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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO Mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administração e da Computação Dom Bosco,
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, da Faculdade de Engenharia de Resende e do Colégio de Aplicação de Resende.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB
Av. Cel. Prof. Antonio Esteves, nº 01, Campo de Aviação – Resende-RJ
CEP: 27.523-000 Tel./Fax: (24) 3383 -9000
www.aedb.br
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 2
Prezado (a) aluno (a)
Seja bem-vindo a disciplina online de Responsabilidade Social Corporativa no
modelo de EAD (ensino à distância). Espera-se que todos possam construir
conhecimentos e saberes para a excelência de sua formação profissional. O sistema de
educação à distância é uma ferramenta possibilitada graças ao desenvolvimento
tecnológico recente. E por se tratar de uma nova maneira de aprender e ensinar, alguns
problemas e dúvidas podem ocorrer durante as aulas. Não se acanhem busquem os
esclarecimentos necessários e bom estudo. Estarei sempre à disposição para atendê-los.
A mobilidade do capital internacional produz efeitos indesejáveis na sociedade
contemporânea. Ao buscar novas opções produtivas que ofereçam vantagens
competitivas aos negócios, as empresas promovem impactos sociais desequilibrando
sistemas amadurecidos. Alguns destes impactos são benéficos para a sociedade enquanto
que outros geram efeitos malefícios de enormes proporções. A cadeira de
Responsabilidade Social Corporativa estuda exatamente o fenômeno dos problemas
decorridos da transnacional idade capitalista, oferecendo material para análise do corpo
discente e criando debates sobre a situação dos atores sociais.
No decorrer do período letivo serão utilizados textos básicos e de apoio fornecidos pelo
tutor, e como meio de desenvolvimento de pesquisas acadêmicas, serão solicitadas
redações sobre assuntos atuais pertinentes a cadeira de Responsabilidade Social
Corporativa. A utilização de chat será uma ferramenta indispensável para a
sistematização e construção dos conhecimentos. Trabalharemos com amplo espaço de
tempo para os debates e participação de todos.
O objetivo é que o discente, até o final do período letivo, tenha uma posição racional do
momento presente de nossa sociedade, e possa identificar, analisar, e propor soluções
para os conflitos entre o capital e a sociedade.
Abraços,
Rafael Roesler
Professor Tutor
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 3
Conteúdo Programático
1.- Gestão Social
1.1.- Fundamentos Teóricos
1.2.- Modernas Concepções das Organizações Sociais
1.3.- Terceiro Setor
1.4.- Empreendedorismo Social no Brasil
2.- Responsabilidade Social Corporativa
2.1.- Conceitos e Principios
2.2.- Tendências teóricas em RSC
2.3.- Indicadores em RSC
2.4.- A importâcia da RSC como fator de diferenciação
3.- RSC nas Diferentes Áreas Organizacionais e seus Impactos
3.1.- Responsabilidade Social numa perspectiva estratégica.
3.2-Responsabilidade Social Corporativa
4.- Responsabilidade Social e Estratégia Empresarial
4.1.- Estratégia Empresarial
4.2.- Marketing Social
4.3.- Desigualdade e Indicadores Sociais
4.4.- Desenvolvimento Sustentável
4.5.- Manual para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 4
1.-GESTÃO SOCIAL
1.- Gestão Social
Pode-se definir Gestão Social como a administração das ações públicas voltadas
para o atendimento das necessidades e demandas da sociedade. São consequências de
agendas políticas e programas de governos quando partem da Administração Pública. A
iniciativa privada pode elaborar também, atividades voltadas para a Gestão Social
através de projetos sociais. Desta forma pode-se concluir que todas ações derivadas do
Estado são públicas, mas nem todas ações públicas originam do Estado.
A verificação da eficácia das ações sociais reside no controle da instituição. A
participação dos atores sociais no acompanhamento do resultado esperado versus
resultado alcançado é determinante na correção dos possíveis desvios. Este
acompanhamento pode ser realizado pelo Estado, com seus meios de fiscalização, e pela
sociedade com o objetivo de elevar o aproveitamento dos recursos empregados.
Volte para seu curso e participe do Fórum "Boas-Vindas" no Bloco Fóruns de
Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 5
1.-GESTÃO SOCIAL
1.1.- Fundamentos Teóricos da Gestão Social
A nova ordem econômica mundial impôs diferentes desafios a Administração
Pública. O deslocamento constante e maciço do capital internacional provoca a
necessidade de novos arranjos sociais. O crescimento econômico de uma localidade pode
ser extremamente positivo se o Estado regulamentar, através de Políticas Públicas, a
distribuição de renda para os atores sociais.
Gestão Social e Políticas Públicas
A elaboração de Políticas Públicas, para amenizar os efeitos negativos gerados
pelo capital internacional nas relações sociais cria um formato diferenciado nas ações do
Poder Público. O crescimento populacional desorganizado, decorrente da procura de
melhor qualidade de vida, gera: falta de espaços habitacionais, ineficiência no
atendimento de saneamento básico, piora no atendimento educacional, deterioração do
sistema de saúde pública e outros serviços sociais.
O mesmo ocorre com o esvaziamento social produzido pelo fechamento de organizações.
A falta de recursos e apoio de empresas deixam um vazio financeiro para a sociedade, e
também para os cofres públicos. A retração da arrecadação fiscal afeta diretamente a
qualidade dos serviços comunitários.
Estas alterações abruptas exigem planejamento complexo para viabilizar soluções. A
Gestão Social, com sua abrangência, pode determinar estudos e experiências para a
retomada da normalidade comunitária.
Os administradores públicos precisam flexibilizar seus conceitos e visões sobre a
diversidade e a criatividade na elaboração de sua agenda política. O Gerente Social
(entenda-se Gestor Social) obrigatoriamente tem que trabalhar de forma conjunta e única
com toda a sociedade, sob pena de não atender todas as camadas sociais, e assim,
promover a exclusão dos atores sociais mais carentes, estes normalmente sem voz ativa
na participação de movimentos populares.
Ao elaborar estratégias e planos de ações para melhorar os indicadores de qualidade de
vida, o Gestor Público está, em outras palavras, desenvolvendo Políticas Públicas. As
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 6
principais ações que podem ser tomadas pelos Gestores Sociais são: redefinir o papel do
Estado, identificar necessidades da comunidade, implementar ações públicas, analisar
resultados em termos de eficiência e eficácia das ações, promover correção de desvios, e
integrar as diferentes correntes sociais.
Estas ações realizadas com todos os segmentos da sociedade promovem no setor público
a sua reconstrução, e flexibilização com vistas a atender todas as camadas sociais. Desta
forma, o que se busca na verdade é a melhor distribuição de renda, via setor público, para
os atores sociais menos favorecidos.
Gestão Social e Desenvolvimento Local
O crescimento econômico de uma determinada região impulsionado pelo
capitalismo internacional necessita de regulamentações legais para que beneficie toda a
estrutura social. Este crescimento sem a divisão justa da riqueza produzida, tem como
consequência o acúmulo financeiro por uma pequena parcela da população, gerando
graves distorções sociais.
O Gestor Social precisa elaborar dispositivos jurídicos para que a riqueza construída seja
transformada em benefícios para todos os atores sociais envolvidos no processo. Estes
dispositivos precisam ser estabelecidos de forma que não sejam onerados os capitais
produtivos e nem sobre taxados os produtos, para se evitar o bloqueio ao crescimento
econômico. Estas medidas necessitam de um amplo debate junto à sociedade.
A Gestão Social tem como foco principal a busca por soluções que potencializem
os investimentos públicos e privados, de maneira a distribuir a riqueza gerada entre todos
os envolvidos. Esta distribuição democrática é a característica básica do desenvolvimento
social e econômico de uma localidade, região ou país. Entre as muitas iniciativas tem-se:
a reforma tributária; o incentivo a formalização profissional; o incentivo
ao investimento produtivo; o incentivo a maior participação do Terceiro Setor em áreas
de difícil atuação eficaz do Estado; a melhoria dos índices educacionais; adequação da
cobertura social; e a eliminação do capital especulativo.
Uma das características do desenvolvimento econômico é a participação dos atores
sociais na elaboração das estratégias, nos processos decisórios e na implementação das
Políticas Públicas ajustadas.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 7
Verifica-se que a questão social tem caráter relevante no desenvolvimento local,
legando ao segundo plano os investimentos financeiros. As ações do público em geral é
que possuem os valores determinantes para o estabelecimento de Políticas Sociais
eficazes para a valorização do capital humano, social e cultural. Sabe-se que a
maximização das potencialidades, oportunidades e vantagens comparativas de cada
localidade é que determinam o desenvolvimento local. Assim pode-se afirmar que o
efetivo desenvolvimento social e econômico de uma sociedade nasce com a participação
de todos os atores sociais e não apenas de uma elite financeira, sendo que o início de todo
o processo depende diretamente das ações do Gestor Social, estimulando a prática
corporativa social de todos os cidadãos.
Clique no seguinte link e faça uma leitura : Gestão Social: Um Conceito em construção
Volte para seu curso e participe do Fórum "Fundamentos Teóricos da Gestão
Social" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa
vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 8
1.-GESTÃO SOCIAL
1.2.- Modernas Concepções das Organizações Sociais
Diversos trabalhos acadêmicos enfatizam a importância de novas instâncias de
participação e a mobilização da sociedade civil na concretização de um Estado
democrático. Espaços públicos como o orçamento participativo, conselhos gestores,
fóruns temáticos, organizações não-governamentais e movimentos sociais, entre outros,
são preciosos exemplos do avanço da sociedade civil e do Estado.
Conforme definição do Ministério do Planejamento Organização Social é uma
qualificação dada às entidades privadas sem fins lucrativos (associações, fundações ou
sociedades civis), que exercem atividades de interesse público, certificadas pelo Governo
Federal através da Lei número 9.637 de 18/05/1998. Estados e Municípios podem e
devem editar normas especificas sobre suas conveniências para disciplinar esta matéria.
As Organizações de alcance social geralmente são direcionadas para o ensino,
pesquisa científica e tecnológica, cultura, áreas diversas relacionadas à saúde, e a
preservação e educação ambiental. Estas atividades são complementares as realizadas
pelo setor público, porém com destacada melhoria no grau de eficiência. Estas
organizações podem receber repasse dos governos municipais, estaduais e federal desde
que atendam os pressupostos legais de controle orçamentário e resultados, inclusive com
ação direta do Tribunal de Contas sobre os valores recebidos.
Para atender os novos preceitos administrativos, as Organizações Sociais precisam ter
bem definidos os objetivos de seus projetos. A base objetiva do Poder Público para a
implementação e incentivo às atividades voluntárias são:
Econômica – aumento da capacidade de investimento do Estado em áreas
essenciais, e redução do déficit público;
Política – ampliação da participação popular nos processos decisórios; e
Social – melhor atendimento às camadas sociais mais necessitadas.
A expansão dos serviços oferecidos pelas organizações beneficentes e socialmente
organizadas não deve reduzir o Estado a mero gerenciador de entidades não-
governamentais. Quando o atendimento voluntário for ineficiente o Estado tem que
reassumir seu papel assegurando aos atores sociais completa cobertura dos serviços
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 9
essenciais. De qualquer forma, a parceria pública – privada vem colhendo bons frutos
em todas as regiões do Brasil.
Clique no seguinte link e faça uma leitura do texto "Gestão Social: uma visão
introdutória." listado no Volume 2: Gestão Social: O que há de novo?
Volte para seu curso e participe do Fórum "Modernas Concepções das Organizações
Sociais" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa
vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 10
1.-GESTÃO SOCIAL
1.3.- Terceiro Setor
Defini-se Terceiro Setor como o agrupamento de organizações sem vínculos com
o Estado e que desenvolvem atividades geradoras de bens ou serviços públicos. Um ponto
a ser lembrado é que estas atividades não substituem as obrigações governamentais,
apenas a complementam. O Terceiro Setor caracteriza-se por obter recursos de empresas
e organizações não governamentais. Alguns autores supõem que o Terceiro Setor está a
serviço do Capitalismo Internacional e que tem como pano de fundo o afastamento do
Estado de suas funções para que sua minimização seja utilizada para fins lucrativos
empresariais. Esta proposição precisa de uma profunda análise, pois, até o momento
nenhuma iniciativa, no Brasil ou no exterior, esboçaram tal comportamento.
O cenário de surgimento do Terceiro Setor
As décadas de 1960, 1970, 1980, e 1990 trouxeram um cenário de grandes
alterações sociais, principalmente com a construção da nova ordem econômica mundial.
As inovações tecnológicas reduziram drasticamente o número de empregos em todos os
setores econômicos. Este fenômeno debilitou ainda mais as relações trabalhistas e
produziu um fato novo a competição entre os atores sociais por melhor capacitação
profissional.
No Brasil, nas últimas décadas do século XX, os movimentos campesinos, sindicais, e
estudantis se expandiram exigindo do Estado melhor atendimento para as necessidades
públicas. O setor religioso, por sua vez, direcionava e incentivava seus membros para a
criação de organizações beneficentes. Este novo panorama propiciou o surgimento de um
novo tipo de organização conhecida na época como entidades sem fins lucrativos com
aspectos público e privado. A destinação de capital privado para geração de mais capital
privado pertence ao que se denomina por Primeiro Setor. O desenvolvimento de
atividades públicas custeadas pela Administração Pública são pertinentes ao que se
conhece como Segundo Setor. O novo panorama determinou o aparecimento do Terceiro
Setor; uma situação onde o capital privado se ocupa de ações voltadas para o social.
Esta condição reduziu a participação do Poder Público nos investimentos sociais, que se
demonstraram crescentes, uma vez que uma parcela considerável da população se
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 11
deslocava de sua região de origem na procura de melhor qualidade de vida, observou-se
principalmente o esvaziamento do meio rural e o inchaço das áreas urbanas.
A medida em que o Estado negligencia seu papel de suprir das carências sociais e
promotor do bem-estar social , o meio privado se vê obrigado a deslocar recursos para a
melhoria do ambiente social. Com o passar dos anos a iniciativa privada ocupou o espaço
que deveria pertencer ao Estado.
O Terceiro Setor deve ser visto como um agente do ambiente político-econômico,
interferindo de maneira positiva nas relações entre o Estado e o mercado no que se refere
às questões de melhoria social, emprestando seus modelos de gerenciamentos
organizacionais de sucesso para a gestão de entidades direcionadas à filantropia. A
transformação da sociedade impulsionada com a atuação do Terceiro Setor proporciona
o desenvolvimento coletivo melhorando os indicadores sociais e econômicos.
As Políticas Sociais
Os espaços abandonados pelo Poder Público, sejam por sua inoperância ou por
seu desconhecimento, ampliam a importância das intervenções das organizações do
Terceiro Setor. Um dos motivos para o acerto dos investimentos vem da aplicação de
Políticas Sociais adequadas para cada tipo de necessidade. Observa-se nestes casos que
existe um minucioso planejamento antes do investimento de cada recurso, e desta forma
tornando eficiente toda empreitada. A elaboração de projetos contemplando as reais
necessidades de cada comunidade, a previsão de consumo de recursos, e os possíveis
desvios na implantação, minimizam os riscos de erros.
Outro ponto que merece destaque é a inversão do planejamento das necessidades. As
políticas definidas pelo Poder Público partem de gabinetes e tem origem em planilhas,
gráficos, e quadros. Este meio de elaboração de projetos possuem elevado grau de erro
para contemplar todas as carências comunitárias. O contrário ocorre com projetos
elaborados pela iniciativa privada, que inicialmente buscam a participação do público
alvo para depois serem planejados.
