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Departamento de Serviço Social
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ASSISTÊNCIA SOCIAL E PRÁTICAS CLIENTELISTAS:
MAPEANDO OS CENTROS SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE DUQUE
DE CAXIAS/RJ.
Aluna: Leandro de Castro Benício.
Orientador: Marcio Eduardo Brotto.
1) Introdução Com base nos estudos ao longo da pesquisa, o presente relatório, é resultado das ações
acompanhadas e realizadas pelo bolsista, em continuidade as investigações e estudos acerca
do tema. A pesquisa tem como eixo central o debate sobre as práticas clientelistas que ainda
integram o sistema de proteção social brasileiro, apesar dos avanços com a implantação do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Neste sentido, cabe resgatar e sinalizar que, historicamente, a política de assistência
social apresenta uma trajetória marcada por vinculações ideológicas, religiosas e políticas que
colocam em evidência um conjunto de práticas que se contrapõem a sua compreensão como
política pública, garantidora de direitos do cidadão e de dever do Estado.
Em si, a assistência social pode ser considerada um campo em transformação, que
ganha expressão com sua inscrição, enquanto política integrada ao sistema de seguridade
social brasileiro na Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, com a implantação, em
1993, da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e, em 2004, da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS). Tal inscrição requer uma nova concepção de assistência social,
firmada como política pública de dever do Estado, e o reconhecimento de que tal concepção
deve ser assimilada e incorporada por toda a sociedade, sendo, assim, capaz de promover
significativas alterações estruturais e legais que permitam romper com valores e práticas
tradicionais.
Neste sentido é possível afirmar que se, por um lado, o sistema de proteção social
brasileiro é compreendido como efeito da ação do proletariado e de pressões da sociedade
organizada para a intervenção do Estado, de outro, é considerado, também, fruto de uma
prática paternalista das elites, comumente associada à figura de Getúlio Vargas.
Assim, no processo histórico, as políticas sociais são constantemente alvo de
questionamentos que tomam por base um conjunto significativo de traços que perduram e
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atravessam diferentes conjunturas e dinâmicas políticas, direcionando ao Estado um papel de
benfeitor, apesar de, na verdade, expressar evidentes interesses particularistas.
Torna-se importante destacar que a trajetória da política de assistência no Brasil
permite verificar a influência de culturas políticas distintas – que também explicitam desafios
distintos – qualificadas por seu caráter democrático ou, por oposição, tecnocrático e/ou
clientelista. A influência dessa cultura política agrega à trajetória da política de assistência
social características que a legitimam e a caracterizam como promotora de ações
emergenciais, restritas e pontuais, direcionadas à parcela da população dita “carente”,
“desassistida”, “miserável” ou “pobre”. Portanto, qualifica-se como resultante da pobreza e da
miséria, ganhando visibilidade e fortalecendo-se em conformidade com a expansão das
necessidades sociais, sejam elas emergentes, urgentes ou excepcionais.
Neste contexto, o clientelismo configura-se como mecanismo central no conjunto de
práticas seletivas do Estado que, ao estabelecer vínculo com a esfera social, adota como
parâmetro as lealdades individuais, as diretrizes personalistas, bem como as perspectivas de
reciprocidade dos benefícios. Pode-se, assim, dizer que esses parâmetros “reforçam as figuras
do pobre beneficiário, do desamparado e do necessitado, com suas demandas atomizadas e
uma posição de subordinação e de culpabilização pela sua condição de pobreza” (YASBEK,
1993, p. 50). Da mesma forma, o clientelismo fortalece-se como um sistema de controle,
distribuição e alocação de recursos, de poder e de influência, sustentado por uma cultura
política baseada no medo, que pode não ter “raízes diretas na criminalidade urbana”, mas “se
associa à criminalidade por uma via simbólica” (PASTANA, 2005, p.197), o que remete a já
referida compreensão de poder simbólico por parte de Bourdieu (1998), que dirige ao poder
um sentido determinado tanto pelas relações materiais como pelas relações simbólicas, isto é,
de status e/ou culturais.
Por outro lado, o clientelismo significa também uma ação de troca entre sujeitos que,
por um lado, demandam um serviço de caráter público que, normalmente, não poderia ser
obtido por meio do mercado e, de outro lado, por aqueles que administram ou têm acesso às
decisões sobre a concessão desse serviço. Essa troca dá-se via “moeda política”, cujo débito
será provavelmente cobrado no próximo evento eleitoral (SEIBEL e OLIVEIRA, 2006).
