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1 AS TRAGÉDIAS GREGAS E O CONFLITO ENTRE O CRIME E O CRIMINOSO: DESCONSTRUÇÃO DA VISÃO CRIMINOLÓGICA FOCADA NO CRIMINOSO COMO OBJETO DE ESTUDO 1  DIOWÂNIA DE JESUS SANTOS FERREIRA RESUMO O presente trabalho objetiva uma abertura científica que permita à criminologia o reconhecimento de variáveis que influenciam na construção dos conceitos de crime e criminoso desviando o foco do estudo criminológico para que este deixe de se preocupar com o sujeito criminoso e passe a considerar apenas o crime como seu objeto. Sendo necessária essa abertura, este artigo propõe que ela ocorra através da quebra do paradigma científico moderno e adoção dos métodos transdisciplinares de estudo, mais especificamente integrando direito e literatura, enquanto dois ramos científicos comprometidos com a compreensão do homem inserido em seu espaço social. Para representar a literatura, as tragédias gregas foram o gênero literário utilizado por trazerem em seu enredo o conflito do homem contra os desígnios que o impulsionam ao cometimento de delitos, e em sua origem a dicotomia entre o verdadeiro e o fantasioso, conceitos representados pelas características atribuídas aos deuses Dionísio e Apolo, respectivamente. Dessa forma, visa-se demonstrar a importância da abertura do estudo do crime a partir de uma abordagem transdisciplinar que torne o direito mais apto a compreender o homem e a sociedade. Palavras-chave:  Criminologia. Literatura. Tragédias gregas. Tr ansdisciplinaridade. 1 INTRODUÇÃO  A criminologia, em seu início, através da teoria bioantropol ógica do estudo do crime, focou seu objeto no sujeito autor do ilícito, com a intenção de legitimar o 1  Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora da Faculdade de Direito da Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul como exigência parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Integraram a referida banca os professores Clarice Beatriz da Costa Söhngen (orientadora), Fernanda Sporleder de Souza Pozzebon e Flávio Cruz Prates. 

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AS TRAGÉDIAS GREGAS E O CONFLITO ENTRE O CRIME E O CRIMINOSO:DESCONSTRUÇÃO DA VISÃO CRIMINOLÓGICA FOCADA NO CRIMINOSO

COMO OBJETO DE ESTUDO1 

DIOWÂNIA DE JESUS SANTOS FERREIRA

RESUMO

O presente trabalho objetiva uma abertura científica que permita à

criminologia o reconhecimento de variáveis que influenciam na construção dos

conceitos de crime e criminoso desviando o foco do estudo criminológico para que

este deixe de se preocupar com o sujeito criminoso e passe a considerar apenas ocrime como seu objeto. Sendo necessária essa abertura, este artigo propõe que ela

ocorra através da quebra do paradigma científico moderno e adoção dos métodos

transdisciplinares de estudo, mais especificamente integrando direito e literatura,

enquanto dois ramos científicos comprometidos com a compreensão do homem

inserido em seu espaço social. Para representar a literatura, as tragédias gregas

foram o gênero literário utilizado por trazerem em seu enredo o conflito do homem

contra os desígnios que o impulsionam ao cometimento de delitos, e em sua origem

a dicotomia entre o verdadeiro e o fantasioso, conceitos representados pelas

características atribuídas aos deuses Dionísio e Apolo, respectivamente. Dessa

forma, visa-se demonstrar a importância da abertura do estudo do crime a partir de

uma abordagem transdisciplinar que torne o direito mais apto a compreender o

homem e a sociedade.

Palavras-chave: Criminologia. Literatura. Tragédias gregas. Transdisciplinaridade.

1 INTRODUÇÃO

 A criminologia, em seu início, através da teoria bioantropológica do estudo

do crime, focou seu objeto no sujeito autor do ilícito, com a intenção de legitimar o

1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora da Faculdade de Direito daPontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul como exigência parcial para a obtenção de

grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Integraram a referida banca os professoresClarice Beatriz da Costa Söhngen (orientadora), Fernanda Sporleder de Souza Pozzebon e FlávioCruz Prates. 

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seu status de ciência natural. No entanto, estudar o crime através do criminoso traz

muitas discrepâncias e, uma vez que o crime é um ente jurídico, não natural, não

científico e passível da influência de variáveis, essas discrepâncias tornam-se

graves e, mais grave ainda é que todo esse estudo reflete-se na maneira de

perceber o direito penal.

 Assumir que o direito  –  especialmente o penal  –  não é tão dogmático

quanto se pretende fazer parecer e promover a desconstrução desse foco

criminológico voltado para a pessoa de criminoso é a proposta deste trabalho. E se

propõe a isso através da transdisciplinaridade, que permite ao direito a promoção de

trocas com outras disciplinas, buscando nelas formas de estudar diversos elementos

importantes para sua auto compreensão.Ser transdisciplinar é transitar pelas demais disciplinas colhendo delas

outras visões que podem renovar a forma de estudar um determinado objeto. Neste

artigo a transdisciplinaridade do estudo do direito será demonstrada estabelecendo

relações com a literatura, pois ambas as disciplina trazem o homem, suas angústias,

influências, e conflitos, como foco de seus estudos.

 A literatura pode ser representada por diversos gêneros literários, em

especial as tragédias gregas, que serão o gênero utilizado devido a sua fortededicação em tentar explicar os conflitos do homem e a origem de muitas dicotomias

que colocam os indivíduos em situação de escolha. Contemplar o estudo

criminológico através do prisma da transdisciplinaridade é a proposta deste trabalho,

tentando utilizar as tragédias gregas para demonstrar a complexidade do homem e a

utilidade da literatura para a compreensão do ente delitivo.

2 CRIMINOLOGIA(S)

2.1ESCOLA CLÁSSICA

Durante os séculos XVI e XVII, a partir do desenvolvimento da classe

burguesa e surgimento de uma nova ética protestante, começaram a surgir os

primeiros pensadores humanistas, preocupados em transformar o Direito a fim de

adequá-lo aos novos anseios sociais que não mais aceitavam um ordenamento

instável e baseado na “vontade de Deus”. 

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Nesse contexto social iluminista, surgiram, como descreve Alessandro

Baratta, em seu “Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal”, os primeiros

impulsos fundamentais que deram origem ao Direito Penal italiano, consolidando o

que foi chamado de Escola Clássica, movimento jusfilosófico que contou com as

contribuições de Francesco Carrara, fortemente inspirado nas obras de Filangieri,

Romagnosi e principalmente Cesare Beccaria2.

 Através de seu livro “Dos Delitos e Das Penas”, escrito em 1764, Beccaria

iniciou a fase de pensamento filosófico do Direito Penal italiano, que mais tarde daria

origem à criminologia enquanto ciência independente do Direito Penal normativo3,

abrindo as portas da criminologia clássica e difundindo uma forma de pensar o crime

e o Direito Penal sob uma ótica filosófica e utilitarista, ou seja, que buscava a maiorfelicidade possível para o maior número de pessoas, baseada nas ideias de contrato

social de Rousseau e divisão de poderes de Maquiavel4, e defendia a pena como o

mínimo sacrifício necessário da liberdade individual para a proteção do contrato

social e manutenção no maior número de pessoas felizes. 

Na mesma linha também atuou Giandomenico Romagnosi, defendendo,

em seus livros “Gênese do Direito Penal” e “Filosofia do Direito” 5, a necessidade de

um sistema penal surgido a partir da filosofia do direitoEnfim, Francesco Carrara, em 1859, com sua obra “Programa do Curso

de Direito Criminal”, sintetizou toda a ideologia penal iluminista, racionalista e

 jusnaturalista da época, dando origem à moderna ciência do Direito Penal italiano,

que veio a influenciar toda a Europa e, mais tarde, boa parte do mundo6. Carrara

diferenciou o direito positivo do direito natural, conceituando o direito positivo como a

legislação vigente e o direito natural como uma lei absoluta e imutável que defende

direitos inerentes a todos os homens independentemente de qualquer variável, e, apartir dessa diferenciação, concluiu que o crime, enquanto violação de um direito

natural predeterminado de outrem, é um ente jurídico, e não um ente de fato. Dessa

2 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Editora Freitas Bastos:Instituto Carioca de Criminologia, 1999. Rio de Janeiro. p. 323 BECCARIA, Cesar. Dos Delitos e Das Penas. Tradução: Paulo M. Oliveira. Edições de Ouro, Riode Janeiro.4 Ibid. p. 33-345 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Editora Freitas Bastos:

Instituto Carioca de Criminologia, 1999. Rio de Janeiro. p. 34 6 Ibid. p. 36

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forma, a pena deve funcionar para inibir novas práticas delituosas, não para retribuir

ou reeducar o apenado. 

 As ideias que Radzinowicz atribui a Carrara, de que o principal objetivo do

direito criminal e da ciência criminal é prevenir os abusos por parte das autoridades,

e que o crime não é uma entidade de fato, mas uma entidade de direito, constituíram

patrimônio comum aos iluministas, desde os filósofos, até aqueles que se dedicaram

diretamente ao problema criminal7.

 Através desses pensadores, e a fim de desenvolver uma forma pioneira

de visualizar o direito penal e a pena, surge a criminologia, através da escola

clássica, que trouxe a discussão da utilidade da pena, enquanto forma de proteger

violações voluntárias a direitos de indivíduos inseridos em uma sociedadeconsensual.

2.2 ESCOLA POSITIVA (ANTROPOLÓGICA)

Diante da falência do pensamento filosófico proposto pela Escola

Clássica, observado através do descrédito dado a suas teorias otimistas iluministas

em relação ao delito e à pena, face aos altos índices de reincidência e diversificaçãodos delitos, era necessária uma mudança de tônica que fosse fundamentada pelo

novo pensamento filosófico positivista que surgia na época, fortemente influenciado

pelas obras de Charles Darwin e sua teoria do evolucionismo8.

