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Artigo_agachamento

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*Artigo de revisão desenvolvido como requisito para obtenção do diploma de Pós-Graduação Lato-Sensu em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento, IBEP/CECAFI-FMUSP, São Paulo-SP. **Professor de Educação Física - Formado pela Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba Técnico em Musculação - Federação Paulista de Musculação – FEPAM/NABBA Brasil E-mail: [email protected]

Segurança e efetividade do exercício de agachamento* Safety and Effectiveness of the squat exercise DANILO FERNANDES DE CAMARGO**

RESUMO

O agachamento é um dos exercícios mais

conhecidos e utilizados na musculação, mas algumas controvérsias sobre a prescrição deste exercício surgiram ao longo dos anos. As principais fontes de busca para esta revisão foram as base de dados PubMed e MedLine ovid. Pode-se concluir que o agachamento é um ótimo exercício para o desenvolvimento dos quadríceps, isquiotibiais e glúteos máximo. As forças compressivas tibiofemurais são de grande importância em estabilizar o joelho, fazendo do agachamento um ótimo exercício na reabilitação do ligamento cruzado anterior e ligamento cruzado posterior (LCP). Para o LCP e patela, recomenda-se limitar a flexão do joelho em 0-50º. Não há porque impedir que indivíduos com joelhos saudáveis executem o agachamento completo. A coluna deve permanecer ereta durante todo o exercício e a manobra de Valsalva e o uso de cintos abdominais mostram-se eficientes em promover pressão intra-abdominal, o que gera maior estabilidade da coluna. Palavras-chave: Agachamento, Joelho, Coluna Lombar, Reabilitação.

ABSTRACT

The squat is among the more known and used exercises in resistance training, but some controversies about the prescription of this exercise had appeared through the years. The main sources of search for this revision had been the database PubMed and MedLine ovid. It can be concluded that the squat is an excellent exercise for the development of quadriceps, hamstrings and gluteus maximus. Tibiofemoral compressive forces have great importance in stabilizing the knee, becoming the squat an excellent exercise in the rehabilitation of anterior cruciate ligament and posterior cruciate ligament (PCL). For the PCL and patella, it is recommended to squat between 0-50º knee flexion. It does not have because to hinder that individuals with healthy knees realize full squats. The spine must remain erect during the exercise and the Valsalva maneuver and the use of abdominal belts reveal efficient in promote intra-

abdominal pressure, what it generates greater stability of the spine. Key words: Squat, Knee, Lumbar Spine, Rehabilitation.

INTRODUÇÃO

O agachamento é um típico exercício com barra onde o indivíduo inicia o movimento com o corpo ereto e com a barra nas costas, então flexiona o joelho e o quadril descendo até que as coxas fiquem aproximadamente paralelas ao solo. É frequentemente utilizado para o desenvolvimento da musculatura do quadril, joelho e coluna (WRETENBERG et al., 1996).

Ao longo dos anos surgiram algumas controvérsias sobre a segurança do exercício de agachamento, principalmente sobre a possibilidade de lesão sobre as articulações do joelho e coluna lombar (CHANDLER & MICHAEL, 1991).

Segundo CAMPOS (2002), o agachamento é associado a diversos tipos de lesões, que na maioria das vezes são causadas por uma técnica de execução precária e/ou por falta de estrutura muscular das articulações mais exigidas. Além disso, ESCAMILLA et al. (1998) relata que as estimativas de valores altos na tensão em ligamentos e ossos verificados nos agachamentos, eram devidas aos modelos biomecânicos que foram utilizados, devendo-se então analisar com cautela qualquer tipo de pesquisa sobre o tema.

O exercício de agachamento é um importante instrumento em treinamento esportivo, condicionamento físico e reabilitação física, tanto que tem se tornado parte integrante da maioria dos programas de fortalecimento de membros inferiores e pós operatório de ligamento cruzado anterior. Embora existam controvérsias em torno de sua segurança, a maioria das pesquisas concorda que este exercício é tão seguro quanto efetivo se realizado corretamente (FRY et al, 2003; SALEM et al, 2003).

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OBJETIVO

O objetivo desta revisão foi buscar na literatura evidências que demonstrem a segurança e efetividade do exercício de agachamento tanto como exercício para preparação de atletas e desenvolvimento da musculatura de membros inferiores e coluna quanto como instrumento de fortalecimento e reabilitação de indivíduos com patologias ou pós-operatório do joelho.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para esta revisão foram utilizadas obras bibliográficas de propriedade do autor, assim como as bases de dados PubMed através do site www.pubmed.gov e MedLine Ovid através do site www.portaldapesquisa.com.br no período de Dezembro de 2007 à Fevereiro de 2008. Para a busca foram utilizados os termos “squat”, “squat and knee” e “squat and spine”, onde foram selecionadas evidências publicadas a partir de 1985 até os dias atuais, sendo tanto estudos experimentais quanto revisões que citaram o exercício de agachamento como foco de suas pesquisas.

REVISÃO DE LITERATURA

O Agachamento

O agachamento é um dos mais desafiantes, exigentes e completos exercícios da musculação, pois envolve um elevado número de articulações e músculos, consistindo em um excelente meio de fortalecer os músculos da coxa, do quadril e outros inúmeros coadjuvantes que atuam na realização do movimento. Os americanos consideram o agachamento como um dos exercícios básicos da cultura física e o mais eficiente para os membros inferiores. (GUIMARÃES NETO, 1999; RODRIGUES & COSTA, 1999).