Pode-se concluir, portanto, que o clientelismo se fortalece nos momentos de
necessidades, normalmente excepcionais e urgentes. E é justamente no campo das políticas
sociais que essa cultura política assume o seu formato mais primitivo, em particular na
política de assistência social. O resultado desse processo é a reedição histórica de uma relação
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socialmente perversa e excludente que desqualifica as demandas sociais e suas possibilidades
de transformação em políticas sociais de cunho democratizante e garantidoras de cidadania.
Diante dessa configuração, e de um cenário social capitalista demarcado por crises,
desigualdades e marginalizações do campo social, as necessidades sociais são utilizadas como
meio de ampliação de práticas de legitimação de favores, servindo como moeda de troca por
parte de uma elite detentora de poder e de uma rede de “provedores” privados que atuam em
prol da manutenção de “carências” da classe trabalhadora, colocando-se claramente a favor da
reprodução das situações que dão origem a sua “clientela”.
A existência dos centros sociais reflete, sobretudo, o desenvolvimento de práticas de
promoção política e de manutenção de redutos eleitorais, atreladas e/ou motivadas pela
ausência de serviços e investimentos públicos que possam atender as necessidades da
população local. Neste sentido, o estudo demonstra a complexidade para superação das
práticas clientelistas exercidas pelos próprios representantes do Governo, através de serviços
que ainda estão pautados pela benemerência, fragilizando o acesso e a luta pela melhoria dos
serviços públicos garantidos em lei.
2) Metodologia:
Este é um estudo exploratório e de caráter essencialmente qualitativo, sendo
importante reforçar que a escolha do município de Duque de Caxias decorre do fato deste
apresentar contradições sociais significativas representadas de um lado pelo segundo maior
produto interno bruto (PIB) e, de outro, um dos mais baixos índices de desenvolvimento
humano (IDH), em relação ao conjunto do municípios que integram o Estado do Rio de
Janeiro. Assim, apresenta um quadro de significativa vulnerabilidade social, cuja rede de
assistência social é considerada insuficiente para suprir as demandas da população, abrindo
espaço para criação dos mencionados Centros Sociais.
Neste momento a pesquisa nos leva a indagar quais os impactos do clientelismo no
município de Duque de Caxias e suas interlocuções no processo de implementação da política
de assistência social. Entender essa estrutura, a relação dos usuários com esses espaços que
oferecem serviços que desqualificam os equipamentos públicos de direito, serve como
parâmetro para a construção de novos processos metodológicos.
Essa percepção torna-se necessária nessa fase da pesquisa, além de entender como os
espaços de controle social lidam com tais práticas e como os representantes do Governo
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entendem esta estrutura formada e caracterizada por ações fragmentadas, descontinuadas de
caráter assistencialista.
Para isto, nessa fase da pesquisa a realização de entrevistas semiestruturadas com os
representantes do legislativo municipal, lideranças da sociedade civil, que atuam no campo da
assistência social municipal e usuários da política é indispensável para futura análise de
dados, na busca de compreender como esses diferentes segmentos locais veem o
funcionamento dos centros sociais no município. Explorar espaços (fóruns, conselhos,
seminários, núcleos de pesquisa e etc.), de discussões sobre o tema em estudo faz parte desse
processo onde novas reflexões surgem.
Neste processo também serão verificados através da mídia e do portal da Câmara de
Vereadores de Duque de Caxias/RJ os discursos potenciais dos vereadores em relação ao uso
de centros sociais como instrumentos políticos, bem como analisada a prioridade dada à
política de Assistência Social em seus projetos e intervenções.
Seu desenvolvimento inclui verificar através da mídia e do portal da Câmara de
Vereadores de Duque de Caxias/RJ os discursos potenciais que caracterizam por parte dos
vereadores a relação do uso de centros sociais como ferramentas de cunho clientelista, numa
estratégia de perpetuação do poder, de controle do território, além da analisada prioridade
dada à política de Assistência Social em seus projetos e intervenções.
