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ELISA AKIKO MARUYAMA NUNES AS FORMAS DE TRATAMENTO EM JAPONÊS E PORTUGUÊS NA PERSPECTIVA DA TEORIA PRAGMÁTICA DA POLIDEZ Monografia apresentada à Disciplina Orientação Monográfica II, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Letras, área de concentração Estudos Lingüísticos, Curso de Letras, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Ligia Negri CURITIBA 2008

As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

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ELISA AKIKO MARUYAMA NUNES

AS FORMAS DE TRATAMENTO EM JAPONÊS E PORTUGUÊS NA PERSPECTIVA DA TEORIA PRAGMÁTICA DA POLIDEZ

Monografia apresentada à Disciplina Orientação Monográfica II, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Letras, área de concentração Estudos Lingüísticos, Curso de Letras, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Ligia Negri

CURITIBA 2008

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Lígia Negri por todo o aprendizado, pelo voto de confiança e pelas

orientações que permitiram o direcionamento deste trabalho.

À Profa. Dra. Elena Godoi pelas valiosas contribuições na Banca de Defesa da

Monografia.

À Profa. Dra. Maria José Foltran pela observação em relação aos pronomes de

tratamento em língua portuguesa.

Aos professores do curso de Letras da Universidade Federal do Paraná por terem me

mostrado um outro universo.

Ao meu marido, Ricardo João Sonoda Nunes pelo amor, compreensão e auxílio em todos

os momentos.

Aos meus pais, pelos grandes esforços em proporcionar aos filhos um bom nível

educacional e às minhas irmãs e ao meu irmão pela confiança e apoio.

Às minhas sobrinhas e sobrinhos por me mostrarem que a alegria e a espontaneidade

devem estar presente em todos os momentos.

À minha nova família, Sonoda Nunes pelo acolhimento caloroso e a compreensão em

todos os momentos.

Aos amigos Sandra e Jorge, Ana Paula e Sérgio por terem acreditado e incentivado a

conclusão desse curso.

Aos amigos de turma ingressos em 2005 no curso de Letras Português, aos amigos que

conheci ao longo dos corredores da Universidade e aos amigos de trabalho pelo

companheirismo e apoio.

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Dedico este trabalho às minhas avós (in memorian) Ito Maruyama e Mitsuko Fukuyama, por terem me ensinado desde cedo os caminhos da polidez.

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SUMÁRIO

RESUMO .......................................................................................................................... vi

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1

1. PRAGMÁTICA .............................................................................................................. 4

1.1.1 O que é a pragmática ...................................................................................... 4

1.1.2 O campo da pragmática .................................................................................. 6

1.1.3 Objeto de estudo da pragmática ..................................................................... 7

2. REFERENCIAL TEÓRICO SOBRE A POLIDEZ .................................................................... 8

2.1 Noção de polidez ................................................................................................ 8

2.2 O princípio de Grice e os seus desdobramentos ............................................... 8

2.3 O conceito de Face de Goffman ........................................................................ 10

2.4 Teoria de Polidez de Brown e Levinson ............................................................. 11

3. FORMAS DE TRATAMENTO EM LÍNGUA JAPONESA E EM LÍNGUA PORTUGUESA .................. 16

3.1 Expressões de tratamento na língua japonesa .................................................. 16

3.1.1Formas das expressões de tratamento ........................................................... 19

3.2 Pronomes de tratamento na língua portugesa .................................................. 22

4. TRABALHOS SOBRE AS EXPRESSÕES DE TRATAMENTO EM JAPONÊS .............................. 27

4.1 O estudo de Mayumi Usami ................................................................................ 27

4.1.1 Análise dos dados de Usami............................................................................ 29

4.1.2 Conceituação dos termos utilizados em Usami .............................................. 29

4.1.3 Projeto e resultados de Usami......................................................................... 31

4.2 A análise de Yoshiko Matsumoto ....................................................................... 34

5. REPRESENTAÇÃO DAS FORMAS DE TRATAMENTO EM JAPONÊS E PORTUGUÊS ................. 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 46

ANEXOS........................................................................................................................... 49

Anexo 1 – Ensaio da Revista Veja (19/02/1992) - “Você, tu e o senhor” ....................... 50

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RESUMO O objetivo deste trabalho é estudar as expressões de tratamento em língua japonesa, enfocando também os pronomes de tratamento em língua portuguesa, através de uma perspectiva pragmático-lingüística e uma possível aplicabilidade da Teoria de Polidez de Brown e Levinson. Para alcançar essa finalidade, abordaremos o conceito de pragmática, os princípios de Grice, o conceito de Face de Goffman e a Teoria de Polidez de Brown e Levinson. Em seguida, explicaremos o que são as expressões de tratamento em língua japonesa, os conceitos existentes sobre os pronomes de tratamento no português brasileiro e os estudos realizados por Mayumi Usami e Yoshiko Matsumoto. Finalmente, efetuaremos uma representação da utilização das formas de tratamento em língua japonesa e portuguesa através da Teoria de Polidez de Brown e Levinson. Palavras-chave: Pragmática, Polidez lingüística, Face, Expressões de tratamento em língua japonesa, Pronomes de tratamento em língua portuguesa.

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INTRODUÇÃO

“Na cerimônia, que reuniu cerca de 5.000 pessoas, o príncipe Naruhito voltou a

quebrar o protocolo, como já havia feito em São Paulo, e cumprimentou o público

[grifo nosso]. O imigrante Haruo Toketomi, 89, foi um dos que receberam um aperto de

mão do príncipe. Para ele, cumprimentar o futuro imperador japonês foi ‘uma coisa

inesperada e emocionante’”. 1

Em comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa, o príncipe Naruhito,

herdeiro do trono japonês, comoveu os milhares de imigrantes e descendentes de

japoneses na visita que fez ao Brasil. O gesto de humildade do príncipe, ao cumprimentar

os pioneiros da imigração, além de emocioná-los, também os transformou em súditos

privilegiados. Para os padrões ocidentais, o aperto de mãos realizado por um chefe de

estado é uma prática comum, porém, em um país como o Japão, no qual a família

imperial é sagrada, e onde inexiste essa prática, os cumprimentos realizados por Naruhito

impressionaram todos que assistiram as comemorações.

A integração do futuro imperador do Japão com os pioneiros da imigração,

simbolizado pela quebra (por parte do príncipe) de uma conduta esperada e milenarmente

ritualizada, parece ser o reverso de um choque cultural (vivenciado nessa ocasião pelos

pioneiros da imigração) quanto à questão da polidez. Esse choque cultural repete-se

quando brasileiros interagem com os japoneses, com a diferença que a constatação que

se forma, do ponto de vista dos japoneses é, “brasileiro rude/japonês cortes” e, em

relação aos brasileiros, “japonês frio, indiferente/brasileiro cortes”.

Conforme BENEDICT (2002, p. 47):

“O Japão, com toda a sua recente ocidentalização, é ainda uma sociedade aristocrática. Cada cumprimento, cada contato deve indicar a espécie e grau de distância social entre os homens. Cada vez que um homem diz para outro “Coma” ou Sente-se”, usa palavras diferentes, conforme esteja se dirigindo familiarmente a alguém ou falando com um inferior ou superior. Existe um “você” diferente que deve ser usado em cada caso e o verbos têm radicais diferentes. Os japoneses têm, em outras palavras, o que se chama uma “linguagem de respeito”, tal qual muitos outros povos do Pacífico, acompanhada de mesuras e genuflexões apropriadas.”

Os procedimentos expostos na citação acima refletem uma sociedade governada

por regras e convenções (culturais, lingüísticas, comportamentais, sociais), forjadas

1 MASCHIO, J. Visita do príncipe Naruhito reúne 75 mil no interior do Paraná. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 de jun. 2008

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através dos séculos, em meio à forte presença de rígidos padrões hierárquicos,

devotamento filial, e diferenças de classe, sexo e idade.

Assim sendo, não é apenas necessário saber qual a expressão de tratamento2

correta a ser utilizada, mas também a quem é feita e qual o seu papel na sociedade

japonesa. Uma reverência correta para uma determinada visita pode ser considerada uma

falta de educação por outra visita, em uma mesma ocasião.

Sendo assim, é necessário saber harmonizar a reverência, formular perguntas:

quem é o falante; quem é o ouvinte? São indivíduos que pertencem a extratos sociais

diferenciados, há entre eles uma relação simétrica ou assimétrica? Certamente essas são

apenas algumas das questões que se apontam, em um cenário no qual falar, é uma forma

de conduta governada por regras sociais.

Conforme BENVENISTE (2005, p. 286), “É na linguagem e pela linguagem que o

homem se constitui como sujeito...”, e ele o faz quando se coloca como eu, em relação a

outro, colocado como tu. Na sociedade japonesa, essa capacidade de tornar-se sujeito e

desempenhar um papel, o de protagonista, acarreta uma série relações complexas entre

indivíduo-meio-visão de mundo-recorte de realidade.

A relação sui generis entre as expressões de tratamento na língua japonesa e o

seu uso ocasiona uma distensão do campo puramente lingüístico para a pragmática. No

interior do campo da pragmática da linguagem, a Teoria de Polidez de Brown e Levinson

(1987) parece explicar as diversas estratégias de utilização dessas expressões de

tratamento.

O objetivo principal desta monografia é realizar, através de uma perspectiva

lingüístico-pragmática, uma análise da Teoria de Polidez de Brown e Levinson e sua

possível aplicabilidade nas utilizações das expressões de tratamento da língua japonesa,

enfocando também a relação com os pronomes de tratamento na língua portuguesa.

Devido às distinções efetuadas acima, acreditamos que esse contraponto entre as línguas

evidenciará as diferenças e permitirá novas compreensões.

Como objetivos específicos, há a intenção em contribuir para o desenvolvimento

dos estudos sobre as expressões de tratamento da língua japonesa a partir de um

2 Doravante utilizaremos o termo “expressões de tratamento”, essa expressão foi consagrada por Tae Suzuki no livro: “As expressões de tratamento da língua japonesa”.

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enfoque pragmático; analisar os estudos feitos por Mayumi Usami3 em relação às

expressões de tratamento da língua japonesa e a conexão destes com os estudos de

Brown e Levinson; verificar o posicionamento de Yoshiko Matsumoto4 frente à questão;

auxiliar os estudantes brasileiros a compreenderem as formas de utilização das

expressões de tratamento; e, em certa medida, ao apresentarmos os pronomes de

tratamento da língua portuguesa, auxiliar os estudantes japoneses que estudam a língua

portuguesa e vice-versa.

A questão que se coloca, portanto, é a seguinte: na oralidade a escolha na

utilização de uma expressão de tratamento na língua japonesa está relacionada, não aos

fatores sócio-culturais (que pré-determinam a escolha) e normatizadas na norma padrão,

mas a uma escolha regulada pelo falante. A hipótese inicial é a de que o falante tem

várias possibilidades de veicular na fala as suas intenções, marcando o tipo de relação

existente, mesmo em uma sociedade tão regulada por valores de deferência e hierarquia

como a japonesa.

O presente trabalho divide-se em cinco capítulos: no primeiro, encontra-se a

caracterização da pragmática para a lingüística, bem como quais são os campos de

estudo e objetivos da pragmática; no segundo capítulo serão expostas noções sobre a

polidez, a Teoria de Grice e seus desdobramentos, o conceito de “Face” formulado por

Goffman, e por fim, a Teoria de Polidez de Brown e Levinson; o terceiro capítulo irá

apresentar as expressões de tratamento em língua japonesa e os pronomes de

tratamento na língua portuguesa; o quarto capítulo tem como objetivo expor o trabalho

realizado pela professora Mayumi Usami no livro “Discourse Politeness in Japanese

Conversation” e apresentar os resultados obtidos; bem como, a análise de Yoshiko

Matsumoto no artigo intitulado “Reexamination of the universality of Face: Politeness

Phenomena in Japanese”; no quinto capítulo será apresentada a comparação da

representação das formas de tratamento em língua japonesa e língua portuguesa; e, por

último, nas considerações haverá uma descrição dos resultados obtidos, assim como

novas propostas para estudos futuros.

3 Mayumi Usami é professora da “Tokyo University of Foreign Studies”. 4 Yoshiko Matsumoto é professora da “Stanford University, Department of Asian Languages”.

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1. Pragmática

1.1.1 O que é a Pragmática

Atualmente, a maior parte dos fenômenos lingüísticos denominados como

“pragmáticos” há algumas décadas, eram pouco conhecidos para a imensa maioria dos

lingüistas. Os estudos pragmáticos, à medida que se desenvolviam, revelaram novos

aspectos, por vezes insuspeitados, da comunicação humana e da significação lingüística.

Para BORGES NETO (2004, p. 32), “Ao escolher o objetivo fazer ciência, a

lingüística propõe de fato um modo de construir seu objeto, a linguagem”. A partir dessa

nova orientação do objetivo, que procura se estabelecer no final do século XIX e início do

século XX, há uma reorientação dos objetivos históricos relacionados à lingüística,

anteriormente influenciados pelos objetivos: fazer filosofia, ou, fazer crítica literária.

