65
Ministério da Justiça Comissão Nacional de Política Indigenista 8 a Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista - CNPI - Data: 22 e 23 de agosto de 2013 Local: Salão Negro do Ministério da Justiça/Brasília/DF

Ata da 8ª Reunião Extraordinária da CNPI

Embed Size (px)

Citation preview

Ministério da Justiça

Comissão Nacional de Política Indigenista

8a Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista

- CNPI -

Data: 22 e 23 de agosto de 2013 Local: Salão Negro do Ministério da Justiça/Brasília/DF

2

ATA/DEGRAVAÇÃO 8ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA

COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA- CNPI

Nos dias 22 e 23 de agosto de 2013, reuniram-se nas dependências do Salão Negro do Ministério da Justiça em Brasília/DF os integrantes da Comissão Nacional de Política Indigenista e da Mesa de Diálogo, juntamente com Ministros, Secretários-Executivos, assessores e convidados, em Plenária Geral da 8ª Reunião Extraordinária.

Para esta Plenária Geral, o Ministro José Eduardo Cardozo e o

Ministro Gilberto Carvalho da Secretaria-Geral da Presidência da República presidiram a Comissão no dia 22/08 no turno matutino.

Estiveram presente também, a Ministra do Meio Ambiente

Izabella Teixeira; do Ministro do Gabinete de Segurança Institucional da PR, General Elito; da Secretaria-Executiva do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Eva Maria Chiavon; do Presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Carlos Guedes de Guedes, do Secretário-Executivo Adjunto do Ministério de Minas e Energia, Francisco Romário Wojcicki, da Procuradora da 6ª Câmara Índios e Minoria do Ministério Público Federal, Dra. Débora Duprat, bem como os representantes governamentais e indígenas titulares, alguns suplentes na vaga de titular, representantes das ONGs e convidados.

Posteriormente, no turno vespertino do dia 22/08 e durante todo

o dia 23/08 a Comissão foi presidida pela Presidente da CNPI, Sra. Maria Augusta Bolitreau Assirati.

Nesse sentido, conforme lista de presença, estavam presentes

na 08ª Reunião Extraordinária:

- Representantes de governo : Maria Augusta B. Assirati – Presidente da CNPI; Marcelo Veiga e Natalia Dino – Ministério da Justiça; Paulo Roberto M. Maldos e Juliana Miranda – Secretaria-Geral da PR; Frederico Raphael C. D. Britto – Gabinete Institucional da PR; Milena S. M. Medeiros – Casa Civil da PR; Eduardo da Costa Pereira – Ministério da Defesa; Antonio Alves e Bianca Coelho Moura – Ministério da Saúde/SESAI Paulo Guilherme Cabral e Larisa Gaivizzo – Ministério do Meio Ambiente; Kátia Cristina Favilla e Celiana Santos – Ministério do Desenvolvimento Social

e Combate a Fome; Maria do Rosário de H. C. Cardoso – Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão; Rita Gomes do Nascimento – representando o Ministério da Educação;

- Representantes indígenas :

Anastácio Peralta – Guarani Kaiowá; Brasílio Priprá – Xokleng;

3

Deoclides de Paula - Kaingang; Elcio Manchineri Francisca Navantino - Pareci; Helinton Gavião; Kohalue Karajá; Lindomar Santos Rodrigues - Xocó; Lourenço Borges Milhomem - Krikati; Luiz Vieira Titiah – Pataxó Hã Hã Hãe; Manoel Fernandes Moura - Tukano; Marcos Luidson de Araújo – Xukurú; Pierlângela Nascimento Cunha - Wapichana; Rosa da Silva Sousa- Pitaguary Sandro Emanuel Tuxá Valcelio Figueiredo- Terena;

- Representantes da sociedade civil/ONGs Indigenistas : Saulo Feitosa – CIMI; Daniel Pierri – CTI;

- Ministério Público Federal 6ª Câmara – Convidado P ermanente Dra. Déborah Duprat; Dra. Marcia B. Zollinger;

- Lideranças Indígenas – Mesa de Diálogo Adroaldo A. Fidelis – ARPINSUL; Amália Aparecida da Silva – APOINME/Cacique Tuxá; Andréia Lourenço – AMISUL/PR; Antonio Ricardo Costa Dourado – APOINME/Coordenador Regional; Damião – Liderança Tradicional Xavante; Ivan Bribis – ARPINSUL; Joênia Batista de Carvalho – CRI/Roraima; Jonas Polino Sansão – Wyty Cate Kleber Luiz dos Santos – COIAB/Amapá; Letícia Yauanawá – CONSEA; Lindomar Ferreira – APIB/Conselho Terena/MS; Manoel Uilton dos Santos – APOINME/Coordenador-Geral; Marciano Rodrigues – ARPINSUL/PR; Marcos Sabarú – APOINME; Mário Karaí Moreira – ARPINSUL; Mário Nicácio – CIR/Roraima; Marivelton R. Barroso – FOIRN – Rio Negro/Amazonas; Osana Gonçalves Mendes – AMISUL/SC; Puyr Tembé – COIAB/Amazonas; Renato Angelo Pereira – Pankararé – Bahia; Renato da Silva Filho – APOINME; Rildo Mendes – ARPINSUL; Samuel da Silva – APIB; Sonia Bone Guajajara – COIAB/APIB; Zacarias Rodrigues – APIB;

4

- Assessor da Bancada Indígena Paulino Montejo - Convidados permanentes :

Carlos Eduardo da Cunha Oliveira – Ministério de Relações Exteriores; Maria Angelina Targuetta – Secretaria de Direitos Humanos da PR; Jocsley Pego Ramos – representantes dos povos de Minas Gerais e Espírito

Santo Marcio Kokóy Menegotto – representante da Juventude Indígena

- Convidados Especiais:

Carlos Wadson Reis - Secretaria Especial de Saúde Indígena-SESAI Daniela Soares Cavalcanti – Secretaria Especial de Saúde Indígena-SESAI Duncker S. Silva Fiz - Secretaria Especial de Saúde Indígena-SESAI Mariana Amorin Alencar - Secretaria Especial de Saúde Indígena-SESAI

- Convidados da Plenária – CONDISI –

Agnelo T. Wadzatsé – MT; Cleiton Javaé – TO; Clóvis Ambrózio – RR; Elizabete Cinta Larga – RO; Francisca das Chagas – AM; Germifson Dias Chaves – AM; Jorge Oliveira Duarte – AM; Luiz de Souza Karaí – SP; Natani Potiguara – PB; Paulo Manoel dos Santos – PA; Peri Xirixana – AC; Zildomar Saw Mok – Tapajós;

- Demais Pessoas Presentes -

Adriana M. do Canto – Secretaria-Geral da Presidência da República; Alvaro Tukano – Assessor do Partido Verde; Conrado R. Otavio – CTI; Edmilson Pereira – Ministério da Justiça; Fernando Matos – Secretaria-Geral da PR; Guilherme Moraes Rego – Ministério da Justiça; Janio Coutinho – Ministério do Meio Ambiente; Jean J. Arantes Martin – Ministério da Defesa José Carlos Batista - Ministério da Educação; Juliano Pimentel – Casa Civil da PR; Luiz Antonio Casealio – Ministério do Meio Ambiente; Marcia Catarina David – Ministério do Meio Ambiente; Marcio L. Freitas Filho – Ministério da Justiça; Marcio Meira – Ministério da Educação; Nubia Batista da Silva – Ministério da Educação; Silvia .... – Ministério do Planejamento; Robson de O. Fonzar - INCRA

5

- Funai – Aluisio Azanha- Diretor DPT; Carolina Comandelli – Diretora DPDS-Substituta; Erika Yamada; Estela C. de Souza – Coordenação Regional de Altamira-PA; Giovana Tempesta, Carolina Perini de Almeida, Daniela Lima e Ester B.

Oliveira – CGID; José Mario de Almeida - DAGES Lucia Alberta de Oliveira e Samira Suelly de C. Sousa – Presidência; Rosali Scalabrin e Gustavo Cruz – ASPAR.

- Secretaria-Executiva :

Teresinha Gasparin Maglia - Secretaria Gracioneide M. Rodrigues, Léia Bezerra do Vale e Kaio Kepler

- Imprensa - Evandro Eboli – Jornal O Globo; Fernando de Lima – Empresa Brasileira de Comunicação-EBC; Mateus Leitão – Folha de São Paulo; Paula A. Britto – TV Brasil; Rodrigo Camilo – Jornal O Globo; Rodrigo S. Ferreira – Documentarista-indiocidadac.doc Vianey Bentes – TV Globo; Wilson Dias – Empresa Brasileira de Comunicação-EBC;

6

Brasília/DF, 22 e 23 de Agosto de 2013

Ministro Gilberto Carvalho: Prezadas companheiras e companheiros senhores e senhoras, o nosso ministro José Eduardo teve um problema agora cedo e deve chegar em 5 ou 10 minutos, mas nós achamos que dado o adiantado da hora, a gente gostaria de começar, já. Tínhamos pensado em fazer uma apresentação, mas parece que os companheiros querem fazer uma cerimônia. Como vocês sabem, se trata, hoje, de uma Reunião Extraordinária da CNPI para nessa manhã, a instalação da Mesa de Diálogo Permanente, determinada pela Presidenta na última, na reunião que nós tivemos com ela, lá no Palácio do Planalto. Então eu queria passar aos companheiros, pra que eles pudessem realizar a cerimônia, fiquem a vontade, por favor. Sandro Tuxá: - Bem, eu queria que todos pudessem ficar de pé, por favor... todos e todas... É um momento cheio de esperança, um momento... que nós chegamos aqui cheio, com o coração repleto de esperança, né? E a gente, por ter esperança que nós vamos trazer ou vamos levar, pras nossas comunidades, algo positivo e algo de melhor, a gente vai aproveitar o momento pra chamar os nossos antepassados, nossos ancestrais, nossos encantados, nossos guias de luz, pra que ilumine a cabeça de nossos guerreiros, de nossas guerreiras, que ilumina a cabeça dos nossos representantes do nosso Governo, de nossos ministros, de nossos secretários, pra que todos possam comungar por uma causa só: A melhoria da qualidade de vida e a segurança das nações indígenas... Eu queria ter a honra e o prazer de poder entoar um canto da minha cultura, do meu povo. É um ritual de oração, que faz esse chamamento aos nossos ancestros. Que eles possam dar a paz necessária, a sabedoria a todos e todas, pra que nós possamos dar voz à esses gritos de nossos parentes, querendo solução... Marcos Xucurú: - Vamos deixar permitir, meus irmãos guerreiros e guerreiras, que os encantados, os encantados que estão nas matas sagradas, cheguem aqui nesse espaço, para que possam, assim, adentrar os corações de cada um que esta aqui dentro... E amoleça esses corações e faça com que os povos indígenas, nesse país, tenha os seus direitos respeitados e que os encantados nos ajudem, nos protejam, e façam com que isso aconteça, nesse dia de hoje, amanhã e sempre... {{Execução de Canto Indígena}} Ministro José Eduardo Cardozo: - Quero, inicialmente, saudar todos os presentes e a todas as presentes, pedir desculpas pelo atraso e nós vamos, então, dar seqüência à nossa reunião, passando a palavra à Doutora Maria Augusta Assirati, Presidente da FUNAI, pra que possa fazer uso da palavra... Maria Augusta: - Bom dia a todos e todas. Queria agradecer a presença de todos os nossos representantes, da Comissão Nacional de Política Indigenista, a CNPI e agradecer também àquelas e àqueles que não integram a comissão, mas que estão presentes, com a gente, no dia de hoje, um dia muito importante, que simboliza um momento de fortalecimento desse diálogo do Governo com os povos indígenas no Brasil, que já acontece, por meio da

7

Comissão, mas que a gente pode, sempre, qualificar, que a gente pode, sempre, melhorar, fortalecer, transformar em algo sólido, que, efetivamente, possa gerar frutos positivos, possa pensar, refletir, formular, propor políticas públicas pros povos indígenas, no Brasil. E, hoje, é um momento em que nós vamos dar início a esse processo de fortalecimento, justamente a partir da reunião com a Presidenta Dilma, onde ela verbalizou, expressou esse desejo, explicitamente e quis que nós estivéssemos, hoje, aqui, Governo e povos indígenas, pra, além da mesa da CNPI, pra poder instalar esse momento de diálogo. Então, eu queria agradecer e queria dizer que a coordenação dessa mesa de diálogo, que esta sendo instalada hoje, dos Ministros Ministro José Eduardo Cardozo e Gilberto Carvalho, portanto a coordenação não será, hoje, minha, como Presidente da CNPI, mas dos ministros. Então eu já passo a palavra pra eles, comunicando, Ministro, que existe, já, uma proposta de metodologia pra reunião, que seria a abertura com uma fala do movimento indígena, que vai fazer uma fala geral e depois algumas falas, por regiões, alguns representantes, aqui, por regiões, irão falar. Serão cinco indígenas a falar e, depois, abriremos pro debate da mesa, se o senhor, assim, concordar Ministro... Ministro José Eduardo Cardozo: - De acordo, então, nós podíamos, se ninguém tiver nenhuma objeção, dar início à essa proposta que foi feita pela Presidente da FUNAI. Então nós teríamos uma primeira fala, da pessoa destacada pra falar em nome do movimento indígena e depois teríamos uma fala por cada uma das regiões. De acordo, então vamos iniciar pela primeira fala, do Lourenço, que falará em nome do movimento indígena. Lourenço, você tem a palavra... Lourenço Krikati: - Bom, bom dia a todos e a todas... neste momento eu, em primeiro lugar, quero agradecer a Deus, em nome de Jesus e em segundo lugar a todos e a todas presentes aqui... Na instalação da mesa do diálogo, entre Governo Federal e os povos indígenas do Brasil... Nesta 8ª Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista- CNPI. Excelentíssimos senhores Ministro de Estado, respeitáveis membros da CNPI, prezados parentes, e os demais presentes... Quero, aqui, ressaltar, em nome da Bancada Indígena, a relevância histórica deste momento, em que o Governo e os povos, dando início à uma mesa de diálogo sobre distinta histórica, reivindicações, necessidades e aspirações nossas... Mesa que acontece no ano em que a Constituição Federal completa, em cinco de outubro, vinte e cinco anos de existência... No contexto de que crescente e grave ataque à direitos, direitos conquistados com muita luta e segurados por essa Constituição, em decorrência do atual modelo de desenvolvimento, priorizado pelo atual governo e a força do capital, que tomaram, por assalto, o Estado... E que afronta, principalmente, o direito sagrado e as nossas terras, territórios e recursos naturais... São de muita preocupação à ofensiva e afrontas permanentes, promovidas pela bancada ruralistas, contra os direitos fundamentais dos nossos povos, que, por meio de inúmeras iniciativas legislativas, PECs, PLs, que buscam suprimir, principalmente, os nossos direitos territoriais, assegurada pela Constituição Federal... A convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, OIT e a declaração da ONU sobre o direito dos povos indígenas... É igualmente preocupante e lamentável a

8

conduta omissa, conveniente e até de compromisso que o Governo e os setores dele tem com os interesses dos inimigos dos nossos povos, Comunidade e organizações. Compromisso, esse, materializado em portarias e decretos que regridem na proteção e a promoção dos nossos direitos, principalmente territoriais, em favor do agronegócio, do latifúndio, das grandes empresas e de outros poderes econômicos. Assim, nós, distintos, poderes do Estado, os nossos direitos são atacados... Lamentavelmente, entendemos que as iniciativas, no legislativo e as medidas administrativas e jurídicas do executivo buscam os mesmos objetivos... Primeiro, inviabilizar e impedir o reconhecimento e a demarcação das terras indígenas, que continuam usurpadas na posse de não índios... Reabrir e rever procedimento de demarcação de terras indígenas já finalizadas. Invadir, explorar e mercantilizar as terras demarcadas, que estão na posse, e sendo preservados pelos nossos povos... Destacamos, nesse sentido, no âmbito do legislativo, a PEC 038, que tramita no Senado Federal e que buscam transferir, para aquela casa, a responsabilidade de demarcar as terras indígenas; a PEC 215, que usurpa a prerrogativa do executivo de demarcar as terras indígenas e ameaçar o destino dos territórios quilombolas e das unidades de conservação; PL 1610/96, que dispõe sobre a mineração e tese indígena; a PEC 237, que busca alterar artigo 176 da Constituição, permitindo a posse, das terras indígenas, por produtores rurais e o projeto de lei complementar da PLP 227/2012, que, ao querer regulamentar o parágrafo sexto do artigo 231 da Constituição Federal, nega, redondamente, os direitos dos nossos povos, consubstanciadas em diversos artigos da Constituição Federal, em favor de interesses governamentais e privados... O grave é que, neste PLP, é que a sua perspectiva de tramitação, em caráter de urgência, teve a pior da Ministra da Casa Civil, Gleice Hoffmann e do Ministro da Advocacia Geral da União, Luís Inácio Adams. Como se fosse pouco, estamos estarrisados com as repetidas notícias de que o Governo promete, supostamente, aprimorar. Na verdade, mudar, por meio de portarias, os procedimentos de demarcação das terras indígenas, atendendo exigências e pressões dos ruralistas, ao invés de cumprir os seus deveres constitucionais, de demarcar e proteger os nossos territórios. Senhores, senhoras, na contramão das nossas expectativas, de que um pretendido Governo Democrático e popular resolveria o possível de terras indígenas não demarcadas no país, depois de 1993. Os Governos Lula e Dilma foram os que menos demarcaram terra indígenas, comparados com o Governo Sarney, Collor e FHC... Das mais de cem terras indígenas, em distintas faces de regularização, incluindo as cem, nenhuma providência, de 60% das terras indígenas, não foram demarcadas e homologadas. Contrariamente, o atual governo, finaliza, claramente, que irá atender os interesses do agronegócio e do latifúndio, que, visivelmente se sentiram e continuam, cada vez mais, empoderados, dentro e fora do Congresso Nacional, inclusive nos territórios com as decisões de editar... A Portaria 303, de 17/07/12, que estende, equivocadamente, a aplicação para todas as terras aplicar habilidade das condicionantes estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do caso Raposa Serra do Sol, da petição 3388, de Roraima, que ainda não transitou em julgado... A Portaria dos entes 2.498 de 30/10/2011 quatrocentos e noventa e oito, de trinta e um de Outubro de dois mil e onze, que determina a intimação dos entes federados, para que participem dos procedimentos de identificação e delimitação de terras indígenas, sendo que o Decreto 1775/96,

9

já estabelece o direito do contraditório... A Portaria interministerial, 419, de 28/10/2012, que restringe o prazo para que o órgão e entidade da administração pública agilize os licenciamentos ambientais, de empreendimento, de infra-estrutura que atinge terras indígenas. Os Decretos 7957 de 13/03/2013, que cria o gabinete permanente da gestão integrada para proteção do meio ambiente, regulamentando a atuação das Forças Armadas na proteção ambiental, sendo que uma das suas atribuições presta/, auxilia a realização de levantamento e laudos técnicos sobre impacto ambiental negativo. Na prática, para nós, isso significa a criação de instrumento estatal para repressão militarizada de todas e qualquer ação de povos, comunidades, organizações, movimentos sociais que decidem se posicionar contra a empreendimento que impacta seu território. Nessas circunstâncias, consideramos que o Estado Brasileiro esta se omitindo da proteção dos direitos dos povos e torna-se co-responsável dos planos de nos atingir, com a negação dos nossos direitos mais sagrados: O direito à mãe terra, sem a qualquer, não somos nada... Se o atual Governo não quer passar para a história, com essa caracterização, que se mostrem para nós e que a opinião pública nacional e internacional, de que lado que esta. De nossa parte, nunca, os nossos povos, organizações, se furtaram ao diálogo, desde que este, já, franco e sincero... E não um monólogo, para concordar apenas com o que os governantes querem, mas se preciso for, partiremos para que, para fazer o que sempre fizemos: Defender os nossos direitos, autodemarcação, os nossos territórios e defendê-lo, se for preciso, com a nossa própria vida. Exigimos, por tudo isso, o respeito pleno aos nossos direitos, aos nossos territórios, à nossa autonomia, ao nossos direitos e a diferença, direito, esse, assegurado pela Constituição Federal e os tratados internacionais, do qual o Brasil é signatário. Oportunamente, pedimos para que o governo respeite as nossas organizações e lideranças, pois, por ocasião, ocasiões, visamos cumprir seus próprios propósitos. Tem buscado nos dividir e nos descaracterizar, o que não ajuda em nada, em iniciativa, como há, hoje, materializada nesta mesa de diálogo... Os senhores e senhoras, governo, nós parentes, aproveitamos e ressaltamos, também, que todas as nossas falas, não adianta ter uma, a saúde, não adianta ter uma educação, se não temos territórios. Hoje, a atual real no país, Brasil, nós, povos indígenas, sabemos que, hoje... nas tantas áreas que citamos pontuais, são as prioridades pra outro momento, como já citei a saúde, a educação nesse momento, as prioridades são territórios, mas quero aproveitar a oportunidade... Hoje, no Brasil, a saúde esta na UTI. Todos sabem. Exemplo do Maranhão, à espera de providências, simplesmente o Gestor... A educação, muito mais, precisa respirar, não esta acontecendo nos nossos estados, estados brasileiros, a educação não esta andando, por parte dos gestores... Imagine os territórios... E, neste momento, quero pedir a todos, presentes ministros, que sensibilize a causa, de nós, povos indígenas, brasileiros. Quero passar a palavra pros nossos parentes, que vão fazer seus relatos, obrigado. Ministro José Eduardo Cardozo: - Com a palavra agora, pra falar em nome da região Nordeste e Leste, Sandro Tuxá... Sandro Tuxá: - Bem, bom dia a todos e todas... eu tenho uma fala aqui, em nome da região que é compreendida pela área da nossa organização, da qual eu faço parte, que é a APOINME... Dos estados do Nordeste, tirando o nosso

10

estado do Maranhão, porque esta, agora, locado na Amazônia Legal e mais os dois estados, Minas Gerais e Espírito Santo... Bem Ministro, ontem, nós tivemos uma atividade desenvolvida ao longo da CNPI, que nos fez refletir sobre a forma que nós estávamos nos organizando, nos reunindo, de modo que resolvemos a fazer com que todas as subcomissões pudessem se juntar, por regiões, e pautar o tema da terra, que é o tema que ta enfocado, aqui, nessa reunião, da nossa comissão nacional... E, diante das manifestações, que nós tivemos o desprazer de se fazer presente, na Câmara dos Deputados, em especial diante do caso Awa Guajá, do Maranhão, nós, enquanto delegação do leste, Minas Gerais, Espírito Santo e do Nordeste, resolvemos a fazer um apanhado, porque parece que há uma inversão das coisas, parece que agora é o índio que é o grileiro da terra, parece que, agora é o índio que ta tomando a terra dos verdadeiros donos, parece que o índio deixou de ser o originário, né? E, com esse pensamento, nós passamos, ao longo do dia, Senhores Ministros, a fazer uma memória dos processos que nós temos sobre as questões de demarcações de terra. Eu não vou me alongar, porque tem muitos pra falar depois de mim, mas eu queria fazer uma memória rápida, porque eu fiz uns slides, passei a noite mexendo, mas não tem como mostrar para os senhores e senhoras. Então, assim, só queria fazer uma memória, ao longo desses quinhentos anos... Ao longo desses quinhentos anos. Nossos povos indígenas, do Leste e Nordeste, foram extintos quatrocentos e quarenta e nove pontos, da região Leste e Nordeste... Na Bahia foram extintos 136 povos, no Piauí, 49 povos, no Maranhão, eu tive que colocar, termo de região, 43 povos foram extintos, no Ceará, 42 povos, no Pernambuco, 32 povos, na Alagoas e Sergipe, 18 povos, no Rio Grande do Norte, 13 povos, na Paraíba, 10 povos, em Minas Gerais 91 povos, no Espírito Santo, 14 povos, no Sudeste, 38 povos foram extintos, Rio de Janeiro 24 São Paulo, 14 no Sul, só no estado do Paraná, foram extintos 16 povos, no Rio Grande do Sul foram 11, na Santa Catarina foram 5 povos... No Centro-Oeste, só no estado do Mato Grosso, 84 povos foram extintos, no Mato Grosso do Sul, 32 povos, no Goiás, Tocantins, 21 povos, na Região Amazônica, envolvendo o Estado da Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Amapá e Acre, 820 povos foram extintos... Amazonas, 37, Pará, 223, Rondônia 100 povos, Roraima 57, Amapá, 38, Acre 32, totalizando 1.447 povos extintos. Nos estudos anteriores, posteriores e recentes... Isso mostra a quantidade de percas que tivemos, nós, povos indígenas, sofremos... E ai eu trago um dado muito atual, que é ai, Senhor Ministro, esta esse dado, infelizmente, esta na gestão do nosso governo... De 2003 até 2011, 2010 foram assassinadas, nos conflitos de terras, no nosso país, Brasil, 43 lideranças indígenas, em 2003, 37 lideranças indígenas em 2004, 43 lideranças indígenas em 2005, 58 lideranças indígenas em 2006, 92 lideranças indígenas em 2007, 60 lideranças indígenas em 2008, 60 lideranças indígenas em 2009 e 2010 que ai é o dado que nós temos, que a gente foi buscar, 64, totalizando 499 lideranças mortas, por questões de conflito fundiário... Nós entendemos que nós precisamos de um Estado ágil e operante, pra dar celeridade à esses processos, sobretudo no processo de demarcação, porque quando Estado ta operante, quando ele vai nas comunidades, quando ele faz o diagnóstico prévio, quando ele tem as respostas a dar à sociedade, como um todo, certo? Os conflitos são evitados. Quando a FUNAI chega em tempo hábil, que ela consegue fazer o levantamento, todos os processos de tramites legais, identificação, estudos, delimitação da terra e conseguem trazer à sociedade,

