As Fontes Históricas Na História Política e Breves Consideraç Ãos Acerca Da Narrativa e a Ficção No Conhecimento Histórico

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Texto contendo reflexões sobre as fontes históricas na História Política

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AS FONTES NA HISTRIA POLTICA E BREVES CONSIDERAES ACERCA DA MEMRIA E NARRATIVA NO CONHECIMENTO HISTRICO [footnoteRef:1] [1: Artigo desenvolvido na disciplina de Seminrio Histria, Poder e Cultura do Mestrado em Histria na Universidade Federal de Santa Maria UFSM, 2014.]

MAIA, Leonardo P[footnoteRef:2]. [2: Acadmico do Mestrado em Histria pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Email: ]

ResumoO presente artigo visa abordar alguns aspectos acerca de questes terico-metodolgicas acerca do uso das fontes no que tange ao objeto de pesquisa da dissertao de mestrado, onde, a mesma visa investigar a valorizao dos bacharis em Direito rio-grandenses no cenrio poltico e jurdico na segunda metade do sculo XIX (1850-1870) e que esta vinculada a rea Histria, Poder e Cultura e a Linha de Pesquisa Integrao, Poltica e Fronteira do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Neste sentido este trabalho buscara, alm de relacionar o uso das fontes na histria poltica, perceber nos estudos de Pierre Nora, Roger Chartier, os aspetos que contribuam para histria poltica, a narrativa e memria.

Palavras-Chave: Histria Poltica; Fontes histricas, Narrativa; Memria.

AbstractThis paper aims to address some aspects about methodological questions about the use of sources with respect to the research object of the dissertation, where it aims to investigate the recovery of graduates in Law Rio Grande in the political and legal scenario in the second half of the nineteenth century (1850-1870) and that linked the area History, Power and Culture and the Research Line "Integration Policy and Frontier" of the Graduate Program in History at the Federal University of Santa Maria (UFSM). In this sense this work sought, and relate the use of sources in political history, see the studies of Pierre Nora, Roger Chartier, aspects that contribute to political history, narrative and memory.

Keywords: Political History; Historical sources, Narrative; Memory.

A proposta desenvolvida para dissertao de mestrado que est vinculada a rea Histria, Poder e Cultura e a Linha de Pesquisa Integrao, Poltica e Fronteira do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), busca perceber a valorizao do bacharel em Direito no segunda metade do sculo XIX (1850 1870). O sculo XIX foi um perodo de muitas mudanas econmicas, culturais e sociais, o mbito jurdico no foi diferente, no sculo que o historiador Eric Hobsbawm denomina de o longo sculo XIX. A prtica jurdica aparece como uma ferramenta para estruturar e manter o poder estatal imperial no que tange suas bases administrativas. O bacharel em direito como agente que desenvolve as funes jurdicas acaba por ter uma valorizao neste cenrio e a formao em Direito vai se tornando essencial para entrar na carreira poltica. Parto de consideraes de Ren Rmond (2007), sobre a ideia de trabalhar histria poltica, pois este autor entende a nova histria poltica seja um vis inovador, no que se refere ao carter heterogneo do olhar da mesma, pois ao trabalhar histria poltica todos os atores da construo do processo so englobados:

A nova histria poltica preenche todos os requisitos necessrios para ser reabilitada. Ao se ocupar do estudo da participao na vida poltica e dos processos eleitorais, integra todos os atores, mesmo os mais modestos, perdendo assim seu carter elitista e individualista e elegendo as massas como seu objeto central (Rmond, 2007, p. 7). Para Pesavento (2004), em Histria & Histria Cultural, os historiadores entendem que a busca pela verdade sua funo, porm o mximo que poder fazer uma aproximao do real, onde construir [...] verses possveis, plausveis, aproximativas daquilo que teria ocorrido (p. 18). A autora v no mtodo uma ferramenta para buscar a verificao da representao do passado, possibilitando:

[...] mostrar com segurana e seriedade, o caminho percorrido, desde a pergunta formulada pesquisa de arquivo, assim como a estratgia pela qual fez a fonte falar, produzindo sentidos e revelaes, que ele transformou em texto (PESAVENTO, 2004, p. 67).

