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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Rua da Alfândega nº 8, sala 03, térreo, Centro, Rio de Janeiro/RJ – (21)2588-8417
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EXMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL
- RJ.
A COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, órgão vinculado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro, CNPJ nº 30.449.862/0001-67, especialmente constituída para defesa dos interesses e
direitos dos consumidores (doc. 01), estabelecida na Rua da Alfândega, n.º 8, térreo, sala 3,
Centro, Rio de Janeiro - RJ, CEP.: 20.070-000, por intermédio de sua procuradora in fine
assinado (doc. 02), vem perante V. Exa., com fulcro na CRFB/1988 c/c a Lei n.° 8.078/90,
respeitosamente propor a presente:
AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO
COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
Em face de CONCESSIONÁRIA REVIVER S/A (REVIVER) inscrita no CNPJ sob o n.º
20.852.443/0001-18, estabelecida na Av. Nilo Peçanha nº. 50, grupo 1409, Centro, RJ, CEP
20.020-100 e CONCESSIONÁRIA RIO PAX S/A (RIOPAX), inscrita no CNPJ sob o n.º
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20.513.991/0001-13, estabelecida na Rua Teodoro da Silva, 821 – Vila Isabel, RJ, CEP: 20.560-
130, pelas razões de fato e de direito que passa a expor:
PRELIMINARES
I - DA LEGITIMIDADE ATIVA DA AUTORA
A questão preliminar referente à legitimidade da autora para propor Ação Coletiva em benefício
dos consumidores já foi solucionada pelo E. Superior Tribunal de Justiça, veja-se:
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SISTEMA DE BILHETAGEM ELETRÔNICA DE ÔNIBUS REALIZADA PELA FETRANSPORTE - RIOCARD. ARTS. 81 E 82 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LEGITIMAÇÃO ATIVA DA COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS QUE REGEM A AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 1. Cinge-se a controvérsia à legitimidade da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro para propor Ação Civil Pública visando a obrigar os associados da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro - Fetranspor a informar o saldo do Riocard (sistema de bilhetagem eletrônica de ônibus) sobre cada débito realizado no respectivo cartão. 2. O CDC conferiu legitimação para ajuizamento de demandas coletivas, inclusive para a tutela de interesses individuais homogêneos, às "entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
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especificamente destinados a defesa dos interesses e direitos" do consumidor (art.82, III). 3. As normas que regem a Ação Civil Pública - símbolo maior do modelo democrático, coletivo, eficiente e eficaz do acesso à Justiça, na sua concepção pós-moderna - convidam à ampliação judicial, jamais à restrição, do rol de sujeitos legitimados para a sua propositura. O Juiz, na dúvida, decidirá em favor do acesso à Justiça, pois a negação da legitimação para agir demanda vocalização inequívoca do legislador. 4. A recorrente - Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro - é entidade ou órgão técnico vinculado ao Poder Legislativo Estadual com competência, expressa e específica, para atuar na tutela do consumidor, integrando o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 5. A previsão normativa para ajuizar demandas coletivas na hipótese dos autos foi inserida, em fevereiro de 2006, no art. 26, § 49, "d", do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, reforma (diga-se, de passagem, desnecessária) realizada rigorosamente para expressar tal possibilidade. 6. Na apreciação da legitimação para a proposição de ações coletivas, não se deve entender restritivamente a expressão "Administração Pública", referida no art. 82, III, do CDC. Para o intérprete da lei, como o STJ, importa apenas indagar se o órgão em questão exerce, com base em autorização legal, função administrativa e, por meio dela, a defesa do consumidor, de modo análogo ou semelhante ao Procon. 7. Recurso Especial provido para reconhecer a legitimidade da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para a propositura de demanda coletiva visando à defesa do consumidor (grifou-se) (REsp 1075392/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 04/05/2011)
Não resta dúvida, desta forma, acerca da legitimidade ativa da autora.
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II - DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
A definição legal de fornecedor, no mercado de consumo, nos é dada pelo art. 3° caput, da Lei
8.078/90:
Art. 3°. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Vê-se então que na conceituação do protagonista do fornecimento de consumo, segundo
FILOMENO, preterindo expressões como “industrial”, “comerciante”, “banqueiro”, “segurador”,
“importador”, o Código preferiu o emprego da expressão fornecedor, mais abrangente, para
alcançar todos os que atuam na “cadeia” da relação consumerista:
“Ou seja, e em suma, o protagonista das sobreditas ‘relações de consumo’ responsável pela colocação de produtos e serviços à disposição do consumidor. Assim, para Plácido e Silva, ‘fornecedor’, derivado do francês fournir, fornisseur, é todo comerciante ou estabelecimento que abastece ou fornece habitualmente uma casa ou um outro estabelecimento dos gêneros e mercadorias necessárias a seu consumo. Nesse sentido, por conseguinte, é que são considerados todos quantos propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado
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de consumo, de maneira a atender às necessidades dos consumidores, sendo despiciendo indagar-se a que título, sendo relevante, isto sim, a distinção que se deve fazer entre as várias espécies de fornecedor nos casos de responsabilização por danos causados aos consumidores, ou então para que os próprios fornecedores atuem na via regressiva e em cadeia da mesma responsabilização, visto que vital a solidariedade para a obtenção efetiva de proteção que se visa oferecer aos mesmos consumidores.” 1
Por serviço no mercado de consumo deve-se tomar toda atividade que se enquadre na definição
do § 2°, do art. 3°, do Código de Defesa do Consumidor:
§ 2°. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Empregando a locução “qualquer atividade”, o CDC alcançou toda sorte de serviços que se
possa prestar, remuneradamente, aos consumidores.
Como explica RIZZATO NUNES, “O CDC definiu serviço no § 2° do art. 3° e buscou apresentá-lo
de forma a mais completa possível. Porém, na mesma linha de princípios por nós já
apresentada, é importante lembrar que a enumeração é exemplificativa, realçada pelo uso do
1 FILOMENO, José Geraldo Brito, et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, 9ª ed. São Paulo: Forense, 2007. p. 46/47.