Para a Escola Clássica, a expressão do delito ocorria através de uma

ação juridicamente qualificada, possuidora de uma estrutura real e um significado

 jurídico autônomo, que surge de um ato de livre vontade de um sujeito (BARATTA,

1999, 38). Negando essa hipótese objetiva do delito, surgiu a Escola Positiva, diantede uma nova visão criminológica baseada em uma filosofia naturalista.

Cesare Lombroso, em seu livro “O Homem Delinquente”9, considerou o

crime como um fenômeno natural, sendo possível determiná-lo por causas

biológicas que se originariam, sobretudo, de hereditariedade, criando assim sua

teoria do atavismo, que significava a herança genética trazida dos antepassados

mais remotos e aflorada através da inclinação para a prática delituosa.

7

 Ibid. p. 7-88 DIAS, op. cit., p. 119 LOMBROSO, Cesar. O Homem Delinquente. Editora Ícone, 2007. São Paulo. 

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Rafaelle Garófalo e Enrico Ferri ampliaram as visões antropológicas

adotadas por Lombroso, tendo o primeiro acentuado os fatores psicológicos,

enquanto o segundo focou nos fatores sociológicos do delito, dispondo-os em três

classes: fatores antropológicos, fatores físicos e fatores sociais. O delito foi então

reconduzido a uma visão determinista, na qual todo o comportamento do homem é

definido pelo seu contexto psicológico. Dessa forma, o sistema penal da escola

positivista seria determinado de acordo com a tipologia da personalidade do

delinquente10. 

 Ao classificar os criminosos através da visão do delito como quadro

sintomático de determinada característica ou anomalia, os positivistas buscavam

encontrar não uma pena, mas uma cura para a vontade delitiva, uma vez que umadas principais teses defendidas era de que a pena era absolutamente inútil face ao

caráter inevitável do comportamento criminoso hereditário do individuo.

 A pena, portanto, perde o caráter repressivo adotado pelos criminólogos

da escola clássica, assumindo um papel retributivo, segregativo, protegendo a

sociedade do criminoso, e uma função reeducadora, baseada na classificação da

tipologia de autores proposta por Ferri, ou seja, o criminoso seria separado da

sociedade para evitar que causasse mais danos, examinado, diagnosticadoconforme as tipologias de autores, tratado, curado e devolvido ao convívio social.

 Aos criminólogos da escola positiva pode-se atribuir a responsabilidade

por tentar dissociar o estudo criminológico do positivismo do Direito Penal. No

entanto, essa ruptura, desconsiderou que era exatamente no Direito Penal que, até

então, a Criminologia buscava os conceitos que embasavam a realidade que

pretendia estudar. A Escola Positivista, a fim de construir suas teorias das causas da

criminalidade, buscou seu objeto entre os indivíduos selecionados pelos inúmerosfiltros da justiça penal. Ocorre que, desde a criação das normas penais até sua

efetiva aplicação, existem diversos mecanismos seletivos, para os quais muito

importa a classe social do criminoso11. 

 A fim de ser alçada ao status de ciência natural, a criminologia passou por

muitas alterações, onde a principal delas foi a adoção de um objeto de estudo que

pudesse ser conceituado, delimitado e examinado empiricamente. Os positivistas

10

 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Editora Freitas Bastos:Instituto Carioca de Criminologia, 1999. Rio de Janeiro. p. 39 11 Ibid. p.40

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tentaram enxergar o crime como fenômeno natural, e realizar seu estudo através do

mesmo processo utilizado para as ciências naturais, como observação e pesquisa

de fenômenos.

No entanto, como os próprios criminólogos da escola clássica já haviam

postulado, o crime não se trata de um fenômeno natural, mas sim um ente jurídico

que depende, necessariamente, de um direito natural preestabelecido, para ser

reconhecido como tal. Dessa forma, logo os positivistas perceberam que,

contrariamente ao que intencionavam, o crime não serviria como objeto para a

criminologia, pois não é um fenômeno natural, passível de ser enquadrado nos

métodos de estudo das ciências naturais, estando firmemente atrelado ao

normativismo jurídico, já que impossível estudar o que é e o que não é crime semuma reflexão sobre o código penal, ou, conforme determinava Carrara, sobre os

direitos inerentes aos indivíduos. Dessa forma, sendo impossível aplicar ao crime o

método desejado, alteraram o objeto de estudo do crime para o criminoso12.

Para estudar o criminoso, os criminólogos se dirigiram especificamente

para a camada de pessoas que habitam os presídios, que escapam ao fenômeno

denominado por Augusto Thompson como “cifra negra”, que consiste na impunidade

da grande maioria dos criminosos, por motivos diversos, como a falta de denúncia,investigação ou processo, ou a simples não localização do suspeito13.

Neste ponto, reside o grande conflito criado pelo estudo criminológico

positivista, e que traz inconvenientes até hoje encontrados, que muitas vezes

impossibilitam uma abordagem mais filosófica e menos determinista do crime e do

criminoso.

2.2.1 Teorias Bioantropológicas

Entre as teorias que compuseram o estudo etiológico dado às ciências

criminológicas, destaca-se a teoria bioantropológica, que mantinha o foco no estudo

individual do criminoso, privilegiando as questões de seu âmbito pessoal, em

detrimento das questões que permeiam o ambiente em que vive.

12

 THOMPSON, Augusto. Quem são os Criminosos? O Crime e o Criminoso: Entes Políticos .Lumen Juris, 1998. Rio de Janeiro. Cap. II.13 THOMPSON, loc. cit. 

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Essa teoria atribui ao crime fatores que fazem parte da composição

orgânica do criminoso, tentando explicar o crime através de uma predeterminação

que não vinha delineada pelo meio ao que o criminoso pertence, mas por fatores

biológicos que o impedem de tomar decisão contrária ao delito, demonstrando assim

o caráter determinista da criminologia bioantropológica14. Para a bioantropologia, o

criminoso era um ser diferente e que também seria vitima do crime, uma vez que

fugiria ao seu alcance lutar contra sua própria natureza criminosa. Lombroso foi um

grande representante dos defensores desta teoria juntamente com outros

frenologistas, fisionomistas e alienistas15. 

 A hereditariedade teve papel importante, uma vez que a inferioridade

que conduzia o indivíduo ao cometimento de atos delitivos seria um fatorgeneticamente herdado. Ainda, haveria uma possibilidade de as características que

inclinariam o indivíduo ao delito poderiam permanecer latentes e ser despertadas em

função do contexto sociológico em que estivesse inserido. A sociedade seria

responsável por despertar o mal herdado geneticamente pelo indivíduo inferior.

 Atualmente, as teorias bioantropológicas servem aos criminologistas

positivistas modernos mais como uma variável a ser considerada no estudo do delito

e do delinquente do que um fator determinante e irrefutável que por si só justificariae explicaria toda a prática delitiva.

2.2.2. Teorias Psicodinâmicas

Também pertencente à escola etiológica positivista, as teorias

psicodinâmicas passaram a atribuir o delito muito mais aos fatores educacionais do

indivíduo do que aos fatores genéticos, como fazia a teoria bioantropológica

16

. O que diferenciaria o criminoso do sujeito normal, não seria mais a árvore

genealógica menos ou mais presente nas instituições carcerárias, mas toda a

questão psicológica que teria levado esse indivíduo a ser mais ou menos educado

para cumprir as normas sociais. 

14 DIAS, Jorge de Figueiredo e ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinqüentee a sociedade criminógena. Editora Coimbra, 1997. Coimbra. p. 16915

 Ibid, p. 171 16 Ibid. p. 178

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8

 As teorias psicodinâmicas do comportamento defendiam que a

personalidade de alguém forma-se a partir dos conflitos psicológicos e a forma como

são solucionados, o que geralmente ocorrerá durante a infância. Diversas forças

internas vão formar os motivos pelos quais alguém age ou deixa de agir de acordo

com as normas sociais.

Sigmund Freud contribui fortemente para esta teoria, através de seus

estudos sobre a personalidade e observação de pacientes neuróticos. Segundo ele,

as pessoas têm uma porção consciente e uma inconsciente em sua mente, e que

determinados traumas ou conflitos não resolvidos são armazenados no inconsciente

e refletidos nas atitudes dos indivíduos a fim de exteriorizar essas frustrações, no

que foi chamado de comportamento anormal 17 , que pode manifestar-se de diversasformas, inclusive através de práticas criminosas.

2.2.3. Teorias Psicossociológicas

Nessa linha teórica, se sobressaíram a interpretação adotada pela

“containment theory ”, criada por Walter Reckless, e a teoria do vinculo social de

Travis Hirschi. Essas teorias levantaram a hipótese na qual o questionamento quedeve ser feito diante do problema do delito, é “por que não delinquimos” ao invés de

“por que delinquimos?” 18.

 A inversão trazida pela criminologia com enfoque psicossociológico, se

baseia em um retorno aos ensinamentos de Plauto, mais tarde reproduzidos por

Hobbes quanto à maldade natural do homem (homo homini lupus). A proposta é

compreender o que leva o homem a abandonar sua característica naturalmente

delitiva e cumprir as normas sociais. Nessa perspectiva, quem deve ser estudado éo não criminoso, pois ele é o ser que foge a normalidade de sua espécie para se

adaptar a uma forma de vida social.

Reckeless se propõe a estudar quais os fatores que levariam o

individuo a refrear seu instinto delitivo através da containment theory , uma teoria que

busca uma explicação alternativa às conclusões etiológicas, através de uma nova

17 DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. Tradução: Lenke Perez. 3º Edição. Editora

Makron Books, 2001. São Paulo. p. 505-51018 DIAS, Jorge de Figueiredo e ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinqüente

e a sociedade criminógena. Editora Coimbra, 1997. Coimbra. p. 217

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postura cientifica que vai deixar de lado tanto o estudo da individualidade do

criminoso, como a influência dos modos de vida grupais sobre a formação deste.

Estes fatores não serão mais encarados como causas do crime, mas como variantes

que podem influenciar o individuo a não cometê-lo19.

Travis Hirschi em sua obra “Causas da Delinquência” cria o conceito de

social bond , ou seja, uma contenção social, que, se rompida, favorece ao indivíduo o

cometimento de crimes. Já a teoria do vínculo social criada por Hirschi, trará como

forte base o conceito de anomia, anteriormente trazido por Durkheim, defendendo

que uma sociedade doente cria indivíduos doentes20.

