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JANEIRO / 2015 82 REVISTA PROTEÇÃO ERGONOMIA DE CONCEPÇÃO Inteligentes até que ponto? Edifícios verdes certificados devem aliar preocupação com a QVT ao cuidado ambiental Marcello Silva e Santos [email protected] Bernardo Bastos [email protected] Raphael Pacheco [email protected] Luiz Ricardo Moreira [email protected] Mario Cesar Vidal [email protected] Laboratório GENTE/COPPE/UFRJ Artigo originalmente apresentado no Congresso Brasileiro de Ergonomia – Abergo 2010, no Rio de Janeiro/RJ, intitulado “Sus- tentabilidade sem ergonomia: quando os edifícios inteligentes deixam seus usuários verdes de raiva”. Marcello Silva e Santos, Bernardo Bastos, Raphael Pacheco, Luiz Ricardo Moreira e Mario Cesar Vidal BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM Segundo a Abergo (Associação Bra- sileira de Ergonomia), entende-se por ergonomia o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar de forma integrada, e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das ati- vidades humanas. Aqui há uma primeira relação coincidente com o conceito mais recente de sustentabilidade, ou seja, não é possível dissociar os fins de seus meios. A sustentabilidade é vista como um pro- cesso em que qualquer pequena interação ou conquista bem negociada e aceita vale mais do que os objetivos perseguidos de forma isolada, sem respeitar as carac- terísticas individuais de uma espécie, comunidade, região ou país. A maior consequência da visão estrei- ta do conceito, hoje abandonada, foi a de procurar culpar o ser humano pelas mazelas do planeta, a ponto de transfor- má-lo em vilão de um processo que visava indiretamente protegê-lo. Com isso, a preservação da flora e da fauna parecia excluir o homem do foco de preocupação, e a qualidade de vida no trabalho parecia uma ideia menor em termos do estudo da natureza dos sistemas de desenvolvimen- to sustentável. Entretanto, o homem é uma espécie triplamente ameaçada. Enquanto espécie, é tão frágil como qualquer outra. Como indivíduo, é tão mortal como qualquer outro animal. E, paradoxalmente, ele é imprescindível para buscar as soluções possíveis contra a destruição da natureza (que ele ajudou a perpetrar, é verdade), se assim desejar e trabalhar de forma conjunta e urgente. Aparentemente, o homem está se conscientizando cada vez mais rápido. Como disse um famoso ex-candidato à presidência dos Estados Unidos numa conferência mundial sobre o clima, “devemos todos aprender a nos salvar de nós mesmos”. No campo mais pragmático, porém, é preciso reforçar a necessidade de com- binar o conhecimento acumulado no sentido de: w Evitar tecnologias agressivas do ponto de vista ecológico adotando sistemas construtivos com menor grau de consumo de energia e desperdício Pouca gente sabe que a construção em madeira (nem sempre viável por ques- tões técnicas) é muito menos poluidora, além de mais “reciclável” que sistemas construtivos convencionais em concreto e alvenaria (principalmente quando con- siderada toda a cadeia produtiva, desde a mineração e produção de cimento, transportes, etc.). w Projetar melhor os sistemas de controle de consumo de energia e des- carte de rejeitos – Pelo estímulo ao uso de ventilação e iluminação natural, por exemplo, estabelecem-se de forma natu- ral mecanismos de redução de consumo, sem prejuízo operacional. Por outro lado, a utilização de usinas de reciclagem de re- jeitos (entulhos), uma realidade mundial, ainda é muito pouco divulgada no Brasil. w Projetar adequadamente fábricas, escritórios e ambientes de trabalho em geral para que não se tornem obsoletos, a curto prazo, nem opressores, a longo prazo – Aqui tem-se a maior oportunidade em termos de ganhos operacionais, finan- ceiros e de qualidade de vida no trabalho, ao mesmo tempo que se constitui no maior desafio de conscientização, já que o homem “se acostumou” a transformar os ambientes de trabalho constantemen- te, como se isso fosse algo saudável (ou sustentável). VISÃO HOLÍSTICA O entendimento que parece sensato de- duzir é o de que, se a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade passa invariavelmente pela compreensão de que o ser humano deve ser o foco principal das atitudes em relação ao tema, não faz sentido buscar pseudogarantias de que esta sustentabilidade será alcançada