3) Considerações:
O processo de construção da rede socioassistencial em Duque de Caxias tem uma
considerável quantidade de instituições que solicitam reconhecimento, porém suas ações são
executadas ou apresentadas por meio de uma estrutura, onde as atividades não estão
tipificadas conforme os moldes definidos pela Resolução nº 16 do Conselho de Assistência
Social (CNAS). Fóruns populares, Conferências, são espaços que ultimamente tem levantando
discussões sobre as resoluções e diretrizes do Conselho Nacional de Assistência Social, tendo
em vista, o reordenamento das atividades conforme a tipificação nacional dos serviços
socioassistencias na rede socioassistencial privada, de caráter complementar no munícipio. Do
mesmo modo, que estão sendo realizadas diversas visitas institucionais, pelo corpo técnico de
profissionais dedicados ao credenciamento de instituições a rede.
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Além dos desafios da própria política de assistência social, verificamos que a criação
dos denominados centros sociais, pelos próprios representantes do legislativo municipal,
tornam-se espaços para barganha política, onde o clientelismo se estabelece e o direito é
substituído pela lógica do favor, em troca de votos e controle do território local.
Os estudos e investigações realizados permitem inferir que os centros sociais, são
abertos quase sempre em períodos de eleição, por políticos, ou mesmo por lideranças que
aspiram poder público e que exercem uma forma de controle de votos em determinados
territórios, construindo uma imagem de benfeitor, de alguém que se preocupa com a situação
de pobreza da população, frente inoperância do poder público.
Com está manobra, os políticos beneficiam-se das vulnerabilidades da população e da
ausência e eficácia do poder público, gerando um ciclo vicioso em que o político passa a não
desempenhar o seu papel de fiscalizados e propositor de melhorias, passando a fazer parte de
seu mandato, a intervenção de forma pontual e eleitoreira, uma forma de aproveitar-se das
limitações da atuação do Estado, e construir uma imagem que lhe garanta votos na próxima
eleição.
É nessa concepção que se apoiam os discursos das representações políticas detentoras de
centros sociais que, ao invés de aprovarem a ampliação e destinação de verbas públicas para a
implantação e execução de serviços sociais básicos, visando à melhoria da qualidade de vida
da população, acabam se beneficiando dessa situação para fortalecer o seu poder local.
Pretendemos através de entrevistas, inferir se os centros sociais caracterizam-se como
eficientes estruturas, ou “máquinas”, para a captação de votos, onde, na maioria das vezes, os
políticos assumem uma posição de ambiguidade.
Conforme a proposta metodológica nessa fase da pesquisa, as entrevistas com os
representantes do legislativo municipal, bem como lideranças da sociedade civil e usuários
dos serviços locais, foram iniciadas, mas a dificuldade para obter respostas e falar sobre o
assunto no munícipio é algo presente, pois a cultura do medo, e dos supostos envolvimentos
de políticos com o crime, práticas de violência, e disputas até mesmo familiares pelo poder
político, afastam a população da participação e luta por uma representatividade efetiva, em
viabilizar a garantia de direitos para os moradores locais. Mostraremos algumas concepções
dos vereadores sobre estas estruturas, mais ao fim deste item.
Essas dificuldades, apontam a necessidade de pensar novas formas de cumprir com os
objetivos da pesquisa, talvez criar novos procedimentos metodológicos que ajudem a otimizar
as investigações, mapeando os centros sociais e destacando sua influência na política de
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assistência social. Uma tentativa de superar tais dificuldades do processo de entrevistas foi
realizar a analise documental da tese de doutorado, realizada pelo professor orientador da
pesquisa onde o mesmo faz algumas entrevistas, com representantes governamentais,
representantes da sociedade civil, profissionais da secretaria de assistência social e moradores
do município.
O acompanhamento através da mídia também denuncia algumas intervenções do
Ministério Público Federal, de fiscais da propaganda eleitoral, onde há políticos envolvidos
em escândalos eleitorais, e de ordem administrativa de verba pública. A exemplo, a abertura
de um centro social (a nota aponta o político como dono de mais quatro centros sociais em
Duque de Caxias) em plena eleições, fazendo parte das atividades um show gospel em trio
elétrico, e atendimento médico hospitalar em várias especialidades. O político pode ter seu
mandato cassado por abuso de poder econômico, conduta vedada e captação ilícita de
sufrágio, podendo ficar até oito anos proibidos de participar de processos eleitorais.