O mtodo essencial ao entendimento da histria como cincia e, para Pesavento (2004) quando se fala de mtodo o mesmo do que falar de uma estratgia de abordagem, onde o mtodo a forma da construo do conhecimento histrico, em que como j frisado, mtodo tambm verificao:Por ltimo, a histria fico controlada pelo recurso ao extratexto, que tambm registro e marca que revelam a exemplaridade do mtodo seguido, a compor, estabelecer analogias, constatar, superpor, anunciando nexos (p.67). Neste sentido a pesquisa histrica fixa as bases no mtodo. Porm seja qual for o mtodo, possivelmente s chegaremos perto da verdade de nosso objeto de estudo. Roger Chartier (2011) em estudo intitulado A verdade entre a fico e histria, nos ajuda a apontar algumas questes acerca da noo da pesquisa histria e a aproximao de nossos objetos de estudo:

Hoje, para os historiadores, a pertinncia de uma interrogao sobre as relaes entre histria e verdade est ligada diretamente ao seu contrrio, quer dizer, a sua relao com a fico. O primeiro se prende ao fato de as obras de fico terem tornado objeto da histria (CHARTIER, 2011, p. 214)

Podemos perceber que Chartier (2011) no apresenta a concepo de histria ligada a exatamente a noo de realidade, estabelecendo que o texto histrico no compreende de fato a realidade da totalidade histrica, pois o historiador nunca chegar ao mximo do fato histrico e sim a uma aproximao. Marc Bloch (2002) em Apologia da histria ou O ofcio do historiador (2002) apresenta a importncias dos vestgios para a (re)construo do passado:

Em nossa inevitvel subordinao em relao ao passado, ficamos [portanto] pelo menos livres no sentido de que, condenados sempre a conhec-lo exclusivamente por meio de [seus] vestgios, conseguimos todavia saber sobre ele muito mais do que ele julgara sensato nos dar a conhecer (BLOCH, 2002, p. 78).

Seja ao abordar as fontes oficias, cuja expressam a conjuntura oficial jurdica, poltica, religiosa e, que por certas vezes deixam de mostrar aspectos ou at mesmo escondem os fatos que lhe prejudiquem ou de uma classe que no seja aceita. Bom, ento afirmamos que a fonte oficial pode ser obscura e no retratar a realidade fidedigna. Qual outra via s fontes oficiais? As fontes pessoais: cartas, dirios, etc. Ora; a fonte pessoal tambm pode obscurecer o passado, podendo, neste tipo de documento, haver uma memria seletiva e muitas vezes atreladas a um passado percebido numa tica que tambm pode esconder o que se quer ser escondido, portanto ao perceber a relao da histria e aproximao com o real, podemos afirmar que a escrita histrica a representao do passado, podendo se aproximar muito do real, porm no da totalidade histrica. Bloch (2002) aponta a questo do testemunho como fonte:

Do mesmo modo, at nos testemunhos mais resolutamente voluntrios, o que os textos nos dizem expressamente deixou hoje em dia de ser o objeto predileto de nossa ateno. Apegamo-nos geralmente com muito mais ardor ao que ele nos deixa entender, sem haver pretendido diz-lo (BLOCH, 2002, p. 78).

Neste sentido podemos Chartier (2011) os elementos para escrita histrica cada vez mais se amplia, no sentido que at mesmo a fico aparece com um norte de compreenso de aspectos da realidade, mesmo que essencialmente, a fico no tenha compromisso coma verdade histrica, muitas vezes com contem traos do real. Chartier (2011) nos apresenta que a narrativa do historiador e do ficcionista conversam entre si, pois a fico compe traos do real impermeado em sua estrutura, alm do que no se pode cair na ingenuidade de afirmar que todo discurso histrico de fato verdadeiro, ainda, no podemos levar o entendimento da fico a um patamar de devaneio, pois de fato algumas narrativas ficcionais tem como pano de fundo o real e abarcam elementos to verdadeiros quanto um discurso histrico. Bloch (2002) entende a narrativa como os primrdios da histria:

Pois a histria no apenas uma cincia em marcha. tambm uma cincia na infncia: como todas aquelas que tm por objeto o esprito humano, esse temporo no campo do conhecimento racional. Ou, para dizer melhor, velha sob a forma embrionria da narrativa, de h muito apinhada de fices, h mais tempo ainda colada aos acontecimentos mais imediatamente apreensveis, ela permanece, como empreendimento racional de anlise, jovem (BLOCH, 2002, p. 47).

