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Interletras, volume 3, Edição número 19. Abril, 2014/Setembro, 2014 - p
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AS RELAÇÕES ENTRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E AS
TECNOLOGIAS NA EAD
Patrícia Barcelos Martins*
RESUMO: Este artigo possui como temática as interações entre as Práticas Pedagógicas e as
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na Educação a Distância (EAD) a partir do contexto
do Serviço Nacional de Aprendizagem e Comércio – SENAC SC. Inicialmente será apresentado uma
explanação conceitual sobre o que é a EAD, sua evolução ao longo da história, adentrando para as
relações do aspecto pedagógico com as tecnologias, destacando a importância dos ambientes virtuais no
processo de ensino aprendizagem. Os principais autores que contribuiram na fundamentação das
discussões foram: Moran (2013), Behar (2008), Lévy (2004 e 2005), Moreira (2004), Kensi (2002), Silva
(2003), Belloni (2001), Testa (2013). O cerne deste artigo é interligar o potencial entre estas duas
nuances: tecnologia e educação, vislumbrando para um diálogo que as entrelaçam, desmistificando a
enaltação de uma em detrimento da outra. A tecnologia na nova dimensão educacional facilita, ou pelo
menos pretende facilitar o alcance de resultados, desde que usada intencionalmente, principalmente no
que concerne à conectividade dos processos de aprendizado. Desta forma, as ferramentas tecnológicas
são meios pelos quais os sujeitos envolvidos no processo educacional podem utilizar em suas práticas
pedagógicas, a fim de mediar a construção dos saberes.
PALAVRAS-CHAVES: Práticas Pedagógicas; Tecnologias; Educação a Distância.
ABSTRACT: This article is a reflection on the interactions between pedagogical practices and the
Information and Communication Technologies (ICTs) in Distance Learning (ODL). To clarify this
reflection will be presented an explanation about what is conceptual EAD, its evolution throughout
history, entering for relations with the pedagogical aspect technologies, highlighting the importance of
virtual environments in the learning process. The main contributing authors in the grounds of the
discussions were: Belloni (2001 ), Lévy (2004 and 2005 ), Kensi (2002 ), Silva (2003 ). The aim of this
paper is to link the potential of these two nuances: technology and education, glimpsing for a dialogue
that intertwine, demystifying enaltacion of one over the other . The technology in the new educational
dimension facilitates, or at least seeks to facilitate the achievement of results, if used intentionally,
especially regarding the connectivity of the learning processes. Thus, technological tools are means by
which those involved in the educational process can use in their teaching practices in order to enhance
and mediate the construction of knowledge.
Keywords: Pedagogical Practices , Technology, Distance Education .
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INTRODUÇÃO
A educação a distância vem crescendo rapidamente em todo o mundo. Incentivados
pelas possibilidades decorrentes das novas Tecnologias da Informação e das
Comunicações – TICs e por sua inserção em todos os processos produtivos, cada vez
mais cidadãos e instituições veem nessa modalidade de educação um meio de
democratizar o acesso ao conhecimento e de expandir oportunidades de trabalho e
aprendizagem ao longo da vida.
A Educação a Distância, segundo Silva (2003), é uma modalidade de ensino que tem se
tornado cada vez mais comum no mercado educacional, principalmente, na oferta de
cursos de graduação, pós-graduação, cursos técnicos, qualificação profissional e de
aperfeiçoamento.
De acordo com Brasil (1998), o artigo 80 da Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira nº 9.394/96 define a EAD como:
Uma modalidade educacional na qual a mediação didática pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios
tecnológicos de informações e comunicações com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares e tempos diversos.