Realizar o agachamento promove um importante estimulo para o desenvolvimento dos músculos extensores do joelho e quadril (EBBEN et al., 2000). Sendo considerado um exercício fundamental na musculação, o aumento da força de todos os músculos dos membros inferiores tem sido identificado como alvo do agachamento, incluindo o quadríceps, isquiotibiais, glúteos e musculatura lombar (BAUER et al., 1999).

O exercício de agachamento é uma parte integrante dos programas de treinamento de força e condicionamento para muitos esportes que requerem altos níveis de força e explosão, como futebol, powerlifting, fisiculturismo e levantamento de peso olímpico. O agachamento fortalece principalmente a musculatura do quadril, coxa e costas, que são os músculos mais importantes

em corridas, saltos e levantamentos. O movimento e o posicionamento deste exercício também são fundamentais para muitas outras atividades e situações do dia-a-dia como, por exemplo, sentar e levantar de uma cadeira ou pegar um objeto no chão (FRY et al, 2003; ESCAMILLA, 2001a; McCAW & MELROSE, 1999).

Existem algumas variações na realização do agachamento com relação ao posicionamento das pernas, dos pés e das mãos para empunhar a barra. Mas, de forma geral, a execução deste exercício segue o mesmo molde. O indivíduo se coloca em pé, com os pés afastados, mantendo-os aproximadamente à linha dos trocânteres. Os pés levemente abduzidos. A barra se apóia sobre os ombros, aproximadamente na linha das espinhas das escápulas. As mãos empunham a barra no ponto entre os ombros e o final da barra. Estando o indivíduo posicionado corretamente inicia-se o movimento. O executante deve flexionar o joelho e o quadril de maneira que a parte posterior da coxa toque as panturrilhas. A cabeça permanece elevada, devendo-se olhar para frente durante todo o exercício. As costas devem permanecer eretas. Voltar à posição inicial, realizando a extensão dos joelhos, quadril e tornozelo (CAMPOS, 2002).

A realização do agachamento pode ser feita variando o grau de flexão do joelho, como o meio-agachamento ou o agachamento completo. O meio-agachamento ocorre quando o indivíduo descende até que as coxas estejam paralelas ao solo com aproximadamente 90º de flexão do joelho. O agachamento completo ocorre quando se agacha o máximo possível até a porção posterior da coxa e as pernas tenham contato entre eles. O meio-agachamento é normalmente preferido e recomendado para atletas em treinamento ou pacientes em reabilitação (CHANDLER & MICHAEL, 1991).

Ao longo dos anos gerou-se uma polêmica em torno do agachamento, principalmente com relação à probabilidade de lesões articulares decorridas de sua realização. Entretanto, CHANDLER et al. (2008) cita que qualquer exercício resistido realizado de forma inapropriada pode resultar em lesão. A lesão pode ocorrer devido ao excesso no volume de treinamento, cargas excessivas ou uso de uma forma imprópria para realização do exercício. Sendo assim, a técnica do movimento é primordial. Algumas regras devem ser seguidas para a realização do agachamento, sendo elas o uso de calçados apropriados; controle total do movimento na fase excêntrica; a fase concêntrica pode ser realizada em varias velocidades, mas sempre controladas; expirar após a parte mais difícil da fase concêntrica; evitar trancos ou torções na posição agachada; manter a curvatura lombar normal com a coluna ereta; manter toda a sola do pé apoiada no solo; os joelhos não devem

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passar muito a ponta dos pés, um pouco é normal; considerar a fadiga um fator de risco no agachamento e manter sua realização correta ou parar o exercício.

De acordo com STUART et al. (1996), ao analisar os membros inferiores, podem-se definir dois tipos de exercícios, sendo eles exercícios em cadeia cinética fechada (ECCF) e exercícios em cadeia cinética aberta (ECCA). Os ECCF são aqueles realizados apoiando a sola do pé sobre o solo ou plataforma e o movimento do joelho é acompanhado pelo movimento do quadril e do tornozelo, como o agachamento ou leg-press. Já os ECCA são realizados com o pé livre de apoios e somente o joelho realiza movimento, como a mesa extensora ou a mesa flexora. Esta informação é de grande importância no que diz respeito a protocolos de reabilitação do joelho e será abordado com maior ênfase ao longo desta revisão. Atuação sobre o joelho

O exercício de agachamento é utilizado há muitas décadas pelos praticantes de musculação e de treinamento esportivo, objetivando o fortalecimento dos músculos dos membros inferiores e ganho de massa muscular nestes. Infelizmente, este movimento tem sido vítima de muitas incorreções quanto a sua realização nos aspectos de solicitação muscular e ângulos a serem adotados durante a sua execução. Em conformidade com os avanços científicos nesta área, pode-se afirmar que muitas destas incorreções são fundamentadas apenas em hipóteses ou realização de forma não otimizada deste exercício, tanto no que diz respeito aos níveis de solicitação muscular em decorrência dos graus de flexão dos segmentos, quanto das possíveis lesões no joelho quando adotados ângulos superiores a 90º (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2005). -Ativação Muscular Para determinar quais músculos estão atuando durante o agachamento e em que grau é necessário quantificar a atividade muscular através do uso de Eletromiografia. ESCAMILLA (2001b) realizou uma revisão com 16 estudos que tinham quantificado a atividade muscular sobre o joelho durante o agachamento. O autor verificou que a atividade eletromiográfica (EMG) do quadríceps progressivamente aumentou conforme o joelho flexionava e diminuía conforme estendia, com picos de atividade ocorrendo com aproximadamente 80-90º de flexão do joelho. O pico de ativação dos isquiotibiais ocorreu entre 50-70º de flexão do joelho. ISEAR et al. (1997) reportou que o vasto medial (VM) e o vasto lateral (VL) demonstraram uma ativação de 68% e 63% da máxima contração isométrica voluntária (MCIV) respectivamente, enquanto que a atividade EMG do reto femural (RF) foi de 48% da