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Ergonomia

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JANEIRO / 201582 REVISTA PROTEÇÃO

ERGONOMIA DE CONCEPÇÃO

Inteligentes até que ponto?Edifícios verdes certificados devem aliar preocupação com a QVT ao cuidado ambiental

Marcello Silva e [email protected]

Bernardo [email protected]

Raphael [email protected]

Luiz Ricardo [email protected]

Mario Cesar [email protected]

Laboratório GENTE/COPPE/UFRJ

Artigo originalmente apresentado no Congresso Brasileiro de Ergonomia – Abergo 2010, no Rio de Janeiro/RJ, intitulado “Sus-tentabilidade sem ergonomia: quando os edifícios inteligentes deixam seus usuários verdes de raiva”.

Marcello Silva e Santos, Bernardo Bastos, Raphael Pacheco, Luiz Ricardo Moreira e Mario Cesar Vidal

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MSegundo a Abergo (Associação Bra-sileira de Ergonomia), entende-se por er gonomia o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar de forma integrada, e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das ati-vidades humanas. Aqui há uma primeira relação coincidente com o conceito mais recente de sustentabilidade, ou seja, não é possível dissociar os fins de seus meios. A sustentabilidade é vista como um pro-cesso em que qualquer pequena interação ou conquista bem negociada e aceita vale mais do que os objetivos perseguidos de forma isolada, sem respeitar as carac-terísticas individuais de uma espécie, comunidade, região ou país.

A maior consequência da visão estrei-ta do conceito, hoje abandonada, foi a de procurar culpar o ser humano pelas mazelas do planeta, a ponto de transfor-má-lo em vilão de um processo que visava indiretamente protegê-lo. Com isso, a preservação da flora e da fauna parecia excluir o homem do foco de preocupação, e a qualidade de vida no trabalho parecia uma ideia menor em termos do estudo da natureza dos sistemas de desenvolvimen-to sustentável.

Entretanto, o homem é uma espécie triplamente ameaçada. Enquanto espécie, é tão frágil como qualquer outra. Como indivíduo, é tão mortal como qualquer outro animal. E, paradoxalmente, ele é imprescindível para buscar as soluções possíveis contra a destruição da natureza (que ele ajudou a perpetrar, é verdade),

se assim desejar e trabalhar de forma con junta e urgente. Aparentemente, o homem está se conscientizando cada vez mais rápido. Como disse um famoso ex-candidato à presidência dos Estados Unidos numa conferência mundial sobre o clima, “devemos todos aprender a nos salvar de nós mesmos”.

No campo mais pragmático, porém, é preciso reforçar a necessidade de com-binar o conhecimento acumulado no sentido de:w Evitar tecnologias agressivas do

ponto de vista ecológico adotando sistemas construtivos com menor grau de consumo de energia e desperdício – Pouca gente sabe que a construção em madeira (nem sempre viável por ques-tões técnicas) é muito menos poluidora, além de mais “reciclável” que sistemas construtivos convencionais em concreto e alvenaria (principalmente quando con-siderada toda a cadeia produtiva, desde a mineração e produção de cimento, transportes, etc.).w Projetar melhor os sistemas de

controle de consumo de energia e des-carte de rejeitos – Pelo estímulo ao uso de ventilação e iluminação natural, por

exemplo, estabelecem-se de forma natu-ral mecanismos de redução de consumo, sem prejuízo operacional. Por outro lado, a utilização de usinas de reciclagem de re-jeitos (entulhos), uma realidade mundial, ainda é muito pouco divulgada no Brasil.w Projetar adequadamente fábricas,

escritórios e ambientes de trabalho em geral para que não se tornem obsoletos, a curto prazo, nem opressores, a longo prazo – Aqui tem-se a maior oportunidade em termos de ganhos operacionais, finan-ceiros e de qualidade de vida no trabalho, ao mesmo tempo que se constitui no maior desafio de conscientização, já que o homem “se acostumou” a transformar os ambientes de trabalho constantemen-te, como se isso fosse algo saudável (ou sustentável).