Trazendo outra definição para elucidar ainda mais a EAD pela interface da relação com
a tecnologia, é possível entendê-la do seguinte modo:
É aprendizagem sistematizada que se caracteriza, basicamente, pela
separação física entre professor e alunos e a existência de algum tipo de
tecnologia de mediatização para estabelecer a interação entre eles. (BEHAR,
2008, p.16)
Essa separação mencionada acima, diz respeito à apenas a questão geográfica, pois
mediante aos esforços desprendidos através da tecnologia, pelos sujeitos mediadores:
professores, coordenadores, alunos, tutores, a atividade dialógica busca aproximar os
indivíduos minimizando os efeitos de isolamento e solidão na EAD.
Portanto, nos próprios conceitos de EAD se faz vinculação à tecnologia e é nesta
direção que este artigo demonstra sua relevância. É fato que a evolução da EAD
acompanhou as mudanças advindas da sociedade, principalmente no que tange aos
aspectos da globalização, da multiculturalidade e da fluidez das informações (Moran,
2013). Em todos esses aspectos a tecnologia está presente, mas somente quando usada
com intencionalidade pedagógica, é que ela pode mediatizar as relações entre pessoas,
conhecimentos e inovações.
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Desta forma, na expansão da educação, a tecnologia interfere nas práticas pedagógicas
ao mesmo tempo em que é repensada por esta. Na EAD as práticas pedagógicas que
envolvem os protagonistas: professor e alunos, ganham outros significados distintos
daqueles conhecidos pelo modelo tradicional de educação, apontando para uma
dimensão mais autônoma e pesquisadora.
1 ASPECTOS PEDAGÓGICOS E TECNOLÓGICOS NA EAD
As práticas pedagógicas estão entrelaçadas com o desenvolvimento tecnológico como
acabamos de observar no capítulo anterior. De acordo com Testa (2013) mesmo que as
relações entre tecnologias e educação já estejam sendo discutidas, ainda percebe-se uma
dificuldade ao tratar de seus conceitos básicos. O ponto fulcral nestas reflexões está em
tornar essas duas nuances: tecnologia e educação, como interdependentes e
complementares no processo de ensino e aprendizagem.
Sobre as práticas pedagógicas, Moreira (2004), declara que os comportamentalistas as
entendem como atividade exclusivamente observável e que gere uma atividade
concreta, cujos resultados possam ser registrados e comprovados. Os cognitivistas
compreendem a prática pedagógica como uma atividade que desenvolve o raciocínio do
educando e que o leve a resolver problemas. Já os humanistas validam todo o processo
de ensino aprendizagem priorizando as relações humanas e sociais.
Tais definições vistas isoladamente são parciais; mas se lançarmos um olhar sistemático
na EAD, elas se completam e juntas contribuem na formação do sujeito integrado.
Portanto, quando citamos aspecto pedagógico, remetemos nossas reflexões a todas as
ações que promovam tanto o ensino quanto o aprendizado na EAD desde seu
planejamento, execução e avaliação. Desta forma, todas as relações que envolvem os
sujeitos envolvidos nesta modalidade merecem nossa atenção a fim de que a dimensão
educacional da EAD, mediatizada pelo aspecto tecnológico, apresente qualidade em
seus resultados.
Mas o que vem a ser o aspecto tecnológico? São os aspectos relacionados às
Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC e correspondem, segundo Silva
(2003), a todos os recursos que interferem e mediam os processos informacionais e
comunicativos dos seres. Ainda podem ser entendidas como um conjunto de recursos
integrados entre si, que proporcionam, por meio das funções de hardware, software e
telecomunicações, a automação e a comunicação dos processos de negócios, da
pesquisa científica e de ensino e aprendizagem.
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Identificamos o caráter de mediação da tecnologia na citação acima, quando o referido
autor utiliza o verbo “proporcionam”, enfatizando que a tecnologia visa alcançar algo,
um objetivo pré-estabelecido.
O caráter diferencial da EAD, focando a necessidade do aprendiz nesta nova dimensão
educacional, privilegia o uso do conceito de inteligências conectadas, e de inteligências
coletivas propostas por Lévy (2004). Tais inteligências são fomentadas pelo uso de
processos de comunicação e tecnologias em rede que desloca a estrutura formal e
tradicional para a especificidade de cada aprendiz, personalizando e individualizando as
necessidades pedagógicas; integrando e compartilhando os conhecimentos socialmente.