11

como um todo, as respostas que tanto questionam, os conflitos fundiários são resolvidos, as partes sabem os seus papéis, as partes sabem quais são os direitos de cada um. O Estado criou as normas de aplicação, de como tramitar o processo de identificação, estudo e delimitação das terras indígenas, o Decreto 1.775, esse, que foi questionado, até os dias atuais, pelos povos indígenas do Brasil, o Decreto de Fernando Henrique Cardoso, porque dava o princípio do contraditório, ou seja, o direito à parte que estava sendo questionada, por ser ou não ocupante da área, de recorrer na justiça, de dizer o que estava errado naquele parecer da FUNAI, o seu estudo, dando três meses pras pessoas poderem recorrer... As comunidades indígenas passam de 10, 15, à 20 anos aguardando pelo posicionamento do Estado Brasileiro nas ações dos processos de demarcação de terra. No Nordeste, nós temos mais de 93 reivindicações de terra... Do Nordeste e Leste. Nós temos 14 terras em processo de identificação e delimitação parado... Nós temos 4 terras em fase de contestação... Nós temos 3 terras aguardando portaria declaratória, 7 em fase de demarcação física, 8 em fase de aguardo de regularização fundiária... Nós temos alguns processos, como o de Pontiguara, como o de Coroa Vermelha, Tuxá, precisando do Decreto Presidencial... Nós queremos dizer que o nosso estado, nossa região, foi uma zona fronteiriça para os avanços de todas essas emblemáticas que o Estado trás às populações originárias. Hoje esta chegando aos nossos parentes do Norte... E por isso que eles tão sofrendo as retaliações. Contudo, é necessário termos uma resposta eficaz do governo, para que nossas reivindicações se façam valer, como esta baseado na lei. Agora mesmo fomos surpreendidos com o paralisar dos processos de uma luta histórica do nossos parentes de Palmeira dos Índios... Que foi suspendido o processo de demarcação de terra e, até hoje, nós não sabemos por que, Pedimos informações à Presidenta, a Presidenta não soube dizer o por que e queremos que, no decorrer das falas, o nosso Ministro possa dizer por que, porque nós sabemos que há uma forte pressão por parte dos poderosos lá da região, em querer que esse processo não tramite... Anunciaram, inclusive em várias redes de comunicação. Que foram eles que paralisaram com o tramite de regularização da terra Xucurú Kariri, de Palmeira dos Índios... Senhor Ministro, é necessário que a nossa FUNAI possa, realmente, ser pautada, Senhor Ministro e isso eu lhe peço, em nome da nossa bancada indígena, com a sua doutrina, com o status em que ela foi constituída, com a sua funcionalidade. As nossas questões fundiárias não podem ser resolvidas por interesse, elas tem que ser resolvidas como manda e rege a lei e a lei vigente, hoje, é o Decreto 1775, a 303 não pode ser levado em conta, porque ela esta suspensa... As condicionantes do Supremo, é claro, não é lei, não vincula as responsabilidades e, ao que parece, todos os pareceres dos Ministérios, e outras formas que estamos alterando, inclusive o Congresso, estão questionando, estão colocando, de gargalo, as condicionantes que são restritas a Raposa Serra do Sol e que nós já estamos cansados de dizer que nem os próprios índios de Raposa Serra do Sol concordam com as mesmas. Pra finalizar, a gente precisa estabelecer meta. Essa reunião de nivelamento, essa reunião de mesa de negociação, de diálogo, como a nossa Presidente da República, ela fez uma memória, pra nós, muito honrosa, ela diz: Olha, quando a Comissão Nacional de Políticas Indigenista estava perdendo sua função, o nosso Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, fez questão de chamar todos os Ministérios e dizer: Esse é o espaço de interlocução com o

12

Governo e vamos fazer dessa mesma forma, para que nós possamos caminhar, de mãos dadas, na busca de resolver os conflitos, tanto da parte de cá, quanto da parte de lá. Mas é necessário que o nosso Ministério, sobretudo da Justiça, que o nosso Ministro Luís Dulce, que os nossos ministros, aqui representados, possam dar as respostas, porque essas respostas não chegaram, não estão chegando e a gente precisa saber qual o posicionamento do Governo. O Governo vai criar o Conselho Nacional de Política Indigenista? O Governo vai suspender, não suspender, o Governo vai revogar essa portaria 303 o Governo vai estabelecer um mecanismo claro de consulta para os povos indígenas? O Governo vai ousar, nesse processo, de estar ao lado com os povos indígenas, pra poder se fazer valer o que esta garantido na Constituição? É isso que nós queremos saber, porque o nosso momento é de estado de indignação e, mais ainda, ver o Congresso pactuando com tudo isso e nos desrespeitando, nos desvalorizando, até nos privando do direito da fala, como nós fomos privados recentemente, na Câmara dos Deputados. Era isso que eu queria contribuir, meu muito obrigado... Ministro José Eduardo Cardozo: - Pra falar, em nome da região Sul, Sudeste, o Rildo Mendes. Rildo Mendes: - Bom dia a todos... Bom dia ao Ministro, autoridades presentes, aos companheiros indígenas. Rildo, região Sul. É... Primeiramente, senhor Ministro, Eduardo Cardozo... Gostaria de lembrar que, na reunião com a Presidente Dilma, que saiu essa mesa de diálogo, nós criamos uma perspectiva de que os processos de demarcações de terra não estariam parados e não iam parar, mas o que percebemos é que paralisou, ou seja, em sua mesa, encontram-se diversos processos da região Sul, para as portarias declaratórias... Nós temos, em sua mesa, Votouro Kandóia e Irapuá. Nós temos diversas terras da região Sul para homologações... Eu não sei o porquê que o Governo não dá segmento à esses procedimentos, procedimentos, esses, que são administrativos, responsabilidade do gestor, ou seja, do Ministério da Justiça ou até mesmo da FUNAI... Ai, leva-nos a crer que as declarações da Ministra Gleice, na imprensa, pedindo, solicitando a paralisação da demarcação de terras na região Sul, esse governo esta levando em consideração, ou esta fazendo o discurso da Ministra Gleice. Discurso, esse, que não contribui em nada para amenizar o conflito, aumenta e acirra os conflitos, principalmente na região Sul... Outro fator, de suma importância, é os diálogos que esta havendo nos estados. Acreditamos que esses diálogos, que esta acontecendo nos estados, irá acontecer em outros estados, não seja para a negação de direitos, ou seja, seja para a efetivação das demarcações de terra que estão em andamento. Temos casos seríssimos, como o último episódio no Rio Grande do sul, aonde o Governo de Estado, essa semana, estava tentando aliciar as comunidades indígenas, para negociação de suas terras, até mesmo com propostas de suspensão e revogação de portaria declaratórias... E isso... É um abismo, que o Governo Tarso Genro, ex-ministro dessa casa, esta fazendo com o Estado do Rio Grande do Sul. Temos casos, como Nonoai e Serrinha, de desintrusão , que estão a quinze, vinte anos, paralisados, esperando uma solução... Então, temos que crer que essa mesa de diálogos terá, como uma meta, à curto prazo, o andamento desses processos, as homologações que estão pendentes, da região Sul. Temos um

13

caso em que um produtor mora lá nos Estados Unidos, não tem um prego em cima da terra, detém 80% dessa terra, ou seja, a comunidade desse município, os vereadores já vieram ao Ministério da Justiça, pedindo a homologação e esse Ministério ou a Presidente da República não dá andamento à esse processo... Ou seja, é um governo, ou seja, ou é uma política em que prioriza um estrangeiro, que mora nos Estados Unidos e que detém 80% de uma área que esta sendo demarcada e o processo não anda... As portarias, as declarações que estão na mesa do Senhor Ministro, na última reunião, no Estado do Rio Grande do Sul, o Senhor disse que os processos não estavam paralisados, então eu acho que é, eu acho que é um bom momento de demonstrar isso para os povos indígenas, da região Sul, fazendo com que essas duas portarias, que estão suspensas, que estão paralisadas sobre a sua mesa, dêem andamento. E também, pra finalizar, senhor Ministro, nós temos os caso do povo Xetá, no estado do Paraná, são seis sobreviventes, de um massacre de 1996 aonde tem suas terras esbulhadas pelo próprio estado do Paraná, estado, esse, que deve, aos povos indígenas, através de um Decreto de 1959 mais de duzentos mil hectares. É esse o discurso da Ministra Gleice, pra que o Estado do Paraná não devolva essas terras, esbulhadas, de 1959 através de um Decreto ??... Então, acreditamos que a terra do Xetá, no Paraná, é prioridade, dentro da FUNAI e dentro desse governo e é prioridade para o movimento indígena também. E, para finalizar senhor Ministro, gostaríamos de ver, do Senhor, publicamente, uma manifestação a respeito da PEC duzentos e quinze, porque, até então, é de bastidores de que o Governo é contra a PEC 215 Então, o governo tem que sair à imprensa e fazer essa manifestação, que é contra a PEC 215, ai sim, nós começamos a acreditar. Obrigado... Ministro José Eduardo Cardozo: - Representando o Centro-Oeste, o Valcélio Terena, Valcélio Terena: - Bom dia a todos e a todas. Valcélio Terena, Centro-Oeste. Neste momento eu quero agradecer a Deus pela oportunidade, que abriu essa casa pra gente ta debatendo a questão das nossas terras... E, pra nós, estamos muito felizes nesse momento em que cada um de vocês poderá ta colocando, nas suas cabeças e podendo ta contribuindo, também, com a nossa, nossa reunião. Nós, quando falamos, presidente, acreditamos que a bancada indigenista, nós temos um objetivo, que é a demarcação de nossas terras. Estamos esperando, esperando uma solução e a uma solução que, até agora, também é uma questão de preocupação muito grande, para nós, povos indígenas, quando falamos na situação de Mato Grosso do Sul, que estávamos aguardando uma decisão do dia 05 e, também, ficamos esperando, ficou pra próxima, agora, no dia 27 de agosto, também e fica uma pergunta pra nós, do povo Terena, de Mato Grosso do Sul e às demais regiões: Até quando nós vamos ta esperando essas respostas, pra nós levarmos uma solução para o nosso povo? Mas como, eu, como membro da CNPI, volto a dizer para a Presidente, senhores ministros, que possa refletir a nossa situação, porque nós sabemos que a dificuldade que nós encontramos, aqui, para a solução dos nossos problemas, se torna muito difícil. Lembramos, um pouco, da Audiência Pública que tivemos aqui no Congresso, quando algum dos Parlamentares dirige a palavra à respeito da questão fundiária dos indígenas, do país, é muito

14

triste para a gente ta ouvindo, até mesmo quando ataca a questão da FUNAI, a Presidente da FUNAI também, porque nós acreditamos que um legislador de lei, do Congresso Nacional, ele não ta pra só criticar, mas sim fazer uma crítica construtiva pra resolver o problema do país, quanto à questão dos indígenas. Por isso, presidente, eu venho informar aqui, como membro da CNPI, que, a partir do dia 27, deste mês, dependendo do resultado da questão que for dada à Mato Grosso do Sul, nós, nossas lideranças ta decidido também que vai demarcar as terras com as suas próprias mãos, porque já esta cansado, também, de tanta espera por esses processos que tanto fica com esses impasses, dentro de alguns Ministérios que, talvez, as vezes, eu não conheço as realidades. Por isso, também, a gente diz que quanto à não demarcação das terras, nós não podemos falar de uma saúde de qualidade e uma educação de qualidade, porque a dificuldade da nossa demarcação de terra, ela causa todos esses transtornos. Então, já chega de sofrimento, chega de tanta perda de liderança, chega de racismo, por isso, nós pedimos, aqui, que Deus venha colocar um trabalho que vocês possa ta sentindo, que nós pedimos esse apelo pra nos ajudar, na nossa demarcação de nossas terras. É a minha palavra... Ministro José Eduardo Cardozo: - Muito bem... Pra falar pela Amazônia, a Pierlângela Wapichana... Pierlângela: - Bom dia. Eu sou Pierlângela Wapichana, do povo Wapichana e, aqui, neste momento, eu tô representando a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, COIAB, aonde nós somos nove estados: Amazonas, Acre, Amapá, Maranhão, Pará, Roraima, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins. É essa forma que a gente se organiza, na região Amazônica. Então, eu passei ali, aos senhores Ministros, a nossa apresentação, o nosso levantamento, visto que, 98% das terras indígenas, estão na Amazônia, então é, eu queria iniciar a minha fala pontuando o que ta invisível, ainda, nos dados oficiais, na região. O que não aparece, ainda, que são as reivindicações, né? Anteriores ao processo que, da criação dos GTs, dentro da FUNAI. Então nós temos muitas demandas da região, que foram encaminhadas e que, ainda, elas estão, não aparecem, então são as demandas reivindicadas pelas comunidades, que é uma das, e que a gente fez esse levantamento prioritário, nós estamos passando, ai, algumas terras indígenas, que são essas prioridades, por estado e, haja vista, que vão ter outras também. A outra questão é a ampliação das terras indígenas. Nós temos, pontuando aqui as questões, por ampliações, reestudo para ampliação. Só em Roraima nós temos vinte e duas solicitações, que são terras indígenas que foram demarcadas antes da Constituição de 88 e os demais estados que ai vocês podem acompanhar. Além disso, qual é o outro, a outra questão que nos preocupa bastante, pra quando a gente vem pra uma mesa de diálogo, uma mesa em que foi constituída pela presidente Dilma, nesse sentido, de a gente encaminhar. Então, nós estamos elencando as questões prioritárias, que são as demarcações e as ampliações... A desintrusão, que é outro fator primordial para a garantia da permanência dos povos indígenas, é o processo de desintrusão e, existe, também, os problemas com sobreposição, dentro das terras indígenas... Que ai, quando a gente elenca as questões, dentro de discutir terras indígenas, pra um grupo de trabalho, pra uma mesa de diálogo,

15

nós temos que colocar todas essas questões. Fora isso, também, tem os processos que estão na justiça, que estão tramitando na justiça, que são vários, vários processos, entre eles, esta os embargos da, terra indígena Raposa Serra do Sol, que é sempre citada e que coloca como se fosse todo o problema das demarcações, no Brasil, né? Então, esses processos na justiça, nós temos as três esferas envolvidas na questão das terras indígenas no Brasil. Nós temos a esfera executiva, a legislativa e o judiciário. Então, pra quando nós definirmos como é que vai ser os encaminhamentos dessa mesa de diálogo, das determinações da Presidenta, nós temos que ta claro sobre isso. Ficar claro pra gente que são três poderes que é, se relacionam, as vezes sim, as vezes não, mas a gente conhece o processo político desse país e a gente sabe como é que ocorre. E, o fator, também, que nós fizemos esse levantamento, foi a questão da proteção das terras indígenas demarcadas, porque cabe, ao Estado, protegê-las, cabe, ao Estado, protegê-las. Dentro desse processo, quais foram os problemas que nós levantamos na Amazônia? A invasão de terra por madeireiros, garimpeiros, pescadores, fazendeiros. Pressão, no entorno, por plantações e criações de animais e os empreendimentos em terras indígenas. Então, o Estado, dentro disso tudo, qual vai ser, daqui pra frente, o quê que nós vamos fazer e é isso que a gente quer, nós queremos, também, participar desse processo, para que a gente possa, juntos, estarmos pensando naquilo que a gente pode, imediatamente, resolver, porque o quê que a gente tem colocado aqui, quando a gente vê essas esferas, nós temos questões que o executivo, é de responsabilidade do executivo e que o executivo pode dar uma resposta... Que aqui, essa mesa presente, em sua maioria composta, pelo executivo. Então, quando for instituída a mesa de diálogo, nós precisamos pautar, daqui pra frente, propostas, encaminhamentos, que possam dar segurança para as nossas propostas, para os nossos direitos. Que é uma coisa que é inegociável são as questões dos direitos indígenas, conquistados duramente, duramente... Não foi conquistado de dia pra noite. E, dentro do executivo, nós sabemos que pode ser feito. Eu acho que essa mesa de diálogo foi feita pra isso, pode se avançar. E ai, nós fizemos um levantamento, pedimos pra FUNAI, a FUNAI nos colocou os processos que estão no Ministério da Justiça. Portaria Declaratória, nós temos duas e Decretos de Homologação, que estão no MJ, de dois mil e quatro a dois mil e nove, conforme a relação fornecida, são dez. De 2004 e 2009 na região Amazonas, são 10, que tão no MJ. Então, tão na esfera do executivo, os processos que estão judicializados, STJ, STF, isso precisa, sim, de uma intervenção, de um acompanhamento, porque essa questão do direito, e ai a gente vai reforçar aqui, corroborar com os colegas, que nos antecederam, que a FUNAI, o Estado tem essa responsabilidade com a defesa dos direitos indígenas. Então, a gente aguarda que, também no judiciário, haja uma atuação do executivo. Assim como no legislativo nós temos questões que dependem da intervenção política, o Estado. Então, nós estamos falando se três esferas que abrangem demarcações de terras indígenas, os problemas das terras indígenas. Então, quando a gente colocou, na pauta, a questão das terras indígenas como prioridade, é porque, pra nós, é importante, é primeiro, já ta dizendo. Prioridade, segundo a língua portuguesa, é aquilo que vem primeiro. Então, o que vem primeiro, pra nós, é a terra, por isso que nós estamos iniciando e propondo, senhor ministro, no qual a Presidente Dilma instalou essa mesa de diálogo, pra gente sair com ações concretas e dizer pra

16

vocês que nós também temos, na Amazônia, os índios, vocês chamam de isolados, mas pra gente, a gente chama autônomos, estão livres, lá na terra deles e querem continuar assim, e nós, eles não podem vir aqui falar, porque eles tão lá, mas nós temos a responsabilidade de falar por eles, também... Então, dizer pra vocês que, numa mesa de diálogo, queríamos deixar bem claro: nossos direitos são inegociáveis. Então, mudanças em legislação, do que o que preza a Constituição Federal, não esta, nós não estamos aqui, numa mesa de negociação de direito, nós estamos numa mesa de diálogo, pra que a gente possa sair, daqui, com encaminhamentos que possam ser feitos no executivo, no legislativo em o judiciário e ai eu cito, Portaria 303 de qualquer forma, é do executivo, o judiciário tem um processo, porque é as 19 condicionantes. Ao nosso ver, não atrela uma coisa com a outra. O executivo pode continuar cumprindo o seu papel e a questão da judicialização, a gente sabe que acontece nesse país... E nós não temos medo disso. Que isso fique claro. Que quando a gente pede para a FUNAI continuar fazendo o seu papel, de criar os grupos de trabalhos, que estão pendentes, de dar esses Decretos de Homologação de 2004 a 2009, parados, essas questões judiciais a gente encara elas por 30, 50 anos, quantos anos forem, mas o que a gente quer ver é os passos serem dados. Então, quando o executivo acho que a mesa de diálogo e hoje a gente ta aqui pra isso, esse início de diálogo, nós esperamos que o executivo dê o primeiro passo, né? E nós estamos aqui, porque para sempre dizer que nós estamos aqui pra dialogar, então, o que ta no legislativo, a PEC, que afetam as terras indígenas... Ta pra ser criada a Comissão Especial, a gente tem acompanhado, só falta o PT fazer a indicação, nós conferimos lá, todas as indicações, pra ser instalado, e a gente espera. Uma atuação do executivo, a gente sabe, os colegas falaram como esta a bancada ruralista. Nós estamos aqui e como os colegas falaram, nossa posição é vir aqui para o diálogo, tudo mais, isso não impossibilita o que nós fazemos nas regiões para defender os nossos direitos. Uma coisa, não tem nada a ver com outra, porque isso faz parte do movimento e, como a gente disse, a gente vai lutar pelas nossas terras. Podemos perder no STF, nós temos colocado isso e digo pra vocês Raposa Serra do Sol foi um exemplo nesse país, um exemplo nesse país, porque lá morreram lideranças, nós, indígenas, não matamos ninguém. Nesses dados ai, vocês não vão ver nenhum indígena que matou um não indígena durante esse período. E nós chegamos, no dia que disseram que o Governo Federal chegou e disse: Vamos criar a Federação da Organizações Indígenas, pra vocês, indígenas, retomar a área, nós fomos lá. Eu era presidente dessa Comissão... E nós conseguimos, junto com as lideranças, retomar, sem nenhum conflito, como diziam que os indígenas iam derramar sangue. E, o que a gente tem visto no Congresso Nacional, é uma incitação pra que isso aconteça contra os pequenos produtores, contra os grandes produtores, tem poder financeiro. E não é isso que a gente quer. Nós não queremos incitar a violência lá, mas nós estamos vendo, no Congresso, é isso, por parte da bancada ruralista. Então, eu queria colocar aqui, pra vocês, que nós estamos aqui, colocando os pontos dessa primeira fala, primordiais que são, pra que a gente possa, a partir do executivo, como esta instalado essa mesa, a gente poder caminhar, caminhar, porque tem questões que dependem de vocês e que podem dar-nos uma reposta rápida. O executivo pode, não precisa esperar o judiciário a não ser que queiram esperar, seja uma posição política, mas, no nosso entendimento leigo no sentido que, aqui só a Doutora

17

Joênia que ta ali, advogada e mais outro colega, mas nós aprendemos a lei na marra, na força pra defender os nossos direitos, na militância. E ai a gente entende que uma coisa não tem a ver com a outra. Então, se é pra se judicializar, se as questões, se é preciso a FUNAI criar os GTs, senhor Ministro, por isso que a gente tem falado: A FUNAI ta sendo vindo atacada, e a gente sabe disso, atacada pra que a FUNAI acabe e nós não queremos que a FUNAI acabe. Nós queremos uma FUNAI com mais técnicos, lá dentro, pra fazer os estudos das terras indígenas, ter equipes que, realmente, possam trabalhar lá dentro e possam fazer o seu papel. Por isso que a gente tem colocado o fortalecimento das Coordenações Regionais, porque a FUNAI, nesse Estado Brasileiro, ela tem um papel, ela tem um papel muito importante, muito importante, pra nós, povos indígenas. Então, essa é a nossa posição, que a gente tem a colocar e dizer: Nossos direitos não são negociáveis. É essa a nossa fala, obrigada. Ministro José Eduardo Cardozo: - Bem, acabada essa fase, nós vamos começar a passar a palavra, aqui, aos ministros. Eu tinha me inscrito, mas o Ministro Gilberto Carvalho tem um problema e ele pediu a palavra e eu peço ao Carvalho que fale, por favor... Ministro Gilberto Carvalho: - Muito obrigado Zé... Eu tenho, infelizmente, uma viagem a São Paulo, por uma questão da luta sindical, que as outras vertentes nossa, mas eu não queria sair sem, pelo ou menos, dizer uma palavra, com muita franqueza, pra todos vocês primeiro eu queria agradecer as falas e a franqueza e a transparência dela e, ao mesmo tempo, eu queria dizer pra vocês que nós não estamos brincando. Essa é uma mesa pra valer... Eu até proponho que a gente, depois acerte um processo de uma Comissão Executiva dessa mesa, pra que a negociação possa ocorrer, de fato. Isso aqui não pode ser um ato público, isso aqui tem que ser uma mesa de negociação mesmo, onde os problemas tem que ser enfrentados com muita maturidade. Uma coisa retórica é a gente fazer discurso, outra coisa é a gente pegar, na prática, e ver como é que a gente resolve, efetivamente... Não é a toa que todo mundo que ta nessa mesa aqui, menos ali o, o General Elito, porque à eles, eles não atacam, não é a toa que nós, aqui, temos sido vítimas de ataques muito duros daqueles que são contra a causa indígena. É muito importante que a gente tenha consciência da correlação de forças, desse momento na sociedade, de saber que demarcar terra, no tempo do Collor, até do Fernando Henrique, era muito mais fácil, porque foram demarcadas, por isso que tem esse dado que foi que no Governo Lula, pra cá, é muito menos, claro que é muito menos, porque após a Constituição de 88, havia um estoque de terra imenso, que foi muito fácil de demarcar. Restou aquilo que é mais difícil. Talvez vocês não tenham noção real da guerra que foi pra conseguir homologar a Raposa. Da guerra que nós enfrentamos aqui, do ponto de vista do legislativo, da pressão política e da pressão de vários outros campos econômicos e sociais. Talvez vocês não tenham noção do que foi a guerra de Maraiwatsédé e até eu fico preocupando, porque eu vejo lá, os Xavantes, sozinhos, sem um solidariedade maior e com risco de uma retomada. Nós precisamos trabalhar, também, nessa mesa, isso, o apoio que nós temos que dar pra essas terras, que, duramente, foram reconquistadas e que, no entanto, precisam de um apoio, além do governo, mais também da sociedade, é uma questão social ampla... Awa Guajá,

18

estamos nos preparando pra desintrusão e nem começamos e a guerra, vocês devem ter visto o que aconteceu por aqui, ontem, e vai ser uma batalha dificílima, insisto, dificílima. E eu queria pedir uma coisa pra vocês, quem fala em nome do governo chama-se Dilma Rouseff... São os Decretos dela, são as falas dela que valem. Nenhum de nós, ministros, falamos, formalmente, em nome do Governo, então, o que vale é a posição da Presidenta Dilma Rouseff. E foi ela que, atendendo à uma pressão, diálogo de vocês, mandou suspender a portaria 303. Falando nessa fala muito, muito clara com vocês, eu não vejo razão da preocupação de vocês com a 303, pelo seguinte: Ela ta suspensa até o julgamento, portanto ela não vale mais, ela não existe, essa portaria, até o julgamento e o quê que precisa acontecer? Precisa acontecer um julgamento. E ai, minha querida Pierlângela e todos vocês, vamos entender o que é separação de poderes na democracia. E, não imaginem que o executivo é uma espécie de Deus que pode tudo e que determina o que acontece no legislativo, o que acontece no judiciário... DA mesma forma que nós temos esse diálogo com vocês, aqui no executivo, e vocês tem toda a razão de pressionar, porque é uma dívida histórica do Estado Brasileiro, do massacre sofrido, da extinção de povos, das injustiças, das nossas falhas, nas demoras, das nossas falhas na questão da saúde e da educação, que nós não negamos e reconhecemos, da mesma forma, não se esqueçam das demoras que existem no judiciário. E o mesmo diálogo que nós travamos aqui, vocês tem que travar no judiciário, porque todo o esforço que nós estamos fazendo, e essa é a razão pela qual nós estamos rediscutindo a questão das portarias demarcatórias, é exatamente tentar conduzir, pra evitar a judicialização, porque a judicialização, nesse país, tem o significado do que? Uma demora, sem fim. Uma demora, sem fim. Eu não tô querendo fazer política ao judiciário, não me compete. Eu tô querendo chamar atenção de vocês, que é muito melhor a gente fazer um processo negociado, como estamos tentando fazer no Mato Grosso do Sul, mesmo reconhecendo a urgência das causas, mas se nós conseguirmos não judicializar aquela questão, do que ela ir pro judiciário, como já esta e não sabemos quando a ação se resolve e em quanto tempo essa fome, a doença vai matando as pessoas, os nossos companheiros indígenas, cada vez mais. Eu quero dizer pra vocês, em nome da Presidenta, e ai sim eu posso falar, não há nenhuma intenção desse governo, em fazer portaria que dificulte as demarcações. Nós queremos é aprimorar, pra evitar o processo de judicialização, pra evitar essa demora, sem fim. E ai, não tem outro jeito, nós temos que ter bom senso, nós temos que ter capacidade de dialogar. A violência não interessa a ninguém, mas, muito menos aos povos indígenas, porque a Pierlângela destacou, muito bem, quem morre, quase sempre, são os indígenas e não os que se opõem à causa indígena, porque eles tem mais armas, tem mais força, tem mais poder... Cabe, a nós, construir a paz. O Estado Brasileiro tem essa responsabilidade, construir o diálogo. Agora, é fundamental que nós, para além da nossa retórica, dos nossos discursos, que são necessários pra defesa da causa, cabe a gente sentar à mesa e fazer o que estamos fazendo no Mato Grosso do Sul, porque nós entendemos que a única maneira de resolver a questão terena é essa. É achar uma saída, porque o Estado Brasileiro cometeu erros, atrás, por exemplo na titulação de terras, o Rildo lembrou o pior, no norte do Paraná, conheço a história do extermínio dos Xetá e, agora, nós temos que fazer um diálogo, uma negociação, porque, muitas vezes, o cara que ta lá é o grande fazendeiro que mora nos Estados