MCIV. Esta menor atividade do RF pode ser explicada devido a sua função bi-articular tanto como extensor do joelho quanto como flexor do quadril. Comparado entre eles, o VM e o VL produziram aproximadamente a mesma atividade EMG. McCAW & MELROSE (1999) desenvolveram um estudo para analisar se a carga utilizada no agachamento e a distância de posicionamento entre os pés afetariam a ativação muscular. Foi verificado que para o quadríceps, realizar o exercício com 75% de 1RM promove uma maior ativação em comparação com o levantamento com 60% de 1RM e, nas três distâncias entre os pés, que eram posicionados próximos, na distância dos ombros e afastados não demonstraram diferença significativa na ativação tanto do RF quanto do VM e VL. Os músculos bíceps femoral (BF) e glúteos máximo (GM) foram mais ativados com cargas maiores e com os pés mais afastados, entretanto, o aumento da carga utilizada demonstrou uma maior importância na ativação destes músculos comparada à variação na distância entre os pés. No estudo de CATERISANO et al. (2002), 10 indivíduos realizaram o agachamento variando o grau de flexão do joelho a fim de se verificar o percentual de participação dos músculos VM, VL, BF e GM no levantamento. Não houve diferença significativa na atuação dos músculos VM, VL e BF para as três variações do agachamento, que eram parcial, paralelo e completo tanto na fase concêntrica quanto excêntrica do movimento. Exceção apenas para o VM durante o agachamento completo na fase concêntrica, que diminui sua participação para 19,29 ± 6,20% (p < 0,05) comparado ao agachamento parcial e paralelo, onde o VM demonstrou uma participação de 26,70 ± 7,34% e 28,85 ± 9,97% respectivamente. Já o músculo GM foi o que demonstrou maior variação no percentual de contribuição, saindo de 26,81 ± 8,02% e 27,41 ± 13,83% no agachamento parcial e paralelo, respectivamente, e chegando a 40,50 ± 13,83% (p < 0,05) de contribuição no agachamento completo na fase concêntrica do movimento. Não houve diferença significativa no percentual de contribuição do GM na fase excêntrica do movimento.

ESCAMILLA et al. (2001c) realizou um estudo comparativo entre o agachamento e o leg-press para verificar se os diversos posicionamentos dos pés e a distância entre as pernas teriam efeitos sobre a ativação muscular. Não houve diferenças significativas entre os dois posicionamentos dos pés, que eram apontados para frente à aproximadamente 0º e abduzidos a aproximadamente 30º. Durante a extensão do joelho o agachamento gerou maior atividade do reto femoral que o leg-press com os pés apoiados na parte alta da plataforma e também apresentou maior ativação dos vastos medial e lateral

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comparados ao leg-press alto e baixo. Não houve diferença na ativação tanto do quadríceps quanto dos isquiotibiais entre manter as pernas mais próximas ou mais abduzidas. O pico de ativação dos quadríceps, isquiotibiais e gastrocnêmios foram maior no agachamento comparado ao leg-press alto e baixo. Os gastrocnêmios são mais ativados no agachamento com as pernas mais próximas. A maior atividade EMG do quadríceps (20-60%) e dos isquiotibiais (90-225%) gerada no agachamento comparado ao leg-press alto e baixo, implica que o agachamento pode ser mais efetivo no desenvolvimento dos quadríceps e isquiotibiais.

Outros estudos, como os de SIGNORILE et al. (1995) e TROUBRIDGE (2000) também relataram não haver diferença significativa na ativação do quadríceps quando adotados diferentes posicionamentos entre os pés.

Numa comparação entre a mesa extensora que é um ECCA e o agachamento que é um ECCF, a mesa extensora gerou aproximadamente 45% mais atividade do reto femoral que o agachamento, enquanto que o agachamento gerou aproximadamente 20% mais atividade do vasto medial e 5% mais atividade do vasto lateral. Isto sugere que a mesa extensora seria mais efetiva para desenvolvimento do reto femoral e o agachamento mais efetivo para o desenvolvimento dos vastos (ESCAMILLA et al., 1998).

No estudo de WILK et al. (1996), foi mensurada a atividade EMG dos músculos quadríceps e isquiotibiais nos exercícios de agachamento, leg-press e mesa extensora. No agachamento, a máxima ativação do quadríceps foi de 59% ± 10% da máxima contração isométrica voluntária (MCIV) e ocorreu entre 88-102º de flexão do joelho durante a fase concêntrica do exercício. No leg-press a maior ativação do quadríceps foi de 51% ± 8% da MCIV e ocorreu entre 88-102º de flexão do joelho na fase concêntrica. Em contrapartida, na mesa extensora, a máxima atividade EMG do quadríceps foi de 52% ± 11% da MCIV e ocorreu entre 35-11º de flexão do joelho durante a fase de extensão do joelho no exercício. Com relação aos isquiotibiais, o pico de atividade EMG foi de 39% ± 12% da MCIV durante a fase concêntrica do agachamento ocorrendo entre 60-74º de flexão do joelho. A ativação dos isquiotibiais durante o leg-press e a mesa extensora foram significativamente menores comparados ao agachamento. WRIGHT et al. (1999) realizou uma comparação entre o agachamento, a mesa flexora e o levantamento stiff na ativação dos isquiotibiais e verificou que as maiores atividades EMG estiveram presentes na fase concêntrica da mesa flexora e do stiff, sem diferença significativa entre eles. O agachamento obteve um pico EMG de aproximadamente 70% do apresentado na

mesa flexora e no stiff, indicando que estes seriam mais efetivos na solicitação dos isquiotibiais. -Ação sobre os Ligamentos Cruzados e Patela