Acreditamos diante das abordagens realizadas que estes espaços não só ajudam a
deslegitimar o papel da política de assistência social, reforçando a reprodução das práticas
assistencialistas que permeiam a história de Caxias é parte do traço clientelista local que ainda
se mantém, mesmo após a LOAS, a PNAS e o SUAS.
Essas práticas legitimam, assim, a manutenção do status quo. A lógica da dádiva e do
favor torna-se conteúdo de vínculos políticos e sociais, operando nas esferas da vida particular
e privada as questões que, numa sociedade de direitos, deveriam ser tratadas como de caráter
público (SEIBEL e OLIVEIRA, 2006, p. 137). O clientelismo, ao filtrar demandas sociais,
compromete os princípios clássicos de universalidade e de equidade.
Se, de um lado, o SUAS prevê a fiscalização das entidades socioassistenciais definidas
através de diretrizes que integram o conjunto das legislações vigentes, de outro, os centros
sociais não sofrem qualquer tipo de monitoramento, por não serem reconhecidos e nem se
enquadrarem nas modalidades pré-definidas para atendimento socioassistencial. Nesse
contexto, alguns aspectos destacam-se como intrigantes e estão relacionados à ausência de
dados concretos que permitam dimensionar o tamanho da rede de serviços oferecidos por
essas estruturas, bem como a origem de seus recursos e a qualidade dos serviços ofertados.
A dificuldade em mapear a quantidade de centros sociais reside em diversos aspectos:
uns só funcionam próximos das eleições; a manutenção de seu funcionamento depende da
eleição do candidato mantenedor; os locais de funcionamento vão de grandes estruturas a
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simples espaços em fundos de quintal; o aumento no uso de “laranjas” como responsáveis
pelo serviço, dentre outros.
Além disso, a organização dessas instituições, em grande parte, sequer atende a qualquer
tipo de registro, limitando sua identificação. E isso se confirma nos dados do mapeamento1
realizado pelo Ministério Público Estadual (MPE), realizado para servir de base para o
Tribunal Regional Eleitoral (TRE) fiscalizar propagandas eleitorais irregulares em 2010,
identificou vinte e dois (22) centros sociais, comandados por oito (08) vereadores, em Duque
de Caxias. Em contraponto, as atividades e articulações no campo empírico desta pesquisa,
entre abril de 2012 e maio de (2015), permitiram identificar a existência de quarenta e nove
(49) estruturas desse tipo, sendo trinta e quatro (34) vinculadas a atuais vereadores, quatro
(04) a deputados estaduais; dois (04) a ex-vereadores e oito (08) a lideranças comunitárias,
que provavelmente almejam acessar o cargo público. De 2010 a 2015 o quantitativo de
Centros Sociais é crescente.
Verifica-se, assim, a instabilidade no quantitativo de equipamentos, com crescimento
considerável em períodos próximos às eleições, sendo possível constatar que dos vinte e um
(21) vereadores do município de Duque de Caxias, quinze (15) possuem ligações diretas com
funcionamento de centros sociais e, por conseguinte, com a execução de práticas
assistencialistas e clientelistas – abrangendo assim, 71% das representações da Câmara
Municipal, ainda em 2015.
Em todo o período de pesquisa, alguns registros fotográficos, continuaram sendo feitos
para evidenciar a grandiosidade das estruturas:
Foto: Social Fábrica dos Sonhos, 2014.
1 Dados do estudo podem ser verificados em reportagem do Jornal Extra, publicado em 14 de agosto de 2011,
sobre Vereadores de Boa Saúde, que apresenta um balanço do uso de Centros Sociais como mecanismo
eleitoral.
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Foto: Sala de Informática e Banner com lista de cursos ofertados, 2015.
Foto: Instalações Centro Social no bairro Vila São Luiz, 1º Distrito de
Duque de Caxias/RJ, 2014/2015.
A ligação entre políticos locais e centros sociais, coloca em evidência e chama atenção
para as ofertas de "serviços assistenciais", no que se diz a origem dos recursos investidos
nesses espaços. Com base em nosso processo de investigação, verificamos que os recursos
financeiros têm como fonte doações de empresários e de aliados políticos, membros da
sociedade local, que contribuem para manutenção e funcionalidade dos centros sociais,
também prestando apoio a ascensão política de lideranças do território.