19

Unidos, mas é, também, o pequeno camponês, que ta lá a 70, 80 anos e recebeu ,de boa fé, o título do Estado Brasileiro. cabe ao Estado, portanto, assumir a sua responsabilidade nesse processo de negociação e nós não estamos fugindo disso. É por isso que fomos ao Rio Grande do Sul por isso que estamos construindo no Mato Grosso do Sul um método em que o Estado não foge, o Estado paga, o Estado investe, mas que precisa de muita maturidade, de muita capacidade de negociação, pra gente seguir um caminho, um caminho sem violência e que, de fato, possa nos levar a reparar a injustiça e devolver o direito à quem sempre teve. Ninguém, de nós, quer tirar direito nenhum... Nem o dos povos indígenas, nem dos quilombolas e nem dos pequenos agricultores que, muitas vezes, iludidos, enganados, foram lá receber o título, nenhum. Nós temos que fazer uma concertação, um processo de negociação e ai, é por isso que nós apostamos no diálogo, por isso que, também em relação aos grande empreendimentos, nós estamos insistindo na discussão da um, meia, nove. Estamos teimando na construção da 169 por favor, não usem a 303 pra impedir o diálogo da 169 quem vai perder somos todos nós. A 303 insisto, não existe. E um processo de revogação, nesse momento, seria apenas incitar o outro lado pra que viesse com mais pressão. Eu tô dizendo pra vocês, a 303 não existe, porque ela ta pendente de um julgamento e, até que ocorra o julgamento, no Supremo, ela não tem vigência e ela não tem orientado, de maneira alguma, as ações do nosso Estado. Outra coisa são as demoras burocráticas, outra coisa são os problemas que nós queremos, sim, nessa mesa, pautar e discutir com vocês. Então são essas palavras que, de maneira muito sincera, muito franca, eu queria dizer pra vocês. De quem, junto com a Presidenta, com os Ministros, estamos, efetivamente engajados e destinados, porque esse é o nosso destino no país. Eu tenho dito, tem coisa que, se esse governo não resolver, outros governos, possivelmente, não só não resolverão, como transformarão em situação mito pior. Por isso a responsabilidade, por isso a urgência, por isso a nossa consciência de que nós temos que entregar a nossa vida, o melhor de nós pra isso. E, sinceramente, é o que nós temos feito, levando muito pau, levando muita crítica, mas na consciência de que nós estamos cumprindo a nossa missão, que é cuidar, exatamente, dos que mais precisam no Estado Brasileiro, que são os excluídos. E a questão indígena, sem dúvida nenhuma, é uma das mais importantes desse caso. Obrigado. Ministro José Eduardo Cardozo: - Bom, eu queria falar algumas questões, na mesma linha do Gilberto pontuando alguns aspectos. Em primeiro lugar, os direitos que estão na Constituição são intocáveis e inegociáveis. Isso é uma posição clara do nosso Governo e não poderia ser diferente. Nós vivemos num Estado de direito. O que foi colocado, e esta colocado na Constituição Federal não se discute, nem se negocia. E, quanto a isso, obviamente, eu faço referência ao direito às demarcações de terra indígenas, ao direito à saúde, ao direito à uma vida digna e á vários aspectos que dizem respeito à situação indígena, atualmente, no Brasil. Eu acho que isso tem que ficar claro. Tanto que, quanto à isso, não há discussão... O que nós devemos discutir é como implementar os direitos. Porque direitos estão, muitas vezes, no papel e não saem dele. Aqui eu saúdo a Doutora Débora, que esta aqui presente e que conhece muito mais isso do que eu. Ou seja, as vezes os direitos tão consagrados, consignados, são intocáveis, mas eles não ganham a realidade e

20

esse é um papel nosso, é papel do Estado Brasileiro e é o papel das lideranças indígenas que estão aqui. Qual a melhor forma de implementar direitos? Qual a melhor forma de, com rapidez, nós assegurarmos as garantias que estão na Constituição Federal? ... Foi pra isso que a Presidenta Dilma Rouseff propôs essa mesa. Que não é uma mesa de negociação, propriamente dita, no sentido stricto da expressão, porque direitos são inegociáveis, mas é uma mesa de diálogo. É uma mesa de busca de caminho para chegarmos à resultados, concretos e o mais rápido possível. É nessa linha que eu quero fazer algumas observações que julgo importante à vocês... Eu acho, em primeiro lugar, injusto, não se olhar a questão indígena, numa dimensão histórica. Nem que seja histórica recente. Quando a Constituição de 1988 fixou, no Artigo 231 o direito dos povos indígenas, a demarcação... Ela também fixou, em outro dispositivo, que o prazo da demarcação era de cinco anos. Nós estamos 20 anos atrasados nisso... E por quê que estamos atrasados? Não era falta de vontade política de alguns governantes? Talvez possa ser, se falarmos do passado, mas o problema, como disse o Gilberto, é que é muito fácil fazer demarcações em certas regiões do país e, extremamente doloroso, fazer em outras. Por que extremamente doloroso? Porque, muitas vezes, nós temos conflitos. De um lado, o legítimo direito dos povos indígenas e, de outro lado, as vezes, direitos de assentados pela reforma agrária, de colonos e pobres contra pobres, excluídos, contra excluídos e isto é muito doloroso e muito difícil de ser implementado. As vezes eu não tenho excluídos de outro lado, mas tenho, as vezes, pessoas que tem títulos a 100 anos, investindo suas vidas lá. Claro que, as vezes, você tem também grileiros, você tem gente que, eu não tenho a menor complacência com pessoas que, evidentemente, transgridem a lei e fizeram violências contra os povos indígenas, mas eu tenho, às vezes, de outro lado, pessoas que, evidentemente, transgridem a lei e fizeram violências contra os povos indígenas, mas eu tenho, as vezes, de outro lado, pessoas que depositaram suas vidas naqueles títulos, que receberam do próprio Estado. Então, isso é muito doloroso e, ao ser doloroso, leva à impasses e impasses que vão pra justiça. Nós temos ações que rolam a décadas e o conflito permanece a décadas. Nós, recentemente, tivemos um caso, no Sul da Bahia, dos Pataxó Hã Hã Hãe que a ação demorou, se não me falha a memória, 70 anos, até que fosse decidida pelo Supremo e nós tivemos que, em conjunto com o Governador da Bahia, pra cumprir a decisão judicial, porque nós cumprimos as decisões, deslocar um forte contingente policial, pra evitar violência, pra evitar matança... É por isso que eu também não posso aceitar, e me permitam ser eu sou muito sincero nas minhas falas, as vezes eu erro, politicamente, pela minha sinceridade, mas eu não posso aceitar que se fale que o Governo é omisso. Maraiwatsédé foi uma operação de guerra, de guerra, que nós comandamos, aqui, eu, o Elito e outras pessoas, não só da FUNAI conosco, não só a Secretaria Geral, mas porque era uma operação de guerra. Foram 7000 homens deslocados pra lá e nós éramos ameaçados, não nós, fisicamente, mas se dizia: Vai haver morte. Não faça a desintrusão. Vai morrer gente. As pessoas tão armadas. Os nossos órgãos de inteligência informavam que existiam bombas, coquetel molotov, armas pesadas, pra serem utilizadas. Criavam-se armas políticas, contra a desintrusão , criando situações de virar carros, atingir pessoas. Nós sabíamos disso. Chegou ao ponto deu deslocar o Corpo de Elite da Polícia Federal, o COT, pra ações no local, pra que fosse viabilizado e nós viabilizamos sem que tivéssemos grandes danos às pessoas,

21

com muito esforço, com muita pressão e com muita ameaça. Então, portanto, eu quero dizer à vocês que o Governo não se omite nessas questões... Mas nós temos algumas premissas de atuação, que eu também quero, com muita honestidade, dizer pra vocês, que podem até ser erradas, mas eu tô convencido que elas tão certas. Até que a história me prove o contrário, eu vou nelas até o fim e peço que vocês entendam. E, acho natural, correto, legítimo que os movimentos pressionem o Governo. Tem que ser assim. Senão não é movimento, senão é braço de Estado. Mas, por outro lado, os movimentos tem que pensar na correlação de forças que existe, na correlação de poder e, jamais, matar os seus aliados, quando eles buscam preservar a sua própria luta. Essa é uma percepção que tem que ser feita. Ou seja, a pressão, ela é correta, mas na tática e na dimensão que considere a realidade e, jamais, inviabiliza a própria causa. Essa é a diferença da causa justa mal conduzida, da causa justa vitoriosa. E é isso que eu quero dizer pra vocês, o Governo reconhece esses direitos e temos feito muito coisa, mas dentro de premissas, que se eu tiver equivocado, pagarei o preço, na minha função Ministerial, mas eu acho que eu não estou... A primeira delas, qual é a primeira premissa? Garantir os direitos, fazendo o possível para reduzir os conflitos... Por quê? Porque nós vivemos num estado em que, quando os conflitos são judicializados, não por culpa do juiz ou por culpa dos promotores, por culpa dos índios, mas quando eles são judicializados, as coisas se arrastam à décadas e o conflito permanece. Às vezes é melhor uma solução rápida, que nos desagrade, do que uma solução que nunca vem. As vezes é preferível um fim horroroso, do que um horror sem fim. E, a justiça brasileira, infelizmente, não é só pra questão indígena, em geral, ela é lenta e arrasta conflitos, vende falsas ilusões pra todos os lados envolvidos. Eu dou um exemplo, trágico, da Fazenda Buriti, no Mato Grosso do Sul... A Fazenda Buriti é vivida, vivenciada, pelos povos indígenas, como terra indígena. Há quanto tempo se arrastou aquela ação lá, e se arrasta? Só que veio o judiciário, ainda há recurso, e disse que a terra, a portaria do Ministro da Justiça é nula... E ai nós tivemos os incidentes, quando o juiz determina uma reintegração de posse, ela tem que ser executada por nós e, ai, infelizmente, estamos apurando o que aconteceu num inquérito policial, morreu um índio. Uma coisa que chocou a mim, muito, chocou a vocês todos. Mas será que não é possível a gente tentar implementar direitos, nunca acabando com o conflito, porque ele não vai acabar nunca, mingúem é ingênuo, mas reduzindo, ao máximo, utilizando ações que permitam a gente desagregar as pessoas que se opõem, não somar. Será que a gente tem que, sempre, preferir a briga, ao invés de buscar minimizar o conflito e eu não falo em negociação que reduza direito. Eu não falo em negociação em que alguém abra a mão do que precisa, eu falo em reduzir conflito. E toda ação do Governo ta indo nessa linha. Então, por favor, não confundam omissão, com a análise da realidade objetiva, pra reduzir conflito. Esta é nossa ação... E como é que nós estamos desenvolvendo essa ação? Em várias frentes. Quais são as frentes? Primeiro lugar há situações muito diferentes nessas disputas indígenas, há situações de relatórios que precisam ser assinados. Há situações de portarias que precisam ser assinadas por mim. Há situações que tem decretos que tem que ser assinados pela Presidente e há desintrusões. São situações muito diferenciadas. Algumas, das quais, é preferível nós tentarmos fazer uma redução de conflito antes, do que ter um mandado de segurança que suspenda, através de uma liminar, uma situação e, ai, vocês vão vir aqui dizer:

22

Ministro, tem que fazer e eu faltei uma liminar. Ministro, tem que fazer, eu tenho uma liminar. Como, volta e meia, isso acontece. E eu acho que eu recebi todos vocês, já... Ou quase todos. E, volta e meia, eu falo: Mas tem uma liminar, eu não posso fazer, olha, ta judicializado, tem que esperar essa solução. Então, e evidente que eu tenho que evitar a judicialização, se não der, não deu, ninguém vai abrir mão de direito. Diálogo tem limite, mas eu tenho que tentar, eu tenho que, a situação, porque, se eu conseguir, às vezes, numa questãozinha, contornar a situação, eu resolvo a terra indígena com rapidez... É isso. Isso não é abrir mão. Isso é ter tática pra implementar direito, pra que ele saia da Constituição e ganhe a sociedade, é isso. É isso que eu acredito. Se eu tiver errado, a vida me punirá, mas eu acredito nisso, na tentativa de reduzi conflito, ao máximo, pra garantia do que eu acredito, que é o direito de vocês, aqui, as suas terras... Como é que nós estamos fazendo isso? Em primeiro lugar... Eu me lembro, me lembro não, me contaram, eu não posso me lembrar do que eu nunca vi, mas me contaram que quando o decreto que disciplina as demarcações foi baixado, havia muita resistência dos povos indígenas, porque assegurava o direito ao contraditório e ampla defesa e muitos achavam que isso não devia ser assegurado. Eu garanto à vocês o seguinte: se esse decreto não tivesse garantido isso, estava tudo nulo hoje. estava tudo nulo... Ele foi baixado e teve resistência. Eu acho que nós temos que avançar, mas eu não quero avançar, tendo idéias brilhantes, que não são dialogadas, que não sejam discutidas com todos. Nós queremos discutir com vocês a melhoria do processo de demarcação. Nós estamos estudando, já faz tempo que eu tenho dito isso à vocês, é que é tão difícil fazer isso de maneira equilibrada, que nós estamos apanhando um pouco, mas estamos na reta final. Nós estamos pensando, eu quero conversar com a Doutora Débora, também, quero conversar com o CNJ, quero conversar com todo mundo, pra gente ver isso. Eu quero fazer uma portaria, minha, que discipline o processo de demarcação, que reduza os pretextos de vícios judiciais do processo de demarcação, mas, ao mesmo tempo, me crie margem pra tentar reduzir o conflito antes. Eu quero reduzir o conflito antes. SE eu não conseguir, não consegui, mas, dentro daquilo que a gente pode, sem ferir direitos, ter uma certa margem de diálogo, eu quero assegurar isso na portaria. Nós vamos apresentar pra vocês, nessas mesas. Isso foi um compromisso da Presidenta, com vocês, que os atos normativos seriam debatidos com vocês, nós vamos apresentar. Não quero apresentar nada sem que vocês possam entender a nossa lógica, dar opinião e a gente até corrigir aqui, ou convencer vocês de que nós estamos certos ao fazer isso. Então, essa é a primeira coisa que nós estamos fazendo. Segundo... Nós estamos criando mesas de negociação, perdão, de diálogo... Porque se eu falar negociação, vai entender que vai abrir mão de direito e não é isso, mesa de diálogo... Por quê? Nós começamos a fazer isso em Mato Grosso do Sul e nós entendemos que não é fácil botar na mesa à mesa, especialmente em Mato Grosso do Sul. Lideranças indígenas, proprietários, Governo do Estado, Ministério Público e o Judiciário, através do Conselho Nacional de Justiça. Porquê que nós colocamos todo mundo na mesma mesa, colocamos não, propusemos, né? Nós propusemos, porque não adianta nada eu conseguir um acordo entre indígenas e proprietários, se o Ministério Público avaliar que ele é ilegal, que ele é inconstitucional. O Ministério Público precisa ta junto, nós precisamos encontrar saída juntos. Se não encontrou a saída, não encontrou, ai cumpre-se a lei. Mas vamos tentar

23

encontrar, pra ser mais rápido, pra ser mais eficiente... Então nós sentamos e pegamos, tivemos a decisão de pegar área por área. Começamos pela Fazenda Buriti, 15,000 hectares... Eu fiquei muito animado, na última reunião, que tivemos, aqui no Ministério, fiquei um pouco temeroso dessa que nós tivemos, depois, em Mato Grosso, mas resolveu. Por quê? Porque todo mundo aplaudiu a proposta. Qual era a proposta, praquele caso? Como o Judiciário estava negando a natureza de terra indígena pra Fazenda Buriti... E ela ta 2/3 ocupada, junto com o INCRA, nós fizemos uma proposta, que é a seguinte: O INCRA compra terras do estado do Mato Grosso do Sul pra fazer assentamento da reforma agrária, paga em TDA, que é como você paga, Titulo da Dívida Agrária. O Governo do Estado pega os títulos, converte em dinheiro e ele que deu os títulos para os fazendeiros e indeniza os fazendeiros... Houve um acordo, depois teve um problema, a colocação que o Mato Grosso do Sul não teria terras. O INCRA encontrou uma saída, através de uma situação que havia uma doação, um cumprimento do presidente pela, pelo brilhantismo da saída e nós estamos avançando lá. Surgiu, também, agora, idéias pra nós utilizarmos as terras que foram expropriadas de narcotraficantes, pra negociar com o Governo, pra que ele venda. Nós estamos pensando isso. E ai nós tiramos uma série de mesas, ta? Quase foram as mesas que nós tiramos? Mesa de diálogo... Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, eu estive em Rio Grande do Sul, não fizemos a mesa ainda, claro, porque estava difícil sentar na mesa. Eu me reuni com os indígenas, e depois me reuni com a FETRAF. Que ta sendo muito atingida e marcamos de conversar com o Governador Tarso Genro. Nós vamos marcar a mesa. O Estado do Rio Grande do Sul vem aqui a semana que vem, numa reunião que é terça ou quarta feira, pra que nós combinemos essa mesa, já dentro de algumas perspectivas... Ai eu tenho mesas previstas e eu quero ir pessoalmente, eu e o Gil, ou ele ou os dois vamos nessas mesas, porque eu sei que a nossa presença é importante. Temos mesa de Santa Catarina prevista, no Paraná, esta prometido, temos em Alagoas, prometida, por causa de Palmeira dos Índios, o quê que ta acontecendo em Palmeira dos Índios? Eu vou ser franco com vocês, não tem porque esconder as coisas gente, eu posso errar, mas não vou mentir em momento algum, não. O que aconteceu é o seguinte, nós temos dois problemas. Teve um problema de contingenciamento sim, porque houve uma decisão, nós estamos adequando, no Ministério, verbas, é fato. Mas houve uma situação em que parlamentares disseram: Haverá conflito se continuar as demarcações. Então, o Presidente do Senado, o Presidente Renan, falou comigo e, formalmente, propôs uma mesa igual Mato Grosso e eu falei: Topo. Vamos propor uma mesa para os índios lá. E falei: Maria Augusta, vamos fazer uma mesa. Eu vou lá fazer uma mesa, pra entender, pra ver se tem saída, se dá pra reduzir o diálogo? Se não der, a lei tem que ser cumprida. Ai tem judicialização, ai tem demora, ai tem não sei o que, mas vamos ver se dá. É isso, não tem mistério nenhum o que aconteceu lá. Alagoas ta assim, a última que nós propusemos foi Bahia, por quê? Porque nós recebemos os índios, numa reunião na Casa Civil, estava eu, o Gilberto, Ministra Gleice Hoffmann, Ministro Luís Inácio Adams na reunião e havia portarias, estão comigo, que tem um alto potencial de conflito e eu propus: Olha, vamos fazer uma mesa? O pessoal não deu resposta... Não deu resposta se queria a mesa. Não sei se queremos. Falei: Nós estamos aguardando resposta. No dia seguinte, eu recebo um telefonema do Governador Jacques Vagner que, na região de

24

Ilhéus, estava havendo um grande conflito... E o Governador me pedia a Força Nacional pra lá. Por que a Força? Porque a Força é especialista em mediação de conflito. Não é pra reprimir nada, é pra resolver e garantir os dois lados. Eu tenho mediadores de conflito, nós mandamos a Força lá e eu aguardo, até agora, a resposta se teremos a mesa na Bahia ou não. Eu me comprometi com o Governador Jacques Vagner, se tiver mesa eu vou pra lá, pra negociarmos, pra verificarmos, pra discutirmos, pra dialogarmos. É isso. Não tem mistério nenhum. Ninguém ta fazendo nada escondido. É isso, eu quero mediar. São duas coisas que o Governo quer, repito, se eu estiver errado, a história me punirá. A primeira: Conversar, dialogar e reduzir conflito, pra garantir os direitos de demarcação. Segundo: Eu não aceito violência. Não aceito violência, venha da onde ela vier e vocês também não deviam aceitar, porque a violência sempre prejudica o mais fraco, como foi dito aqui. E a violência, eu não aceito, venha da onde vier, a lei vai ser cumprida. E é dentro de condições, de respeito à não violência que nós vamos sentar e vamos conversar. Em Mato Grosso do Sul houve um pacto na mesa: os fazendeiros não cumprem as reintegrações de posse e os índios não ocupam. Esse foi o pacto que foi feito. Ontem eu fiquei muito chateado, porque soube que teve três ocupações no Mato Grosso do Sul, por partes indígenas. É desrespeito à mesa e desbalanceia o processo, mas os líderes lá, imediatamente, tão indo lá, pra evitar que isso, porque isso desanda o pudim, desanda o processo... Ta? É isso que o Governo ta fazendo. E, pra concluir, eu quero deixar algumas coisas que eu até me espantei em ouvir aqui... PEC 215 e, erro o nome dessa PEC, do tanto que ela me irrita... 215 eu já falei, no Congresso Nacional, já falei na imprensa, já falei em todos os lugares e eu quero, então, por favor, que registrem, o Governo é contra a PEC 215 o Governo é contra. Porquê que o Governo é contra? É contra, juridicamente e no ??, juridicamente, eu acho que essa PEC é inconstitucional. Ela ofende o Artigo 2º da Constituição Federal. Ofende o princípio da separação de poderes... Os poderes são autônomos, independentes. Uma coisa é o Executivo, uma coisa é o Legislativo e outra coisa é o Judiciário. A função de executar lei é do Executivo. Eu não posso passar demarcação para o Legislativo, porque essa é uma função de executar a lei e viola a separação de poderes e a separação de poderes é Cláusula Pétrea, inalterável. ((Aplausos)) Eu já falei isso, no Congresso, falei isso várias vezes e, quando esse processo estava na Comissão de Construção e Justiça, eu liguei pro Deputado Moreira Mendes, que era o relator, se eu não me falho a memória, o ano passado e pedi: Moreira, não vote. Ele veio aqui, nós seguramos, ai teve um momento que não conseguimos segurar mais, ai foi. Tenho falado com o Presidente Henrique Eduardo Alves, diretamente. Ontem o Presidente Henrique Eduardo Alves teve aqui conosco, junto com 20 deputados e eu falei: Sou contra a PEC 215 ela é inconstitucional, agora vocês não querem discutir direito, vamos discutir política. Ela é errada. Ela é errada, porque ela vai aumentar a tensão, não vai resolver, vai paralisar, vai transformar a demarcação numa disputa política. O Congresso não vai ter como administrar isso e mais, isso é tentar apagar a fogueira com querosene. Vocês tão errados ao fazer isso. E ontem, nessa reunião, com todo mundo na sala, eu disse isso: Vocês estão errando, até na ótica de vocês, porque a ótica tem que ser de ampliar o diálogo, não tem que ser de radicalizar. Vocês tão radicalizando com isso. Vocês tão errados. E ai, ontem, eles falaram: Bom, então nós vamos esperar o quê que o Governo ta fazendo, nessas mesas, até Setembro. Eu

25

falei: vocês são autônomos Congresso, façam o que vocês quiserem, agora, se vocês votarem, em Setembro, com todo esforço que nós estamos fazendo pra conciliar isso, vocês tão jogando fogo na sua própria intenção de resolver isso pacificamente, se é que há intenção de resolver pacificamente. Falei exatamente isso. Então, não tenham dúvida: PEC 215 o Governo é contra. Eu falo isso em qualquer lugar. Já falei na imprensa e volto a falar. Não há discussão pra nós. Isso quer dizer que a PEC não vai ser aprovada? Não sei. O Governo não controla o Congresso Nacional. É possível que aprovem e nós temos que dialogar, evitar. No que depender de mim, essa PEC não vai ser aprovada. Eu quero encontrar outras soluções. Soluções conciliatórias... Soluções que permitam a garantia do direito de demarcação... E, ao mesmo tempo, evitar que certas pessoas, como assentados, colonos, outras pessoas, também sejam injustiçadas pela história, ta? Mais: Regulamentação da 231 parágrafo 6º.... A Constituição prevê uma lei complementar. Então essa lei complementar vai ter que existir. E se ela tiver que existir, que seja do bem. Eu sou contra a que ta lá no Congresso Nacional. Eu sou contra a regulamentação, porque nós temos que discutir essa regulamentação, ta previsto na Constituição, mas aquela que ta lá, ela inviabiliza demarcações. Falei isto. Ontem me perguntaram disso e eu falei: Esta lei não dá da forma em que esta. Vamos sentar e vamos conversar, chamando os indígenas pra discutir. Não adianta vocês quererem com urgência, pra aprovar, enfiar goela abaixo uma questão desse tipo. Essa lei, ela também, da forma em que esta, bota fogo. Ta errada. Não sei se vai dar certo, ou não, a minha fala, mas eu chamei eles pra discutir, pra discutir e com vocês também, porque nós vamos discutir aqui... Então, eu quero fazer um apelo à vocês, com muita franqueza. Eu não vejo outra oportunidade, pode existir daqui um tempo, mas, a curto tempo, que não seja esta mesa e esse processo. Eu não vejo... Nós temos, e o Gilberto foi muito feliz quando ele falou, vamos sentar, vamos discutir demarcação, saúde, educação, tudo, pra gente ter uma política ajustada com os povos indígenas, tendo clareza que nós temos uma responsabilidade histórica, porque não dá mais pra empurrar com a barriga essa questão indígena. Se o Governo tem essa disposição de resolver, se nós trazermos o Ministério Público, junto conosco, se a gente trás o Judiciário, junto conosco, é a chance que nós temos pra baixar a bola do conflito e implementar uma política, uma política de Estado. Vai resolver, até o final do Governo Dilma? Não vai. Ninguém resolve, em um ano e meio, essa questão. Vamos ser franco. Mas se a gente implementar uma política que tem rótulo, que tem parâmetro, que é correta, que a gente consegue uma boa pacificação, ninguém mais vai questionar os direitos dos indígenas, daqui pra frente. Ninguém, mais, vai querer tirar, da Constituição, o que o legislador de 88 colocou. Ninguém, mais, vai querer violentar os direitos históricos de um povo que, desde mil e quinhentos, sofre e amarga a inércia e a podridão, muitas vezes, do Estado Brasileiro. Então, portanto, é um apelo que eu faço. Vamos sentar, vamos reduzir os conflitos, vamos parar com qualquer forma de violência. Nos ajudem nisso, continuem brigando conosco, continuem tencionando, porque o Governo precisa ser tencionado, sim. Mas não matem a galinha dos ovos de ouro, que é esta mesa. Ou dá certo, ou dá certo, esta mesa. E eu faço um apelo sincero, olhando pra vocês no fundo da alma de vocês, não falo como Ministro, falo como ser humano, que acredita na Constituição, que acredita no Estado de Direito, que acredita no Direito de vocês, nós não teremos em tão curto espaço

