo da moral. Uma dificuldade, e, talvez, o

    maior problema de compreender a moral de Durkheim, seja a relao entre o dever ser

    moral e sua cincia, no entanto, ele quer demonstrar no o que a moral , mas como ela

    deveria ser e isso resultaria na sua cincia da moral. possvel antever sua ideia de

    estabelecimento dessa cincia nos manuscritos dos seus alunos no Liceu, em 1883,

    projetando assim uma cincia da sociedade. Durkheim define o que seria cincia para ele:

    As caractersticas que um sistema de conhecimento deve possuir para que seja considerado. A partir disso podemos generalizar e dizer que o objetivo da

    cincia consiste em estabelecer relaes de identidade ou de causalidade (dado

    que estabelecemos que o objetivo da cincia o de explicar) e que explicar

    estabelecer relaes de identidade e causalidade entre coisas. Tendo isso em

    considerao, examinemos [o que seja] uma cincia. Em primeiro lugar,

    preciso que a cincia tenha um objeto de explicao que lhe seja prprio. Por

    prprio, queremos dizer que esse objeto no contemplado por nenhuma outra

    cincia e que bem definido. Como podemos explicar algo se ele no for bem

    definido? Em segundo lugar, esse objeto precisa ser submetido ou a lei da

  • identidade ou a lei da causalidade, porque sem isso [teramos] nenhuma

    explicao e consequentemente nenhuma cincia possvel. Mas essas duas caractersticas por si s no bastam para tornar um sistema de

    conhecimento uma cincia. Para explicar um objeto, preciso que este seja

    acessvel a ns. Se o objeto fosse inacessvel, ento, obviamente no

    poderamos estuda-lo cientificamente. O termo utilizado para designar a

    disposio da mente para estudar um objeto mtodo. Portanto a terceira caracterstica de uma cincia a de que esta possui um mtodo para estudar seu

    objeto. 3

    Decorrente dessa problemtica, Durkheim durante sua carreira acadmica

    observa a possibilidade e a necessidade de trabalhar na proposta de uma cincia da moral, amparado pelo seu conhecimento de filosofia, o qual aplicaria seus modos de conhecer e explicar as ideias dos valores morais. Podemos observar aquela proposta do

    autor numa das suas grandes obras, sua tese de doutorado na clebre discusso sobre Da

    Diviso do Trabalho Social, esta tinha a pretenso de ser uma obra de cincia da moral

    ou pelo menos aquilo que entendia ou que deveria ser tal cincia.

    Este livro , antes de tudo, um esforo para tratar os fatos da vida moral de

    acordo com os mtodos das cincias positivas. Mas o uso que se tem feito

    dessa expresso no o nosso, e desnatura seu sentido. Os moralistas que

    deduziram suas doutrinas, no de um princpio a priori, mas de algumas

    proposies emprestadas de uma ou mais cincias positivas como a biologia, a

    psicologia, a sociologia, qualificam sua moral de cientfica. Esse no o

    mtodo que nos propomos seguir. Ns no queremos obter a moral a partir da

    cincia, mas fazer a cincia da moral, o que algo bem diferente. Os fatos

    morais so fenmenos como os outros; eles consistem em regras de ao que

    so reconhecidos por certas caractersticas distintivas; deve, portanto, ser

    possvel observ-los, descrev-los, classific-los e buscar as leis que os explicam (DURKHEIM, 2010, p. 43).

    Mas ento de que forma deveria ser essa cincia da moral? Sobre qual aspecto o autor quer trat-la? Em sua tese de doutorado, Raquel Weiss expressa o que de fato

    esse mtodo no deveria consistir: Fazer uma cincia da moral no nem deduzir um sistema moral a partir de um princpio a priori, mtodo este que ele considerava ser

    propriamente filosfico, nem extrair a moral a partir da cincia, seja esta cincia a psicologia, a sociologia ou a biologia (WEISS, 2010, p. 81).

    O esclarecimento da comentadora Raquel Weiss nos facilita a compreenso

    dessa cincia, sendo o domnio da moral, onde visa ser o conjunto de fatos j existentes,

    ou seja, aplica-se ao domnio do ser moral. Entende-se que a cincia da moral, dita por

    Durkheim totalmente focada em uma perspectiva terica, uma vez que se preocupa em

    conhecer aquilo que existe, ou seja, aquilo que a moral , no algo para alm daquilo

    que pensam os moralistas que se atm as questes metafsicas. Durkheim v a cincia

    3 Durkheim, David mile. Science and Philosophy. In: Durkheim et al., Durkheim's philosophy lectures: notes from the Lyce de Sens course, 1883-1884 (Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 42-

    3). [As referncias a este texto sero sempre feitas a partir da verso em ingls, uma vez que se trata da

    nica verso desse manuscrito publicada em livro. Para facilitar a conferncia com o texto original

    francs, disponvel apenas na internet, citamos o texto a partir do nome da lio em questo, no caso,

    Science and Philosophy ou Science et Philosophie. O endereo a partir do qual se pode ter acesso ao texto

    o seguinte: mile Durkheim, Cours de Philosophie Fait au Lyce de Sens, Durkheim Pages, 1883,

    http://durkheim.uchicago.edu/Texts/1884a/00.html. WEISS, Raquel Andrade. mile Durkheim e a

    Fundamentao Social da Moralidade. 2010. 280f. Tese (Doutorado em Filosofia) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010.

  • tal como ela , esta se ocupa de fatos e no de ideias transcendentais, pois, isso seria

    papel da metafsica. O pensador francs constri sua ideia de moralidade, vendo a

    sociedade como habitat dessa vida moral, a partir dela que os grupos sociais se

    organizam. Ele nega uma razo pura prtica, defendida por Kant ou por qualquer outro

    moralista de sua poca. Podemos indagar se h critrios, qualquer juzo de valor sobre

    valores? Porventura, h critrio para discernir entre o certo e o errado? A no ser o

    prprio costume de cada sociedade? Isso nos faria adentrar num relativismo? Ento, se

    Deus no existe e a cincia no pode tudo, tudo permitido?