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pronome ‘qualquer’. Dessa maneira, como bem a lei o diz, serviço é qualquer atividade fornecida
ou, melhor dizendo, prestada no mercado de consumo.” 2
Essa notável amplitude e alcance da norma positiva é destacada também na autorizada
intelecção de CLAUDIA LIMA MARQUES:
“Quanto ao fornecimento de serviços, a definição do art. 3° do CDC foi mais concisa e, portanto, de interpretação mais aberta: menciona apenas o critério de desenvolver atividades de prestação de serviços. Mesmo o § 2° do art. 3° define serviço como ‘qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração ...’, não especificando se o fornecedor necessita ser um profissional, bastante que esta atividade seja habitual ou reiterada. Segundo a doutrina brasileira, fornecer significa ‘prover, abastecer, guarnecer, dar, ministrar, facilitar, proporcionar’ (assim ensina Cavalli, Leasing – Um exercício de reconstrução tipológica, p. 185 do original), uma atividade, portanto, independente de quem realmente detém a propriedade dos eventuais bens utilizados para prestar o serviço e seus deveres anexos.” 3
Os réus são, pois, típicas fornecedores de serviços em relação aos consumidores.
III - DOS FATOS
2 NUNES, Luis Antônio Rizatto. Curso de Direito do Consumidor, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 95. 3 MARQUES, Claudia Lima, et al. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, 2ª ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p. 113.
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Nos cemitérios públicos da cidade do Rio de Janeiro, a administração das necrópoles foi
passada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através de contrato de concessão de
serviços públicos às Concessionárias RioPax e Reviver, ora rés na presente ação.
As concessionárias rés atualmente administram os 13 cemitérios públicos na Cidade do Rio de
Janeiro, em decorrência do procedimento licitatório realizado pela Secretaria Municipal da Casa
Civil, em 2014. Segundo informado pela Secretaria Municipal de Conservação e Serviços
Públicos (ofício SC/GAB nº402/2015, doc. 03), o Consórcio Rio Pax assumiu a administração de
parte dos cemitérios públicos em julho de 2014 e o Consórcio Reviver em janeiro de 2015.
O Consórcio Rio Pax administra os cemitérios de São João Batista, Jacarepaguá, Inhaúma,
Irajá, Campo Grande e Piabas. O Consórcio Reviver administra os cemitérios de São Francisco
Xavier, Caju, Murundu, Realengo, Paquetá, Santa Cruz, Ricardo de Albuquerque, Ilha de
Guaratiba e Cacuia.
De acordo com a citada Secretaria, o Decreto 39.094/2014 (doc. 04) regulamenta as atividades
dos cemitérios e funerárias no Município do RJ e ratifica em seu artigo 141 a cobrança da Tarifa
anual destinada à administração, manutenção e conservação do cemitério, bem como à
remuneração dos serviços prestados pela respectiva concessionária e está sendo apresentada
pelos cemitérios púbicos aos titulares/responsáveis por jazigos4. Informa a Secretaria que a
tabela dessas tarifas anuais está descrita na Resolução “SECONSERVA” nº 24 de 12 de agosto
de 2014 (doc. 05), conforme abaixo:
4 A palavra jazigo trata de um gênero, do qual existem várias espécies. São algumas das espécies: carneiro
perpétuo, sepultura, jazigo perpétuo (que são essas sepulturas mais vistas nos cemitérios, fazendo com que o gênero se confunda com a espécie); catacumbas (gavetas temporárias); nichos (para inumar restos mortais já exumados em caixas); mausoléus (pequenas construções, templos, capelas, etc.); sepulturas rasas (temporárias, direto no solo), entre outras
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CEMITÉRIOS VALORES (R$)
Paquetá, Inhaúma, Ilha do Governador, Piabas, Ricardo de Albuquerque,
Realengo, Santa Cruz e Guaratiba
200,00
Irajá e Jacarepaguá 250,00
São Francisco Xavier e Campo Grande 300,00
São João Batista 500,00
Ocorre que a autora vem recebendo diversas reclamações acerca das tarifas cobradas pelas
rés; da falta de informação sobre a citada cobrança; da falta de contato por parte das rés; das
dificuldades encontradas em fazer sepultamento com outras funerárias particulares; entre outras.
A nova cobrança vale para antigos e novos proprietários. Entretanto, é sabido que milhares de
jazigos foram adquiridos há mais de 100 anos e a antiga administradora, Santa Casa, não
realizava o recadastramento, portanto não existe um cadastro atualizado com os dados dos
atuais proprietários. Assim, como poderão as novas concessionárias entrar em contato com
cada um deles? E caso não seja feito o cadastramento até final de dezembro de 2015, os
proprietários dos jazigos perderão o direito ao uso de um jazigo perpétuo? É o que determina o
Decreto citado.
Essa Comissão de Defesa do Consumidor quando tomou conhecimento das alterações havidas
na gestão dos 13 cemitérios públicos da cidade do Rio de Janeiro ocorridas quando estes
passaram a ser geridos pelas Concessionárias Rio Pax e ReViver e que ocasionaram na
cobrança de anuidades àqueles possuidores de jazigos e sepultura perpétuos, nos contratos
firmados junto à Santa Casa que ainda estão em vigor, bem como impuseram a majoração das
taxas e cobranças pelos serviços prestados e atenta às reclamações dos consumidores, entrou
em contato com a rés Concessionárias e com a Prefeitura com o intuito de pedir esclarecimentos
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sobre o modo como todos os consumidores proprietários de jazigos e sepulturas perpétuas
serão localizados e informados acerca das mudanças (doc. 06).
A ré Reviver informou que os proprietários dos jazigos e sepulturas perpétuas pertencentes aos
cemitérios sob sua administração estão sendo localizados e informados à respeito das novas
mudanças através de publicações no Diário Oficial, jornais de grande circulação e veiculado em
comerciais de rádio e televisão (doc. 07).
A ré Rio Pax, apesar de notificada por esse órgão de defesa do consumidor, sequer apresentou
resposta até a distribuição dessa demanda, esclarecendo o modo como está procedendo a
devida comunicação.
A Prefeitura do RJ, através do ofício SC/GAB nº402/2015 (doc. 03) informou que a nova
cobrança é decorrente de procedimento licitatório, em que as duas concessionárias foram
submetidas e passaram a administrar os 13 cemitérios públicos. Esclarece que a citada
cobrança será destinada à administração, manutenção e conservação do cemitério, bem como à
remuneração dos serviços gerais prestados pelas concessionárias. Informa que a atualização
dos dados cadastrais dos titulares/proprietários de jazigos está sendo através de
recadastramento feitos pelas concessionárias.