É nesse contexto que se estabelecem as descrições lingüísticas, inicialmente

limitadas à distinção saussuriana entre língua (“langue”) e fala (“parole”). Os estudos da

fonética e da morfologia foram progressivamente se recentralizando em torno da sintaxe,

consolidando as disciplinas que tratavam de níveis formais do objeto teórico,

consolidando um centro em relação ao objeto teórico. Segundo NEGRI (2006), a

semântica possuía lugar garantido e definido nessa arquitetura, devido à tradição

filosófica dispensada à significação, fosse de uma perspectiva aristotélica, ou

posteriormente, com os trabalhos como os de Frege.

Porém, verificou-se rapidamente que um tratamento satisfatório de numerosos

dados semânticos e sintáticos dependia, de modo crucial, de fatores situacionais e

subjetivos que não estavam inseridos no interior da semântica, tampouco na sintaxe.

Assim sendo, tudo o que dizia respeito à significação, mas de difícil formalização foram

postos de lado e colocados no que ficou então conhecido como a pragmática, conforme

NEGRI (2006, p. 8), “... a lata de lixo da lingüística (expressão cunhada por Bar-Hillel,

1971)”.

Segundo o Dicionário de Linguagem e Lingüística5, a pragmática é “O ramo da

lingüística que estuda como os enunciados comunicam significados num contexto”.

Devido à abrangência dessa definição, apontaremos abaixo as definições propostas pelos

estudiosos da lingüística.

5 TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e lingüística. Tradução Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004. p. 232.

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Para NEGRI (2006), a concepção moderna sobre a pragmática fundamenta-se na

proposta formulada por MORRIS6 , na qual essa divisão é apresentada em relação à

sintaxe e a semântica. Esses três ramos de caracterização, sintaxe (estudo da relação

formal entre os signos), semântica (estudo da relação entre os signos e objetos a que

estes signos são aplicados) e pragmática (estudo da relação entre os signos e intérpretes)

são mencionados pelos lingüistas sempre que se almeja uma delimitação da pragmática.

Em “Pragmática”, STALNAKER (1972) delineia a pragmática iniciando-se pela

apresentação da semântica, pois apenas a partir da delimitação da fronteira entre esses

dois campos, seria possível demarcar a pragmática. Para o autor, os problemas centrais

da semântica relacionam-se com a definição de verdade, ou condições de verdade, para

sentenças de certas línguas. Sendo as as condições de verdade representadas/expressas

pelas proposições, o autor considera a semântica como o estudo das proposições.

Definido o campo da semântica, afirma que a pragmática é o estudo dos atos lingüísticos

e dos contextos nos quais eles são executados.

NEGRI (2006) expõe que nesse artigo, Stalnaker relaciona à pragmática e à

semântica funções de interpretação: à primeira, caberia relacionar proposições e

contextos, à segunda, conduzir mundos possíveis a valores de verdade. Assim sendo,

“.... à pragmática têm sido legadas questões relacionadas à intencionalidade do falante

(aqui intencionalidade com c), à significação relacionada às instâncias enunciativas e

relações contexto culturais” (Op. cit., p. 11).

Conforme LEVINSON (1983), a distinção tripartite de MORRIS traz a

possibilidade de se contrapor um estudo “puro” da linguagem (sintaxe e semântica) de um

estudo “descritivo” (pragmática). A pragmática abrangeria o estudo dos usos dos signos

pelo usuário.

PINTO (2006), mesmo admitindo a diversidade presente nos estudos atuais

relativos à pragmática, admite que há certos pressupostos em comum. Com o intuito de

ratificar essa afirmação, cita que Haberland e Mey, na primeira edição do “Journal of

Pragmatics”, afirmam que a pragmática analisa, em uma via, o uso concreto da linguagem

na prática lingüística, e em outra, estuda as condições que governam esse uso. Assim, a

6 MORRIS, C. Signs, language and behaviour, 1933, trad. italiana Silvio Ceccato, Segni, Linguaggio, Comportamento. Milão: Longanesi, 1963.

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pragmática pode ser apontada como a ciência do uso lingüístico, levando em conta

também a fala, em interação com a produção social.

1.1.2 O campo da pragmática

No artigo “Os caminhos da Pragmática no Brasil”7, Kanavillil Rajagopalan aponta

que a grande dificuldade para averiguar como andam as pesquisas relativas à pragmática

no Brasil deve-se principalmente à dificuldade em definir o que é a pragmática. Ou seja, a

indefinição quanto à demarcação da linha fronteiriça entre os domínios da semântica e da

pragmática, dificultam a análise. Não obstante, o autor expõe que o crescente número de

estudos relacionados à pragmática e a variedade de assuntos provam que a pragmática

mantém vínculos com muitas outras disciplinas, como análise do discurso, análise

conversacional, lingüística de texto, sociolingüística, lingüística aplicada, e, nesse sentido,

a pragmática poderá vir a ser um meio para estabelecer diálogos frutíferos com as

disciplinas conexas.

Essas possibilidades de inter-relação parecem estar relacionadas ao fato de a

pragmática ser uma área genericamente definida por pesquisar sobre o uso lingüístico,

aumentando assim, a abrangência dos temas para análise.

Por sua vez, CHOMSKY (2002, p. 233), afirma: “É possível que a linguagem

natural tenha apenas sintaxe e pragmática; ela tem uma “semântica” apenas no sentido

do “estudo de como este instrumento, cuja estrutura formal e cujas potencialidades de

expressão estão sujeitas à investigação sintática, é, de fato colocado em uso em uma

comunidade de discurso””. A capacidade de falar e comunicar na linguagem natural

estaria relacionada a conexões entre computações internalistas e sistemas de

desempenhos, associados com diversas informações e crenças em formas particulares.

Partindo das perspectivas expostas acima, observamos que existe uma grande

discussão a respeito dos limites e conexões entre os campos de estudo. Esse debate

também está presente não apenas nas delimitações, mas no interior da própria

pragmática, conforme VERSCHUEREN8, apud VICENZI (2006), a pragmática deve ser

entendida como uma perspectiva de análise de qualquer um dos níveis da linguagem no

interior da lingüística, e não como um integrante da lingüística (do mesmo modo que a

7 Artigo web, disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php> Acesso em 13 out. 2008. 8 VERSCHUEREN, J. Para entender la pragmática. Madri: Gredos, 2002.

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sintaxe, a semântica, a fonética, entre outras). Dessa forma, a pragmática engloba e

ultrapassa a própria lingüística, utlizando-se de outras áreas de estudo, como a

sociologia, antropologia, psicologia, com o intuito de aumentar o campo de estudo.

As publicações relativas aos estudos da pragmática, segundo PINTO (2006), são

amplas e variadas, em uma tentativa de delimitar as diferentes correntes de estudos,

define que são três: O pragmatismo americano, influenciado pelos estudos semiológicos

de Wiliam James; os estudos de atos de fala de Austin; e os estudos de comunicação,

voltados para as relações sociais, de classe, gênero, de raça e de cultura.

1.1.3 Objeto de estudo da Pragmática

Em geral, os pesquisadores que lutam pelo pluralismo na lingüística concordam

sobre a possibilidade de convivência pacífica e harmoniosa entre abordagens diferentes.

BORGES NETO (2004, p. 69) defende a tese de complementaridade entre as diferentes

abordagens da seguinte forma: "Dado o grande número de relações que a linguagem

mantém, não temos condições de decidir por onde é que vamos começar a abordá-la.

Toda abordagem proposta vai sempre parecer parcial e arbitrária. A palavra de ordem

aqui é escolher. E escolher implica em deixar algo de fora". Nesse sentido, uma

abordagem pragmática é uma escolha, uma concepção de fazer ciência que edifica um

objeto teórico no qual se exprime o sentimento de que a linguagem comporta aspectos

que não podem ser descritos satisfatoriamente na ausência da interação entre

falante/ouvinte e das condições de sua utilização.

Searle define que “do lado do falante, dizer e querer significar alguma coisa está

estreitamente ligado como a intenção de produzir certos efeitos no ouvinte. Do lado do

ouvinte, entender a enunciação do falante está fortemente ligado ao reconhecimento das

suas intenções” (1981, p. 66). Para o autor, as intenções do falante serão compreendidas

pelo ouvinte se este entender as regras que comandam os elementos da enunciação e a

significação da frase.

Em uma perspectiva pragmática, o entendimento dessas regras está interligada

intrinsecamente à expressão lingüística, e resulta da interação entre essa expressão e o

contexto. Nesse sentido, a pragmática estuda a linguagem em uso, toda vez que há uma

alteração no contexto, também muda o que é comunicado. Existe dessa forma, uma

relação variável entre o que se diz e aquilo que se comunica, dependendo do contexto.

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2. Referencial teórico sobre a polidez na pragmática

2.1 A noção de Polidez

Na Idade Média, a polidez referia-se ao padrão de “bom comportamento” adotado

pela nobreza. Para ELIAS (1994), a autoconsciência e o comportamento socialmente

aceitáveis apareceram em francês como courtoisie, em inglês como courtesy, em italiano

como cortezia, e todos esses conceitos referiam-se diretamente a um lugar na sociedade

e distinguia, através de códigos específicos de comportamento, desde os círculos

cortesãos que gravitavam em torno dos grandes senhores feudais aos estratos mais

amplos. Segundo o autor, durante a Renascença, todas as questões relacionadas ao

comportamento assumiram um novo caráter e a exigência de bons modos uma outra

importância. Vagarosamente, em conjunto com as novas relações de poder há também

um acréscimo em relação ao grau de consideração esperado dos demais, e o senso entre

o que fazer e o que não pode ser feito, torna-se muito mais sutil.

A polidez era, dessa forma, fundamental para a criação e a manutenção de uma

estrutura social hierarquizada e elitista, criando um indivíduo polido e agradável, fato que

contrastava com as outras classes da sociedade, que conseqüentemente eram vistas

como rudes e mal educadas.

Em português, o termo polidez está associado a noções como cortesia, civilidade,

atenção; ou associado a noções de limpeza, uma superfície lisa, lustrosa, envernizada.

Independentemente dessa rede de conexões semânticas, a polidez deve ser entendida

como algo que evoluiu e foi construída historicamente. A existência de especificidades ou

de regularidades em relação à polidez será dependente de cada sociedade, e não pode

ser compreendida sem um contexto e a inserção em um grupo. Ao mencionarmos o

contexto e o grupo, salientamos que este está relacionado aos fatores socioculturais,

históricos e mentais e aquele aos socioculturais, mentais e físicos.

2.2 O princípio de cooperação de Grice e os seus desdobramentos

Segundo GRICE (1982), a linguagem natural permite o surgimento de conteúdos

que não estão convencionalmente ligados aos enunciados, mas são deduzidos pelos

participantes, as implicaturas conversacionais. Através delas, Grice tenta explicar frases

nas quais o locutor parece querer dizer mais do que realmente diz. Partindo desse ponto

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de vista e da convicção de que a finalidade da linguagem é a comunicação, postulou um

Princípio de Cooperação, “Faça sua contribuição conversacional tal como é requerida, no

momento em que ocorre, pelo propósito ou direção do intercâmbio conversacional em que

você está engajado.” (GRICE, 1982, p. 86). Esse Princípio tem um papel altamente

explicativo, capaz de manter o equilíbrio social que nos permite presumir que os nossos

interlocutores estão sendo cooperativos. As máximas relacionadas ao Princípio de

Cooperação, formuladas por Grice, são:

Máxima de Quantidade: a) Faça com que sua contribuição seja tão informativa

quanto requerida; b) Não faça sua contribuição mais informativa do que é

requerido.

Máxima de Qualidade: a)Tente informar sempre a verdade - não diga o que

acredita ser falso; não diga senão aquilo que você possa fornecer evidência

adequada.

Máxima de Relevância: Seja relevante.

Máxima de Modo: a) Seja claro - evite expressões obscuras; evite a

ambigüidade; seja breve; seja organizado.

Grice sugere que além das máximas acima, existem outras, tais como: “seja

polido”. Foi exatamente essa sugestão que levou outros lingüistas como Robin Lakoff a

formular o que não foi determinado por Grice.

Segundo MEIRELES (1999, p. 51), em 1.973 Lakoff9 sugere que duas regras de

comportamento pragmático, denominadas Regras de Competência Pragmática, têm

precedência sobre as Máximas de Conversação de Grice. Uma delas é “Seja claro” e a

outra “Seja e ducado”. Quando houver um conflito entre as duas regras, a preferência por

uma, ou por outra, dependerá das intenções do falante. Caso essa intenção seja apenas

transmitir a informação, a escolha será pela primeira, por outro lado, se a manutenção das

relações sociais for o objetivo, o falante tenderá a sacrificar a clareza em favor da

educação.

Dessa forma a autora, formula as “Regras de Polidez”: Não imponha; Dê opções;

Faça com que “A” sinta-se bem – seja amável. Antecipando-se a uma possível crítica

relativa aos diferentes padrões de polidez nas culturas, e até mesmo no interior de uma

9 LAKOFF, R. “The logic of Politeness: or; minding your P’s nd Q’s. In: Papers fromm the 9th Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society, p. 292-305. Chicago: Chicago Linguistic Society, 1973.