 Através dos elementos de apego, empenho, envolvimento e crença.

Hirschi explica o papel da anomia na criminalização das classes desfavorecidas. Ainda, o estudo da criminologia com enfoque nas características psicossociológicas

do delito trouxe consigo as teorias da frustração-agressão, criado por Freud na qual

o crime se apresenta como uma resposta a uma determinada frustração; a teoria do

crime por sentimento de injustiça, que traz o crime como uma reação do criminoso a

uma situação desfavorável à qual ele responde aplicando o próprio código moral; e

as técnicas de neutralização de Skyes e Matza, que explica que o criminoso,

compreende e interioriza muito bem as normas às quais descumpre, e só pode fazê-lo após um processo de neutralização, conforme explica José de Figueiredo Dias,

em seu livro “Criminologia: o homem delinquente e a sociedade criminógena” 21.

2.3 CRIMINOLOGIA MODERNA (OU ECLÉTICA)

Conhecida como Terceira Escola, a Criminologia Moderna trouxe consigo

a busca de uma nova forma de perceber o crime, passando a negar o consensosocial, conceito fundamentador das teorias criminológicas anteriores. Aqui o foco

passa a ser investigar porque determinadas pessoas são apontadas como

criminosas. Surgiu como uma manifestação crítica às teorias anteriores que

buscavam o problema do crime no criminoso, na sua formação biológica e

psicológica, enquanto ignoravam a possibilidade de que o criminoso pudesse, de

19 DIAS, Jorge de Figueiredo e ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinqüente

e a sociedade criminógena. Editora Coimbra, 1997. Coimbra. p. 218-21920 Ibid. p. 222-22321 Ibid. p. 224-228 

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alguma forma ser fruto do meio, partindo da premissa de que teria havido

inicialmente um contrato social, respeitado por todos, e ao qual o criminoso, por

algum motivo particular, não conseguira se adaptar 22. 

Dessa forma, a criminologia moderna voltou-se para os processos de

criminalização, através do estudo das relações de desigualdade típicas de uma

sociedade baseada em um sistema econômico capitalista, procurando formular, pela

primeira vez dentro da criminologia, uma crítica às desigualdades de direito

decorrentes das desigualdades sociais.

 A pluralidade de grupos e subgrupos sociais e a inexistência de acesso

de um grupo a outro, gerou uma tendência a uma criação de novos valores, ou seja,

a mudança de uma classe social desfavorecida para a classe social dominantetornou-se praticamente impossível, o que fez com que os desfavorecidos deixassem

de almejar ascensão social e passassem a criar um código moral novo que desse a

sua classe uma forma de identificação. Até mesmo as escolas foram alvo de critica,

como iniciadoras do processo de segregação, através do sistema meritocrático, que

teria a intenção apenas de manter inferiores aqueles que por possuir dificuldades

sociais, apresentasse também dificuldades escolares. Dessa forma, os “bons alunos”

são beneficiados e incentivados enquanto os “maus alunos” são mantidosmarginalizados, passando a sofrer discriminação pelos próprios colegas, incitados

por um sistema educacional exclusivo23.

 Assim, essa escola passou a definir o crime e o ato delitivo como produto

de uma definição dada por uma classe social, questionando a legitimidade que uma

legislação parcial teria para reger os atos de indivíduos que não foram considerados

no momento da elaboração da lei. Nesse contexto, os juízes seriam os

segregadores, pois seriam os responsáveis por determinar que um criminoso o é, eestigmatizá-lo com uma sentença condenatória, o que se efetiva através da

incapacidade do magistrado em compreender o universo do criminoso quando esse

pertencesse a uma camada social desfavorecida. No entanto, quando o criminoso

pertencesse a uma camada privilegiada, o juiz sentiria uma espécie de empatia,

tendendo a esperar dele uma maior possibilidade de agir conforme a lei. 

 Alessandro Baratta ensina:

22 BARATTA, op. cit., cap. XV23 BARATTA, op. cit., p. 171-175

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11

“A distância linguística que separa julgadores e julgados, a

menor possibilidade de desenvolver um papel ativo no processo e de servir-

se do trabalho de advogados prestigiosos, desfavorece os indivíduos

socialmente mais débeis” 24.

Com base em toda essa ideologia, a escola moderna passou a defender

uma nova forma de pena, que evitasse a estigmatização do criminoso causada pelo

sistema carcerário. O uso de sanções pecuniárias e outras formas de benefícios

seriam aplicados como regra e a prisão seria a exceção a ser aplicada a casos

gravíssimos.

2.3.1 Escola Sociológica

 Apesar de terem surgido os primeiros estudos criminológicos com

enfoque sociológico ainda durante a predominância da Escola Antropológica de

Lombroso, é durante o III Congresso Internacional de Antropologia Criminal, ocorrido

em Bruxelas, no ano de 1892, que começam a surgir os primeiros defensores das

teorias sociológicas, tendo no século seguinte assumido a maioria entre os novos

criminólogos.

Durkheim teve importante papel na construção do pensamento

sociológico dentro da criminologia devido às suas teorias que se orientavam pela

relação contraditória entre o consenso supostamente assumido para a vida em

sociedade, e o conflito resultante desta, através do conceito de anomia, que seria a

ausência de normas sociais, o que teria uma relação direta com os índices delitivos.

Tarde25  foi responsável pelas leis da imitação, segundo as quais,

dentro de uma divisão hierárquica, o menor tende a imitar aquele que lhe é

imediatamente superior. Ainda, colocou a miséria como fator menos importante paraa frequência delitiva do que a discrepância entre os desejos dos indivíduos e os

recursos disponíveis na sociedade.

2.3.2 Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social

O acelerado processo de industrialização das cidades trouxe inúmeros

problemas que não tardaram a chamar a atenção dos estudiosos da época.

24 BARATTA, op. cit., p. 17725 DIAS e ANDRADE, 1997. loc. Cit.

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12

Percebeu-se que a enorme diversidade cultural que se aglomerava nos centros

urbanos trazia consigo um sem número de códigos de conduta que podiam dar a

todas aquelas pessoas opções entre agir dentro da lei, ou transgredí-la das mais

diversas maneiras possíveis.

Nesse contexto social, Disraeli, celebrizou a máxima: “O cristianismo

 proclama o mandamento do amor ao próximo; (...) mas na sociedade moderna não

existe qualquer próximo” . Fica demonstrada a situação da sociedade urbana da

época, onde família, vizinhança, religião e escola haviam perdido suas funções de

controle, deixando cada um a mercê de suas próprias escolhas26.

Os imigrantes foram os principais objetos de estudo, através da

observação de sua adaptação ao novo ambiente, assimilação de condutascriminosas e conflito de culturas com os moradores locais.

O conceito de desorganização social, surgido dentro da escola

ecológica, foi formulado por William Thomas, e significava a ausência de valores a

serem exigidos da sociedade em geral. A sociedade estava tão diversificada que se

tornava impossível exigir um modelo de comportamento padrão de indivíduos tão

diversos. Haveria, no entanto, uma mudança cíclica que alternaria a situação de

desorganização com a de organização social  –  assim que os indivíduos seintegrassem como uma sociedade só  –  para depois novamente tornar-se

desorganizada com a inserção de novos indivíduos alheios àquele ambiente.

 A desorganização social teria por consequência a ausência de controle

sobre a sociedade, que diante da grande diversidade cultural, conhecida como slum,

impedia a adoção de códigos morais padronizados e a manutenção da solidariedade

entre os indivíduos. A partir dai era muito fácil que os indivíduos, principalmente

 jovens, buscassem no ato delitivo e na chamada tradição delinquente, a soluçãopara a presente falta de referência social27. Nesse contexto, surgem as gangs:

grupos de jovens que buscavam entre si referências delinquentes que pudessem

lhes servir de modelo. 

 A mudança do pensamento determinista do foco psicológico para o

foco social foi a grande contribuição da escola de Chicago, além da importância,

26

 Ibid, p. 269.27 DIAS, Jorge de Figueiredo e ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinqüentee a sociedade criminógena. Editora Coimbra, 1997. Coimbra. p. 277.

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antes ignorada, de um modelo de conduta social para a manutenção de uma

organização social razoável.

2.3.2 Teorias da Subcultura Delinquente

 A principal característica desta escola foi a inexistência de uma única

teoria norteadora, havendo várias linhas de estudos, que divergem nos mais

diversos pontos entre a gênese e as consequências da subcultura delinquente.

De forma geral, o conceito de subcultura, conforme Jorge de

Figueiredo Dias, demonstra algo como uma cultura dentro da outra, respeitadas as

peculiaridades e divergências do conceito de cultura, enquanto modelo deidentificação coletiva28. 

 A subcultura delitiva surgiria então a partir do momento em que,

ausente os modelos morais na sociedade externa, os indivíduos passassem a

realizar uma interiorização com seus iguais onde poderiam acabar por desenvolver

um código de conduta onde o crime seria imperativo. O ato delitivo seria, portanto,

nesses casos, apenas uma forma de se sentir socialmente incluído em algum grupo

social, enquanto o indivíduo tenta corresponder às expectativas do restante dogrupo, e obter status e respeito do mesmo.

Uma curiosidade percebida pelos estudiosos das teorias das

subculturas delinquentes é que a busca de novos valores não é completa,

permanecendo entre os marginalizados, alguns valores inerentes às classes médias

e dominantes, como por exemplo, a busca por sucesso econômico e

reconhecimento social. De alguma forma, os delinquentes mantinham valores em

comum com os privilegiados. No entanto, essa integração de valores serviria apenaspara intensificar os sentimentos de fracasso social, assim que os desprivilegiados

percebessem que não poderiam lutar por sucesso e dinheiro em pé de igualdade

com a classe dominante. E era no seu grupo social delinquente que o indivíduo

fracassado iria buscar a solução para seu sentimento de frustração.

28

 DIAS e ANDRADE, op. cit., 278-279.