Quando Chartier (2011) salienta a negociao, parte do ponto de estimular a escrita numa espcie de meio termo entre criao esttica e mundo social, ou seja, o essencial a compreenso de que cada obra [...] construda numa relao com as praticas comuns ou os discursos que no so alcanados a registro histrico pelos contemporneos e que se estendem ordem do poltico, judicirio, de religioso, do ritual etc (p. 215). No que tange sobre a valorizao do bacharel em Direito, podemos perceber a caracterizao deste sujeito que at hoje detm a mesma vestimenta do sculo XIX, um autor do ramo do Direito critica esse esteretipo construdo, Luis Alberto Warat tem por discurso a pinguinizao do jurista, ou seja, todos bacharis vestidos e pensando uniformemente. Podemos mostrar a criao da representao deste discurso nas palavras de Raymundo Faoro (2001), em Os donos do Poder que apresenta o gosto pelo diploma de bacharel por parta da sociedade do sculo XIX, onde parafraseia Gilberto Freyre ao trazer a exuberncia o status das vestimentas que os bacharis vestiam:

J a beca dava uma nobreza toda especial ao adolescente plido que saa dos 'pteos' dos jesutas. Nela se anunciava o bacharel do sculo XIX o que faria a Repblica, com a adeso at dos bispos, dos generais e dos bares do Imprio. Todos um tanto fascinados pelo brilho dos bacharis. (FAORO, 2001, p. 465)

A construo da representao e a narrativa exuberante desses atores sociais que nem sempre possuiam o status que lhe era empregado, faz que a narrativa de alguns autores no seja coesa com a realidade que se encontravam estes bacharis, pois somente depois da segunda metade do sculo XIX que estes agentes de fato acabam por se inserir no cenrio nacional .Jos Reinaldo de Lima Lopes (2002) em O Direito na Histria: Lies Introdutrias apresenta o cenrio que se encontravam esses bacharis: No Brasil do sculo XIX, no difcil de perceber qual ser o papel do jurista ou bacharel. As escolas de direito, ou melhor, os cursos jurdicos, so explicitamente criados para prover o Imprio de quadros capazes de compor as carreiras burocrticas ou fazer aplicar as leis nacionais. Assim, o jurista nasce no Brasil diretamente ligado s funes de Estado, seja como funcionrio , seja como profissional liberal, para fazer com que o Estado nacional atinja a capilaridade desejada, que o estado portugus colonial s havia conseguido em parte. Dizia Joaquim Nabuco que na sociedade escravista, a burocracia era a vocao de todos...os bacharis sero o tipo-ideal do burocrata nascido em sociedade escravista e clientelista: subindo na carreira por indicao , por favor, por aliana poltica com os donos do poder local, provincial ou nacional. (LOPES, 2002, p. 207)

A questo da narrativa por muito tempo foi negada na construo da escrita da histria poltica, uma pergunta levantada por Chartier (2011) nos faz aqui pertinente: Por que a histria ignorou duramente ou recalcou o fato de pertencer classe das narrativas? (p.220): Uma das possveis respostas para tal indagao talvez seja o fato de que pertencer da classe das narrativas seria um desprestigio perante as suas cincias irms, onde a histria sendo uma narrativa, no teria a busca pela verdade, a priori, deixaria te estar no estatuto das cincias, tendo somente na busca pela verdade atravs de toda a crtica documental e metodolgica. Eric Hobsbawn (2012) em seu livro Sobre Historia apresenta o entendimento que [...] a histria se afastou da descrio e da narrativa e se voltou para a anlise e a explicao; da nfase no singular e individual, para o estabelecimento de regularidades e a generalizao. De certo modo, a abordagem tradicional foi virada de cabea para baixo. (p. 72). J, Chartier (2011) abarca algumas consideraes de Hayden White acerca da aceitao da narrativa perante a histria: Em geral h uma resistncia (reluctante) em considerar as narrativas histricas como aquilo que so verdadeiramente, quer dizer, fices verbais (verbal Fictions) cujo contedo tanto inventado quando encontrado (p.221). Ainda em White, Chartier (2011) tambm expem que as formas de resposta que fico se prope a alcanar se tornam por sua vez verdades alcanadas e carregam elementos do mundo real: Quem poderia pensar seriamente que o mito ou que a fico literria no referem ao mundo real (do not refer to the real world), dizem verdades sobre seu assunto e procuram um saber til sobre ele? (p. 221).To logo, toda escrita importante para construo do conhecimento e mito tambm transmite uma verdade sobre a existncia coletiva e prope saberes teis ao indivduo. (p. 221).