Ainda no debate sobre os recursos, constatamos, a partir de algumas abordagens e
entrevistas, outra forma de financiar os centros sociais. Neste caso, documentos demostram o
uso de recursos oriundos da folha de pagamento de cargos comissionados nos gabinetes dos
vereadores, sendo cobrados e repassados em forma de doação para determinados centros
sociais. Portanto, esta prática é utilizada como forma indireta de utilizar o dinheiro público
destinado ao pagamento de salários, ou seja, o cargo de confiança aparece como uma ponte
para ilegalidade no uso desses recursos públicos, desvirtuando a devida relação funcional do
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cargo. Da mesma forma, mais uma modalidade para obtenção e desvio de recursos,
estabelece-se pela aprovação de dotações orçamentarias do munícipio, via emendas
constitucionais, pelos próprios representantes de governo.
Na atualidade, apesar de proibida a realização de convênios, verificamos que até bem
pouco tempo a prefeitura de Duque de Caxias mantinha contratos que beneficiavam os
acordos políticos. Nesse sentido, citaram expressamente a vinculação de um político local,
que exerceu o cargo de secretário municipal de assistência social e possui um centro social.
Vale ressaltar, que vários entrevistados mencionam o uso de recursos financeiros,
oriundos de práticas ilícitas (traficantes e milicianos), caracterizando como tendência atual,
representantes vinculados ao crime, ocupando espaços públicos e representativos como
câmara de vereadores e etc. Contudo, ainda não temos documentos, ou demais instrumentos
que permitam comprovar esta modalidade de repasse de recursos.
De todas essas possíveis vinculações é possível extrair que os centros sociais,
comandado por vereadores, ou por pessoas de sua confiança - tentando apropriar-se das
necessidades apresentadas pela população – que parecem de fato atuar de forma paralela aos
serviços públicos e, segundo os participantes da pesquisa, executam um grande número de
ações, determinadas como de responsabilidade das políticas de Assistência Social e Saúde.
Com base nessas percepções, as investigações continuaram de forma a delimitar a
concepção dos atores locais sobre a existência e funcionamento na atualidade. Incluímos ai a
abordagem a políticos e representantes do legislativo local, valendo destacar algumas de suas
considerações, apesar de ainda estarmos em processo de pesquisa. Dizem eles:
[...] eu não deixo de atender ninguém, eu atendo todo mundo, todos os dias, eu ajudo lá
o trabalho social; político não é pra ter centro social desde que o poder público
atingisse a necessidade do povo, mas o poder público não chega até elas, não atende,
não resolve os grandes problemas e nem os pequenos [...] aí o vereador tem que tá
tirando de seu dinheiro [...] porque todo dia tem uma mãe, tem um pai, tem uma
pessoa, um vizinho na sua porta, no seu gabinete pedindo ajuda pra comprar um
remédio, pra comprar o gás, pra comprar uma cesta básica, pra fazer um exame que não
pode pagar e o vereador que tem um coração bom, que pensa e se preocupa com o
povo, ele acaba absorvendo [...] ele vai lá e consegue, pois isso aqui é pra defender o
povo, é pra fazer realmente as coisas que o povo necessita [...] (Vereador A, em
10/01/2015).
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Os centros sociais existem por inoperância do poder público, pela inoperância do
Executivo, porque se o Executivo, se a Prefeitura, se o Governo do Estado, eles
fizessem as suas atuações básicas na saúde, na educação, não existiriam os centros
sociais. Por que se abrem centros sociais? Se abrem, é porque não existem dentistas na
localidade, não existem fisioterapeutas [...]. Meu sonho é que um dia não se tenha mais
nenhum centro social, que a Prefeitura e o Governo do Estado façam todo esse
trabalho. [...] Espero acabar com isso, assim que eu for prefeito, se Deus quiser vai ter
os centros sociais da Prefeitura e ai tá resolvido. (Vereador B – Presidente da Câmara,
em 27/04/2015).