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mesma cultura, reafirma que no caso de divergências de concepção de polidez entre duas

culturas, existe a manutenção das regras, porém ocorre uma diferença na ordem de

preferências, enquanto algumas culturas utilizam como estratégia padrão de cortesia ou

distanciamento, outras preferem a aproximação (Op. cit.,1999, p. 53).

2.3 O conceito de Face de Goffman

Erving Goffman em 1967, no livro “Interaction rituals”, apresenta a sua idéia de

Face, a partir da expressão inglesa “to lose Face”. Para o autor, as pessoas relacionam-

se e, nesse processo, ao mesmo tempo em que respeitam a auto-imagem dos outros,

esperam que os seus interlocutores respeitem as suas.

Assim como existe a proteção da Face, durante a interação, segundo GOFFMAN10,

apud MEIRELES (1999, p. 56), existe a possibilidade de o falante atacar as Faces do

interlocutor e fortalecer, dessa forma, a sua própria Face, tal comportamento é

denominado como “uso agressivo de Trabalho da Face”. Como técnica de trabalho da

Face, cita os processos evasivos, uma forma de evitar as situações constrangedoras, e os

processos corretivos, uma maneira de compensar o dano causado à Face utilizando

comportamentos ritualísticos (Op. cit., p. 56). Esses processos serão posteriormente

ampliados e detalhados por Penélope Brown e Sthephen Levinson a partir de 197811.

Erwing Goffman já havia realizado um estudo12, em 1959, no qual utiliza a metáfora

da ação teatral como base, tratando do comportamento humano em uma situação social e

do modo como aparecemos aos outros.

“A sociedade está organizada tendo por base o princípio de que qualquer indivíduo que

possua certas características sociais tem o direito moral de esperar que os outros o

valorizem e o tratem de maneira adequada”. (GOFFMAN, 2007, p. 21).

Assim sendo, quando um indivíduo pretende, implícita ou explicitamente, projetar

uma definição da situação, automaticamente exerce uma exigência moral, obrigando as

10 GOFFMAN, E. Interaktionsrituale: Über Verhalten in direkter Kommunikation. Frankfurt: A.M. Suhrkamp, 1986. 11 BROWN, P.; LEVINSON, S. “Universals in language usage: politeness phenomena”. In: GODOY, E. N. (Org.): Questions and politeness – Strategies in social interaction. Cambridge: Cambridge University Press, 1978. 12 GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Trad. Maria Célia Santos Raposo. 14. ed.RJ: Vozes, 200

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pessoas a valorizá-lo. Conjugada a isso, há também uma renúncia a toda pretensão de

ser o que não aparenta ser. Os outros entendem, então, que o indivíduo é realmente o

que ele aparenta ser. O autor cria também o conceito de práticas preventivas (utilizadas

para evitar embaraços) e práticas corretivas (empregadas para evitar as práticas

desabonadoras). Associado ao emprego dessas estratégias para proteger suas próprias

ações, o autor cria o termo práticas defensivas e quando empregadas para salvaguardar

a definição da situação projetada por outro, denomina de práticas protetoras ou

diplomacia (Op. cit., p. 22). Em síntese, a utilização dessas práticas em conjunto são

maneiras do indivíduo salvaguardar uma auto-imagem diante de outros.

2.4 Teoria de Polidez de Brown e Levinson

Os pesquisadores Penélope Brown e Stephen Levinson formulam sua Teoria de

Polidez, a partir da noção de Face, elaborada por Gofman. Para os autores, em nosso

dia-a-dia elaboramos mensagens com o intuito de proteger a Face e, nesse contexto, a

polidez seria a expressão do desejo do falante em suavizar as ameaças à Face,

ocasionadas por certos atos ameaçadores da Face (FTAs)13 em direção ao seu ouvinte

(BROWN e LEVINSON, 1987, p. 61). Assim, a polidez consiste basicamente na tentativa

de salvar a Face do outro.

Brown e Levinson utilizam a idéia de “pessoas modelo” (MP), indivíduos racionais

que pensam estrategicamente, são conscientes de suas escolhas lingüísticas e dotados

de Face negativa e positiva:

- A Face negativa é a necessidade de cada “membro adulto competente” de que

suas ações não sejam impedidas pelo demais, o desejo de auto-afirmação, de não querer

receber imposições, ter liberdade de ação.

- A Face positiva é a necessidade de cada membro do grupo de que suas

necessidades sejam desejáveis ao menos para alguns outros, o desejo de ser aprovado,

aceito, apreciado pelo(s) parceiro(s) da atividade comunicativa.

Para os autores há atos que são intrinsecamente ameaçadores à Face,

chamados atos de ameaça à Face (FTAs). Os autores distinguem quatro categorias de

atos de ameaça à Face:

13 Em inglês “FaceThreatening Acts”– FTAs).

Page 18: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

12

1) atos que ameaçam a Face positiva do ouvinte: desaprovação, críticas, insultos,

acusações;

2) atos que ameaçam a Face negativa do ouvinte: pedidos, ordens, sugestões, conselhos,

avisos;

3) atos que ameaçam a Face positiva do falante: pedidos de desculpa, aceitação de

elogio, humilhação, confissão, extravasar emoções (perda de controle);

4) atos que ameaçam a Face negativa do falante: aceitação de ofertas e de

agradecimentos.

Brown e Levinson alegam que a escolha de estratégia de polidez depende do peso

do FTA, que é determinado por três fatores:

1) o poder do ouvinte sobre o falante (P);

2) a distância social entre o ouvinte e o falante (D);

3) o ranking do grau de imposição do ato (R).

Quanto mais peso os FTAs tiverem, mais mitigadas as estratégias devem ser. Os

autores representam a relação entre as variáveis que podem ser usadas para calcular o

grau de um FTA conforme abaixo (BROWN e LEVINSON, 1987:76):

Wx: O peso do FTA x

D (F, O): A distância social entre Falante e Ouvinte

P (O, F): O Poder do Ouvinte sobre o Falante

Rx: O grau no qual o FTA x é classificado como imposição naquela cultura.

A fórmula de Brown e Levinson considera que “a função que determina um valor

para Wx na base dos três parâmetros sociais faz isso numa base aditiva (“summative”) e

a função deve compreender o fato de que todas as três dimensões P, D e R contribuem à

seriedade de um FTA, e deste modo determinam o nível de polidez com o qual um FTA

será comunicado” (BROWN e LEVINSON, 1987, p. 76).

Enfatizam que P, D e R são dimensões pan-culturais muito genéricas, apesar de

admitir que essas variáveis provavelmente possuem correlação. Assim, o principal

objetivo não é especificar quais fatores são compostos para calcular esses parâmetros

complexos, porque tais fatores são certamente específicos de uma cultura, mas mostrar o

mecanismo básico para selecionar uma expressão lingüística (Op. cit., 1987, p. 76).

Page 19: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

13

Mais especificamente, eles assim descrevem esses fatores: D é uma dimensão

social simétrica de similaridade⁄diferença dentro da qual falante e ouvinte significam os

propósitos deste ato; P é uma dimensão social assimétrica de poder relativo, isto é P (O,

F) é o grau para o qual o ouvinte pode impor seus próprios planos e sua própria auto

avaliação (Face) às custas dos planos e da auto avaliação do falante; e, R é um ranking

de classificação de imposições definidas cultural e situacionalmente pelo grau no qual são

considerados interferentes os desejos de auto determinação ou de aprovação do agente

(seus desejos nas Faces positiva e negativa). (Op. cit., 1987, p. 75-77.).

Na estrutura de Brown e Levinson, a “polidez lingüística” é considerada como o

complexo de estratégias racionais e voluntárias disponíveis a um falante para expressar

um FTA, conforme BROWN e LEVINSON, 1987, p. 68:

1. diretamente, sem ação de retificação

diretamente (on record) 2. polidez positiva

Faça o FTA Com ação de retificação

3. polidez negativa

4. Implicitamente (off record)

5. Não Faça o FTA

O esquema pode ser entendido da seguinte forma: caso o falante opte por fazer o

FTA, pode escolher fazer diretamente (1, 2, 3), implicitamente (4), ou não fazer (5).

A primeira opção, em que o falante opta por fazer o ato diretamente, envolve 3

possibilidades: (1) é a estratégia direta, sem retificação, não há tentativa de minimizar a

ameaça à Face do ouvinte. Normalmente, um FTA é realizado dessa forma no caso em

que o falante e o ouvinte concordam tacitamente que a urgência/necessidade do caso

dispensa as ações retificadoras; quando o perigo à Face do ouvinte é muito pequeno,

como em ofertas, pedidos, sugestões; quando o poder (P) do falante é muito maior em

relação ao ouvinte, ou pode conseguir suporte suficiente da audiência para destruir a

Face do ouvinte sem perder a sua.

A segunda possibilidade é a polidez positiva (2), orientada para a Face positiva do

ouvinte, baseada na aproximação entre os participantes. A ameaça potencial à Face é

Page 20: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

14

minimizada pela segurança de que, geralmente o falante considera-o como igual a ele, ou

que o aprecia, dessa forma, o FTA não significa uma avaliação negativa da Face do

ouvinte. Agindo dessa forma, o falante diminui a ameaça à Face do ouvinte, assegurando

que partilha das necessidades do ouvinte.

A terceira possibilidade é a polidez negativa (3), orientada principalmente para

satisfazer parcialmente a Face negativa do ouvinte, seu desejo básico de manutenção

das reivindicações de território e autodeterminação. É baseada essencialmente na

manutenção de distanciamento, e a realização de suas estratégias consiste em

afirmações de que o falante reconhece e respeita as necessidades da Face negativa do

ouvinte. A utilização dessa estratégia demonstra respeito e deferência; evita que o falante

incorra em débitos, mantém distância social e evita excessiva familiaridade.

Uma segunda opção é a não explícita/não oficial, feita implicitamente (off record)

item (4) no quadro acima. Nesse caso, há mais de uma intenção atribuível, assim, um

pedido poderá ser realizado como uma sugestão, ou insinuação, dessa forma, não se

pode atribuir ao falante o comprometimento com uma intenção específica. Realizações do

tipo 4 incluem metáforas e ironia, perguntas retóricas, atenuações, tautologias. O uso

desta estratégia garante ao falante crédito por seu tato e disposição de não coerção,

também evita a uma interpretação única, que pode ser danosa à Face.

E, finalmente, não efetuar determinada ação, item (5), utiliza-se essa opção

quando o falante verifica que o ato ameaçaria gravemente o ouvinte, como por exemplo,

insultos e críticas.

As estratégias de polidez positiva são definidas como qualquer esforço para

suprir os desejos da Face positiva. Brown e Levinson criam 15 super-estratégias e várias

sub-estratégias. As 15 super-estratégias são:

1) perceber, atender o ouvinte (tais como seus interesses e necessidades);

2) exagerar (Interesse, aprovação, etc.);

3) intensificar interesse para o ouvinte;

4) usar marcadores de identidade dentro do grupo;

5) procurar acordo;

6) evitar desacordo;

7) pressupor⁄levantar⁄afirmar uma base comum;

8) fazer piadas;

Page 21: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

15

9) afirmar ou pressupor o conhecimento do falante e preocupação com as necessidades

do ouvinte;

10) fazer promessas;

11) ser otimista;

12) incluir tanto o ouvinte quanto o falante na atividade;

13) dar (ou pedir) razões;

14) assumir ou afirmar reciprocidade ;

15) suprir os desejos do ouvinte para algum X.

Similarmente, as estratégias de polidez negativa são definidas como qualquer

esforço para suprir os desejos da Face negativa. As 10 super estratégias são:

1) ser convencionalmente indireto;

2) perguntar, precaver-se;

3) ser pessimista;

4) minimizar a imposição Rx;

5) ser deferente;

6) pedir desculpas;

7) impessoalizar ouvinte e falante;

8) mencionar o FTA como regra geral;

9) nominalizar;

10) ir diretamente como incorrendo uma dívida, ou não endividando o ouvinte.

Segundo Brown e Levinson, cabe ao falante selecionar a estratégia mais

adequada às suas finalidades, levando em conta as variáveis sociológicas, o contexto e a

situação de comunicação.

Page 22: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

16

3. Formas de tratamento em língua japonesa e em língua portuguesa

3.1 Expressões de tratamento na língua japonesa

Ao longo da história do Japão, as expressões de tratamento evoluíram assim

como a sociedade japonesa apresentava algumas transformações. Segundo SUZUKI

(1995), não existe uma descrição precisa do surgimento dessas expressões na língua

japonesa, embora já houvesse no século III d.c, distinção de classes, respeito aos

superiores, que poderiam sugerir a existência de expressões lingüísticas de tratamento,

não confirmada devido à inexistência da escrita, uma vez que a grafia foi assimilada da

China por volta do século IV d.c.. Conforme a autora, as expressões de tratamento podem

ser confirmadas apenas a partir do século VII d.c, devido às inscrições encontradas em

duas imagens de Buda na cidade de Nara.