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 Assim, os jovens que não conseguem jogar o jogo de poder conforme

as regras estabelecidas pelas classes dominantes, buscam outro grupo social que

estabeleça regras alcançáveis dentro de suas possibilidades e limitações sociais.

Houve ainda a manifestação de uma espécie de grupo delinquente

formado por jovens de classe média. Esse grupo veio como forma de escape contra

problemas que os jovens começavam a enfrentar devido às mudanças sociais que

vinham ocorrendo, que culminavam basicamente na perda da função que os jovens

exerciam em sociedade, uma vez que as novas legislações afastavam os jovens do

mercado de trabalho, canalizavam-nos para meios urbanos, e instituiam a educação

obrigatória.

Dessa forma, desorientada, a juventude passa a procurar satisfação emum estilo de vida conhecido como “fun and games” , que caracterizava o

descomprometimento desses indivíduos com as questões sociais. A verdadeira crise

de identidade enfrentada pelos jovens de classes sociais privilegiadas acabou

resultando na mesma busca de auto identidade enfrentada pelos jovens de classes

sociais débeis, e é na subcultura que esses indivíduos vão encontrar os valores

próprios a defender e as condutas comuns a adotar 29.

O problema dos jovens delinquentes de classe média, no entanto, não foirecebido com o mesmo repúdio pela sociedade, pois estes contavam com a

proteção dos pais e de seus pares sociais, o que impediu que as condutas delitivas

adotadas atribuíssem a esses jovens a mesma imagem delinquente experimentada

pelos jovens de classe inferior. Eles gozavam de verdadeira imunidade para praticar

os crimes que achassem necessários em busca de sua identificação social perdida.

2.3.3 Teorias da Anomia ou da Estrutura da Oportunidade

O conceito de anomia, do ponto de vista macrossociológico adotado

por esta escola, não representa simplesmente um estado de espírito do indivíduo em

crise de identificação com a sociedade em que vive, mas a ruptura dos padrões

sociais coercitivos que acaba por acarretar uma ausência de coesão social. Em

resumo: todos ficam abandonados à própria sorte e à própria vontade.

29

 DIAS e ANDRADE, op. cit., p. 305.

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 As teorias etiológico-explicativas do crime tiveram seu ponto de

chegada marcado pela teoria da anomia e sua descoberta das tensões sociais que

levavam os indivíduos ao cometimento de delitos, como forma de solução a essas

tensões. A principal descoberta se deve à defesa da teoria de que a sociedade cria

seus próprios criminosos, e que longe de ser uma aberração social, o crime seria o

resultado normal do funcionamento da vida coletiva humana. A exclusão do conceito

de anomalia dada ao crime vem pautada pelos valores de ambição implantados nos

indivíduos da sociedade. A sociedade influencia seus integrantes a serem

ambiciosos e buscarem o máximo possível de bens, e, no entanto, fornece uma

quantidade limitadíssima.

O grande problema da ambição fomentada no meio social e daausência de bens suficientes para todos os indivíduos, é que a luta pelos bens e

valores é desigual. Indivíduos socialmente inferiores competirão com as classes

privilegiadas e já entram na disputa, portanto, fadados à derrota. E quando se fala

em bens, não significa apenas bens físicos, mas status, respeito, reconhecimento

social, entre outros de grande estima em uma sociedade capitalista. 

Esse determinismo sociológico que orientou os estudos de Durkheim

foi a principal característica da teoria da anomia, que faria com que uma sociedadefosse incapaz de lidar com o conflito de interesses entre os indivíduos, e é isso que

tornaria a atividade delitiva uma resposta natural. Ironicamente, o consenso social

que, nas outras teorias, seria a unidade ofendida pelo crime, aqui é a unidade

causadora do problema delitivo. Dessa forma, ao invés de reeducar o criminoso, a

sociedade é quem deve ser reeducada para cessar a produção de criminosos. 

 A sociedade poderia, portanto, pautar-se por dois aspectos estruturais,

sendo um cultural, onde cada subsociedade desenvolve seus objetivos e osmétodos legítimos de atingi-los; e um social, que conta com um conjunto organizado

de normas segundo as quais todos podem competir de maneira igualitária, através

dos mesmos modos legítimos, pelos mesmos objetivos.

Dois tipos de sociedade podem surgir da relação meios e fins

estabelecida: uma sociedade que se preocupe apenas com os fins, negligenciando

as normas que definirão os meios de alcançar os objetivos; e uma sociedade que

supervaloriza os meios, tornando-os fins em si mesmos. A primeira sociedade

sofrerá de uma carência moral grave, enquanto a segunda será retrógrada e,

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conforme define Jorge Figueiredo Dias, será neofóbica. Uma vez que as normas

estejam defasadas e impossibilitem a chegada ao objetivo social, os indivíduos

tenderão a romper o código moral, descumprir as normas, em busca de uma via

facilitada de corresponder aos resultados que a sociedade espera dele.

2.4 NOVA CRIMINOLOGIA OU CRÍTICA

O surgimento de uma visão crítica da criminologia se deve a duas etapas

principais, conforme Alessandro Baratta. A primeira delas foi a mudança do enfoque

do estudo criminológico que vinha ocorrendo ao longo dos séculos, dando lugar para

as condições objetivas, estruturais e funcionais como origem dos comportamentosdesviantes30. 

 A outra etapa seria o início do reconhecimento da responsabilidade social

sobre os comportamentos criminosos, através de todos os mecanismos que

favorecem o processo de criminalização. Houve, portanto, uma mudança do enfoque

biopsicológico, para o enfoque macrossociológico.

De acordo com a criminologia crítica, a criminalidade não passa de um

status atribuído a determinados indivíduos, através da elaboração da lei através deconceitos que tornam criminosas atividades das classes que se deseja segregar, e

da escolha, dentre todos os indivíduos da sociedade, daqueles que serão alvo da

aplicação dessas normas. Dessa forma, a criminalidade só existe enquanto bem

negativo distribuído àqueles que se deseja etiquetar como criminosos31. 

O direito penal faz uma seleção que direciona os indivíduos das classes

subalternas com mais facilidade para a criminalização, condenando facilmente

práticas delitivas comuns desses indivíduos, enquanto as atividades delitivas dasclasses dominantes são privilegiadas. Essa proteção do sistema de classes

evidencia-se na gama de bens definidos como muito importantes e que devem ser

absolutamente protegidos: serão de maneira geral os bens mais frequentemente

atingidos pelas práticas delitivas das camadas sociais inferiores.

 Além disso, as classes sociais desprivilegiadas ainda convivem com o fato

de que realmente estão mais propensas a cometer delitos, face às condições de

30 BARATTA, op. cit., p. 160.31 Ibid., p. 161.

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subempregos ou subocupações, dessocialização familiar e deficiência escolar a que

estão submetidos.

 As normas penais são seletivas, refletindo a condição desigual da

sociedade e, mais que isso, procurando manter essas desigualdades. A

permanência do status quo garante a manutenção das classes dominantes no poder

e impede a ascensão social das classes inferiores. Como ensina Alessandro Baratta,

o direito penal pune as classes inferiores por condutas delitivas típicas de sua

posição social e, ao mesmo tempo, garante que, a punição desses atos delitivos

sirva para que os demais indivíduos de classes inferiores se sintam desencorajados

a desafiar o sistema de normas imposto. O status quo  resta, portanto, estrutural e

ideologicamente protegido.

2.4.1 Labeling approach

 A teoria do etiquetamento, ou labeling approach, surgida na década de

60, considera o estudo do sistema penal, como parte fundamental, que servirá de

base para o estudo do crime, tendo em vista que o conceito de criminalidade surgirá

a partir daquilo que as instâncias oficiais de controle definem como tal32

. O crime, não é, para esta teoria, uma qualidade ontológica da ação,

mas efeito da atividade estigmatizante dos órgãos de controle social  – polícia, juízes

 – que escolhe dentre os indivíduos de uma sociedade aqueles que devem e aqueles

que não devem ser tratados como criminosos pelo restante da sociedade. O crime e

o criminoso são aquilo que as classes dominantes dizem que será.

De acordo com Lemert  –  também baseado nos estudos de Becker

sobre os viciados em maconha dos Estados Unidos  –  a punição de um primeirocomportamento desviante (delinquência primária), gera uma rotulação que vai

contribuir fortemente para a mudança da identidade social do sujeito, que passa a

ser, efetivamente, considerado como criminoso, e a partir daí tenderá a agir de

acordo com o novo status social, caracterizando a delinquência secundária, ou seja,

a permanência e aceitação da nova condição atribuída pela punição estigmatizante

da conduta inicial33. 

32 DIAS e ANDRADE, op. cit., p. 42-43.33 BARATTA, op.cit., p. 89-90 

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 As pesquisas dos estudiosos do labeling approach demonstram,

portanto, que, antes de servir como intervenção reeducativa, a pena detentiva serve

como determinante para inserir o indivíduo de vez no contexto e na identidade

desviante, iniciando, assim, sua carreira criminosa.

O paradigma do controle, que orientou os estudos da teoria do

etiquetamento, trouxe a discussão a respeito da legitimidade dos juízos sobre a

atividade desviante, que se dividiu em dois aspectos: qual o nível de

intersubjetividade presente na determinação do que significa uma atividade delitiva;

e por que motivo essas definições são definitivas e inquestionáveis.

O labeling approach teve importante papel na defesa do princípio da

igualdade, pois criticou o fato de que comportamentos delitivos são observados namaioria dos indivíduos de uma sociedade, mas, muito embora isso ocorra, apenas

uma pequena parte deles cai nas garras do sistema penal, ficando o restante oculto

pela cifra negra da criminalidade.

2.4.2 Criminologia Radical ou Marxista

Durante a década de 70, começou a firmar-se a criminologia radical,representando o sentido interacionista oposto ao dado pela etnometodologia,

adotando, fundamentalmente, a ideologia desenvolvida por Karl Marx, motivo pelo

qual também ficou conhecida como criminologia marxista.