    Para Weiss (2010), Durkheim responderia essas indagaes com um sonoro no,

    e ainda assim ele sempre teve que lidar com aquelas indagaes, por exemplo, no caso

    do telogo tomista Simon Deploige, este se dedica a escrever um livro para confrontar

    as ideias durkheimianas. No livro Le Conflict de la Morale et de la Sociologie, Deploige

    afirma que a sociologia como um monstro inimigo de qualquer reflexo acerca da

    moral. A comentadora Weiss deixa claro em sua tese o incmodo de Durkheim, por

    causa dessa acusao e ao cit-lo mostra para qual direo devemos olhar se quisermos

    entender sua posio a respeito:

    Para ns, no h, nem pode haver, um conflito entre a moral e a sociologia: a

    nica coisa que exigimos que a arte moral seja precedida por uma cincia da moral mais metdica do que as costumeiras especulaes da moral dita

    terica. Toda nossa tese pode ser resumida da seguinte maneira: para

    determinar o que deve ser a moral em um determinado perodo, preciso

    antes de tudo saber aquilo que a moral , saber como distinguir aquilo que

    moral daquilo que no o , e no podemos responder a essa questo se,

    anteriormente, no tivermos estudado os fenmenos morais em si mesmos e

    por si mesmos. No podemos simplesmente encontrar um critrio apenas

    como um ato de vontade; a nica coisa que podemos fazer observar e

    encontrar esse critrio a partir dos fatos (DURKHEIM, 1913, p. 328.) 4

    Ento se vamos partir da ideia que a moral parte de fatos morais, quais so suas

    caractersticas? Durkheim reala que a moralidade consiste em realizar fins impessoais, gerais, independente do individuo e de seus interesses particulares (DURKHEIM, 2008, p. 118). Para ele, o fato moral caracteriza-se por ser obrigatrio um dever conforma-se a ele , mas tambm envolve uma dimenso de desejo, o indivduo aspira a agir moralmente, a partir do que identifica como bem. Ele implica o

    reconhecimento de que a vida social integrada e regulada promove, ou melhor, expressa

    a solidariedade social e envolve a compreenso da conduta moral como possibilidade de

    realizao de um ideal coletivo.

    Diante de nosso mtodo de pesquisa, olhando para a sociedade e chegamos a

    algumas concluses, do tipo que se existe uma moral comum, geral para todos os

    homens que pertencem a uma coletividade, partindo do pressuposto de um ponto de

    referencia impessoal para julgar as aes. Durkheim chegar a pensar que a moral comea, na vinculao a um grupo, do tipo que for (DURKHEIM, 2008, p. 48), e que

    4 Para fins de conhecimento dessa obra que h muitos possa ser desconhecida, trata-se da obra:

    DURKHEIM, E. Analyse du Conflit de la Morale et la Sociologie. In : DEPLOIGE, Simon. Le Conflit

    entre la Morale et la Sociologie. Paris: Nouvelle Librairie Nationale, 1913. Tambm encontrado em:

    WEISS, Raquel. A Concepo de Educao de Durkheim como chave para a passagem entre Positivo e

    Normativo. In: MASSELLA, Alexandre Braga et al. (orgs.). Durkheim: 150 anos. Belo Horizonte.

    Argvmentvm, 2009, pp. 169-189.

  • ao mesmo tempo, cada indivduo exprime a moral comum sua maneira,

    compreendendo-a e vendo-a sob um ngulo diferente.

    Pode-se perguntar se existe moral ou morais? E se cada indivduo tem uma

    prpria, qual a razo de se estudar a moral de modo cientfico? Para responder tais

    questionamentos ns remetemos ao texto de Durkheim, para que haja compreenso de

    seu pensamento.

    No reino moral, como ns demais reinos da natureza, a razo do indivduo no

    tm privilgios s pelo fato de ser razo de indivduos. A nica razo pelo qual podereis reivindicar legitimamente, aqui como em qualquer lugar, o direito de

    intervir e de se elevar acima da realidade moral histrica, como a finalidade e

    reforma-la, no nem a minha razo nem a vossa, a razo humana,

    impessoal, que no se realiza verdadeiramente seno na cincia. Assim como a

    cincia das coisas fsicas nos permite corrigir a vida fsica, a cincia dos fatos

    morais nos pe em condies de corrigir, de reaprumar, de dirigir o curso da

    vida moral (DURKHEIM, 1970, p. 82).

    Desta forma, as duas caractersticas do fato moral no so mais que dois

    aspectos de uma nica e mesma realidade, que a realidade coletiva. A sociedade

    ordena porque exterior e superior aos indivduos, o que faz com que a vontade deles se

    submeta autoridade dela, por desej-la. Ou seja, temos essencialmente na viso de

    Durkheim, um caminho a percorre, e nos levar aos dois primeiros elementos da

    moralidade: a disciplina que por sua vez encontra-se um duplo objeto que regulariza e contm (Cf. DURKHEIM, 2008, p. 33).

    E como isso acontece? A regra libera e liberta porque ensina o domnio de si e a

    moderao. Limitar o homem condio de sua sade moral e de sua felicidade, dessa

    forma, a disciplina emerge como o primeiro elemento da moralidade. O segundo

    elemento da moralidade a adeso dos indivduos aos grupos sociais (IDEM, p. 61) dos quais toma parte, e nesses grupos h uma tripla ao em que se submetem a famlia,

    a ptria e a humanidade e que por essa razo os tornam moralmente completo.

    Entretanto esses grupos no tm todo o mesmo peso, existe neles uma hierarquia, um

    deles possuindo preeminente e constituindo o fim, por excelncia, da conduta moral:

    trata-se da sociedade poltica ou ptria, que subordina as famlias e encarnao parcial

    da ideia de humanidade.

    Conforme Maria Helena Augusto nos prope comparar as caractersticas

    apontadas por Durkheim, para o fato moral, o dever e o bem com as atribuies dos dois

    primeiros elementos da moralidade, quesitos citados no pargrafo anterior, visando de

    um lado a disciplina, podendo se aproximar da obrigatoriedade, do dever, enquanto expresso de uma legislao imperativa que reclama inteira obedincia dos homens e do

    outro uma convergncia com a ideia da sociedade concebida como coisa boa e

    desejada (AUGUSTO, 2009, p. 220).

    claro que, no momento atual em que vivemos a quem diga que esse mtodo

    no tem relevncia, porm o mtodo durkheimiano tem por objetivo transformar em noes bem distintas e precisas as impresses confusas da conscincia moral comum. (DURKHEIM, 2009, p. 103).