A MEMRIA NO FAZER HISTRIA

Pierre Nora (1993) em Entre memria: a problemtica dos lugares, faz diferenciao entre memria e histria, e a problematizao os lugares de memria, alm do uso da memria na escrita histrica. Neste sentido podemos apontar a verificao do que o autor aponta como jogo da memria e da histria, onde h:

[...] uma interao dos dois fatores que leva a sua sobredeterminao recproca. Inicialmente, preciso ter vontade de memria. Se o princpio dessa prioridade fosse abandonado, rapidamente derivar-se-ia de uma definio estreita, a mais rica em potencialidades, para uma definio possvel, mais malevel, susceptvel de admitir na categoria todo objeto digno de uma lembrana. Um pouco como as boas regras da crtica histrica de antigamente, que distinguiam sabiamente as fontes diretas, isto , aquelas que uma sociedade voluntariamente produziu ara serem produzidas como tal uma lei, uma obra de arte, por exemplo e a massa indefinida de fontes indiretas, isto todos os testemunhos deixados por uma poca sem duvidar de sua utilizao futura pelos historiadores. Na falta dessa inteno de memria os lugares de memria sero lugares de histria (NORA, 1993, p. 22).

Uma questo que se faz importante, a questo que o autor denomina de acelerao histrica, em que a passagem para o passado cada vez mais rpida, e o perigo do esquecimento se torna latente, logo, o registro aparece como o guardio do passado, para que o historiador no deixe o esquecimento da coletividade seja perdido:

Acelerao da histria. Para alm da metfora, preciso ter a noo do que a expresso significa: uma oscilao cada vez mais rpida de um passado definitivamente morto, a percepo global de qualquer coisa como desaparecida uma ruptura de equilbrio. O arrancar do que ainda sobrou de vivido no calor da tradio, no mutismo do costume, na repetio do ancestral, sob o impulso de um sentimento histrico profundo. A ascenso conscincia de si mesmo sob o signo de terminado, o fim de alguma coisa desde sempre comeada. Fala-se tanto de memria porque ela no existe mais (NORA, 1993, p. 07).

Porm devemos pensar que o registro tambm no pode ser tomado pelo historiador como verdade absoluta, onde o que registrado tambm deve ser questionado, devido memria e histria serem muitas vezes distintas. Uma coletividade pode guardar memrias que sejam viveis manter. A histria registro, e memria e histria esto longe de serem sinnimos segundo o autor, em que se a memria a vida, o discurso de um povo que lembra de determinados momentos; a histria a reconstruo de tudo isso, de um momento que no existe mais, Nora (1993) explica que a memria sempre um fenmeno atual: [...] um elo vivido no eterno presente; a histria, uma representao do passado. Porque afetiva e mgica, a memria no se acomoda a detalhes que a confortam; ela se alimenta de lembranas vagas, telescpicas, globais ou flutuantes, particulares ou simblicas, sensvel a todas as transferncias, cenas, censura ou projees. A histria, porque operao intelectual e laicizante, demanda anlise e discurso crtico. A memria instala a lembrana no sagrado, a histria liberta, e a torna sempre prosaica. A memria emerge de um grupo que ela une, o que quer dizer, como Halbwachs o fez, que h tantas memrias quantos grupos existem; que ela , por natureza, mltipla e desacelerada, coletiva, plural e individualizada (NORA, 1993, p.9).