De acordo com a criminologia radical, todas as teorias anteriores tem

apenas um intuito: manter o status quo das sociedades baseadas em modelo

econômico capitalista. Enquanto a abordagem positivista seria meio de conservação

da realidade capitalista por que aceitava o sistema imposto sem formular críticas, aabordagem interacionista e a etnometodologia o seriam por não promover a reflexão

teórica sobre essa questão. 

 A criminologia radical procurou evitar o papel de teoria que estuda

formas de combater o crime e manter a ordem vigente. Primeiramente porque,

deseja justamente, alterar a ordem social por achar que o problema do crime não

terá solução enquanto o sistema econômico for o capitalismo. Em segundo lugar,

porque pretendia defender o homem contra sociedade capitalista, e não o contrário.

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 A ressocialização do delinquente seria, no mínimo, desnecessária, face

ao fato de que é a sociedade que deve ser reformulada, de forma que não haja mais

mecanismos exclusivos de controle que definam o que é crime e o que não é, e

quem seriam os criminosos. Como forma de viabilizar a reforma social que permitiria

a aplicação do sistema marxista em substituição ao sistema capitalista de economia,

os criminólogos radicais defendem que a criminalidade das classes subalternas, que

se apresenta em manifestações individuais, demonstrando ausência de consciência

de classe, deve ser canalizada e atuar como força revolucionária.

2.5 CRIMINOLOGIA: ARTE

Como alternativa à apresentação dogmática e formal do direito surgiu

uma nova forma de enxergá-lo e percebê-lo de maneira mais aberta através das

discussões sobre os limites entre direito e arte. Salo de Carvalho é um dos principais

representantes desta nova vertente criminológica que busca conciliar direito e arte

através do estudo do crime.

Embora Hans Kelsen tenha tentado dar ao direito uma definição mais

científica por meio de sua obra “Teoria Pura do Direito”, duas características básicasdo direito, conforme Kirchmann, explicitam seu alto grau de instabilidade e sua

matriz não-científica, quais sejam: a mutabilidade das leis e a sua eficácia34.

 A criminologia fará, portanto, parte do que foi chamado de ciências

criminais integradas, um conjunto de disciplinas que passam a estudar a

criminalidade através de uma perspectiva interdisciplinar, utilizando-se de diversas

disciplinas para explicar o fenômeno criminal35.

 A desconstrução do modelo criminológico vigente que compreende ocrime como ente natural fruto da atividade de um individuo criminoso por natureza e

que deve ser regenerado através da pena, e a quebra das fronteiras chamadas por

Salo de Carvalho de narcísicas que o direito se auto determinou a fim de

permanecer dogmático, foram os principais objetivos da integração entre arte e

criminologia.

34 CARVALHO, Salo. Antimanual de Criminologia. Lumen Juris, 2ª edição, 2008. Rio de Janeiro. p.

39.35 CARVALHO, loc. cit.

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No entanto, a partir da caracterização do direito como técnica, a

criminologia foi reduzida ao papel de auxiliar do estudo do direito penal tendo sua

atuação restringida à definição do tratamento penal do delinquente, instrumento

utilizado pelo direito penal para fundamentar seus discursos.

 A corrente positiva da criminologia já havia sido superada e seus estudos

sobre atavismo legados à medicina e à psiquiatria; a corrente sociológica, uma vez

superada, deixou seus estudos ao encargo da sociologia; por fim, a corrente critica

transmutou-se em politica criminal alternativa. Dessa forma, era necessária a

recuperação do objeto de estudo da criminologia. E a solução pareceu ser integrar

todas essas ciências distintas.

O objetivo principal dessa visão da criminologia enquanto arte eradesvincular a criminologia do seu papel de outrora que consistia em definir o

criminoso. Nietzsche abordou em seu ensaio “Sobre a Verdade e a Mentira no

Sentido Extra moral ” o problema do processo de conceituação: 

Todo conceito surge da postulação da identidade do não-

idêntico. Assim como é evidente que uma folha não é nunca completamente

idêntica à outra, é também bastante evidente que o conceito de folha foi

formado a partir do abandono arbitrário destas características particulares e

do esquecimento daquilo que diferencia um objeto de outro. O conceito faz

nascer a ideia de que haveria na natureza, independentemente das folhas

particulares, algo como a “a folha”, algo como uma forma primordial,

segundo a qual todas as folhas teriam sido tecidas, desenhadas, cortadas,

coloridas, pregueadas, pintadas, mas por mãos tão inábeis que nenhum

exemplar teria saído tão adequado ou fiel, de modo a ser uma cópia em

conformidade com o original36.

Portanto, a consideração do todo, em detrimento da visão

compartimentada era o primeiro objetivo da nova criminologia, assim como a quebrado vinculo com os conceitos de homem bom e homem delinquente, que serviriam

apenas para alimentar a maquina penal e diferenciar os indivíduos a partir de

critérios arbitrários.

 As verdades nunca são eternas37, a cada época a cultura do um

determinado grupo de pessoas se reflete sobre os objetos científicos. Dessa forma,

36 NIETZSCHE, Friedrich. Sobre a Verdade e a Mentira no Sentido Extramoral, 1873.37

  PORCHER JR., Roberto. Direito e Transdisciplinaridade. In Encontros Entre Direito e Literatura:Pensar a Arte. SÖHNGEN, Clarice Beatriz da Costa e PANDOLFO, Alexandre Costi (org.).EDIPUCRS, 2008. Porto Alegre. p. 137.

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o direito e a arte trazem grandes semelhanças na sua forma de pensamento. Em

vários momentos de revolução social tanto a arte quanto o direito manifestavam sua

irresignação com o problema a ser combatido.

Direito e arte tratam sobre a relação entre dois horizontes: enquanto o

direito aborda a relação da lei com o caso concreto, a arte se preocupa com a

relação entre a obra e o público. As lacunas do direito, a serem sempre preenchidas

pelos métodos hermenêuticos, muito se relacionam com as lacunas artísticas que

permitem ao seu publico preenchê-las de acordo com sua interpretação.

 A crise do conceito de verdade absoluta, através do reconhecimento

trágico inaugurado por Nietzsche, abriu as portas para a inserção da arte na

criminologia a fim de trazer para as ciências criminais a dicotomia entre o belo e ocatastrófico. O caráter dogmático do direito tentava demonstrar uma realidade

inexistente, na qual haveria uma serie de conceitos através dos quais os indivíduos

deveriam ser segmentados, e a arte incorporou-se à criminologia para dar-lhe um

caráter mais próximo da realidade, considerando também o imperfeito.

3 DIREITO E LITERATURA: UMA NOVA REALIDADE

3.1 A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE

 A ciência moderna guiou-se predominantemente por um modelo de

racionalidade constituído a partir da revolução científica ocorrida no início do século

XVI e desenvolvida nos séculos seguintes, tendo sido estendida às então

emergentes ciências sociais apenas no século XIX.

Essa nova forma de racionalidade científica trouxe para as ciências umhermetismo nunca antes presenciado, afastando drasticamente o estudo chamado

científico do senso comum e do estudo não científico, entendido como os estudos

humanísticos, dentre os quais se encontram os da área jurídica.

O conhecimento é sempre obtido pelo método criado por René Descartes,

em “Discurso do Método”, qual seja: compartimentar o objeto complexo de estudo

em várias partes mais simples e mais fáceis de estudar, para, depois de entender

cada parte, unir novamente o todo, que agora seria completamente conhecido. O

objeto de estudo, originalmente seria caótico e incompreensível, sendo necessário

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transformar as suas condições através das chamadas “leis naturais”, que permitem

determiná-lo com rigor 38.

O conhecimento científico dividiu-se em duas formas de disciplina: as

formais, comuns aos estudos da matemática e as empíricas, que representou o

espaço dado pela ciência moderna para os estudos sociais. Assim, as ciências

sociais seriam uma espécie em separado, que, não podendo participar do rol

hermético das ciências propriamente ditas, ocupava seu lugar de estudo empírico.

Percebe-se com isso, que o paradigma científico enquadrou em sua fôrma até

mesmo os estudos que, a priori , de acordo com seus conceitos, não seriam ciências.

Por ser de difícil adaptação aos métodos das ciências naturais, as

ciências sociais foram consideradas, como inferiores e atrasadas, devendo sertransformadas de acordo com os moldes das ciências naturais.

 A partir daí, uma nova vertente científica passou a buscar uma forma de

fazer com que a ciência social fosse mais respeitada através da criação e adoção de

um método de estudo próprio das ações humanas subjetivas. A ideia era

compreender a aceitar que ciências naturais e sociais são diferentes e possuem

objetos diversos e, portanto, não faria sentido tentar orientar ambas pelo mesmo

método. A busca por uma forma de conhecimento subjetiva, em substituição aos

conhecimentos objetivos e herméticos impostos pelo método das ciências naturais

deu origem ao que Boaventura de Sousa Santos chamou de crise do paradigma

dominante39, como decorrente de condições sociais e teóricas que permitiram

perceber a fragilidade do sistema científico naturalista estabelecido.

O conhecimento científico foi objeto de uma reflexão protagonizada pelos

próprios cientistas, que até então não se interessavam por problematizar a práticacientífica, e houve uma busca cada vez mais abrangente de conhecimento,

conhecendo um objeto e logo após buscando, em outros objetos, uma forma de

conhecer melhor ainda o objeto principal, que passou a ter fronteiras cada vez

menos nítidas e começaram um processo de entrelaçamento como outras áreas de

38

  SANTOS, Boaventura de Sousa. Um Discurso Sobre as Ciências. 7ª Edição. Editora Cortez,2010. São Paulo. passim.39 SANTOS, op. cit., p. 40

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23

conhecimento e pesquisa, como definiu Boaventura de Sousa Santos, “(...)  os

objetos em si são menos reais que as relações entre eles”  40 .

Nesse novo contexto as ciências aplicadas sofrem uma alteração na

forma de pensar e estudar seu objeto, e coube ao direito procurar na filosofia, na

sociologia e, mais atualmente, na literatura a abertura científica que lhe faltava e a

ampliação dos meios de estudo do objeto jurídico, antes condenado à estrita relação

com a dogmática jurídica. Essa interação entre as ciências e pluralidade de métodos

de estudo foi definida como transgressão metodológica (SANTOS, 2010, p.78).