Estabilidade no joelho é primordial na performance e treinamento do atleta, minimizar o potencial de lesões e auxiliar o paciente na reabilitação desta estrutura. Os movimentos de flexão e extensão do joelho que ocorrem durante o agachamento são suportadas em parte pelo ligamento cruzado anterior (LCA) e ligamento cruzado posterior (LCP) que ajudam a promover estabilidade antero-posterior. A força de cisalhamento tibiofemural pode ser lesiva aos ligamentos cruzados, enquanto o excesso de força compressiva tibiofemural pode ser desgastante para os meniscos e cartilagem articular. Entretanto, as forças compressivas têm demonstrado ser um importante fator na estabilização do joelho por resistir às forças de cisalhamento e minimizar a translação da tíbia relativa ao fêmur (ESCAMILLA, 2001b).

Segundo CHANDLER et al. (1989) que estudaram o efeito do agachamento sobre a estabilidade do joelho, a estabilidade anterior e posterior do joelho não diminuiu após oito semanas de meio-agachamentos e agachamentos completos. Os dados coletados em atletas que realizaram o agachamento completo durante vários anos, não indicaram efeitos deste exercício na estabilidade do joelho. Os autores concluíram que o agachamento completo pode ser considerado seguro em termos de não causar frouxidão dos ligamentos do joelho.

Forças compressivas tibiofemurais (FCT) auxiliam a resistir contra as forças de cisalhamento anteroposterior e translação tibiofemural. ESCAMILLA et al. (2001c) comparou o agachamento com o leg-press com os pés apoiados nas partes alta e baixa da plataforma e verificou que as FCT foram de 32-43% maiores no agachamento com relação ao leg-press alto e baixo entre 27-87º de flexão do joelho. Força de tensão sobre o LCA não foram produzidas em todos os exercícios. Realizar o agachamento com uma maior abdução do quadril gerou uma FCT de 15-16% maior com relação ao agachamento com os pés mais próximos entre 19-89º de flexão do joelho. As FCT geralmente aumentam conforme o joelho flexiona e diminuem conforme o joelho estende. A maior FCT apresentada no agachamento comparado ao leg-press alto e baixo está relacionada à maior ativação dos quadríceps e isquiotibiais gerada no agachamento, porque a contração destes músculos também aumenta as FCT sobre o joelho.

WILK et al. (1996) comparou ECCF (agachamento e leg-press) com ECCA (mesa extensora) e observou que a FCT foi

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significativamente maior nos ECCF. Somado a isto, forças de cisalhamento anterior foram verificadas no ECCA, o que gerou tensão sobre o LCA, com picos entre 20-11º de flexão de joelho na fase concêntrica do movimento. Durante os ECCF, forças de cisalhamento anterior não foram observadas em qualquer momento do exercício.

Outros estudos, como os de BYNUM et al. (1995) e YACK et al. (1993) também compararam o agachamento com a mesa extensora, e obtiveram resultados semelhantes ao verificar que o agachamento minimiza a tendência de deslocamento anterior da tíbia, sendo mais indicado, em comparação com a mesa extensora diante de lesões no LCA.

Como já citado, os ECCF têm sido classificados como seguros para a reabilitação do LCA. Além da FCT, a força de cisalhamento tibiofemural que sobrecarrega o LCA é diminuída pela orientação axial da carga aplicada e pela co-contração dos músculos posteriores da coxa em relação ao quadríceps associada à cadeia cinética fechada. Devido o quadríceps cruzar o joelho anteriormente e os isquiotibiais e gastrocnêmios cruzarem o joelho posteriormente, a co-contração desses grupos musculares são muito importantes em aderir estabilidade antero-posterior ao joelho. A co-contração entre o quadríceps e isquiotibiais tem mostrado ser um importante fator em minimizar o estresse sobre o LCA. A maior magnitude da co-contração ocorre no agachamento durante a fase de extensão do joelho (STUART et al., 1996). Colaborando com esta idéia, no trabalho de O’CONNOR (1993) um modelo computadorizado de joelho foi utilizado para analisar as forças que agem sobre o LCA induzidas pela co-contração e verificou que a contração simultânea do quadríceps com os isquiotibiais e gastrocnêmios podem diminuir a carga sobre o LCA em ângulos de flexão de joelho maiores que 22º

Entretanto, ISEAR et al. (1997) que em seu estudo analizou a atividade EMG dos quadríceps e isquiotibiais durante o agachamento sem cargas externas, verificou uma mínima ativação dos isquiotibiais (4-12% da MCIV) comparado ao quadríceps (22-68% da MCIV para VM e 21-63% da MCIV para VL), o que refutaria a teoria da co-contração. Contudo, o autor cita que a menor ativação dos isquiotibiais provavelmente esteja relacionada ao fato do exercício ser realizado apenas com o peso corporal, o que levaria a menor solicitação da musculatura supra-citada. Somado a isto, TROUBRIDGE (2000) relata que colocar uma carga externa sobre os ombros aumenta o torque de flexão sobre o quadril, o que por sua vez eleva a atividade dos isquiotibiais para contravir o torque de flexão aumentado e manter o tronco elevado, consequentemente aumentando a co-contração.