O Decreto 39.094/2014 (doc. 04), determina em seu artigo 141 e seguintes que a cobrança da
tarifa anual e o direito de uso da sepultura cessará, em caso de inadimplência do pagamento
das tarifas de manutenção por período superior a 3 anos consecutivos ou 6 alternados.
Conforme matéria do Jornal O Dia de 20/07/2015, intitulada “Cemitérios vão cobrar de
proprietários taxas de até R$500 pelos jazigos”, “apesar da desatualização do cadastro dos
proprietários, as duas concessionárias garantem que todos serão notificados até o fim do ano.
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As empresas prometem digitalizar todos os registros. Mas, para a conclusão do serviço, a
Reviver e a Rio Pax ganharam da Prefeitura do Rio um prazo de dez anos” (doc. 08).
Apesar da cobrança da nova tarifa anual ser destinada à manutenção dos jazigos e sepulturas,
ela não livrará os proprietários da responsabilidade de manter limpos os túmulos. É que o valor
arrecadado servirá exclusivamente às melhorias nos cemitérios. Ainda segundo a citada matéria,
desde que as concessionárias assumiram a administração dos cemitérios públicos, “qualquer
carioca paga, no mínimo, R$220 de taxa de sepultamento numa cova rasa, além do aluguel da
capela, que chega aos R$500. E tem que desembolsar ainda a taxa antecipada de exumação de
R$440”.
A falta da divulgação e desconhecimento total dos proprietários dos jazigos é patente. Não é
raro o proprietário tomar conhecimento da existência da nova tarifa somente no momento em
que faz o enterro de um parente, como ocorreu com a consumidora Maria de Fátima: “Só fiquei
sabendo dessa taxa porque uma tia minha foi enterrar um parente em um jazigo e o cemitério
disse que ela tinha que pagar mais R$200 da manutenção”, conforme matéria do jornal O Dia de
20/07/2015 (doc. 08). Outro consumidor, citado na mesma matéria alega também ter sido pego
de surpresa. Proprietário há mais de 60 anos de um jazigo em Realengo, Sr. Waldir Araújo foi
reclamar que o local estava abandonado e tomou conhecimento de que a família devia o valor
de R$200. Ainda foi informado pelos atendentes do cemitério que caso a família não pagasse
até o final do ano, o túmulo da tia seria violado e a família perderia o direito sobre o bem.
Na citada matéria, a Prefeitura alega que não há qualquer violação no contrato do jazigo
perpétuo antigo assinado com a Santa Casa de Misericórdia, uma vez que o solo pertence ao
Município. A Secretaria de Conservação alega da matéria que “assim como o proprietário de
imóveis paga IPTU, haverá cobrança da taxa de manutenção dos jazigos”.
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Não obstante as concessionárias passarem a ter a vultuosa receita de R$33 milhões por ano –
quase o valor total pago pelas duas empresas para explorar os cemitérios (R$43 milhões) pelo
prazo de 35 anos, segundo a matéria, o valor poderá ser ainda bem maior, considerando que
caso o proprietário do jazigo perpétuo não seja localizado para efetuar o pagamento, a
inadimplência de três anos configura despejo do dono do túmulo, conforme o Decreto Municipal,
assim, as concessionárias poderão tomar o jazigos e dispor para outro comprador. Ressalta-se
que o m2 do jazigo no cemitério São João Batista, por exemplo, custa R$25.000,00, conforme
Resolução SECONSERVA nº 24/2014.
De acordo com a matéria do Jornal O Globo de 22/05/2015 (doc. 09) nos 13 cemitérios públicos
do Rio existem cerca de 500 mil sepulturas. O cemitério São João Batista tem 40 mil sepulturas
e segundo diretor da concessionária ré Rio Pax que administra esse cemitério, são direitos
assegurados ao longo de mais de 163 anos de existência do cemitério.
Resta demonstrado que se faz imprescindível a comunicação prévia a TODOS os
consumidores/proprietários dos jazigos perpétuos sobre a tarifa anual e que essa comunicação
deve ser feita pelas concessionárias rés, através do recadastramento de TODOS os jazigos
localizados nos cemitérios. É evidente que a responsabilidade dessa comunicação é das rés e
não pode ser repassada aos consumidores.
Ainda no que diz respeito à falta de informação clara e adequada, outra questão abordada nas
matérias jornalísticas e nas reclamações trazidas pelos consumidores refere-se à falta de
informação adequada por parte dos funcionários das rés que sequer conhecem o procedimento
a ser adotado pelas mesmas para cobrança da tarifa anual. Na mencionada matéria do Jornal O
Dia, de 20/07/2015, uma recepcionista do cemitério de Ricardo de Albuquerque disse ao
jornalista que a cobrança é uma espécie de condomínio, onde os donos são obrigados a pagar
despesas com a manutenção dos túmulos. A responder sobre a eficácia da convocação, foi
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sucinta: “É como um recall (reparos nos carros), entende? Os fabricantes chamam pela
imprensa. Quem atendeu ao chamado recebe o serviço, quem não aparece, perde.”
Outra questão abordada nas reclamações e nas diversas matérias jornalísticas refere-se à
dificuldade que consumidores estão enfrentando ao fazerem o sepultamento nesses cemitérios
públicos, quando optam por contratar serviços de funerárias particulares que não sejam com as
concessionárias rés.
Há relatos de consumidores que tiveram que aguardar por dias a liberação de uma cova para
enterrar um parente, o que não aconteceria caso tivesse optado por fazer o sepultamento com
uma das rés. Como no caso citado na matéria do Jornal O Globo de 01/09/2015, intitulada
“PROCON investiga monopólio nos sepultamentos da cidade”. Conforme matéria, a
assistente social Marilena Santos viveu um drama para sepultar sua tia. Além do sofrimento pela
perda, teve que enfrentar a demora para conseguir uma vaga no Cemitério de Irajá, o que só
ocorreu 2 dias após a morte da tia. Segundo matéria, a família queria comprar uma sepultura
tipo gaveta, mas precisariam esperar 2 dias, então tiveram que se contentar com uma cova no
chão, chamada de cova rasa. “Disseram que se eu tivesse feito o enterro pela funerária da Rio
Pax, que administra o cemitério, teria mais chance de conseguir a gaveta. É um absurdo esse
monopólio – criticou Marilena” (doc. 10).