Convém ressaltar que os suportes tecnológicos, mesmo sendo essenciais neste universo
da EAD, não devem ser fins em si mesmos. Sobre esta questão, Dourado (2008, p.905)
questiona que a centralidade que se tem conferido ao aparato tecnológico em detrimento
do saber pedagógico do ensino-aprendizagem pode atrapalhar o desenvolvimento da
EAD.
Deve haver integração entre as tecnologias e as relações advindas de seu uso. Essa
integração, como eixo pedagógico central, segundo Belloni (2001) pode ser uma
estratégia de grande valia, desde que se considerem estas técnicas, como meios e não
como finalidades educacionais, e que elas sejam utilizadas em suas duas dimensões
indissociáveis: ao mesmo tempo como ferramentas pedagógicas extremamente ricas e
proveitosas para a melhoria e a expansão do ensino e como objeto de estudo complexo e
multifacetado, exigindo abordagens criativas, críticas e interdisciplinares.
Dando base à reflexão acima, Kensi (2002, p.14) também declara:
Que não se trata apenas de acesso, mas principalmente as capacidades do uso
das informações. Estas são definidas não só como capacidade de operar
computadores e conexões em rede, mas, sobretudo, como habilidade de
procurar selecionar, processar informações a partir de múltiplas escolhas e
fontes (...).
Diante de um mundo globalizado, percebemos que a tecnologia é o instrumental que
possibilita o desenvolvimento das práticas pedagógicas por intermédio do uso planejado
e contextualizado das informações. As TICs, quando utilizadas com objetivos,
propiciam a filtragem dos dados e fatos, de modo a focar o aspecto pedagógico. A gama
de informações que a tecnologia propicia é imensa, e neste universo, se não houver a
seleção daquilo que realmente é pertinente, corre-se o risco de ser superficial,
desfocado, além de se dispender muito tempo e esforços. Na EAD para se manter o foco
onde se deseja chegar é necessário planejamento.
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A prática pedagógica planejada na EAD é aquela que permeará um percurso de “Design
Instrucional”. O desenho instrucional de um curso a distância requer alinhamento com
diversas instâncias, inclusive com a estrutura tecnológica que uma instituição tem a
oferecer. Isso significa que não adianta haver grande empenho no aspecto pedagógico,
se o tecnológico não estiver compatível para subsidiar as ações planejadas e vice-versa.
Sobre esse pensamento Belloni (2001, p. 60) já declara “A eficácia do uso das TICs vai
depender mais da concepção dos cursos e estratégias do que das características e
potencialidades destas ferramentas”.
Aprofundando a análise anterior, a questão que inquieta é justamente a velocidade que
evoluem tanto a questão pedagógica quanto a tecnológica. Lévy (2005) enfatizou que a
grande velocidade das inovações tecnológicas, as decorrentes mudanças no mundo do
trabalho e a proliferação de novos conhecimentos acabam por indagar e desafiar os
modelos tradicionais que enaltecem a pedagogia da transmissão de saberes. Assim, é
nítida a rapidez na evolução dos recursos tecnológicos, novos sistemas informatizados,
novos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), explosão de sites, e de novas redes
sociais. Agora, como estão as inovações nas práticas pedagógicas de cursos a distância?
À luz de seus estudos, Belloni (2001, p.64) ratifica a necessidade de se criar um
planejamento pedagógico de cursos a distância diferenciado, não linear que otimize o
uso dos recursos tecnológicos no processo de aprendizagem de forma mais
individualizada. Logo, o entendimento e aceitação do espaço virtual como
contraposição as práticas pedagógicas tradicionais, indicam para diminuição ou
atenuação das restrições existentes na questão da interatividade e da informação, uma
vez que nestes espaços tradicionais observamos a marca de programas e currículos
definidos e fechados, com calendários não flexíveis, e limitações que atingem as
condições físicas e mentais dos educandos. (Kensi, 2002). O uso dos moldes de cursos
fechados é ainda muito usual, mas para se adequar à rapidez tanto da evolução
tecnológica quanto da evolução das necessidades nos cursistas potenciais, é
fundamental a mudança nos cerne dos pilares educacionais, privilegiando um
aprendizado mais autônomo e colaborativo.