    Sabe-se que nos dois elementos da moralidade pode ocorrer incoerncia pelas

    circunstncias da imposio sobre o nosso foro ntimo e que de certa forma nos parecer

    como imoral e violento. Porm em Durkheim, a vontade s pode ser plenamente moral

  • quando autnoma, surgindo ento, como um princpio da moralidade seu terceiro elemento.

    No terceiro elemento, o da autonomia da vontade, constitui para Durkheim a

    possibilidade de construir uma moral racional e , de fato, a dimenso que permite falar

    de autonomia individual, que consiste em ajudar a conscincia moral a enxergar, com

    mais clareza nela prpria, as ideias confusas e divergentes que nela operam. Desde

    ento no entender de Durkheim, o adequado cumprimento dessa terceira exigncia da

    moral deve ser considerado sob dois ngulos: de um lado, envolve o reconhecimento da

    integrao social como condio necessria para uma vida autnoma, de outro, denota a

    exigncia da responsabilidade consciente dos indivduos em relao vida coletiva.

    Afinal, Essa a maior novidade apresentada pela conscincia moral dos povos contemporneos; a inteligncia tornou-se e tem se tornado cada vez mais um elemento

    da moralidade (DURKHEIM, 1947, p.18).

    O que nos leva a conquistar essa autonomia? Do ponto de vista de Durkheim, a

    autonomia possvel se forem considerados os dois elementos, seus componentes: a

    liberdade de pensamento e a autodeterminao. Segundo Miller, de um lado, a capacidade e a possibilidade de as pessoas formarem seus prprios julgamentos e

    opinies; de outro, a autodeterminao que permite a cada um controlar sua prpria

    vida (WATTS MILLER apud AUGUSTO, 2009, p. 222).

    Como apresentado anteriormente, a autonomia para Durkheim a nica

    possuidora de algum valor para ns. Essa autonomia no determinante de nossa prpria natureza que flui no momento de nosso nascimento em funo de nossos

    atributos constitutivos (DURKHEIM, 2008, p. 123). Ela para ns uma construo essa autonomia, s ocorrer na medida em que buscamos adquirir um conhecimento

    melhor das coisas. Seu objetivo no implicar que as pessoas procurem um meio para

    escapar do mundo e de suas leis, pois somos parte desse mundo, estamos inseridos nele,

    e sem isso nossa conscincia seria vazia e sem contedo.

    Conforme Maria Helena Augusto oferece uma explicao concisa a respeito

    dessa ideia, qual seja:

    A vontade s pode ser plenamente moral quando autnoma quando utiliza a razo em sua atividade, o homem age moralmente e, ao mesmo tempo, atua

    com autonomia, porque segue as leis da natureza. Entretanto, a nica

    autonomia a que possvel aspirar no inata, mas construda, na medida em

    que uma inteligncia mais completa das coisas posta em movimento

    (AUGUSTO, 2009, p. 222).

    Dessa forma, o homem submete-se s regras e pe-se a servio do grupo,

    entendemos que os indivduos so formados por aquilo que a sociedade faz deles, isto

    porque indivduos sozinhos no fazem algo acontecer, seja mudar um sistema, uma

    regra, um pensamento, conquanto o homem no humano seno porque vive em sociedade desta forma, a sociedade a condio para existncia do indivduo (DURKHEIM, 1947, p. 114).

    Se analisarmos os indivduos da nossa modernidade, nota-se que somos

    impulsionados para mudanas polticas, e o fruto dessas mudanas nos condicionam ao

    movimento da sociedade. Grupos que procuraram por um ideal mudaram a histria. E o

  • que dizer das famlias que no tomam decises sozinhas, aquelas que procuram num

    outro membro da famlia a melhor deciso, o que dizer das sociedades indgenas onde o

    conceito de moralidade esta diretamente ligada ao grupo em decises tomadas entre

    eles, ou seja, quando h uma imoralidade do indivduo da tribo, o grupo que toma a

    deciso da punio. da natureza humana viver em sociedade, at para crescer

    carecemos do outro para sobreviver, somos dependente do outro e nossa

    conscientizao moral fruto do que a sociedade nos impem.

    Segundo Maria Helena Augusto, na medida em que os indivduos so socializados, quando se tornam conscientes da necessidade da adeso voluntria s

    regras impostas socialmente, possvel a constituio de identidade autnomas alis, essa a nica forma de atingir a autonomia e a nica forma realmente humana de

    sobrevivncia (AUGUSTO, 2009, p. 223). E nisso nos conduzimos a determinarmos o terceiro elemento da moralidade que por sua vez conduzir s palavras de Durkheim

    sobre a moralidade:

    Para agir moralmente, no mais suficiente apenas respeitar a disciplina,

    aderir a um grupo; preciso ainda que, seja no deferimento regra, seja no devotamento a um ideal coletivo, tenhamos a conscincia, a mais clara e

    completa possvel das razes de nossa conduta. Porque essa conscincia

    que confere nosso ato essa autonomia que a conscincia pblica atualmente

    exige de todo ser verdadeiramente e plenamente moral (DURKHEIM, 2008,

    p. 124).

    Portanto, o problema da moral para Durkheim abordado na perspectiva de

    haver a possibilidade de fundar uma cincia da moral, estabelecida a partir dos fatos

    morais, os quais estes no tm nenhum conceito ligado filosofia da moral ou os meios

    empregados pelos moralistas, pois esses meios utilizam ideias metafsicas e Durkheim,

    no tem interesse em conceitos inatos ou transcendentais para formular sua concepo

    de moral, antes decorrer unicamente naquilo que existe, do que emprico. trabalhar

    o indivduo como membro da sociedade, ainda que afirmem que na tese de Durkheim,

    no h autonomia nos indivduos, pelo fato dele remeter o indivduo sociedade.

    Durkheim apresenta, de forma clara, o conceito de autonomia individual no da maneira

    que pensam o senso comum. Conforme comenta Maria Helena Augusto:

    No obstante a explicita afirmao feita por Durkheim acerca do novo tempo,

    de uma nova sociedade, de uma nova moral, da emergncia do indivduo

    enquanto categoria importante, e da necessidade de que este atue, faz com

    que o indivduo no pense como sujeito de suas prprias aes, mas atuante

    de forma efetiva na sociedade (AUGUSTO, 2009, p. 228).