3.2 A TRANSDISCIPLINARIDADE NO ESTUDO DO DIREITO

Diante das mudanças científicas ocorridas no intuito de buscar

conhecimento no todo e na relação entre as partes que formam esse todo, eclodiu o

pensamento transdisciplinar, que defendia não apenas a ciência inteira que

investigasse seu objeto de maneira completa, mas aquela que possibilitasse uma

abertura na busca de influências entre o objeto e outras áreas possíveis de

conhecimento.

 A urgência em adotar nos meios científicos uma “procuraverdadeiramente transdisciplinar, (...) dinâmica entre as ciências „exatas‟, as ciências

„humanas, a arte e a tradição” , e promover uma “abertura dos saberes”   refletiu-se

mesmo no direito, ciência reconhecidamente dogmática e, portanto, conservadora41.

No entanto, Salo de Carvalho42, lança o questionamento a respeito da real

qualificação do direito enquanto ciência dogmática, pois se por um lado,

fundamenta-se em códigos de conduta predeterminados, por outro lado, o direito

 jamais teve seu objeto de estudo sob controle e dirige seus estudos à prática jurídica, o que lhe daria caráter técnico.

Dessa forma, os cientistas jurídicos, dispostos a enriquecer o

conhecimento de seu objeto através da interação com outras ciências, buscaram

relacionar este objeto com outras ciências compatíveis, como a filosofia, a sociologia

e a literatura. O direito, enquanto estudo de fenômenos sociais, poderia encontrar

40 SANTOS, op. cit., p. 56.41 CARVALHO, Salo. Criminologia e Transdisciplinaridade. Revista Brasileira de Ciências Criminais

(56). Revista dos Tribunais, 2005. Gauer, A Interdisciplinaridade e o Mundo da Inovação. São Paulo.p. 312.42 Ibid., p. 311

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24

nessas áreas de conhecimento tanto diversidade de material para enriquecimento do

seu estudo e entendimento mais amplo do objeto, quanto elementos refletidos pelo

direito na estrutura dessas ciências, a partir de uma perspectiva abrangente e social.

Sendo assim, a criminologia mostrou-se propícia ao desenvolvimento de

uma perspectiva transdisciplinar voltada a combater o método científico cartesiano,

reaproximando ciência e arte e dissolvendo as fronteiras rígidas postas entre as

ciências durante o desenvolvimento do paradigma científico mecanicista.

 A partir da adoção de um ponto de vista menos dualístico da criminologia

em relação ao direito penal, tornou-se, conforme Salo de Carvalho43, fundamental

dissociar a criminologia do rótulo de ciência, tendo em vista que não se propunha a

buscar verdades definitivas e absolutas sobre seu objeto de estudo: o crime, massim, construir um saber a respeito dos mecanismos de controle social, suas causas

e conseqüências.

 A superação do que Nietzsche chamou de homem socrático44, pode, de

acordo com Salo de Carvalho, ser posta em prática através da forma intrínseca, a

partir de uma mudança interna nas ciências através da adoção da

transdisciplinaridade; e da forma extrínseca, através da abertura das ciências ao

profano.

3.3 DIREITO E LITERATURA

Vera Karam de Chueiri define “Direito e Literatura” como um “novo espaço

interdisciplinar para refletir acerca de questões não tão novas como o que é o

Direito, quem deve obedecê-lo e por que ou, ainda, o que é a justiça...”, responsável

por unir ao redor do mesmo movimento, representantes de diversos departamentosacadêmicos45.

 A partir de então, o direito e a literatura puderam contar um com o outro

para a construção de uma visão mais crítica a respeito das fronteiras disciplinares, e

para o direito a literatura foi de grande utilidade na aproximação de uma ciência que

43 CARVALHO, 2005, loc. cit.44

 MACHADO, Roberto. Nietzsche e a Polêmica sobre o Nascimento da Tragédia . Editora JorgeZahar, 2005. Rio de Janeiro. p. 10.45 CHUEIRI, loc. cit. 

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se pretendia técnica e dogmática, das realidades e significados dos elementos da

vida social, que, a propósito, é o objeto principal do direito.

 A visão interpretativa da literatura pode ser comparada à hermenêutica

 jurídica, e mais que isso, pode ser utilizada nesse processo. Ainda, a literatura é a

melhor forma de exercício da linguagem e do questionamento, dois elementos de

grande importância no estudo jurídico.

 Ambas as disciplinas tem em seu espírito a busca pela essência da

verdade; não a verdade apolínea descrita por Nietzsche, em o Nascimento da

Tragédia46, mas uma verdade que não termina em si mesma, não busca a perfeição

e a explicação completa, ao invés disso, propõe uma interpretação como fim em si

mesma. O objeto do Direito e Literatura é a interpretação do social, eis que tanto umquanto outro mantém suas origens em suspenso, o que Jacques Derrida chamou de

“aporia”47.

 Alexandre Pandolfo48  defende que a nova forma de enxergar o direito,

através da literatura é a maneira de romper com o que Nietzsche nomeou de

vontade de verdade, que significa a redução do conhecimento científico a um nível

unitário que pretensamente pudesse representar o todo, dispensando assim o

estudo completo do objeto. A ideia de integrar direito e literatura tem o condão de implantar uma

consciência da heterogeneidade do conhecimento e das possibilidades que se

abrem para o exercício da atividade jurídica ao permitir que dela façam parte outras

ciências que ajudem a compreender o fenômeno jurídico.

Direito e literatura se relacionam um vez que compartilham o mesmo

objeto  – o homem  –, e se distinguem apenas quanto ao fato de que enquanto no

texto jurídico há coercitividade, a mesma não será encontrada no texto literário. Masambos trazem em si a representação de uma realidade social, existente ou

idealizada.

O homem jurídico é sempre criado a partir do homem social, que também

servirá como inspiração para o homem literário. Ainda, a arte, como se pode

observar nas obras de Dosteiévski, tem um caráter antecipatório em relação à

46 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O Nascimento da Tragédia. passim.47 CHUEIRI, Vera Karam de. Direito e Literatura. In. Barreto, Vicente de Paulo (Org.). Dicionário de

Filosofia do Direito. Editora Renovar. Rio de Janeiro. p. 234.48 PANDOLFO, Alexandre Costi. Encontros entre Direito e Literatura II: ética, estética e política .EDIPUCRS, 2010. Porto Alegre.

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ciência, pois tem à sua disposição ferramentas mais eficientes para alcançar a

racionalidade que orienta as condutas humanas, devido a essa característica, as

obras literárias trazem em si a discussão do fenômeno social.

Jorge Antônio Torres Machado traz em seu “Uma Reflexão sobre Arte e

Ciência”49  o conflito humano que originou as primeiras manifestações dogmáticas

das ciências. O homem sente-se enfraquecido com o reconhecimento de que não

pode isolar as ciências, pois essa impossibilidade afasta o homem do seu ideal de

aproximação a Deus, ou seja, o homem quer ser deus: absoluto, determinado,

onipotente, mas não vê formas de ser assim se reconhecer que seu conhecimento

deve estar sempre em construção, buscando em diversas fontes formas de

aprimorar o estudo do objeto.O homem deve reconhecer duplamente sua incompletude: a) enquanto

estudioso, que não pode alcançar o conhecimento completo e acabado; b) enquanto

objeto, não podendo ser delimitado e definido com precisão. Esse reconhecimento

implica em negar toda a proposta do método científico pós revolução, o que acaba

criando uma dificuldade na abertura do direito para uma integração com outras áreas

do conhecimento.

O Direito pode ser facilmente relacionado à arte literária, muito emborapor muito tempo os juristas tenham se preocupado tanto em manter seu hermetismo

científico, tendo em vista que, assim como a arte, o Direito diversifica  –  ou pelo

menos deveria diversificar – seu ponto de vista levando em conta as transformações

sociais. Roberto Porcher Júnior explica:

Em cada época histórica pode ser observada uma forte relação entre

as ciências e as culturas. Quando uma grande quantidade de pessoas

reconhece um novo modo de pensamento, a tendência é que, aos poucos,

todos os campos do conhecimento absorvam algumas características

homogêneas. As formas de pensar o Direito durante os séculos

guardam, sob esse prisma, grande simetria com as formas de análise

da Arte. (grifo nosso)50 

49 MACHADO, Jorge Antônio Torres, Uma Reflexão sobra Arte e Ciência. In Encontros entre Direitoe Literatura: pensar a arte. SOHNGEN, Clarice Beatriz da Costa; PANDOLFO, Alexandre Costi(org). EDIPUCRS, 2008. Porto Alegre. p. 6150

  PORCHER JR., Roberto. Direito e Transdisciplinaridade. In Encontros Entre Direito e Literatura:Pensar a Arte. SÖHNGEN, Clarice Beatriz da Costa e PANDOLFO, Alexandre Costi (org.).EDIPUCRS, 2008. Porto Alegre. p. 137.

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Por esse motivo, trazer para dentro da interpretação jurídica, o

conhecimento literário provoca uma reflexão sobre as possibilidades de constituição

moral do homem e como esses fatores podem influenciar nos comportamentos

polidos ou bárbaros, e com essa renovação remover do direito a atitude comodista

de tratar a sociedade com o que Nietzsche chamou de moral de escravos, que

constitui em criar um conjunto de valores e pretender que toda a sociedade

reconheça e se comporte de acordo com ele. 

4 AS TRAGÉDIAS GREGAS

 A tragédia é um gênero literário surgido na Grécia Antiga, e fortalecido,durante os séculos VI e V a.C., pelas festas de adoração ao deus Dionísio (Baco na

cultura romana). Os protagonistas são sempre pessoas que diante do conflito entre o

moral e o amoral, sofrem uma forte pressão para agir de maneira amoral, o que

provoca no leitor um sentimento de piedade, ou seja, por mais que a personagem

principal cometa erros, ele é tão impulsionado para aquela atitude, sem chances de

escolha, que é visto mais como vítima das circunstâncias do que como mau ou

culpado. Desde sua origem, a tragédia sofreu diversas transformações em sua formade apresentação e foi representada por autores como Ésquilo, Eurípedes e Sófocles.