A prática pedagógica é uma atividade que se apoia em teoria, em vivências e mediações
buscando transformações dos indivíduos, e por consequência da sociedade. Esse é o
alvo da educação quer seja ela a distância ou presencial, modificar as pessoas, já
declarava Freire (1981), para que elas crescem, e se desenvolvam socialmente.
Indo ao encontro desta reflexão Belloni (2001) também afirma que as tecnologias
possuem potencial para permitir essas mudanças nos indivíduos. Contudo, cabe aos
envolvidos na educação: tutores, professores, designers, conteudista e discentes
perceberem a educação pelo prisma da interação e construção, onde o discente não é
passivo, onde educador não é o “sabe-tudo”, o detentor da verdade; mas sim o
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mediador, que através de vários recursos, incluindo os tecnológicos, irá fomentar
atividades sociais e colaborativas entre os participantes dos cursos a distância.
Nesta perspectiva, as ações pedagógicas norteadas pelo pensamento sócio interacionista,
vão ao encontro deste alvo de mudanças, interligando as pessoas através do diálogo, da
troca, da socialização e compartilhamento dos saberes individuais, se entrelaçando e
formando, como afirma Lévy (2005) numa rede de inteligências coletivas.
Ainda sobre essa mudança, Lévy (2005, p.172) declara que:
Não se trata de utilizar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de
acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que
questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura
dos sistemas educacionais tradicionais e, sobretudo, os papéis do professor e
do aluno.
Aguerrondo (2004) pactua com a declaração acima, afirmando que:
Uma coisa é o artefato tecnológico: o computador, o vídeo etc. A outra é o
pensamento tecnológico, que requer o artefato, mas existe de modo
independente. O pensamento tecnológico é a capacidade de pensar um
problema, delineá-lo, armar um projeto para resolvê-lo, buscar os materiais
necessários e conseguir solucioná-lo. O fundamental no sistema educativo é
desenvolver o pensamento tecnológico, para aplicar o conhecimento na
prática. Não é simplesmente por ter um computador que a escola e as aulas
deixam de ser ultrapassadas.
Portanto, o uso das TICs requer pensamento tecnológico, que transcende ao uso da
técnica, adentrando para os links e relações que a tecnologia pode propiciar. Esse
pensamento tecnológico está relacionado à nova percepção frente às mudanças citadas
na introdução deste artigo: globalização, multiculturalidade e a fluidez das informações.
A prática pedagógica tradicional usa (va) a tecnologia para transferir o conhecimento e
muitas vezes para manipular as massas, como citamos no capítulo anterior na década de
30 no Brasil. A educação bancária, aquela que segundo Freire (1981) percebe o
educando como alguém vazio desprovido de conhecimento, via na tecnologia a
ferramenta de reprodução e dominação, através de ideologias e paradigmas disfarçados
de cultura. Contudo, na mudança, defendida por Lévy (2005), a tecnologia apresenta sua
outra faceta: a possibilidade da discussão, do descortinamento, da quebra de
preconceitos. Em função disto, o papel da tecnologia se amplia, e com ela se amplia as
oportunidades para inovação e o aprendizado.
2 AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM - AVA
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No ensino presencial é dentro do ambiente físico da sala de aula que grande parte das
práticas pedagógicas são realizadas. Quando transpomos para a EAD, o ambiente torna-
se algo já não tão limitante, e sim mais expansivo que permite as trocas e relações,
transcendendo à questão espacial e temporal, característica típica do aspecto virtual.