Ainda, no mesmo entendimento de Nora (1993) sobre a diferena entre memria e histria: A histria, ao contrrio, pertence a todos e a ningum, o que lhe d uma vocao para o universal. A memria se enraza no concreto, no espao, no gesto, na imagem, no objeto. A histria s se liga s continuidades temporais, s evolues e s relaes das coisas. A memria um absoluto e a histria s conhece o relativo (NORA, 1993, p. 09).

A memria sempre suspeita para a histria, devido ao esquecimento planejado ou at mesmo no registrado ou perdido. Aleida Assmann (2011), em trabalho intitulado A memria com Ars e Vis; Escrita; imagem aponta a diferenciao entre a memria e a recordao, onde a autora entende que: (...) diferentemente do ato de decorar, o ato de lembrar no deliberado: ou se recorda ou no se recorda. (p.33). Segundo Nora (1993) Os lugares de memria so, antes de tudo, restos (p. 12). Estes restos so carregados de valorizao, porm carregam esquecimentos e lembranas, porm repletos de significados, de esquecimento ou lembrana de uma coletividade.Quando falamos em lugares de memria, podemos dizer so locais de histria que ainda possui fragmentos, restos de memria, ou seja, uma memria que no mais vivida, e sim que j virou passado, que j foi registrado:

Museus, arquivos, cemitrios e colees, festas, aniversrios, tratados, processo verbais, monumentos, santurios, associaes, so os marcos testemunhas de uma outra era, das iluses de eternidade,. Da o aspecto nostlgico desses empreendimentos de piedade, patticos e glaciais. So os rituais de uma sociedade sem ritual; sacralizaes passageiras numa sociedade que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os particularismos; diferenciaes efetivas numa sociedade que nivela por princpio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de grupo numa sociedade que s tende areconhecer indivduos iguais e idnticos (NORA, 1993, p. 13).

A memria tomada como histria na medida em que [...] a necessidade de memria uma necessidade da histria (p. 14), no sentido em que quando falamos em memria, de fato se constitui um dos nortes da histria para reconstruo do passado. Porm Nora (1993) apresenta a fora que os arquivos possuem: Hoje onde os historiadores se desprenderam do culto documental, toda a sociedade vive na religio conservadora e no produtivismo arquivistico. (p. 15). Neste sentido o autor apresenta a questo da memria de papel:A memria de papel da qual fala Leibniz torno-se uma instituio autnoma de museus, bibliotecas depsitos, centros de documentao, bancos de dados. Somente para os arquivos pblicos, os especialistas avaliam que a revoluo quantitativa, em algumas dcadas, traduziu-se numa multiplicao por mil (NORA, 1993, p. 15).

A pertinncia de guardar a memria de fato uma ferramenta de salvar o que pode ser perdido: medida em que desaparece a memria tradicional, ns nos sentimos obrigados a acumular religiosamente vestgios, testemunhos, documentos, imagens, discursos, sinais visveis do que foi, como se esse dossi cada vez mais prolifero devesse se tornar prova em no se sabe que tribunal da histria (NORA, 1993, p. 15).

CONSIDERAES FINAIS

Podemos concluir que a construo da escrita est atrelada at aqui a importncia de todos os campos e tipos de fontes, se as fontes oficiais tem pela maioria dos historiadores uma enorme aceitao, ele tambm pode conter silncios por quem fez tal registro, do mesmo modo que trabalhar a memria como fonte tambm exige cuidados necessrios de anlise. O campo historiogrfico possui vrias formas de percepo do real, onde quando se trabalha a construo do texto, pode-se usar qualquer tipo de escrita uma fonte, pois como Nora (1993) demonstra nas palavras de White a tambm importncia da fico no capo do fazer histria, Para White, o mesmo regime ou registro do conhecimento que une a fico e a histria. Devemos, certamente, concordar com ele no que qualquer fico produz conhecimento, diz verdade sobre o mundo social (p. 221). Neste sentido podemos perceber que a fico trabalha

Referncias Histricas

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