 A importância da tragédia está no fato de representar o homem diante dos

deuses, demonstrando a pequenez daquele diante das arbitrariedades do destino,

representado pela entidade divina. Na tragédia não há o herói perfeito e

incorruptível. O protagonista da tragédia comete erros por motivos diversos e está

sujeito a sofrer as conseqüências desses erros por mais gravosas que sejam.

O conflito da tragédia consiste em uma resistência contra o código devalores apresentado pela personagem principal, ou seja, o protagonista tem uma

noção de certo e errado e guia-se pelo certo, mas a noção de certo é relativizada

face a diversas formas de oposição da qual não pode se desvencilhar.

No entanto, mais que a forma de encenação da tragédia, a proximidade

que o homem trágico tem do homem comum foi a principal fonte de identificação do

espectador com o drama vivido pelo protagonista. O homem trágico se assemelha a

qualquer outro homem, sujeito a erros (hamartia) e acertos, e às conseqüências

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disso, o que faz com que o homem espectador sinta o terror de pensar que o que

está sendo apresentado poderia ter acontecido a ele.

Friedrich Nietzsche, em “O Nascimento da Tragédia”51  reconhece que o

grego demonstrou grande sensibilidade para com os conflitos humanos ao criar o

gênero trágico e apresentá-lo da forma como o fez. No entanto, essa sensibilidade

não tem caráter ameno, muito pelo contrário, a crueza da tragédia em demonstrar

claramente a impotência do homem diante das circunstâncias é que vai torná-la tão

terrivelmente verdadeira.

Em contraposição às manifestações dionisíacas, surge o que Nietzsche

chamou de apolíneo, que recebeu esse nome em referência a Apolo, deus do Sol,

da beleza e da luz. Se pensar na vida como sucessão de desgraças das quais nãose tem o menor controle e, mesmo assim, sofre-se as conseqüências seria difícil

demais para a natureza humana, aliar essa verdade crua ao fantasioso mundo

apolíneo poderia amenizar a existência.

 Apolo protege o mundo do lado sombrio da vida através de aparências

artísticas de perfeição. Essa proteção foi chamada de individuação, que se

contrapunha a ideia de reconciliação com a natureza e com a hybris  (excesso)

representados por Dionísio que vai abolir a subjetividade em prol da adoção do eucru, entusiasmado pelo feitiço do deus da possessão.

 A tragédia é, portanto, a comunhão entre o mundo do dionisíaco e o

mundo do apolíneo, uma vez que representa essa união entre o artístico e aparente,

e a essência e realidade humanas, dando acesso às questões essenciais da

existência humana.

O herói trágico está preso entre a herança familiar e a vontade dos

deuses, o que faz com que deixe de ser um modelo de cidadão e passe a ser elemesmo o problema da polis. O destino do herói trágico é incerto, pois não temos

como saber qual o resultado da batalha interna deste homem. No fim da tragédia,

não há a solução do problema, apenas o recaimento da conseqüência sobre o

protagonista de acordo com a posição que resolveu adotar em relação ao conflito

51  NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O Nascimento da Tragédia. Editora Escala, Coleção Grandes

Obras do Pensamento Universal – 73, 2007. São Paulo. passim.

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proposto, afinal o homem trágico é sempre responsável por seus atos, e se orgulha

disso, por mais que ele não tenha tido escolha.

Os gregos introduziram na tragédia a noção atávica que determinava que

uma vez existente uma mácula na moral de uma determinada linhagem, todas as

gerações viriam estigmatizadas e fadadas à desventura. O estigma também vem

caracterizado através do tratamento dado ao herói trágico, que uma vez tendo

cometido o ato, é repelido pela polis, tratado com desprezo, abandonado à própria

sorte.

 As tragédias gregas trazem estreita relação com o direito tendo em vista

os enredos de suas histórias e a utilização dos mitos para explicar ou justificar a

existência de entes que permanecessem até hoje permeando ordenamentos jurídicos no Brasil e no mundo, como, por exemplo, “Prometeu Acorrentado” e

“Orestéia”, ambos de Ésquilo. 

Em “Prometeu Acorrentado”52, vemos a relativização da obediência às

normas divinas, uma vez que o protagonista, Prometeu, rouba o fogo dos deuses e o

entrega aos homens, não para cometer o crime de roubar dos deuses, mas para o

ato nobre de presentear os homens com algo que lhes será útil, sendo o fogo

representação não só da luz no sentido literal, mas da luz significando sabedoria.Prometeu não se sente criminoso, se sente mártir da raça humana, responsável por

uma evolução pela qual valeu a pena ter sido castigado.

 Além disso, a obra de Ésquilo, traz a questão da pena perpétua ligada à

perpetuidade dos efeitos do delito, ou seja, o ato de Prometeu não poderá ser

desfeito, para sempre os humanos vão contar com a sabedoria proporcionada por

esse ato delitivo, e é por isso que Prometeu deve sofrer para sempre. Ao igualar os

homens aos deuses, dando-lhes uma forma de buscar conhecimento ediscernimento, Prometeu assina sua sentença perpétua.

Em “Orestéia” 53, Orestes, impelido pela irmã Electra, assassina a própria

mãe, Clitemnestra, por ter sido esta a responsável pela morte do marido e pai de

seus filhos. A obra é dividida em três partes: Agamemnom, que relata a morte do pai

52 ÉSQUILO, Prometeu Acorrentado. Tradução:Daisi Malhadas e Maria Helena de Moura Neves.

Editora Universidade Estadual Paulista, 1977. São Paulo.53  ÉSQUILO, Oresteia: Agamémnom, Coéforas e Eumênides. Tradução: Manuel de OliveiraPulquério. Editora Edições 70, 1992. Rio de Janeiro.

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de Orestes e Electra, Coéforas e Eumênides, onde Orestes é Absolvido do homicídio

da mãe e é criado o tribunal do júri.

 A Orestéia também origina o voto de Minerva, uma vez que ao empatar os

votos dos jurados, Atenas (também conhecida como Minerva na mitologia romana)

vota por absolver o réu, e aplaca a fúria das acusadoras transformando-as em

Eumênides, marcando uma nova forma de punição dos crimes, extinguindo as

Erínias que eram responsáveis por perseguir os autores dos crimes de sangue

independentemente das circunstâncias do crime, e colocando em seu lugar novas

criaturas responsáveis por zelar pela justiça na polis.

 Através da narrativa do mito, ou seja, conforme Mircea Elíade54, de

histórias que fornecem modelos para a conduta humana, a tragédia ensinou ohomem a transpor a barreira de individuação, e a perceber o estudo do direito,

principalmente da criminologia, de uma maneira ampla e transdisciplinar, de acordo

com uma nova proposta científica.

 Além das tragédias citadas, outras deixaram lições aproveitáveis para o

estudo da ciência jurídica como “Édipo Rei” e “Antígona” de Sófocles, e “Medéia” de

Eurípedes.

3.1 “ÉDIPO REI” DE SÓFOCLES 

Na tragédia de Sófocles, a cidade de Tebas está sofrendo uma peste que

está dizimando a população. Nessas circunstâncias um sacerdote recorre a Édipo, o

rei, para saber o que pode ser feito para salvar a cidade, tendo em vista que o

mesmo, antes de ser o rei de Tebas, já havia salvado a cidade quando decifrou o

enigma da esfinge que estava destruindo a cidade. A população supõe que Édipotem algo de divino, e recorrer a ele pode resolver o problema da polis.

Édipo representa o modelo de homem bom, é um ótimo rei, no qual os

cidadãos tebanos confiam. Ele determina que Creonte vá até Delfos consultar o

oráculo, no templo do deus Apolo para perguntar que providências deveriam ser

54 ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. Perspectiva, 6ª edição, 2006. São Paulo. p. 8

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tomadas para aplacar a ira divina e salvar a cidade da peste. Desde então, Édipo se

compromete em cumprir a recomendação de Apolo trazida por Creonte.

Creonte retorna com a orientação de Apolo: há em Tebas, alguém que é

responsável pela morte do antigo rei Laio, e ele não pode permanecer na cidade,

pois sua permanência está maculando a cidade perante os deuses. O criminoso

deve ser afastado das pessoas de bem.

 A partir de então, Édipo se compromete em encontrar o assassino e

convoca toda Tebas a ajudá-lo, mandando buscar Tirésias, o profeta cego, para

tentar obter alguma informação que ajude a solucionar o caso o mais rápido

possível.

 Após receber em seu palácio o profeta Tirésias e o servo encarregado deabandonar no campo o filho de Laio e Jocasta, Édipo percebe que o filho de Pólibo e

o filho de Laio são a mesma pessoa: ele mesmo, e que ao tentar fugir de seu

destino, na verdade correu em direção a ele, pois enquanto fugia de Corinto

encontrou em seu caminho a comitiva de Laio e por um desentendimento tolo

acabou por matar os viajantes, inclusive o rei, seu pai.

O fato de não haver, para Édipo, forma de fugir de seu destino, traz um

característica marcante da tragédia: uma espécie de fatalismo que determina umdestino do qual o herói trágico não pode escapar. Laio tinha que ser assassinado

pelo filho. Jocasta tinha que se relacionar com o próprio filho. E Édipo deveria ser

homicida do pai e esposo da mãe. Todos os planos que eles armaram pensando

que estavam burlando o oráculo, estava na verdade conduzindo-os diretamente para

o destino reservado a eles.

Neste cenário visualiza-se uma anomia, pois não há mais aplicador

legítimo da lei: Laio, o rei original, está morto; Jocasta, a rainha, está impura, nãopodendo aplicar a vontade imaculada dos deuses. Resta ao próprio Édipo aplicar a

punição sobre si mesmo. Com a mesma legitimidade, Édipo resolve também punir

os cidadãos.