    Todavia, grande parte dos crticos aponta incongruncia quanto a sua pretenso,

    isto , pretender tratar a moral, fenmeno complexo, relativo (a cada sociedade) e que

    dispe de dimenses positivas e corretamente subjetivas (se pensarmos na maneira

    como cada indivduo internaliza as regras, normas, etc.). Contudo, no se pode perder

    de vista que Durkheim produziu cincia numa poca na qual a cincia tinha grandes

    expectativas.

  • 3. O Individualismo Moral

    Decorrente da apresentao de Durkheim, na busca de formular uma moral

    cientifica, coesa, sem nenhuma pretenso de uma filosofia da moral, e sim racional,

    emprica que buscando uma forma de compreender a sociedade moderna que estava

    desestruturada e sem perspectiva, v-se uma problemtica j citado anteriormente no

    pensamento sociolgico de mile Durkheim, a relao do individuo e a sociedade, e

    principalmente os questionamentos inseridos sobre esse assunto que requer nossa total

    ateno com base, no individualismo moral.

    Mas onde se sustenta esse individualismo moral? Qual seria a obra alem da tese de

    doutoramento do socilogo Frances, que se debruou sobre esse assunto? E quanto aos

    tericos que defendem esse individualismo em Durkheim? Essas perguntas uma

    tentativa de expor a grandeza desse terico das Cincias Scias com o fim ultimo de

    explicar nossa pesquisa decorrente dos pormenores do individualismo moral.

    H alguns sculos atrs, mile Durkheim prescrevia um artigo sobre o controverso

    caso de Dreyfus, onde no final do sculo XIX, trazia uma grande comoo sociedade

    francesa. A questo que, h seis meses, divide to dolorosamente o pas est se transformando: na origem, simples questo de fato, ela se generalizou aos poucos (DURKHEIM, 2007, p. 01). No debate o questionamento estava posto sobre a relao

    de intelectuais e artistas com a poltica, o que fez Durkheim discorre uma reflexo sobre

    as problemticas atenuantes como o estado de natureza do homem, e as condies de

    viver em sociedade. Conforme Durkheim, o pressuposto do individualismo moral tem

    suas primcias na tica kantiana sendo uma condio fundamental, a autoridade do Estado e os Direitos do Homem para a sua realizao (SUREZ, 2010, p. 31). [minha traduo]

    5

    A reflexo social ao longo dos sculos teve como tema central o desenvolvimento

    do individuo, onde vrios escritos de pensadores como Kant, Rousseau e Montesquieu e

    obras de autores renomados contemporneos como Giddens, Aron e Beck. Sendo o

    sujeito da sua prpria historia, observava o individuo, como fruto dos projetos da

    Modernidade na exaltao e emancipao do progresso e seus ideais. Vale lembra-se

    aqui que num primeiro momento a aproximao ao individualismo aparece com

    questes de estudos da psicologia, e sendo Durkheim o pai da sociologia, dedicou sua

    vida a longos tratados e escritos para melhor esclarecer a crise e constituio do ser humano como individuo e indagando na historia, rastreando as dinmicas que levaram a

    que o individuo se converta, para as sociedades modernas, em objeto de respeito e

    exaltao (SUREZ, 2010, p. 32). [minha traduo]6

    Fazer uma afirmao do individualismo como um simples egosmo, faz com que

    Durkheim se dedique a causa com mais profundidade, e toda discusso ao redor do caso

    Dreyfus7, emite uma resposta a seu contemporneo, a saber, Brunetire, onde o pai da

    5 La autoridad del Estado y ls Derechos del Hombre para su realizacin. (SUREZ, 2010, p. 31) 6 Y constituicin del ser humano como individuo es indagando en la historia, rastreando las dinmicas

    que llevaron a que el individuo se convirtiera, para las sociedades modernas, en objeto de respeto y

    exaltacin. 7 Conforme Richard Sennet (1988), o pretexto foi o julgamento por crime de alta traio e condenao

    sobre a pena mxima, dentre um processo irregular, do capito Alfred Dreyfus. Na realidade a

    condenao de um inocente e o protesto dos intelectuais numa campanha pela reviso do processo,

    escondia um conflito de propores mais graves entre as diversas foras da sociedade francesa. De fato,

    um conflito ideolgico entre a velha Frana representada pelo exrcito, igreja e a alta burguesia, e a

    Frana que tinha nos segmentos progressistas as heranas das trs revolues. (SENNET, Richard. O

  • sociologia em respostas no seu artigo clarifica o conceito de individuo e sua importncia

    por meio daquele que seriamente entra nos processos da reflexo, atestando que o

    desenvolvimento do individuo tem como pressuposto o uso da razo. Tambm

    importante relatar seu empenho frente a esse questionamento da poca, o seu total

    empenho e posicionamento no debate, onde baseado em referencia da autora Raquel

    Weiss encontramos, um Durkheim dedicado causa do General:

    Dentre as cartas recentemente descobertas de Durkheim ao latinista Salomon

    Reinach8, uma delas particularmente destinada a trocar informaes e opinies sobre o andamento do processo que pedia a reviso da condenao do

    General, dando testemunho do seu real engajamento com essa questo.

    Portanto, sua defesa do individualismo moral era muito mais do que um argumento terico; era, acima de tudo, uma preocupao prtica, que procurou

    fundamentar com argumentos consistentes com seus pressupostos tericos mais

    gerais, tornando o referido artigo, publicado em 1898 na Revue Bleue em

    resposta ao artigo de Brunentire, o melhor ponto de partida para se entender

    esse ideal to intensamente defendido por Durkheim (WEISS, 2010, p.38).

    Para construo desse argumento, Durkheim apresentar, num artigo, que emitiu

    grande repercusso na Frana conhecido pela historia da poltica Francesa, de

    codinome, o Individualismo e os Intelectuais. Os aspectos do seu pensamento frente ao

    artigo publicado por Brunetire, um opositor da absolvio do Capito Dreyfus

    colocaria Durkheim a refletir todo seu modo de ver as sociedades modernas, tomando

    partido na defesa desse General Francs.

    A questo em torno da inocncia ou no do Capito Dreyfuss deixara de ser

    uma questo da veracidade dos fatos ele certamente se refere aqui aos documentos que supostamente comprovariam o ato de traio do Capito e que

    estariam na base de sua condenao, documentos estes que posteriormente se

    provaram forjados. Passara a ser uma questo em torno de princpios, daqueles

    advogados pelos intelectuais e que seriam o ponto de partida para que estes se achassem no direito de julgar o caso segundo seus prprios entendimentos

    (WEISS, 2010, p. 39).