Infelizmente o caso da Sra Marilena não é o único, de acordo com a matéria, o Sindicato dos
Estabelecimentos Funerários do Rio (Seferj), a fila de espera para o sepultamento pode chegar
a três dias, prazo que não existe para quem faz o sepultamento com as concessionárias rés. A
matéria citada retrata casos semelhantes, de pessoas que aguardaram 3 dias para poder fazer o
sepultamento de seus entes queridos, sempre quando o serviço vai ser feito por uma funerária
particular, que não sejam as rés.
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Além das mencionadas matérias jornalísticas, das reclamações recebidas pela Codecon,
constam ainda reclamações no site Reclame Aqui sobre os serviços prestados pelas
concessionárias rés (doc. 11).
Assim, diante da inércia das rés em fornecer as informações claras e adequadas aos
consumidores proprietários dos jazigos perpétuos no que se refere ao recadastramento, bem
como aos serviços que serão prestados decorrentes da cobrança da nova tarifa anual de
manutenção, e ainda, no que se refere ao direito de escolha do consumidor em contratar o
serviço de sepultamento com quem melhor lhes convier, não restou alternativa senão o
ajuizamento da presente ação civil pública pela Comissão de Defesa do Consumidor da ALERJ
a fim de por cobro às ilegalidades praticadas.
IV - DO DIREITO
A) DOS PRINCÍPIOS E DA GARANTIA CONSTITUCIONAL ENVOLVIDOS
À relação contratual estabelecida entre as rés e os consumidores, usuários dos serviços por elas
prestados, aplica-se as normas do CDC, conforme artigos 2º, 3º e 29, CDC.
Às relações de consumo, conforme expressamente previsto em seu artigo 4º, III, CDC, aplica-se
o princípio da boa-fé objetiva. Segundo a autora Cláudia Lima Marques, “boa fé objetiva
significa, portanto, uma atuação refletida, uma atuação refletindo, pensando no outro, no
parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas expectativas
razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou
desvantagem excessiva, cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento do
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objetivo contratual e a realização dos interesses das partes”. (Contratos no Código de Defesa do
Consumidor: o novo regime das relações contratuais. São Paulo: RT, 2002, pp. 181/182)
Antes, porém, de analisar se a forma como as rés vêm oferecendo e executando o serviço de
administração dos 13 cemitérios públicos do RJ, é compatível com as exigências do princípio da
boa-fé objetiva, convém ressaltar que o tratamento que deve ser dado às partes envolvidas em
relações privadas deve obedecer ao que prescreve o artigo 5º, caput, CF, ou seja, deve ser
dado tratamento igual aos iguais, e desigual aos desiguais na exata medida de suas
desigualdades, para que se alcance uma igualdade substancial.
“Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente
os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de
suas desigualdades. Igualdade no sentido da garantia
constitucional fundamental quer significar isonomia real,
substancial e não meramente formal”. (NERY JÚNIOR, Nelson.
Código de processo civil comentado e legislação processual
civil extravagante em vigor. São Paulo: RT, 1997, p. 74)
Ignorar esta garantia fundamental é o mesmo que permitir o arbítrio dos mais “fortes” sobre os
mais “fracos”, hipossuficientes, como consumidores, crianças, mulheres, idosos.
“O ordenamento jurídico, que desde a Revolução Francesa,
graças ao princípio da igualdade formal, pôde assegurar a
todos tratamento indistinto perante a lei, passa a preocupar-se,
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no direito contemporâneo, com as diferenças que inferiorizam a
pessoa, tornando-o vulnerável. Para o hipossuficiente, com
efeito, a igualdade formal mostra-se cruel, sendo-lhe motivo de
submissão ao domínio da parte preponderante”. (TEPEDINO,
Gustavo. Normas Constitucionais e Direito Civil na Construção
Unitária do Ordenamento, in: A constitucionalização do direito:
fundamentos teóricos e aplicações específicos/ Cláudio Pereira
Souza Neto, Daniel Sarmento, coordenadores. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2007, p. 317)
O princípio da boa-fé objetiva, segundo a doutrina, possui três funções básicas: 1) fonte de
deveres anexos, ou, como preferem alguns autores, deveres laterais ou instrumentais; 2)
limitação ao exercício de direitos subjetivos (antes considerados lícitos e agora considerados
abusivos) e 3) interpretação da relação contratual (através de uma visão total dessa) para que
se alcance “o justo”.
“Efetivamente, o princípio da boa-fé objetiva na formação e na
execução das obrigações possui muitas funções na nova teoria
contratual; 1) como fonte de deveres especiais de conduta
durante o vínculo contratual, os chamados deveres anexos, e
2) como causa limitadora do exercício, antes lícito, hoje
abusivo, dos direitos subjetivos e 3) na concreção e
interpretação do contrato. A primeira função é uma função
criadora (pflichtenbegrundende Funfktion), seja como fonte de
novos deveres (Nebenpflichten), deveres de conduta anexos
aos deveres de prestação contratual, como o dever de informar,
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de cuidado e de cooperação; seja como fonte de
responsabilidade por ato lícito (Vertrauenshaftung), ao impor
riscos profissionais novos e agora indisponíveis por contrato. A
segunda função é uma função limitadora (Schranken-
bzw.Kontrollfunktion), reduzindo a liberdade de atuação dos
parceiros contratuais ao definir algumas condutas e cláusulas
como abusivas, seja controlando a transferência dos riscos
profissionais e libertando o devedor em face da não
razoabilidade de outra conduta (pflichenbefreinde
Vertrauensubstande). A terceira é a função interpretadora, pois
a melhor linha de interpretação de um contrato ou de uma
relação de consumo deve ser a do princípio da boa-fé, o qual
permite uma visão total e real do contrato sob exame. Boa-fé é
cooperação e respeito, é conduta esperada e leal, tutelada em
todas as relações sociais. A proteção da boa-fé e da confiança
despertada formam, segundo Couto e Silva, a base do tráfico
jurídico, a base de todas as vinculações jurídicas, o princípio
máximo das relações contratuais. A boa-fé objetiva e a função
social do contrato são, na expressão de Waldírio Bulgarelli,
´como salvaguardas das injunções do jogo do poder negocial´”.