Lévy (2004) em seu livro “O que é virtual” nos esclarece que o virtual não se opõe ao
real e sim ao atual. Virtual é o que existe em potencial e não em ato. Citando o exemplo
da árvore e da semente, Lévy (2004) explica que toda semente é potencialmente uma
árvore, ou seja, não existe em ato, mas existe em potência. Nem tudo que é virtual
necessariamente se atualizará. Neste caso da semente, se um pássaro a comer jamais
poderá ser árvore um dia.
Com base nestas reflexões, podemos afirmar que um ambiente virtual de aprendizagem
é um espaço fecundo para as práticas pedagógicas que envolvam seres humanos, objetos
e relações que se permitam interagir potencialmente em prol da construção dos saberes.
Segundo Silva (2003), um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) é um conjunto de
interfaces, ferramentas e estruturas decisivas para a construção da interatividade da
aprendizagem. Convergindo com essa linha pensamento, Alves e Brito (2005)
concebem um AVA como mais do que um simples espaço para publicação de material,
mas como um espaço virtual onde todos os sujeitos envolvidos no processo de ensino
aprendizagem podem se relacionar e estimular atividades de interação, de comunicação
e de discussão colaborativa.
A interação num ambiente virtual de aprendizagem é fundamental para que alunos
possam organizar suas ideais, compartilhar suas experiências e conhecimentos,
tornando-se sujeitos autônomos de sua aprendizagem. Não pode haver discussão se não
houver um espaço para tal ação e se não houver debatedores. Para que isso ocorra, a
qualidade do processo educativo depende do envolvimento de todos os aprendizes, da
proposta pedagógica, dos materiais veiculados, da estrutura e da qualidade dos
profissionais, assim como das ferramentas tecnológicas utilizadas.
Em termos conceituais, “Os AVAs consistem em mídias que utilizam o ciberespaço
para veicular conteúdos e permitir a interação entre os atores do processo educativo”
(PEREIRA, 2007, p.4). Para melhor elucidar a citação acima, se faz pertinente
comentarmos sobre esse conceito de ciberespaço.
De acordo com Lévy (2005), o ciberespaço é o novo meio de comunicação que advém
da interconexão mundial de computadores. O termo expressa não só a infraestrutura
material; mas também o universo de informações que ele comporta e os seres humanos
que navegam e alimentam esse universo, assim como todo o sistema de comunicações
eletrônicas destinadas à digitalização. Com a chegada do ciberespaço, Lévy (2005, p.
44) aponta que “o computador não é mais o centro e sim um nó, um terminal, um
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componente da rede universal e calculante” e complementa ainda que com o advento do
ciberespaço, o saber se articula à nova perspectiva de educação, em função das
diferentes formas de se construir o conhecimento e dos novos estilos de aprendizagem
(visual, auditiva, associativa...) e da emergência do compartilhamento das inteligências
coletivas.
Entendendo o AVA de maneira holística, a própria internet pode ser vista como o mais
amplo dos ambientes virtuais que permite esse compartilhamento. Nesta abordagem, o
ciberespaço pode ser entendido como um grande ferramental tecnológico, onde as
interações são utilizadas como ambientes de aprendizagem e podem promover a
construção do conhecimento.
O desenvolvimento do ambiente Moodle foi norteado por uma filosofia de
aprendizagem – a teoria sócio construtivista – que defende a construção de ideias e
conhecimentos em grupos sociais de forma colaborativa, uns para com os outros,
criando assim uma cultura de compartilhamento de significados. (ROCHA, 2007). O
Moodle foi criado em 2001 pelo educador e cientista computacional Martin Dougiamas.
Seu código é aberto e por isso ele é gratuito. Pode ser instalado em diversos ambientes
(Unix, Linux, Windows...).