Na década de 1980 algumas iniciativas de participação popular na elaboração de
projetos foram realizadas , porém, os problemas burocráticos emperram a máquina
administrativa pública.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 12
Verifica-se que as Políticas Sociais discutidas, definidas e planejadas em conjunto com
as comunidades possuem alto índice de acertos por identificar as reais necessidades dos
“clientes”.
Desafios do Terceiro Setor
As empresas que patrocinam as iniciativas das entidades do Terceiro Setor exigem
resultados dos seus investimentos, que só podem ser obtidos com a maximização da
eficiência administrativa. Para alcançar este patamar as instituições ligadas a este setor
precisam superar diversas dificuldades entre elas:
a) Sustentabilidade Financeira – Toda organização necessita de formação de
fundos para custear as atividades. Geralmente estes fundos vem de empresas que
precisam observar o projeto para decidir se patrocinam ou não. A elaboração de um
projeto já consome verbas criando assim um dilema “Só financio um projeto se eu ver
(empresa) versus Só elaboro um projeto se tiver recursos (Terceiro Setor).”
b) Reconhecimento Social – Este desafio decorre da necessidade de aceitação por
parte dos atores sociais, que uma instituição vai a partir do nada deslocar recursos para
melhorar as condições de uma comunidade. Para agilizar este processo é necessária a
transparência administrativa com seus associados, colaboradores, e toda comunidade
envolvida. A continuidade das ações depende da eficiência nos resultados, portanto, a
capacitação e profissionalização dos envolvidos é um meio de fortalecer a imagem e o
caráter social e voluntário da instituição.
c) Objetivos Claros – Definir o foco principal das instituições voluntárias é
extremamente importante para o inicio do “negócio”. A administração de uma
organização do Terceiro Setor não pode subestimar as ações da Administração Pública,
menos ainda exigir que os beneficiados acatem perfeitamente as suas determinações.
Muitas vezes os objetivos entre as instituições e seus “clientes” não são coincidentes,
neste caso o melhor é rediscutir o plano de ação e refazer o planejamento.
A burocracia foi um dos mais relevantes problemas da Administração Pública, chegando
ao absurdo de ser criado um Ministério da Desburocratização no governo do Presidente
João Batista de Figueiredo.
Estas iniciativas são conhecidas como orçamento participativo e significaram um
grande avanço social.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 13
1.3.1 - Empreendedorismo Social
Empreendedorismo social é um conjunto de ações que beneficiam a comunidade
por organizações sociais sem esperar retorno financeiro pelos atos. As principais
características são: criatividade, atividades inovadoras e forte determinação.
Leia os textos abaixo para melhor compreensão do assunto.
Terceiro Setor e Empreendedorismo Social
Numa palestra há alguns anos, o jornalista Joelmir Betting fez uma brilhante
definição de terceiro setor. Enquanto o primeiro setor se caracteriza pelo uso do bem
público para gerar benefícios públicos, o segundo setor se caracteriza pelo uso do bem
privado para gerar benefícios privados. Pelo raciocínio, o terceiro setor seria o uso de
bens privados para gerar benefícios públicos e, porque não dizer, haveria também o
quarto setor, que seria o uso de bens públicos para gerar benefícios privados (o que
explica muitas coisas que temos visto na política ultimamente). Há aproximadamente 5
anos, eu pedi a meus alunos para escreverem, como trabalho final da disciplina de
empreendedorismo, um Plano de Negócios.
Um grupo de alunos resolveu escrever um plano para a recuperação de uma creche
que atendia mães que não tinham recursos para pagar pelos serviços. Na época eu
rechacei o trabalho dizendo que entidades sem fins lucrativos e empresas eram bastante
diferentes e que o plano de negócios tinha que ser escrito de forma totalmente diferente.
A veemência com que defenderam a idéia me fez prestar mais atenção nos modelos de
negócios do terceiro setor desde então. Hoje eu faço uma idéia diferente do que
normalmente chamam de ONG (Organização Não Governamental), um termo, aliás
totalmente inapropriado pois qualquer empresa do setor privado também é não
governamental, assim ONG seriam todas as organizações do segundo e do terceiro
setores. Talvez o termo mais apropriado seja OSFL (Organização Sem Fins Lucrativos).
E é aí que reside a essência deste tipo de organização, a ausência do lucro como
um fim em si mesmo.
Muitas pessoas confundem ‘sem fins lucrativos’ com ‘sem resultados financeiros’
e são dois conceitos bastante distintos. Com o passar do tempo, as OSFL estão se dando
conta que precisam ser administradas de forma profissional, precisam zelar pelo bom uso
dos recursos que lhes são colocados à disposição, e, mais importante, precisam buscar
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 14
formas de se desvincular da necessidade da doação voluntária de recursos e serviços.
Estas organizações estão cada vez mais procurando formas de garantir sua auto-
sustentabilidade. Em outras palavras, estão tentando fazer dinheiro para conseguir se
manter. Por outro lado, as empresas com fins lucrativos, passada a onda de se definir
declarações de missão e visão de forma artificial e divulgar por todos os cantos da
empresa, estão finalmente aprendendo que é mais importante entender o significado e o
objetivo de sua missão e visão do que simplesmente decorar a declaração. Neste processo
de amadurecimento, algumas estão descobrindo que o objetivo final da empresa não é
necessariamente gerar valor para o acionista na forma de lucros financeiros. O acionista
agora está sendo visto como uma entidade necessária para prover os recursos a serem
usados para um fim maior da empresa, que acaba resvalando para algum tipo de benefício
para a sociedade.
As novas declarações de missão e visão estão começando a refletir estes novos
valores. Nas relações entre representantes do segundo e do terceiro setores, os objetivos
também estão começando a evoluir. Cada vez menos as empresas estão dispostas a doar
dinheiro para causas sociais apenas para colocar alguma coisa em seus relatórios de
balanços sociais. Elas estão procurando alinhar causas sociais à sua missão e valores. Da
simples doação de recursos, estão aproximando suas competências e seus modelos de
negócio para atender a comunidade a que servem. As empresas que fazem isso com
maior sucesso são aquelas que pouco conseguem diferenciar quais das suas ações são de
negócio e quais são sociais. Vamos falar um pouco sobre a diferença entre dono e
investidor. Quando uma empresa abre o seu capital ela visa, primordialmente, a captação
de recursos externos. Neste ponto, o dono passa a ter sócios investidores,
que são os acionistas.
Apesar de ambos, numa primeira instância, visarem o lucro, enquanto o dono
quer manter o seu negócio no longo prazo, os acionistas são mais volúveis, na primeira
turbulência retiram o seu capital e o levam para outros negócios mais promissores, a
maioria não mantém uma relação de fidelidade. Uma parte dos resultados financeiros é
re-investida na empresa e outra parte é distribuída entre o dono e os acionistas. No
terceiro setor, as organizações também precisam de investidores, que, neste caso, não
visam o lucro e por isso são melhor designados como doadores ou patrocinadores. Não
há nenhum problema se a entidade usar estes recursos para criar negócios que gerem
receita suficiente para ela não mais depender destes doadores. Seria como se os
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 15
resultados financeiros fossem, parte re-investidos na empresa e parte distribuída entre os
investidores que por sua vez investiriam na empresa novamente. Se você está entendendo
a minha linha de raciocínio já deve ter percebido que o que quero demonstrar é que a
única diferença entre organizações do segundo e do terceiro setor é o que ambas fazem
com o lucro que geram.
O resto é ou será absolutamente a mesma coisa. Enquanto as empresas privadas
distribuem seus lucros para os acionistas, as OSFL revertem os lucros para a comunidade
na forma de novos investimentos para que aumentem a abrangência dos benefícios
sociais propostos e que garantam sua sustentabilidade no longo prazo. Bem, eu lembrei
de escrever sobre isto porque há uma semana, quando um aluno me perguntou qual a
diferença de escrever um plano de negócios para o terceiro setor, me lembrei daquele
grupo de alunos que reprovei e, fazendo um humilde ‘mea culpa’ aqui publicamente,
afirmo: ‘Não há diferença alguma!!’.
Extraído de: HASHIMOTO, Marcos; De Avó, M. R. e Silva, L. I. Relevance of
intrapreneurship in SMB: the influence of agency conflicts and institutionalized
practices, United States Association of Small Business and Entrepreneurship Annual
Conference Proceedings, San Antonio, TX, EUA, Janeiro, 2008
Volte para seu curso e participe do Fórum "Terceiro Setor" no Bloco Fóruns de
Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 16
1.-GESTÃO SOCIAL
1.4.- Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios
– notas introdutórias.
Resumo:
No presente artigo, procuramos apresentar os principais elementos introdutórios
ao tema empreendedorismo, tomando como exemplo a realidade brasileira. Partimos da
constatação de que o empreendedorismo social emerge no cenário dos anos 1990, ante a
crescente problematização social, a redução dos investimentos públicos no campo social,
o crescimento das organizações do terceiro setor e da participação das empresas
no investimento e nas ações sociais. Atualmente, o empreendedorismo social se
apresenta como um conceito em desenvolvimento, mas com características teóricas,
metodológicas e estratégicas próprias, sinalizando diferenças entre uma gestão social
tradicional e uma empreendedora. É o que procuramos apresentar, mesmo que
sinteticamente e de forma introdutória, a partir dos principais conceitos, nacionais e
internacionais, e de um exemplo típico brasileiro e de impacto global: as sensíveis
diferenças entre empreendedorismo social e outros conceitos, como responsabilidade
social empresarial e empreendedorismo privado. Finalizando, apontamos algumas
características de entendimento do empreendedorismo social no Brasil, bem como alguns
elementos sobre os desafios e possibilidades dessa nova forma e paradigma de gestão
social que se apresenta como emergente e de grande poder de transformação social no
cenário de um Brasil paradoxal, com muitos problemas, mas repleto de possibilidades.
Palavras-chave: empreendedorismo social; gestão social; terceiro setor.
Abstract
The present article aims at showing the entrepeneurism main introductory elements
based on the Brazilian reality. We started by ascertaining that the social entrepeneurism
emerged in the 90s due to social problems, decreased social public investments, third
sector organization growth and company participation in the social sector investments
and actions. Nowadays, the social entrepeneurism is a developing concept with its own
theoretical, methodological and strategic characteristics, showing differences between
traditional and entrepreneur-like social management.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 17
Based on main international and national concepts and on a typical Brazilian example
with a global impact we attempt to show, even if in a synthetic and introductory way: the
clear differences between social entrepeneurism and other concepts, such as company
social responsibility and private entrepeneurism. Finally, we show some characteristics
of the social entrepeneurism in Brazil, as well as some elements of the challenges and
possibilities of this new form of emerging social management paradigm that has a great
social transformation power in a paradoxical Brazilian scenario full of problems but also
of possibilities.
Key words: social entrepeneurism; social management; third sector.
Introdução
O tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração, mas na sua
essência já existe há muito tempo. Alguns especialistas apontam Luther King, Gandhi,
entre outros, como empreendedores sociais.
Isso foi decorrente de suas capacidades de liderança e inovação quanto às mudanças em
larga escala. Na nossa pesquisa, uma das primeiras constatações foi a pouca bibliografia
sobre o assunto, não somente no Brasil como também no exterior, o que demonstra ser
o tema novo e ainda estar em desenvolvimento. Esse fato gera certo grau de confusão
entre alguns termos que, apesar de parecerem semelhantes no significado, são bem
distintos, como, por exemplo, responsabilidade social e empreendedorismo privado.
Essa confusão, diga-se de passagem, é encontrada, tanto por pesquisadores brasileiros
quanto estrangeiros.
Outra constatação é o fato de, no Brasil, as fontes para embasamento teórico
serem, em muitos casos, de origem estrangeira. Mas, no tocante à prática, já temos alguns
exemplos nacionais com impacto internacional, como é o caso do Comitê de
Democratização da Informática - CDI, de Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro. Tais
constatações nos levam a crer que o Brasil não se diferencia em relação a outros países
quanto à definição do que seja empreendedorismo social. Já temos, inclusive, exemplos
concretos que podem sinalizar um padrão específico que distingue o empreendedorismo
social de outros termos e práticas relativamente similares. Logo, e considerando o espaço
e objetivo deste artigo, apresentamos, em um primeiro momento, os principais conceitos
mais em voga, tanto na visão internacional como na nacional sobre o significado de
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 18
empreendedorismo social na atual conjuntura. Em um segundo momento, abordamos o
que consideramos como tênues diferenças entre dois principais termos, que regularmente
apresentam certa similitude e até confusão com o empreendedorismo social:
responsabilidade social empresarial e empreendedorismo privado. Em um terceiro,
tratamos de um dos casos mais exemplares de empreendedorismo social nacional, mas
com impacto e notoriedade internacionais. Em um quarto momento, descrevemos os
principais traços do conceito e caracterização do empreendedorismo social, bem como
uma síntese de seu significado e fundamentação. Em um quinto, apresentamos em linhas
gerais os principais desafios e possibilidades do empreendedorismo social no Brasil,
algumas considerações finais e sugestões quanto ao conhecimento sistematizado em
nossa investigação. Com isso, esperamos contribuir para uma introdução mais
sistematizada e contextualizada sobre o tema e ampliar o debate.
Metodologia
Trata-se do resultado de uma pesquisa qualitativa, multicaso, tipo exploratória.
Foi feito um estudo descritivo de oito organizações consideradas típicas e exemplares
em relação ao conceito e prática do empreendedorismo social, destacando-se entre elas:
Academia Social de Recife-CE, Comitê de Democratização da Informática - CDI do Rio
de Janeiro e Ashoka de São Paulo. Por intermédio da Ashoka, conseguimos contactar
quatro organizações da rede de empreendedores.
Destas, três se submeteram ao preenchimento de um questionário semi-
estruturado. E, dessas três, uma permitiu que realizássemos um estudo de caso em
profundidade. Tais fontes permitiram extrair os principais fundamentos, que
delimitamos em: ontológicos, gnoseológicos, epistemológicos e das estratégias de gestão
dos empreendimentos sociais realmente empreendedores. Os dados foram
sistematizados e, com o auxílio de software de pesquisa, fizemos a análise léxica e
qualitativa dos principais dados. A seguir, apresentamos uma pequena parte desses dados
como introdução à presente temático.
O atual entendimento sobre empreendedorismo social
Em nossa investigação, verificamos que parte da pouca bibliografia sobre o assunto tem
como fontes artigos e trabalhos produzidos por outros países. Ao analisarmos as
organizações e suas propostas, podemos destacar algumas delas que têm influenciado a
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 19
disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo social: School Social
Entrepreneurship - SSE, UK - Reino Unido, Canadian Center Social Entrepreneurship -
CCSE, Canadá; Foud Schwab, Suíça; e The Institute Social Entrepreneurs - ISE, Estados
Unidos. No quadro 1, sintetizamos os principais entendimentos sobre empreendedorismo
social.
No que se refere aos conceitos difundidos no Brasil, podemos verificar uma certa
semelhança, que encontramos a partir de fontes diversas, tais como: dissertações, artigos,
livros. Vejamos no quadro 2 uma amostra de algumas citações catalogadas no decorrer
da referida investigação.