Dificilmente será imposta ao LCP saudável uma tensão maior que sua capacidade,

que tem sido estimada em aproximadamente 4000 N para jovens ativos, tendo em vista que mesmo ao realizarmos agachamentos profundos com cargas elevadas, dificilmente se chega a 50% de sua capacidade de suportar tensão (RACE & AMIS, 1994).

No estudo de STUART et al. (1996), forças de cisalhamento posterior foram observadas nas fases concêntrica e excêntrica do agachamento. Essas forças aumentavam conforme o joelho flexionava e diminuíam conforme ele estendia. Os autores concluíram que a magnitude calculada dessas forças foram insuficientes para apresentar riscos ao LCP lesionado ou reconstruído.

Durante a reabilitação do LCP, em que a meta inicial é diminuir a solicitação do LCP, o leg-press alto ou baixo são preferenciais sobre o agachamento, porque o agachamento gera maior força tênsil no LCP que o leg-press alto e baixo em altos níveis de angulação do joelho. Realizar o agachamento, o leg-press alto e o leg-press baixo com valores funcionais de 0-50º de flexão do joelho devem ser preferenciais para reabilitação do LCP (ESCAMILLA et al., 2001c).

Semelhante a este trabalho, WILK et al. (1996) reportou que nos primeiros 45º de flexão de joelho no agachamento e leg-press, a força de cisalhamento posterior foi relativamente baixa (245 – 564 N) com um rápido aumento entre 45 e 72º de flexão do joelho. Com isso, concluíram que o agachamento e o leg-press realizados com até 45º de flexão de joelho podem ser seguros em estágios iniciais de reabilitação do LCP.

ESCAMILLA et al. (1998) comparou o agachamento e a mesa extensora e verificou que no agachamento o LCP está sempre em tensão, já na mesa extensora o LCP foi tencionado quando o ângulo do joelho era maior que 25º de flexão. O pico de tensão sobre o LCP foi aproximadamente 2000 N para o agachamento e de aproximadamente 1000 N para mesa extensora. Os autores concluíram que a mesa extensora é preferencial sobre agachamento se uma menor tensão sobre o LCP é desejada. Entretanto, considerando que a tensão no LCP geralmente aumenta com a flexão de joelho em todos os exercícios, movimentos do joelho em ângulos inferiores a 50º irão minimizar a tensão sobre o LCP.

Forças compressivas patelofemurais (FCP) produzem estresse sobre a cartilagem da patela e superfície patelar do fêmur. O excesso das FCP e estresse podem contribuir para degeneração patelofemural e patologias, como condromalacia patelar e osteoartrite. ESCAMILLA et al. (2001b) cita que a taxa de aumento das FCP é máxima no agachamento entre aproximadamente 50-80º de flexão do joelho, com isso gerando proporcionalmente maior força patelofemural comparado com menores ângulos de flexão do joelho. Sendo assim, realizar o

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agachamento com alcance funcional de 0-50º de flexão do joelho minimizará as FCP e estresse, e pode ser efetivo para atletas ou pacientes com patologias patelofemurais. Para atletas com joelhos saudáveis, realizar o agachamento com ângulos maiores de flexão do joelho (aproximadamente 90-110º) não deve ser problemático, desde que cargas pesadas não sejam usadas em excesso.

No estudo de ESCAMILLA et al. (2001a), foram examinados os efeitos da distância entre as pernas e do posicionamento dos pés sobre a força compressiva patelofemural no agachamento. Não foram observadas diferenças significativas nas FCP entre o pé posicionado apontando para frente e o pé abduzido a 30º. As FCP progressivamente aumentaram conforme os joelhos flexionavam e diminuíram conforme os joelhos estendiam. Os autores reportaram um aumento de 15% nas FCP no agachamento com os pés afastados comparados com o agachamento com os pés próximos entre 21-79º de flexão do joelho na fase excêntrica do exercício. Não ocorreram diferenças significativas entre as pernas mais próximas ou mais abduzidas na fase concêntrica do exercício. Com essas informações, torna-se preferencial realizar o agachamento com os pés próximos quando o objetivo for diminuir as FCP.

Tanto ECCF quanto ECCA têm sido indicados para tratamento de distúrbios patelares. Numa comparação entre ECCF e ECCA para calcular as forças que agiam sobre a patela verificou-se que entre 0-50º de flexão do joelho, os ECCF produziram uma menor FCP, enquanto que entre 50-90º de flexão, os ECCA produziram uma menor FCP com relação ao ECCF (STEINKAMP et al., 1993). Similar a este estudo, ESCAMILLA et al. (1998) cita que no agachamento e leg-press que são ECCF, as FCP aumentam conforme o joelho flexiona e diminuem conforme estende, porém, na mesa extensora que é um ECCA, as FCP diminuem próximo a flexão completa, o que explica as menores FCP nos ECCF em pequenos graus de flexão do joelho e as menores FCP no ECCA em maiores graus de flexão do joelho.

Entretanto, KAUFMAN et al. (1991) verificou em seu estudo que entre 60-70º de flexão do joelho na mesa extensora foi produzido o maior stress patelar, o que gerou algumas dúvidas sobre quais seriam os melhores ângulos para minimizar as forças sobre a patela neste exercício, pois a maior taxa de stress ocorreu no meio do movimento. O autor sugere que entre 75-90º de flexão do joelho, a mesa extensora pode ser útil para minimizar o stress patelar.