(Marques, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do
Consumidor. O novo regime das relações contratuais. São
Paulo: RT, 2002, pp. 180/181)
“Por boa-fé se quer significar – segundo a conotação que
adveio da interpretação conferida ao § 242 do Código Civil
alemão, de larga força expansionista em outros ordenamentos,
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e, bem assim, daquela que lhe é atribuída nos países da
common law – modelo de conduta social, arquétipo ou, obrando
como obraria um homem reto: como honestidade, lealdade,
probidade. Por este modelo objetivo de conduta levam-se em
consideração os fatores concretos do caso, tais como status
pessoal e cultural dos envolvidos, não se admitindo uma
aplicação mecânica do standard, de tipo meramente
subsuntivo”. (Judith Martins Costa. A Boa-Fé no Direito Privado,
sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: RT,
Desta forma, a boa-fé objetiva passou a atuar hoje nas relações obrigacionais (contratuais ou
extracontratuais) como termômetro da justiça, do equilíbrio e da igualdade material.
B) DO CUMPRIMENTO IMPERFEITO DO DEVER DE INFORMAÇÃO
Optou o legislador por dar maior ênfase ao dever de informação, conforme se extrai da leitura
dos artigos 4º, caput, 6º, II e III, 8º, 9º, 10, § 1º, 12, in fine, 14, in fine, 30, 31, 37, § 1º, 40, 46, 52,
caput e incisos, e 54, §§ 3º e 4º.
A opção do legislador levou em conta a natural vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo, a orientação de organismos internacionais e a tendência do direito comparado,
principalmente do direito europeu. O objetivo é claro: dar condições para que o consumidor
possa contratar de forma racional, ou melhor, fazer escolhas acertadas.
“A fragilidade do consumidor sintetiza a razão de sua proteção
jurídica pelo Estado. O consumidor é a parte frágil nas mais
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diversas e variadas relações jurídicas estabelecidas no
mercado. Ante essa constatação, diversos países,
especialmente a partir da década de 70, editaram normas de
tutela dos interesses dos consumidores. Como reflexo dessa
preocupação, a ONU, em 1985, por meio da Resolução 39/428,
recomendou que os governos desenvolvessem e reforçassem
uma política firme de proteção ao consumidor para atingir os
seguintes propósitos: proteção da saúde e segurança; fomento
e proteção dos interesses econômicos do consumidor;
fornecimento de informações adequadas para possibilitar
escolhas acertadas; educação do consumidor; possibilidade
efetiva de ressarcimento do consumidor e liberdade de formar
grupos e associações que possam participar das decisões
políticas que afetem os interesses dos consumidores” (BESSA,
Leonardo Roscoe. Código de Defesa do Consumidor e o
Código Civil de 2002: convergências e assimetrias/
coordenadores Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer, Adalberto
Pasqualotto. São Paulo: RT, 2005, pp. 282/283)
“A abrangência do dever de explicar é uma questão de
necessidade: quando um especialista compra uma máquina
complicada, o vendedor já pode pressupor certos
conhecimentos; no entanto, no caso de produtos novos ou
ainda não conhecidos no mercado, o vendedor deve explicar
detalhadamente com usá-los”. (FABIAN, Christoph. O Dever de
Informar no Direito Civil. RT: São Paulo, 2002, p. 127)
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“Neste momento de tomada da decisão pelo consumidor,
também deve ser dada a oportunidade do consumidor conhecer
o conteúdo do contrato (veja art. 46 do CDC), de entender a
extensão das obrigações que assume e a abrangência das
obrigações da prestadora de serviços, daí a importância do
destaque e clareza das cláusulas contratuais”. (MARQUES,
Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, o
novo regime das relações contratuais. RT: São Paulo, 2002, p.
191)
No caso em questão é duvidoso que as rés estejam cumprindo a legislação consumerista,
principalmente no que diz respeito à forma como está prestando informação sobre a nova tarifa
anual de manutenção, sobre o recadastramento dos proprietários das sepulturas, entre outras.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
II – (...) asseguradas a liberdade de escolha;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
Dispõe o Código de Defesa do Consumidor, em seu Art. 31, que a oferta (de boa-fé), deve
assegurar informações claras, precisas, ostensivas, etc., tudo, com o objetivo de que não restem
dúvidas ao consumidor no momento de celebrar seus contratos ou contrair obrigações.
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De acordo com as matérias jornalísticas e as reclamações dos consumidores, resta
demonstrado que as rés não estão assegurando os direitos básicos do consumidor, deixando de
prestar as informações de maneira clara e adequada; impedindo que o consumidor tenha
liberdade de escolha, à medida em que o serviço quando contratado com outra funerária
particular, não pode ser executado no mesmo prazo e da mesma forma quando contratado com
umas das rés.
C) DA NECESSIDADE DE PUBLICAÇÃO DO RECADASTRAMENTO EM JORNAIS DE
GRANDE CIRCULAÇÃO
A autora, ao requerer a condenação das rés no sentido de que promovam a publicação de
matérias publicitárias esclarecendo a necessidade do recadastramento, nos diversos e principais
meios de comunicação (rádios, sites, redes sociais), e em jornais de grande circulação, no
mínimo um domingo por mês, até que concluam o recadastramento de todos os
consumidores/proprietários dos jazigos perpétuos, o faz para que os consumidores dela tomem
ciência, oportunizando, assim, a efetiva proteção de direitos lesados. Visa tão somente permitir
que os proprietários dos jazigos possam ter a oportunidade de tomar ciência não só da
necessidade do recadastramento com o pagamento da taxa anual, mas também e
principalmente, de que o Poder Judiciário reconheceu o problema e determinou a solução do
mesmo.
É direito dos consumidores terem conhecimento da existência da obrigatoriedade do
recadastramento de uma modo efetivo e a melhor maneira que isso ocorra é através dos jornais
de grande circulação, desta forma, alcança a eficácia do Decreto mencionado.