QUADRO 1 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO
INTERNACIONAL
ORGANIZACAO ENTENDIMENTO
School Social Entrepreneurship
- SSE, Uk-Reino Unido
"É alguém que trabalha de uma maneira empresarial,
mas para um público ou um benefício social, em lugar
de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem
trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais,
públicos, voluntários e comunitários [...]
Empreendedores sociais nunca dizem 'não pode ser
feito'."
Canadian Center Social
Entrepreneurship - CCSE,
Canadá
"Um empreendedor social vem de qualquer setor, com
as características de empresários tradicionais de visão,
criatividade e determinação, e empregam e focalizam
na inovação social [...] Indivíduos que [...] combinam
seu pragmatismo com habilidades profissionais,
perspicácias."
Foud Schwab, Suíça "São agentes de intercambiação da sociedade por meio
de: proposta de criação de idéias úteis para resolver
problemas sociais, combinando práticas e
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 20
conhecimentos de inovação, criando assim novos
procedimentos e serviços; criação de parcerias e
formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos;
transformação das comunidades graças às associações
estratégicas; utilização de enfoques baseados no
mercado para resolver os problemas sociais;
identificação de novos mercados e oportunidades para
financiar uma missão social. [...] características
comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias
inovadoras e vêem oportunidades onde outros
não vêem nada; combinam risco e valor com critério e
sabedoria; estão acostumados a resolver problemas
concretos, são visionários com sentido prático, cuja
motivação é a melhoria de vida das pessoas, e
trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo
social."
The Institute Social
Entrepreneurs - ISE, EUA
"Empreendedores sociais são executivos do setor sem
fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do
mercado sem perder de vista sua missão (social) e são
orientados por um duplo propósito: empreender
programas que funcionem e estejam disponíveis às
pessoas (o empreendedorismo social é base nas
competências de uma organização), tornando-as
menos dependentes do governo e da caridade."
Ashoka, Estados Unidos "Os empreendedores sociais são indivíduos
visionários que possuem capacidade empreendedora e
criatividade para promover mudanças sociais de longo
alcance em seus campos de atividade. São inovadores
sociais que deixarão sua marca na história."
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 21
Erwing Marion, Kauffman
Foundation
"Empreendimentos sem fins lucrativos são o
reconhecimento de oportunidade de cumprimento de
uma missão para criar e sustentar um valor social, sem
se ater exclusivamente aos recursos."
FONTE: Oliveira (2004)
QUADRO 2 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO
NACIONAL
AUTOR CONCEITO
Leite (2002 “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos
empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social,
que é sempre central e explícita.”
Ashoka
Empreendedores
Sociais e
Mackisey e Cia.
INC (2001)
“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos
empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais pela
inovação, pela força de recursos financeiros em prol do
desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos
fundamentos básicos do empreendedorismo social estão
diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a
sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal,
valores centralizados, boa vontade de planejamento, capacidade de
sonhar e uma habilidade para o improviso.”
Melo Neto e Froes
(2001)
“Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando
um novo paradigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio
[...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil
o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo
comunidade, governo e setor privado, a sua estratégia.”
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 22
Rao (2002 “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas
experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os
outros do que para ganhar dinheiro.”
Rouere e Pádua
(2001)
) “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais
inovadores cujo protagonismo na área social produz
desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de
paradigma de atuação em benefício de comunidades menos
privilegiadas.”
FONTE: Oliveira (2004)
A partir dessa primeira aproximação, fica nítido que tanto nacional quanto
internacionalmente o conceito está em construção. Apesar disso, essa amostra nos
possibilita perceber que há certa similitude quanto à compreensão da origem e
estreitamento do empreendedorismo social com a lógica empresarial, fator este
influenciado pela crescente participação das empresas no enfrentamento dos problemas
sociais. Essa relação próxima e até histórica tem diferenças significativas, que nos
auxiliam a compreender e melhor definir o que seja empreendedorismo social na
atualidade, se não de forma definitiva, bem mais próxima e específica. A seguir,
apresentamos o que chamamos de diferenças tênues em relação a dois outros conceitos
historicamente próximos – responsabilidade social empresarial e empreendedorismo
empresarial – mas, como mostraremos, distintos.
Tênues diferenças, mas que fazem diferença
Antes de dizermos o que é empreendedorismo social, vamos, inicialmente,
explicar o que não é empreendedorismo social. O empreendedorismo social não é
responsabilidade social empresarial, pois esta supõe um conjunto organizado e
devidamente planejado de ações internas e externas, e uma definição centrada na missão
e atividade da empresa, ante as necessidades da comunidade. Não é uma profissão, pois
não é legalmente constituída, não havendo formação universitária ou técnica, nem
conselho regulador e código de ética profissional legalizado; não é também uma
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 23
organização social que produz e gera receitas, a partir da venda de produtos e serviços,
e muito menos é representado por um empresário que investe no campo social, o que
está (2002, p.40), “[...] a solidariedade que produz ajuda mais próximo da
responsabilidade social empresarial, assistencialista representa fantástico processo de ou,
quando muito, da filantropia e da caridade imbecilização”. Os quadros 3, 4 e 5 fazem
comparativos empresarial, que já se mostraram inadequadas, não entre os principais
pontos que diferem e, ao mesmo somente para os “ajudados”, mas também para os
tempo, apresentam certa semelhança com o negócios e para a sociedade, pois, como
enfatiza Demo empreendedorismo social.
QUADRO 3 - DIFERENÇAS ENTRE EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL
E EMPREENDEDORISMO SOCIAL
EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL
1. É individual 1. É coletivo
2. Produz bens e serviços 2. Produz bens e serviços à comunidade
3. Tem o foco no mercado 3. Tem o foco na busca de soluções para
os
problemas sociais
4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o
impacto social
5. Visa a satisfazer necessidades dos clientes
e a ampliar as potencialidades do negócio
5. Visa a respeitar pessoas da situação
de risco social e a promovê-las
FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002, p.11)
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 24
QUADRO 4 - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS TRADICIONAIS E
EMPREENDEDORAS
TRADICIONAIS EMPREENDEDORAS
1. Hierarquia 1. Time/trabalho orientado
2. Controle centralizado 2. Descentralização/empowerment
3. Foco no que é melhor para a organização 3. Foco no que é melhor para o cliente
4. Ênfase nos programas 4. Ênfase no centro de competências
5. Dependente de recursos 5. Financeiramente auto-suficiente
6. Tentativa de ser todas as coisas para todas as
pessoas
6. Nicho orientado
FONTE: Adaptado de Thalhuber (2002)
QUADRO 5 - CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL,
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPREENDEDORISMO
PRIVADO
EMPREENDEDORISMO
PRIVADO
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
EMPRESARIAL
EMPREENDEDORISMO
SOCIAL
É individual É individual com possíveis
parcerias
É coletivo e integrado
Produz bens e serviços para
o mercado
Produz bens e serviços para
si e para a comunidade
Produz bens e serviços para a
comunidade, local e global
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 25
Tem o foco no mercado Tem o foco no mercado e
atende à comunidade
conforme sua missão
Tem o foco na busca de
soluções para os problemas
sociais e necessidades da
comunidade
Sua medida de desempenho
é o lucro
Sua medida de
desempenho é o retorno
aos envolvidos no processo
stakeholders
Sua medida de desempenho
são o
impacto e a transformação
social
Visa a satisfazer
necessidades dos clientes e
a ampliar as potencialidades
do negócio
Visa a agregar valor
estratégico ao negócio e a
atender expectativas do
mercado e da
percepção da
sociedade/consumidores
Visa a resgatar pessoas da
situação de risco social e a
promovê-las, e a gerar
capital social, inclusão e
emancipação social
FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)
A investigação realizada sobre o assunto permitiu fazer esses comparativos e
também captar um entendimento mais específico acerca do significado e formatação do
empreendedorismo social brasileiro, o que pode ficar mais claro a partir da apresentação
de um caso exemplar, que hoje é modelo nacional e internacional e talvez um dos que
melhor explicitam a nova perspectiva do empreendedorismo social.
Essa análise pode ser complementada observando-se o perfil do empreendedor social
(quadro 6).
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 26
QUADRO 6 - PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL
CONHECIMENTOS HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS
Saber aproveitar as
oportunidades
Ter competência
gerencial
Ser pragmático e
responsável
Saber trabalhar de
modo
empresarial para
resolver
problemas sociais
Ter visão clara
Ter iniciativa
Ser equilibrado
Ser participativo
Saber trabalhar em
equipe
Saber negociar
Saber pensar e agir
estrategicamente
Ser perceptivo e
atento
aos detalhes
Ser ágil
Ser criativo
Ser crítico
Ser flexível
Ser focado
Ser habilidoso
Ser inovador
Ser inteligente
Ser objetivo
Ser visionário
Ter senso de
responsabilidade
Ter senso de
solidariedade
Ser sensível aos
problemas
sociais
Ser persistente
Ser consciente
Ser competente
Saber usar forças
latentes e
regenerar forças
pouco
usadas
Saber correr riscos
calculados
Saber integrar vários
atores
em torno dos
mesmos
objetivos
Saber interagir com
diversos
segmentos e
interesses dos
diversos setores da
sociedade
Ser inconformado
e
indignado com a
injustiça
e desigualdade
Ser determinado
Ser engajado
Ser comprometido
e leal
Ser ético
Ser profissional
Ser transparente
Ser apaixonado
pelo que
faz (campo social)
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Saber improvisar
Ser líder
FONTE: Oliveira (2004)
Esses dados sobre o perfil do empreendedor social foram elaborados com base na
catalogação das várias fontes de pesquisas, já nomeadas, e na entrevista com
empreendedores sociais brasileiros, que vivenciam, e não só teorizam sobre o assunto.
Os dados podem sinalizar um super-homem, ou uma supermulher, mas de fato, se
refletirmos, os indicadores não são tão excepcionais, pois essas características são
necessárias em qualquer área em que se queira fazer diferença e ir além do trivial. Tais
características do perfil do empreendedor social não ficam tão distantes, quando
podemos verificar que, na prática, já podemos ver esses elementos de forma concreta e
sendo expressas em ações. São numerosos exemplos, que podem ser analisados a partir
da consulta a algumas organizações como a Ashoka (www.ashoka.org.br) ou a Foud
Schwab (www.foudschwab.org). No momento, destacamos o caso do CDI, no Rio de
Janeiro, que hoje está em várias partes do Brasil e do mundo, fato este que o faz ser o
exemplo presente dos futuros empreendimentos na lógica do empreendedorismo social,
como veremos a seguir.
Um exemplo brasileiro de empreendedorismo social
Em 1994, Rodrigo Baggio, um jovem profissional da área de educação em
informática, percebeu que a tecnologia da informação poderia ser uma grande ferramenta
para lutar contra a exclusão social. Primeiramente, criou um link para unir jovens de
todas as classes sociais, o JovemLink. Notou, porém, que só os que tinham computador
acessavam a rede. Verificou que era necessário levar a tecnologia ao “outro lado da
fronteira digital”. Assim, criou a primeira escola de informática na favela de Dona Marta,
no subúrbio do Rio de Janeiro, e deu os primeiros passos para a criação, em 1995, do
Comitê de Democracia da Informática CDI, uma organização não-governamental, cuja
missão é “promover a inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um
instrumento para a construção e exercício da cidadania”. Com sede no Rio de Janeiro,
hoje está construída e consolidada uma rede de Escolas de Informática e Cidadania -
EIC, de forma autônoma e auto-sustentável. São cerca de 789 escolas, com atuação em
âmbito nacional, em 38 cidades e 20 estados. Nelas, foram capacitadas 461.440 crianças
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 28
e jovens. Internacionalmente, está distribuída em cerca de 10 países. O CDI mantém uma
vasta rede de parceiros para dinamizar suas atividades, nacionais e internacionais,
destacando-se entre eles: BNDES, Fundação W. K. Kellogg, BID, Banco Mundial,
Xerox, Fundação EDS. Devido aos resultados, esse projeto é considerado pela ONU
como de impacto e de exemplo mundial, pois pode ser aplicado em vários lugares e
alcançar, a um baixo custo, resultados significativos de inclusão não só digital, mas
também social e de exercício da cidadania.
Afinal, o que é empreendedorismo social?
Considerando o que apresentamos até o momento, já é possível destacar algumas
características que nos aproximam da resposta deste item. Primeiramente, é possível
distinguir dois tipos de organizações que, atualmente, disseminam o conceito e a prática
do empreendedorismo social. Uma opera como sustentadora, capacitadora e divulgadora,
como é o caso da Ashoka, no exterior e no Brasil, e da Foud Schwab, na Suíça. Além de
recrutarem e manterem por algum tempo o sustento pessoal e técnico do empreendedor
social, abrem espaços e ações de disseminação teórica, com livros, artigos, sites, cursos,
encontros, rede de contato, entre outros. Atuam, portanto, em um nível estratégico e
tático. Um segundo tipo de organização é o que opera na intervenção local, atual, em um
nível operacional, executando e aprimorando os conhecimentos técnicos de gestão e
inovação no campo social.
O CDI é uma ONG que tem com o missão “promover a inclusão social utilizando a
tecnologia da informação como um instrumento para a construção e exercício da
cidadania”
Não estamos fazendo, com isso, uma divisão entre grupos pensantes e grupos
operantes, muito ao contrário, ambos necessitam um do outro para se alimentar. Essa
característica é típica de projetos de empreendedorismo social que não abrem mão do
teórico, do técnico, mas são, como afirmam Melo Neto e Froes (2001), “pragmáticos
responsáveis”, isto é, não despendem tempo em grandes e infindáveis elucubrações
teorizantes, que servem mais para o prazer e ego acadêmicos do que para serem úteis à
sociedade em si.
Nesse sentido, observamos que se trata, antes de tudo, de uma ação inovadora
voltada para o campo social cujo processo se inicia com a observação de determinada
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 29
situação-problema local, para a qual se procura, em seguida, elaborar uma alternativa de
enfrentamento. Observamos também que essa idéia tem de apresentar algumas
características fundamentais, tais como:
1.º) ser inovadora;
2.º) ser realizável;
3.º) ser auto-sustentável;
4.º) envolver várias pessoas e segmentos da sociedade, principalmente a população
atendida;
5.º) provocar impacto social e permitir que seus resultados possam ser avaliados.
Os passos seguintes são: colocar essa idéia em prática, institucionalizar e gerar um
momento de maturação até que seja possível a sua multiplicação por outras localidades,
criando, assim, um processo de rede de atendimento ou de franquia social, até se tornar
política pública.
No exemplo do CDI, nós encontramos todos esses elementos:
1.º) é uma idéia inovadora, nunca antes realizada;
2.º) é uma idéia agora realizada;
3.º) tornou-se auto-sustentável;
4.º) envolveu várias pessoas e segmentos da sociedade (principalmente a população
atendida);
5.º) provocou impacto social, local e global, e os seus resultados e o retorno do
investimento aplicado podem ser avaliados;
6.º) foi multiplicada e aplicada em outras regiões e até em outros países;
7.º) transformou-se em política pública.
Nesse sentido, e de forma mais específica, o empreendedorismo social pode ser
considerado como:
• Um novo paradigma de intervenção social, pois apresenta um novo olhar e leitura
da relação e integração entre os vários atores e segmentos da sociedade.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 30
• Um processo de gestão social, pois apresenta, como vimos, uma cadeia sucessiva
e ordenada de ações, que pode ser resumida em três fases: a) concepção da idéia; b)
institucionalização e maturação da idéia; c) multiplicação da idéia. O que é semelhante
ao processo da metamorfose da lagarta, que entra no casulo e sai borboleta. Foi a partir
dessa analogia que criamos um projeto de extensão chamado “Casulo Sociotecnológico”.