As primeiras obras escritas em japonês e que registram as expressões de

tratamento, datam do século VIII. A obra que mais consegue expressá-los é a coletânea

poética Man’yoshu, compilada provavelmente por volta de 760 do século anterior. Para

WAKISAKA (1992), além de ser a vereda do poema clássico japonês, Man’yoshu

contribuiu para a implantação da ideologia de divinização dos imperadores japoneses e a

distinção entre as classes, ou seja, a noção de veneração a pessoas elevadas em

oposição ao desprestígio das classes baixas, levando ao emprego das expressões de

respeito, ou de modéstia.

O desembarque dos primeiros portugueses em terras japonesas teria ocorrido em

1.543, conforme KUNIYOSHI14, citada por KUNIYOSHI (1998, p. 31). Segundo a autora,

existe uma incerteza em relação à data da chegada, mas o que se sabe é que o comércio

entre os mercadores foi praticado livremente até por volta de 1.550, período em que a

Coroa Portuguesa instituiu o monopólio da Viagem ao Japão. Kuniyoshi relata que entre

1.543 a 1.639, um ano antes do fechamento dos portos e do início do isolamento do

Japão, os lusitanos enriqueceram no próspero comércio com o Japão.

14 KUNIYOSHI, C. “Descoberta” da América e “redescoberta” do Japão: o “outro” como sentido de si-mesmo. Comunicação apresentada ao Congresso América 92: Raízes e Trajetórias. São Paulo, 1992.

Page 23: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

17

Durante o período relatado acima, segundo SUZUKI (1995, p. 61-64), o jesuíta

português João Rodriguez editou o primeiro estudo sistemático em língua portuguesa

sobre o tratamento da língua japonesa. Com o intuito de propagar a fé cristã, Rodriguez

analisou a língua falada, e formulou considerações fundamentais. Listou as partículas e

os verbos de tratamento segundo o grau de honra, ressaltou a importância da situação de

discurso, a noção de interioridade/exterioridade. Para SUZUKI (1995), “Rodriguez aponta

para os três elementos essenciais para sua realização (quem fala, para quem e de quem

se fala)”.

Na língua japonesa, a palavra “keigo” refere-se ao que diz respeito às palavras de

cortesia e ao tratamento. O Dicionário Universal Japonês-Português15 traz “keigo” como:

O termo (Palavra) honorífico; a linguagem (o termo) cortês/de respeito.

No presente trabalho, para nos referirmos ao “keigo”, doravante utilizaremos o

termo - expressões de tratamento - formulado por Tae Suzuki16. Para a autora, essas

expressões operam em níveis diferentes, no discurso japonês:

• Tratamento do enunciado: Expressões de respeito, em japonês “sonkeigo”,17 –

Formas lingüísticas atribuídas pelo falante a um ouvinte hierarquicamente superior

em um dado contexto de situação, através de sua pessoa, de pessoas ou objetos a

ele referentes;

• Tratamento do enunciado: Expressões de modéstia (em japonês “kenjogo”)18 –

Formas lingüísticas atribuídas pelo falante a um ouvinte hierarquicamente superior

em um dado contexto da situação. Também através de sua pessoa, ou objetos a

ele referentes. Ressalva-se que entre as expressões de modéstia existem

situações na qual o falante emprega como marca de modéstia ou humildade sua,

independentemente de qualquer relação hierárquica;

• Tratamento da enunciação: Expressões de polidez (em japonês “teineigo”)19 –

Formas lingüísticas empregadas pelo falante, expressando a maneira polida de

15 COELHO, J.; HIDA, Y. Shogakukan Dicionário Universal Japonês-Português. Tókio: Shogakukan, 1998, p. 569. 16 SUZUKI, T. As expressões de tratamento da língua japonesa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995, p. 12. 17 “sonkeigo” é traduzido no Dicionário Universal Japonês-Português como: O termo cortês [de cortesia/de respeito]. 18 “kenjogo” é traduzido no Dicionário Universal Japonês-Português como: A palavra [expressão] cortês. 19 “teineigo” é traduzido no Dicionário Universal Japonês-Português como: A palavra [expressão] cortês.

Page 24: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

18

transmitir a palavra ao ouvinte. Não implica em si, nenhuma relação de forças entre

as pessoas do discurso.

Para SUZUKI (1995), as expressões denominadas de respeito e de modéstia, nada

mais são do que formas diferentes de expressar uma mesma deferência para alguém que

o falante considera superior ou inferior, a si, ou a uma outra pessoa, em um dado

contexto. Dessa forma, a autora afirma que existem apenas o tratamento do enunciado,

que estabelece e determina a distância que o falante acredita existir entre as pessoas do

enunciado (após verificar os fatores extralingüísticos), e o tratamento da enunciação, que

remete à vontade do falante em se endereçar polidamente, independente da existência,

ou não, de relação de forças.

Os fatores extralingüísticos mais relevantes no uso das expressões de tratamento

em língua japonesa, segundo Suzuki, são os seguintes:

1) Sexo: As expressões de tratamento são normalmente, iguais para ambos os sexos,

mas há formas reservadas aos homens, basicamente, um linguajar mais rude e

“masculino” (que podem denotar mais intimidade) para os homens e outro mais

polido e “feminino” para as mulheres. Assim, quando estudantes estão

conversando, normalmente a mulher utiliza a norma padrão, diria por exemplo

“watashi” (pronome pessoal de 1° pessoa e significa eu), por outro lado, o homem

utiliza “ore”, “boku” que também são pronomes pessoais de 1° pessoa e possuem o

mesmo significado que “watashi”.

2) Status: Diferenças hierárquicas estabelecem que os inferiores na escala social

devem utilizar expressões de modéstia para si e de respeito para o outro. Por

exemplo, em uma empresa, um gerente e seu subordinado conversam sobre a

família, nessa situação, o subordinado ao referir-se ao pai do gerente vai

perguntar: “Otoosan-wa ogenki desu-ka (O senhor seu pai está bem?), porém ao

falar sobre o seu pai, utiliza: “Chichi-wa genki desu” (O meu pai está bem).

3) Idade: Os mais jovens são considerados inferiores às pessoas mais idosas; é

norma o mais jovem dirigir-se mais respeitosamente ao mais velho. Em uma

biblioteca a pessoa mais jovem pergunta ao mais idoso o seguinte: “xxsan-wa

haikai-wo kakaremasu-ka” (O senhor escreve haikai?), caso a mesma pergunta

fosse feita pela pessoa mais idosa: “Haikai-wo kakimasu-ka” (Escreve haikai?).

Page 25: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

19

4) Anterioridade no tempo: As pessoas antigas em um determinado espaço devem

ser mais consideradas do que as novatas. Considere-se um exemplo: na escola,

esse universo costuma ser transportado para fora, é comum tratarem-se por

sempai “veterano” e kohai “calouro”, mesmo depois de formados, ainda que o

“calouro” exerça uma ocupação considerada superior em termos socioculturais.

5) Exterioridade/interioridade: Há uma oposição bem demarcada entre o universo

pessoal do eu (interior) e o universo pessoal do outro (exterior). O universo pessoal

refere-se não apenas a pessoa em si, mas a tudo o que diz respeito a ela, desde

bens materiais e imateriais até pessoas (parentes, amigos, entre outros). Assim,

quando a pessoa coloca-se diante de seus amigos e familiares trata-os com as

devidas considerações, porém, diante de terceiros, deve referir-se a eles utilizando

expressões de modéstia. Assim, ao falar de sua própria mãe em ambiente externo

o falante utiliza a expressão “Haha” (mãe), em casa pode utilizar expressões

variadas como “okaasan”, “mama”, entre outras. Ao referir-se a mãe de outras

pessoas em um ambiente externo, utiliza sempre a expressão “okaasan”.

SUZUKI (1995) ressalva que a utilização das expressões de tratamento não se dá

de modo absoluto e constante, e freqüentemente, um mesmo contexto de situação

comporta diferentes fatores socioculturais conexos.

3.1.1 Formas das expressões de tratamento

A) Tratamento atribuído às pessoas do enunciado (expressões de modéstia e respeito),

segundo SUZUKI (1995):

a) Modéstia: O falante utiliza pronomes de modéstia com o intuito de estabelecer a

distância em relação a um superior. Por exemplo, o pronome pessoal eu watashi altera-se

para watakushi quando eu falo com o meu gerente, meu professor, entre outros.

b) Respeito:

- Com o desaparecimento do auto-respeito (reservado para o imperador, alta nobreza),

atualmente há apenas pronomes de respeito para as 2° e 3° pessoas: Para a 2° pessoa

utiliza-se otaku (você), quando não há uma relação hierárquica presente, em casa ou

entre amigos, utiliza-se a forma plana/neutra anata.

Page 26: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

20

- A utilização de sufixos pospostos a nomes próprios, mais comumente a sobrenomes:

san/sama – usado para adultos de ambos os sexos (2° e 3° pessoas), corresponde

aproximadamente ao “senhor/senhorita”. San é o tratamento menos formal do que sama e

é usado para todas as pessoas. Por sua vez, sama é utilizado em situações de maior

reverência. Por exemplo, ao perguntar sobre a alta hospitalar do pai da professora, utiliza-

se “Otoosama-wa gotaiinnasaimashita-ka” (O senhor seu pai já recebeu alta?); caso seja

do pai de uma amiga “Otoosan-wa taiinshimashita-ka” (O senhor seu pai já recebeu

alta?).

- Termos que indicam a profissão, ocupação ou cargo da pessoa: é a forma mais comum

de tratamento de respeito de 2° e 3° pessoas, substituindo os pronomes pessoais. Assim,

utiliza-se “sensei-wa ikaremasuka” (o professor vai?) do que “otaku-wa ikaremasuka”

(você vai?).

B) Tratamentos atribuídos a ações (verbos) inseridas no enunciado:

a) Modéstia: há uma alteração de cada verbo. Por exemplo, “iku” (ir) para “mairu” (ir).

Um exemplo de utilização dos verbos de modéstia está exposto abaixo, ao falar em um

ambiente íntimo, entre amigos ou familiares, utiliza-se a forma (1), por sua vez, em um

contexto no qual o ouvinte seja o professor da universidade, utiliza-se a forma (2).

1) Watashi-ga iku (Eu vou) 2)Watakushi-ga mairimasu (Eu vou)

Verbo de tratamento na forma neutra

(iku) é empregado em contextos que

não exijam distinções tratamentais.

Nesse caso acrescentar a partícula de

polidez (masu=>ikimasu) é opcional.

Alteração para eu de modéstia (watakushi), com o

verbo ir (iku) para a forma de modéstia (mairu),

adicionando-se a partícula formativa de polidez

(masu)..

b) Respeito: Além da alteração do verbo da forma neutra para forma de respeito, por

exemplo, “iru” (estar, vir) para “irassharu” (estar, vir), ocorre também a incorporação da

partícula formativa de respeito reru, rareru aos verbos como, por exemplo, “kimeru”

(decidir) em sua forma neutra, tranforma-se em “kimerareru” na forma de respeito.

Page 27: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

21

Para exemplificar as alterações do verbo de respeito, uma possibilidade está exposta a

seguir, quando dois universitários estão sozinhos e falam sobre o professor utilizam a

forma (1), caso os dois universitários estejam no interior de um elevador e verifiquem que

existem outros professores e alunos que conhecem o professor Matsumoto, podem

utilizar a forma (2).

1) Matsumoto sensei-ga kimeru (O

professor decide)

2) Matusmoto sensei-ga kimeraremasu (O

professor decide)

Verbo de tratamento neutro (kimeru) é

empregado em contextos que não exijam

distinções tratamentais. Nesse caso

acrescentar a partícula de polidez

(masu=>kimemasu) é opcional.

Verbo (kimeru) altera-se para a forma de respeito

(kimerareru), adicionando-se a partícula formativa de

polidez (masu=> kimeraremasu).

C) Tratamentos concedidos a pessoas, objetos, fatos em relação ao outro (conforme

SUZUKI (1995)):

a) Modéstia: Formas atribuídas pelo falante para se referir àquilo que pertence ao seu

interior, ao seu universo, em oposição ao que pertence ao universo do outro:

Haha (mãe)/minha mãe Okaasan (mãe) / do outro

Chichi (pai)/meu pai Otoosan (pai)/ do outro

Termos usados pelo falante para

se referir às pessoas de seu círculo

pessoal, perante terceiros.

Termos usados pelo falante para se referir às

pessoas do círculo do outro. Utilizado também no

interior de sua família, como uma forma de

respeito ao outro.

b) Respeito: Utilização de prefixos de respeito como o, go. Assim, “namae” (nome)

transforma-se em “onamae”, e “kekkon” (casamento) em “gokekkon”. Por exemplo, ao

perguntar como é o nome da amiga da filha, utiliza-se “namae-wa” (qual é o seu nome?);

por sua vez, caso seja o nome de alguém exterior ao universo do falante, ou o nome da

filha da professora, utiliza-se “onamae-wa” (qual é o seu nome?).