Maria Sylvia Zanella di Pietro (Direito Administrativo, Atlas, 1997, pág. 68) ressalta a importância
do asseguramento, pelo dispositivo constitucional, do direito de informação do cidadão (com
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base no art. 5º, incisos XIV e XXXIII da CF/88) não só em face de interesse particular, mas,
igualmente em face dos interesses coletivos ou gerais, de modo a operar uma forma mais
eficiente de controle popular da Administração Pública. Na mesma linha é o pensamento de
Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 1994, pág. 59).
No que diz respeito ao Judiciário, a própria Constituição estatui regra específica quanto à
publicidade de seus atos (inciso IX do art. 93). Sabedores que somos da necessidade de
fundamentação dos atos judiciais, para que se possa contrastá-los, é na publicidade destes atos
que se constrói a ponte entre o juiz e o cidadão. Todos os seus atos, com exceção dos que
possam atingir a intimidade dos envolvidos ou quando o interesse social assim o exigir (o que,
convenhamos, deixa ao juiz um amplo poder de decidir o que seria este "interesse social"), o
que está estampado no inciso LX do art. 5º da Constituição - "a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem".
Por fim, publicar é tornar, enfim, público. E a autora pretende que a necessidade do
recadastramento dos jazigos perpétuos, não seja apenas tornada pública e do conhecimento
público, através da publicação em Diário Oficial do decreto que o regulamenta mas, também,
tornar clara e compreensível ao público. É fazer com que a publicidade cumpra o papel
essencial de verdadeiramente informar o público, aqui considerado o conjunto de cidadãos que
adquiriram o jazigo perpétuo ou os que venham a adquirir.
D) DA LIBERDADE DE ESCOLHA
Além do cumprimento imperfeito do dever de prestar as informações necessárias para que o
consumidor, seja proprietário novo ou antigo dos jazigos, possa ter conhecimento da
necessidade de fazer seu recadastramento e pagar uma tarifa anual, é direito do consumidor ter
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assegurada a liberdade de escolha ao contratar a funerária que deseja para fazer o
sepultamento de seu ente querido e cabe às rés, como concessionária administradora dos
cemitérios públicos, viabilizar que esse serviço seja executado nas mesmas condições como se
ela mesma o fosse executar. Consiste em clara ilegalidade o consumidor permanecer em uma
fila de espera para a liberação de uma sepultura porque está contratando com uma funerária
diferente da concessionária. Não pode haver privilégio. Todas as funerárias devem poder
executar seus serviços conforme contratado, nas dependências dos cemitérios públicos,
diferentemente do que vem ocorrendo, conforme relatos de consumidores nas matérias
jornalísticas mencionadas na presente demanda.
As rés, por serem a “profissional” da relação - aquelas que conhecem todas as condições do
serviço que prestam, que são capazes de verificar previamente, antes de dar por aperfeiçoado o
contrato de prestação de serviços, se possuem capacidade de atender a todos os consumidores,
assumem, ainda que não queiram, por força mesmo da atividade que escolheram desenvolver
para obter lucro, a obrigação de atestar a capacidade real (e não presumida) de o serviço ser
colocado à disposição do consumidor.
Quanto maior o grau de hipossuficiencia do público alvo da oferta, no sentido de conhecimentos
sobre os detalhes que envolvem um determinado serviço ou produto, maior a necessidade de
informação, de cautelas. Oferecer serviços, acatar pedidos relacionados com o serviço
oferecido, deixar de adotar as cautelas necessárias para evitar danos ao consumidor, frustrar
expectativas, e, ainda, fugir total ou parcialmente de responsabilidades, deixando o consumidor
amargar prejuízos, significa “prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em
vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social” (artigo 39, IV, CDC), significa “exigir
do consumidor vantagem manifestamente excessiva” (artigo 39, V, CDC), significa exonerar ou
atenuar sua própria responsabilidade (Art. 51, I, CDC), significa, em síntese estreita, comportar-
se de forma diversa ao exigido pela boa-fé objetiva, o que é vedado por se tratar de abuso.
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E) DO CUMPRIMENTO IMPERFEITO DA OBRIGAÇÃO
No caso em questão é notório que as rés não fornecem condições necessárias para que os
consumidores tomem ciência previamente de todas as informações referentes ao serviço, bem
como não cumprem com o ofertado. Essas falhas tornam evidente que precisam se adequar à
legislação referente.
Não deve ser olvidado o teor do artigo 35, I, também do Código de Defesa do Consumidor, que
estatui que:
“Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar
cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o
consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da
oferta, apresentação ou publicidade;(...).”
É, desta forma, inquestionável a conclusão de que tudo o que foi dito até o momento na
presente contenda resume-se em falha na prestação de serviço, falha esta prevista nos artigos
20 e 22 do Código de Defesa do Consumidor:
“Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de
qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
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mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando
cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros
devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados
para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade. (...)
F) EXISTÊNCIA DE DANOS COLETIVOS
É evidente a caracterização do dano moral coletivo, pois todo o conjunto de consumidores que
adquiriram os jazigos perpétuos e os que ainda irão adquiri-los, estão sendo vítimas das rés,
principalmente no que se refere à falta da informação clara e adequada e à dificuldade em fazer
o sepultamento com uma outra funerária que não seja uma das rés.
É importante frisar, com relação ao dano moral coletivo, a sua previsão expressa no nosso
ordenamento jurídico nos art. 6º, VI e VII do CDC.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
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VI - a efetiva proteção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; (grifo nosso).
No mesmo sentido, o art. 1º da Lei nº. 7.347/85:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (grifou-se). I - ao meio ambiente; II - ao consumidor; III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; V - por infração da ordem econômica e da economia popular; VI - à ordem urbanística.
Conforme afirma Leornado Roscoe Bessa, em artigo dedicado especificamente ao tema, "além
de condenação pelos danos materiais causados ao meio ambiente, consumidor ou a qualquer
outro interesse difuso ou coletivo, destacou, a nova redação do art. 1º, a responsabilidade por
dano moral em decorrência de violação de tais direitos, tudo com o propósito de conferir-lhes
proteção diferenciada".5
5 BESSA, Leonardo Roscoe. Dano moral coletivo. In Revista de Direito do Consumidor nº 59/2006.
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A concepção do dano moral coletivo, como bem afirma o autor, não pode estar mais presa ao
modelo teórico da responsabilidade civil privada, de relações intersubjetivas unipessoais.