Esse projeto está em andamento, é um projeto de extensão universitária realizado em
parceria com a Associação Comercial e Industrial de Toledo -Acit e visa a colocar em
prática os princípios e as estratégias do empreendedorismo social.
• Uma arte e uma ciência. Uma arte porque permite a cada empreendedor aplicar
as suas habilidades e aptidões e, por que não, seus dons e talentos, sua intuição e
sensibilidade na elaboração do processo do empreendedorismo social. Uma ciência
porque utiliza meios técnicos e científicos para ler, elaborar/planejar e agir sobre e na
realidade humana e social.
• Uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovação e de empreender
novas estratégias de ação faz com que sua dinâmica gere outras ações que afetam
profundamente o processo de gestão social, já não mais assistencialista e mantenedor,
mas empreendedor, emancipador e transformador.
• Um indutor de auto-organização social, pois não é uma ação isolada, mas, ao
contrário, necessita da articulação e participação da sociedade para se institucionalizar e
apresentar resultados que atendam às reais necessidades da população, tendo de ser
duradouro e de alto impacto social. Não é privativo, pois a principal característica e a
possível multiplicação da idéia/ação partem de ações locais, mas sua expansão é para o
impacto global. Dessa forma, é um sistema dentro de um maior, que é a sociedade,
gerando mudanças significativas a partir do processo de interação, cooperação e estoque
elevado de capital social. Como ressaltam Melo Neto e Froes (2001, p.31) “O processo
de empreendedorismo social exige, principalmente, o redesenho de relações entre
comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelo de parcerias”, tendo como
principal objetivo (2001, p.11 e 12) “[...] retirar pessoas da situação de risco social e [...]
o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser alcançado é a solução a curto, médio e
longo prazos destas questões [...] buscando propiciar-lhes plena inclusão social”.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 31
Perspectivas para o empreendedorismo social no Brasil
Como podemos verificar, o empreendedorismo social não se constitui de um
“passe de mágicas”, mas de uma ação que requer, acima de tudo, a capacidade
coordenada das pessoas, mesmo que isso se inicie, primeiramente, por uma pessoa. Logo,
e como sugestão, podemos sinalizar as perspectivas em duas direções: desafios e
possibilidades.
Quanto aos desafios, seriam dois os principais:
a) criar capital social, que é base para elaboração e sucesso das ações do
empreendedor social.Considerando o histórico de cultura individualista em nossa
sociedade, ou do estilo “o que eu vou ganhar fazendo isso?”, ou da vaidade dos gestores,
das organizações públicas, privadas e do terceiro setor, em que prevalece a cultura do
tipo, “minhas crianças”, “meus pobres”, cremos que gerar capital social é, hoje, um dos
grandes desafios para os empreendimentos sociais;
b) empoderamento dos sujeitos do processo, ou seja, quebrar o discurso do “só
tenho direito e não tenho nada de deveres” e fazer com que as pessoas, principalmente
as excluídas e marginalizadas, tenham uma postura de cidadãs e não de vítimas e
comecem a fazer a sua parte sem esperar um “salvador da pátria”, o que em uma cultura
do “me-dá-me-dá” não é uma tarefa muito fácil. É preciso fortalecer o caminhar juntos,
pois, como ressalta Maturana (1997, p.206), “[...] ser social envolve sempre ir com o
outro, e só se vai livremente com quem se ama”.
Quanto às possibilidades, destacamos as seguintes:
a) gera dinamismo e objetividade;
b) gera resultados sociais de impacto;
c) cria capital social e empoderamento;
d) resgata a auto-estima e a visão e futuro;
e) é dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico;
f) tem ênfase na geração de novos valores e mudança de paradigmas;
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 32
g) tem na inovação, na criatividade e na cooperação os pilares de suas ações. No médio
e longo prazos, irá influenciar radicalmente a elaboração e execução de projetos sociais,
que deverão, cada vez mais, apresentar, como nos negócios empresariais, propostas que
demonstrem efetividade, eficiência e eficácia quanto à aplicação dos recursos
solicitados, além de apresentar maneiras de aferir os resultados de forma clara e
transparente.
Considerações finais
Procuramos apresentar dados e informações básicas sobre o empreendedorismo
social no Brasil. O título, apesar de pretensioso, trata-se, antes de tudo, da apresentação
de parte dos resultados de uma pesquisa qualitativa e estudo multicaso sobre
organizações e profissionais que estão vivenciando a construção histórica de um novo
modo de gestão social, que recusa a lógica da filantropia, da caridade e do
assistencialismo, que mais serviram para aplacar a consciência dos “ajudadores”, do que
resolver de fato a vida dos “ajudados”, para incorporar uma lógica empreendedora. Ela
busca a inovação de estilo empresarial na solução de problemas e causas sociais,
impactando ações que geram, na prática, mais do que na teoria, a emancipação social, a
inclusão social e o empoderamento dos cidadãos por meio do estoque de capital social e
ações voltadas para o desenvolvimento integrado e sustentável.
Verificamos que esse processo surge da constatação do crescimento das organizações
do terceiro setor, da diminuição do investimento público na questão social e da
participação crescente das empresas no campo social.
Analisamos também que o empreendedorismo social apresenta certa semelhança
com outros termos, tais como responsabilidade social empresarial e o empreendedorismo
privado. No entanto, e como procuramos mostrar, as diferenças, apesar de tênues, são
substanciais, pois o empreendedorismo social atua mais na geração de ações que causem
o impacto local – não restrito a causas específicas e focadas, como é o caso da
responsabilidade social empresarial – e tem como objetivo o resultado coletivo,
diferentemente do empreendedorismo privado. Também apresenta uma característica
inovadora quanto ao modo de ver (paradigma) de sua metodologia (processo), de sua
aplicação e formatação (ciência e arte), e de suas estratégias e impactos (auto-
organização social). Tais fatores e constatações apontam para um novo momento em que
os problemas sociais deixam de ser simples tema de discursos para políticos, objeto de
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 33
pesquisa para pesquisadores e lamentação para a sociedade e passam a ser uma causa
comum a todos, o que requer novas formas de agir, pensar e abraçar as alternativas postas
em nosso presente tempo. Como bem afirmam Melo
Neto e Froes (2002, p.15): “Intelectuais, políticos, empresários e pesquisadores sociais
apontam distorções, culpam o governo, criticam as políticas públicas e identificam
gestores e instituições corruptas, ineficientes e ineficazes. Muito se fala e pouco se faz
de concreto e efetivo. Muitas vezes, o que se fala esconde a inércia, o conformismo, a
visão banalizada dos problemas, o ceticismo diante das questões sociais “[grifo nosso].
Em outras palavras, devemos deixar do muito falar e, de modo responsável,
praticar ações em prol do bem comum, pois, se assim não o fizermos, estaremos
plantando no presente um futuro sóbrio. A esperança é de que estejamos atentos às
possibilidades de compormos novas sínteses e novos rumos para as nossas vidas. Como
afirma Rubem Alves (1984, p.160), “[...] a diferença entre o homem e os animais deve
ser encontrada no fato de que, enquanto cada espécie animal é prisioneira de sua própria
melodia, o homem tem a capacidade de compor novas”. Que ao tentarmos ampliar o
significado do empreendedorismo social, possamos vislumbrar tais possibilidades.
Recomendações
Dadas a importância e a profundidade do empreendedorismo social e a partir de
nossa vivência na área, fazemos as seguintes e principais sugestões:
a) inclusão do empreendedorismo social na formação profissional universitária e no
ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo com o empreendedorismo empresarial;
b) implementação e adoção do empreendedorismo social no campo da gestão social
pública, nos níveis federal, estadual e municipal;
c) implementação e adoção do empreendedorismo social nos Conselhos de Direito das
categorias profissionais;
d) criação de mais espaços de apoio, incentivo, pesquisa e disseminação dos
fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil, como uma política
nacional de estímulo à inovação de novas tecnologias sociais empreendedoras;
e) potencialização das ações das faculdades e universidades por intermédio de projetos
de extensão na perspectiva do empreendedorismo social.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 34
Referências
ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. São Paulo: Paulinas, 1984.
ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; MACKISEY E CIA. INC.
Empreendimentos sociais sustentáveis. São Paulo: Peirópolis, 2001.
DEMO, Pedro. Solidariedade como efeito de poder. São Paulo: Instituto Paulo Freire,
2002. v.6. (Coleção Prospectiva).
LEITE, Emanual. Incubadora social: a mão visível do fenômeno do empreendedorismo
criando riqueza. In: IV ENCONTRO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO -
ENEMPRE. Anais... Santa Catarina: UFSC/ENE, 2002.
MATURANA, Humberto. A antologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1997.
MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Gestão da responsabilidade social
corporativa: o caso brasileiro – da filantropia tradicional à filantropia de alto rendimento
e ao empreendedorismo social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.
MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Empreendedorismo social: a
transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
OLIVEIRA, Edson Marques. Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e
estratégias. 2004. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista - Unesp, Franca,
2004.
RAO, Srikumar. Renasce o imperador da paz. Forbes, v. 162, n. 5, 7 set. 1998.
Disponível em: <www.ashoka.org.br>. Acesso em: 8 set. 2002.
ROUERE, Mônica de; PÁDUA, Suzana Machado. Empreendedores sociais em ação.
São Paulo: Cultura Associados, 2001.
THALHUBER, Jim. The national center social entrepreneurs. Disponível em:
<www.socialentrepreneurs.org>. Acesso em: 22 out. 2002.
Extraído da Revista FAE, vol. 7, n. 2, p. 9 – 18 (julho/dezembro – 2004).autoria de Edson
Marques Oliveira.
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ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 36
2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
2.- Gêneses
Na Unidade 1 deste livro, ao estudarmos fundamentos da Gestão Social, constatamos
que as iniciativas em Responsabilidade Social e em Terceiro Setor não são novidades.
Novidades são, sim, essas e outras terminologias que utilizamos nesse campo da Ciência
Administrativa.
Uma vez que já tivemos oportunidade de enveredar pela história mapeando fundamentos
da Gestão Social - em termos gerais - vamos, aqui, apenas sistematizar algumas
informações relevantes à compreensão de fundamentos da Responsabilidade Social
Corporativa (também identificada como Responsabilidade Social Empresarial).
Ao final desta Unidade, retorne a este ponto para comparar a idéia que você
apresentou com o conteúdo que você aprendeu.
As ações sociais em prol de segmentos populacionais em situação vulnerável têm origem
em movimentos religiosos assim referidos por Salomon (1997):
no Século VIII, na China, através do budismo, mediante a
organização de atividades voluntárias; e
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 37
alguns séculos mais tarde, pela via do sacerdócio universal dos cristãos na Europa.
Tal movimento está vinculado à Reforma Protestante no Século XVI e demarca a
superação da tradição do dever de ajudar ao próximo retirada das mãos exclusivas das
igrejas e das autoridades eclesiásticas.
Temos, então, que a idéia da Responsabilidade Social apareceu, originalmente, vinculada
a movimentos de trabalho voluntário, no espaço das organizações sociais (igrejas).
Portanto, a idéia não surgiu em empresas. É simples entendermos o porquê desse fato.
Como a miséria é fenômeno que acompanha a humanidade ao longo da história, é factível
imaginarmos que a igreja, uma das instituições mais antigas do mundo, se apresente
como pioneira no enfrentamento do desenvolvimento desigual e da injustiça social.
Por outro lado, o surgimento das organizações empresariais modernas, conforme
constatamos na Unidade 1, ocorre somente em meados do Século XVIII, no Reino
Unido, com a Revolução Industrial.
Logo, faz sentido constatarmos que o ideal da Responsabilidade Social não está,
originalmente, vinculado ao universo das empresas.
Resquícios da Responsabilidade Social, vinculados ao mundo dos negócios, conforme
estudamos no Unidade 1, são encontrados em outro momento histórico. Você é capaz de
se lembrar do fenômeno que estudamos?
Você deve ter se lembrado: foi na Revolução Industrial que apareceram as primeiras
iniciativas empresariais dentro do que hoje convencionamos como Responsabilidade
Social Corporativa. Isso aconteceu durante os séculos XVIII e XIX, quando o mundo,
por um lado, rapidamente se transformava a partir do desenvolvimento tecnológico e,
por outro lado, fazia proliferar intensas demandas sociais que exigiam respostas por parte
do Estado e da burguesia empresarial.
Lembre-se que foi nesse mesmo momento histórico que surgiram importantes nomes do
pensamento social que discutiam a necessidade de uma vida mais humanizada. Como se
chamavam tais pensadores?
Você deve ter se lembrado dos socialistas utópicos, pensadores aos quais, também,
vinculamos os ideais da RSC – o que é fato especialmente no tocante ao empresário
Robert Owen. Aliás, conforme registramos anteriormente, Robert Owen é tomado, com
freqüência, como o pai da Responsabilidade Social Corporativa. Todavia, apesar de
demarcar a origem das intervenções sociais das empresas, o período da Revolução
Industrial não delimita o surgimento do construto Responsabilidade Social Corporativa.
O construto surge, sim, bem mais tarde nos EUA. Kreitlon (2004), em A Ética nas
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 38
Relações entre Empresas e Sociedade: Fundamentos Teóricos da Responsabilidade
Social Empresarial, assim resgata a evolução recente do construto Responsabilidade
Social Corporativa.
De 1900 a 1960
Durante esse período três fatores principais propiciaram preocupações de ordem ética e
social no mundo dos negócios:
a) a desilusão frente às promessas do liberalismo, decorrente da quebra da Bolsa de
Nova Iorque em 1929 e das tristes conseqüências provocadas pela Grande Depressão que
se seguiu;
b) o desejo por parte das empresas de melhorarem a imagem organizacional numa
época em que os lucros exorbitantes de certos monopólios suscitavam a ira da população;
e
c) o desenvolvimento das ciências administrativas e o principio da profissionalização
da atividade gerencial.
Tais fenômenos inspiraram reflexões acerca do papel social e intervenções sociais das
empresas sem, contudo, acarretar a formulação do construto.
De 1960 a 1980
A Década de 1960 demarca um período de amplo crescimento das empresas dentro do
que, conforme estudamos anteriormente, se convencionou chamar de círculo virtuoso do
fordismo. Tal crescimento explicaria tendências (com maior intensidade) a condutas
antiéticas, o que nos leva a afirmar que datam de tempos pretéritos, e não de hoje, os
escândalos financeiros relacionados às megacorporações norte-americanas, o que
explicaria a desconfiança da sociedade com as empresas.
Na outra ponta, dois importantes fenômenos sócio-políticos ocorriam nesse
período nos EUA. Um deles estava fundado em um slogan que se tornou popular em
todo o mundo: paz e amor. Você se lembra do nome desse movimento?
Você deve conhecer o slogan paz e amor que caracterizou o movimento hippie. Sem
dúvidas, este movimento representou uma estratégia de resistência ao modelo de
sociedade centrado no consumo crescente de mercadorias, característico dos EUA não
apenas no presente, mas, também, no passado. O chamado comportamento antisocial do
hippie contemplava não apenas o uso de drogas como estratégia pacífica de contestação
social, mas, especialmente a opção por um estilo simples de vida que, em essência, se
contrapunha ao consumismo, questionando a sociedade de consumo.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 39
O outro fenômeno tinha forte conotação política: negros e brancos se debatiam em
várias cidades norte-americanas fazendo crescer a tensão em torno da luta por direitos
civis. Em 28 de agosto de 1963, um líder negro, em meio à tensão, realizou um discurso,
em Washington, que se tornou bandeira de luta e é bastante referenciado até hoje.