26

de tempo, outra oportunidade. Vamos agarrar, com as mãos, essas mesas. Vamos agarrar esta oportunidade, vamos dialogar, fraternalmente, reduzindo conflitos e parando a violência. Se eu estiver certo, se Deus me ajudar e eu tiver certo, a gente termina o Governo Dilma no caminho certo, que ninguém mais vai tirar a gente da estrada. Brigado. Marcos Xucurú: - Seu ministro, só uma questão de ordem... Ministro José Eduardo Cardozo: - Pois não. Marcos Xucurú: - Marcos Xucurú, da região Nordeste e Leste. De fato, a sua fala, nos trás uma grande esperança, mas na nossa realidade, a conjuntura que estamos vivenciando, hoje, ela nos mostra diferente... É importante abrir esse canal de diálogo, como tem a Comissão Nacional de Política Indigenista, que foi, também, fruto de uma luta do movimento indígena. O que temos, sempre, buscado a contribuir e ajudar esse governo... Sempre fizemos isso. Sempre sentamos, sempre dialogamos. Agora, é importante frisar de que temos percebido... A força hoje, a correlação de força do movimento indígena, contra as frentes que se armaram e ai, falando da bancada ruralista, os evangélicos e tudo mais, que ta no Congresso Nacional... É injusta umas lutas das organizações indígenas. Me pergunte, qual é o deputado indígena que nós temos, lá no Congresso Nacional? Nenhum. Nenhum. Infelizmente, e ai me deixa muito preocupado, como o Senhor bem disse, que não tem nada a esconder e nem a gente, e ta aqui, nos jornais, por exemplo, saiu na Tribuna do Agreste, lá em Alagoas, no dia 18 de Agosto, o Senhor colocou ai que houve uma ligação do Senador Renan Calheiros, presidente do Senado, que teve também o Senador Fernando Collor de Melo, ta aqui, né? Pedindo para paralisar, suspender o processo lá, da terra indígena Xucurú Kariri, que era uma terra de mais de trinta mil hectares e que esse processo vem se arrastando e, hoje, se reduz a sete hectares, sete mil, sete mil hectares. Então, veja que a situação, em que ponto se esta então, que diálogo é esse então, é difícil a gente chegar até o Gilberto Carvalho, aos Ministros que estão aqui, por quê? Porque nós não temos parlamentar pra dizer pra o Senhor a situação que nós vivenciamos na ponta, mas quando eles chegam dizendo: A, porque há eminência de conflitos. Imediatamente é suspenso. A FUNAI ta lá, com a equipe, trabalhando e as informações que nós temos, não tem nenhum conflito, muito pelo contrário, eles, que tem os seus jagunços, que botam na rua, pra ameaçar... Então essa é uma grande questão que nós precisamos, de fato, resolver. Estamos aqui para dialogarmos... Eu ainda acredito que é possível se resolver algumas questões de demarcações, identificação, delimitação, que esta ainda pendente, desintrusão das terras indígenas, agora precisa de uma vontade política é preciso que o Estado, de fato, enfrente, faça esse enfrentamento e que não fique refém da bancada ruralista... Que, do meu ver, no meu ver o governo esta refém, né? Esta refém. Então, é preciso que nós tenhamos isso muito bem claro, porque o capital econômico, em nome do crescimento econômico do país, enxerga as terras indígenas aonde se quer fazer os investimentos e a gente vê, ai, tantas outras ações. O agronegócio adentrando os nossos territórios, a questão hidrelétrica, também afetando os nossos povos indígenas. Então, a gente precisa, de fato, compreender que tipo de diálogo é esse que nós temos que estabelecer... Como o senhor disse, nós

27

não vamos negociar direitos... Nós não vamos negociar aquilo que a Constituição nos permite e nos garante, que foi uma luta, uma conquista da nação brasileira e que ta, aqui, o movimento indígena que contribuiu para que a Constituição estivesse lá, os capítulos que nós conseguimos garantir, os artigos que conseguimos garantir. Eu não estive presente, mas o meu pai, o Cacique Chicão Xucurú, que foi assassinado por questões de terra, eu, que sofri um atentado, hoje tenho que andar com escolta policial, lá no estado de Pernambuco, por questões de conflitos de terra. E quantos outros já não morreram, que esteve presente nessa discussão. Hoje tenho apenas trinta e quatro anos, e vivo numa situação extremamente difícil, sem poder andar com meus filhos na cidade, por mais que o território esteja demarcado, homologado, desintrusado, mas é porque há uma política, não é? Porque me parece que esse Estado Brasileiro não concebe os povos indígenas dentro da sua pátria. Isso é o que eu tenho, muitas vezes, pensado: Será se, realmente, o Estado Brasileiro concebe os povos indígenas aqui dentro, desse espaço físico? É muito lindo, muito bonito, maravilhoso, quando a gente vê, próximo ano, 2014 ta ai, os grandes discursos nos palanques, um país pluriétnico, pluricultural, vamos respeitar os direitos dos povos indígenas. E chama índio pra lá, índio pra acolá, pra sair bonito nas fotos, mas, em compensação, posteriormente, quando se ganha, olha a situação que a gente enfrenta, olha a situação... Essa é a dura realidade que nós temos enfrentado. Nós não temos recurso para bancar campanha de deputados e senadores não. Nós não temos. Nós não somos grandes empresários, nós somos, muitos aqui, agricultores familiares, coletores nós não temos recurso pra bancar campanha de nenhum deputado, nenhum senador que esta ai, nesta casa, ai. Estão à serviço dessas pessoas. Não tão à serviço da população brasileira e, tampouco, dos povos indígenas. Se conta, se conta, nos dedos, aqueles que estão lá dentro daquela casa, que defendem os direitos dos povos indígenas. Então, de fato, é uma desproporção muito grande, politicamente falando quando nós, enquanto populações indígenas, enquanto movimento indígena, atuamos nessa correlação de forças. E, muitas vezes, pra que a gente consiga atingir os nossos objetivos, temos, sim, que fazer as retomadas, temos que fazer o enfrentamento direto e, muitas vezes, dispomos da nossa vida, pra que isso ocorra... E se faz necessário, muitas vezes, porque só assim, muitas vezes, é que o Estado Brasileiro vai ver, de fato, a situação real desses conflitos que nós temos enfrentado... Na ponta, lá no dia a dia. Então essa, senhor Ministro, é a grande situação. Eu acho que essa mesa, ela é extremamente importante, sim. Assim como foi criada essa Comissão Nacional de Política Indigenista, que tem, no seu papel, estabelecido esse diálogo, essa comunicação com o Estado Brasileiro. Infelizmente, ai eu quero trazer, também, isso aqui, é preciso que os órgãos, os Ministérios que estão representados, nessa Comissão, sejam potencializados, porque, muitas vezes, nós estamos sentados aqui e a bancada do governo, a grande maioria, sai e nós ficamos, aqui, conversando índio para índio. Então, se criou essa Comissão pra dialogar e para resolver os problemas, então que chegue nessa mesa, sente, espere e vamos conversar. E que sejam pessoas que tenham condições de, minimamente, dar uma resposta praquilo que nós estamos apresentando, porque, muitas vezes, é o seguinte: A, porque eu não tenho, eu tenho que consultar. Eu tenho que ir não sei pra onde. Ou seja, ele é... Tem um secretario, do secretario, que não sei das quantas. Então, ora... Então nós estamos brincando, brincando com o movimento, brincando com as lideranças

28

que tão aqui, não é? Que sai das suas casas, dos seus territórios, pra vim dialogar, pra vim propor, discutir políticas, né? Indigenista, aqui para os povos indígenas... Nós tivemos um papel importante, que é o Conselho, nós, essa comissão, discutimos... A proposta da criação do Conselho, a lei da criação do Conselho Nacional de Política Indigenista... Mandamos para o Congresso. Ta lá. A bancada ruralista já deu de conta e temos, somos sabedor que não vai aprovar esse conselho. Enviamos uma mensagem, dessa Comissão, à Presidente Dilma, pra criar, via Decreto... É importante, porque é uma coisa que o movimento espera a muito tempo. Isso é uma sinalização... É uma sinalização que pode acontecer, porque vai fortalecer o Conselho Nacional de Política indigenista. Teremos um Conselho que terá uma outra dimensão, porque essa comissão, aqui, o poder que ela tem... É absolutamente quase nada, porque ela é consultiva. E nós estamos propondo a criação de um Conselho que seja deliberativo e que as instâncias, aqui representadas, né? Possa, de fato, deliberar sobre a política indigenista e é isso que nós estamos propondo. Uma outra coisa, quando se fala de fortalecer da FUNAI. nós, aqui, já propomos esse fortalecimento da FUNAI, ai fico muito triste, quando o senhor coloca que há contingenciamento do recurso do Ministério, do Governo, como um todo, pois é. Eu não sei se pras obras do PAC, por um exemplo, foi contingenciado, pra fazer os campos de futebol, pra copa de 2014 eu não sei se foi contingenciado.... Ministro José Eduardo Cardozo: - Não houve dinheiro público nos estádios... Não tem como contingenciar. Marcos Xucurú: - Ta. Então precisamos, também, analisar isso, do ponto de vista. Em relação à FUNAI. Se a gente precisa agilizar esse procedimento daqui. De demarcações, de identificação, criara grupos de trabalho, porque nós precisamos potencializar, que bota os grupos de trabalho pra fazer identificação, delimitação desses territórios, porque o enfrentamento, ele é inevitável, ele vai sempre haver... Desde que nós demos início, desde que o Brasil foi invadido, que essa luta se vem travada e não é agora que não vai ter. Nós sempre vamos ter essa luta. Sempre vamos ter perca, mas nós estamos disposto a enfrentar e fazer com que as nossas demarcações, do nosso território, seja livre, para que nossos ancestrais vivam ali... Que é aonde nós nos alimentamos dessa força. Ministro José Eduardo Cardozo: - Ob rigado Marcos. Eu, antes de passar a palavra pra Isabela, eu quero fazer mais umas observações que são importantes, né? Primeiro, em relação aos estádios, não havia dinheiro público, não houve dinheiro público, houve dinheiro de orçamento, então não há o que se falar em contingenciamento. Dois: a questão de Alagoas... Evidente que os jornais vão dar os fatos que eles acham... Houve o contingenciamento, nós estamos readequando as situações no Ministério, dialogando com o Ministério do Planejamento, com o Ministério. Que a gente equaciona. Atingiu vários órgãos, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, é uma situação que nós estamos contornando. Mas, será resolvido, os trabalhos essências vão continuar, mas precisamos fazer os ajustes... Dois: Eu fui procurado? Fui sim, não tem porque esconder. Fui procurado pelo Senador Renan, pelo Senador em momentos diferentes, não vieram juntos, pelo Senador Collor de Melo, pelo

29

Senador Benedito de Lira e vários deputados de Alagoas, que eu não tenho, aqui, o nome, pelo Governador Teotónio Vilela, pelo Vice Governador Zé Tomás e pelo Prefeito de Palmeira dos Índios. Todos me procuraram, dizendo que havia uma situação eminente de conflito, todos... Não tem porque duvidar da palavra deles. Mas, era sabido, isso me foi falado, que havia iniciativas de ingressar com novas ações, pra interromper a demarcação e uma proposta de Decreto Legislativo, que tramitaria no Congresso Nacional, pra sustar os efeitos da portaria do Ministério da Justiça, que eu acho, até, que não teria competência, o Congresso Nacional, pra isso, mas vai ser, já foi voto vencido Conselho Nacional e Justiça, quando perdi, porque acho que certos atos, que isso, essas portarias poderiam ser suspensas, eu acho que são só atos normativos, não poderiam ser suspensos, mas criariam mais um imbróglio judicial pra questão. Então, qual foi a medida, diante da situação financeira, prudencial e ai fui eu, não foi minha Maria Augusta não, fui eu, que falei e eu assumo isso, perante a vocês, vamos trazer uma mesa lá, pra verificar se tem algum entendimento. Ninguém acreditava que a gente pudesse chegar em Mato Grosso do Sul, um resultado, ta certo? Nós fomos ao limite. Não que tenha chegado ainda, mas nós vimos uma luz no fim do túnel e foi a primeira que eu vi todo mundo aplaudir, dentro de uma reunião, fiquei até emocionado. Será que não dá pra gente conseguir isso em Palmeira dos Índios? Talvez consiga, eu quero tentar... Esse direito, da gente tentar diminuir o conflito, gente, nós temos que exercer. Se não der, não deu. E a minha idéia é o quê? Eu vou fazer uma sugestão, já passo pra Isabela. Eu acho que, terminada essa primeira parte da reunião, nós tínhamos que verificar como é que essa mesa vai funcionar. Não dá pra sair daqui solto. Então tem que definir os temas, um cronograma, né? Eu acho que a mesa tem que ser uma mesa executiva, que responda pra esse plenário, ta? Porque o quê eu tenho uma mesa nacional, que é essa aqui, ta? E tenho as mesas regionais, ta? Pra discutir pontos concretos. Essa mesa nacional, de modo entender, mas vocês vão ter que debater isso, tem que ser uma mesa executiva, que preste conta para vocês, ta certo? E que, da parte do Governo, tenha vários Ministérios integrando: Ministério da Justiça, a FUNAI, o Meio Ambiente, a Secretaria Geral, todo mundo, mas por quê? Porque não dá pra fazer uma reunião operativa com 60 pessoas, gente, vamos ser sinceros. Tem que ser uma mesa menor, de representantes, na minha opinião. Nós vamos debater isso, depois, com a FUNAI, aqui, comando da Guta, ta? Pra poder ter operacionalidade. E ai, vai prestando contas, dentro de um calendário, que tem que ser estabelecido, eu acho muito importante ter um calendário, muito importante ter um calendário... Porque há uma firme disposição, Marcos, da gente não empurrar essas questões, com a barriga. Eu preciso ter solução não é só pra demarcação de terra não, é pra saúde, gente. É preciso ter. Ouvir vocês e ter políticas, pra educação. Nós vamos ter tudo isso colocado. Então temos que ter prazo e cronograma. Então, sugestão: Fala a Isabela, eu não sei se a Eva quer falar, se o Elito quer falar... A Eva quer falar? Elito quer falar? O Elito, eles vão falar. Você quer falar também? A Guta quer falar, todo mundo quer falar aqui e eu comi o tempo de todo mundo, que eu falei demais. Vamos tentar ser breve, ai terminar essa rápida rodada aqui, ai já ir, a gente pros finalmente, ta? Então, Isabela...

30

Ministra Isabela: - Bom, boa tarde a todos. Eu ouvi, atentamente, e quero dizer ao Marcos, que acabou de levantar, que eu entendo, plenamente, qual é o seu drama com os ruralistas, eu vivi a solidão do debate político no Código Florestal, ta? E é preciso ter voto e, pra ter voto, tem que ter mobilização da sociedade, pra ter voto. Eleger parlamentares que defendam os nossos direitos... Então é preciso construir diálogos, por isso que eu fui convencida, eu aprendi, duramente, ao processo de diálogo no ato do quadro florestal. O Congresso, ele não é tão refratário. Dentro da própria bancada ruralista, tem processos de construção de diálogo. Isso eu posso assegurar a você, pela minha experiência na área ambiental. E a importância dessa mesa, quando o Zé me telefonou falando que eu, aqui, estivesse, para que a gente possa, na realidade, não só construir um novo momento, do ponto de vista do diálogo com o poder executivo, com o governo, mas refletir isso, também, no Congresso Nacional e também no Judiciário. Quanto mais fácil for o processo de diálogo, melhor é aquilo que é a integração dos direitos e dos deveres no Congresso Nacional e na Justiça. Isso, pelo ou menos, da experiência do Código Florestal e o ambiente pra implementar o Código Florestal, hoje, é muito distinto do que nós encontramos na disputa de 13 anos, daqueles que me antecederam, que renunciaram os acordos, de ambos os lados... Isso é importante ser dito, porque as pessoas, muitas vezes, assumiam compromissos e rompiam compromissos nos acordos. Politicamente, isso é fatal. O que o Ministro, o que o Governo ta sugerindo aqui, à pedido da Presidente da República, é que a gente possa estabelecer diálogo, não só dentro do governo, mas mostrar que existem espaços, no Congresso e no judiciário, com o Ministério Público sendo importante ator, de construção desse diálogo de uma nova maneira. Teremos conflito? Certamente... Mas teremos alianças e parcerias, né? Eu acho que, quando eu vejo a sua fala, e de outros aqui, que estão, há uma grande demanda por parcerias... Estamos juntos, mesmo com cada um no seu quadrado, como a gente fala no Rio de Janeiro, ta? É natural isso. Agora, sem essa aliança, sem essa parceria, é muito difícil buscar os caminhos, os espaços de diálogo, dentro do Congresso Nacional e dentro da sociedade brasileira. Da mesma maneira que muitos entendem que nós temos que defender os direitos sociais, outros entendem que há outros direitos sociais e, nós estamos falando de direitos, no Estado de Direito. Então, quando o Gil fala dos três, aqui, que apanham, da bancada ruralista que, literalmente ele, é verdade, nós sabemos como é que é esse embate, agora, o governo foi, representa a sociedade brasileira e, portanto, nós temos que estar lá, dialogando e buscando os caminhos. Acho que temos caminhos. Eu acho que temos, é necessário definir procedimentos, na própria questão do licenciamento ambiental, eu acho que há equívocos, de formulação, sobre licenciamento ambiental, absolutamente equívocos, absolutos equívocos, mas a gente vai ter que discutir isso na mesa de diálogo... Primeiro entender o quê que é licenciamento ambiental e, depois, entender o que é discutir as questões indígenas, associadas à empreendimentos e que, não necessariamente, devem ta recepcionadas pelo licenciamento ambiental, devem ta recepcionados antes do licenciamento ambiental, ta? E eu acho que isso, tem aspectos aqui que precisam ser debatidos, não só na Amazônia Pierlangela , mas fora da Amazônia eu vou dar um dado pra vocês, do famoso PAC, apenas 18% dos empreendimentos do PAC são licenciados pelo Governo Federal, 82% tão nos estados, 82% como é que isso acontece nos Estados, por

31

exemplo, ninguém tem essa visão crítica, né? Então, estou dando uma noção de como é que é preciso ter diálogo e enxergar os problemas e enxergar essas parcerias, pra soluções. Sobre a parte ambiental, eu sei que vocês se debruçaram sobre a visão de sustentabilidade do PNGATI e etc. na última vez que nós tivemos aqui, em Abril, eu anunciei quatro milhões de reais, de recursos adicionais, do ministério do Meio Ambiente que, nesse contingenciamento, nós não cortamos ta? Dentro da linha de fortalecimento da FUNAI. E, dos planos de gestão ambiental, eu vou dar um retorno, aqui, foram apresentados 33 projetos, 16 foram aprovados, dos quatro milhões, entra até a Maraiwatsédé e, agora em Setembro, a comissão executiva dos projetos administrativos de, de projetos indígenas deve apreciar esses 16 pra liberar os recursos. Foram aprovados, as operações executivas e serão contratados. Então nós vamos, agora em Setembro, começar a contratação desses primeiros quatro milhões. Há uma demanda que a gente amplia esses recursos. Então, nós estamos pedindo, já na LDO, já pro ano que vem, no orçamento do Ministério, mais quatro milhões de reais pra atender os outros projetos. E, começa, agora em Setembro, o curso pra trezentas lideranças indígenas e não indígenas dentro de oficinas, dentro da PNGATI. O Ministério do Meio Ambiente continua colocando recursos para cumprir aquilo que esta estabelecido na PNGATI. E, finalmente, o fundo clima, o pessoal do Nordeste e Serrado, liberou, o pessoal da Caatinga e Serrado, já recursos, três milhões de reais são liberados para atender terras indígenas, populações indígenas no Serrado e na Caatinga, em torno da PNGATI. Quer dizer, as coisas são disponíveis, ta? E nosso pessoal ta trabalhando os projetos com as lideranças. E a gente espera concluir a negociação, ainda esse ano, do fundo da Amazônia, pra 55 milhões de reais para a FUNAI trabalhar com as populações indígenas. Agora, se vierem me dizer, nessa brincadeira aqui, nós estamos falando de quase 60 milhões de reais. É, simplesmente o primeiro corte que o Ministério do Planejamento fez no Ministério do Meio Ambiente, esse ano. Então, eu tô dando uma dimensão de recursos, de que nós estamos buscando os meios para implementar a PNGATI e, mais do que isso, construir parcerias pro fortalecimento político daquilo que é o diálogo com o Congresso Nacional, com resultados, mostrando que é na linha do que o Zé Eduardo fala, minimizando conflitos e colocando soluções na mesa. Então é uma visão geral da pauta de sustentabilidade. Obviamente, é importante que, nessa mesa de negociação no grupo, na Comissão Executiva, se discuta o projeto da FUNAI, do fundo da Amazônia... É absolutamente importante, porque eu tô chancelando um projeto, que a FUNAI esta fazendo com vocês e pra ver se é isso mesmo, pra que a gente possa viabilizar aprovação, até o final do ano e 2014 se inicie com a liberação desses recursos e tenha, ai, um horizonte de 3 - 4 anos e 55 milhões de reais, ta? Então, é nessa linha que eu queria dar um informe mais geral e dizer que, pra nós, do Ministério do Meio Ambiente, a gente enxergamos essa comissão como uma Comissão de executiva, uma excepcional oportunidade de minimizar os conflitos, por exemplo, nas unidades de conservação, proposta de sobreposições e coisas que nós teremos, possivelmente, alguns conflitos, nós precisamos entender e construir soluções pra eles. Muito obrigada. ((Aplausos)) Ministro José Eduardo Cardozo: - General Elito...

32

General Elito: - Muito boa tarde a todos. É um privilégio estar aqui com todos os senhores e senhoras. Apenas, muito rapidamente, eu queria destacar porque o Gabinete de Segurança esta aqui e achamos que muito oportuno. O Gabinete de Segurança Institucional ele tem uma competência institucional de assessorar a senhora Presidenta e o Poder Executivo, em assuntos de interesse nacional. Qualquer tema de discussão de área indígena é um tema de segurança nacional. Até mesmo, por experiência própria, por ser Nordestino e, em 47 anos de vida militar, comandei, na Amazônia, INTERFER, conheço toda aquela área da Colômbia e Peru, com todo Javari. Fui comandante no Sul. Eu sei, absolutamente, e convivemos com vários indígenas, temos, na área militar, vários indígenas soldados oficiais. Temos, inclusive, Oficial Generais. Então sabemos, absolutamente, pessoalmente, ao longo desses 40 anos, toda problemática indígena e reconhecemos como assunto, absolutamente, de interesse nacional. E é dentro desse foco que nós vamos conduzir todo esse acompanhamento diuturno, que fazemos, de Norte à Sul do país, com todo sistema brasileiro de inteligência, em prol de resolver esses problemas institucionais do país. Gostaria, apenas, de destacar, nesse contexto aqui, do consenso, como estamos aqui, que temos que pensar, acima de tudo, é no país também, como nação. Somos todos brasileiros. Vamos procurar soluções, como aqui foi colocado, sempre no diálogo, no consenso, mas, acima de tudo, a melhor solução para o nosso país. Muito obrigado... ((Aplausos)) Ministro José Eduardo Cardozo: - Bom, Eva, Ministério do Planejamento, Secretaria Executiva. Eva Maria : - Eu vou ser bem rápida, em função do tempo. Boa tarde a todos e a todas. Cumprimentando o Ministro Cardoso, cumprimento a todos os membros de governo e cumprimentando à todas as lideranças indígenas, que aqui se manifestaram, com a posição bastante madura e que, ao nosso entender, é uma busca muito sincera e franca de resolvermos os conflitos, através do diálogo, que é o que quer e que aposta muito a Ministra Miriam Belchior, Ministra do Planejamento, que só não esta aqui, queria muito, pessoalmente, estar aqui, na medida em que estamos na reta final de resolver e dar solução para o nosso orçamento de 2014. Nós, do Ministério do Planejamento, temos interface com tudo isso, como diz o Ministro, porque, evidentemente, já começamos, já fizemos esforços pra portar e avançar, como já começamos a fazer, na estrutura da FUNAI, como também, colocando recursos e apostando em pessoal, que é uma carência muito grande pra outras instituições, como INCRA, como outras, como o nosso próprio Patrimônio da União, que tem a ver, objetivamente, com a solução que esta se dando, lá no Mato Grosso, enfim. Estamos muito antenados em aportar os órgãos de governo, que tem envolvimento prático e concreto na solução dos conflitos indígenas. Com relação às obras do PAC, que o Ministério do Planejamento coordena, não executa, mas coordena, também temos tido um grande trabalho e esforço, porque apostamos nesse processo do diálogo, junto, nas mesas de coordenação da Secretaria Geral, pra que as soluções dessas obras, elas se dê de forma dialogada e no sentido da redução dos conflitos. Temos, aqui e a nossa equipe do Ministério do Planejamento, da SEPAC, dialoga, senta,

33

conversa, de todas as áreas, inclusive algumas que os senhores e as senhoras citaram aqui. Então, essa tem sido o caminho que nós apostamos, porque viu citado, muito bem, na fala do Marcos, essa liderança, sabemos da correlação de força. Nós, do Governo, do Executivo, não podemos tudo que vemos numa democracia, que cada um tem seu papel institucional, mas o nosso caminho, a nossa aposta, sempre é através do diálogo, porque, como diz o ditado, sabemos, somos, viemos, inclusive, de movimentos sociais, sabemos que, quando há conflitos, sempre a corda arrebenta sempre no lado mais fraco. Então, e pra encerrar, nós, do Planejamento, viu Ministro e Guta, apostamos que sairá, daqui, a partir dessa instalação, uma definição concreta de uma metodologia que define qual é a pauta de prioridades, porque tudo não dá pra fazer no tempo que temos, quais são as prioridades e os prazos nos quais o governo se organiza e responde ao movimento social que ta aqui. Mas sabemos que nós precisamos fazer um processo de negociação do possível. Tem uma lista extensa, mas por onde vamos começar e que prazo nós vamos responder as demandas da sociedade, que nós acreditamos, que é no diálogo. O Diálogo de procedimentos é a melhor forma da gente chegar aos consensos que nosso governo quer e vocês também expressaram aqui, nessa reunião. Muito obrigada. ((Aplausos)) Ministro José Eduardo Cardozo: - Obrigado Eva. Maria Augusta... Maria Augusta: - Bom, eu queria falar, um pouco, pela FUNAI e dizer, Ministros, Ministra, Secretários Executivos, todos os presentes aqui, que a FUNAI tem uma confiança, também, deposita uma confiança, irrestrita, nessa mesa de diálogo que esta sendo instalada, aqui, hoje... Eu sou uma pessoa que acredito no diálogo todos e todas, que estão aqui, conhecem a minha predisposição, sempre, a fazer os diálogos, sempre a conversar com todas as partes que se colocam tendentes ou que tenham interesses na discussão que envolva direitos dos povos indígenas no Brasil, que envolvam direitos da sociedade brasileira e não tenho e nem teremos, por parte da FUNAI, qualquer dificuldade em realizar conversas e diálogos, no sentido de tentar evitar conflitos. Porém, queria reafirmar, também, a posição da Fundação, no sentido de que esses diálogos, eles tem como premissa o respeito e a garantia dos direitos que estão constitucionalmente dispostos para o nosso país, na legislação que esta vigente, nos procedimentos que, pelo nosso ordenamento jurídico, estão colocados, que sempre, evidentemente, podem ser discutidos e aperfeiçoados, pra que nós melhoremos a nossa atuação. A FUNAI nunca esteve dentre os órgãos mais queridos da República e, portanto, eu queria compartilhar com todos e todas que estão aqui, presentes e, principalmente com os companheiros de Governo, das dificuldades que, ultimamente, também temos tido para realizar esse debate com a sociedade brasileira, de uma forma tranqüila. Estamos abertos a fazer essa conversa, mas, muitas vezes, Ministro, temos sido, duramente, atacados e combatidos, como aconteceu essa semana, no Congresso Nacional, com a presença de alguns indígenas, com a presença de um representante nosso, da FUNAI, coordenador geral da área de índios isolados, que estava representando não só a FUNAI, mas o Ministério da Justiça e que foi, duramente ofendido e, muitas vezes, até desrespeitado naquele plenário... Mas nossa disposição não é acirrar conflitos, a nossa