Vemos, nesse assunto, uma nova gama de direitos, difusos e coletivos, necessitando-se, pois,
de uma nova forma de sua tutela. E essa nova proteção, com base no art. 5º, inciso XXXV da
Constituição da República, sobressai, sobretudo, no aspecto preventivo da lesão. Por isso, são
cogentes meios idôneos a punir o comportamento que ofenda (ou ameace) direitos
transindividuais.
Trata ainda, o mesmo autor, "em face da exagerada simplicidade com que o tema foi tratado
legalmente, a par da ausência de modelo teórico próprio e sedimentado para atender aos
conflitos transindividuais, faz-se necessário construir soluções que vão se utilizar, a um só
tempo, de algumas noções extraídas da responsabilidade civil, bem como de perspectiva própria
do direito penal"6.
Desta forma, diante dessas premissas, vemos que a função do dano moral coletivo é
homenagear os princípios da prevenção e precaução, com o intuito de propiciar uma tutela mais
efetiva aos direitos difusos e coletivos, como no caso em tela. Nesse aspecto, a disciplina do
dano moral coletivo se aproxima do direito penal, especificamente de sua finalidade preventiva,
ou seja, de prevenir nova lesão a direitos metaindividuais.
2 Leonardo Roscoe. Dano moral coletivo. In Revista de Direito do Consumidor nº 59/2006.
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Ainda sobre o tema, menciona Leonardo Roscoe Bessa que "como reforço de argumento para
conclusão relativa ao caráter punitivo do dano moral coletivo, é importante ressaltar a aceitação
da sua função punitiva até mesmo nas relações privadas individuais".7
Isso porque o caráter punitivo do dano moral sempre esteve presente, até mesmo nas relações
de cunho privado e intersubjetivas. É o que se vislumbra da fixação de astreintes e de cláusula
penal compensatória, a qual tem o objetivo de pré-liquidação das perdas e danos e de coerção
ao cumprimento da obrigação. Outrossim, a função punitiva do dano moral individual é
amplamente aceita na doutrina e na jurisprudência. Tem-se, portanto, um caráter dúplice do
dano moral: indenizatório e punitivo. E o mesmo se aplica, nessa esteira, ao dano moral coletivo.
Em síntese, utilizando novamente do brilhante artigo produzido por Leonardo Roscoe Bessa, "a
dor psíquica ou, de modo mais genérico, a afetação da integridade psicofísica da pessoa ou da
coletividade não é pressuposto para caracterização do dano moral coletivo. Não há que se falar
nem mesmo em sentimento de desapreço e de perda de valores essenciais que afetam
negativamente toda uma coletividade" (André Carvalho Ramos) "diminuição da estima,
inflingidos e apreendidos em dimensão coletiva" ou "modificação desvaliosa do espírito coletivo"
(Xisto Tiago). Embora a afetação negativa do estado anímico (individual ou coletivo) possa
ocorrer, em face dos mais diversos meios de ofensa a direitos difusos e coletivos, a configuração
do denominado dano moral coletivo é absolutamente independente desse pressuposto"8.
7 Dano moral coletivo. In Revista de Direito do Consumidor nº 59/2006.
8. Dano moral coletivo. In Revista de Direito do Consumidor nº 59/2006.
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Resta demonstrado portanto, que o dano moral coletivo tem uma função punitiva em virtude da
violação de direitos difusos e coletivos, sendo devidos, de forma clara, no caso em apreço.
Os fatos narrados são ofensivos a toda a coletividade e põem em risco especialmente a grande
quantidade de consumidores que adquiriam os jazigos perpétuos localizados nesses 13
cemitérios administrados pelas rés. É necessário, pois, que o ordenamento jurídico crie sanções
suficientes para fazer cessar essas atitudes das rés, no que diz respeito, especificamente, à falta
de informação clara e adequada, bem como ao “monopólio” criado pelas mesmas quando
dificultam a execução dos serviços de outras funerárias, escolhidas e contratadas pelos
consumidores, sendo esta a função do dano moral coletivo.
Nesse sentido a jurisprudência do TJ-RJ, com o reconhecimento do dano moral coletivo:
2008.001.08246 - APELAÇÃO, DES. JOSE CARLOS PAES -
Julgamento: 13/08/2008 - DÉCIMA QUARTA CÂMARA CIVEL
AGRAVO INOMINADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO
MORAL COLETIVO.1. A alegação da ocorrência de cerce-
amento de defesa não prospera, visto que, conforme expresso
na sentença, basta a verificação da documentação acostada
para que o Juízo possa aferir se houve violação ao Código de
Proteção e Defesa do Consumidor, não dependendo, portanto,
de conhecimento técnico para tal. Assim, a hipótese se
enquadra no art. 420, parágrafo único, I, do CPC.2. O
argumento de que nas promoções realizadas não havia
qualquer condição de consumo dos minutos do plano de
franquia é facilmente afastado, diante de suas próprias
alegações de que as publicidades ofertadas foram claras em
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informar que dependia do consumo dos minutos da franquia.3.
Da mesma forma, as afirmativas de que informou
expressamente em seu material publicitário que a tarifa
promocional somente seria válida após o consumo da franquia
e do pacote principal não merecem amparo, uma que
dispostas de forma difícil de ler, em letras miúdas, que não
chamam a atenção do consumidor, dificulta-lhe a leitura. 4. O
dano moral coletivo é direito básico do consumidor. Art.
6º, VI, da lei 8078/90. Precedentes do STJ, TJ/MG e TJ/RS.5.
Todavia, não há de se falar em condenação da ré em
honorários ao Ministério Público. Precedente do STJ.6.
Negado provimento ao recurso. (grifo nosso).
G) OS PRESSUPOSTOS PARA O DEFERIMENTO DA LIMINAR
PRESENTES AINDA OS PRESSUPOSTOS PARA O DEFERIMENTO DE LIMINAR, quais
sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.
O fumus boni iuris encontra-se configurado, já que os fatos em que se baseia a presente
demanda foram amplamente divulgados pela imprensa e a pretensão jurídica está amparada em
sólida evidência do ordenamento jurídico violado.
O periculum in mora se prende à circunstância de que a demora na prestação jurisdicional põe
em risco o direito adquirido dos consumidores que adquiriram há anos os jazigos perpétuos,
ocasionando aos mesmos danos irreparáveis ou de difícil reparação.