VISÃO HOLÍSTICAO entendimento que parece sensato de-

duzir é o de que, se a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade passa invariavelmente pela compreensão de que o ser humano deve ser o foco principal das atitudes em relação ao tema, não faz sentido buscar pseudogarantias de que esta sustentabilidade será alcançada

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ERGONOMIA DE CONCEPÇÃOpela simples obtenção de qualquer tipo de certificação. Ou seja, se uma edifica-ção foi construída dentro de parâmetros normativos e critérios técnicos (ainda que muitos destes não sejam regionalizados) que a façam merecer uma certificação porque economiza recursos, gasta pouca energia, dura mais, etc., isso não a quali-fica enquanto “ambiente” adequado para o desempenho das atividades de trabalho que irão ali acontecer.

Isso é particularmente importante, já que a maior parte desses “edifícios ver-des” (que em geral também incorporam o conceito de edifícios inteligentes) foi pla nejada para abrigar grandes empresas, muitas destas públicas, em que há uma tendência de solidez corporativa e de “lon gevidade” da força de trabalho, seja por estabilidade ou outros fatores. Muitos dos trabalhadores que utilizarão estas ins-talações se aposentarão no mesmo local, ainda que sejam promovidos ou mudem de função.

Nesse particular, há de se considerar fatores além dos usualmente analisados no estudo das atividades de trabalho. Como se pode perceber, a relação entre a ergonomia e o desenvolvimento sustentável mostra-se mais estreita do que parece. O conceito de sustentabilidade pres supõe que as relações existentes entre organizações, governos e grupamentos sociais em geral são calçadas em três grandes variáveis interdependen-tes, a saber: social, econômica e ambiental, conforme mostra a Figura 1.

A tentativa de se atribuir pesos dife-rentes a cada um dos componentes do conceito de sustentabilidade é um mero exercício de abstração, já que o que deve ser perseguido é o ponto comum de in-terseção entre todas essas variáveis. Essa (re)visão holística, na qual a ergonomia se apoia para produzir resultados mais consistentes em suas ações, é condizente com a ideia de que o habitat é composto por tudo em volta, incluindo o (meio) am biente de trabalho.

Se isso for verdade, por que não pre-servar também o trabalhador a partir da garantia dos recursos ou meios necessá-rios ao desempenho adequado de suas diferentes atividades? Afinal, o homem deveria ser merecedor da mesma atenção que recebem a rica flora ou os animais nas pradarias. Já que a maioria dos ergo-nomistas não pensa pequeno, é preciso “preservar” o ambiente de trabalho, não permitindo que o homem trabalhe em

con dições inadequadas que afetam a sua qualidade ou produtividade e que o pre-judicam na busca pelo exercício de sua plenitude de (ser) humano.

AVERIGUAÇÃOComo parte do processo de uma pesqui-

sa de pós-doutorado, um dos autores des-te artigo decidiu avaliar os resultados de algumas construções chamadas “verdes” ou “prédios inteligentes” para verificar se existiam problemas na fase de utiliza-ção que iam além do erro de construção terminológica, afinal prédios não pensam nem se autoprojetam.

Na verdade, avaliar o projeto ou o con-ceito (de arquitetura inteligente) não era a maior preocupação, mas sim identificar inadequações advindas da falta da par-ticipação do usuário na concepção dos seus ambientes de trabalho. Sem precisar ir muito longe, aproveitando o contato próximo com uma grande empresa de energia, foi solicitada a permissão para vistoriar quatro novos prédios constru-ídos dentro do conceito de arquitetura sustentável e entrevistar alguns de seus usuários.