34

disposição é, sim, dialogar, é sim, colocar os direitos que estão sendo disputados pelos indígenas, nesse momento. E queria, também, concordar, em certa medida, Ministro, com a colocação do Marcos. Nós teremos, sempre, resistências aos processos de demarcação de terras indígenas no Brasil e acho que compartilho dessa dificuldade com o nosso, querido, companheiro Presidente do INCRA, que ta aqui presente, hoje, o Carlos Guedes, que tem sido um companheiro muito fiel, muito leal nas nossas batalhas, que temos travado para conseguir, de maneira tranqüila e pacifica, solucionar. E faço menção, aqui, ao episódio do estado do Mato Grosso do Sul, onde pudemos contar com uma, uma forte contribuição do INCRA e temos dificuldades, realmente, algumas dessas dificuldades não serão sanadas, jamais, porque o conflito, jamais, como o senhor colocou, deixará de existir. Eu acho que essa mesa tem, sim, a obrigação de se debruçar sobre todas as questões que estão sendo, aqui, colocadas, de maneira franca... De maneira a não ignorar as grandes pressões, também, que temos sofrido e buscar alternativas, juntos, pra construir um caminho para a saída desses impasses. Isso não pode, no entanto, significar e eu acho que essa é a importância dessa mesa, não pode significar o enfraquecimento do trabalho da Fundação Nacional do Índio, o enfraquecimento do trabalho dos órgãos públicos, que estão envolvidos nos processos de regularização fundiária, mas tem que, sim, buscar alternativas, talvez novas, pra que possamos avançar. Acho que essa é a nossa missão. E, sinto que estamos com um missão que foi nos passado, pela nossa comandante maior, que é a Presidenta Dilma, ela tem uma expectativa nessa mesa e quero crer que nós, de fato, possamos tirar resultados concretos dela. Pra isso, eu queria, também, pedir, aqui, o apoio de cada um e de cada uma dos representantes de governo que estão aqui presentes, porque sem o empenho de todos, sem a contribuição de todos os órgãos do Estado Brasileiro, nós não chegaremos à resultados positivos. Precisamos de unidade, em torno da busca dessas soluções. A FUNAI, muitas vezes, é a primeira a ser colocada nesse enfrentamento, porque, muitas vezes, outros órgãos não chegam aonde a FUNAI chega. Muitas vezes nós somos criticados por chegar atrasados, por não conseguir dar conta de ter uma CTL que atenda, imediatamente uma demanda que ta sendo colocada, a gente demora, a gente ta com poucos servidores, mas a gente chega. Muitas vezes, somos os únicos, lá, que conseguimos fazer esse diálogo com os indígenas. E, os indígenas, a FUNAI é um órgão que, muitas vezes, representa um pequeno poder de atuação, dentro do Estado Brasileiro, mas, muitas vezes, pros indígenas, é o único órgão que consegue fazer esse diálogo, é o único órgão que consegue ouvir, é o único órgão que consegue trazer, pra dentro da estrutura do Estado, a situação em que algumas comunidades estão inseridas, a situação em que algumas comunidades buscam superar. E nós temos buscado, fortemente, atrair parceiros pra essa, esse desafio, que é colocado pra FUNAI. Eu queria destacar, também, aqui, a importância do trabalho SESAI, que tem se aproximado, bastante, da gente, que tem buscado, junto conosco, ir pra dentro das aldeias, discutir as questões de saúde. Eu acho que esse diálogo, Secretario Antônio Alves, já te agradecendo, por todo apoio que eu tenho tido da Secretaria, não só da Secretaria, mas do Ministério da Saúde, que esse diálogo é muito importante que a gente precisa potencializar essa parceria SESAI/FUNAI, pra discutir, dentro das áreas, quais são as alternativas. Frente às dificuldades, muitas vezes, do Estado, do município, de prestar um

35

atendimento decente pro indígena, muitas vezes, um atendimento que é recusado por preconceito, por racismo, por discriminação. E, nós temos que encontrar solução pra isso e eu acho que nós somos capazes. Eu queria agradecer, também, a Ministra Isabela, em nome da Ministra Isabela, todo o Ministério do Meio Ambiente, também pelas parcerias que tem feito conosco, de maneira irrestrita, sempre se dispondo a conversar, nos ouvir, a entender as dificuldades e as necessidades que nós temos, no campo da fiscalização das terras indígenas, que nós não podemos esquecer que são terras da União, nós temos obrigação de proteger essas terras. E há uma dificuldade imensa, muitas vezes, em se fazer isso, num país como o nosso, em regiões, por exemplo, da Amazônia, onde nós temos terras demarcadas com grandes áreas, que a FUNAI não consegue ter servidores pra ta ali, o tempo inteiro, fiscalizando, impedindo a entrada de madeireiros, de garimpeiros, de pessoas que querem ocupar as terras indígenas e nós precisamos do apoio do IBAMA... Nós precisamos, Ministro, do apoio da Polícia Federal, da Força Nacional. Sabemos que é difícil, o cobertor, muitas vezes, é curto. As vezes, pra gente conseguir dar atenção pra uma área, a gente precisa retirar o efetivo que ta fazendo um outro trabalho, em outro local. Mas, pra isso, pra gente conseguir atender essas prioridades, nós precisamos ta conversando, entre nós, de maneira muito próxima e sabendo as coisas que estão acontecendo no país, que a gente precisa priorizar, que a gente precisa responder. E eu queria, por último, me dirigir, especialmente, à Secretaria Eva e fazer, também, Secretaria, um apelo, aqui. Eu sei que o Ministério do Planejamento tem recebido inúmeros pedidos em relação à estruturas dos órgãos, tem uma fila grande de demandas a serem atendidas lá, nós temos conversado isso muito freqüentemente, com a Ministra Miriam, com a Secretaria Eva e com outras áreas, também, dentro do Ministério do Planejamento. Mas nós estamos, Secretaria, numa situação bastante difícil em termos de estrutura, de pessoal, dentro da Fundação Nacional do Índio. Nós tivemos um concurso, o último concurso nosso, recente, ainda na gestão do Presidente Márcio, em que, muitos servidores acabaram saindo. Não assumindo o concurso, ou assumiram e migraram pra outros órgãos, isso é uma coisa que não acontece só na FUNAI, a gente sabe, mas nós estamos numa situação, atualmente, bastante difícil, porque o Decreto que aprovou, do Presidente Lula, que aprovou a reestruturação da FUNAI, implantada na gestão do Presidente Márcio, ele precisa sair do papel. Nós temos unidades locais, que são as CTLs nossas, são as unidades mais descentralizadas da FUNAI, que deveriam estar mais próximas das terras indígenas, das aldeias, que não saíram nunca do papel. E, mesmo que a gente tiver recurso pra investimento, pra construir, nós precisamos estruturar, também com pessoal. Então, o nosso pedido, da abertura, aprovação do Concurso Público da FUNAI esta lá, no Ministério do Planejamento. A ministra já nos disse que, em breve, nós teremos uma resposta e eu queria fazer um apelo, aqui, pra que fosse, de fato, considerada a nossa necessidade de ter uma Fundação Nacional do Índio que possa, efetivamente, ter condições, ter estrutura de responder, de atender a demanda e a missão institucional, muito grande, que lhe é colocada. Com todas as dificuldades que tem, eu acho que a FUNAI ainda é um órgão que tem um compromisso, firme, com os povos indígenas. Muitas vezes vão pra áreas, são ameaçados, são tirados dos seus trabalhos, são impedidos de executar as suas atribuições legais e nós, sempre, estamos dispostos a conversar. Muitas vezes esse enfrentamento é difícil na

36

ponta, os servidores, também, muitas vezes, não entendem isso, se revoltam, querem brigar, mas a gente faz isso, porque há um compromisso com os povos indígenas do Brasil, porque essa a missão da FUNAI. E, eu acho que essa missão, ela pode ser cumprida, sim, com dialogo, ela pode ser cumprida, sim, sem violência. No que depender de nós, esse compromisso esta estabelecido. E eu queria terminar agradecendo esse apoio que todos e todas, a Kátia ta aqui também, fazer uma menção expressa ao MDS, que tem sido um parceiro fantástico, tem sentado conosco semanalmente, pensando o cronograma das ações que a gente ta trabalhando e cooperando, na área de desenvolvimento social. Algumas já dando frutos sensíveis na ponta. Queria agradecer, também, Kátia, por favor estenda esse agradecimento à ministra. E queria terminar dizendo isso, que a pauta indígena, no Brasil, ela, hoje, esta muito centrada na figura da FUNAI. Nós temos uma missão que é grande, na defesa dos direitos dos povos indígenas, na proteção e na promoção dos direitos dos povos indígenas, mas a pauta indígena, ela precisa ser encampada por todos os órgãos do Estado Brasileiro, eu peço esse apoio de vocês, eu peço essa colaboração, pra que essa mesa, de fato, tenha efetividade. Nós precisamos dessa unidade e desse apoio de todo o Governo Federal: político, institucional, estrutural, orçamentário, enfim e da compreensão da complexidade das questões que tão colocadas nessa mesa. E eu queria encerrar com uma frase que eu tenho dito, em muitos lugares onde eu vou e, muitas vezes, sou criticada, sou ofendida e termino, sempre, com essa frase. À respeito de todas as dificuldades que eu tenho vivido, no meu dia a dia e na luta que tenho feito pra defender os direitos dos povos indígenas do Brasil, eu tenho orgulho de trabalhar na FUNAI e eu tenho orgulho de defender a causa indígena no Brasil e queria contar com todos os companheiros e companheiras que estão aqui, hoje, nessa mesa, pra que a gente possa, de fato, avançar. Muito obrigada. ((Aplausos)) Dourado Tapeba : - Só uma questão de ordem... Uma questão de ordem, seu Ministro. Dourado Tapeba, do Ceará. Só quero, essa questão de ordem, que eu fui contemplado no empasse com a Presidente da FUNAI, nesse momento, que eu me inscrevi nesse momento, questão de ordem, pra falar, realmente, sobre os recursos humanos da FUNAI. Que não adianta nós termos discutido aqui, colocando as propostas, nossas, na mesa, se nós não temos uma estrutura de recursos humanos, nas pontas, pra resolver os problemas. Inclusive, a gente tem que fazer, eu acho que a Presidente da FUNAI tem que fazer uma varredura nas CRs regionais, aonde tem muitos servidores, não é só na, é em todas as regiões que, ao invés de trabalhar, fazer a coisa acontecer na ponta, fazer com que os recursos sejam, realmente, direcionados praquelas ações, ficam de braços cruzados e, muitas vezes, o recurso volta, das CR, sem poder ser realizadas as atividades. Então, é preciso que a própria FUNAI, através do Ministério da Justiça, inclusive eu queria até colocar, seu Ministro, que a nossa FUNAI tem que deixar de ser o primo pobre do Ministério da Justiça, precisa acontecer isso, porque, se isso acontecer, com certeza a FUNAI vai ser fortalecida. Inclusive, pra terminar, as lideranças mais antigas sempre dizem: A FUNAI é ruim, mas ela é ruim, mas é melhor ruim do que, é pior sem ela. Então, é preciso fortalecer a FUNAI, nossa direção, pedir pro Ministério do Planejamento assumir o compromisso de fazer valer o pedido da nossa Presidenta. E, pela conversa que a gente tem tido, com a Presidenta,

37

agora, interinamente, é preciso que ela seja efetivada, também, pra que as coisas possam acontecer, efetivamente. Era isso que eu queria dizer. Obrigado. Ministro José Eduardo Cardozo: - Te agradeço. Eu só quero dar um testemunho, antes de fazer uma proposta de encaminhamento... Nós estamos conversando muito com a Ministra Miriam e com a Eva, são várias questões do Ministério da Justiça, na parte de estrutura e eu sei a dificuldade que o Ministério do Planejamento tem, nessa área, porque a demanda que tem nos setores vitais do governo, pra reestruturação, ela é muito grande, né? Eu não, tem horas que eu não me invejo, viu Eva? Mas tem horas que eu também não te invejo, né? Porque há todo um conjunto de demandas e situações e a Ministra Miriam tem mostrado muita sensibilidade, a Eva também tem sensibilidade. Eva Maria: - Parte das demandas a gente tem atendido ta. Ministro José Eduardo Cardozo: - Atendido e estamos estudando, ai, as alternativas. Pode ter certeza de uma coisa, eu digo pra vocês, quando eu assumi o Ministério da Justiça, eu disse que eu tinha dois primos pobres: A FUNAI, e a Polícia Rodoviária Federal, né? E eu tenho um compromisso, comigo mesmo, de fazer com que deixem de ser primos pobres. Tenho lutado, muito, por isso. Então, pode ter certeza que vontade e política, nossa, não falta, sensibilidade do Ministério do Planejamento não falta, desejo da presidenta da FUNAI não falta e nós vamos procurar dar as respostas necessárias, dentro daquilo que a gente pode fazer, porque, como disse a Presidente da FUNAI, o cobertor é curto. Mas é a nossa intenção, realmente. Tem se falado muito, as vezes, na imprensa de que há uma postura de enfraquecimento da FUNAI, não é verdade, ta certo? A Presidenta da República mesmo falou, na reunião, com os representantes disso, que não há nenhuma intenção, do governo, nessa linha. Ao contrário, nós estamos tendo uma FUNAI bem capacitada, aparelhada, claro, nos limites das nossas condições. Pra quem sabe, numa outra reunião, no futuro, você disser: A FUNAI precisa ficar, mas ela é muito boa. Como um resultado histórico, ai, de um processo, ta bom? Deixa só eu fazer um encaminhamento, você fala e ai eu quero fazer um encaminhamento. Porque eu já vi protestos de estômago, de alguns aqui, em relação à fome, né? A gente precisa fazer um encaminhamento... Quer falar? Então vamos fazer a última fala, aqui, agora e eu vou fazer um encaminhamento a seguir. Anastácio Peralta: - Então, primeiro eu quero agradecer de fazer parte dessa mesa. E quero que o, a bancada indígena e a bancada do governo e os nossos aliados, que nós não somos problema pro país... O problema quem trouxe é quem veio de fora. Então, a gente tem que ter muito claro, porque, talvez, como os grandes políticos vêm batendo ai, falando que nós somos problema pro país, nós não somos problema pro país. Nós somos uma solução, talvez. Então precisa, talvez, como trabalhar isso porque quem chegou aqui que trouxe problema, nós já morava aqui. Então, a gente precisa mudar, um pouco, esse discurso, porque vê a gente como um problema. Nós não somos problema. Então, nós estamos nessa bancada, aqui, pra ajudar o problema que criaram pra nós. Então era isso. Outra coisa que eu queria ver, a 303, ela ta suspensa,

38

só que o, alguns, de má fé, usam ela como ta valendo, mesma coisa a suspensão do Rio Grande do Sul e Paraná. Então, eles tão usando e estão usando, também, as condicionantes. Então, pra nós, aqui, não vale, mas lá, pros latifundiários, ta valendo. Então nós precisa ver como é que faz isso. Era isso. Ministro José Eduardo Cardozo: - Te agradeço. Então vamos fazer, então, antes deu fazer o encaminhamento, mais uma fala. Doutora Déborah, eu pediria que a senhora usasse a palavra. Quiser vir aqui a frente, talvez seja melhor, Ou vocês tem microfone ai? Maria Augusta: - Ministro, inclusive eu queria pedir desculpas, porque eu esqueci de agradecer a presença da Doutora Déborah, que é fundamental pro nosso trabalho. Mil perdões, Doutora Déborah e pela Rita, também, do MEC, que ta aqui, que também tem sido uma parceira pra nós, fundamental, junto com toda a equipe do Ministério da Educação. Desculpa e obrigada. Ministro José Eduardo Cardozo: - Doutora Déborah. Déborah Duprat: - Obrigada, é um prazer estar aqui. Quero dizer que o Ministério Público Federal, a 6ª Câmara, esta sempre à disposição para esse diálogo e pra avançar nos direitos indígenas. Ministro, eu gostaria, apenas, de fazer uma ponderação em termos de encaminhamento, aqui, dessas questões. Enfim, é voz corrente, no Congresso Nacional, que a bancada ruralista, ela alardeia que o ano anterior foi o ano do Código Florestal, esse ano seria da questão indígena. E, o fato é que, além da violência real que, enfim, a gente consegue colher dos vários relatos, à essa violência simbólica e isso ta se traduzindo até nesse espaço, que é o espaço público do povo de atos contra os índios, enfim. E, por outro lado, essa bancada ruralista, esse setor, especialmente, ele vem, cada vez, se fortalecendo mais, a tal ponto que, eu acho, que nós vamos chegar à uma situação que, se não houver um basta, o diálogo vai ser impossível, porque estão, de tal modo imponderados, que se sentarão numa mesa, em condição de absoluta vantagem, em relação aos índios. Então eu acredito, e me desculpe a ousadia, é a hora de chegar, de o governo ter alguns atos simbólicos também, que equilibrem melhor esse jogo, que desidratem, um pouco, esse setor que, tão fortemente, vem atacando os índios. Então eu acredito que algumas medidas, ainda que no plano simbólico, elas são importantes pra mostrar que há, pelo ou menos, um equilíbrio nessa disputa. Só isso. Obrigada. Ministro José Eduardo Cardozo: - Eu agradeço a Doutora Déborah a intervenção. E acho que, eu tenho tido muitas reuniões com parlamentares, alguns mais afetos à causa indígena, outros com posição diferenciada e eu ainda boto muita esperança nesse diálogo, não que vá resolver os conflitos. O Marcos tem toda razão, na fala, aqui, isso não resolve, mas eu sinto que se nós tivermos, aqui, nessa mesa um bom resultado de diálogo, nós conseguiremos, juntos, ter um processo. Eu posso ta enganado, se estiver enganado, a vida demonstrará, mas eu sinto que existe, ainda, oportunidade de diálogo... Talvez possa ser uma ilusão minha, eu fiquei muito animado com o Mato Grosso, viu Doutora? Eu senti que, ali, o diálogo rolou e os deputados que estavam

39

envolvidos no processo de Mato Grosso nos ajudaram, inclusive, na discussão, ontem e nesses dias, em relação à PEC. Então, eu ainda boto esperança, mas eu acho que depois nós podemos sentar, conversar, dialogar e acho que nós poderemos pensar, talvez, em alguns gestos simbólicos, que pudessem facilitar esse diálogo. Então, vocês me permitindo, eu quero propor um encaminhamento: São vinte para uma, ta certo? A minha proposta é suspensão dessa reunião, neste momento, pra que possamos almoçar, cuidar do estômago, né? E voltar às 14h, sobre a Presidenta, sobre a coordenação da Presidência da FUNAI. Qual é o objetivo? O objetivo, na parte da tarde, seria discutir o método, como é que nós vamos estar dando continuidade à essa proposta, como é que será esta mesa geral, que não prejudica as mesas regionais, que nós vamos ta fazendo e o cronograma de trabalho. A própria Eva, a pouco, me insistia muito nesse cronograma e ela tem razão, nós precisamos ter um cronograma, que nos coloque limites, pra nós termos resultados concretos, nesse processo. Tem acordo, voltar às quatorze horas? Então suspensa a reunião, volta às quatorze horas... 22/08/2013

Tarde

Marcelo Veiga: - Boa tarde a todos e todas, todos retornando ai do almoço, depois das reuniões, enfim. Pedir desculpas, aqui também, pelo atraso. A Maria Augusta ta resolvendo algumas questões ali, da FUNAI, pediu pra gente já ir começando a reunião, ela, em breve, já estará de volta. E eu, assim, pelo que foi depreendido da reunião, na parte da manhã, a gente tem alguns, alguns encaminhamentos que foram sugeridos, pelos Ministros e, fundamentalmente, o encaminhamento de pensarmos a pauta, a nossa pauta aqui, né? Que vocês já debateram bastante, pensar a metodologia de trabalho e pensar aquela sugestão, também, de ter um grupo executivo, tocando, operacionalmente, essas, essas demandas, aqui da mesa e que, depois, traria, pra mesa, pra um debate mais amplo. Então eu consulto a bancada indígena, sobre esses pontos, se vocês chegaram a conversar sobre isso e se tem alguma proposta, alguma contraproposta a ser feita, agora... Alguém quer fazer uso da palavra? Pierlângela. Pierlângela: - Pierlângela, região Amazônica. É, senhor Presidente, né? Interino. Nós gostaríamos de propor, porque assim, pelo que foi pautado, pela manhã, pelo senhor Ministro, sobre essas questões, então a gente já tinha discutido em cima de outra metodologia. Então o que ele nos apresentou foi algumas questões novas, que a gente precisaria reunir, com mais tempo. Então, a nossa solicitação, aqui, da bancada indígena, é que a gente pudesse, agora a tarde, nos reunir, ficarmos reunidos, separadamente, pra gente conversar sobre o que foi proposto pelo Ministro, porque o que a gente tinha pensando, anteriormente, era uma outra, outra questão, mas ele trouxe elementos novos, que a gente precisa se reunir. Então a proposta seria essa, agora a tarde a gente ficar, esse período da tarde, conversando, conforme prevê o regimento também. É, e voltaria amanhã. Então essa era a proposta pra gente poder discutir...

40

Marcelo Veiga: - Mais alguém quer fazer uso da palavra? alguém da bancada do governo? Por favor, Sandro... Sandro Tuxá: - Oi. Sandro Hawty Tuxá, pelo Leste, Nordeste. Eu queria só reforçar a fala da Pierlângela, antes de submeter à votação. Porque o regimento diz que o que ocorrer da natureza do andamento da condução da comissão, cabe por em votação. É que, na verdade, o Ministro trouxe coisas, assim, muito contundentes, assim, no sentido, coisa muito importantes, desafiadoras como ser um espaço, realmente, de proposição, de resolução das questões que nos afeta, o compromisso nosso, o compromisso dos Ministérios, o compromisso do Governo de ter, realmente, essa pactuação, nesse espaço. E várias outras coisas, mais, que ele aborda. A questão da Comissão executiva, como o senhor lembrou agora, rapidamente, né nosso Presidente? E, também, a questão de regionalizar de ter questões regionais e outras coisas mais, mesas de debate, uma série de coisas que, que todos os indígenas começaram a se perguntar e todos têm dúvida como se posicionar. E, pra que a gente não leve um tempo desnecessário, no sentido de não trazermos uma coisa enxuta e a gente sabe que nossas falas, somadas, uma a uma, sem um verdadeiro foco, acaba cansando a reunião, então é por isso que a gente quer, pede a compreensão da bancada governista, pra que, nesse período da tarde, realmente, a gente possa, não parar, caminhar, porque eu tenho certeza que essa parada é pra caminhar, até porque nós queremos, também, ouvir as falas ai, de todos os senhores, que estão aqui e querendo o compromisso dos senhores e senhoras que voltaríamos, com esse grupo todo aqui, para amanhã. Era essa a minha contribuição... Marcelo Veiga: - Senhor Manoel... Manoel Moura: - Boa tarde... Meu nome É Manoel Fernando de Moura... Sou do estado do Amazonas, do povo Tukano... Bem... A palavra do Ministro, nesse momento, é importante. Até o dia da eleição... Agora, tenho muita dúvida, se a palavra dele vai continuar... Porque, depois da eleição, já são outras pessoas, com outros pensamentos e assim vai tumultuando... Quando nós pedimos demarcação de nosso território, do Rio Negro, desde 1967 e durou, mais ou menos, 30 anos, veio a concretizar em 1999. Então, cada vez enrolava, cada vez dava problema, cada vez dizia que estava numa situação. Então... A gente quer, pode ser que, daqui pra frente, venha ter as coisas verdade para os nossos povos indígenas, porque, pra nós, eu não se ele entende o que é ter a terra... Para os povos indígenas, a terra, principalmente para o Tukano, a terra, ela corre nas nossas veias, nós estamos ligado, diretamente, com a terra, interagimos com ela... Com árvores, com as pedras, com as montanhas, com rios... Nós interagimos. Então, é a nossa vida própria que esta em jogo... Porque, pra sociedade, isso não tem sentido, porque daqui a pouco ele vende, vai embora e pega dinheiro pra ele, é importante... Esse é o jogo pra ele, no entanto, o que nós temos, os nossos representantes, do Congresso Nacional, são muito mal educados, por isso que o Brasil esta assim, desse jeito, eles deveriam mostrar sua oral, pra dizer que são eles. Eu gostaria que o Ministério da Educação atuasse nessa parte, que educasse os parlamentares, antes que eles assumissem o parlamento... Pra ele ter responsabilidade de ser educado e tratar bem os povos brasileiros. Essa é a responsabilidade do Ministério da

41

Educação... Para educar parlamentares, para que antes que ele assumisse o parlamento do Brasil. Pra não fazer vergonha... E restante dos ministérios poderiam acompanhar isso também, porque a responsabilidade é do Presidente da República, é educar esta turma. Muito obrigado... Brasílio Priprá: - Presidente, aqui. Só uma questão de ordem. Presidente, é que a nossa comissão conversou que nós ia suspender a reunião e voltaria a conversar amanhã, então eu acho que ai que, como manda o regimento, deveria ter uma votação e a gente suspenderia e os povos indígenas ia conversar e voltaria, pra mesa, amanhã de manhã, com uma proposta, pra ver o quê que a gente poderia fazer. Obrigado. Marcelo Veiga: - Então, acatando a sugestão que foi feita, alguma manifestação à respeito da suspensão da mesa? Ou a gente já pode colocar em votação? Nenhuma manifestação? Não? Bom, eu só queria fazer, aqui, um lembrete, é uma questão que eu acho que é importante. O Ministro fez aqui uma sugestão dessa comissão executiva, que é ela que vai, na verdade, atuar, mais incisivamente, em cada um desses temas, que vai produzir um trabalho, na verdade, uma comissão executiva com muitos membros, ela acaba não sendo operacional, acaba não produzindo os resultados desejados. Lembrando que, ai pra vocês possam discutir, hoje a tarde, essa comissão executiva, a idéia é de que ela seja formada por indígenas e pelo Governo também, ta? E ai, é óbvio, o Ministério Público Federal também é convidado a participar. Agora, a gente também tem um limite de número de participantes, então eu gostaria que vocês levassem isso em consideração, a gente calcula entre 10 a 15 pessoas, no máximo, nessa comissão, entre membros do Governo e membros do, membros indígenas. Então, pra que a gente leve em consideração, também, o tamanho dessa comissão, quais são as pessoas e a representatividade dessas pessoas, na atuação e, efetivamente, o trabalho que elas vão ter. O trabalho que elas vão ter de maturar essas questões, de aprofundar essas questões e, depois, trazer aqui, pra essa mesa, pra essa instância, essas questões, pra que elas possam ser mais debatidas. Então, fica, aqui, aquela sugestão. O complemento da sugestão que o Ministro fez, na parte da manhã, que vocês possam levar em consideração também e trazer pra reunião de amanhã. Bom, não tendo, então, nenhuma outra consideração a fazer, com relação a sugestão de suspensão dos trabalhos da mesa, agora, pelo período da tarde, pra que a bancada indígena possa se reunir, possa debater e trazer essas, esses acordos na reunião de amanhã, eu coloco em votação pra saber se todos estão de acordo. Aqueles que estiverem a favor dessa proposta de suspensão da mesa, por favor, permaneçam como estão. Quem for contrário, levanta a mão. Então, sem nenhuma manifestação contrária, declaro, aqui, suspensa a mesa, pelo período da tarde. Retomaremos, amanhã, as atividades dessa mesa, no âmbito da Reunião Extraordinária da CNPI, às 9:30h da manhã, ok? Muito obrigado a todos...