[...] a gente tem que ser honesto a ponto de colocar que há um vácuo muito grande
deixado pelo poder público nesse sentido, então a gente vê hoje aí vários locais da
cidade com centros sociais se proliferando em função da falta do poder público. Aí o
eleitor, que tem necessidade de um atendimento médico, levando o candidato a
vereador, prefeito, associação de moradores e até mesmo o vereador que já tem
mandato a abrir uma portinha para aquele atendimento [...] passando assim a fazer a
troca do serviço pelo voto, mascarando o dever que na realidade é do Executivo
municipal, que vem deixando um vazio muito grande neste sentido (Vereador D, em
14/05/2015)
Eu acho que era desnecessário ter social. Eu tenho essa instituição que eu ajudo, mas se
eu pudesse, eu não teria, porque isso é obrigação do poder público, não é obrigação do
vereador, não é obrigação do deputado [...] Mas se não tivesse essa instituição, como
seria? Porque, você imagine, quantos sociais têm no Estado do Rio de Janeiro e que
beneficiam a população por uma ausência do governo? [...] aí os vereadores e
deputados que têm e fazem para ajudar a população ainda são penalizados, dizem que
fazem assistencialismo. O maior assistencialismo que eles (governo) fazem é não
investir, é maltratar as pessoas. Pra mim não tem problema nenhum mandar fechar, eu
boto uma faixa lá no Jardim Gramacho e digo que a justiça determinou que fechasse
[...] Manda eles fazerem uma pesquisa ao povo, à população, pergunta se tem que
acabar e eles não vão querer que acabe e sim que bote muito mais coisas [...] (Vereador
F, em 17/05/2015).
Este processo permite identificar a existência, em Duque de Caxias, de um ciclo
vicioso, no qual o vereador passa a não desempenhar o seu papel de fiscalizador e propositor
de melhorias, investindo, ao contrário, nas lacunas e limitações da atuação do Estado para
intervir de forma pontual e eleitoreira, na tentativa de suprir as lacunas existentes e, assim, ser
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reconhecido como “benfeitor”. É nessa concepção que se apoiam os discursos das
representações políticas detentoras de centros sociais que, ao invés de aprovarem a ampliação
e destinação de verbas públicas para a implantação e execução de serviços sociais básicos,
visando à melhoria da qualidade de vida da população, acabam se beneficiando dessa situação
para fortalecer o seu poder local.
Como espaço de revisão das ações no campo das politicas, nos dias 15, 16, e 17 de Julho
no Centro de Duque de Caxias aconteceu a XII Conferência Municipal de Assistência Social
2015, o encontro teve como lema "Pacto Republicano no SUAS rumo a 2026: O SUAS que
temos e o SUAS que queremos", três dias de debate sobre o tema "Consolidar o SUAS de vez
rumo a 2026". Foram avaliadas propostas e ações com o objetivo de consolidar cada vez mais
a política de Assistência Social de Duque de Caxias, do Estado, e do País para os próximos 10
anos, com vistas à construção do Novo Plano Decenal de Assistência Social.
Acompanhar a conferência, foi uma atividade que auxiliou para novas reflexões, no
mesmo espaço estava presente o professor, pesquisador e orientador, Marcio Brotto, que falou
sobre uma década do SUAS, abordando a importância de sua implementação no munícipio.
Uma observação da conferência, diz respeito à presença de políticos em eventos da área de
Assistência Social, um dos políticos presentes na conferência está envolvido na abertura de
centros sociais, em época de eleição, assunto este tratado pelo professor/orientador em sua
conferência.
Algumas deliberações aprovadas na conferência, contribuem para o fortalecimento da
política de Assistência Social no munícipio, e implementação do SUAS, medidas que visam
melhorar o atendimento à população usuária dos serviços, e aos profissionais da área. A
medida que os equipamentos públicos funcionarem de maneira efetiva, e a população entender
estes espaços (CRAS, CREAS, CREPOP) como sendo de direito e não de favor, ou moeda de
troca política, os centros sociais deixarão de ser a melhor ou única opção para o atendimento
das situações de vulnerabilidade social no território.
Além disso, as autoridades do Estado precisam realizar ações que fiscalizem e apurem
denuncias sobre os centros sociais abertos, e os vínculos destes espaços com representantes
governamentais, bem como supostos desvios de dinheiro público para manutenção e uso
indevido para práticas clientelistas.