As ferramentas mais comuns encontradas em um AVA, e também no Moodle são,
segundo Rocha (2007), fórum, chat, diário, lição, acompanhamento e avaliação de
alunos, relatórios de acesso, tarefa (envio de arquivo único), glossário, wiki. De forma
sucinta, apresentaremos, com base em Rocha (2007), cada uma destas ferramentas,
deixando claro que suas potencialidades variam conforme a necessidade de cada
aprendiz.
O Fórum é um recurso de interação coletiva assíncrona, isto é, os debatedores podem
estar em tempos diferentes discutindo questões relacionadas a temas levantados
geralmente pelo professor ou tutor de determinada disciplina. Permitem que os
participantes concordem, discordem uns dos outros, inserindo novos tópicos de
discussão, ou simplesmente respondendo as opiniões já registradas.
O chat é a ferramenta onde os participantes, de forma síncrona (ao mesmo tempo) e por
escrito conseguem se comunicar com data e hora pré-definidos pelo tutor ou professor.
Pode ser aplicada para toda uma turma, ou separado em grupos, caso o número de
debatedores seja muito expressivo e dificulte a interação.
Já o diário, permite ao discente realizar anotações e registros sobre qualquer assunto e
como o próprio nome sugere, sua função é similar a um diário tradicional. O outro
recurso, a lição, exibe conteúdo de uma maneira flexível e interessante, baseada em
ramificações e rotas de acesso. Consiste num número de páginas que pode ao final
conter uma questão, redirecionando o aluno pelo conteúdo disponibilizado.
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O acompanhamento e avaliação dos alunos são os recursos utilizados pelos professores
e tutores para emitir os feedbacks e registrar os conceitos ou notas sobre as atividades.
Os relatórios de acesso visualizam quem está acessando o ambiente, o tempo utilizado,
bem como todas as movimentações.
A tarefa é o recurso que requer do aluno o envio de um arquivo (exemplo: arquivo de
texto, arquivo zipado, planilha, etc). A partir do arquivo, o professor avalia e escreve
um feedback, atribuindo nota para o aluno. Quando o feedback é gravado, o aluno
recebe uma mensagem para que possa ver sua avaliação da tarefa no ambiente. Ao
cadastrar uma tarefa, o professor pode configurar uma data máxima de envio. A data de
envio e o eventual atraso podem ser vistos facilmente pelo professor no momento de dar
o feedback.
A ferramenta do glossário permite aos participantes de um curso em EAD criar um
dicionário de termos relacionados com a determinada disciplina, inserindo além dos
conceitos teóricos imagens e links. Já o Wiki é o meio pelo qual ocorre a construção de
textos colaborativos, onde cada aprendiz faz sua redação sendo permitido que seus
colegas acrescentem, retirem, aperfeiçoem o texto tanto em seu conteúdo quanto em seu
formato. No Wiki há o relatório que registra todas as movimentações, a fim de registrar
a participação dos discentes em cada parte do texto.
Todos esses recursos, aliados as ferramentas audiovisuais, web aulas, web conferências,
vídeos, hipertextos, correio eletrônico, cd´s, e-books, cadernos pedagógicos, material
impresso viabilizam a comunicação assíncrona e síncrona, possibilitando a criação de
diversas estratégias de simulação que favorecem o diálogo e a participação ativa dos
aprendizes, como defende Sartori e Roesler (2005). Nesta mesma direção, o modelo
digital, segundo o Lévy (2004, p.23) “não é lido ou interpretado como um texto
clássico, ele geralmente é explorado de forma interativa e dialógica”. O conhecimento
por simulação não se assemelha ao teórico nem ao prático, ele cria um ambiente que
simula a atividade intelectual antes da exposição racional, ou seja, o reflexo mental, a
imaginação.
O uso de todas essas tecnologias desde a impressa à digital contribui com o processo de
ensino-aprendizagem tanto na direção de promover a acessibilidade e a construção dos
saberes quanto pelas diferentes modalidades de linguagem que oferecem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Romper com os paradigmas de uma educação tradicional, integralmente presencial não
é tarefa fácil. Não temos todas as respostas para o equilíbrio entre as tecnologias e as
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práticas pedagógicas, mas buscamos incitar neste artigo questões, dúvidas sobre o
universo que circundam essa relação.