    Do mesmo modo, a deciso essencial em demonstrar as deliberaes prtica de

    Durkheim, que estavam calcadas sobre suas bases ticas estabelecidas encontramos

    nessa manifestao vigorosa a clausula de Brunetire, vemos a fora com que ele

    rejeitava um atentado quele que ele considerava ser o verdadeiro e mais sagrado ideal de seu tempo, em nome do qual se deveria combater qualquer tentativa de impor uma

    autoridade tradicional diante das liberdades (WEISS, 2010, p. 40).

    declnio do Homem publico. So Paulo, Cia de Letras: 1988. Encontrado tambm no Ensaio de

    (MASCARENHAS, Cyro. A Sndrome do Individualismo: E Durkheim com isso?

    htt://recantodasletras.com.br/ensaios/588467. Ensaio produzido em 1990.) 8 Esses documentos foram encontrados pelo historiador brasileiro Rafael Faraco Benthien em

    2009, durante sua pesquisa nos arquivos da Bibliothque Mjane em Aix-em-Provence Essas cartas,

    precedidas de uma introduo e acompanhadas de notas explicativas, sero publicadas na prxima

    edio da Durkheim Studies. A carta mais relevante a esse respeito a que data de 15 de Junho de

    1898. mile Durkheim, Lettres d'mile Durkheim Salomon Reinach - mimeo, org Rafael Benthien, 2009. Citado a referencia aqui na nota de rodap tambm em; WEISS, Raquel Andrade. mile Durkheim

    e a Fundamentao Social da Moralidade. 2010. 280f. Tese (Doutorado em Filosofia) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010.

  • Dessa forma, o Direito do Homem na Revoluo Francesa visa o individualismo

    como um alcance possvel na tica kantiana, ou um individualismo de correntes

    utilitarista, corrente esse que por definio, em via de regra, remete aos aspectos

    egostas motivado por interesses proprios. Reconhecer o individualismo como ponto de

    partida na corrente utilitarista seria uma combinao engenhosa para conseguir um fim

    astuto e fcil para inabilitar o individualismo, pois, tais ensinamentos sejam tratadas como libertrios, algo que faz sentido, porm, aquilo que no se pode admitir fazer uso da razo, como se esse individualismo fosse o nico existente ou mesmo o nico

    praticvel (WEISS, 2010, p.40).

    Conforme a especialista Surez (2010), afirma em seu artigo a distino que

    Durkheim expe do individualismo utilitarista e o individualismo moral:

    O primeiro considerava a sociedade como um estado no natural ao que o

    indivduo devia entrar para conseguir seus prprios interesses; o segundo era a

    base para construir, desde a prtica real, qualquer projeto coletivo de progresso

    da sociedade. A discusso com as ideias de Spencer, Kant e Rousseau permitir

    a Durkheim voltar a perguntas fundamentais relacionadas com a natureza

    humana, a condio do indivduo e a constituio da sociedade. Frente ao auge

    das teorias utilitaristas e liberais, Durkheim se perguntava se o homem era

    egosta por natureza e se na verdade suas necessidades eram ilimitadas (SUREZ, 2010, p.32-33). [minha traduo]9

    Portanto, o que est por trs dos questionamentos de Durkheim a pergunta

    sociolgica crucial a relao entre individuo e sociedade. E se essa falta de ordem era

    manifesta na poca de Durkheim, ela no deve ser despercebida por agora, at porque a

    significao que se sancionou ao termo individualismo mesmo aquele mais prximo da dependncia negativa que se imputa s doutrinas utilitaristas. Como, ento,

    Durkheim estabelece esse outro individualismo? Encontramos a resposta em seu artigo,

    o individualismo e os intelectuais:

    Mas existe um outro individualismo, sobre o qual mais difcil de triunfar. Ele

    tem sido professado h mais de um sculo pela maior parte dos pensadores:

    aquele de Kant e de Rousseau, aquele dos espiritualistas, aquele que a

    Declarao dos direitos do homem tentou, de forma mais ou menos feliz,

    traduzir em frmulas que ensinamos correntemente em nossas escolas e que se

    tornou a base de nosso catecismo moral. Acredita-se, verdade, poder atingi-lo

    atacando o primeiro, mas ambos diferem profundamente e as crticas que se

    aplicam a um no poderiam convir ao outro. Bem longe de fazer do interesse

    pessoal o objetivo da conduta, ele v em tudo aquilo que um mbil pessoal a prpria fonte do mal. Para Kant, eu s posso estar seguro de estar agindo

    corretamente se os motivos que me determinam no so vinculadas s

    circunstncias particulares nas quais me encontro, mas minha qualidade de

    homem in abstracto. [...] Do mesmo modo, se para Rousseau a vontade geral,

    que a base do contrato social, infalvel, se ela expresso da justia

    9 El primero, consideraba a la sociedad como un estado no natural al que el individuo deba entrar para

    lograr sus propios intereses; el segundo, era la base para construir, desde la prctica real, cualquier

    proyecto colectivo de progreso de la sociedad. La discusin con las ideas de Spencer, Kant y Rousseau le

    permitir a Durkheim volver a perguntas fundamentales relacionadas con la naturaleza humana, la

    condicin del individuo y la constitucin de la sociedad. Ante el auge de las teoras utilitaristas y la

    liberales, Durkheim se preguntaba si le hombre era egosta por naturaleza y si en verdad sus necesidades

    eran ilimitadas. (SUREZ, 2010, p. 32-33).

  • perfeita, porque ela resultante de todas as vontades particulares [...]. Assim,

    tanto para um quanto para o outro, as nicas maneiras de agir que so morais

    so aquelas que podem convir a todos os homens indistintamente, isto , que

    esto implicadas na noo de homem em geral (DURKHEIM apud WEISS

    2010, p.41).

    fato que, Durkheim, rejeita a concepo do individualismo egosta dos

    utilitaristas, porm, afirmaes frente as concepo Kantiana e de Rousseau seria a

    melhor maneira de entender a identidade de seu individualismo fazendo com que aja

    alguma justificativa a ser dada em nossa compreenso e entendimento do

    individualismo a qual o mesmo defendia. Ainda que seja difcil de entender tal

    argumento, na influencia desses autores, desta forma, que se trata ou pelo menos em

    certa parte seu modo de pensar o individualismo, pois, Durkheim assinala ao respeito

    pelo indivduo sobre um carter abstrato de ser humano, tal como tomava como defesa

    Kant e Rousseau, e que no o declara justo pelos mesmos motivos, nem os define com

    os mesmo argumentos.