Page 28: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

22

D) Tratamento da enunciação (expressões de polidez), conforme SUZUKI (1995)

Após o falante observar todas as formas de tratamento necessárias, ou

desejadas, há a opção em usar, ou não, as expressões de polidez, cuja função principal é

endereçar polidamente o discurso do falante. Porém, sua presença torna-se uma forma

indireta do falante tratar o ouvinte com respeito. As partículas de polidez são as expostas

abaixo:

a) Masu aposto a verbos: kimemasu (decidir)= kimeru+masu.

b) Desu ou degozaimasu apostos a nomes e predicativos de qualidade (degozaimasu

possui uma carga maior de polidez do que desu): Por exemplo: watashi-wa senseidesu

(eu sou professor), kyô-wa atsuidesu (hoje está quente). Segundo ONO (1973, p. 33),

desu possui uma função de cópula, conectando as duas partes de uma sentença, sendo

que as conjugações de desu são: desu (presente/futuro); deshita (passado);

de(wa)arimasen (presente/futuro negativo); de(wa)arimasendeshita (passado negativo).

3.2 Pronomes de tratamento na língua portuguesa

Historicamente, os pronomes de tratamento estão vinculados às relações que se

estabeleciam na corte e nas sociedades feudais, e o seu uso determinava o status social

de cada membro no interior de seu grupo. Segundo LYONS (1982, p. 289), os pronomes

de tratamento podem ser relacionados como pronomes familiares (T) e pronomes polidos

(V), sendo que o significado social de cada um depende de cada cultura, da estrutura

gramatical de cada língua e inserem-se no escopo de conhecimento social.

Nas gramáticas tradicionais brasileiras, as explicações relativas aos pronomes de

tratamento não apresentam conceitos muito claros.

BECHARA (2004, p. 135-136), define pronomes de tratamento como “as formas

de reverência que consistem em nos dirigirmos às pessoas pelos seus atributos ou

posições que ocupam”. Afirma também que existem formas substantivas de tratamento

indireto de 2° pessoa, ou, formas pronominais de tratamento (nesses casos o verbo vai

para 3° pessoa): você e vocês (utilizado no tratamento familiar) e o Senhor, a Senhora (no

tratamento cerimonioso).

CUNHA e CINTRA (1985, p. 282), apresentam os pronomes de tratamento como

“certas expressões que valem por verdadeiros pronomes pessoais, como você, o senhor,

Vossa Excelência”.

Page 29: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

23

CEGALLA (199, p. 152), estabelece que os pronomes de tratamento incluem-se

entre os pronomes pessoais, sendo que são utilizados no trato cortês e cerimonioso com

as pessoas. Após relacionar as formas de tratamento com as abreviaturas e tipos de uso,

observa que você é usado em ambiente familiar e íntimo, oriundo da contração de

vosmecê, que por sua vez, deriva de Vossa Mercê.

Assim sendo, não há condições efetivas de uso em relação aos pronomes de

tratamento, pois as gramáticas tradicionais efetuam uma apresentação em sua maioria

baseada apenas em quadros explicativos, nesse sentido, o uso real e as condições dessa

utilização não podem ser apreendidos.

NEVES (2000, p. 458), apesar de não apresentar um tópico específico para os

pronomes de tratamento, ao falar sobre os empregos dos pronomes pessoais, faz

referência ao tema, “as formas VOCÊ e VOCÊS se referem a 2° pessoa, mas levam o

verbo para a 3° pessoa, do mesmo modo como ocorre com os pronomes de tratamento,

como VOSSA SENHORIA, VOSSA EXCELÊNCIA, O(A) SENHOR (A)20”. Um diferencial

da autora, é que, ao falar sobre os pronomes pessoais, realiza uma abordagem mais

abrangente do tema, ampliando a explicação “pronome pessoal como substituto do

nome”, verifica quais são as funções que desempenham no nível da oração, no nível do

sintagma e no nível do texto.

Para Neves, uma das funções básicas dos pronomes pessoais é construir

expressões referenciais, estabelecer que a primeira pessoa é a de quem parte o discurso

e surge apenas quando há uma auto-referência; a segunda pessoa é aquela a quem se

dirige o discurso, só aparece quando o falante dirige-se a ela e a terceira pessoa é aquela

sobre a qual é feito o discurso. As implicações dessas distinções são dois eixos: um eixo

subjetivo que contêm as pessoas da interação verbal (falante e ouvinte); e um eixo não-

subjetivo, que abriga as pessoas que não participam da interação verbal, a terceira

pessoa a quem se faz referência na interação verbal (Op. cit., p. 457).

CÂMARA (1999, p. 119) ao falar sobre o sistema de pronomes em português,

constata alterações no quadro de pronomes pessoais, como a substituição do pronome

vós (dirigido ao ouvinte), por uma forma de tratamento e verbos em terceira pessoa, como

Vossa Alteza, Vossa Senhoria. Especifica que no português europeu, um sistema menos

formal está inserido no dialeto social culto de Lisboa, no qual o ouvinte é tratado por um

20 Grifos da autora.

Page 30: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

24

nome ou locução referente à profissão ou status social (senhor doutor, doutor). Já no

dialeto culto do Rio de Janeiro, o autor observa a utilização da forma verbal em terceira

pessoa dirigida ao ouvinte, seguida da distinção feita pelo falante, em tratar o ouvinte

através de um tratamento mais íntimo (você) e para um tratamento mais cerimonioso

(senhor/senhora).

ILARI, FRANCHI & NEVES (1996, p. 90-91), afirmam que as gramáticas

tradicionais adotam um esquema que mantém uma perfeita correspondência entre

pessoas de pronome e pessoas do verbo, porém, a adoção do pronome você em lugar de

tu (fato verificado na maioria das variedades do português brasileiro), alteram esse

esquema. Ou seja, um pronome de segunda pessoa (você) leva o verbo para a terceira

pessoa. Os autores ressalvam que a forma você é considerada um pronome de

tratamento nas gramáticas brasileiras, e que realmente permuta com o senhor, ou Vossa

Senhoria, levando o verbo para a terceira pessoa. Devido ao fato de o pronome você

suplantar a forma tu no português brasileiro, um quadro de pronomes pessoais menos

inexato referente à segunda pessoa seria formado por: você, o, a lhe, se, si, (com)si(go),

tu, te, ti, (con)ti(go). Nesse sentido, os autores colocam que talvez o tratamento

considerado respeitoso, o senhor/a, também devesse ser incluído nessa segunda pessoa

(Op. cit., p. 93).

Após verificar as diferentes abordagens dos estudiosos citados acima, verifica-se

a existência de uma relação entre os pronomes pessoais e os pronomes de tratamento,

que ambos efetuam uma ligação entre o falante e o ouvinte e são formas que o falante

utiliza para dirigir-se a uma segunda pessoa, ou para efetuar uma referência a uma

terceira pessoa.

Nesse sentido, PRETI (2000, p. 92) coloca de uma maneira clara que o sistema

de tratamento em português pode ser descrito através de três formas:

“1) por formas pronominais, ou seja, pelos pronomes pessoais (tu,vós); 2) por formas pronominalizadas, isto é, com valor de pronomes pessoais (você, o senhor, Vossa Excelência, Vossa Senhoria e suas variações); 3) por formas nominais, constituídas por nomes próprios, prenomes, nomes de parentesco ou equivalentes,antecedidos de artigo, uso praticamente restrito ao português de Portugal21

21 PRETI (2000, p. 92) coloca a seguinte citação, designada como “1: Ainda hoje, em Portugal, as pessoas mais velhas da família (pais, avós, tios, etc) são tratadas na terceira pessoa, pela palavra que indica parentesco. Da mesma forma, quando há intimidade entre os falantes, usa-se a mesma pessoa, antecedida

Page 31: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

25

ou, ainda, por uma grande variedade de nomes empregados como vocativos ou formas de chamamento.”

Segundo Preti, a utilização dessas variantes de tratamento são utilizadas segundo

as inúmeras relações existentes na sociedade, pautadas pela diversidade de status social

e dos papéis existentes (Op. cit., 2000, p. 92).

Entende-se, então, que saber utilizar as denominações corretas como Vossa

Eminência (para cardeais) ou Vossa Reverendíssima (para sacerdotes), indica a

preservação do status e poder hierárquico do ouvinte e, também, que o falante domina as

regras normativas impostas pela gramática. Porém, por outro lado, apenas decorar as

normas gramaticais, ou seja, as diversas formas de tratamento e abreviaturas não são

suficientes, existem fatores que não estão relacionados nos quadros explicativos dos

pronomes de tratamento, tão comuns nas gramáticas brasileiras.

A primeira observação que deve ser feita é a de que o uso de certo tratamento

normatizado como respeitoso, pode originar no ouvinte um sentimento inverso: como por

exemplo, chamar uma pessoa de Senhora pode ser mal-interpretado, justamente pelo fato

de existir uma interpretação estigmatizada das formas Senhor e Senhora na sociedade

brasileira, entre outros sentidos, relacionada à “pessoa de idade avançada”. Por outro

lado, o próprio falante pode ter a intenção de provocar uma situação, ao utilizar os

pronomes de tratamento de uma forma irônica, como por exemplo, chamar o marido de

“Vossa Excelência”; dirigir-se à síndica do condomínio através da expressão “Vossa

Senhoria”, entre outros.

A segunda consiste no fato de as formas de tratamento excederem àquelas

normalmente mencionadas, como Vossa Majestade (para reis, imperadores), Vossa

Magnificiência (para reitores de universidade), Vossa Alteza (para príncipes, duques). Um

exemplo seria o recurso à utilização de formas relacionadas às profissões, nomes

próprios que designam cargos22 (doutora, professora, entre outros).

A terceira observação é a utilização das formas você e senhor/a. Como a

sociedade brasileira efetua a distinção de uso dessas duas formas? CUNHA e CINTRA

(1985, p. 284) efetuam a seguinte classificação: “o senhor, a senhora (e a senhorita, no

pelo nome ou apelido do interlocutor: o pai está zangado? O Rodrigues está a brincar comigo? (cf. Cuesta & Mendes da Luz, 1971, p. 483)”. 22 CAMARA JR. (1999, p. 119) comenta que essa forma de utilização ocorre “no dialeto social culto da área de isboa”.

Page 32: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

26

Brasil, a menina, em Portugal, para a jovem solteira) como formas de respeito ou

cortesia”. Em oposição a essas formas, a utilização de tu e você em Portugal, e a forma

você, na maior parte do Brasil.

As reais delimitações de uso dessas formas de tratamento parecem ser mais

complexas do que o exposto pelos gramáticos. O tratamento senhor/senhora é realmente

uma forma de respeito, mas também uma maneira de demarcar o poder relativo e a

distância social entre o falante e o ouvinte.

Por sua vez, a forma você além de servir como uma oposição ao senhor/senhora,

é a forma comum de tratamento na maior parte do Brasil, é utilizada também como uma

marca de ironia, dependendo da entonação, ou mesmo de agressividade.

Page 33: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

27

4. Abordagens sobre as expressões de tratamento na língua japonesa

4.1 O estudo de Mayumi Usami

Em 2002, Mayumi Usami lançou o livro denominado “Discourse Politeness in

Japanese Conversation”. Segundo ela, estudos recentes sobre polidez conduzidos por

pesquisadores ocidentais têm sido direcionados para a construção de uma teoria

universal focando o “uso estratégico da língua”, ao passo que estudos feitos por lingüistas

tradicionais japoneses focaram o uso de expressões de tratamento23 como aspectos

gramaticais a partir de uma visão normativa. Em sua opinião, ambas as orientações são

de escopo limitado, pois lidam somente com um aspecto da polidez pragmática. Seu

estudo, em contraste, considera tanto o uso estratégico quanto o uso normativo da

linguagem, assim como a interação entre os dois. Conforme a autora, isso é possível com

a introdução do conceito de Polidez de Discurso (PD). Usami define Polidez de Discurso

como “o conjunto dinâmico de funções de qualquer elemento em ambos, as formas

lingüísticas e fenômenos no nível do discurso que atuam na polidez pragmática de um

discurso”24.

Para Usami, os estudos das expressões de tratamento realizados pelos

gramáticos japoneses focam quase que exclusivamente a descrição das expressões de

tratamento como aspectos gramaticais e concentram-se em explicar como os contextos

sócio-cultural e psicológico determinam a escolha do nível de fala num ato de fala

especifico na sentença. Ressalva, também, que a maior parte desses estudos conta

principalmente com as intuições do falante nativo e dados auto relatados. Dessa forma,

tendem a formar uma visão normativa das expressões de tratamento e a tratá-los como

simplesmente uma reflexão de fatos sociais, ao invés de investigar como essas

expressões de tratamento podem ser manipulados pelo falante em conversas reais (Op.

cit., p. 6).