O autor e o conteúdo do discurso são frequentemente citados quando se tratam de temas
de intolerância entre os seres humanos. Você deve se lembra do autor e do título desse
discurso? Espero que você tenha se lembrado. Trata-se do discurso I have a dream (Eu
tenho um sonho) proferido por Martin Lutter King. Não há dúvidas de que atitudes e
comportamentos de discriminação e intolerância entre seres humanos, naquele período,
incentivaram discussões e tensões, no interior das corporações. No presente, tal conteúdo
compõe o conjunto dos indicadores de RSC, conforme veremos adiante.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 40
Ocorre ainda, nesse período histórico, uma fase de extraordinária mobilização cívica e
revolucionária, especialmente na América Latina, a partir da Revolução Cubana, aliada
a um considerável progresso científico e tecnológico. Embora a padronização técnica da
produção e o consumo em massa tenham propiciado economia de escala e a formação e
disseminação de mega-corporações, o modo de produção
Tratamos desse modo de produção anteriormente – lembra-se? Qual foi o
paradigma de produção que entrou em crise nesse período e que motivos explicam o seu
declínio?
Resposta: o fordismo, em virtude dos choques do petróleo (em 1973 e 1978) e da
concomitante crise de acumulação do capital.
Com o fim dos anos dourados do fordismo (1945-1973) a economia capitalista volta a
apresentar graves oscilações conjunturais, longas e profundas recessões, queda do ritmo
de crescimento e crescentes taxas de desemprego. A luta de classes recrudesce nas
principais economias do mundo com ocorrência freqüente de greves.
Com a crise no interior do sistema fordista de produção e geração de riqueza, o que
ocorre na seqüência da história econômica mundial? Lembra-se? Registre aqui o seu
palpite:
a) no plano econômico
b) na gestão de empresas
Acredito que você acertou: temos a ascensão de propostas econômicas neoliberais (no
plano econômico) vinculadas à disseminação da automação, ou seja, à emergência do
modo de produção flexível (na gestão de empresas). A esse fenômeno, Kreitlon (2004)
igualmente vincula a evolução da Responsabilidade Social Corporativa. Vejamos!
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 41
Mergulhadas em um cenário geral de contestações e turbulência social, lembra Kreitlon
(2004), as empresas tornam-se alvo de reivindicações cada vez mais numerosas e
variadas. Inúmeros movimentos da sociedade civil passaram a exercer pressão sobre elas,
particularmente no tocante à poluição, ao consumismo, ao (des)emprego, à
discriminação racial e de gênero (aflora a discussão dos direitos da mulher) e até mesmo
em torno dos efeitos nocivos de determinados produtos, a exemplo daqueles
provenientes das indústrias bélica e de cigarros.
As demandas por mudanças tornaram-se relativamente generalizadas com vários
movimentos da chamada contracultura questionando abertamente o dogma consagrado
da maximização de lucros das empresas.
No instante em que o capital financeiro institui uma marcha desenfreada de geração e
acumulação de riqueza, na outra ponta prolifera exclusão social e agressão ambiental,
temas que passam a integrar a agenda de diversos movimentos sociais. Reside aqui a
origem do construto Responsabilidade Social Corporativa.
De 1980 até o presente
As políticas de liberalização do mercado ressurgiram fortemente durante os anos
de 1980, sob orientações como ajuste fiscal, redução dos investimentos sociais por parte
do Estado, privatizações, desregulamentação e flexibilidade das leis trabalhistas e
liberalização do comércio e das taxas de câmbio. Durante a Década de 1990, após a
queda do Muro de Berlim e a desarticulação da União Soviética, um tipo de capitalismo,
extremamente competitivo, difunde-se por praticamente todo o planeta.
A revolução causada pelas novas tecnologias de informação e pela produção automática
impulsiona a globalização e a financeirização da economia. O modo tradicional de
acumulação de capital fordista, centrado em um tipo particular de relação produtor-
consumidor, é substituído por um outro sistema. Com base no que estudamos na Unidade
2, você arriscaria um palpite quanto à mudança ocorrida?
Acreditamos que você se lembrou do fato de que a acumulação de capital no fordismo
(a geração de riqueza a partir da produção de mercadorias) ocorria com base na
fabricação de produtos em massa (larga escala), fato que propiciava, na outra ponta, o
consumo em massa. A relação da empresa com o mercado ocorria na base produtor-
consumidor. Após a crise dos anos de 1970 e a concomitante emergência da produção
flexível (toyotismo ou modelo japonês), ocorre uma certa reversão: a geração de riqueza
e a remuneração do capital na esfera da produção tomam direção inversa, ou seja,
consumidorprodutor (produz-se aquilo que o consumidor demanda).
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 42
Continua o raciocínio Kreitlon (2004), baseada em ALBAN. A acumulação flexível, de
base microeletrônica, tem conseqüências devastadoras para os níveis de emprego, tanto
nos países industrializados como nos periféricos No plano organizacional, os grandes
conglomerados empresariais de origem local dão lugar a redes corporativas
transnacionais de ramificações complexas. Em virtude das novas tecnologias, a produção
torna-se descentralizada e os trabalhadores trocam o estatuto de assalariados pelo de
autônomos, informais ou contratados, sem garantia de trabalho estável ou seguridade
social. O poder dos grandes conglomerados e das multinacionais atinge proporções
inéditas.
Por sua vez, a integração dos mercados financeiros provoca uma drástica mudança no
sistema produtivo, pois, enquanto no capitalismo industrial o horizonte da rentabilidade
situava-se no médio prazo, no capitalismo financeiro a maximização de lucros é meta a
ser alcançada no curtíssimo prazo. O desempenho das empresas passa, assim, a ser
medido por indicadores financeiros, ao passo que a preocupação com o desempenho das
funções marketing ou produção cai para segundo plano. Que conseqüências sociais
temos, então, de tal cenário? Já abordamos o tema anteriormente. Arrisque a sua opinião.
Você deve se lembrar que, com o acirramento da concorrência intercapitalista a
partir da liberalização dos mercados, ocorrem desemprego, a retração de direitos
trabalhistas e previdenciários a partir de reformas, a perda de força dos sindicatos, o
agravamento dos problemas ambientais, e, com isso, a ascensão de movimentos
ambientalistas, e a precarização do trabalho. A propósito, você se lembra o que significa
a expressão precarização do trabalho?
Esse cenário social passou a se fazer presente não apenas nos países periféricos (menos
desenvolvidos), mas, também, nos países centrais (desenvolvidos). É nos dias atuais,
pois, que o tema da RSC se desenvolve sob a forma de um construto teórico, suscitando
uma variedade de intervenções e se institucionalizando – especialmente durante os anos
de 1980 – pela via de três escolas de pensamento:
Business Ethics (Ética Empresarial);
Business & Society (Mercado e Sociedade);
Social Issues Management (Gestão de Questões Sociais).
A autora ressalta que os Estados Unidos ocuparam uma posição hegemônica nesse
campo (e, durante muitos anos, quase solitária), pois o país já ocupava, no final dos anos
de 1960, a incontestável posição de coração do capitalismo – arena por excelência,
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 43
portanto, dos conflitos entre empresas e sociedade que viriam a constituir o foco da ética
empresarial.
Antes de encerrarmos este tópico, veja você que estamos falando da gênese de um
construto, ou seja, de uma formulação conceitual.
Conforme constatamos anteriormente, a intervenção de empresas no espaço social não é
novidade e, para reforçar tal entendimento, é suficiente recordamos as experiências de
Robert Owen em New Lanark a partir de 1799, durante a Revolução Industrial. Lembra-
se da nossa discussão na Unidade 1? Que significados e tendências teóricas, então, nos
trazem as escolas de pensamentos mencionadas pela autora? Veremos adiante. Neste
momento, interessa-nos conceituar Responsabilidade Social Corporativa e conhecer
agências que tratam do tema no mundo dos negócios.
Em resumo, neste tópico estudamos a origem da Responsabilidade Social
Corporativa. Vimos que a idéia da intervenção de organizações em prol do bem-comum
surgiu, preliminarmente, no Século VIII, na China, através do budismo, mediante a
arregimentação de pessoas para o desenvolvimento de trabalho voluntário. Séculos mais
tarde, chegou á Europa pela via do sacerdócio universal dos cristãos, vinculado à
Reforma Protestante no Século XVI.
Recordamos que, no mundo empresarial, a idéia da responsabilidade social apareceu no
período da Revolução Industrial, tendo como principal defensor o empresário britânico
Robert Owen, nome que hoje adotamos como pai da Responsabilidade Social
Corporativa. No mesmo período, entre meados dos Séculos XVIII e XIX, os socialistas
utópicos instigavam a sociedade a questionamentos em torno dos problemas gerados pelo
desenvolvimento tecnológico nas condições gerais da vida da população.
Dividimos a evolução contemporânea do ideal da RSC em três períodos: 1900 a
1960; 1960 a 1980; 1980 aos dias atuais. Constatamos que, especialmente ente 1960 e
1980, turbulências sociais e econômicas precipitaram o surgimento do construto teórico
Responsabilidade Social Corporativa (ou Responsabilidade Social de Empresas) sob três
diferentes correntes: Business Ethics (Ética Empresarial); Business & Society (Mercado
e Sociedade); e Social Issues Management (Gestão de Questões Sociais).
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 44
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ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 45
2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
2.1.- Conceitos e Princípios
O que é Responsabilidade Social Corporativa (ou de Empresas, ou Empresarial)?
No tópico anterior pedimos para você elaborar uma idéia acerca desse construto. Agora,
vamos ver de que modo a sua idéia se aproximou do que está posto na discussão do tema.
Que referências podemos tomar para conceituar RSC? Uma vez que, neste momento,
estamos pensando focando o conceito no mundo dos negócios – já que se trata de
responsabilidade social de corporações (ou empresas) –, optamos por trazer leituras de
organizações vinculadas ao sistema empresarial brasileiro: o Serviço Nacional do
Comércio (SENAC), o Instituto Ethos e o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial
(ETCO). É nosso intuito sintetizar interpretações nesse conjunto organizacional visando
à identificação de tendências comuns em RSC, no Brasil, em sintonia com o pensamento
empresarial.
O SENAC
<http://www.pr.senac.br/institucional/ acoes_estrategicas/pets/Conceito_RS.htm
> aborda a Responsabilidade Social como uma nova maneira de conduzir os negócios da
empresa, tornando a parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social, englobando
preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço,
fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente).
A Responsabilidade Social nunca se esgota pois sempre há algo a se fazer, sendo um
processo educativo que evolui com o tempo.
As empresas podem desenvolver projetos em diversas áreas, com diversos
públicos e de diversas maneiras.
A ética é a base da Responsabilidade Social e se expressa através dos princípios e valores
adotados pela organização, sendo importante seguir uma linha de coerência entre ação e
discurso.
Que idéias centrais, então, estão presentes neste conceito?
Vemos que, no conceito acima, aparecem as seguintes idéias:
preocupação com os vários públicos (inclusive os acionistas);
parceria e co-responsabilidade;
processo educativo (aprendizagem organizacional);
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 46
diversidade de conteúdo (há, portanto, um amplo leque de
ações);
Diversidade no modo de atuação (diversas metodologias);
Diversidade do público envolvido;
Ética (princípios e valores); e
Coerência entre ação e discurso.
Vamos, agora, abordar o conceito com base em uma reconhecida organização no tema
da RSC no mundo: o Instituto Ethos, mantido por empresas brasileiras do setor industrial.
<http://www.ethos.org.br/ DesktopDefault.aspx?TabID=3334&Alias=Ethos&Lang=pt-
BR> Para saber mais acerca da atividade do Ethos visite: www.ethos.org.br
Acesse o link Temas e Indicadores em <http://
www.ethos.org.br/docs/conceitos_praticas/indicadores/default.asp> para conhecer uma
importante ferramenta de RSC.
Em
<http://www.ethos.org.br/ DesktopDefault.aspx?TabID=4079&Alias=Ethos&Lang=pt-
BR> o Instituto Ethos declara:
A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação
das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar
a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para
o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e
transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa
fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no
conjunto de suas relações.
O conceito do Instituto Ethos está fortemente vinculado à idéia da geração de benefícios
(para a sociedade, os trabalhadores, os parceiros e o meio ambiente). Além disso, temos:
retorno aos investidores, ou seja, ação social vinculada a resultados econômicos.
Esta sentença remete-nos a algo que já estudamos.
Espero que você tenha se lembrado que tratamos desse assunto na descrição das
experiências de Robert Owen, durante a Revolução Industrial, no início do nosso estudo
– o que foi objeto da auto-avaliação ao final da Unidade 1. Percebemos, assim, que há
sincronia entre passado e presente, quando falamos, hoje, em intervenções sociais de
empresas que privilegiam:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 47
Transparência dos objetivos organizacionais;
Compromisso ético;
Legitimidade social; e
Relações sociais positivas com os envolvidos.
Quando relacionamos este conceito àquele que vimos anteriormente (do SENAC),
observamos a existência de pontos comuns, concorda? Quais seriam esses pontos?
Pensamos de modo similar? Vejamos! Observe a síntese do conceito que apresentamos
no Quadro 2. Não se preocupe caso tenhamos organizado nossas idéias de modo distinto.
O importante, aqui, é que você tenha identificado convergências nos dois conceitos. Em
termos de divergências, temos dois pontos: o SENAC fala em aprendizagem
organizacional e em diversidade no modo de aplicação (metodologia), o que não
percebemos no Ethos. No mais, há forte coerência entre os dois.
O Ethos desenvolveu um conjunto de indicadores de RSC disposto em sete temas:
Valores, Transparência e Governança;
Público Interno;
Meio Ambiente;
Fornecedores;
Consumidores e Clientes;
Comunidade; e
Governo e Sociedade.
Na descrição que faz dos sete temas, podemos perceber semelhanças entre as
preocupações do Ethos, hoje no Brasil, com aquelas de Robert Owen – pai da
Responsabilidade Social Corporativa – durante a Revolução Industrial, no Reino Unido,
entre o final do Século XVIII e meados do Século XIX. Observe no quadro abaixo um
exercício comparativo entre as duas propostas. Este quadro serve como orientação de
resposta tanto à auto-avaliação do tópico anterior quanto àquela ao final da Unidade 1.
Vejamos, agora, uma idéia de Responsabilidade Social Corporativa elaborada por um
importante empresário do setor industrial brasileiro, Emerson Kapaz (disponível em
<http://www.fae.edu/ publicacoes/pdf/revista_fae_business/n9/01_rs.pdf>), Presidente
do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO):
Responsabilidade Social nas empresas significa uma visão empreendedora mais
preocupada com o entorno social em que a empresa está inserida, ou seja, sem deixar de
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 48
se preocupar com a necessidade de geração de lucro, colocando-o não como um fim em
si mesmo, mas sim como um meio para se atingir um desenvolvimento sustentável e com
mais qualidade de vida.
Ao final deste tópico o conceito acima será retomado na autoavaliação.