WITVROUW et al. (2000) realizou um estudo sobre a eficácia tanto de ECCF quanto de ECCA na reabilitação patelar em indivíduos sem cirurgia. Verificou-se que tanto o grupo de ECCF quanto o de ECCA apresentaram uma

significativa melhora da dor, aumento da força muscular e melhora da função. Baseado neste estudo, WILK & REINOLD (2001) citam que tanto ECCF quanto ECCA podem ser prescritos para pacientes com desordens patelofemorais desde que sejam respeitados os ângulos de maior conforto para o indivíduo. Se os ECCF gerarem maior conforto que os ECCA então estes devem ser prescritos, o mesmo valendo na situação inversa. Atuação sobre a Coluna Lombar

Forças compressivas sobre a coluna ocorrem no agachamento como resultado de se colocar resistências sobre as costas e ombros. As maiores forças compressivas tem sido calculadas sobre a coluna lombo-sacral (CHANDLER & MICHAEL, 1991). Durante agachamentos com sobrecarga de 0.8 a 1.6 vezes o peso corporal sobre as costas, as forças compressivas sobre os segmentos L3-L4 podem variar entre 6 e 10 vezes o peso corporal. A contração dos eretores da coluna (EC) foi mensurada estar entre 30 e 50% da MCIV e, a magnitude de flexão do tronco foi encontrada como sendo a variável que mais influencia as forças compressivas (CAPPOZZO et al., 1985).

De acordo com DELITTO et al. (1987), a postura da coluna lombar durante o agachamento pode variar. A proposta da técnica de agachamento em que a coluna lombar é alinhada com a lordose normal consiste em que esta postura diminui a compressão nos elementos posteriores da coluna lombar e, sendo assim, diminui o estresse nessas estruturas. Levantadores de peso de elite utilizam esta postura comentando que eles não poderiam levantar muito peso se eles não mantivessem a lordose.

Levantamentos com a coluna lombar mantendo-se a lordose lombar podem ser vantajosos. O agachamento deve ser realizado mantendo-se a lordose lombar, pois assim, os músculos conseguem suportar mais a carga e promovem estabilidade à coluna. A principal função dos músculos do tronco e do sistema de ligamentos posterior é promover estabilidade à coluna lombar durante o movimento, principalmente no início da fase concêntrica (VAKOS et al., 1994).

Segundo HOLMES et al. (1992), que em seu estudo compararam a realização do agachamento com a coluna lombar em posição lordótica (mantendo-se a lordose lombar) e cifótica (com a coluna lombar em flexão) verificou-se que a ativação do EC é maior no início do movimento com a coluna mantendo a lordose e menor no início do movimento da posição cifótica. O músculo EC obteve máxima ativação durante o período mais crítico do levantamento somente na posição lordótica. Os autores concluíram que a posição lordótica aparenta ser a melhor posição

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para promover força muscular durante o agachamento, a tensão dos EC reduzem a pressão sobre os tecidos que poderiam produzir sintomas de dores lombares.

Num estudo semelhante de DELITTO & ROSE (1992), os autores demonstraram que a atividade muscular dos EC foi maior durante o período inicial do levantamento com a postura lordótica com báscula anterior (48% ± 18% da MCIV) comparada à postura cifótica com báscula posterior (28% ± 13% da MCIV). Não houve diferença significativa na ativação do oblíquo abdominal durante ambas as posturas do levantamento (12% ± 10% da MCIV para a lordótica e 14% ± 8% da MCIV para a cifótica). O recrutamento muscular dos EC que ocorre na posição lordótica indica que esta postura pode ser a mais apropriada para suportar e proteger a coluna lombar durante o período inicial do levantamento.

HART et al. (1987) e VAKOS et al. (1994) também comparam levantamentos mantendo-se a coluna com a lordose lombar e com a postura em flexão da lombar e obtiveram resultados semelhantes ao verificar que os EC são mais ativados quando realiza-se o movimento com a lordose normal mantida.

Como já citado, agachar com resistência sobre as costas aumenta as forças compressivas sobre a coluna. Manter uma postura ereta ajuda a distribuir a carga por toda a coluna e a diminuir a chance de lesão. Para reduzir as forças compressivas, o indivíduo deve ter necessariamente flexibilidade nos joelhos, quadril, tornozelo e coluna para manter uma postura correta durante o agachamento. A força abdominal também é importante para proteger a coluna. Durante um levantamento pesado, os levantadores prendem a respiração durante o momento mais difícil do movimento. Isto aumenta a pressão intra-abdominal (PIA) e ajuda a estabilizar a coluna. A utilização de cintos abdominais específicos também pode ajudar o atleta a exercer PIA (CHANDLER et al., 2000).

A pressão produzida na cavidade abdominal exerce uma força hidrostática sobre a pelve e sob o diafragma. Esta força adere tensão sobre a coluna e foi assumida como redutora de força de compressão sobre a coluna. Os músculos da parede abdominal, contraindo contra a cavidade peritoneal pressurizada, podem estabilizar a coluna e o tronco. A estabilidade mecânica da coluna lombar é uma consideração importante em estratégias de prevenção e reabilitação de lesões na região inferior das costas (CHOLEWICKI et al., 1999).