    Nisso tudo, o que h de mais relevante, em sua opinio, essa ideia de um

    dever moral que no concerne nossa individualidade emprica, mas que tem

    como destinatrio a nossa condio de homem, condio esta que temos em comum com todos os nossos semelhantes (WEISS, 2010, p.41).

    Deixemos, pois, uma ressalva importante quanto ao propsito de Durkheim

    formular esse tipo de individualismo cujo seu objetivo est enraizado ao pensamento de

    se fazer da pessoa humana um ideal sagrado:

    Essa pessoa humana, cuja definio como a pedra-de-toque a partir da qual o

    bem deve se distinguir do mal, considerada como sagrada, como se diz, no

    sentido ritual da palavra. Ela tem algo dessa majestade transcendente que as igrejas de todos os tempos emprestam aos seus Deuses; concebida como

    investida dessa propriedade misteriosa que produz vazio em volta das coisas

    santas, que as subtrai aos contatos vulgares e as retira da circulao comum. E

    precisamente da que vem o respeito da qual faz objeto. Quem quer que

    atente contra a uma vida de um homem, nos inspira um sentimento de horror,

    anlogo aquele sentido pelo crente que v profanarem seu dolo. Uma moral

    desse tipo no simplesmente uma disciplina higinica ou uma sbia economia

    da existncia; uma religio na qual o homem , ao mesmo tempo, o fiel e o

    Deus (DURKHEIM, 2007, p. 3-4).

    Analisando alguns contemporneos como, por exemplo, o terico Michel

    Foucault, uma analise no interior do cristianismo frente a necessria individualizao do

    ser humano agua como a excentricidade do cristianismo habita precisamente no progresso marcado do esprito individualista, pois nele, a quantia dos atos deve ter

    determinada extenso de acordo com a inteno, coisa com a qual introduziu por

    excelncia o que s pode dar apreo ao individuo.

    Ora, tudo concorre precisamente a fazer crer que a nica religio possvel

    essa da humanidade, cuja moral individualista constitui a expresso racional. A que, com efeito, poderia, doravante, se prender a sensibilidade coletiva?

    medida que as sociedades tornam-se mais volumosas, se espalham sobre vastos

    territrios, as tradies e praticas so obrigadas, para poder se dobrar

  • diversidade das situaes e mobilidade das circunstancias, a manter-se em um

    estado de plasticidade e de inconsistncia que no oferece resistncia o

    suficiente s variaes individuais (DURKHEIM, 2007, p. 08).

    Dessa maneira, um equivoco demonstrar a moral individualista como sendo

    opositor da moral crist, mas, pelo contrrio, oriundo dessa e tem como o rito por grau

    elevado de perfeio no livre exame. Visto que, o individualismo como remetido

    anteriormente no simplesmente um axioma econmico ou uma estrutura filosfica;

    ele antes de tudo, uma existncia de fato que percorre as instituies e a vida nas

    sociedades modernas. A forte integrao social constituda desde ento, de aes

    concretas, fruto de sua universalidade enquanto condio humana, emitindo assim, um

    ato respeitoso do ser humano frente sociedade.

    Por essa razo, temos um ponto chave no pensamento de Kant, a saber, o

    imperativo categrico onde , pois, um s, e sua formula geral a seguinte: Procede apenas segundo aquelas mximas, em virtude da qual podes querer ao mesmo tempo em

    que ela se torne em lei universal (KANT, 1959, p.83). Parece-nos que esse mtodo adotado por Kant seria a razo mais clara do individualismo proposto por Durkheim,

    havendo assim, uma ideia de humanidade frente totalidade universal e sobre qualquer

    pessoa particular, e sobre essa mxima certo respeito nessa individualidade tinha como

    viso ser abstrata e universal; construda a partir da juno de vrios elementos,

    transmitindo assim o verdadeiro destino para ao moral. Mas, se no podemos afirmar

    que o individuo da experincia seja merecedor e livre de tal respeito, o que seria? Um indivduo enquanto ideal? Esse o critrio de individuo para condenar a moralidade de

    qualquer ao? Conforme a especialista Raquel Weiss:

    Uma ao ser boa se respeitar e contribuir para a dignificao do indivduo, e

    ser m se o ofender, se o denegrir, se o tomar como um meio para outro fim

    qualquer. Kant afirma que uma lei no ser moral se o indivduo no for

    tomado como fim, e Durkheim parece dizer o mesmo: uma mxima que o instrumentalize ser em si mesma uma profanao, e jamais poder ser

    considerada moral.(WEISS, 2010, p. 42).

    Porm, ainda que Durkheim emita sua conformidade frente teoria Kantiana,

    encontramos tambm uma larga discordncia. Ora, este jamais aceitaria a afirmao de que esse respeito que se atribui pessoa humana seja derivado do carter sagrado que se

    lhe impe o que pressuporia a tese de que a pessoa humana no em si mesma, a coisa

    sacrossanta por excelncia (WEISS, 2010, p. 42). Dentre esse matiz, Durkheim no toma como defesa o individualismo porque admite algo na prpria natureza humana que

    o torne sem restrio respeitvel, ou seja; a definio de pessoa humana o que se aceitou como forma de moralidade e essa explicao que ns emite uma clareza desse

    ato, idealiza de algo que seria constitutivo de todo e qualquer indivduo o que constitui objeto de adorao. Se antes a sociedade criara Deus como esse objeto de adorao, ela

    agora criara o indivduo (WEISS, 2010, p. 42).