A discussão corrente incorpora idéias de responsabilidade social que extrapolam o limite
exclusivo das empresas e alcança outros tipos de organização de natureza pública e
social. Recentemente, ganha força no meio social o termo Responsabilidade
Socioambiental.
Trata-se de um sistema de gestão, adotado por organizações públicas, sociais e privadas,
cujo objetivo é promover inclusão social (Responsabilidade Social) vinculada à
preservação ambiental (Responsabilidade Ambiental).
A Responsabilidade Socioambiental incorpora um conjunto de ações que promovem o
comprometimento das pessoas com o meio ambiente tendo como eixo uma série de temas
como fome, poluição, reciclagem e reaproveitamento de materiais, lazer e qualidade de
vida, entre outros. Como devem, então, atuar as empresas nesse campo?
Vejamos! Do mesmo modo que a RSC, a Responsabilidade Socioambiental contempla
a formação do público interno e dos agentes externos com os quais a organização mantém
relação (clientes, fornecedores, concorrentes, órgãos governamentais, etc).As
organizações devem eleger temas e atuar na disseminação de metodologias de promoção
da qualidade de vida, instituindo redes e parcerias com os diversos atores sociais, sob
clara definição de papéis. E quais são, então, os benefícios para a organização?
Dentre os benefícios podemos listar:
A promoção da imagem organizacional no meio social;
O desenvolvimento sócio-político dos trabalhadores e demais
públicos envolvidos;
O desenvolvimento de uma cultura voltada ao não-desperdício,
Ao reaproveitamento e à reciclagem, o que ocasiona redução de custos dentro da
organização, com reflexos na vida de todos fora dela;
A promoção de redes e parcerias duradouras, centradas no objetivo da promoção
da qualidade da vida humana; e
A contribuição ao desenvolvimento de novas idéias e tecnologias de preservação
ambiental e de promoção da saúde das pessoas.
Desta forma, um programa de Responsabilidade Socioambiental pode ter como eixos
temáticos:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 49
A minimização de resíduos pela via da reciclagem e do reaproveitamento ou
reutilização de recursos, a exemplo da água e do papel (reciclado);
O estabelecimento de critérios e valores organizacionais de respeito ao meio
ambiente;
A redução da poluição e o concomitante de tecnologias limpas, não-agressoras do
ambiente; e
A otimização do uso da energia.
Reflexão
Na organização onde você trabalha, você identifica processos internos que estão
em sintonia com os princípios da Responsabilidade Socioambiental? De outra forma,
você identifica procedimentos que não estão em sintonia com tais princípios? De que
modo você pode contribuir para uma mudança de hábitos? Tente articular um grupo e
discutir internamente os procedimentos que você considera indevidos.
A amplitude conceitual da RSC inclui, contemporaneamente, até mesmo a
responsabilidade de indivíduos, aqui pensada sob o ponto de vista do engajamento social
e político (exercício de cidadania) em termos do zelo pelo meio ambiente e do
compromisso com o desenvolvimento de pessoas em situação vulnerável de vida e de
trabalho.
Anote
Do modo como vem sendo tratada contemporaneamente, a RSC deixou o âmbito
exclusivo das empresas e vem sendo abordada sob um amplo enfoque que envolve todo
e qualquer tipo de organização além de indivíduos.
Dentro das organizações, a responsabilidade social de indivíduos vem sendo trabalhada
sob a denominação de Voluntariado Empresarial.
O que é isso? Que idéia você tem a respeito desse tema?
Estamos, mais uma vez, diante de uma polêmica. Frente a essa tendência organizacional
de utilização dos trabalhadores em atividades voluntárias, Hedley & Smith (1992)
atentam para as dificuldades em se estabelecer uma nítida distinção entre o trabalho
remunerado e o trabalho voluntário. De fato, quando a ação voluntária envolve
trabalhadores, de organizações públicas ou privadas, pela via programas organizacionais
específicos de intervenção social, em tal situação, ainda que efetivada mediante a
compensação de horas (ou seja, o funcionário que destina tempo à ação voluntária
compensa-o na carga horária do contrato formal de trabalho), o tempo dispensado à ação
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 50
social tem base no trabalho remunerado. Acreditam os autores que em tais programas as
interações entre os dois espaços (trabalho voluntário e trabalho formal) tornam-se
bastante tênues (sob uma relação toma lá dá cá) e isso fragiliza o ideal da doação que
orienta o trabalho voluntário.
Cabe, aqui, o seguinte questionamento: até que ponto, uma intervenção esboçada
sob o formato de programa social em uma empresa pode ser caracterizada como de
adesão espontânea? Qual a sua opinião?
Obviamente que a forma e o conteúdo da ação são, invariavelmente, aspectos de
interpretação subjetiva por parte dos atores envolvidos, o que limita uma interpretação
definitiva no assunto. Todavia, quatro pontos merecem reflexão:
é factível supor que uma vez convocado ao engajamento em programas
voluntários empresariais, o trabalhador-convidado se sinta na obrigação de tomar lugar
na ação prevendo que, caso se negue, sofra algum tipo de represália, dentre as quais,
críticas de colegas, rejeição de superiores e dificuldades de progressão. Não
necessariamente, as represálias no espaço de trabalho aparecerão de forma perceptível e
objetiva, podendo se manifestar, subliminarmente, nos bastidores;
As leituras que trabalhadores e equipes farão são outros importantes componentes.
É possível que uma vez convocados para ações voluntárias pela empresa, o trabalhador
sinta-se explorado, entendendo se tratar de interesse da empresa (e não dele próprio) e,
portanto, uma extensão da carga horária de trabalho, desta vez, sem pagamento;
Por parte da empresa patrocinadora, a promoção de intervenções utilizando mão-
de-obra por ela empregada pode partir da preocupação de gestores com a fixação da
imagem da organização na sociedade e não com o valor e o resultado da ação em si. Essa
perspectiva, uma vez percebida pelos trabalhadores, interferirá negativamente no
desempenho e na motivação da equipe; e
Aliado ao fato anterior, está o grau de responsabilidade social da empresa,
especialmente no tocante à compatibilidade entre o volume dos dispêndios que pretende
realizar e aquele efetivamente demandado pela população assistida. Uma vez
identificadas demandas de comunidades e indivíduos, a equipe voluntária poderá
necessitar de investimentos em recursos mmateriais e físicos não previstos ou não
disponíveis pela empresa, cabendo, aí, outros questionamentos: até que ponto a empresa
está interessada em arcar com tais demandas? Que conseqüências virão para a população
assistida frente às expectativas geradas e não atendidas? Que conseqüências ocorrerão
para a equipe voluntária envolvida? Como ficarão as imagens da empresa e dos
trabalhadores perante a comunidade?
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 51
Não apenas a escassez de recursos para investimentos, mas, também, a descontinuada
das ações de atenção social poderá provocar danos a todos os envolvidos – trabalhadores,
gestores, empresa e comunidade beneficiada – e, portanto, cabe aos idealizadores
considerar, dentre outros, os seguintes desafios:
Prever respostas alternativas frente às demandas, dos beneficiários, a serem
respondidas;
tratar da estabilidade da equipe voluntária em termos dos relacionamentos com a
empresa, com a ação voluntária e com o público beneficiário;
Considerar o volume de horas e o período de tempo necessário à ação frente à
disponibilidade dos voluntários; e
Monitorar e inibir (veementemente) as possíveis situações policialescas de
diretores, gerentes, chefes, supervisores e pares do trabalhador envolvido na ação.
Por envolver relações afetivas e necessidades alheias, o Voluntariado Empresarial não
deve se constituir como ação aventureira, sendo preferível, na maioria das vezes, a
empresa optar por envolver o público interno e unir esforços em atividades voluntárias
já existentes. A empresa, neste caso, seria animadora, e não protagonista da ação. Assim
sendo, a equipe do Voluntariado Empresarial poderá aparecer como parceira de ações
em andamento e não como responsável por toda a articulação. Em tal circunstância,
fracassos e sucessos são compartilhados e assumidos coletivamente e, portanto, a
imagem da empresa e dos seus empregados estará preservada, ou melhor, diluída com os
outros atores.
Por fim, fiquemos com as palavras de alerta de Handy (1988):
Sem uma organização adequada, boa vontade não basta;
Ideais democráticos e de participação não são suficientes;
Trabalho duro não é tudo; e
Grandes idéias, quando não devidamente articuladas, podem terminar em grande
frustração.
Resumindo, neste tópico tivemos a oportunidade de discutir o conceito de
Responsabilidade Social Corporativa a partir de três importantes organizações
vinculadas ao setor empresarial brasileiro: SENAC, Instituto Ethos e Instituto Brasileiro
de Ética Concorrencial (ETCO).
Em síntese, podemos afirmar que, sob o ponto de vista do mundo dos negócios, a RSC é
uma estratégia de gestão que:
Se destina à promoção do bem-estar de indivíduos e coletividades;
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 52
É orientada por princípios e valores éticos no intuito da obtenção de qualidade de
vida e desenvolvimento sustentável; e
Aparece regulada pela garantia do retorno financeiro para acionistas e
investidores.
Por fim, tivemos oportunidade de acompanhar a discussão que vem se dando a partir do
conceito de Responsabilidade Socioambiental e do chamado voluntariado empresarial.
Volte para seu curso e participe do Fórum "Responsabilidade Social Corporativa" no
Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.
ANOTAÇÕES:
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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
2.2.- Tendências teóricas em RSC
Retomemos, neste ponto, o texto de Kreitlon (2004) para tratarmos de tendências
teóricas em RSC. De acordo com a autora, as três escolas de pensamento, anteriormente
mencionadas, partem de campos e princípios distintos acerca do comportamento ético
nas empresas.
A escola da Ética Empresarial (Business Ethics), na condição de ramo da ética aplicada,
propõe um tratamento de cunho filosófico, normativo, centrado em valores e em
julgamentos morais.
Fundamenta- se na idéia de que as atividades empresariais estão sujeitas, como
qualquer outra ação humana, a julgamentos éticos. A empresa precisa agir de modo
socialmente responsável porque, sendo isto o correto, é dever moral fazê-lo. Tal
raciocínio contrapõe-se às teses da mão invisível, defendida por Friedman (é o mercado
livre e competitivo que moraliza o comportamento corporativo) e da mão do governo,
desenvolvida por Galbraith (a regulamentação governamental é que o faz).
A corrente Mercado e Sociedade (Business & Society) adota uma perspectiva
sociopolítica e abordagem contratual dos problemas entre empresas e sociedade. Trata-
se de enfoque sociológico, mais político e voltado para assuntos pragmáticos. A
abordagem contratual apóia-se em três pressupostos teóricos: a) empresa e sociedade
constituem um mesmo sistema e estão em constante interação; b) ambas estão vinculadas
entre si por um contrato social; c) a empresa está sujeita
ao controle por parte da sociedade.
Ao passo que a abordagem normativa recusa as teses econômicas neoclássicas por
defender que elas adotam uma concepção amoral dos negócios (preocupada
exclusivamente com os lucros), a abordagem contratual prefere enfatizar outro ponto,
qual seja, que a separação funcional preconizada por tais teses – entre funções
econômicas, políticas, sociais e religiosas da sociedade – são absolutamente artificiais e
falaciosas. A idéia de contrato social presente na corrente Mercado e Sociedade
pressupõe, então, que pessoas racionais cheguem a acordos em relação a certos
princípios, para além de interesses particulares e imediatos, objetivando o
estabelecimento de um sistema de direitos, obrigações, privilégios e sanções condizentes
com o bemcomum.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 54
Sintetizando:
A primeira corrente condena as teses neoliberais a partir de um viés moralista, ou
seja, defende que não é moralmente aceitável que uma empresa tenha preocupação
exclusiva com os lucros e a remuneração do capital dos acionistas; e
A segunda corrente condena as teses neoliberais por outro motivo. Qual seria?
Você deve ter registrado que, nesta segunda corrente, as teses neoliberais – de ênfase nos
lucros e na remuneração do capital – são igualmente criticadas, mas, desta vez, pela via
do entendimento de que a realidade social não é fragmentada, ou seja, não há de fato, no
mundo concreto, uma separação visível entre economia, política, demanda social e
religião. Estamos tratando, portanto, de uma leitura integral e sistêmica da realidade
social em que economia e demanda social são variáveis inseparáveis.
Reflexão
Para melhor compreender a interação empresa-sociedade e, portanto, a RSC a
partir dessa corrente de pensamento, assista ao filme Erin Brockovich – uma mulher de
talento, com Julia Roberts. Baseado em fatos reais, o filme retrata o caso da advogada
Erin Brockovich a partir do momento em que ela assume emprego em um escritório de
advocacia e se envolve no caso de uma empresa que polui e causa doenças entre
moradores de uma pequena cidade.
A escola da Gestão de Questões Sociais (Social Issues Management) é de natureza
nitidamente utilitária e trata os problemas sociais como variáveis a serem consideradas
no âmbito da gestão estratégica.
Desta forma, defende ferramentas práticas de gestão capazes de melhorar o desempenho
ético e social da empresa. Tal perspectiva utilitária da RSC – façamos Responsabilidade
Social porque obteremos ganhos – está fundada nas seguintes idéias: o que é bom para a
sociedade é bom para a empresa e, em sentido inverso, o que é bom para a empresa
também o é para a sociedade.
Esta leitura é a mais próxima das teses econômicas neoclássicas. De acordo com Jones,
citado por Kreitlon (2004), as justificativas para a RSC presentes nesta abordagem estão
centradas em três argumentos principais, todos de caráter utilitário:
A empresa pode tirar proveito das oportunidades de mercado, decorrentes de
transformações nos valores sociais, caso se antecipe a elas;
O comportamento socialmente responsável pode garantir à empresa uma
vantagem ompetitiva; e
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 55
uma postura proativa dos gestores permite antever problemas de natureza legal e
evitar problemas no futuro.
Tratamos aqui, também, de uma concepção que integra aspectos políticos e sociais à
empresa. Mas, há diferenças em relação à leitura anterior. Você concorda?
Você deve ter percebido que a corrente anterior adota uma leitura mais sociológica, sob
a crença de que a realidade social é total e integral, portanto, impossível de ser
segmentada. A corrente anterior defende, então, que a realidade social é complexa e não
nos permite segmentações como: isso é assunto político, esse outro é assunto de
empresa, aquele lá é tema social. Em outras palavras, há a defesa deque assuntos
políticos, empresariais, sociais e de outra natureza qualquer, na vida real aparecem,
sempre, vinculados uns aos outros. Por essa razão, as organizações devem zelar pela
ética, a moral e os bons costumes, já que estamos no mesmo barco e interdependentes
uns dos outros.
Reflexão
Vamos ver um exemplo prático, ao nosso redor, acerca dessa interdependência
retratada pela Escola Mercado e Sociedade. Observe e anote o impacto da organização
onde você trabalha no ambiente.
Observe o fluxo de pessoas, o tráfego (motocicletas, bicicletas, automóveis particulares,
transporte público), a geração e a coleta de lixo, o barulho, a qualidade do ar, a
(in)segurança física das pessoas, os sistemas de segurança empregados por pessoas e pela
organização etc.
Agora, imagine a seguinte situação: caso a organização não estivesse localizada
naquela área geográfica, como seria a rotina e a qualidade de vida das pessoas ao redor?
A corrente da Social Issues Management, por sua vez, vê a realidade igualmente
integrada, mas, preocupada com um claro pragmatismo – vamos fazer responsabilidade
social porque a sociedade está nos vendo e precisamos nos cuidar para ganhar.