Segundo a autora, Brown e Levinson fazem uma importante contribuição na

procura de uma teoria universal, ao formularem uma teoria na qual a polidez é vista como

estratégias interativas empregadas por um falante para alcançar alguns objetivos. Dessa

23 Usami utiliza a expressão em inglês “honorifics”, como já utilizamos a expressão “expressões de tratamento”, formulada por Suzuki, traduzimos “honorifics” como “expressões de tratamento”.

Page 34: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

28

forma, os autores proporcionam um terreno comum para estudos sobre a polidez em

línguas com e sem expressões de tratamento, incorporando as características de línguas

com expressões de tratamento e seus usos, levando ao desenvolvimento de uma teoria

de polidez mais compreensiva e dinâmica, menos anglo-saxã e eurocêntrica.

Devido a esses fatores, Usami utiliza a teoria de polidez de Brown e Levinson e

uma das principais perguntas que ela apresenta é se a teoria deles é realmente aplicável

em línguas não ocidentais, particularmente as que possuem expressões de tratamento

(Op. cit., p. 10).

Para Usami, no interior da Teoria de Brown e Levinson, o conceito de polidez

positiva é um dos aspectos importantes, pois permite que uma pessoa compare as

estratégias de polidez em um nível cultural mais específico, e também que mecanismos

de suporte sejam elucidados a partir de uma perspectiva universal.

Em relação à estratégia de polidez negativa, conforme sua avaliação, nas línguas

que elaboraram um sistema de expressões de tratamento, preservar o seu uso normativo

pode servir para resguardar a Face negativa do ouvinte, funcionando deste modo como

uma forma de polidez negativa. Em outras palavras, o desvio do uso normativo das

expressões de tratamento pode ser intrinsecamente ameaçador da Face com qualquer

significado proposicional. A razão disso é que o uso das expressões de tratamento

funciona para reconhecer o contexto social, especialmente a idade e status social de cada

pessoa, que já estão inseridos nos princípios do uso das expressões de tratamento. Logo,

contanto que os falantes manipulem o uso de acordo com esses princípios, as pessoas

pelo menos não infringem a Face negativa do ouvinte (Op. cit., p. 14-15).

Usami afirma que de acordo com essa suposição, os japoneses devem preservar

os princípios de utilização das expressões de tratamento em cada ato de fala. Caso os

estudos examinem somente o uso das expressões de tratamento como polidez negativa,

eles não apreendem o fato de que na língua japonesa ela torna-se mais uma obrigação,

não uma estratégia, como proposto por Brown e Levinson. Portanto, considera que o

conceito de Brown e Levinson de polidez positiva proporciona uma maneira inovadora de

examinar a polidez em japonês a partir de uma visão pragmática. Isto é, o conceito de

24 Na versão original, Polidez de Discurso é definido como (USAMI, 2002, p 4): “the dynamic whole of functions of any element in both linguistic forms and discourse-level phenomena that play a part in pragmatic politeness of a discourse”.

Page 35: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

29

polidez positiva poderia ajudar na expansão do escopo dos estudos de polidez em

japonês (Op. cit.,p. 15).

4.1.1 Análise dos dados de Usami

O trabalho de Usami analisa dados de conversação espontânea japonesa, no

qual foi utilizado um sistema complexo de expressões de tratamento, com foco nas

variáveis de idade e gênero. Segundo ela, o projeto experimental do estudo é baseado na

suposição de que na sociedade japonesa atual, a idade e o status social podem ser

considerados um tipo de variável de poder na fórmula de Brown e Levinson;

especialmente entre recém-conhecidos sem nenhuma relação preexistente, tal como a de

empregado⁄empregador, visto que no sistema de hierarquia da sociedade japonesa, a

idade e o status social são geralmente altamente correlatos. Dessa forma, os informantes

foram recrutados primeiramente de acordo com a idade.

A pesquisadora selecionou no total, 23 mulheres e 11 homens: 12 informantes

femininas (a idade média foi de 34,8 anos); 4 ouvintes femininas mais velhas (a idade

média de 45,7 anos); 5 ouvintes femininas da mesma idade (idade média de 34,9 anos) e

4 ouvintes femininas mais novas (idade média de 23,7 anos). A idade média dos 4

ouvintes masculinos mais velhos foi 43,8 anos; 4 ouvintes masculinos da mesma idade

(idade média de 34,5 anos) e 3 ouvintes mais novos (idade média de 24,5 anos).

Todos são universitários graduados de classe média, trabalhadores que falam o

japonês padrão. Como uma forma de controlar os dialetos regionais, selecionou pessoas

que vivem e trabalham em, ou perto de, Tóquio.

4.1.2 Conceituação dos termos utilizados em Usami

Usami utiliza os seguintes padrões para diferenciar o uso das expressões de

tratamento durante as entrevistas:

Page 36: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

30

- Super-polido: Representado por (SP) e abrangem “sonkeigo” e “kenjogo”25

Formas de respeito Formas de modéstia

Verbos: irassharu, kudasaru, nasaru, etc. Verbos: itadaku, itasu, mairu, etc.

Verbos auxiliares: ~reru, ~rareru, etc. Pronomes: watakushi, watakushidomo, etc.

Prefixos: go~(goyukkuri), o~(ohayameni), etc.

Pronomes: anokata, sonokata, etc.

- Polido: Representado por (P) e abrange o “teineigo”26

Cópula: ~desu

Sufixo: ~masu e derivativos

- Formas não-polidas: Representado por (N), são as formas planas, as formas de

dicionário.

- Forma não marcada: Representado por (NM), expressões que não incluem as formas

lingüísticas de polidez, como “backchannels” e palavras como “Ee, ee” (Uh-hun) e

“Taihen” (Muito, sério, grave, imenso), etc.

Os tópicos de conversação utilizados nas entrevistas foram classificados em 5

tipos: 1) local de residência; 2) local de trabalho e ocupação; 3) nome/sobrenome e tipo

de escrita do ideograma do nome/sobrenome; 4) sobre o local da entrevista, ou coisas na

sala da entrevista; 5) tópico específico que o falante preparou para a conversação, como

“Você gosta de festas?”.

No projeto de Usami existem três categorias no nível de oração: 1) nível de fala

ou enunciado; 2) nível de final de fala de cada enunciado; e 3) tipo de enunciado. Ela

considera que dois fenômenos diferentes indicam o nível de polidez nas formas

lingüísticas em japonês. Primeiro, a escolha que o falante faz do nível de marcadores

lingüísticos: super-polido, polido e formas não-polidas. Segundo, a escolha do falante em

25 “sonkeigo”: Expressões de respeito, “kenjogo”: Expressões de modéstia. Os contextos de utilização estão explicados no capítulo 3.1.1, páginas 19-22. 26 “teineigo”: Expressões de cortesia/polidez. Contexto de utilização pode ser visto no capítulo 3.1.1.

Page 37: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

31

terminar, ou não, uma oração utilizando uma forma polida (desu/masu), o que também

marca o nível de polidez das formas lingüísticas.

A pesquisadora codifica também os níveis de fala sob dois pontos de vista

diferentes: (1) se enunciado inclui ou não marcadores de nível de polidez (nível de fala); e

(2) se a expressão vocal termina ou não com "formas de desu/masu" (nível de final de

fala). Com essa divisão, pretende examinar a mudança do nível de fala, ou seja, a

mudança da forma super polida ou polida para a não polida (mudança lingüística da

categoria superior para a inferior (super-polido=>polido=>não polido)). Ou a mudança da

forma não polida para a forma super polida ou polida (mudança lingüística da categoria

inferior para a categoria superior (não polido=> polido=> super-polido)).

4.1.3 Projeto e resultados de Usami

Nesse estudo, a autora analisou 72 conversas (pares) entre japoneses

desconhecidos, de variadas idades e gêneros. As análises foram feitas com relação à

escolha das expressões de tratamento e dois fenômenos em termos de nível de discurso:

mudanças de nível de fala e a proporção de iniciação de tópicos.

O estudo de Usami revelou que o uso por um falante de formas super polidas e

polidas reflete suas escolhas estilísticas mais do que o grau real de respeito para com o

ouvinte ou a relação entre os falantes.

As mulheres usam significativamente mais formas super polidas do que os

homens e os homens usam significativamente mais formas polidas em relação à idade e

status social, apesar de a classificação dos ouvintes ser quase a mesma.

Segundo a autora, a conclusão mais importante é que o uso da forma não polida,

configurada como um desvio pequeno do nível de polidez dominante ou normativo das

formas lingüísticas num certo contexto social, reflete a relação de poder e distância social

entre falante e ouvinte, isto é, a pessoa que possui mais poder é menos inibida quanto ao

uso de formas não polidas, indicando uma forma de desvio do uso normativo da língua.

Assim sendo, esse aspecto do uso da forma não polida foi desvendado somente

com a análise do percentual de cada utilização das expressões de tratamento nos

enunciados. A autora observou também que o percentual de uso da forma não polida ou o

grau de desvio do uso da língua normativa podem ser obtidos somente após a

identificação do nível de fala dominante dentro de todo o discurso num evento específico.

Page 38: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

32

Ao conduzir este tipo de análise global de discurso em conversações reais, Usami

acredita que o presente estudo revelou que o uso de formas não polidas é um elemento

na polidez de discurso que indica a relação de poder entre os falantes.

Além disso, em contraste com o uso de formas não polidas, as conclusões sobre

enunciados não marcados sugerem que esses enunciados indicam a distância social

entre os falantes. Funciona para evitar o reconhecimento de relações humanas verticais

ao mitigar o reconhecimento explicito da relação entre os falantes. Esses enunciados

tiveram uma freqüência mais significativa em conversas com participantes de idades

assimétricas do que naquelas com idades simétricas.

Essas conclusões gerais não seguem os princípios normativos das expressões de

tratamento, que prescrevem que as pessoas devem usar formas super polidas para com

um superior, nem a teoria de Brown e Levinson, que também prevê que as formas super

polidas e as formas polidas sejam usadas na proporção do poder do ouvinte. Ademais,

nenhuma dessas abordagens considerou em momento algum o uso de expressões vocais

não marcadas.

A correlação significativa do uso de formas não polidas com as classificações

mais altas das bases de naturalidade da conversação sugere que as mudanças para nível

inferior funcionam como um tipo de estratégia de polidez positiva, que demonstra empatia

ou um sentimento de proximidade. Porém, apesar das mudanças para nível inferior

funcionarem como uma estratégia de polidez positiva, elas têm mais probabilidade de

ocorrer com ouvintes mais novos e têm menos probabilidade de ocorrer com ouvintes

mais velhos. Assim, o uso desta estratégia no japonês é ainda influenciado pelo poder do

ouvinte sobre o falante. Os resultados das mudanças de nível de fala seguem a previsão

de Brown e Levinson. A saber, os autores descrevem que o poder (P) é uma dimensão

social assimétrica, a partir da qual o ouvinte pode impor os seus próprios planos e a sua

própria Face.

É interessante notar que apesar de as mudanças para nível inferior e superior

serem manipuladas dependendo da idade do ouvinte, as mudanças para nível inferior

refletem o uso estratégico da língua do falante que desvia ligeiramente do uso normativo

da língua, ao passo que as mudanças para nível superior refletem a aderência do falante

ao uso normativo da língua. Em outras palavras, as mudanças para o nível inferior

Page 39: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

33

funcionam como polidez positiva e mudanças para nível superior funcionam como polidez

negativa na polidez de discurso.

Além disso, os resultados do comportamento de discurso também sustentam a

ordem das estratégias estimadas por Brown e Levinson. Isto é, as estratégias de polidez

negativa têm mais probabilidade de ser aplicadas em situações de FTAs relativamente

mais altos (conversa com uma pessoa mais velha), e as estratégias de polidez positiva

têm mais probabilidade de ser aplicadas em situações com FTAs mais baixos (conversas

com pessoas mais novas).

Tanto as formas não polidas quanto as mudanças para nível inferior e a

proporção de iniciações de tópicos tenderam a aumentar em freqüência em proporção

inversa à idade do ouvinte. Assim, pode-se considerar que refletiram o poder (P) do

ouvinte sobre o falante formulado por Brown e Levinson.

O presente estudo revela que a teoria de polidez de Brown e Levinson

proporciona uma explicação satisfatória do comportamento de discurso em japonês, como

a manipulação da forma não polida, as porcentagens de mudanças para nível inferior,

mudanças para nível superior e a proporção de iniciação de tópicos. Logo, pode-se

concluir que a teoria de Brown e Levinson funciona melhor na explicação da dinâmica do

uso da língua em conversas reais, do que nos princípios normativos de uso das

expressões de tratamento.

Por outro lado, para Usami dois pontos podem ser considerados como fracos na

teoria de polidez de Brown e Levinson. Primeiro, o escopo de polidez é limitado a atos

específicos de fala e falha em incorporar totalmente as funções de comportamento na

oralidade; não há consideração de unidades de discurso maiores do que atos de fala.

Segundo, sua teoria de polidez é muito inclinada para o uso estratégico da língua do

falante e falha em considerar o potencial do uso da língua como meio de conformidade a

normas e convenções sociais.