    Em pequena ou grande poro, Durkheim descreve em seus trabalhos posteriores

    esse desafio de compreender as questes do individuo e a sociedade, sua originalidade

    encontra-se na sua tese de doutoramento, Da Diviso do Trabalho Social, obra que

    transmite um rio de guas vivas para compreender a temtica do problema do

    individualismo, ns debruamos a afirmar que no houve uma descontinuidade ou uma

  • ruptura sobre os assuntos ligados sobre seu posicionamento poltico e as questes do

    individualismo propriamente dito, como tambm as questes valorativas que o autor

    buscava explicar. Desta maneira, Doutora Raquel Weiss comenta e complementa nossa

    alegao:

    No que se dissesse que Durkheim jamais tivesse se posicionado em defesa de

    tal ou qual sistema de valores, ou que nunca houvesse atuado politicamente,

    mas isso simplesmente no era problematizado, ou era citado apenas

    tangencialmente. O mximo que se chegava a mencionar era seu malfadado

    projeto de fundar uma tica cientfica. Mas isso no de todo incompreensvel, e nem pode ser entendido como uma conspirao para esconder seu lado politicamente engajado ou suas posies valorativas para

    apresent-lo apenas como aquele positivista obcecado em explicar os fatos. (WEISS, 2010, p.29)

    Em sua tese de Doutoramento, Durkheim faz varias especulaes quanto as

    interpretao da filosofia utilitarista10

    inglesa, de que a solidariedades sociais resulta da busca do individuo pela realizao econmica, e secundariamente ao consensus

    universalis comtiano, que pressupe a unidade moral como substrato da vida em

    sociedade (VARES 2012, p. 26). Para os utilitaristas, Durkheim em sua teoria nega o individuo como sendo a base da solidariedade social.

    Embora o Livro Da Diviso do Trabalho Social, tenha o papel fundamental de

    identificar a funo da diviso do Trabalho para vida em sociedade, encontramos outro vis extremamente importante que seriam os embates de Durkheim entre

    individuo e sociedade dando primazia a sociedade no mundo contemporneo.

    A obra de Durkheim aproxima-se no s de autores como Bonald, quando

    considera o primado da sociedade sobre o individuo, mas tambm se aproxima

    da tradio filosfica iluminista, quando aceita o individualismo e o racionalismo como valores supremos da contemporaneidade. Todavia, enfatiza

    o autor, a sociologia durkheiminiana no se esgota em nenhuma dessas

    interpretaes mencionadas apenas com finalidades meramente pontuais

    (ARON, 2003, p. 867).

    Umas das caractersticas fundamentais da modernidade aparecem como

    individuaduao, s sociedades complexas, frente diviso do trabalho tende-se a uma

    expanso ligada estritamente aos fenmenos sociais; a dignidade e o valor humano so

    ntidos em suas convices. Organizaes sociais formam assim, uma necessidade no

    individualismo, onde cada vez mais so requeridas as capacidades individuais, e a

    diversificao de talentos refora as atividades profissionais.

    Como dito anteriormente, a relao de troca tal como defende os utilitaristas,

    tem uma noo de que a sociedade movida por indivduos isolados esse

    individualismo bastante diferente da proposta dado pelo individualismo moral de Durkheim. Para Durkheim esse culto ao individuo no pode ser considerado anmalo, 10 Tericos como Stuart Mill e Jeremy Bentham, acreditavam que a felicidade pode ser medida e ser

    comparados quantitativamente por meio de clculos, embora nenhum foi capaz de fazer um calculo

    semelhante na pratica. Desta forma, se tratando da moral, de qualquer ato ou lei, definido por sua

    utilidade para com os seres sensveis juntos. Utilitrio uma palavra relacionada com o que

    intrinsecamente valioso para cada individuo. (CHUST, Jos Vicente Mestre. La propuesta de John Stuart

    Mill y la Felicidad. Site: Historia y Humanidades by sute 101, 30 de Septembro: 2009. )

  • pois, resulta do prprio desenvolvimento do corpo social sendo, portanto, uma

    necessidade das novas formas organizacionais modernas (Cf. GIDDENS, 1986, p. 9-

    10).

    Para Vares (2012), a diviso do trabalho est longe de afastar os indivduos e

    sim agreg-los, pois, as atividades sociais tornam-se complexas e os sentimentos

    comuns entre seus membros se atenuam, fazendo com que a condio humana do qual

    partilham o mesmo grupo seja capaz de aproxim-los.

    Mas sobre essa tica parece-nos que Durkheim emite certa substituio da

    pessoa humana a da sociedade. Em resposta, no bem assim que ocorre; se sobre os

    indivduos a coero exercida menor nas sociedades modernas, no se pode afirmar

    que no exista valores morais, e sim uma nova forma de moralidade mais tnues

    desenvolvidas em seus membros, ou seja, a total aceitao do valor absoluto da pessoa

    humana.

    Para o nosso esclarecimento, encontramos na obra de Jean Duvignaud respaldo

    para compreenso desse individualismo moral, essa transfigurao do culto a prpria

    sociedade.

    O trao mais marcante desta diviso de tarefas na trama da vida social reside,

    com efeito, na troca das relaes que ela provoca. () Ora, o que essa troca se no o lao invisvel e latente que liga os grupos e os indivduos ao todo

    social, lao coercitivo, mas tambem principio moral solidariedade? (DUVIGNAUD, 1982, p. 21).

    Dessa forma, a oportunidade de mostrar que o individualismo moral no um

    fato natural, mas social, levar a um caminho a ser percorrido no campo metodolgica

    quanto histrico. Afinal, o que se eleva a dedicar-se a essa realidade a conscincia

    coletiva, porquanto, uma sociedade integrada ser a que assegurar a todos os seus membros a possibilidade de realizar sua vocao prpria, de maneira que haja

    coincidncia entre os fins procurados pelos indivduos e os fins coletivos (PIZZORNO, 2005, p. 68).

    3.1. Aspecto metodolgico do individualismo e historicidade do individualismo

    Analisando o fenmeno do individualismo no pensamento de Durkheim

    encontram-se dois aspectos fundamentais para a sua teoria: a metodologia e a historia.

    Como citado anteriormente viso metodolgica de Durkheim estabelecer um objeto

    prprio da sociologia, onde identificar a existncia dos fatos sociais diferente de

    qualquer tentativa dos fatos individuais ou psquicos analisado pelas cincias

    psicolgicas.

    Segundo Musse (2007), O mtodo deve ser adequado ao objeto especifico das

    cincias sociais. O primeiro movimento metodolgico consiste, assim, em delimitar o

    territrio e os limites da sociologia. Desta forma, os fatos sociais no s so qualitativamente diferentes dos fatos psquicos; possuem outro substrato, no

    evolucionam no mesmo meio, nem dependem das mesmas condies (DURKHEIM, 1995, p. 43).