A discussão teórica acerca das correntes de pensamento da RSC é, ainda, posta
com base em duas vertentes: a escola do pensamento econômico clássico e a escola
socioeconômica (XAVIER; SOUZA, 2004).
A primeira tem como maior representante Milton Friedman, da Escola de Chicago,
Prêmio Nobel de Economia em 1975. Para Friedman, a responsabilidade social da
empresa é gerar lucros aos acionistas, pois, em uma sociedade capitalista, o desempenho
econômico é a principal qualidade da iniciativa privada. Além disso, advoga o autor, a
importância do trabalhador na organização relaciona-se às contribuições que ele traz para
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 56
a riqueza dos acionistas e, desta forma, a melhoria da qualidade de vida dos empregados
está diretamente relacionada ao crescimento dos lucros dos patrões.
De acordo com Kreitlon (2004), Milton Friedman, ao lado de Theodore Leavitt, tornou-
se ferrenho adversário de uma noção de RSC que hoje soa obsoleta:
A responsabilidade social da empresa consiste em aumentar seus próprios lucros (...). A
maior parte daquilo que se debatera a propósito de responsabilidade da empresa não
passa de tolices. Para começar, apenas indivíduos podem ter responsabilidades; uma
organização não pode tê-las. Eis, portanto, a questão que devemos nos colocar: será que
os administradores – desde que permaneçam dentro da lei – possuem outras
responsabilidades no exercício de suas funções além daquela que é aumentar o capital
dos acionistas? Minha resposta é não; eles não têm. (FRIEDMAN, 1970, citado por
KREITLON, 2004, p. 3)
Milton Friedman (1912- 2006)
Reflexão
Você concorda com essa linha de raciocínio?
Antes de passarmos para a outra corrente, é válido registrar que, em algumas situações,
as empresas se utilizam dessa visão utilitarista de RSC financiando ações com base em
legislação – a exemplo do incentivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no
Brasil – e, desta forma, tirando proveito de benefícios fiscais. Você acha justo ou não
esse tipo de RSC?
O assunto é polêmico e devemos, tão somente, entender que, ao se beneficiar de
incentivos fiscais, a empresa, de fato, não investe (do próprio bolso) e, sim, tão somente
desconta dos impostos aquilo que empregou, ou seja, bota com uma mão e tira com a
outra.
A segunda corrente, denominada de escola socioeconômica, refere- se à responsabilidade
social como instrumento proativo de intervenção através do qual a empresa adota e
executa ações junto à sociedade, participando da promoção do bem-estar de maneira
concreta e direta. Esta corrente tem como precursor Andrew Carnegie (1835- 1919), que,
em 1899, escreveu O Evangelho da Riqueza. Nessa obra, o autor apresenta dois
princípios para a responsabilidade social das organizações. O primeiro deles, o “princípio
da caridade”, sustenta que os mais afortunados da sociedade devem ajudar aos menos
afortunados, como desempregados, inválidos, doentes e idosos. O segundo, o “princípio
da custódia” é apresentado por Carnegie como sendo aquele em que as empresas e os
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 57
ricos se comportam como guardiões, ou zeladores, guardando dinheiro e direcionando-o
para aqueles objetivos que a sociedade considera legítimo. Era função dos guardiões
multiplicarem a riqueza da sociedade (STONER, 1995).
Andrew Carnegie (1835-1919)
Outro importante pensador da escola socioeconômica é Robert Ackerman. Através da
Teoria da Reatividade, Ackerman difundiu a idéia de que, ao invés da forma proativa, a
responsabilidade social deveria ser compreendida como a capacidade da empresa em
responder aos problemas sociais. Este conceito recebeu o nome de responsividade.
Temos, assim, duas correntes antagônicas de Responsabilidade Social: a primeira é
centrada numa leitura extremamente egoísta conduzindo- nos à falsa impressão de que a
empresa pode, unilateralmente, atuar no espaço social sem prestar contas da ação à
sociedade. Ora, não podemos concordar com tal leitura, por vários motivos. Você é capaz
de arrolar alguns?
Podemos sintetizar alguns motivos com base em nossas próprias observações. As
organizações produtivas, em especial as grandes corporações, ao se instalarem em dado
espaço geográfico costumam causar uma série de transtornos. Façamos uma
investigação.
Reflexão
Nesse item, gostaríamos que você fizesse uma investigação bastante simples.
Trata-se de uma observação. Dirija-se a determinado ponto da sua cidade (onde está
instalado um banco, uma universidade, uma escola, um shopping center, um
supermercado ou hipermercado, uma importante repartição pública, um hospital).
Você deve ter identificado alguns desses problemas: tráfego intenso de automóveis (não
raro dificultando o acesso a áreas de passeio público, tais como calçadas, ciclovias e
parques), fluxo intenso de pessoas, barulho, poluição sonora, poluição visual (faixas,
banners, placas, sinalizadores), fuligem, fumaça, sujeira (papel, lata, garrafa, plástico),
dentre outros. Todos esses componentes apontam para o entendimento de que as
organizações afetam a qualidade de vida das pessoas e, portanto, não podem agir de
maneira unilateral, sem qualquer preocupação com o entorno. Devem, ao contrário,
respeitar regras de convívio e compensar a sociedade com alguma ação social, de modo
a amenizar os efeitos ambientais da sua presença em dado espaço geográfico. Quando
assim não atua, a organização pode se tornar objeto de discórdia e alvo de depredação
por parte da população. Lembra- se do caso do filme Erin Brockovich?
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 58
Em Natal, narrou um estudante de pós-graduação em dada ocasião em sala de aula que
uma grande empresa de transportes (localizada em uma área periférica da cidade) era
alvo constante de depredação dos ônibus. A empresa, preocupada com a situação,
instalou filmadoras, cerca elétrica, alarmes e outros artifícios de segurança no intuito de
intimidar os ataques. O que aconteceu? Você imagina?
Impedidos de penetrar na garagem para rasgar pneus e pichar os automóveis, os
depredadores foram esperar os ônibus no início da rua, lá, com uma outra estratégia:
acertar e quebrar vidros de janelas, párabrisas e faróis. Alguém dirá: isso é coisa de
vândalos! Será? Após uma semana (com várias janelas e pára-brisas quebrados), a
diretoria da empresa resolveu mudar a tática. O que ela fez? Imagine você nesse cenário.
Que resposta você daria ao problema?
Pois bem, vejamos se sua resposta é similar àquela adotada pela empresa. A
empresa resolveu dialogar com a população local. Identificou e convocou a liderança
comunitária do bairro e o cabeça do quebra- quebra para uma conversa (a primeira do
gênero após mais de 20 anos de presença da empresa naquela área). O diretor, então,
perguntou a um jovem: “qual o motivo de tanta revolta com a empresa?”
Resposta: “vocês são ricos, estão aqui por muito tempo e nada fazem por nós. Somos
pobres, não temos trabalho, não temos diversão, não temos moradia, moramos em favela,
não temos escola por aqui. Então, a nossa diversão é quebrar tudo.”
Após essa conversa, a direção da empresa tomou a iniciativa de montar um programa
sócio-educativo para os jovens, com atividade de lazer associada, utilizando espaços
livres da área de garagem. O resultado, desta vez, foi bem diferente: os jovens passaram
a ter aula e lazer na garagem da empresa e, após as atividades, decidiram,
voluntariamente, colaborar com a limpeza e a manutenção dos ônibus. Os investimentos
na ação social, de acordo com a direção da empresa, assumiram valores inferiores aos
gastos mensais com a recuperação de portas, janelas, pára-brisas, pneus, pintura, faróis,
etc.
O que nos traz esse exemplo? Ao que parece, é claro o seguinte entendimento: estamos
todos num mesmo barco e devemos nos preocupar com o próximo, pois, de outra forma,
aquele que está em situação vulnerável irá, em algum momento por algum motivo, se
rebelar.
É esse um dos princípios da ética. A ética parte de um pressuposto sistêmico: cada
indivíduo é uma pequena parte do Universo. Assim, a ação ética destina-se, não à
destruição da variedade, mas ao reconhecimento da unidade na diversidade. Tem
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 59
fundamento na moralidade, entendida como um código de valores que guia as escolhas,
as decisões e as ações dos homens e que, portanto, orienta o propósito e o curso da vida
associada e o zelo de todos pelo meio ambiente.
Em síntese, discutimos neste tópico as várias correntes teóricas da RSC. Numa primeira
categorização, estudamos três correntes: Ética Empresarial, Mercado e Sociedade e
Gestão das Questões Sociais.
Numa outra classificação, estudamos duas correntes: a escola do pensamento econômico
clássico e a escola socioeconômica. Percebemos que, em essência, a discussão teórica
em torno do tema está circunscrita ao seguinte questionamento: a empresa deve ou não
se tornar co-responsável pelo desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das
pessoas? Percebemos, ao final do tópico, que as organizações devem sim buscar
respostas para as demandas sociais, pois, de certo modo, elas afetam a qualidade de vida
das pessoas pela via de impactos ambientais (poluição sonora, poluição visual, trânsito
intenso, influências no fluxo de pessoas etc).
Vimos que a ética é componente intrinsecamente vinculado à RSC. Por sua vez, o
comportamento ético exige a compreensão de que compartilhamos um mesmo espaço
físico e que, portanto, devemos ter uma visão integrada de mundo, zelando uns pelo bem-
estar dos outros e todos pelo patrimônio ambiental.
Volte para seu curso e participe do Fórum "Responsabilidade Social Corporativa"no
Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 60
2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
2.3.- Indicadores em Responsabilidade Social Corporativa
Há uma variedade de indicadores em RSC. Aqui, optamos por apresentar alguns dos
mais comumente referenciados. No Brasil, já tivemos oportunidade de conhecer os
Indicadores Ethos e não mais os incluiremos aqui. Agora, acrescentaremos o Balanço
Social e a NBR 16001. Em termos de indicadores internacionais, apresentaremos a SA
8000 e a ISO 26000, esta em fase de elaboração.
Balanço Social
O Balanço Social é uma ferramenta da RSC que, no Brasil, foi popularizada a
partir do Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (IBASE), Organização
Não-Governamental articulada pelo sociólogo Herbert de Souza em 1997. Desde 1998,
com o intuito de estimular a participação de um maior número de corporações, o Ibase
lançou o Selo Balanço Social Ibase/ Betinho. O selo é conferido anualmente a todas as
empresas que publicam o balanço social no modelo sugerido pelo Ibase, dentro da
metodologia e dos critérios propostos.
Através deste Selo as empresas podem mostrar – em seus anúncios, embalagens, balanço
social, sites e campanhas publicitárias - que investem em educação, saúde, cultura,
esportes e meio ambiente.
O Balanço Social está disposto em sete títulos, a saber:
1. Base de Cálculo (Receita Líquida, Resultado Operacional, Folha de
Pagamento Bruta):
2. Indicadores sociais internos;
3. Indicadores sociais externos;
4. Indicadores ambientais
5. Indicadores do corpo funcional;
6. Informações relevantes quanto ao exercício da cidadania empresarial;
7. Outras informações relevantes. Trata-se de título flexível que permite à empresa
resposta livre.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 61
ABNT NBR 16001
A Norma NBR 16001 – Responsabilidade Social – Sistema de Gestão – Requisitos,
produzida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é definida como
instrumento que:
Estabelece os requisitos mínimos relativos a um sistema de gestão da responsabilidade
social, permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que
levem em conta os requisitos legais e outros, seus compromissos éticos e sua
preocupação com a: promoção da cidadania; promoção do desenvolvimento sustentável;
e transparência das suas atividades
<http://www.iadb.org/ETICA/Documentos/abn_norma-p.doc, p. 3>.
Trata-se, portanto, de instrumento que tão somente orienta os processos de gestão da
responsabilidade social. Por essa razão, registra a ABNT
<http://www.iadb.org/ETICA/Documentos/abn_normap. doc, p. 2>, O atendimento aos
requisitos da Norma não significa que a organização é socialmente responsável, mas que
possui um sistema da gestão de responsabilidade social. As comunica ações da
organização, tanto internas quanto externas, deverão respeitar este preceito.
Assim, ressalta a ABNT que, duas organizações que desenvolvam atividades
similares, mas que apresentem níveis diferentes de desempenho de responsabilidade
social, podem ambas atender aos requisitos da Norma.
A NBR 16001 segue a metodologia conhecida como PDCA (Plan-Do-Check-Act) que,
em português, traduzimos como planejar, fazer, verificar e atuar. Tal metodologia é
assim descrita brevemente na Norma:
Planejar (Plan): estabelecer objetivos e processos necessários para se produzirem
resultados em conformidade com a política da responsabilidade da organização;
Fazer (Do): implementar processos;
Verificar (Check): monitorar e medir os processos em relação à política de
responsabilidade social e aos objetivos, metas, requisitos legais e outros, e reportar
os resultados; e
Atuar (Act): tomar decisões para melhorar continuamente o desempenho ambiental,
econômico e social do sistema da gestão.
Declara a Norma que objetivos e metas devem contemplar, e não apenas se limitar
a:
a) boas práticas de governança;
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 62
b) combate à pirataria, sonegação e corrupção;
c) práticas leais de concorrência;
d) direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho infantil;
direitos do trabalhador, incluindo o de livre associação, de negociação, a remuneração
e) justa e benefícios básicos, bem como o combate ao trabalho forçado;
promoção da diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de gênero,
de raça/etnia, idade, pessoa com deficiência);
g) compromisso com o desenvolvimento profissional;
h) promoção da saúde e segurança;
i) promoção de padrões sustentáveis de desenvolvimento, produção, distribuição
e consumo, contemplando fornecedores, prestadores de serviço, entre outros;
j) proteção ao meio ambiente e aos direitos das gerações futuras; e
k) ações sociais de interesse público.
Para Ursini e Sekiguchi (2005), os pontos relevantes da Norma são:
a aplicabilidade a organizações de todos os tipos e portes;
o entendimento amplo do tema Responsabilidade Social;
a necessidade de comprometimento de trabalhadores e dirigentes de todos os níveis
e funções, especialmente a alta direção;
a definição de requisitos para um sistema de gestão, com objetivos, metas e
programas, que contempla a responsabilidade social e política; e
a incorporação do modelo PDCA (plan, do, check, act), anteriormente utilizado com
êxito nas Normas das séries ISO 9000 e ISO 14000.
São todos, portanto, pontos aplicáveis à atualidade, considerando o fato de que a
Responsabilidade Social não mais é retratada pela ótica da benevolência ou como
modismo, nem tampouco serve de abordagem para a divulgação de imagem
organizacional não condizente com a realidade.
SA 8000
Em 1997, o primeiro passo de normalização e certificação de intervenções de
responsabilidade social empresarial foi dado através da Social Accountability 8000 (AS
8000), criada pela SAI – Social Accountability International, uma organização não-
governamental que tem por missão:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 63
melhorar as condições de trabalho no mundo;
proporcionar a padronização dos critérios de avaliação das intervenções cidadãs
empresariais em todos os setores de negócios e em todos os países;
trabalhar em parceria com organizações trabalhistas e de direitos humanos do mundo
todo; e
proporcionar incentivos que beneficiem a comunidade empresarial e consumidores
através de uma abordagem equilibrada na qual ambas as partes ganhem com o
desenvolvimento tecnológico.