Estruturas ativas agindo sobre a coluna para produzir firmeza e estabilidade são importantes para evitar lesões. Tanto os abdominais quanto os músculos das costas têm um importante papel em estabilizar a coluna. O aumento co-contração dos músculos do tronco

e/ou um aumento da PIA pode aumentar a estabilidade da coluna. A PIA é primariamente produzida pelo músculo transverso do abdome e o treinamento dos músculos abdominais tem se mostrado aumentar a taxa de desenvolvimento da PIA. Tendo a PIA um importante papel na estabilidade da coluna, a taxa de desenvolvimento da PIA é importante quando a coluna é exposta a grandes sobrecargas (ESSENDROP & SCHIBYE, 2004).

A PIA é frequentemente estudada usando a manobra de Valsalva, que consiste no fechamento da glote e contração voluntária do abdome e, quando uma alta PIA é gerada através desta manobra todos os músculos abdominais estão envolvidos. Sendo assim, o controle da respiração é um importante fator na magnitude da geração de PIA durante levantamentos (HAGGINS et al., 2004).

Também tem sido estudado se o uso de cintos abdominais pode contribuir no aumento da PIA. McGILL et al. (1990) realizou uma investigação com 6 indivíduos realizando levantamentos com e sem cinto abdominal em duas situações, segurando a respiração ou respirando normalmente. Todos os indivíduos demonstraram aumento da PIA quando utilizando o cinto em ambas as situações de respiração. LANDER et al. (1990) também realizou um estudo similar e verificou que os maiores valores de PIA (p < 0.05) foram sempre maiores para o agachamento utilizando o cinto, sugerindo que o cinto abdominal pode auxiliar no suporte do tronco.

DISCUSSÃO

Por ser um exercício básico da musculação, o agachamento tem sido utilizado há muitas décadas como uma das principais ferramentas para desenvolvimento de músculos dos membros inferiores e tronco, sendo os principais deles o quadríceps, isquiotibiais, glúteos máximo e toda musculatura lombar, assim como também é de grande utilidade em programas de treinamento de outros esportes, por estimular o desenvolvimento de força e potência muscular. De forma a tentar maximizar o trabalho de determinados músculos, algumas posturas de pernas e pés eram adotadas pelos praticantes do agachamento. Baseado nisso, alguns autores realizaram o agachamento de diversas formas para verificar se essas variações poderiam levar a uma maior ativação muscular em determinado movimento. Vários foram os estudos que buscaram verificar se o quadríceps poderia ser mais ativado variando-se o posicionamento dos pés, (McCAW & MELROSE,1999; CATERISANO et al. 2002; ESCAMILLA et al., 2001c; SIGNORILE et al., 1995 e TROUBRIDGE, 2000)

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e todos obtiveram os mesmos resultados ao constatar que realizar o agachamento com os pés próximos ou mais afastados, assim como manter os pés apontando para frente ou levemente abduzidos não apresenta diferença significativa na ativação do quadríceps. Dois estudos (ISEAR et al., 1997 e ESCAMILLA et al., 1998) também salientaram que durante o agachamento, as porções vasto medial (VM) e vasto lateral (VL) do quadríceps são mais solicitadas que o reto femoral (RF), fator esse que pode ter importância no momento da escolha dos exercícios quanto a atender objetivos de treinamento ou na montagem de um programa de reabilitação. Quando comparado com o leg-press, o agachamento também demonstrou ser mais efetivo com relação à ativação do VM e VL. Entretanto, quando comparado com a mesa extensora, esta apresentou uma maior solicitação do RF com relação ao agachamento, o que pode indicar que quando se objetiva um grande desenvolvimento de toda a musculatura do quadríceps, utilizar-se tanto do agachamento quanto da mesa extensora no mesmo programa de treinamento pode ser vantajoso. Houve um número reduzido de estudos que buscaram mensurar a ativação da musculatura extensora do quadril. Para os isquiotibiais, foi observado que a distancia de posicionamento dos pés não gera um aumento significativo na ativação desta musculatura, assim como realizar o agachamento completo também não aumenta sua ativação (CATERISANO et al. 2002; McCAW & MELROSE, 1999), pois os picos de atividade EMG para os isquiotibiais foram observados entre 50-70º de flexão do joelho (ESCAMILLA, 2001b). Entretanto, dois estudos verificaram que quanto maior a carga utilizada, maior a solicitação dos isquiotibiais devido o torque de flexão do quadril que se eleva com o aumento da sobrecarga (McCAW & MELROSE, 1999; TROUBRIDGE, 2000). Comparados ao agachamento, o leg-press e a mesa extensora obtiveram uma ativação dos isquiotibiais significativamente menor, o que já era esperado levando-se em consideração que o maior objetivo destes exercícios é o desenvolvimento dos quadríceps. Porém, no estudo de WRIGHT et al. (1999) que buscou comparar o agachamento à mesa flexora e ao levantamento stiff, que são exercícios específicos para isquiotibiais, o agachamento demonstrou uma atividade EMG de aproximadamente 70% dos outros dois exercícios, o que indica que apesar do agachamento ser eficiente para o trabalho dos isquiotibiais, se o objetivo for um maior desenvolvimento desta musculatura, incluir a mesa flexora ou o stiff no programa de treinamento pode apresentar alguma vantagem. No caso do glúteos máximo, dois trabalhos demonstraram que agachar com cargas maiores, assim como realizar o agachamento completo