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V - DO PEDIDO LIMINAR
Ante o exposto a COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO requer LIMINARMENTE E SEM A OITIVA DA PARTE
CONTRÁRIA que seja determinado initio litis às rés:
1 – a condenação das concessionárias rés na obrigação de dar continuidade aos contratos
anteriormente firmados entre a Santa Casa (antiga administradora dos 13 cemitérios públicos) e
os consumidores/proprietários dos jazigos perpétuos, durante todo o tempo necessário até que
as mesmas consigam promover o recadastramento de todos os proprietários de jazigos
perpétuos;
2 – a condenação das rés no sentido de que promovam a publicação de matérias publicitárias
esclarecendo a necessidade do recadastramento dos jazigos perpétuos, nos moldes do artigo 30
e seguintes do CDC, nos diversos e principais meios de comunicação (rádios, sites, redes
sociais), e ainda, em jornais de grande circulação, no mínimo um domingo por mês, até que
concluam o recadastramento de todos os consumidores/proprietários dos jazigos perpétuos, em
prazo a ser estabelecido por V. Exa., sob pena de multa diária de R$50.000,00 (cinquenta mil
reais);
3 - a condenação das rés na obrigação de se abster de prestar tratamento diferenciado aos
consumidores que optarem por fazer o sepultamento com outra funerária que não seja uma das
rés, sob pena de multa por cada evento danoso, a ser estabelecido por V. Exa.;
4 – a condenação das rés no sentido de que a taxa anual somente passe a ser exeqüível a partir
do momento em que o consumidor/proprietário do jazigo perpétuo seja comprovadamente
notificado pelas rés da necessidade de ser feito o recadastramento;
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VI - DOS PEDIDOS PRINCIPAIS
Pelo acima exposto, requer:
01) A citação das rés via mandados próprios para, querendo, contestar a presente;
02) a condenação das concessionárias rés na obrigação de dar continuidade aos contratos
anteriormente firmados entre a Santa Casa (antiga administradora dos 13 cemitérios públicos) e
os consumidores/proprietários dos jazigos perpétuos, durante todo o tempo necessário até que
as mesmas consigam promover o recadastramento de todos os proprietários de jazigos
perpétuos;
03) a condenação das rés no sentido de que promovam a publicação de matérias publicitárias
esclarecendo a necessidade do recadastramento dos jazigos perpétuos, nos moldes do artigo 30
e seguintes do CDC, nos diversos e principais meios de comunicação (rádios, sites, redes
sociais), e ainda, em jornais de grande circulação, no mínimo um domingo por mês, até que
concluam o recadastramento de todos os consumidores/proprietários dos jazigos perpétuos, em
prazo a ser estabelecido por V. Exa., sob pena de multa diária de R$50.000,00 (cinquenta mil
reais);
04) a condenação das rés na obrigação de se abster de prestar tratamento diferenciado aos
consumidores que optarem por fazer o sepultamento com outra funerária que não seja uma das
rés, sob pena de multa por cada evento danoso, a ser estabelecido por V. Exa.;
05) a condenação das rés no sentido de que a taxa anual somente passe a ser exeqüível a partir
do momento em que o consumidor/proprietário do jazigo perpétuo seja comprovadamente
notificado pelas rés da necessidade de ser feito o recadastramento;
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COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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06) a antecipação da tutela em relação aos pedidos 2, 3, 4 e 5 em caso positivo, a fixação de
multa diária para o caso de descumprimento das medidas;
07) sejam as rés condenados a pagar indenização a título de danos morais coletivos, em favor
de Fundo Especial de Apoio a Programas de Proteção e Defesa do Consumidor - FEPROCON,
em consonância em cumprimento ao disposto no inciso II do art. 24 do Decreto nº 861, de
09/07/93, que regulamentou a Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, alterada pela Lei nº
8656, de 21 de maio de 1993
08) a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC) nos termos da fundamentação infra;
09) a publicação do edital previsto no artigo 94 da Lei n. 8.078/90;
10) a condenação das rés, individualmente, na obrigação de publicar, às suas custas, em dois
jornais de grande circulação desta Capital, em quatro dias intercalados, sem exclusão do
domingo, em tamanho mínimo de 20 cm x 20 cm, a parte dispositiva de eventual procedência,
para que os respectivos consumidores dela tomem ciência, oportunizando, assim, a efetiva
proteção de direitos lesados;
11) a intimação do Ministério Público;
12) a condenação das rés ao pagamento dos ônus sucumbenciais;
13) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, em face
do previsto art. 87 da Lei nº 8.078/90.
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VII - DAS PROVAS
Requer pela produção de todas as provas admissíveis em direito, nos termos do art. 332 do
Código de Processo Civil.
VIII - DO VALOR DA CAUSA
Dá-se a esta causa, por força do disposto no art. 258 do Código de Processo Civil, o valor de
R$1.000.000,00 (hum milhão de reais).
Nestes termos,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2015
SOLANGE MUNIZ BORGES MEIRELES
OAB/RJ n. 114.498
ANA LUIZA R. APARÍCIO BENETTI
OAB/RJ 164.649
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RELAÇÃO DE DOCUMENTOS
01 – LEGITIMIDADE DA CODECON
02 – PROCURAÇÃO
03 – OFÍCIO SC/GAB Nº 402/2015 – SECRETARIA MUNICIPAL DE
CONSERVAÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS – PREFEITURA
04 – DECRETO 39.094/2014
05 – RESOLUÇÃO SECONSERVA Nº 24
06 – OFÍCIOS DA CODECON ENVIADOS ÀS CONCESSIONÁRIAS RIOPAX,
REVIVER E À SECRETARIA MUNICIPAL DE SERVIÇOS PÚBLICOS
07 – RESPOSTA DA CONCESSIONÁRIA REVIVER
08 – MATÉRIA JORNALÍSTICA O DIA -
09 – MATÉRIA JORNALÍSTICA O GLOBO
10 – MATÉRIA JORNALÍSTICA O GLOBO – PROCON ABRE PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
11 – RECLAMAÇÃO DE UM CONSUMIDOR À CODECON E AO MP E
RECLAMAÇÕES NO SITE “RECLAME AQUI”
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DOC. 11