Um dos principais méritos da Norma é o foco na prevenção e não na ação em si. A SA
8000 está mais interessada, então, em evitar que a organização seja acusada de não
atender a requisitos considerados socialmente éticos e justos. Outra característica de
relevância é que a sua concepção envolveu a reunião de diversos grupos sociais, tais
como sindicatos, empresários, membros da academia, consumidores e empresas
certificadoras, dentre outros, experiência que vem sendo replicada na elaboração da ISO
26000.
A Norma está pautada em nove requisitos – fundamentados na Convenção da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Convenção das Nações Unidas Sobre
os Direitos da Criança e na Declaração Universal dos Direitos Humanos – e aborda os
seguintes aspectos (XAVIER & SOUZA, 2004):
trabalho infantil – a empresa não deve se envolver ou apoiar a utilização de trabalho
infantil;
trabalho forçado – a empresa não deve se envolver ou apoiar a utilização de trabalho
forçado, nem deve solicitar dos seus colaboradores fazer “depósitos” ou deixar
documentos de identidade quando iniciarem o trabalho com a empresa;
saúde e segurança – a empresa, tendo em vista o conhecimento corrente da indústria
e quaisquer perigos específicos, deve proporcionar um ambiente de trabalho seguro
e saudável e deve tomar as medidas adequadas para prevenir acidentes e danos à
saúde que surjam e estejam associados ou que ocorram no curso do trabalho,
minimizando, tanto quanto seja razoavelmente praticável, as causas de perigos
inerentes
ao ambiente de trabalho;
liberdade de associação e direito à negociação coletiva – a empresa deve respeitar o
direito de todos os colaboradores para constituírem ou se associarem em sindicato
de sua escolha e negociar coletivamente;
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 64
discriminação – a empresa não deve se envolver ou apoiar a discriminação na
contratação, na remuneração, no acesso a treinamento, na promoção, no
encerramento de contrato ou na aposentadoria, com base em raça, classe social,
nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, associação a sindicato
ou afiliação política;
práticas disciplinares – a empresa não deve se envolver ou apoiar a utilização de
punição corporal, mental ou coerção física e abuso verbal;
horário de trabalho – a empresa deve cumprir a legislação referente ao horário de
trabalho em todos os casos. Os seus colaboradores não devem ser rotineiramente
solicitados a trabalhar acima de 48 horas por semana e devem ter pelo menos um dia
livre num período de sete dias de trabalho;
remuneração – a empresa deve assegurar que os salários pagos por uma semana
padrão satisfaçam pelo menos os padrões mínimos do negócio e sempre sejam
suficientes para atender às necessidades básicas dos colaboradores e proporcionar
alguma renda extra; e
sistema de gestão – a alta administração deve definir a política da empresa quanto à
responsabilidade social e às condições para assegurar a sua manutenção.
A SA 8000 possui um sistema de auditoria similar às versões ISO 9000 e 14000, todavia
com requisitos orientados em diretrizes de convenções internacionais, o que tem sido
motivo de reconhecimento como sistema de implementação, manutenção e verificação
de condições dignas de trabalho.
Cabe, aqui, um questionamento: você concorda com o fato de o cumprimento, por
parte de uma organização, a normas, tratados e convenções ser abordado como
Responsabilidade Social?
O tema é polêmico. Duas correntes de interpretação estão postas. A primeira defende
que a observância a leis, normas, tratados e convenções é algo compulsório (ou deve ser
considerado como tal) e, portanto, não há mérito algum quando a organização os atende.
No outro ponto, há a defesa de que, não obstante os consideráveis progressos técnicos
da humanidade, os avanços sociais no mundo dos negócios não os têm acompanhado na
mesma velocidade e qualidade.
Por isso, são registradas, cotidianamente, em várias partes do mundo, agressões
de empresas ao ambiente, a clientes, a empregados, à concorrência, à comunidade etc.
Diante deste fato inquestionável, é razoável concordamos que o atendimento a
instrumentos legais (que têm base em valores, costumes, na moral e na ética) pode ser
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 65
considerado ponto de distinção à organização, ainda que possamos, sob tal perspectiva,
entender tal procedimento como etapa preliminar de RSC.
ISO 26000
A International Organization for Standardization (ISO) é uma reconhecida
agência internacional de certificação que, anteriormente, foi responsável pela geração
das normas ISO. A primeira geração tratou dos sistemas de gestão da qualidade (ISO
9000), a segunda de gestão ambiental (ISO 14000) e, agora, prepara a terceira geração,
a ISO 26000, com previsão de lançamento para 2010. Contudo, diferentemente das
anteriores, a ISO 26000 não se constitui norma certificadora e, sim, apenas um guia de
diretrizes. Não é base, portanto, para obtenção de selos e certificados de responsabilidade
socioambiental pelas empresas e outras organizações.
O Brasil, representado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em
conjunto com o Swedish Standard Institute, da Suécia, é responsável pela condução dos
trabalhos, que vem sendo liderados pelo Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social
da ISO (Working Group on Social Responsibility – WG SR), composto por
mais de 430 pessoas de 72 países e 35 organizações
internacionais.<http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/104>
A ISO 26000 contemplará três conjuntos de princípios. No primeiro, denominado Gerais,
estão temas relacionados à observância a leis, convenções e declarações internacionais.
Os princípios que fazem parte do segundo conjunto, chamados de Substantivos, são
voltados ao acompanhamento de resultados e avanços das organizações em critérios
internacionalmente reconhecidos nas diversas áreas da responsabilidade social. O
terceiro conjunto, Operacionais, dizem respeito à natureza e à qualidade dos processos
de responsabilidade social, englobando controles, transparência e responsabilidade da
organização, entre outros aspectos. Diferentemente das anteriores, a ISO 26000 não
certificará. Assim, teremos tão somente um guia internacional para o tema da
responsabilidade social. A não concessão de certificado é algo positivo ou negativo?
Qual a sua posição a respeito do tema?
Há muita polêmica em torno das normas de certificação, fato que foi especialmente
alimentado a partir de experiências negativas com as versões anteriores da ISO.
Ocorreram denúncias envolvendo consultorias e auditorias de qualidade e rigor
duvidosos. Maquiagens proliferaram no meio empresarial visando à obtenção da
certificação.
Atendimentos dissimulados e artificiais de conformidade, mais tarde mostravam-se
inconsistentes e colocavam em dúvida a validade do certificado. Em outras palavras,
quando constatavam a incapacidade para atender determinada exigência, algumas
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 66
empresas montaram circo para impressionar os auditores e, assim, conseguiam
convencer (ludibriar) a auditoria e receber o certificado. Dias ou meses depois, quando
o circo era desarmado, a sociedade tomava conhecimento da fraude.
Ao que parece, os guias de orientação são mais saudáveis do que as normas de
certificação. Você concorda? A experiência tem demonstrado que as normas
certificadoras geram um lucrativo mercado para consultores (aqueles que orientam as
empresas no atendimento das exigências) e um outro, não menos lucrativo, para
auditores (os que investigam o atendimento às exigências) e agências certificadoras.
Por outro lado, há aqueles que acreditam ser positiva a experiência da certificação,
pois, ainda que sujeita a desvios – como tudo o mais na vida – a obtenção de um dado
certificado é parâmetro à tomada de decisão de consumidores, fornecedores e
investidores, dentre outros públicos, que interagem com a empresa.
Finalizando, neste tópico estudamos alguns indicadores de Responsabilidade Social
Corporativa. Acrescentamos aos Indicadores Ethos – que já havíamos estudado
anteriormente – o Balanço Social e a NBR 16001 em termos de Brasil. Da referência
internacional, apresentamos a SA 8000 e a ISO 26000.
Uma vez que os indicadores de RSC tratam da obediência a normas, tratados e
convenções, refletimos a respeito do tema com base na seguinte questão: as empresas
que cumprem legislações podem ser consideradas como sendo socialmente
responsáveis? Optamos pelo sim, sob a ressalva de que, nesse caso, devemos entender a
conformidade como etapa preliminar de RSC.
Tratamos, ainda, de uma outra polêmica: se os indicadores devem ou não servir de
instrumento de certificação. Nesse aspecto, vimos que os indicadores podem servir:
à concessão de certificados; e
de guia de orientação à gestão.
Optamos por entender que, na condição de guia de orientação à gestão, os indicadores
são mais saudáveis, pois, na outra forma, tornam- se passíveis de manipulação por parte
de consultores e de auditores credenciados à concessão de certificados.
Elabore uma síntese comparativa de temas/indicadores abordados nas três propostas,
tomando como referência o modelo Ethos. Para facilitar a execução da atividade,
fornecemos um exemplo.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 67
Caso você identifique temas/indicadores que aparecem em um modelo e não em outro,
liste-os separadamente e elabore justificativas para as diferenças encontradas. Para esse
fim, leia os objetivos de cada instrumento.
Considerando o fato de haver sete temas nos Indicadores Ethos, apresentamos o
quadro com sete linhas. Todavia, é provável que você necessite detalhar variáveis
contidas em um ou outro indicador visando à identificação de similaridades. Nesse caso,
o número de linhas aumentará.
Reflexão Final
Vamos conhecer, agora, alguns desafios que permeiam o tema da Gestão Social
em uma sociedade regulada por relações capitalistas.
O exercício reflexivo que propomos é importante para sinalizar fragilidades conceituais
e cuidados que devemos adotar em intervenções nesse campo do pensamento
administrativo.
As dificuldades que encontramos no tratamento de temas vinculados à Gestão Social
residem no fato de que, em essência, esse campo do conhecimento administrativo se
desenvolve a partir de princípios e valores que, em essência, não se sintonizam
perfeitamente com a dinâmica das relações capitalistas. Afinal, vivemos em uma
sociedade dominada por relações de marcado e comportamento econômico que
privilegiam ganância, competição, concorrência, competência individual e
individualismo, dentre outros elementos do gênero.
Todavia, a agenda que aqui retratamos é mais que pertinente, pois, conforme lembra
Ramos (1981), o comportamento econômico, calculista e interesseiro, ainda que
predominante no meio social, não explica a totalidade das relações humanas, mesmo em
uma sociedade capitalista. Por essa razão, discutimos neste livro princípios e valores
humanos que, aparentemente, estavam esquecidos e que, agora, são retomados como
estratégia de reatamento de elos entre os homens e destes com a natureza. Por essa razão,
tratamos aqui de:
ética e transparência;
solidariedade;
qualidade de vida;
responsabilidade e confiança mútuas;
cooperação;
doação voluntária e vocação;
dependência e compromissos coletivos;
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 68
reciprocidade, harmonia e sintonia.
sustentabilidade ambiental;
tolerância;
diálogo social;
engajamento político e participação.
Não esqueçamos da discussão ideológica que preside esse campo do conhecimento,
exatamente em virtude dos descompassos existentes entre interesses econômicos de
obtenção crescente de lucros, por um lado, mediados por discursos e práticas que buscam
harmonia, solidariedade, ação voluntária e ética, por outro. Entre esses dois universos,
navega a Gestão Social.
Certa vez, em sala de aula, um jovem aluno provocou:
Professor, eu acredito que as organizações sociais, da mesma forma que as
empresas, devem ser eficientes e eficazes acima de tudo, principalmente na aplicação
dos recursos e no alcance dos resultados. Afinal, é bem melhor fazer a 40 do que a 20.
Você concorda com esse raciocínio?
Bom, provavelmente você deve ter concordado com o raciocínio economicista do jovem.
Parece mesmo que a função maior do Administrador é fazer mais com menos; alcançar
os melhores resultados (quantitativos, demonstrados no balanço sob a forma de lucro)
com menos emprego de recursos. Na sala de aula, naquele momento, todos concordaram
com o raciocínio do jovem.
Lembramos a todos, porém, que não é essa a lógica que deve presidir a gestão das
organizações sociais. Ao invés do raciocínio puramente quantitativo (próprio da lógica
de mercado) é mais pertinente à Gestão Social o raciocínio qualitativo, ai sim, mediado
por números.
Desta forma, a provocação foi devolvida:
E se eu disser: é bem melhor para uma organização social fazer a 10 do que a 20,
afinal, assim procedendo ela poderá melhor atender às demandas do público beneficiário
e, portanto, cumprir fielmente a missão maior: promover o bemestar de indivíduos e
coletividades.
Pois bem! Em um cenário dominado por relações de mercado em que prevalece a lógica
do fazer mais com menos visando à obtenção de ganhos crescentes, as iniciativas
solidárias de Responsabilidade Social Corporativa e no Terceiro Setor soam como
tímidas retomadas e conquistas da sociedade, em sintonia com movimentos de
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resistência e de retomada gradativa de consciência do homem em torno das condições
gerais do ambiente e da vida coletiva com o semelhante.
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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
2.4.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo FACOM - nº 17 - 1º semestre
de 2007
A importânia da RSC como fator de diferenciação
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3.-RSC NAS DIFERENTES ÁREAS ORGANIZACIONAIS E SEUS IMPACTOS
3.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do site:
http://empreende.org.br da Autora: Silmara Cimbalista:
Responsabilidade Social: um novo papel na empresa
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3.-RSC NAS DIFERENTES ÁREAS ORGANIZACIONAIS E SEUS IMPACTOS
3.1.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do site:
http://empreende.org.br da Autora: Alex Guimarães:
Vale Investir em Responsabilidade Social Empresarial?
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3.-RSC NAS DIFERENTES ÁREAS ORGANIZACIONAIS E SEUS IMPACTOS
3.2- Responsabilidade social corporativa: afinal, quem são os interessados?
Para acessar este conteúdo click no link:
http://www.ead.aedb.br/joomla/mat35/images/artigos/rscafinalquemsaoosinteressados.
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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
4.-Responsabilidade Social E Estratégia Empresarial
http://www.erpnews.com.br/v2/thumbnail.php?file=business_process_148111646.jpg&
size=article_medium
http://cadejr.files.wordpress.com/2011/09/estrategia.jpg
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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
4.1.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:
VII Congresso Nacional Em Excelência Em Gestão 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN
1984-9354. Autores: Patrícia Asunción, Luciana Sousa, Maria Rosa e Benjamin
Salgado.
RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: UM ELO
ENTRE DUAS CORRENTES- O CASO DE UMA INDÚSTRIA DO RAMO
ALIMENTÍCIO NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU
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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
4.2.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:
MORCERF, S. O.; ALMEIDA, T. C. S.. Marketing Social – A Estratégia De Mudança
Do Comportamento Social. Cadernos UniFOA , Volta Redonda, ano 1, nº. 1, jul. 2006.
Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/edicao/01/71.pdf>
Marketing Social - A Estratégia De Mudança Do Comportamento Social
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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
4.3.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:
Desigualdade e indicadores sociais no Brasil
Francisco Vidal Luna e Herbert S. Klein
Sociólogo e as Políticas públicas: Ensaios em Homenagem a Simon
Schwartzman / Luisa Farah Schwartzman, Isabel Farah Schwartzma
Felipe Farah Schwartzman, Michel Lent Schwartzman, organizadores.—
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.Pp 97-116.ISBN 978-85-225-0736-‐8
Desigualdade e indicadores Sociais No Brasil
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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
4.4.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado da:
Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM) - ISSN 1677-7387
Faculdade Cenecista de Campo Largo - Coordenação do Curso de Administração v. 4,
n. 1, maio/2005 - Dísponível em: <http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm>
Contribuição Das Empresas Para o Desenvolvimento Sustentavel.
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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
4.5.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:
http://carbonmarketwatch.org/wp-content/uploads/2012/03/CDM_Toolkit_PG.pdf
Manual para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
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