As tecnologias da informação e da comunicação são os meios pelos quais as práticas
pedagógicas podem se utilizar para aproximar ensino e aprendizado. O compromisso
ético daquele que educa a distância é o de desenvolver materiais, ideias, projetos
capazes de livrar o cidadão da massificação, mesmo quando dirigido a grandes
contingentes. Para isso, é preciso ter como foco a aprendizagem constante e superar a
racionalidade tecnológica que valoriza meios em detrimento dos fins.
A superação da racionalidade tecnológica, todavia, exige domínio das linguagens e
tecnologias e, sobretudo, abertura para a mudança de modelos, no que diz respeito a
aspectos culturais, pedagógicos, operacionais, jurídicos, financeiros, de gestão e de
formação dos profissionais envolvidos com a preparação e implementação de cursos a
distância.
Os recursos tecnológicos possibilitam a descentralização do trabalho pedagógico. Não
cabe apenas ao professor transmitir conhecimentos através das tecnologias e ao aluno
absorvê-los de maneira passiva. Face o exposto, Lévy (2005) já declarava que reformas
na educação são necessárias e uma delas diz respeito à potencialidade da educação a
distância “hipermidiática” para formar um estilo de pedagogia em que o professor é
incentivado a animar o intelecto de seus alunos, ao invés de se restringir ao papel de
fornecedor direto de informações.
A realização colaborativa de atividades num AVA é muito importante no processo de
aprendizagem. Assim, viabilizar e facilitar a participação e o intercâmbio entre alunos,
através das TICs, para debater opiniões e ideias sobre os vários temas estudados, amplia
de modo significativo as chances de crescimento não só do discente, mas também do
docente e de toda a estrutura que serve de cenário para o aprendizado.
É importante ressaltar que os ambientes virtuais de aprendizagem por mais que
ofereçam diversos recursos tecnológicos que propiciem a cooperação e interação, não
irão isoladamente conseguir que os cursistas construam seus conhecimentos, se não
tiverem a mediação pedagógica, mesmo que no nível instrucional. Obter ferramentas
tecnológicas interativas é tão fundamental; quanto ter sujeitos que antes, ou pelo menos,
paralelo a seu domínio, tenham intrinsicamente a intenção pedagógica e a capacidade de
aprender sempre, haja vista que tudo é mutável e passível de evolução constante.
Fomentar práticas pedagógicas dialógicas na EAD que permitam se reavaliar a cada
etapa do processo, buscando transparência, diversidade de linguagem e de tecnologia, e
pesquisa constante, requer tempo, organização, políticas públicas de incentivo e um
olhar de estranhamento que possibilite crescimento.
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Tecnologia e Educação caminham entrelaçadas como se fosse o trilho de um trem,
devidamente ajustadas, sujeitas a modificações e manutenções constantes para que não
enferrujem e sofram com o desgaste do tempo. Mas esse mesmo tempo que corrói
também é o mesmo tempo que possibilita as inovações pedagógicas, tecnológicas, bem
como as mudanças nas pessoas e na sociedade!
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influência da autodsciplina e da necessidade do contato social de estudante. Disponível
em http:// professores.ea.ufrgs.br. Acesso em: 09 de outubro de 2013.
*Professora do Centro Universitário de São José - USJ em SC no curso de Pedagogia na disciplina de
Estágio do Ensino Fundamental, bem como orientadora de TCC. Tutora a distância no curso de
Pedagogia da Universidade Estadual de Santa Catarina – UDESC. Tutora Presencial no Curso de
Administração da Universidade do norte do Paraná –UNOPAR. Professora da Faculdade SENAC
ministrando diversas disciplinas na área de humanas: metodologia científica, relações humanas, liderança,
comunicação. Autora de três artigos na área da educação.