gera uma maior ativação desta musculatura (CATERISANO et al. 2002; McCAW & MELROSE, 1999). Em processos de reabilitação, quando o objetivo é diminuir a tensão sobre o LCA assim como gerar uma maior estabilidade do joelho, diversos foram os trabalhos que demonstraram que a força compressiva entre a tíbia e o fêmur que ocorre durante o agachamento é de grande importância em aderir estabilidade a esta articulação, assim como minimizam a tensão sobre o LCA (CHANDLER et al., 1989; ESCAMILLA, 2001b; ESCAMILLA et al., 2001c; WILK et al., 1996; BYNUM et al., 1995; YACK et al., 1993), colocando não somente o agachamento, mas também outros ECCF como o leg-press, como importantes ferramentas para reabilitação de indivíduos pós-operatório do LCA. Outro fator citado como estabilizador do joelho foi a co-contração do quadríceps com os isquiotibiais (STUART et al., 1996; O’CONNOR, 1993), onde ao contraírem simultaneamente a força de cisalhamento antero-posterior seria diminuída. Contudo, alguns trabalhos relataram que a ativação dos isquiotibiais quando aplicadas baixas sobrecargas não eram suficientes para gerar a co-contração (ISEAR et al., 1997; TROUBRIDGE, 2000), o que leva a crer que as forças compressivas tibiofemurais são o fator de maior importância em aumentar a estabilidade do joelho em processos de reabilitação e que a contribuição da co-contração com relação a minimizar as forças de cisalhamento seria maior em indivíduos saudáveis durante o treinamento com maiores sobrecargas. Todos os trabalhos citados verificaram que o agachamento gera tensão sobre o LCP (STUART et al., 1996; ESCAMILLA et al., 2001c; WILK et al., 1996; ESCAMILLA et al., 1998), entretanto, todos eles concordam que as forças que agiam sobre o LCP não eram suficientes para apresentar risco a indivíduos lesionados ou em reabilitação, principalmente se fosse respeitado um ângulo de trabalho entre 0-50º de flexão do joelho. A mesa extensora apresentou menor tensão no LCP comparado ao agachamento, o que demonstra que ambos os exercícios podem ser utilizados na reabilitação do LCP. Com relação à patela, foi demonstrado que no agachamento, limitar a flexão do joelho entre 0-50º era indicado para diminuir as forças compressivas patelofemurais em processos de reabilitação (STEINKAMP et al., 1993; ESCAMILLA et al.; 2001b) e que manter os pés mais próximos durante a realização do exercício também gerou uma menor força compressiva patelofemural. Não houve contra-indicação em realizar o agachamento completo para indivíduos com joelhos saudáveis. Complementando essas informações WITVROUW et al. (2000) e WILK & REINOLD (2001) relataram que tanto o agachamento, quanto o leg-press e a mesa

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extensora podem ser utilizados no tratamento de patologias patelares, onde o exercício a ser utilizado deveria ser aquele que gerasse maior conforto ao paciente na hora da realização. A ação dos eretores da coluna é de grande importância em aumentar a estabilidade desta estrutura e minimizar a incidência de lesões. Cinco estudos compararam o agachamento na posição lordótica e cifótica (DELITTO et al., 1987; VAKOS et al., 1994; HOLMES et al., 1992; DELITTO & ROSE, 1992; HART et al., 1987) e todos concluíram que manter a postura ereta com a curvatura lombar normal (posição lordótica) gerava uma maior solicitação dos eretores da coluna, indicando que esta deveria ser a postura mais indicada para diminuir o estresse sobre a coluna principalmente no início do levantamento. Outro fator de importância com relação à estabilidade e diminuição das forças compressivas sobre a coluna é a pressão intra-abdominal (PIA) produzida durante o agachamento. A co-contração dos músculos abdominais e posteriores do tronco foi citada como promotora de PIA (CHOLEWICKI et al., 1999; ESSENDROP & SCHIBYE, 2004). Somado a isto, outros estudos também demonstraram que bloquear a respiração (manobra de Valsalva) durante as fases mais difíceis do exercício e também o uso de cintos abdominais foram fatores contribuintes para o aumento da PIA (CHANDLER et al., 2000; HAGGINS et al., 2004; McGILL et al., 1990; LANDER et al., 1990).

CONCLUSÕES

Baseando-se nas evidências encontradas pode-se concluir que o agachamento consiste num ótimo exercício para o desenvolvimento dos músculos dos membros inferiores, assim como é seguro e eficiente em processos de reabilitação do LCA, LCP e patela e que apesar das sobrecargas sobre a coluna, quando corretamente realizado e supervisionado por um profissional capacitado não apresenta riscos ao realizador. Com relação à ativação muscular, não há diferenças na ativação do quadríceps em se realizar o agachamento variando-se o posicionamento dos pés e, as porções vasto medial e vasto lateral são as mais solicitadas. Os isquiotibiais são mais ativados conforme uma maior sobrecarga é utilizada, o mesmo valendo para o glúteo máximo, que também aumenta sua ativação ao se realizar agachamentos completos. O agachamento é indicado durante a reabilitação do LCA por não gerar tensão sobre essa estrutura e devido à força compressiva tibiofemural que promove estabilidade ao joelho. Para o tratamento e reabilitação do LCP ou da patela, recomenda-se limitar o movimento entre 0-50º de flexão do joelho. Não há porque impedir

que indivíduos com joelhos saudáveis realizem o agachamento completo, desde que se respeite a correta execução do exercício e utilize-se de cargas adequadas. Recomenda-se manter a postura ereta e manter a curvatura lombar normal durante o exercício, assim como bloquear a respiração no início da fase concêntrica e o uso de cintos abdominais podem ser úteis para gerar maior pressão intra-abdominal e promover estabilidade à coluna.

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