Logo na chegada a um desses prédios, ocorreu um fato inusitado que, se não é classificado como problema de projeto, certamente é uma curiosidade de cunho cognitivo. Ao nos dirigirmos aos elevado-res, tocamos na moderna tecla sensível ao toque e nela apareceu o código “E2”. Após alguns instantes, percebemos que o ele-vador estranhamente não chegava, já que naquele momento o prédio parecia vazio.

Nisso, uma funcionária da empresa passou por nós e entrou em outro ele-vador um pouco mais adiante daquele que aguardávamos. Acima da porta do elevador em que a funcionária entrou, vimos aceso o código “E2”. Ou seja, ao tocar a touch screen, esta nos indicava não apenas o andar no qual estávamos, onde o elevador estava e outras informa-ções (tudo com letras pequenas), como também o número do elevador para onde

deveríamos ter nos dirigido. Digamos que alguém precisaria ter um raciocínio ágil o bastante para deduzir a que se referia aquele “E(x)”.

Nesse mesmo prédio, tivemos que nos reunir na sala de um dos gerentes, já que a maioria das novas salas de reuniões projetadas teve de ser convertida para espaços de escritório devido ao “cresci-mento da empresa acima do previsto”. Essas duas observações nos indicam algo nem sempre imaginado no planejamento dos ambientes de trabalho: somente a uti-lização em contexto real pode responder pela adequação desses espaços.

ENTREVISTASA partir das entrevistas, foi possível es-

tabelecer um quadro inicial com algumas estatísticas interessantes em um desses novos prédios. Este estudo carece de rigor científico, mas serve como evidên-cia motivadora para que novos e mais aprofundados estudos sejam conduzidos com este tema. Os dados que constam nos Gráficos 1 a 4 referem-se somente às respostas efetivas. As questões em branco foram descartadas.

Além do impacto sobre as atividades de trabalho, um mau projeto é despropor-cionalmente danoso ao meio ambiente em comparação com um bom projeto. Paradoxalmente, a quantidade de esfor-ços combinados não varia muito nos dois casos, o que torna ainda mais intrigante a utilização de modelos não participativos de gerenciamento de projetos. É o que se pode chamar de “paradoxo de um pa radigma”, a manutenção de modelos comprovadamente ineficazes, ainda que ditos inteligentes.

Porém, o pior ainda está por vir. Um dos autores deste trabalho, professor de Engenharia Ambiental, trabalha com indicadores de impacto ambiental deri-vados da ineficiência socioeconômica da indústria da construção civil. Dentre os achados preliminares, verifica-se um au-mento acentuado na geração de passivos

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ambientais decorrentes de:w Geração de resíduos sólidos –

Ainda que tenha havido uma melhoria sensível nos programas de controle de desperdício, a construção continua líder em termos de geração de resíduos, com pouca ou quase nula utilização de técnicas de reciclagem (entulhos, por exemplo).w Utilização de sistemas construti-

vos ultrapassados – A pouca mecaniza-ção no país, aliada ao modelo de implan-tação de canteiros de obra, produz danos ambientais por vezes não considerados.w Desconsideração do ciclo de vida

do produto e da evolução do mercado no planejamento de novas edificações – Cada vez que uma grande empresa pre-cisa de mais espaço para expandir suas atividades, percebe-se em várias ocasiões que esses novos ambientes levam um tem-po enorme desde a gestão da ideia até a entrega do prédio. Antes mesmo da entre-ga aos usuários, os ambientes estão sub-dimensionados para atender ao aumento da força de trabalho e ultrapassados em relação à demanda de utilização (carga elétrica subdimensionada, por exemplo). As alternativas adotadas, na maior parte dos casos, são a reforma, ampliação ou o planejamento e construção de novos es-paços, mantendo-se o círculo vicioso. Isso naturalmente pressupõe maior impacto ambiental em todos os níveis.