Segundo Usami, essas descobertas sugerem que cada elemento do discurso

funciona de diferentes maneiras, mas a dinâmica dessas funções constitui a Polidez de

Discurso como um todo. A autora ainda argumenta que este conceito capacitará os

pesquisadores a comparar o comportamento da polidez em línguas com e sem

expressões de tratamento e a desenvolver uma teoria universal de polidez mais

Page 40: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

34

compreensiva. Ao longo do livro ela argumenta que qualquer teoria de polidez deve ser

construída levando-se em conta os usos efetivos.

4.2 A análise de Yoshiko Matsumoto

No artigo “Reexamination of the universality of Face”, Yoshiko Matsumoto (1988),

faz uma análise crítica da Teoria de Brown e Levinson. Segundo ela, a noção universal de

Face não pode ser aplicada à sociedade japonesa, visto que a divisão em Face negativa

e positiva não é apropriada para uma cultura, na qual o individual é menos importante que

o grupo social.

Assim sendo, para Matsumoto, o que é de preocupação suprema para um

japonês não é o seu próprio território, mas a posição em relação aos outros e a sua

aceitação nesse grupo. Perde-se a Face quando os outros integrantes percebem que a

pessoa não compreendeu e não reconheceu a estrutura e a hierarquia do grupo.

Segundo Matsumoto, a noção de Face atribuída à pessoa modelo (MP) de Brown

e Levinson, é muito estranha à cultura japonesa. Postulado como um dos dois aspectos

da Face da pessoa modelo, o desejo de não ser impedido da Face negativa pressupõe

que a unidade básica de sociedade seja o indivíduo. Tal suposição, porém, é quase

impossível para a cultura japonesa. Para a autora, um japonês geralmente tem que

entender qual é a sua posição em relação a outros membros do grupo, e tem que

reconhecer a sua dependência em relação aos outros. O reconhecimento e a manutenção

da posição relativa de outros, em lugar da preservação do próprio território individual,

governa toda a interação social.

Matsumoto explica que a sociedade e a cultura japonesa foram estudadas por

vários investigadores. Cita NAKANE27 (1967, 1970), que descreveu os japoneses em sua

estrutura social como uma sociedade vertical, na qual as relações primárias são formadas

entre pessoas hierarquicamente relacionadas, em um certo agrupamento social, em lugar

de relações entre pessoas que têm a mesma posição (Op. cit., p. 408).

27 NAKANE, C. Tate-shakai no ningen-kankei: tan-istu-shakai no riron (Personal relations in a vertical society: a theory of a homogeneous society). Tokyo: Kodansha, 1967; Japanese Society. Berkley, CA: University of Califórnia Press, 1970.

Page 41: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

35

Conforme a autora, o Japão é descrito freqüentemente como uma cultura de

deferência típica, alguns linguistas manifestaram isso claramente (Robin Lakoff; Brown e

Levinson e outros).

Em relação à Teoria de polidez de Brown e Levinson, Matsumoto afirma que os

autores consideram a cultura japonesa como uma “cultura de polidez negativa” e, a partir

desse princípio questiona a validade em categorizar como culturas de polidez negativa

juntamente o japonês, o inglês e o indiano, visto que evidências sociológicas e

antropológicas demonstram diferentes conceitos de individualidade e composição de

Face, entre essas culturas (Op. cit., p. 408).

Segundo Matsumoto a deferência e o reconhecimento do direito à imunidade

relativa de imposição são analisados por Brown e Levinson como: "a deferência serve

para desativar atos ameaçadores de Face potenciais (FTAs) indicando que são

reconhecidos os direitos do ouvinte em relação à imunidade relativa de imposição e, além

disso, que o falante não está certamente em uma posição de coagir a complacência do

ouvinte de qualquer forma " (BROWN e LEVINSON, 1978, p. 183). Observa que embora a

conexão entre deferência e minimização das ameaças de Face seja de algum modo

inegável, torna-se claro que a deferência pode ser comparada com o fato de o falante

respeitar o direito de um indivíduo, através da não-imposição.

Segundo a autora, “Seja deferente” é, de acordo com Brown e Levinson, uma

estratégia de polidez negativa, para proteger a Face negativa do ouvinte. Ressalva,

entretanto, que em japonês há expressões convencionalizadas que demonstram

deferência e não podem ser consideradas derivadas da estratégia de polidez negativa em

minimizar a imposição ao ouvinte, como no exemplo a seguir:

(1) Doozo yoroshiku onegaishimasu28(Gostaria de obter os seus préstimos; espero que a nossa relação seja boa)

(2) Musume o doozo yoroshiku onegaishimasu (Peço que cuide bem da minha filha).

Matsumoto considera que em (1) o falante apresenta-se para o ouvinte e quer que

o relacionamento seja amigável; em (2) o falante efetua uma saudação para o(a)

28 Em japonês, quando somos apresentados a alguma pessoa, normalmente dizemos o sobrenome, o nome e, em seguida, utilizamos a expressão: “Doozo yoroshiku onegaishimasu”.

Page 42: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

36

professor(a) da filha, ou para um(a) amigo(a) da filha. Ela considera os dois exemplos

como imposições na liberdade de ação do ouvinte, sendo que o falante em (2), refere-se à

filha que deve ser cuidada pelo ouvinte e, dessa forma, coloca-se em posição inferior,

dando origem, segundo a autora, a um típico comportamento deferente. Matsumoto

afirma que o ato de fala em (2) é um pedido direto, uma imposição e, portanto, seria

contraditório considerar essa deferência uma estratégia de polidez negativa. Para

Matsumoto, a contradição desaparece caso haja o abandono do conceito da

universalidade da Face negativa, relacionada a uma motivação primária para a polidez.

(Op. cit., p. 410)

Para Matsumoto na sociedade japonesa o reconhecimento de interdependência é

encorajado, assim, os calouros demonstram respeito pelos veteranos e, por sua vez, são

protegidos pelos veteranos. Considerando que essa interdependência é esperada na

sociedade, torna-se uma honra ser protegido por alguém hierarquicamente superior.

Assim, afirma que imposições de deferência podem aumentar a auto-imagem do

ouvinte e, nesse sentido, serem vistas como uma estratégia de polidez positiva. Porém,

isso não é feito consensualmente, mas através de imposição. Por outro lado, a autora

analisa que é distinta da polidez positiva porque não é uma manifestação de intimidade,

conforme Brown e Levinson que consideram a polidez positiva como "em muitos aspectos

um comportamento lingüístico normal entre íntimos...." (BROWN e LEVINSON, 1978, p.

106).

Conforme Matsumoto, a deferência exibe um grau de diferença entre os

participantes, ou é um reflexo preciso da verdadeira relação, ou um exagero polido.

Dessa forma, ao proferir os exemplos (1) e (2) ou as suas variantes, o falante

demonstra competência e aceitabilidade na sociedade. Ela conclui que nesse sentido, o

falante preserva sua própria Face, porque o não-reconhecimento da interdependência

refletiria adversamente, criando uma impressão de ignorância ou falta de autocontrole.

Para Matsumoto o conceito japonês de deferência tem que incluir não somente o

falante em posição de humildade, mas o de elevação do nível do ouvinte. Isso está de

acordo com a importância de Face negativa, como definido por Brown e Levinson, porém,

para a sociedade japonesa, a liberdade de imposição é menos potente do que a dinâmica

da polidez que é a da preservação da posição social (Op. cit., p. 413).

Page 43: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

37

Portanto, as pessoas escolhem estratégias de polidez de acordo com suas

expectativas culturais e exigências, assim como, de acordo com restrições ligadas ao

contexto.

Um falante japonês sempre deve observar a relação social e sua extensão, por

conseguinte, cada expressão vocal pode causar embaraços e perda de Face. Segundo a

autora, pode-se dizer que todas as expressões vocais da língua japonesa podem ser

consideradas ameaças de Face, sendo que, até certo ponto, o mesmo pode ser dito de

qualquer cultura: a comunicação interpessoal pode ser uma ocasião de ameaça de Face.

Observa, entretanto, que em japonês isso é muito ampliado, visto que contextos

sociais são codificados diretamente em marcas morfológicas e léxicas. Desse ponto de

vista, o sistema de expressões de tratamento em japonês se parece muito mais como

uma estratégia de polidez negativa para mitigar a coerção do ouvinte. (Op. cit., p. 419)

Matsumoto explica que a expressão: - Ue ni mairimasu (Vamos subir),

geralmente utilizada pelos operadores de elevador, pode aborrecer algumas pessoas,

visto que parece uma informação desnecessária, ou pode ser visto como uma humildade

excessiva. No entanto, explica que em um contexto japonês nenhuma outra expressão

seria tão apropriada. A ascensorista (normalmente uma mulher) demonstra a sua

deferência como empregada da loja em relação aos clientes. Ela está representando o

seu papel como o esperado, ao reconhecer a relação entre ela e os clientes.

Na cultura japonesa, espera-se que as pessoas ajam corretamente, de acordo

com a sua posição relativa, ou tratem com respeito os outros membros do grupo, e é essa

posição relativa que eles querem manter quando empregam estratégias de polidez (Op.

cit., 1988, p. 422-423).

Para a autora a cultura japonesa é descrita freqüentemente como uma cultura de

deferência, e na estratégia de deferência está seu modo convencional de polidez. Porém,

o que se nota é que a deferência na língua japonesa origina implicações diferentes da

deferência na cultura ocidental. Cita que de acordo com Robin Lakoff, a deferência é a

estratégia baseada nas máximas: “Não imponha”; “Dê opções”. Porém, em termos de

cultura japonesa, a deferência baseia-se na diferença de posição social entre os

participantes, enquanto que a deferência na cultura ocidental é uma estratégia que ocorre

provavelmente entre iguais. Ressalva que o tipo ocidental de deferência, que consiste em

Page 44: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

38

dar opções, também é observável no Japão, mas normalmente apenas entre pessoas

com mesmo nível hierárquico.

A autora acredita que a base para a construção de um conceito universal de

polidez incluiria uma noção geral de Face, ou auto-imagem socialmente determinada, que

postularia o desejo de manter a Face como o fator dinâmico do sistema de polidez. A

base também compreenderia certo espectro de estilos que podem ser escolhidos, de

acordo com a cultura e a situação. Para a aplicação dessa base, seria necessário o

conhecimento do funcionamento da sociedade antes de se determinar os componentes

de Face naquela cultura.

Matsumoto afirma que a abordagem de Brown e Levinson permite a variabilidade

cultural, mas consideram os componentes de Face como conceitos universais. No

entanto, a autora afirma que a Teoria de Polidez de Brown e Levinson pode ser aplicada

satisfatoriamente ao sistema de polidez no Japão, caso haja uma diminuição da ênfase no

que os autores chamam de Face negativa. Matsumoto conclui que uma modificação na

exigência da universalidade da Face parece conduzir a uma teoria mais simples e

proporciona um acordo melhor entre teoria e prática.

Page 45: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

39

5. Representação das formas de tratamento em japonês e português

A utilização das formas de tratamento sempre esteve relacionada aos papéis

sociais que os falantes representam na sociedade. Segundo PRETI (2000, p.88), nas

sociedades antigas, o indivíduo desempenhava poucos e bem definidos papéis e nas

sociedades contemporâneas, há uma maior número de papéis sociais exercidos por um

mesmo indivíduo. Assim, naquelas sociedades, o comportamento do servo, do padre,

entre outros, estavam determinados e eram realizados com precisão. Por outro lado, nas

sociedades contemporâneas, um operário pode ser um líder sindical, um político e

transitar em círculos sociais diferentes.

As normas comportamentais que regulam os diversos papéis sociais são criadas

pelas sociedades, que classificam as atitudes como adequadas ou não. DHOQUOIS

(1993) afirma que um dos modos de regulação das relações humanas que sempre foi e

será necessário é a polidez. Para a autora, a polidez representa uma multiplicidade de

contradições, a “sociabilidade e espontaneidade, hipocrisia e autenticidade, boa e má

educação, que opera classificações sociais definitivas entre aqueles que sabem e ...os

outros.” (Op. cit., p. 8).

HAVERKATE (1994, p. 68) afirma que no micro-nível do ato de fala, a polidez

manifesta-se, entre outros fatores, pela seleção de pronomes de tratamento.

Assim, uma sociedade historicamente hierarquizada como a japonesa estabeleceu

uma variedade de expressões de tratamento através das quais o falante demonstra as

suas boas maneiras, assim como deferência e educação em relação ao ouvinte e ao

grupo social a que pertence.

Segundo PRETI (2000, p. 93), a sociedade portuguesa também era fortemente

hierarquizada, com status atribuído ao nobre/plebeu, sendo que os resquícios

permaneceram, originando dessa forma, sociedades modernas baseadas na semântica

do poder. Por outro lado, o autor expõe que em sociedades com status social adquirido,

as formas de tratamento tendem para uma simetria, como nos ideais democráticos da

América. Para o autor, no Brasil, um índice da transformação “está em algumas formas de

tratamento, como você e seu uso ampliado em relação a o senhor, numa evidente quebra

de formalismo.” (Op. cit., p. 94).