42

23/08/2013

Manhã No período da manhã os representantes indígenas, indigenistas, assessores e componentes da Mesa de Diálogo, ficaram em reunião com o Ministro da Justiça e a Presidente da CNPI e não foi gravada. 23/08/2013

Tarde Maria Augusta: - Vamos retomar a nossa reunião... Só queria pedir, como não tem muita gente à mesa, se o pessoal que ta ai pra trás não pode ocupar essas cadeiras que tão aqui ó, pra gente ficar mais próximo, por favor... Quem tiver, também, fora, acho que tem espaço na mesa, se quiserem tomar assento na mesa, por favor, quem tiver nessa fileira de trás... Bom, o período da tarde a gente tinha destinado a pensar no nosso cronograma de trabalho, na metodologia, da criação de uma comissão pra fazer as discussões na mesa... Como a bancada indígena teve reunião agora, no início da tarde, eu pergunto se posso passar a palavra pra vocês, pra vocês darem início, então, à discussão do período da tarde, se já há alguma proposta por parte da bancada indígena... Marcos Xucurú: - Boa tarde... Marcos Xucurú da região Nordeste e Leste... Sim, nós temos, já, uma proposta de encaminhamento, estamos só apenas finalizando o documento e iremos apresentar pra bancada da CNPI para analisarmos os encaminhamentos. É... Já adiantando, um pouco, a gente depois da conversa que tivemos, pela parte da manhã, com o Ministro, até porque pensávamos que iríamos ter esse momento da tarde, até porque foi a sugestão encaminhada, de termos a abertura com a presença dos ministros e, ao término, teríamos, também, a presença deles pra podermos, assim, pactuarmos os nossos entendimentos, encaminhamentos a respeito desta mesa de diálogo, de modo que a gente percebe que ficamos, um pouco, prejudicados nesse sentido, em virtude de que ele não esta presente, o Ministro da Justiça, principalmente, em virtude de agendas e tal como ele falou pela parte da manhã, deixando, assim, a incumbência pra Presidência da FUNAI e o Marcelo, aqui, e o Paulo Maldos, fazer os encaminhamentos que foi proposto, em termos da mesa de diálogo. Nós temos um entendimento, em relação à essa mesa, porque a proposta que ele coloca é redução ou seja, criar uma Comissão Executiva, uma comissão menor, pra discutir e a condição aqui nossa não. Então nós estamos finalizando e colocando e fundamentando, por que, pra que seja, colocado, aqui, pra todos. Então é um pouco isso, que nós estamos aguardando... Maria Augusta: - Alguém quer fazer uso da palavra? ... Acho que, então, aguardamos a leitura do documento...

43

Dourado Tapeba: - É, pela conversa que nós tivemos de manhã... O nosso povo se reuniu lá, em assembléia, novamente, Povo Tabepa, com a presença dos Povos Pitaguari, Anacé, Tapuia, Canindé, Tabajara, Calabaças e Kariri também estava presente e eles decidiram, pela, porque, decidiram pela, todo o povo lá, inclusive com a ?? que lançamos uma nota, em repúdio da questão da não publicação do nosso relatório pela questão do Ministro é, não ta cumprindo a lei na questão que diz respeito ao relatório da aquisição da Terra Tapeba. E a mesma coisa em relação aos outros povos e ai eles pediriam pra enviar uma nota aqui pra bancada. E, antes da conversa, a gente já tinha feito essa nota, se caso não publicasse, então, nós já tínhamos discutido que se a conversa fosse posta pela publicação do relatório, essa nota não seria lida, mas como não foi possível essa conversa de publicação, então a proposta é que a nota seja lida. Ai eu queria pedir, a Rosa, você quer ler a nota? Você pode ler a nota ai? ... Rosa Pitaguary: - Boa tarde a todos e a todas... Nota de repúdio ao Ministro da Justiça... postura anti indígena e contrária à publicação da portaria de Identificação e delimitação da terra indígena Tapeba... Nós, representantes indígenas, das etnias Tapeba, Pitaguary, Tabajara, Anacé, Tapuia, Kariri, Canindé, Calabaça e Potiguara, que estivemos ocupando a sede da Coordenação Regional Nordeste - II da FUNAI, em Fortaleza, desde o dia 13 desse mês, vimos, por meio desta presente nota, repudiar atual posicionamento do Ministro da Justiça, Senhor Ministro José Eduardo Cardozo... Que tem se, que tem se mostrado intransigente e violador dos direitos dos povos indígenas. O povo Tapeba é um dos povos que mais vem sofrendo, com a morosidade, no processo de regularização fundiária... Seja no âmbito administrativo, seja pela reiteradas atuação do poder judiciário que tem se posicionado contra os nossos direitos, resultado em 30 anos de luta pela demarcação. Demonstramos, aqui, a nossa indignação pela recém postura adotada pelo Ministro da Justiça que, mesmo diante do Relatório Circunstancial de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Tapeba já esta, há alguns meses, tecnicamente concluído e, mesmo após a sua assinatura, por meio da Presidenta Interina da FUNAI, Senhora Maria Augusta, há dois dias o Ministro, de forma tendenciosa, optou por determinar que a referida portaria só será encaminhada, para a sua publicação, no Diário Oficial da União, após o aval do Governo do Estado do Ceará. Curva-se aos caprichos do governo do Ceará, Senhor Cid Gomes. Não é um comportamento aceitável de um ministro de Estado, que merece, piamente, ser repudiado. O referido posicionamento só comprova que o Governo Federal esta refém dos interesses dos gestores estaduais e, em algumas vezes, municipais. Não vamos nos curvar diante desse contexto. Sairemos da sede da FUNAI, nesta data, não acreditando mais no diálogo, tampouco nas ações capitaneadas pela atual gestão do nosso país. Deixamos claro, nessa nota, que estaremos, nos próximos dias, realizando ações que objetivem a conquista do nosso território, nem que, guerreiros, ou guerreiras tenha que tombar. Se isso ocorrer, o mundo vai saber que o Brasil, depois de 513 anos de colonização, continua nos matando... Dourado Tapeba: - Eu queria, só, Presidenta, pra completar, eu pedi pra Rosa pra ler, porque eu não iría consegui ler tudinho. Mas eu queria dizer que eles me ligaram, ainda agora, e disse que concordam em participar da reunião com

44

o Governador, mas diferente, vão colocador entre 600 e 800 índios lá no palácio do Governador e só subirá pra lá se for 15 lideranças junto... Não pra denunciar nada e nem pra, pra discutir mais do que já ta discutindo, a questão, nós não abrimos mão de uma coisa, a não ser a questão da liberação da obra que do ?...? das águas. Essa, o que é demais que ele quiser apresentar, a gente vai morre lá na nossa terra, mas não aceitamos. É isso. Maria Augusta: - Obrigada Dourado, obrigada Rosa, pela leitura. Então, Dourado, estaremos juntos, nesse propósito lá, na segunda feira. Eu vou acompanhar vocês e esperamos que, finalmente, na segunda feira, possamos ter um avanço e uma decisão histórica de finalmente concluir um processo que se arrasta desde a década de 80. Concluir uma etapa do processo, porque a publicação do relatório, ela abre, ainda, o início do processo pra que muitos anos, ainda, se dêem, pra que a gente possa chegar à regularização conclusiva, da área da Terra Indígena do Povo Tapeba. Obrigada. Obrigada pela leitura Rosa... Maria Augusta: - Fala Titiah... Luís Titiah: - Boa tarde. Luís Titiah, representando o Nordeste e Leste. Senhora Presidente, é o seguinte... Nesse período ai, da reunião da CNPI, eu fiquei mais ouvindo, né? Vendo ai o relato dos parentes, das autoridades... E, assim, numa reunião, que nós tivemos agora, eu já passei alguma situação pra o nosso coordenador geral da APOINME e as preocupações e até dialoguei um pouco com meus parentes, dizendo que, pela situação que ta esse país, hoje, nosso, para as comunidades indígenas, não vai ter negociação. A negociação que vai ter na região é igual nós, Pataxó Hã-Hã-Hãe, fizemos com nosso território, a cinqüenta e quatro mil, cem hectares de terra, né? E isso vai acontecer nos Tupinambá vai acontecer em várias e outras regiões e assim, falando na, em várias regiões, eu queria ver como é que o Governo vai fazer com a situação lá na Bahia, ele já teve dois movimentos da sociedade, contra os Tupinambá, onde que a sociedade, algumas pessoas, baderneiros tocaram fogo na viatura do Governo, do Estado Federal no carro da saúde, aonde iam pessoas anciões pra ir para o tratamento. Um foi espancado, porque ele teve coragem, abriu a boca, tomou conta e pediu reforço à polícia e segundo, o Ministro aqui disse que mandou a Força Nacional, mas a informação que nós temos lá é que já quebraram duas casas dos indígenas. Foram lá pra dentro da área, lá, para o litoral da praia, atiraram num índio lá, né? E tão ameaçando, né? Então, assim, fazendo a reflexão da situação que ta no Sul, no Mato Grosso do Sul, né? Lá na Bahia, nos Tupinambá, né? Com a situação que esta no extremo Sul da Bahia, né? E em várias e várias outras regiões, eu digo aqui, meus parentes, nós não vai ter mais diálogo com o Governo não. Eu acho que os outros parentes tem que ter a coragem igual os Pataxós fizemos. Quando o Supremo Tribunal fez com a gente, aonde adiou, né? Um julgamento duas vezes, o quê que nós fizemos? Voltamos pras bases e organizamos e fizemos tudo, né? E tiramos, realmente, os grileiros fora da nossa área e estamos lá e vamos lutar. Já to no trabalho da FUNAI lá, né? Acho que já ta meio parado no meio da estrada... Já ta tendo algumas ameaças. Então, o que eu to vendo, Presidente, seriamente, uma negociação acontecendo assim, o derramamento de sangue dos povos indígenas e a luta dos povos indígenas, pra ocupar o que

45

é seu. Essa é a negociação que ta tendo dentro desse Governo. Eu já liguei pro nosso Coordenador e já estamos falando, vamos ser organizar, né? Mais ainda e vamos fortalecer, pra nós também dar o nosso recado, já que aqui, dentro desse governo, o que ta sendo valorizado é a bancada Ruralista é o agronegócio, é o poder econômico, então nós temos de dar o nosso recado e o nosso recado nós vamos dar, deixar bem registrado. É derramando sangue mesmo, é perdendo guerreiro, nascendo outro e é assim que nós vamos dar o nosso grito de luta, eu to saindo daqui, dessa reunião, muito revoltado com a situação. Eu mesmo falei que se tivesse alguma pequena comissão aqui, eu não ia fazer parte, porque eu to igual o parente xavante disse ali, né? Terra sagrada e direito não se negocia, né? Não tem diálogo, tem decisão, praquele que tem o direito, né? E nisso nós estamos tristes, porque, no momento que nós estamos aqui, dialogando dentro da política do governo, só é chegando comissão de liderança, dizendo o problema. Agora, ontem mesmo, nós estava lá em cima e chegou um parente dizendo a situação deles e pedindo, pelo amor de Deus, que nós trouxesse a situação deles pra aqui. Eu queria mesmo que eles tivessem aqui, presentes, pra eles ter espaço pra colocar como é que ta a situação deles. Então, eu acho que nós, chegou o momento, chegou o limite de nós e vocês, do governo... mapear toda a situação e ver a situação gravíssima que esta acontecendo com algumas comunidades. E não tem mais diálogo não Presidente, a gente resolver mesmo a situação. Resolver... Então é isso que eu queria dizer. E nós vamos, também, se trabalhar. Eu vou deixar bem claro aqui, o ano que vem nós vamos se trabalhar. Eu vou dar resposta àquele deputado, no dia da audiência aqui, falou: “Vocês precisam botar uma pessoa de vocês aqui”.E nós vamos fazer isso, nós vamos lutar pra botar uma pessoa dentro desse Congresso, uma pessoa nossa. E dar recado a esses, esses representantes do Congresso... Que mesmo que eles pensa que o voto nosso é mínimo, mas faz diferença aqui, dentro desse país, também. E isso eu tô levando, de coração, lá pra dentro da minha região. Vou já, liguei pra nossa liderança e já pedi uma reunião terça e quarta feira, pra gente já ta reunindo e avaliando e vou levar esses, essa avaliação, daqui, de dentro do Governo... Ministro, nós vamos tirar um encaminhamento, pra nós cobrar o nosso direito, perante essa situação. Eu queria deixar isso aqui, registrado, aqui, nessa reunião. É tristeza nós ver o nosso parente ali, o cara que aprendeu, junto da gente, na luta, ali, chorando, calado, da situação que ta acontecendo. Nós vai na reunião, de manhã, com o Ministro e nós não vê solução... E eu digo Guta, olha a ida sua lá no Ceará. Eu tenho medo, eu fico reocupado com essas negociações. E eu vejo, também, o jogo que tão fazendo com alguns representantes da FUNAI. Eu to preocupado com isso, não entendi a situação que vocês tão passando agora, da FUNAI, dentro dessa nova estruturação da FUNAI. Então, a gente vamos, nós vamos dar o nosso recado também... E vocês se preocupem com esse choro calado de cada liderança aqui, viu? Vocês se preocupa, porque nós, também, vou dizer também, me desculpa eu dizer, nós, também, nós não somos cachorros sem dono não, sabe? E nós vamos lutar. Eu vou deixar isso registrado. Nós vamos lutar, viu? Esse governo, ele vai ter de nos ouvir e vai ter de, também, tomar uma decisão, porque nós também ajudamos a construir... Alguma liderança dessa, aqui, já derramou seu sangue, pra ter esse nome do PT, pra chegar esse momento, mas nós não esperava ser tratado dessa forma não... Eu, dentro da minha

46

região, fui um, sabe? Então, eu queria deixar isso aqui, esse momento, registrado, aqui. Muito obrigado... Maria Augusta: - Obrigada Titiah... Marivelto: - Marivelto Baré, do Amazonas. É, aqui, também, eu queria deixar o meu registro, em relação a isso. Aproveitar que tem gente aqui que é da TV Câmara, pra ficar bem registrado, da forma como os políticos tão agindo, com relação às populações indígenas no Brasil. Na audiência que se teve lá, pelo menos na Câmara dos Deputados, onde a gente participou da Awá Guajá, nem, sequer, em algum momento, queriam deixar a gente se manifestar. Que tipo de ato e consulta pública era aquela? Onde teve baixaria, inclusive à servidor da FUNAI, que a gente colocou, muito bem, nessa reunião, onde o cara jogou lá pro quinto escalão. Que tipo de deputado é aquele lá? Um tal de é, Francisco Scobar, ainda pra ficar bem claro. Esse tipo de coisa não se faz. Ele se diz um representante político, dentro da Câmara dos deputados, ele ta representando a população brasileira ali dentro e a população brasileira não se restringe só ao agronegócio ou, enfim, microempresários, entre outros, também é população indígena e aqui a gente sempre lembra que a gente também deu voto. Que, algumas lideranças, também fizeram campanha à esse governo. E a ai a gente vê, também, hoje criar uma mesa de diálogo e a mesa de diálogo? O diálogo já existe. O diálogo sempre já existiu, desde que a CNPI ela foi instalada, isso a gente tem que lembrar. Agora Comissão pra quê? Pra que a gente esteja mais dividido? Pra que, sempre, como eles falam em seus discursos, um lado é mais forte. Isso ai, veja o lado mais fraco, a gente, porque não temos capital, nós se torna fraco em relação a isso e, hoje, quando o Ministro coloca, na reunião que a gente teve, pela manhã, com ele, que pra nós foi surpresa, porque a gente estava esperando ele a tarde, quando manda paralisar e não publicar o relatório da Terra Indígena Tapeba, o quê que quer dizer com isso de certa forma, essas negociações é uma consulta que eles querem ter pra gente dizer assim que eles queria só olhar na sua cara e dizer ao Ministro, nós que vai lá, mas deixa ele dizer o que tem que dizer e que a negociação, ela não tem que ser feita, agora eles tinham que ouvir, tinham que se posicionar, dar uma certeza, dizer assim: “Ou, o quê que os índios tão querendo?” É o que ta garantido, seja lá no Decreto 1775, vamos fazer valer. É o que ta vigorando hoje, não o que ta vindo ainda e a gente sabe que se esta criando, já, a proposta pra criação da, da Comissão Especial da PEC 215. Quando a gente via que, naquela reunião que teve de diálogo, com a Presidente Dilma, praticamente se havia uma discurso ali dentro, mas, fora, já se estava fazendo outra coisa. Então, na prática, o Governo, na verdade, não quer nem negociar, não quer diálogo, quer nos enganar, quer fazer as coisas por trás. É o que ta acontecendo hoje e a gente fica preocupado, porque é uma situação que acontece, mexeu com índio, ta mexendo com todos. Morre um, cai ali, mas a gente já levanta outro daqui e a gente quer deixar isso bem claro que a gente não ta pra negociar. Nós já dialogamos, nossas propostas, nós colocamos ai e nós não obtivemos resposta, não obtivemos resposta, nem na prática. E, hoje, também, a gente vê que quem é hoje a ameaça à soberania do povo são os próprios políticos, os governantes de hoje, que tão contrapondo todo um direito que a gente tem, constitucionalmente originário. Isso a gente deixa bem claro e, se hoje eles não tão interpretando da forma que deve ser,

47

esses camaradas tem que estudar muito em relação a isso e que a gente tem que se articular muito, pra também botar alguém lá dentro e a gente ter voz ali dentro da Câmara dos Deputados. Hoje, quando a gente fala nessa questão da situação de fortalecimento da FUNAI, é nesse sentido, é a gente ta junto... Junto, falando pela FUNAI, querendo que ela fortaleça, mas que financeiramente, também, o governo tem que dispor grana, pra poder ta forçando lá na ponta, né? E a gente vê, hoje, que toda essa situação, por quê que tem que dão condições, então, pra o pessoal do agronegócio vir pra cá? E, hoje, muitas das vezes, por apoio aos indígenas, vem aqui se mobilizar, se manifestar, em relação aos seus direitos tem dificuldade. Por quê que há corte de recurso e tudo mais, né? Quer dizer, será que é só agronegócio que garante, a questão da sustentabilidade econômica do país? Não é. A gente também produz, a gente também é agricultor, a gente é produtor. O que falta, ainda hoje, a nível de Brasil, é uma política de gestão de, de projetos sociais e de desenvolvimento dentro das terras indígenas, que é obrigação do governo brasileiro ta fazendo isso, não obrigação da FUNAI, como consultora, na área de educação, na área de saúde. Claro que, uma vez a terra demarcada, ela é patrimônio da União, entendeu? Então, quem tem que investir, é a União que tem que investir nisso e, pros prefeitos e governantes, isso tem que ta bem claro. Não é só porque passa a ser terra indígena que a FUNAI que tem que dar todas essas condições. Claro que, na questão de monitoramento, fiscalização, a gente tem que ta junto, ali, porque tem vários invasores com relação a isso. Pelo menos, no Amazonas, na área, na região onde eu pertenço, lá, hoje, nem sequer a questão social chega ainda, onde a gente tem pessoas que trabalham em regime de escravidão lá. Onde, pagam lá, dentro de suas comunidades lá, dos afluentes do Rio Negro, nove reais um litro da gasolina. Chegam a pagar cento e oitenta uma lata de farinha e tudo mais e, nem, sequer, um político chega lá pra ver essas questões. E isso a gente passa, de Norte a Sul do país, esse massacre que tão querendo fazer, porque o quê que se tem na história do Brasil que, até o ano dois mil, a idéia era extinguir, acabar com a população indígena e a gente vê que isso não aconteceu, a gente se reproduziu mais ainda, e a gente vai continuar desse jeito, garantindo o território, né? Então era isso que eu queria deixar, ta? Contribuir aqui. Brasílio Priprá: - Senhora presidente, Brasílio Pripá, povo Xocleng , em Santa Catarina... Olha só presidente, eu queria dizer aqui, na verdade seria para o Ministro, mas como o Ministro não ta, tem alguém representando o Ministro, lamentavelmente, nessa casa, ano passado, ele fez um acordo com a CNPI, disse que ia buscar, no Congresso, com todo esforço do Governo Federal, pra tentar aprovar o estatuto do índio. Isso não aconteceu, não vimos nenhuma esforço. Na verdade, o que se tem mesmo, me parece, hoje, o Governo Federal, o Governo, em si, tem medo dos latifundiários, que são tão pouco, que muitos não são nem Brasileiros. Então tem medo desse povo e, na verdade, o que precisa, nesse país, é respeitar o direito desses povos indígenas, que nós não queremos nada de ninguém. E, segundo o Ministro, aqui se cumpre a lei, falou, ontem, aqui. A lei é pra todo mundo e nos na Constituição Federal, no artigo 231e 232, como ele, os senhores conhecem melhor do que eu. Agora, o que nós precisamos é que cumpra a lei. Agora, se depender de negociar com o Prefeito, com o Governador, nós nunca vamos chegar nisso ai. Então, na

48

verdade, a lógica, nós temos que chegar e fazer cumprir a lei. Tem que ser cada terra, nós vamos perguntar, A ou B ou C, nós não vamos chegar em lugar nenhum. Pra provar essa dois, três, um, hoje tem gente que não ta mais vivo, já morreram, lutaram. E nós temos o compromisso, hoje, de lutar, pra que essa Constituição Federal seja cumprida, em favor dos povos indígenas. Os fundiários, os latifundiários chega, mora na Europa, tem um milhão de hectares plantados aqui e comanda esse país. Eu me admiro o Presidente, a Presidente Dilma, uma pessoa forte, admiro a pessoa dela, como mulher forte, hoje parece que recua, com medo de quatro, cinco latifundiários, que são pessoas lá do Sul. Eu sou de Santa Catarina e todo esse pessoal que ta massacrando o pessoal os Terenas.... do Paraná e do próprio estado de Santa Catarina, são o pessoal lá do Sul, que vieram ontem, da Alemanha, do Portugal. Hoje são donos dessa terra. Hoje, a construção se dobra perante à quatro, cinco pessoas. Lamentavelmente um país, que é brasileiro, é nosso e hoje nós temos que ta pedindo pra o governo. Nós só queremos que cumpra a lei... A lei tem que ser cumprida... Então, a lei tem que ser cumprida. Então, é isso que nós pedimos. Ta os companheiros ai, todo mundo sabe. Então, eu acho que as coisas, nós só estamos pedindo. Ao Conselho Nacional de Políticas Indígenas que foi criado, foi pedido, o Presidente Lula aceitou, pra discutir e trazer a demanda dos povos indígenas, aqui para o governo, pra nós ajudar a discutir, priorizar, mas não ficar perguntando pra prefeito. Não, não é esse o objetivo. Nós queremos, aqui, ação do Governo Brasileiro. O Governo Brasileiro conta com quase duzentos milhões de brasileiros. É esse o esforço que nós queremos do Brasil... Desse governo brasileiro, desse governo que nós apoiamos, desse governo que nós fomos pra rua, eu fui pra rua pra ajudar, os povos indígenas foram. São poucos? São poucos sim, mas são verdadeiros brasileiros. É isso que nós temos que respeitar nesse país. Esse país é só melhor do que todos os países do mundo, porque, aqui, os povos indígenas moraram e cuidaram... É por isso que esse Brasil é bonito, por isso que é bom de se viver. E nós, hoje se fala de meio ambiente, mas meio ambiente que puxa pro lado do latifundiário, que toca veneno na água, que toca veneno na terra e não é isso que nós queremos não. Nós queremos respeito e respeito nós devemos ter um ao outro, tanto nós, como latifundiários, tanto povos indígenas, como governos, mas que a lei seja cumprida. Esse é o nosso objetivo. Então, nós queremos que o governo dê resposta, resposta verdadeira. Muito obrigado... Maria Augusta: - Obrigada Brasílio. O próximo é Heliton Gavião. Heliton Gavião: - Bom, eu queria aproveitar esse momento que nós estamos falando, retomando a formação da mesa, e o que me preocupa, Presidenta, eu acho que cada um que falou, referente à formação dessa mesa, do diálogo e negociação, referente a CNPI. Eu acho que CNPI foi instalado com esse objetivo, de ter diálogo com o Governo e não fazer, também, negociação com o governo, eu acho que você entendeu a colocação de cada um e o que, também, me preocupa, o que o governo quer ensinar nós, indígenas, que são lideranças, que faz parte do CNPI, em vez de dialogar com o Congresso, com o Senado, que são as pessoas que ta massacrando, com certeza, os povos indígenas. Nós não precisa Conselho do Governo... Nós não precisa conselho de vocês, que são governo. Nós sabemos o que nós queremos. Nós

49

entendemos o que nós perdemos, durante a invasão, foram as terras. Então não adianta, o Governo, o Ministro, como foi falado ontem por eles, e hoje de manhã também falou a mesma palavra eu ele falou pra nós ontem e deixou a gente preocupado. Eu acho que o Ministro quer ensinar nós. Ele tem que ensinar os parentes deles, que são deputados, senadores, que estão ai, massacrando nós. Não é ensinar nós, indígenas. Eu acho que nós temos que ensinar vocês como é que tem que ser tratada a questão indígena, porque a questão indígena, porque a sociedade branca, que são vocês, que estão ai, massacrando a gente, né? Como foi falado pelo parente, nós apenas queremos o que nós perdemos, o que vocês tomaram da gente, não é o que nós tomamos de vocês. Eu acho que isso tem que deixar bem claro, pra vocês aqui, porque essa do diálogo, com certeza, eu, da minha parte, não aceito não. A gente pode ter diálogo, mas diálogo de negociação, pra mim, não, eu não acato isso não, certo? Essa é a minha palavra. Eu tô tão angustiado, toda a palavra que o Ministro falou ontem e hoje, de manhã, também, pensa que nós somos criança e nós temos que dar conselho pra vocês, que são as pessoas que estão ai, em frente da gestão política, não vocês dar conselho pra gente, certo? Maria Augusta: - Obrigada Heliton. Quem ta me chamando? ... Renato, só um pouquinho, questão de ordem, só um minutinho. O Anastácio estava inscrito e a Chiquinha ta me falando que o documento vai ser lido, nesse momento, então queria pedir pra gente é, interromper, um pouquinho, as inscrições, pelo menos damos a palavra ao Anastácio, que já estava inscrito e fazemos a leitura do documento... Ta. O Anastácio ta abrindo mão. Maria Augusta: - Ta bom. Leitura, então, Chiquinha, por favor... Francisca: - Boa tarde a todos e a todas. Francisca Navantino, do Mato Grosso. Bom, a gente vai ler o documento agora, né? A resposta do trabalho nosso, que a gente fez agora e apresentando a nossa proposta. Brasília, vinte e três de agosto, de dois mil e treze. Senhores e senhoras, membros da Comissão Nacional de Política Indigenista - CNPI e demais convidados e presentes... Considerando o regimento da CNPI, em especial o que trata do objetivo desta comissão, considerando que esta reunião extraordinária tem o objetivo de avançar nas demandas apresentadas, sucessivas vezes, nas últimas reuniões da CNPI e condensadas em carta para a Presidente Dilma, Presidenta Dilma, a qual se comprometeu, com os líderes indígenas, a avançar na implementação dos nossos direitos, inclusive determinando, aos seus ministérios auxiliares e, em especial, ao Ministério da Justiça, maior empenho nesse sentido. Reafirmamos que o tema terra é imprescindível e prioritário aos povos indígenas, mas que, mas tem se apresentado uma série de entraves, investidas de retrocesso, aos direitos territoriais. Considerando que os procedimentos de regularização fundiária das terras indígenas estão respaldadas na Constituição Federal e no Decreto 1775/96, sendo estes os instrumentos legais que devem orientar os procedimentos de demarcatórios, é necessário estabelece prazos e ter a seriedade e responder aos povos indígenas sobre a implementação de seus direitos. Portanto, após receber as informações prestadas pela FUNAI, sobre a questão fundiária, discutir em grupos regionais, analisar a situação administrativa, política e jurídica das