Jocasta suicida-se e Édipo, impelido pelas mãos vingadoras de Apolo,

cega-se. Assim como é importante para Édipo se castigar, afinal prometeu castigo

ao assassino de Laio, fosse quem fosse, também é importante punir a cidade que

testemunhou a tentativa de homicídio de um bebê e nada fez em prol da segurança

da reino e da cidade e mais tarde, ainda se acharam no direito de condenar o rei,

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criminoso por ignorância. Assim ele faz questão de exibir-se cego para os tebanos,

para que estes permaneçam com a culpa por todas as desgraças que se

sucederam. O fato de Édipo não se matar, mas apenas cegar-se remete à

necessidade já abordada em “Prometeu Acorrentado” de sofrimento eterno. 

3.2 “ANTÍGONA” DE SÓFOCLES 

 A tragédia grega “Antígona” de Sófocles, traz em si uma grande

discussão em torno do conflito entre a moral interna de um indivíduo e a lei

estabelecida pelo ordenamento ao qual esse indivíduo está subordinado. Ainda

remete à uma noção diferenciada de justiça e igualdade, onde as personagens nãopodem ser caracterizadas apenas pela aparência delitiva de seus atos.

 A lei do rei Creonte é segregadora e diferencia dois irmãos Etéocles e

Polinice. à ponto deste receber uma pena depois de morto e aquele ser honrado.

Enquanto Etéocles pôde ser enterrado, Polinice deve ser deixado para ser devorado

pelas aves, e quem contrariar esta ordem e ousar sepultar Polinice será

severamente punido. Antígona resolve orientar-se não pela determinação do rei,

mas pela moral divina, e sepulta Polinice.O rei Creonte julga que está sendo justo, pois honra o justo e castiga o

injusto. No seu entendimento não estaria certo tratar como iguais o bom e o

criminoso. Ele acredita em um sistema meritocrático, no qual o bom merece ter seus

direitos reconhecidos e o mau não tem essa prerrogativa. Afinal, se todos foram

tratados iguais, quais as vantagens em ser bom? Se Polinice receber as mesmas

honras de sepultamento, que benefício Etéocles levou em servir ao seu rei?

 Antígona, na visão de Creonte deveria agir como os demais e não burlar alei do rei, e, já que não fez isso, deveria se envergonhar. Aqui é visível a pressão

social, onde as pessoas não temem exatamente desagradar o rei, mas temem

ficarem sozinhas contra o rei.

 A desgraça da casa de Creonte provém da casa de Édipo, que, por sua

vez, se origina na casa de Laio. Não se pode esperar bons frutos de uma linhagem

maculada pela desgraça como é a de Antígona. Édipo, criminoso, concebeu filhos

loucos e criminosos. Só a loucura pode levar alguém a acreditar que há alguma

vantagem no ilícito, assim como Antígona acredita.

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Hemom, filho de Creonte e noivo de Antígona tenta tomar partido de sua

noiva, tentando salvá-la e ao pai. Os deuses estão com ela e contra isso Hemom

sabe que Creonte não deve lutar. Ao assumir o papel de advogado da noiva,

Hemom, corrobora a ideia de Antígona de que as pessoas concordam com o

sepultamento de Polinice, mas se calam por medo da reação do rei. Creonte fica

então mais convicto de que deve punir Antígona, uma vez que o ato dela fez

inclusive seu filho se levantar contra sua autoridade. Antígona deve ser sepultada

viva, trancada em uma caverna.

 Ao ser chamada pelo Corifeu de “senhora de tua própria lei ” 55  fica

evidenciado que Antígona inovou e não contrariou Creonte por vontade de delinquir,

mas porque no conflito entre a lei em que acredita e a que Creonte impõe, elaprefere obedecer aos seus princípios. O sentimento de solidão de Antígona é

comum aos que são submetidos ao sistema penal, assim como o fato de ela não

estar “nem viva, nem morta”56. Antígona está em um limbo social e espiritual, algum

lugar entre existir e não existir como qualquer um que sofra a incidência da máquina

penal.

Tirésias, o vidente, adverte Creonte da má sorte que o aguarda pelo que

fez a Polinice e Antígona. Creonte fez Polinice cumprir pena depois de morto emanteve ele preso no mundo dos vivos privando-o do ritual de sepultamento e tudo

isso ofendeu gravemente aos deuses, o que se reflete na natureza em volta de

Tebas. A partir deste momento de arrependimento, Creonte enterra Polinice, mas ao

tentar salvar Antígona chega muito tarde e, na caverna em que ela foi trancada

estão ela, enforcada e Hemom chorando sua morte. Com a chegada do pai, Hemom

se suicida castigando o pai pelo que fez a Antígona.

O dogmatismo de Creonte trouxe a desgraça sobre si. Ele ao ser inflexívelacabou sendo injusto e atraiu a ira divina sobre a sua casa. O trecho “mostrou assim

que para os homens a falta de conselho é o maior de todos os males ” 57  demonstra

que o mal de Creonte foi não dar ouvidos ao povo que se identificava com a moral

de Antígona, e achar-se tão legislador quanto os deuses. Mais uma vez, a tragédia

55 SÓFOCLES. Antígona. Tradução: Donald Schüler. Editora L&PM Pocket, 2010. Porto Alegre. p. 6356 Ibid., p. 65

57 SÓFOCLES, Antígona. p. 90

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não termina em morte com o intuito de torturar a personagem com a pena do

sofrimento perpétuo.

3.3 “MEDÉIA” DE EURÍPEDES 

Medéia era uma mulher que conhecia os segredos das artes mágicas. Ela

apaixonou-se por Jasão por intermédio de Hera que queria ajudar Jasão a recuperar

o velocino de ouro e reaver o trono usurpado por seu primo Pelias.

Hera, simpatizando com Jasão resolve ajudá-lo fazendo com que Medéia

descubra os segredos da bruxaria e se apaixone por Jasão, ajudando-o recuperar o

velocino de ouro. Para obter a ajuda de Medéia, Jasão jura-lhe amor eterno. A partir de então Medéia começa a cometer crimes em defesa de Jasão.

Primeiramente, ela mata Absirdes, o próprio irmão, que os perseguia quando fugiam

da Cólquida, esquarteja-o e espalha os pedaços pelo caminha para confundir o pai

que vem logo atrás, e depois mata Pelias pra que Jasão assuma o trono, o que

acaba não ocorrendo após a descoberta do crime pelos cidadãos de Iolcos.

No entanto, Jasão ambiciona um trono para si e seus filhos, e, já que está

impossibilitado de assumir o trono de sua cidade natal, começa a cortejar Glauce,filha de Creonte, rei de Corinto. Medéia se vê como uma pobre bárbara, afastada de

casa, e abandonada pelo homem que ama e por quem foi capaz de deixar sua terra

e sua família e cometer diversos crimes.

Sentindo-se anti-social, indesejada como estrangeira na terra de Corinto,

prestes a ser expulsa e perder seu referencial familiar, Medéia envia à Glauce um

vestido e um diadema envenenados como presentes, matando a princesa e seu pai.

Logo após, para concluir o ato de vingança, Medéia apunhala os próprios filhos.O castigo de Medéia acontece, mas ela mesma que se infringiu ao matar

os próprios filhos. Ela se preocupa com a reprovação social, mas sabe que esta

atitude dos cidadãos de Corinto para com ela não tem origem apenas nos crimes

que cometeu, mas no fato de que era uma estrangeira, bruxa, bárbara, que

representava óbice à felicidade da princesa.

 A passagem final da tragédia, em que Medéia foge no carro do sol, não

representa exatamente um final feliz, afinal, ela não tem mais ninguém no mundo

com quem possa contar. A fuga representa uma redenção, uma libertação dos

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sentimentos de ódio e vingança. Nesta tragédia Eurípedes insere a mesma

característica presente nas demais: a pena perpétua. Nem Medéia, nem Jasão

morrem. Eles devem viver para sofrer as culpas por seus crimes.

CONCLUSÃO

Desconstruir conceitos dogmáticos adotados durante o advento da

Revolução Científica faz-se cada vez mais necessário, a fim de que o direito

caminhe em direção à justiça.

Diante da premente necessidade de uma abordagem transdisciplinar do

estudo do crime, há uma gama de disciplinas que podem se relacionar ao direito e

não apenas auxiliar como integrar o desenvolvimento desse estudo. De todas essasdisciplinas, a literatura, em especial, guarda forte relação com o direito e através

dela pode-se conhecer a origem de determinados institutos, como por exemplo o

Tribunal do Júri, ou se deparar com conflitos comuns ao homem, como os

vastamente abordados pelas tragédias gregas.

 As tragédias gregas, tendo em sua origem a ânsia do homem de

encontrar explicação para os eventos que presenciava a sua volta, são ricas em

histórias que tentam fazer com que compreendamos as causas e consequências dedeterminados acontecimentos. Essa relação de causa e consequência é que

interessa fortemente ao direito e vai permitir que fatos que antes eram vistos apenas

como um fenômeno jurídico possam ser encarados sob outros pontos de vista,

relativizando conceitos tidos anteriormente como herméticos e imutáveis.

Mesmo durante o período de força da teoria bioantropológicas do crime,

pode-se observar que já era dada uma relevante importância às aberturas do direito

para que se relacionasse com outras áreas do conhecimento, como Ferri assumecom seu “Os Criminosos no Direito e na Literatura”, e como se observa compulsando

os estudos de Garófalo e Lombroso que tentam integrar o direito com medicina e

psiquiatria.

Vencer as fronteiras do direito em direção a uma desconstrução do estudo

do crime focado na pessoa do criminoso é uma forma de tornar o direito mais

legítimo diante de todos os indivíduos, pois afastar o direito e trancá-lo em sua

pretensão dogmática afasta-o daqueles que estão sujeitos a sofrer suas sanções e

que deveriam ser os principais considerados na elaboração das leis penais.

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7/23/2019 As Tragédias Gregas e o Conflito Entre o Crime e o Criminoso

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Compreender o homem, como no caso deste trabalho, através das

tragédias gregas, e visualizar seus conflitos e as variações pessoais e sociais que

inclinam o homem ao delito, são a promessa de um direito penal mais eficiente, e de

uma criminologia que vença o papel acessório que ainda lhe é atribuído.

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