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4) Conclusões Preliminares:
Os estudos, atividades e investigações que contribuem para o mapeamento dos centros
sociais, destacando sua influência na política de Assistência Social, nos permitiram indagar e
constatar que o clientelismo no município de Duque de Caxias, tem forte ligação com a
história e cultura política local. Até então, realizou-se o mapeamento parcial de 49 centros
sociais localizados e em funcionamento, que vem permitindo desvendar, parcela de uma
estrutura de poder local, de fundamental relevância para entender a dinâmica de consolidação
da política de assistência social local e a relação desta com a população usuária dos serviços.
Observamos no último ano que este quantitativo de centros sociais é flutuante e volta a se
ampliar em períodos prévios a articulações politicas e atividades eleitorais. Assim, na analise
de 2014/2015 verificamos o quantitativo constante, sinalizando-se a abertura de alguns novos
e o fechamento de outros já existentes – que podem reabrir a oferta de serviços futuramente,
visto que 2016 é ano eleitoral e estes equipamentos são estruturas de interface de políticos
locais com a população.
Assim, diante dos estudos já realizados, devemos destacar as dificuldades, em mapear a
quantidade exata de centros sociais, estes possuem uma complexa dinâmica de
funcionamento, uns só funcionam próximos das eleições; a manutenção de seu funcionamento
depende da reeleição do candidato mantenedor; os locais de funcionamento vão de grandes
estruturas a simples espaços em fundos de quintal; o aumento no uso de "laranjas" como
responsáveis pelo serviço, dentre outros. A falta de registro, por parte dessas instituições
revela um modelo organizacional confuso, o que limita a identificação dos espaços.
Esta fotografia municipal consolida a perspectiva de que o clientelismo se caracteriza
como um mecanismo utilizado pelos próprios representantes governamentais e parlamentares,
que veem em sua prática formas de perpetuar seu poder. Contudo vale considerar que a falta
de investimentos em equipamentos públicos e privados reconhecidos e legitimados para
operar o sistema de garantia de direitos, aparecem como um dado a ser considerado. Hoje
esses equipamentos eles concorrem com outros públicos e filantrópicos, constituintes da rede
socioassistencial municipal, sendo: 09 CRAS, 02 CREAS, 01 CREPOP e 42 Instituições
filantrópico-privadas. Uma analise previa sobre a valorização da população pelos serviços,
vem demonstrando que os centros sociais são mais reconhecidos que as entidades públicas e
privadas, prestadoras de serviços sociais - seja pela possibilidade de aproximação a um
politico local, seja por uma série de serviços e recursos que a rede não tem para atendimento a
demanda da população. Isso coloca em questão a rede socioassistencial municipal oferta
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serviços direcionados as demandas da população? Reforça-se assim a importância da
vigilância social e do reconhecimento do território como um importante instrumento para o
fortalecimento da política de assistência social.
Continuamos na tentativa de aprofundar novas reflexões e obter novos resultados do
estudo exploratório, e mapeamento dos centros sociais no munícipio de Duque de Caxias, as
informações até aqui levantadas e analisadas supõem que a prática do clientelismo, além de
deslegitimar uma política social (política de assistência social), pode naturalizar
vulnerabilidades, e servir como estratégia na perpetuação de poder.
Os desafios para a política de assistência social na superação do clientelismo continuam.
Pensar formas de aproximação (numa metodologia que supere tais dificuldades) da população,
sociedade civil e representantes políticos para entender os diferentes pontos de vista, mesmo
diante das dificuldades que permeiam o debate acerca do tema, faz parte dessa trajetória de
análises e aproximação da realidade no território.
Por fim, espaços como Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas em Seguridade e
Assistência Social (NIEPSAS), Fóruns, Conferências, Simpósios, e outros eventos em que o
professor orientador tem ampliado debate a respeito deste estudo, se mostram de fundamental
importância para o desenvolvimento de novas reflexões.
5) Referências Bibliográficas – alguns aportes iniciais: BEZERRA, Marcos Otávio. Em nome das “bases”: política, favor e dependência pessoal. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.
BÓRON, Atílio. A Sociedade Civil após o dilúvio neoliberal. In: SADER, Emir (Org.). Pósneoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acessado em 12 de agosto de 2011. ____. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, publicada em D.O.U de 08 de dezembro de 1993. ____. Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília, 1995. ____. Ministério do Desenvolvimento Social - MDS/CNAS. História da Política de Assistência Social. Texto produzido para capacitação de conselheiros estaduais e municipais de assistência social. Brasília, 2000.
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