50

terras indígenas, no Brasil, recomendamos que a FUNAI emita, até a próxima reunião da CNPI, proposta para o início de outubro, as portarias de delimitação das três terras indígenas, para as quais não há nenhuma pendência técnica que impeça o avanço do procedimento. A saber, Terra Indígenas Tapeba - Ceará, Terra Indígena Mato Castelhano- Rio Grande do Sul e Terra Indígena Kaxuyana / Tunayana - Pará, outro ponto, que no mesmo prazo, o Ministro da Justiça emita a portarias declaratórias das sete terras indígenas, para as quais não há tendência técnica que impeça o avanço do procedimento, conforme anexo... Outro ponto, que no mesmo prazo, a Presidência da República emita os Decretos de Homologação das quinze terras indígenas, para as quais não há nenhuma pendência técnica que impeça o avanço do procedimento, conforme anexo. Que, no mesmo prazo, a Presidência da República, emita os decretos de desapropriação das duas terras indígenas, para as quais não há nenhuma pendência técnica que impeça o avanço do procedimento, conforme anexo. Que a FUNAI não paralise os 83 estudos de Identificação e Delimitação, que estão em curso, além dos 27 processos de demarcação física e os 42 processos de pagamento de benfeitorias, ver anexo e traga prazos concretos para a finalização de cada um deles na próxima reunião da CNPI. Que a FUNAI traga, na próxima reunião, a lista da totalidade das terras reivindicadas, para as quais não há nenhum processos administrativo instaurado, para que as comparemos c om as nossas próprias listas, também em anexo e estabeleça prazos concretos para a criação de GTs para essas terras. Reiteramos que a metodologia para o avanço, nas mesas de diálogo, já foi acordado em plenária e elas devem ter espaço, na própria CNPI, sem a redução da bancada. Ouvindo que o Governo é contrário à PEC 215 e PLP 227, esperamos empenho para a rejeição destas propostas, no Congresso Nacional, pois, caso aprovadas, podem acabar com os nossos direitos. Da mesma forma, as 19 condicionantes, discutidas pelo STF, no caso Raposa Serra do Sol, não estão julgadas e nem transitadas em julgada, portanto a Portaria 303 da AGU, não faz sentido, devendo ser revogada em definitivo. Como ato simbólico, com os povos indígenas, esperamos um sinal, do Estado brasileiro, que quer ter um diálogo sério e transparente, por isso reiteramos o pedido de criação do Conselho Nacional de Políticas Indigenista, por Decreto Presidencial, seguindo a resolução da última reunião da CNPI, como medida justa e necessária. Atenciosamente, Bancada Indígena da CNPI, a APIB e demais lideranças e organizações indígenas convidadas. Obrigada. ((Aplausos)) Maria Augusta: - Obrigada Chiquinha, pela leitura e obrigada a toda a bancada... Maria Augusta: - A palavra ta aberta, então... Relembrando que tinham duas pessoas pré-inscritas, o Anastácio e o Renato... Anastácio Peralta: - Boa tarde. Meu nome é Anastácio Peralta, Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul... Eu da minha parte ta aprovado o documento, sei que ficou bastante claro e, mas eu queria lembrar um pouco do Dourados, eu acho que, Dourado, você se saiu bem, eu acho que tem que ir ver qual esse diálogo, eu acho que nós ta ai pra isso, mesmo? Esse dialogar e mostrar que a gente somos competentes com o diálogo e não com a violência que a turma

51

trata a gente, mas assim, com uma posição de não mexer no direito, e, talvez a gente foi bastante questionado, talvez, aqui, por ter esse diálogo, no nosso estado, mas nós não negociamos direito... Nós ta negociando diálogo, né? O que é possível fazer, o Estado fazer. Pra começar, nós não entramos nessa, nessa negociação de compra de terra, nós não tem nada a ver com compra de terra, porque foi, o Estado que criou isso, não foi indígena que criou terra e deu escritura, né? Então os Guarani Kaiowá ta claro, eles quer a terra tradicional, onde ta seus ancestrais lá. Então, não tem nada a ver. Então eu acho que nós tem que, talvez, encaminhar o Brasil, né? Com a nossa sabedoria, talvez, da nossa forma, que jeito que um povo indígena encaminha um país, porque esse povo que ta comandando, que vem comandando até hoje, a mentalidade é destruir a natureza, destruir quem estava aqui e nós vamos encaminhar como é que funciona o meio ambiente, a natureza, a água, e as vezes a gente precisa ta junto, mostrar que é possível, porque, no nosso Estado, o próprio governado é o mais violento, mas depois que o Estado marcou presença indígena, ele também sabe que não é daquele jeito, não é com violência que resolve, né? E não e tirando direito, direito é pra ser cumprido, né? Direito não é pra ser negociado e as vezes precisa a gente ir lá, talvez, fazer pressão neles, que nós, porque, assim, quem faz mais pressão é o que leva. Então é importante a presença. Eu, aqui, quero te parabenizar também, que você não vai só, que você vai entrar com 5 e mais 800 vai te esperar lá fora. Então isso é o meio de negociação, agora não negocia direito, direito, de jeito nenhum... assim principalmente, nós, Guarani Kaiowá, não tem nada a ver com dinheiro, que quem fez esse problema, que acerta. Então, o Estado Brasileiro tem que se acertar, agora nós não tem ta achando, agora nós tem que acompanhar, porque a gente não sabe o que acontece. Então, eu acredito, assim, que a CNPI também tem que pensar um pouco como é que a gente conversa isso. Talvez a gente não sabe muito, então a gente, depois que fica com medo de água quente, água fria a gente corre longe. Então a gente ta bastante escaldado de problema de Estado, e o Estado precisa tomar uma posição, agora nós também temos que tomar uma posição, nós negocia, mas não tem que mexer na Constituição Federal, né? Não tem que mexer no nosso Direito. Acho que tudo isso a gente também tem que falar, pra esse governador lá, pra esse pessoal que vai ta lá, falar de cara a cara, mostrar que a gente tem competência de diálogo e defender a Constituição Federal. Era isso minhas palavras. obrigado. Renato: - Bom, boa tarde a todos. Bom, fico pensado, ouvi essa semana ai, ontem, o Ministro falou, falou... Hoje, cedo, também,mais de fato é que eu não tô entendendo que mesa de diálogo que o Governo quer, primeira coisa é isso. Porque, quando o Ministro foi lá em cima e começou a pegar as demandas de questão de terra, pro Governo analisar, demanda temos, muito... E tem demanda na mesa dele, pra ele publicar... Não publicou e nem vai publicar, porque, pelo jeito, ta sendo um jogo de políticos... Cada um tentando segurar sua reeleição ano que vem... Pra não perder seu estado. Enquanto isso, as bases tão lá sofrendo, entendeu? Então, não sei como que vai ser encaminhado, mas, a partir da semana, qualquer índio que morrer por questão de território, a culpa é do Ministro da Justiça, principalmente... Porque o Ministro da Justiça, ele tem obrigação de publicar as portarias e os relatórios e não publica. É preocupante isso. Outra coisa... Agora eu já me preocupei com

52

a questão de outras questões que a gente tem aqui dentro do Governo, eu vou citar uma, que é o GT interministerial da Comissão de Juventude Indígena... Onde a gente vai discutir esse mesmo assunto, Terras, saúde... ou será Sá mais um GT pra vir conversar, gastar nosso tempo... Gastar nosso tempo e não ter nada encaminhado? Preocupante. Outra, acordos em questão de publicar acordos que esta dentro da área, só lhes falar uma coisa, tomem cuidado, porque nós, Tupiniquim e Guarani fizemos um TAC, Termos de Ajustamento de Conduta, entre comunidades, a empresa, Governo. E o Governo fez a parte dele? Não fez. O Governo Federal não fez, a empresa fez... Nosso TAC venceu e a FUNAI não fez o que era pra fazer até 2012, e quem esta no prejuízo? Os povos indígenas, Tupiniquim e Guarani... Então, é preocupante, sim, entendeu? Infelizmente eu achei uma falta de respeito do Ministro da Justiça, porque, se foi acordado, ontem, na parte da manhã e, hoje, na parte da tarde, era pra ele ta aqui na parte da tarde... Se é mesa de dialogo, então, coloque na sua agenda, toda vez que tiver mesa de dialogo, que o seu compromisso é com essa comissão aqui, pra dialogar. Não marcar agendas paralelas, entendeu? Então, vamos pensar, eu acho que é isso mesmo, eu acho que, eu acredito que, daqui pra frente, vai ter que ser mesmo, nós não podemos negociar direito nem negociar terra, não existe se é cinqüenta mil hectares, abaixar pra trinta não. Se a terra é nossa, é nossa, entendeu? Então, outra, como eu já tinha te falado muitas vezes, ainda tenho uma esperança que a FUNAI fortaleça, entendeu? Só que a FUNAI não pode ficar dependendo de publicar relatório só se o Ministro deixar não... Porque você fica a mercê e é a FUNAI que leva a cacetada lá embaixo... Principalmente deles lá dentro das aldeias, porque eles não publica. Essa promessa pra publicar esse relatório do povo Tapeba é desde quando a Marta estava, que quando eu mandei o ofício, cobrando a questão da publicação, ela respondeu: “Vou publicar no dia dezenove de Abril...” desce lideranças de lá pra cá. Publicou? Não, e agora ta assinado e o nosso maior empecilho é o Governador, infelizmente, o Ministro da Justiça, que não quer publicar, que é dever dele. Só isso... Maria Augusta: - Obrigado Renato. O próximo é o Marcos... Marcos Xucurú: - Marcos Xucurú, da Região Nordeste e Leste... Reitero as palavras dos nobres companheiros, que antecederam a fala e apenas pra registrar, também, o nosso posicionamento e não sei se a reunião, que tivemos logo cedo, com o Ministro, estava sendo gravada, ou não, mas a gente, é importante colocar o nosso posicionamento aqui, né? Enquanto bancada da CNPI, representando os povos indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo e uma das indagações feitas, ao Ministro da Justiça, é que, no nosso entendimento, a Portaria 303, ela esta em pleno funcionamento e isso, eu coloquei isso para o Ministro, perguntando, na medida que, hoje se condiciona as demarcações, os relatórios, a publicação desse relatório, a publicação desse relatório, a consulta... Aos municípios e ao Estado... Os governadores, os políticos... Se uma das questões que é trazida na Portaria 303, é justamente, ter essa abertura pra os estados e municípios opinar nas demarcações de terras indígenas. Então, ele nos respondeu que não, mas não estou convencido, sabe Marcelo? Não estou convencido e, se, e como ele colocou ontem de manhã, que precisa criar um mecanismo e que terá e ta estudando uma proposta de portaria, né? Se a 303 que ta suspensa, não tem

53

nenhum valor jurídico e que ta aguardando a decisão do Supremo, mesmo assim, o Supremo decidindo não aprovar as condicionantes, o Ministério da Justiça criar um novo instrumento para, né? Estabelecer as regras de demarcação de terras indígenas no nosso país... Isso foi o que eu entendi ontem, na fala dele, de manhã. Então, de qualquer modo, o Estado Brasileiro... O Executivo, se quer mudar as regras do jogo, a demarcação das terras indígenas, pra quê? A grande pergunta é pra quê? Com o discurso e com a justificativa dos processos sendo judicializados? Essa é a justificativa? Pra mudar, estabelecer as regras, novas regras do jogo? Porque sempre vai haver esse processo de judicializar os processos de terra indígena. E ai, o Decreto 1775, que já abre e já dá as condições pra que os Estados e Municípios conteste, participe do processo? Então, o que nós queremos mais, o quê que o Estado precisa mais? E essa história de dialogar até o final, buscando resolver, mediar os conflitos existentes, aquilo que eu repito, vou repetir, novamente, aquilo que eu disse ontem, esse conflito sempre vai existir. Sempre, porque quando se trata de territórios tradicionais, que foram invadidos, né? Que nós estamos numa grande luta, a mais de quinhentos anos, pra recuperá-los? Vai existir sempre... Vai existir sempre. Esse conflito sempre vai existir. Agora, o que não dá é, para servir como regra, essas mesas de diálogo, de se mediar conflitos, como o que ta acontecendo no Mato Grosso do Sul, acontecendo, o ?? colocou que vai pra Palmeira dos Índios, Alagoas... Porque um pedido, né? Do Fernando Collor e do Renan Calheiros, porque se há conflito, uma terra que tinha mais de trinta mil hectares e já se arrasta, a não sei quantos anos, esse processo e que, hoje, a terra de Xucurú Kariri, são sete mil hectares. Então, dialogar mais o quê? Tapeba, da mesma forma, mas de trinta mil hectares, vem se arrastando não sei quantos anos e vai pra lá, discute pra cá, conversa pra lá, cede ali e olhe, e quem ta cedendo e quem ta sempre cedendo é os povos indígenas. Então, a partir de hoje, chega... Nós não temos mais que ir pra mesa de diálogo, sabe? Pra ta cedendo alguma coisa, não. Esse é o nosso posicionamento e como eu falei pra ele, ontem, se for pra gente morrer, vamos morrer... Vamos morrer, mas vamos morrer lutando e defendendo o nosso território e não vamos abrir mão, mas de forma nenhuma, né? Se o Congresso vai aprovar ou não vai aprovar a PEC 215, a PLP ou qualquer outro projeto, que aprove, agora que vão botar o Exercito, que vai botar a Polícia Federal, que nós vamos fazer a nossa demarcação, nós vamos entrar, nós vamos fazer a demarcação... É que nem ele disse, mas se botar e entrar na justiça, a gente vai lá, com a Polícia Federal e vai desocupar. A gente desocupa, a gente sai hoje e entra amanhã, novamente e nós vamos ficar nessa luta, entra e sai, até resolver esse problema... Não tem outra alternativa, não tem o que dialogar com o governador x, y ou z, porque a gente já sabe, claramente, quais os interesses. O interesse é redução de terra, o interesse é não demarcar terra indígena pra gente. Não tem, não tem diálogo nesse aspecto, né? Nosso posicionamento, temos ai uma lista, que foi apresentada, uma lista de terras, que esta nessa casa, uma lista de terras que precisam, né? Na FUNAI, que precisa ser encaminhada... Assim, também, né? Doutor Paulo Malte, em, na Presidência da República, pra ser homologada. Então, o que a gente precisa é que o Estado Brasileiro cumpra com isso... Façam, né? Pode fazerem, é um papel institucional, não tem que ta conversando com x, y, z, condicionando as demarcações. Por quê? Então, o nosso posicionamento é esse. Nós vamos, estaremos sendo e esta comissão é o espaço, sim, de acompanhamento, de

54

fiscalização, de exercer o papel do controle social e propor, sim, que as políticas sejam de acordo com o que manda a Constituição Brasileira e esta comissão tem este papel, de fazer esse trabalho e nós iremos fazer muito bem e não negociar direitos de forma alguma. Muito obrigado. Maria Augusta: - Obrigada Marquinhos. O próximo inscrito é... Seu Manoel... Manoel Moura: - Boa tarde... Eu tô gostando dessa mesa. É importantíssimo para o povo indígena... Nós precisamos nos educar entre ambas partes... A gente termos essa responsabilidade, muito grande, diante dos nossos povos, diante da sociedade Brasileira... Eu tenho visto... Durante essa época, vários, vários tipos de, de interesses por parte do Governo, né? E também dos povos indígenas, interesse deles é, seu território tradicional, tem nada mais e que seja reconhecido... Normalmente o que nós estamos fragilizados, diante do nosso órgão que esta na frente, a FUNAI, começa a aparecer vários tipos de problema... E este, o fortalecimento da FUNAI, ela tem que se dar no concurso público, diferenciado, com os povos indígenas. Os povos indígenas, eles tem que ocupar algumas regionais, como administradores, que algumas áreas já tem, porque, muitas vezes, a gente vê as pessoas, de fora, que fizeram concurso, chegando na nossa região, parece uma pessoa que veio da rua, assim, um galeloso, um cara que passou no concurso e isso, diante da Presidência da FUNAI, eles tem que ser educados. E tirar toda esse piercings que ele tem pra entrar dentro da área indígena, porque, pra mim, não faz efeito aquilo, parece um... Como dizer, um malandro da rua... Então ele tem que ser limpo, pra poder entrar lá dentro... Ta certo que os povos indígenas, eles tem os seus trajes principais, nas suas regiões, eles ta entrando em outro território, com os costumes diferentes... Por quê que eu tô falando isso? Porque... Quando o homem vê certas coisas, ele copia, então, os nossos jovens, de 14 e 15 anos, eles copiam, começam a copiar essas imagens que eles trazem lá... Então, essa imagem não é adequada para os nossos costumes... E outra coisa, os parlamentares, eles tem que modificar ou nós temos que intensificar para por em prática o artigo que fala sobre nós, brasileiros, né? Nós, povos, somos todos iguais... Perante a Constituição, perante/, quando não ta na constituição, nós não somos iguais, somos diferentes. Isso não ta sendo prático, para nós, brasileiros. Para os índios, para os brasileiros, não ta sendo iguais. Por exemplo, pra nós, povos indígenas, nós somos iguais, nós não somos iguais. Conforme esse artigo que esta referindo, nós não somos iguais. Quando se trata a questão de recursos, nós não somos chamados para negociar, para tratar como vai ser as coisas, pra planejamento, a gente, nós não somos chamados... Várias outras coisas que a gente pode ser referido... Então, esse artigo pra gente, é quase, não é significativo... E outros assuntos, os territórios indígenas, que fica na faixa de fronteira, ela tem que ser muito bem vigiada, pelo Exército, tem que reciclar jovem indígena pra ele poder tomar conta do seu território, porque, do outro lado, da nossa Colômbia, existe, já é outro costume, que vem guerrilha, porque o Exército pensa que é só ele que sabe aquela selva, ele ignora o índio... Então, as comunidades indígenas, dessas regiões que ficam na faixa de fronteira, líderes indígenas tem que ser treinados, pra ele poder tomar conta do seu território, para que não haja nenhum tipo de desvio de biodiversidade que é existente naquela região, nas faixas de fronteira... E essa responsabilidade é nossa, nós vivemos milhares de

55

anos naquela região, na faixa de fronteira do Noroeste Amazônico, como esta chegando diferentes costumes, há esse tipo de conflito... Tráfico, contrabando de armas, contrabando de peixes... E muitas outras coisas que a gente não menciona aqui, para os parentes não ficarem traumatizados... Então, o índio, ele tem que ser aproveitado, pra ele ser vigilante na sua região, nunca pode dizer que índio não vale nada, índio não serve... Nunca pode falar isso. Índio é incapaz... Ainda essa palavra prevalece, ainda. É tanto que hoje de manhã, quem vai fazer negociações é o Presidente da FUNAI e o Ministro, nós vamos fazer negociações, ta, índio fica fora, não vai ficar, então quer dizer, os Artigos anteriores, da Constituição, esta prevalecendo ainda... Que a voz do índio não esta sendo válida... Bem, eu avalio que as coisas chegou até esse nível aqui, mas eu vejo que ta melhorando... E outra, CNPI... Ela tem que ser valorizada. Eu não entendi a palavra do Ministro quando diz da comissão reduzida, não entendi... Eu quero mais clareza possível quando se diz comissão reduzida... No Brasil, existe 332 grupos étnicos, os povos diferentes, com seus costumes diferente e nós já somos reduzidos aqui... Já estamos reduzido, pra representar aqui e o Ministro quer reduzir mais... E ai? Como é que fica? Outros assuntos... Os municípios e os Prefeitos dos municípios alegam com os outros políticos, regionais, dizendo que a FUNAI ta roubando terra, roubou terra do município como se a FUNAI estivesse roubando a terra, como se a FUNAI não fosse um órgão do governo... Como se fosse, a FUNAI, um órgão estrangeiro, roubando terra... Então os povos indígenas tem que estar muito atentos à esse tipo de políticas, que eles falam, ta? Quando eles falam esse tipo de coisa, políticos locais, dos municípios, do estado, eles tão atrapalhando as nossas vidas, eles tão atrapalhando as nossas famílias, estão atrapalhando a tranqüilidade dos povos indígenas, que o estatuto refere, eu não sei qual artigo, mas refere, esta atrapalhando a tranqüilidade dos povos indígenas... E, precisamos que todos esses elementos sejam educados... Essas questões tem que bater bem dentro de uma Universidade... Dentro da Universidade não tem nenhuma disciplina que se trata a questão indígena, não existe... Existe filósofo Marx, filósofo Stanley, Sócrates, filósofo não sei de que, não tem nada a ver com o Brasil... Não tem nada a ver com nossos ensinamentos. Por isso que esta o Brasil desse jeito... O Brasil esta numa situação dessa, assim, porque esta com o ensinamento do comunismo... Ta ai... E nós temos que estar muito alertas, dentro do ensinamento da, das Universidades, lá que sai as invasões indígenas, dentro das Universidades, os políticos que formam lá, dentro daquelas Universidades, vai invadir as terras indígenas. Cadê os professores, cadê o Ministério da Educação? O quê que ta o Ministério da Educação? O quê que ta fazendo? ... Então, então a educação ta em decadência, ta em declínio... Nós estamos já em outro mundo, já não estamos em outro estagio, não estamos em estagio de aperfeiçoamento... A velocidade da comunicação ta muito rápido, transporte ta muito rápido, isso nós temos que nos preocupar... E preocupamos, também, com a nossa terra... E a alimentação, e alimentação esta, esta sendo colocado transgênico dentro da alimentação, vai nas áreas indígenas levar do arroz e outras coisas, macarrão... As doenças que são produzidas lá no, mais um gasto pro Governo... Então, tudo é conseqüência. Isso seria a minha inquietação, dentro das coisas que estão sendo colocadas aqui. Eu tô dando reflexão para todos, para que todos nós possamos refletir de onde esta vindo as conseqüências para nos tratar dessa forma. Então, quando eu cheguei aqui, o grupo estava aqui na frente, os pessoal que vieram lá do

56

Maranhão, pra fazer pressão ao governo, mandei investigar... Quem era aquele povo que estava ali... Muitos eram analfabetos, estavam sendo manipulados pelos políticos. Muitos eram os índios, que passaram necessidade, aqui, em Brasília, comendo mal, dormindo no chão e voltaram com fome... E assim esta sendo tratado e assim esta sendo feito. Mas, eu quero agradecer a todos os colegas, autoridades indígenas e autoridades do Brasil, do Ministério, que estão, aqui, ouvindo. Eu peço desculpa se exagerei em algumas coisas que foi colocado aqui... Muito obrigado. Lindomar Xokó: - Presidente, é questão de ordem. Lindomar Xokó Estado de Sergipe, Região Nordeste. Eu gostaria de pedir a bancada indigenista, indígena, também, pra gente poder ouvir o Governo, porque a nossa proposta já ta clara, já foi bem lida, ai, pela Professora Chiquinha, a gente já debateu isso, né? E já foi lido, então a gente precisa, agora, ouvir do Governo qual é a sua contra proposta ou se vai aceitar essa nossa proposta... Obrigado. Maria Augusta: - Então, se houver acordo, temos inscrito Professora Chiquinha, Letícia, Capitão Potiguara. Se a proposta do Lindomar é que se abra agora a palavra pro Governo... Capitão Potiguara: - Presidenta, a pedido do Lindomar, eu retiro minha inscrição... Maria Augusta: - Claro, passo pra Professora Chiquinha... Francisca: - Eu só gostaria que, antes do Governo falasse, gostaria da fala da Doutora Déborah Duprat Maria Augusta: - Doutora Déborah Francisca: - E retiro a minha fala... Maria Augusta: - Ta bom Professora. Doutora Déborah ta inscrita. Então teríamos o próximo inscrição Marcelo e depois a Doutora Déborah e abriríamos pra bancada do Governo... Marcelo Veiga: - Bom, boa tarde a todos e a todas... Bom, eu não vou entrar nessas questões novamente, nesse debate, eu acho que vocês tiveram bastante tempo e oportunidade pra ouvir os argumentos que o Ministro apresentou, tanto ontem, na abertura da reunião, quanto hoje de manhã... Eu acho, assim, só reforçar alguns pontos, rapidamente. Ele falou, posso ta errado, né? Mas há uma estratégia que foi é, há uma opção de uma estratégia a ser adotada, né? A gente precisa ter, muito claro, qual que é cenário, hoje, em que a gente se movimenta, né? Quais são as forças políticas que, hoje, estão envolvidas nessa disputa. Hoje, a gente, por estar nessa, né? Nesse lócus estratégico, a gente tem essa dimensão bem clara e eu acho, tenho certeza e convicção que o Governo não pode errar a mão e é nesse sentido que o Ministro vem construindo essa estratégia. Não errar a mão é ter noção exata de quais as disputas que estão sendo colocadas, quase são as forças que estão colocadas, também, né? E quais os movimentos que estão se

57

apresentando. Então, diante desse cenário, foi, optou-se por essa estratégia desses diálogos e vou reafirmar aqui, mais uma vez, não é uma mesa de, pra transigir direitos ou pra abrir mão de direitos, viu Marcos? Assim como você falou, eu acho que essa é, esse é um posicionamento que é correto, vocês sempre tem que fazer e sempre tem que cobrar do Governo. Nós nunca vamos fazer mesa, nem é a nossa intenção fazer mesa, intencionando que os indígenas abram mão dos seus direitos, né? Sistematicamente e (secularmente) já abriram tanto mão desses direitos, na história desse país. E eu acho que o maior exemplo de que essas mesas não são pra abrir mão de direitos é a mesa que ta acontecendo no Mato Grosso do Sul. Em nenhum momento da mesa do Mato Grosso do Sul, não sei se o Lindomar ta ai, mas... Bom o... Anastácio estava em algumas reuniões também e em nenhum momento foi colocado, na mesa que haveria a possibilidade de se discutir a área da terra indígena Buriti. A área sempre foram os quinze mil, dezessete mil hectares, né? Dezessete mil hectares que, entre quinze e dezessete mil hectares, mas em nenhum momento foi aberta a possibilidade de se discutir a, a... A área, como um todo e sim a busca por alternativas. Alternativas, por quê? Porque ali a área é conflituosa, ai existem títulos que foram concedidos pelo Estado brasileiro e, paralelamente, existe uma vedação constitucional, que impede o Governo, o Estado Brasileiro a indenizar as terras, porque, pela Constituição, esses títulos são considerados nulos. Então a gente tem que achar uma solução pra isso. A mesa e pra achar solução pra uma situação que, aparentemente, não tem solução, mas tem, porque a gente tem a obrigação, enquanto Governo, de buscar essas alternativas. Agora, não são fáceis, se a gente não sentar numa mesa e discutir todos, a gente não consegue. Porque quê eu to, ai é, desculpe reiterar isso, quando a gente fala em mesa, não são, não é, não vai ser necessário, não vão ser necessárias mesas pra todos os casos, é óbvio que não, né? No caso do Mato Grosso do Sul, era impensável. Eu ouvi, de várias pessoas lá do Estado, de Governo, Governo de Estado, indígena, de produtores rurais, várias pessoas falaram, era inconcebível, a um ano atrás, imaginar uma mesa onde estivesse Governo Federal, Governo Estadual, Ministério Público, Conselho Nacional de Justiça, indígenas e produtores rurais, era impensável estar numa mesa, quanto mais estar numa mesa com uma proposta que fosse viável e que pudesse, e que vai dar resultados. Então, é um pouco nesse sentido a minha fala. Eu entendo todas as colocações de vocês, né? Eu acho que todas essas preocupações a gente já sentiu um pouco, antes, um pouco... Até, eu acho, que um pouco antes dessa reunião, ontem, isso a gente foi sentindo, também e hoje se confirmou. Eu acho que é necessário a gente ter um ambiente de mais tranqüilidade, pra que a gente possa trabalhar e reafirmar esses laços, essas alianças que a gente necessita ter com o movimento indígena. Eu acho que a posição de vocês ficou extremamente clara, hoje, aqui. Esse documento é muito conciso, é objetivo, é direto, né? Hoje o Governo Federal sabe muito bem o que, a partir dessa, dessa manifestação do, das bancadas, enfim, sabe muito bem qual que é o sentido e qual é o caminho que o movimento vai tomar. Essa, esse é um sinal que vocês estão nos dando, esperando outros, pra que a gente tenha uma situação mais tranqüila de trabalho, ta? Com relação, aqui, eu queria agradecer ao Dourado, pela, pelos esforços de diálogo, pela, compreensão da necessidade de estar nessa reunião, de segunda feira, eu acho que vai ser importante vocês estarem lá. E ai, conversando um pouco, aqui, com a