    O fato social tem como definio um carter externo aos indivduos com poder impositivo, a coero o indicio mais forte do carter externo, impessoal e objetivo do

  • fenmeno social (MUSSE, 2007, p. 15). Portanto, Durkheim na sua tese de doutoramento, Da Diviso do Trabalho Social, analisa os aspectos dos fatos sociais,

    como algo coercitivo e externo aos indivduos. Ou seja, os fatos sociais, no so

    demonstrados somente nas organizaes sociais, antes de tudo, encontrado no

    indivduo, pois, o mesmo tem vida prpria nas sociedades. Portanto, torna-se, algo de

    muita pesquisa e compreenso exegtica do autor para que assim, no emita um valor

    negativo e mal compreendido do autor como fazem alguns tericos, levando Durkheim

    a um simples sociologismo e a morte do indivduo nas sociedades modernas.

    Em citaes anteriores, a obra que se atribui a formulao sociolgica de

    Durkheim como meio de ilustrao encontra-se no livro O Suicdio, o pensador francs detm-se com um problema comum onde relacionaria as esferas pessoais e

    unicamente individuais.

    Sem embargo, o suicdio como fato social o permitir demonstrar ao autor

    francs que at aquilo que para o individuo algo que corresponde a sua esfera pessoal, como o caso da deciso de continuar ou interromper o curso da sua

    prpria vida, se pode explicar pela relao deste individuo com a sociedade.

    No obstante, no seu trabalho prvio sobra a diviso do trabalho social,

    Durkheim demonstrou que tanto a noo de individuo como o reconhecimento

    do valor da pessoa so resultado e no ponto de partida de um longo processo histrico nas sociedades ocidentais. (SUREZ, 2010, p. 33) [minha

    traduo]11

    Estes pensamentos direcionar Durkheim a um largo afastamento de pensadores

    como Spencer, Rousseau e Kant que de alguma forma, tiveram certa influencia em sua

    trajetria Acadmica, mas, que no compartilhava de determinadas ideias, como a

    questo da existncia de um estado de natureza individual onde os indivduos

    ordenaram um contrato, dando um movimento constituio da sociedade.

    Ora, j um fato notvel que esses tericos do individualismo no sejam

    menos sensveis aos direitos da coletividade que aos do indivduo. Ningum

    insistiu mais vivamente que Kant sobre o carter supra-individual da moral e do direito; um tipo de ordem qual o homem deve obedecer porque ela a

    ordem sem poder discuti-la; e se lhe foi censurado s vezes por ter ultrajado a

    autonomia da razo, pode-se dizer igualmente, no sem fundamento, que ele

    ps na base de sua moral um ato de f e de submisso irrefletidos. Alis, as

    doutrinas se julgam, sobretudo, pelos seus produtos, ou seja, pelo esprito das

    doutrinas que suscitam: ora, do kantismo provieram a tica de Fichte, que j

    impregnada de socialismo, e a filosofia de Hegel do qual Marx foi o discpulo.

    Quanto Rousseau, sabemos como seu individualismo acrescido de uma

    concepo autoritria da sociedade (DURKHEIM, 2007, p. 04).

    Segundo Girola (2005), para Durkheim, o que permite a existncia da sociedade

    um conjunto de crenas, prticas e costumes compartidos que no so necessariamente

    11 Sin embargo, el suicidio como hecho social Le permitir demostrar al autor francs que hasta aquello

    que para el individuo es algo que corresponde a su esfera personal, como lo es la decisin de continuar o

    interrumpir el curso de su propia vida, se puede explicar por la relacin de este individuo con la sociedad.

    No obstante, en su trabajo previo sobre la divisin del trabajo social, Durkheim demostr que tanto la

    nocin de individuo como el reconocimiento del valor de la persona son resultado y no punto de partida de un largo proceso histrico en las sociedades occidentales. (SUREZ, 2010, p. 33)

  • produto de um contrato. Para alm dessa vertente, quando direcionamos nosso olhar

    para a historia, estes estados de natureza individual no contem aprovao inteiramente.

    O que se consegue enxergar, a partir das condies dentre as sociedades tradicionais e

    s sociedades modernas, o ser humano como individuo inserido dentro da prpria

    sociedade. Desta forma, Durkheim distingui os processos sociais com os processos

    individuais, isso esta bem clarificada na passagem da solidariedade mecnica em

    direo diviso do trabalho para se achegar ao desenvolvimento de uma possibilidade

    e aptides mais vezes individualizadas.

    Longe de o individuo ser o fato primitivo, e a sociedade o derivado, s muito

    lentamente o primeiro se liberta do segundo. Mas apenas de a vida do individuo tomar forma e se expandir, nem por isso a vida coletiva se reduz.

    Esta se torna mais rica e consciente. As aes do grupo, de impensadas que

    eram, torna-se voluntarias. (DURKHEIM, 2003, p. 83)

    4. Consideraes Finais

    Portanto, o conceito de individualismo moral em Durkheim, visa inserir a

    discusso entre a proposta feita pelos utilitaristas clssicos e pensar os aspectos em que

    a sociedade moderna entendia e compreendia as relaes entre individuo e sociedade,

    cujo papel utilitarista dispunha em promover os indivduos a viverem em sociedade

    sobre aspectos egostas, fazendo com que, cada indivduo encontrasse seus interesses na

    base da individualidade, em Durkheim isso impensvel, conquanto que a vida em

    sociedade est para alem de interesses individuais. Para Durkheim, sua raiz do

    individualismo moral est inserida em partes na tica Kantiana, ainda que o mesmo seja

    contrrio a determinados requisitos metodolgicos como foi detalhado anteriormente,

    segundo Giddens: o individualismo moral se funda em um sentimento de respeito pelos outros pela dignidade do Homem em geral [...] O que eleva o individualismo

    moral saber que o mesmo no tem parmetros na glorificao de si mesmo, mas sim uma simpatia por todo o que humano (GIDDENS, 1993, p. 31). Ademais, a garantia dada pelo estado, no alcance dos Direitos do Homem, votar, refletir e escrever mostrou

    consequncias da fraqueza do sistema quando analisado as intempries do famoso caso

    Dreyfus. E por essas razes que esse terico das cincias sociais paulatinamente coloca

    em clareza o tamanho do estrago que as sociedades modernas, ou por que no dizer a

    modernidade ns deixou como pano de fundo para analisar o futuro que ns

    enfrentaramos tempos outrora.

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