MONTEIRO (1994, p. 153) afirma que, na língua portuguesa, o surgimento do

pronome você foi decisivo para uma série de modificações no sistema pronominal, tais

Page 46: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

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como: a ocupação do lugar deixado pela extinção do sujeito vós (e conseqüentemente do

objeto vós e do adjunto vosso) e a desvalorização do tu. Portanto, para o autor, um novo

panorama firma-se nas relações de tratamento resumidas pelas expressões formais: você

e o senhor, sendo que este é mais utilizado pelos mais idosos e aquele pelos mais jovens.

O uso da forma você em substituição ao senhor demonstra uma tendência à

evolução da sociedade brasileira, pautada pelas idéias de liberdade ou autonomia, porém,

ao mesmo tempo em que atenua a rigidez das relações assimétricas entre pai e filho,

patrão e empregado, professor e aluno, causa hesitações em relação à utilização efetiva

dessas duas formas de tratamento.

Um exemplo desse tipo de impasse é o episódio envolvendo o ex-presidente do

Brasil, Fernando Collor e um repórter do jornal Folha de São Paulo, em 1992. Segundo

Roberto Pompeu de Toledo, no ensaio da revista Veja intitulado “Você, tu e o senhor” (A-

nexo1), o repórter utilizou a forma de tratamento você ao dirigir-se ao ex-presidente “Os

jornais estão dizendo que você vai tirar férias. É verdade?”, indignado, em resposta

Fernando Collor disse um palavrão “Você é o .....”.

Concordamos com o ensaísta no fato de que, nesse caso, é difícil verificar qual dos

dois, o ex-presidente, ou o repórter merece o troféu de más maneiras. No entanto, não

resta dúvida: a confusão na utilização das formas você e o senhor é generalizada, apesar

das gramáticas especificarem que senhor/a é uma forma mais cerimoniosa e você uma

forma mais íntima.

Ao analisarmos esse exemplo, através de uma perspectiva pragmático-lingüística,

utilizando a Teoria de Polidez de Brown e Levinson:

• Segundo MEIRELES (1999, p. 159-161), Brown e Levinson consideram que

a super estratégia de polidez negativa “Seja deferente” possui dois lados:

“em um, o falante eleva o interlocutor frente a si mesmo; no outro, o falante

se diminui frente ao interlocutor”. E, dentre as possibilidades de realização

dessa super estratégia, existe a utilização de formas de tratamento. Para a

autora, dessa maneira, as formas de tratamento servem para o falante

demonstrar que reconhece, de alguma forma, a superioridade do ouvinte

(Op. cit., 1999). No exemplo acima, pode-se dizer que a Face negativa do

ex-presidente foi danificada (devido a não utilização da estratégia de polidez

Page 47: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

41

negativa) e não houve a intenção do repórter em minimizar a ameaça à

auto-imagem pública de Fernando Collor.

• Por outro lado, HAVERKATE (1994, p. 221) afirma que “Brown y Levinson –

véase la nota 1129 -, optan por considerarla como una clase particular de

cortesía positiva que corresponde al deseo del oyente de verse tratado como

um interlocutor socialmente superior.” Para Haverkate, Brown e Levinson

incluem no interior da estratégia de polidez negativa “Seja deferente” uma

classe particular de polidez positiva, que se justifica pelo desejo do ouvinte

em ser tratado como superior. Nesse sentido, no exemplo acima, houve uma

danificação da Face positiva do ex-presidente, visto que o repórter não

atendeu aos interesses e às necessidades do ouvinte de, nesse caso, ser

tratado como superior.

A partir dos comentários acima, verificamos que as estratégias de polidez podem

ser expressas por uma combinação de vários elementos lingüísticos e extralingüísticos

em um determinado contexto, até mesmo pela interação entre as estratégias de polidez

criadas por Brown e Levinson. Torna-se necessário, porém, constatar que o repórter ao

utilizar a forma de tratamento você realizou a interrupção de um equilíbrio social

preexistente, visto que segundo as normas estabelecidas, nesse caso o tratamento

convencional seria “Vossa Excelência” ou no mínimo o “Senhor”. E, da mesma forma, o

ex-presidente, ao verificar que sua Face foi desrespeitada, além de danificar a Face do

repórter, utilizando a expressão “você é o .....”, ratifica a tendência da sociedade brasileira

em utilizar os pronomes de tratamento como uma forma de caracterizar as diferenças de

classe, mas, mais do que isso, exige a marcação dessa assimetria social e da deferência

devida ao cargo manifestada através da forma de tratamento respeitoso.

Como observado no item 3.1.1, na língua japonesa o equivalente ao pronome

você é anata (na forma neutra) e otaku (forma de respeito), porém, não são muito

29 HAVERKATE (1994, p. 217), cita BROWN e LEVINSON (1987, p.178): “There are two sides to the coin in the realization of deference: one in which S humbles and abases himsself, and another where S raises H (pays him positive Face of a particular kind, namely that which satisfies H’s want to be treated as superior)”. Tradução: “[La realización de deferência es una medalla con dos caras: por una parte, el hablante se humilla y se desprecia, por outra eleva al oyente a un nível más elevado (manifiesta una forma de cortesia positiva particular, esto es, cumple con el deseo del oyente de ser tratado como una persona de rango superior)]”.

Page 48: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

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utilizados30, a forma mais usual de tratamento são os termos que indicam a profissão ou

cargo da pessoa.

Assim, caso um repórter faça uma entrevista com o atual Primeiro Ministro do

Japão, Taro Aso, ou com uma dona de casa, jamais utilizará o pronome otaku (apesar de

ser uma forma de respeito), mas Soori Daijin (Primeiro Ministro), ou Aso Soori Daijin

(Primeiro Ministro Aso); para a dona de casa, a forma convencional, caso seu nome

completo seja Elisa Maruyama: Maruyama Elisasan(sama) (Senhora Elisa Maruyama),

ou, shufusan(sama) (senhora dona de casa).

A partir da Teoria de Polidez de Brown e Levinson, nesse contexto, as utilizações

dessas expressões de tratamento servem para proteger a Face negativa do ouvinte. Por

outro lado, conforme discutido no item 4.2, Matsumoto afirma que esse conceito de Face

negativa não pode ser aplicado à sociedade japonesa, devido à diferença na concepção

de Face e às imposições culturais e sociais pré-estabelecidas que regulam a utilização

das expressões de tratamento.

Por sua vez, os resultados obtidos por Usami, item 4.1, demonstram que na

oralidade existem opções para o uso voluntário de mudanças estratégicas de nível de fala

em japonês. Segundo a autora, as mudanças do nível super polido ou polido para a forma

não polida servem como um indicador de polidez positiva; as estratégias de polidez

negativa têm maior probabilidade de serem aplicadas em situações de FTAs

relativamente mais altos (conversa com pessoas mais velhas) e as estratégias de polidez

positiva em FTAs mais baixos (conversa com pessoas mais novas); tanto as formas não

polidas, quanto as mudanças para nível inferior e a proporção de início de tópicos

tenderam a aumentar em freqüência na proporção inversa à idade do ouvinte. Assim,

pode-se considerar que refletiram o poder (P) do ouvinte sobre o falante formulado por

Brown e Levinson.

30 Anata é um pronome de 2° pessoa utilizado para os íntimos (relações de interioridade), conforme Capítulo 3; otaku é o seu equivalente na forma de respeito (relações de exterioridade).

Page 49: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na introdução desse trabalho, falamos sobre a relevância da família imperial no

Japão, o sentimento de reverência dos imigrantes japoneses, apesar dos 100 anos de

imigração. Segundo BENEDICT (2002, p. 259), após a rendição do Japão, em 1.945, o

plano de ação dos Estados Unidos foi a conservação do Imperador, devido a sua

importância perante a sociedade, porém, ao sugerirem que o Imperador rejeitasse a sua

divindade, este teria protestado que seria um embaraço pessoal privar-se do que não

tinha. Ele teria declarado que os japoneses não o consideravam um deus no sentido

ocidental, mas concordou em fazer um discurso através do rádio, em rede nacional. Pela

primeira vez na história, no dia 15/08/1945, os japoneses ouviram a voz do Imperador,

imbuída de modéstia, respeito e cortesia.

Em um país de longa tradição feudal, cujas aldeias, cidades e regiões eram

tradicionalmente voltadas para elas próprias, cada comunidade elaborou diferentes

códigos, fundadores de uma identidade local e instrumentos para reconhecer o outro

como um ser próximo ou distante.

A natureza elaborada do sistema de expressões de tratamento da língua

japonesa ultrapassa o conceito de tratamento respeitoso. No Brasil, esse conceito remete-

nos quase sempre aos pronomes de tratamento. No Japão, há vários fatores que devem

ser levados em consideração. A questão que se colocou no início desse trabalho é se

nesse contexto, a escolha feita pelos falantes da língua japonesa, enfocando também os

pronomes de tratamento em língua portuguesa, ao utilizarem uma das formas das

expressões de tratamento praticam uma estratégia de preservação da Face, tal como

descrita na Teoria de Polidez de Brown e Levinson.

Para realizarmos esse trabalho, utilizamos a documentação indireta através da

pesquisa bibliográfica como ferramenta metodológica para a coleta de dados e

informações. Segundo LAKATOS e MARCONI (1991, p. 183), a pesquisa deve abranger

a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, dessa forma, analisamos

os livros, as publicações avulsas, as teses, e as revistas especializadas relacionadas à

pragmática, à polidez lingüística, às expressões de tratamento em língua japonesa e aos

pronomes de tratamento em língua portuguesa.

A questão da polidez é tema de vários estudos lingüísticos desde a década de 70

do século passado. A matriz pragmática da polidez foi tema de abordagem dos teóricos,

Page 50: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

44

como Paul Grice, Robin Lakoff, Erving Goffman, Penélope Brown e Stephen Levinson,

para citar apenas alguns. Esse extenso material produziu reflexos aqui no Brasil, mas até

o momento não são muitos os trabalhos relacionados ao estudo da polidez. Os objetos

aos quais se aplicam a nossa análise são as expressões de tratamento da língua

japonesa e os pronomes de tratamento da língua portuguesa.

Apesar de entenderem a polidez de um modo diferenciado, verificamos que os

autores citados acima concordam que a polidez desempenha um papel fundamental na

comunicação. Sendo responsável pelas relações cordiais e pela cooperação mútua entre

os indivíduos, a polidez se faz essencial aos propósitos com os quais uma interação

verbal é inicialmente proposta.

Ao analisarmos as expressões de tratamento em língua japonesa sobre a

perspectiva pragmático-lingüística da polidez, verificamos que os estudos merecem

complementações. Citamos apenas alguns pontos que transformam as expressões de

tratamento em um campo enorme e ainda inexplorado pelas pesquisas ocidentais: as

relações sui generis entre os tratamentos do enunciado e enunciação; as relações de

respeito e modéstia; as alterações morfológicas e léxicas; os resultados obtidos na

pesquisa de Usami Mayumi e as considerações de Yoshiko Matsumoto.

Da mesma forma, as condições de uso dos pronomes de tratamento em língua

portuguesa ainda não estão bem delimitadas, sendo que a confusão na utilização não é

uma exceção relacionada apenas ao repórter da Folha de São Paulo e ao episódio com o

ex-presidente, mas parece ser generalizada.

Torna-se importante citar que conforme PRETI (2000, p. 92),

“É preciso pensar, por exemplo, que, nas relações entre status, não se passa, de repente, de um tratamento mais formalizado como o senhor para você (e muito menos para tu), sem marcar a mudança de papéis sociais. A todo momento, vemos o embaraço que sentimos, dialogando com uma pessoa de status superior ao nosso, as passarmos de um tratamento que indica autoridade e poder (como o senhor) para outro de intimidade e solidariedade (como você) que inclui o interlocutor em nosso grupo social, ainda que haja estímulo na situação de comunicação, para que tal ocorra.” Constatamos que a “polidez” é um aspecto do uso da língua que reflete

fortemente as diferentes perspectivas culturais; por isso expressões polidas na primeira

língua podem não ser diretamente traduzidas numa segunda língua. Esperamos que esse

trabalho contribua para um melhor entendimento das expressões de tratamento em língua

Page 51: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

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japonesa e sobre a utilização dos pronomes de tratamento em língua portuguesa. À

medida que fronteiras nacionais se tornam menos visíveis e mais pessoas se engajam na

comunicação inter-cultural, pessoas de um grupo cultural podem facilmente violar as

regras de cortesia de outro grupo e isso pode causar conflito, desentendimento e

estereotipia.

Após a conclusão deste trabalho, temos uma certeza: para entender o fenômeno

da polidez primeiramente temos que apreender o contexto no qual ele ocorre, devemos

apontar a lente para a sociedade, o grupo social, para então ajustar o foco para as

interações Face a Face.

Page 52: As formas de tratamento em Japonês e Português na perspectiva da

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ANEXOS

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Anexo 1 - Ensaio da Revista Veja (19/02/1992) - “Você, tu e o senhor”