58

Pierlângela e com a Francisca, eu acho que, segunda feira, a gente vai ter já o primeiro sinal, né? Se as coisas, se essa estratégia ta seguindo, ou se é uma estratégia adequada, se é uma estratégia que ta seguindo num caminho apropriado, eu acho que o resultado desse diálogo, segunda feira, já nos vai mostrar muitas coisas, inclusive se, nós, governo, precisamos alterar a nossa estratégia, mudar alguma coisa na nossa estratégia ou manter a nossa estratégia. Eu acho que é fundamental a sua participação, nesse sentido, e a participação da comunidade, nessa reunião, é fundamental, porque todos os elementos que foram exigidos para estar e todas as pessoas exigidas para estar nessa reunião, estarão. Então, se não houver resultado, é porque há má vontade. Se houver resultado, é porque acho que estamos apostando numa, numa alternativa que possa ter sucesso em outras situações também... Com relação ao procedimento demarcatório, que o Marcos colocou, e outros de vocês também, eu vou reafirmar a minha fala, na última reunião da CNPI. Na verdade, nós não vamos alterar o procedimento demarcatório, não é essa a intenção do Governo, até porque, pra alterar o procedimento demarcatório, teríamos que alterar o Decreto um sete, sete cinco e o Decreto 1775 não vai, não será alterado. O que nós vamos é tornar o procedimento demarcatório mias transparente, com a garantia, ampla, do contraditório. Detalhar melhor quais são os procedimentos, todas as fases desse procedimento, porque, hoje, a portaria em vigência, ela dá conta, enfim, da demarcação, mas só que a gente pode melhorar essa, essa portaria, dando o quê? Mais segurança pro procedimento demarcatório. E o quê que significa dar mais segurança pro procedimento demarcatório? Também visando ter menos ações judiciais. Quanto mais seguro for o procedimento demarcatório, menos ações judiciais a gente terá e ai, de novo, quanto mais ações judiciais reiterar, mais tempo essa decisão se prorrogará. Então, a idéia é, justamente, dar mais transparência pro procedimento demarcatório, não, de novo eu vou falar aqui, a idéia do governo não é alterar esse procedimento demarcatório e, sim, dar mais transparência e garantir o amplo contraditório... Com relação à proposta de vocês, pelo o que eu entendi aqui, pelo o que a Francisca leu, tem, então, todas essas demandas, todas essas solicitações e uma sugestão de reunião pro início do mês de outubro, né? Eu acho que, aqui, podemos, eu queria ouvir, também, um pouco a FUNAI, mas eu acho que, em princípio, é um prazo razoável pra que a gente possa encaminhar essas questões pra dentro do governo e, também, trazer, nessa reunião, algumas propostas. Eu acho que essa carta que vocês fizeram, né? Esse documento que vocês produziram, será entregue, aqui, pra todos os colegas de governo, né? É importante que cada um, também, leve isso pra dentro dos seus Ministérios, que debata isso pra dentro dos seus ministérios, porque a gente vai precisar, depois, dialogar, né? Pra ver quais são as possibilidades e o quê que a gente vai poder atender até o dia, até o dia da próxima reunião. Mas, em princípio, eu acho que é viável, sim, essa reunião, no começo do mês de outubro. Então, enfim, fica aqui o nosso compromisso, de encaminhar todas essas demandas. Estamos apostando nessa reunião de segunda feira, eu acho que vai ser um grande, o resultado dessa reunião vai ser o nosso grande divisor de águas, né? Se a gente segue nessa estratégia ou não e estamos aqui, assim, reafirmar, sempre, o papel do governo federal, de abertura, de diálogo e sempre recebendo vocês, como a gente sempre recebeu, com todas as demandas, né? Se alguma outra questão

59

ficou em aberto, eu vou ficar aqui, depois a gente pode, paralelamente, ir tocando cada uma delas. Muito obrigado. .. Maria Augusta: - A próxima inscrita é a Doutora Déborah. Déborah Duprat: - Bom, boa tarde a todas e todos. Eu vou começar, até, com uma questão bem paralela, pra, enfim, chegar ao centro do que eu quero dizer. Há um mês atrás, mais ou menos, nós, da 6ª Câmara, reunimos todos os antropólogos que tinham trabalhado com os grupos indígenas afetados pelo empreendimento Belo Monte. E, a preocupação era com uma condicionante que foi posta e que o empreendedor tinha transformado numa lista, né? Naquela lista que os grupos indígenas pedem e o empreendedor, ao invés de fazer uma política estruturante, fornece aquilo em bens, né? E, enfim, eram vários grupos atingidos e os antropólogos estavam lá. E, em relação à um determinado grupo, os Arawetés, eu achei muito interessante o que foi dito, porque os Arawetés, eles gostam da abundância, né? Por quê? Porque, na hora que morrem, eles acreditam que serão mais perdoados e melhor recebidos ai, em outro reino, quanto mais eles levem, com a morte. Então, aquelas listas, com a quantidade enorme de produtos, era vista, pra eles, como algo que estava sendo dado, porque eles estavam prestes a morrer. Então, era aquilo que eles estavam levando pra morte, ou seja, eles estavam vendo o rio, o final do rio Xingu, como o seu apocalipse. Era um grupo vivendo o seu apocalipse. Porquê que eu conto essa história? Porque eu acho que, nesses processos de disputas territoriais, é preciso nós termos, vir a público, eu acho que essa etnografia do processo, para os povos indígenas, para os vários grupos indígenas. O quê que eles sofrem, ao longo desse processo. Porque é quase natural, pra nossa sociedade, entender o sofrimento daquele colono que ta sentado, lá, a família ta sentada, oitenta, noventa anos e eu entendo, né? Pra mim é muito simples, mas não vem, nessa disputa, essa etnografia do sofrimento que os grupos vêm enfrentando, ao longo desses mesmos oitenta e noventa anos. Falo isso olhando pro Dourado, que eu conheço, eu acho, que há vinte e cinco anos, né Dourado? Mais ou menos, nessa luta ai, da área Tapeba. Penso na Maninha, né? Se ela estivesse viva, o quê que, como ela veria esse ato, em relação aos Xucurú Kariri, né? E choro, hoje, junto com Maninha, porque lembro do quanto começou essa luta e do quanto ela termina, né? Em termos territoriais, enfim, do quê que isso significa. Então, eu acho que a primeira coisa que nós temos que pensar, e isso ai eu falo pra bancada indígena, pra FUNAI, é trazer, no meio desses processos de demarcação, esse relato, essa etnografia de quem fica invisível, né? Fica parecendo o esbulhador, aquele que quer tomar conta do país, retomar todo o território do país. Então, eu acho isso muito importante, porque ai muitas tragédias, que ficam ignoradas, ficam invisíveis, no meio do caminho, né? Uma outra coisa é a respeito do processo de judicialização. Eu digo pra vocês que, e ai eu ouso discordar do Ministro da Justiça, do Ministério da Justiça, eu acho que o que nos resta, na atualidade, é a judicialização dessa questão. Nós não temos mais espaço para vencê-la, no campo político. Se nos olharmos as grandes conquistas anunciadas ontem, todas elas resultaram de decisão judicial. Maraiwatsédé, decisão judicial, Raposa Serra do Sol, decisão judicial, Pataxó Hã- Hã- Hãe decisão judicial, Awa Guajá, decisão judicial e eu acho que, na judicialização do processo, na judicialização dessa política, a gente inverte os

60

termos, ou seja, se nós entramos com a ação, quem tem que negociar, quem tem que procurar alguma negociação são eles. E se, porventura, a negociação for interessante, ela põe termo ao processo, ela acaba com o processo, essa negociação vem pro processo e termina o processo. Então, vamos inverter, né? Essa história e vamos judicializar sim. A 6ª Câmara, no dia 19 de Abril, fez uma audiência pública e, nesse dia, propôs uma série de ações que estavam paralisadas, nos diversos estágios do processo de demarcação. Assume o compromisso, agora, de fazer em relação à esta lista, no que estiver faltando, em relação à esta lista. Nós estamos usando ai o critério, vou ser absolutamente honesta com o governo, estamos usando, ai, o critério da razoável duração do processo, né? Então aquilo que, enfim, extrapolou todo o prazo razoável pare decisão, vai ser judicializado. Então, é o compromisso que nós, do Ministério Público Federal, assumimos em relação à essas áreas em disputa. Por fim, em relação ao fortalecimento da FUNAI, eu acho que o Brasílio falou muito bem, eu acho que outros falaram, a FUNAI é do Governo. Não é só empoderar a FUNAI de recursos humanos e financeiros não, eu acho que é defender a FUNAI e seus agentes. Não é possível que se fale da FUNAI o que se fala no parlamento. Não é possível que seus servidores sejam achincalhados, da maneira como são, no parlamento, e ninguém venha em defesa. Nós temos, hoje, um corpo técnico de excelência, trabalhando, em condições absolutamente, eu diria que é quase um bullying, entendeu? Eles têm medo do que escrevem, ninguém pode trabalhar nessas condições. Alguém, nós estamos esperando atos simbólicos, que eles venham em favor da FUNAI e venham em favor dos seus servidores. Eu acho que não é, mais, possível que aconteça a cena que aconteceu, há dois dias atrás, no Congresso e ninguém defenda a FUNAI. Precisa um servidor, sozinho, ficar ouvindo todas aquelas indignidades, né? Então, eu acho que, enfim, por hora, é o que eu tenho a dizer e, mais uma vez, colocando o Ministério Público Federal para judicializar. Não acredito, mais, no jogo político. ((Aplausos)) Maria Augusta: - Bom, obrigada Doutora Déborah. Nós não temos mais nenhum inscrição. A Teresinha já nos avisa que estamos sendo chamados para o lanche já que, daqui a dez minutos, me parece que o pessoal tem que começar a preparar as coisas pra retirar, pra ir pra um outro, uma outra atividade, não sei. E acho que, podíamos, tem algumas inscrições que ficaram, o pessoal abriu mão, o Lourenço ta pedindo a palavra. Questão de ordem Lourenço, pode falar... Lourenço Krikati: - Não, eu queria, assim, antes que finalize, eu quero deixar pro final, né? Aproveitando a oportunidade, né? Aqui, esse dia, na Comissão Nacional de Política Indigenistas, eu sei que a questão é local, mas, ao mesmo tempo, me passaram a responsabilidade, né? E fazer uma leitura do pedido, né? Da bancada indígena, referente à saúde indígena no estado do Maranhão... Se poderia permitir, né? Sair em votação, né? Pra fazer a leitura, mas só depois, na finalização de tudo e pra fazer essa parte. Maria Augusta: - Perfeito. Então eu vou propor, Lourenço, como tem horário pro lanche, que o pessoal, se todo mundo tiver de acordo de parar pro lanche, a gente para, lancha, volta, faz a leitura, se todos concordarem e todas e ai

61

encaminhamos o tratamento, a resposta da carta e a próxima reunião da CNPI, ta certo? Então vamos pro lanche... Maria Augusta: - Retomando pessoal. Maria Augusta: - Então eu vou passar a palavra pro Lourenço, que é quem estava inscrito pra fazer uma fala sobre a saúde e, depois, faremos o encaminhamento para a próxima reunião, se não houver mais nenhuma proposta de inscrição... Lourenço: - Bom, Lourenço, Krikati, região Amazônica, Maranhão... Bom, é um documento da bancada indígena, só pra ver, aqui, encaminhado, né? Os problemas já, como já é conhecimento de todos, nós fizemos só um rápido, esse documento pequeno, não é grande, então eu vou fazer a leitura. A Comissão Nacional de Política Indígena- CNPI, bancada indígena, né? Brasília, 23 de Agosto, de 2013. Ao excelentíssimo senhor Antônio Alves Secretaria Especial de Saúde Indígena- SESAI, vai também pra Alexandre Padilha, Ministro do Estado de Saúde, Ministério da Saúde. Excelentíssimo senhor Secretário, ao cumprimentá-los, nós, lideranças indígenas, reunidos no Salão Negro do Ministério da Justiça, na 8ª Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Políticas Indigenistas, CNPI, viemos, por meio deste, comunicar ao senhor Secretário que, diante desses fatos que vêm ocorrendo no estado do Maranhão, como mobilização no DISEI Maranhão, com a participação de 350 lideranças indígenas, fechamento de ferrovias, com 500 lideranças indígenas, audiência pública no Congresso Nacional, né? Reunião em São Luís, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil- OAB, tendo a participação de outras lideranças indígenas, de todo o estado do Maranhão e representantes das instituições FUNAI, Ministério Público Federal, Secretaria de Direitos Humanos, Defensoria Pública e representantes de movimentos sociais. Essas ações, que vêm sendo desenvolvidas pelas lideranças indígenas, no estado do Maranhão, tendo apoio da coordenação e articulação das organizações indígenas do Maranhão- COAPIMA, pois, várias vezes, esses indígenas tentaram dialogar e informar a situação de saúde indígena no Maranhão para a SESAI. Como já é do conhecimento de todos essa realidade, o não respeito ao controle social da saúde, a perseguição dos profissionais indígenas e não indígenas de saúde, liderança e o movimento organizado dos povos indígenas do Maranhão, como a COAPIMA e a Associação dos povos indígenas, no estado do Maranhão, continuarão se manifestando e reivindicam, com urgência, o apoio na exoneração do chefe de DISEI Maranhão, senhor Licínio Brito E o chefe da divisão técnica, senhor Antônio Ezídio. Pelo apresentado, somos solidários à reivindicação dos indígenas do Maranhão reiteramos o pedido de afastamento dos servidores acima mencionados, por compreendermos que, só assim, esses impasses serão contornados. Solicitamos, em tempo, que a SESAI, nomeie uma pessoa... De confiança, que tenha sensibilidade, respeito participativo e compartilhado em gestão de saúde indígena, de DISEI Maranhão. Certo de contamos com a vossa compreensão e o pronto atendimento, aproveitamos o ensejo para darmos os votos relevante respeito. Atenciosamente, Assinaturas seguem, de todas as lideranças indígenas, bancada indígena. Bom, essa questão....

62

Maria Augusta: - Obrigada. Bom é, então, não sei se, alguém quer falar? Tem alguma, alguma inscrição de governo? Não? Então, eu acho que a gente pode encaminhar, aqui, a próxima reunião. A proposta que ta sendo colocada, aqui pra nós, é início de outubro, reunião. Eu estava olhando, aqui no calendário, a primeira semana de outubro, ela se inicia numa segunda feira que, na verdade, é dia 30 último mês de setembro, eu acho que poderíamos ficar com esse indicativo de data, né? Pra podermos aproveitar, ainda, a possibilidade de fazermos, ainda, outras reuniões até o fim do ano, porque temos, ai, podemos ter a do mês de Outubro, uma no mês de Novembro, por exemplo, e uma no mês de dezembro. Quantas ordinárias a gente ainda tem Teresinha? Teresinha Maglia: - Fizemos só uma, então, pelo Regimento Interno, são quatro ao ano. Então, essa não conta, né? Porque é extraordinária. Nós ainda teríamos chance de fazer três. Maria Augusta: - Agora, a minha dúvida é só se a próxima reunião, então, nós faríamos ela como uma reunião ordinária ou, novamente, extraordinária? Ordinária? Então, outra dúvida, então, que se coloca, em se fazendo uma reunião ordinária, nós precisaríamos decidir sobre a ampliação da bancada indígena e da própria bancada de governo, né? Porque tem outros membros, também, de Governo, que não estão no formato original das bancadas da CNPI e ser faríamos, teríamos algum problema, Teresinha, em convidar? Teresinha Maglia: - Não, como convidados não tem problema nenhum. Basta a plenária deliberar, não tem problema nenhum. Maria Augusta: - Ta, como convidados, isso. Temos acordo, então, sobre isso? Faríamos uma reunião ordinária, da CNPI, para trabalhar o assunto mesa, continuaríamos a trabalhar a mesa, né? Que são os assuntos que tão pautados e que foram acordados, aqui, durante essa semana, de reunião extraordinária da CNPI, convidaríamos as mesmas, os mesmos participantes que já estão na reunião de hoje, pra integrar e faríamos na semana do dia trinta de/, do dia trinta de setembro e início de Outubro, ta certo? Temos acordo em relação a isso Doutora Déborah? Déborah Duprat: - Augusta, você me permite? Eu não quero interferir, de forma alguma, na data de vocês, a que for mais conveniente pra vocês, só quero dizer que, nessa semana, nós vamos estar, todos os membros da sexta câmara, vão estar reunidos em Santarém, exatamente pra discutir, dentre outras questões, essa de terras, né? São exatamente essas pendências nas diversas fases: Publicação, Portaria Declaratória e Demarcação e Homologação. Então, se houver alguma resposta antecipada, nós gostaríamos de saber, porque nos pouparia, ai, de algumas ações judiciais se, porventura, já houver um acerto aqui, Administrativo... Maria Augusta: - Então, eu acho que essa ponderação da Doutora Déborah é bastante interessante e importante de ser levada em consideração, no agendamento, porque uma ação pode potencializar a outra. Então se a reunião da CNPI tiver algum avanço bom e concreto, em relação ao que vamos discutir, na próxima reunião, e puder contribuir com a reunião do Ministério Público

63

Federal, isso seria importante ou o inverso também, alguma, se, eventualmente, a gente quisesse deixar pra outra semana, aguardando, ai, a reunião do Ministério Público... . Bianca Moura: - Oi. Boa tarde a todos e a todas. Eu acho estratégico a gente fazer a reunião. Desculpa, Bianca, SESAI, Ministério da Saúde. Eu acho estratégico fazer a reunião posterior, até, ou então, porque, se tiver resposta, tem que avaliar bem, se tiver resposta dessa ação, pode potencializar tanto pra cá ou o inverso também, tem que ponderar, porque a judicializar, a ação civil, ela pode nos ajudar, enquanto bancada, pros desdobramentos ou o contrário, se tiver a resposta, já anterior a bancada se reunir, a CNPI, pode até minimizar o que vai acontecer lá em Santarém. Então pra gente avaliar o que é melhor, gente, potencializar, ou seja, a reunião de lá ou a reunião daqui pra os desdobramentos futuros... Mª do Rosário: - Rosário, Ministério do Planejamento. Talvez, se a gente fizesse a reunião na semana seguinte a essa, essa reunião que vai ter, lá em Santarém, talvez fosse melhor. A gente esperaria o resultado... Déborah Duprat: - É, eu acho que seria melhor a reunião da CNPI ser anterior, porque, no caso de se assinar. Enfim, se publicar um relatório, a gente, enfim, é uma ação a menos no judiciário. Eu tenho impressão que seria mais interessante... Maria Augusta: - Então, quem sabe, poderíamos trazer a nossa pra última semana de setembro? Sandro Tuxá: - Não. Nós queríamos ponderar, nós achamos que a segunda feira, primeiro mês de outubro, seria, pra gente, bastante oportuno, porque a gente tem algumas, algumas questões de trabalho já desenvolvidas e a gente entendeu que é, mesmo acontecendo essa ação, lá em Santarém, né? Era importante que prevalecesse as datas. Porque já tinha dado um sinal, pelo ou menos pra gente, e alguns parentes já saíram, convictos que era essa data, entendeu? Agora, pra gente entrar em contato, novamente, ai complica pra gente, sabe Presidenta? E ai, eu queria aproveitar, Presidenta, já que eu tô com a fala, eu estava conversando aqui com o meu, meu Guerreiro, Anastácio Peralta, que é uma pessoa muito ligada à nossa religiosidade e essa reunião da CNPI, a gente tivemos muito ligados ao nosso costume, como falou o capitão, que a gente precisa estar sempre voltado pra essa parte espiritual, né? Fortalecendo a nossa mente, o nosso espírito. E ai, eu queria fazer um pedido à bancada governista e indígena, que, nos favorecer, né? Com uma passagem de ida e vinda pra trazer um pajé, nosso, guarani, pra que ele possa fazer a abertura da próxima reunião da CNPI. A gente ta precisando das forças de nossos pajés, não só pra nós índios, mas, sobretudo, pra bancada do governo também pra ver se, realmente, a gente consiga tocar nos corações, que eu acho que a gente já toca, mas na cabeça, clareando a mente, pra resolver os nossos problemas. Então, eu queria fazer esse pedido, em nome do meu, minha liderança aqui, Anastácio Peralta. E queria saber se vocês poderiam votar, em apreciação, e votar a favor...

64

Maria Augusta: - Bom, então a proposta é trazermos, também, um convidado, um pajé guarani, submeto a aprovação de todos e todas as bancadas da plenária. Há acordo? Temos acordo. Será trazido o nosso pajé. Como é o nome dele Sandro? Pajé Valério.... Maria Augusta: - Bom, obrigada gente. Então vamos manter, então, Doutora Déborah, com esse compromisso de, eu posso ir informando à senhora os andamentos e os passos de tudo que estamos discutindo aqui. Se tivermos bons resultados, terei prazer em ligar, imediatamente, pra comunicar e compartilhar, porque eu tenho certeza que todos nós, aqui, estamos em busca dos mesmos resultados e objetivos, cada um cumprindo o seu papel e buscando avançar e destravar, ai, uma série de coisas que eu acho que, de fato, precisamos dar uma atenção grande e termos ações concretas. Então, minha gente, acertado isso, pergunto se mais alguém tem alguma colocação e, se não houvermos, estamos encerrando então a nossa reunião... Teresinha Maglia: - Com licença. Só lembrar a bancada, tanto governamental quanto indígena, que a ata da última reunião, de 20ª reunião ordinária, ela não ficou pronta, ainda, porque ela foi mandada degravar e ela não ficou pronta. Eu gostaria que a Senhora consultasse o pessoal se nós podemos aprová-la na próxima reunião, tanto a ata da 20ª reunião ordinária, quanto dessa 8ª reunião extraordinária... Maria Augusta: - Aprovamos, então, na próxima reunião, as duas ata. Pois não Capitão. Capitão Potiguara: - Presidente, queria convidar essa bancada, que nós temos uma festa tão bonita, na Paraíba, que é a festa do Camarão, na aldeia Cumarú. Eu acho que na segunda ou na primeira quinzena de setembro. Queria convidar toda a bancada à participar lá, da festa. É muito boa. Maria Augusta: - Obrigada viu Capitão? Pelo convite. Pois não Seu Manuel. Manuel Moura: - Eu quero agradecer todos os companheiros que estão aqui. Autoridades indígenas. E também departamento dos Ministérios, que estão aqui, com muita paciência, ouvindo aos conflitos dos povos indígenas. E outra coisa que eu queria falar pra Presidente, a senhora Presidente, da seguinte forma: Eu espero que as normas, que estão sendo enviadas, pelas administrações regionais, e que a presidência aqui, administração central, funcione as coisas, porque não esta funcionando. Por exemplo, o recurso que tem que cair antes, e não ta caindo, pra gente. Pra mim, eu tô sem recurso, terminou o meu dinheiro, hoje, eu tô no vermelho e, amanhã, eu tô querendo viajar e, até agora, a passagem não chegou ainda... E ai, eu fico conflito com isso, ta? Essas pequenas coisas, que torna muito grande. Tem que avisar pro seu funcionário. Maria Augusta: - Seu Manuel, não, já, eu recebi diversas comunicações sobre questões, situações ruins, que aconteceram na organização dessa CNPI e, como Presidente da FUNAI, aqui, eu queria pedir desculpas a todos e todas que tiveram que passar por alguma dificuldade pra chegar, pra ter suas diárias

65

pagas no prazo estabelecido e regulamentar e já identifiquei o que são os problemas que estão acontecendo internamente e me disponho, aqui, a gente resolver isso antes da próxima reunião da CNPI, ta bom? Mas, me desculpem... Bom minha gente, então eu queria agradecer, também, a presença de todos e todas. Eu acho que nós tivemos momentos bons, durante essa reunião, e tivemos momentos difíceis. E eu saio daqui com a sensação de que estamos... Gente, eu tenho reunião, quem me pediu isso aqui? Ta, eu tenho outra reunião com os Xikrim... Perdi um pouco o raciocínio do que eu estava dizendo, mas eu queria dizer que, em relação às dificuldades que nós tivemos aqui e, principalmente ao que aconteceu em relação à terra indígena Tapeba, é mais uma dificuldade que nós estamos tendo nesse processo, mas eu também não queria que saíssemos daqui com uma sensação de que essa luta esta perdida. Eu tenho confiança e vou fazer meu máximo pra que, segunda feira, a gente tenha, finalmente, essa etapa superada. No que depender de mim, a conversa será franca, a conversa será aberta, expondo o trabalho da FUNAI, expondo os motivos da FUNAI e sem, de qualquer maneira, abrir mão de qualquer direito que não é nossos, que não é do Estado, que é do povo indígena Tapeba, que merece o reconhecimento da terra, que merece a regularização de sua terra. Então, Dourado, prepare-se ai, pra mais uma etapa da nossa luta, estaremos juntos, na segunda feira e, se Deus quiser, vamos estar com isso resolvido, na própria segunda feira. Dourado Tapeba: - Eu queria só agradecer pelo apoio, Maria Augusta, mas essa luta é uma luta milenar, é uma luta até morrer, certo? Nós nunca vamos desistir de lutar por nossos direitos, pela nossa terra, só que não dá, como foi colocado aqui, a nossa terra, 36.000,00 hectares, baixaram pra 18, depois, agora é só 4.000,00, não é nem 5.799.000,00 hectares, certo? Nós não vamos abrir mão mais de nenhum hectare, sequer, dessa terra. Se der pra fazer, do jeito que nós vamos fazer, faz, até porque nós não vamos fugir da judicialização, porque além do Governo, além dos prefeitos, tem outros posseiros que é alto, lá dentro, como a questão dos arrudas, certo? Vai ter judicialização sim, não tem problema, não tem jeito, certo? Mas eu queria dizer que a nossa luta é uma luta eterna, é uma luta de todos, é Pataxó, é Tapeba, é Pitaguary, é Anacé, é Tabajara, é Xavante e Tukano, é um povo só. Então, essa luta é uma luta de nós todos, nós não vamos abrir nunca. Pode vir ruralista, pode vir quem vier, a luta é dos povos indígenas. Até a própria bíblia, ela fala em tribos, as tribos de Judá, tribo de Jacó, Tribo de Jamim e as tribos dos povos indígenas. É isso a luta é nossa e nós vamos para por aqui não. A doutora Déborah, eu queria parabenizar a Doutora Déborah pela fala dela. Eu estava aqui, muito triste, com a fala dela me confortou e eu tenho certeza que o nosso grupo também ta todo confortado e vamos continuar essa luta juntos. Obrigado Doutora. ((Aplausos)) Maria Augusta: - Gente, obrigada. Boa viagem a todas e todos. Até a próxima reunião. Obrigada ao governo também e até a próxima reunião.