REFORMULAÇÃOEste artigo não remete a uma conclu-

são, mas sim a uma reflexão. Ninguém preconizaria, nos tempos de hoje, uma volta ao passado. Sistemas construtivos ineficientes, uso de materiais que agridem a natureza ao longo do seu ciclo de produ-ção e principalmente a falta de inteligên-cia na utilização de recursos naturais ou não renováveis equivalem a um paradoxo maior que a Santa Inquisição.

As organizações modernas de ponta, na sua busca pela maturidade organizacional, procuram estar também enquadradas na esfera normativa, respeitando a legisla-

ção vigente e de acordo com padrões de qualidade diversos. As certificações em qualidade de processos, Segurança no Trabalho e, mais recentemente, em responsabilidade social (ainda que, por ora, a ISO 26000 não pretenda ser um padrão certificador) têm seu raio de ação ampliado a cada ano.

Em contrapartida, aumenta o nível de exigência em QVT (Qualidade de Vida no Trabalho), que extrapola as fronteiras das organizações e retroage aos fundamentos básicos da natureza humana, como a ne-cessidade por respeito e convívio social e familiar. Isso também remete à ideia de desenvolvimento sustentável, na medida em que as empresas passam a aceitar melhor o fato de que novos modelos de organização do trabalho podem gerar benefícios diretos (aumento de produti-vidade) a partir da oferta de benefícios indiretos (melhoria das condições de trabalho).

Não deve causar surpresa o que o futuro reserva em termos de avanços na natureza do trabalho humano, mesmo que parte des-se avanço possa vir acompanhada de uma redução drástica no volume de postos de trabalho, pelo menos no modelo conven-cional. Como alguns já disseram, fábrica não é lugar de gente, mas de máquinas. Se é possível repensar a sociedade, seus hábitos e costumes, por que não (re)for-mular um modelo de trabalho e emprego?

A ergonomia está preparada para isso, no sentido de que respeita a diversida-de, incentiva a multidisciplinaridade e intervém de forma interdisciplinar. A er-gonomia não impõe ideias ou conceitos, agindo a partir de ações indiretas sobre todas as dimensões (física, cognitiva e organizacional) presentes nos sistemas de trabalho, por meio da ação direta e participativa dos trabalhadores.

CONCEPÇÃO PARTICIPATIVAMuito provavelmente, quando as pes-

soas tiverem a oportunidade (como tem

sido cada vez mais comum) de participar ativamente dos projetos de seus espaços de trabalho, elas tenderão a refletir me-lhor sobre suas aspirações, seus ideais de conforto, design, segurança e “habita-bilidade” do ambiente construído para o trabalho. Se não forem capazes, ainda que indiretamente pelas mãos de designers e projetistas, de conceber adequadamente seu ambiente de trabalho ou os sistemas de produção, o que dirá de uma missão maior, como a garantia de um modelo de desenvolvimento sustentável para o planeta?

O caminho para a garantia das condi-ções ideais de trabalho passa primeiro pela garantia do próprio trabalho. Os governos devem garantir políticas públi-cas que mantenham níveis adequados de empregabilidade e reprimam com rigor o descumprimento das normas sobre con-dições mínimas de trabalho. Em segundo lugar, é preciso mudar de vez o (pré)conceito de que os usuários não sabem o que querem e, por isso, precisam de projetistas para satisfazer as suas ne-cessidades. Todos sabem o que é bom, o que incomoda, agrada ou desagrada num ambiente de trabalho.

Se não for possível transmitir essas ne-cessidades para os programas de projeto, talvez seja necessário mudar a maneira como esses programas são desenvolvidos, adicionando métodos de projeto partici-pativo, técnicas de engenharia simultâ-nea, ferramentas de ação operacional de projeto, etc. Tentar atribuir inteligência a uma edificação, acreditando que no futuro será possível solucionar o descon-forto de um ambiente opressor, remonta à mais absoluta falta desse atributo, além de continuar deixando os trabalhadores “verdes de raiva”.