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A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO - UM ESTUDO DE CASO Autor: Saulo Pereira de Almeida Titulação: Graduando - UFS Curso: Psicologia E-mail: [email protected] Coautor: Maria Mércia dos Santos Barros Titulação: Graduanda - UFS Curso: Psicologia E-mail: [email protected] Coautor: Ana Carolina Melo Mendonça Titulação: Graduanda - UFS Curso: Psicologia E-mail: [email protected] EIXO TEMÁTICO: 14. Psicologia, Aprendizagem e Educação: aspectos psicopedagógicos e psicossociais.

Atuação No Ensino Médio

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  • A ATUAO DO PSICLOGO ESCOLAR NO ENSINO MDIO - UM

    ESTUDO DE CASO

    Autor: Saulo Pereira de Almeida

    Titulao: Graduando - UFS

    Curso: Psicologia

    E-mail: [email protected]

    Coautor: Maria Mrcia dos Santos Barros

    Titulao: Graduanda - UFS

    Curso: Psicologia

    E-mail: [email protected]

    Coautor: Ana Carolina Melo Mendona

    Titulao: Graduanda - UFS

    Curso: Psicologia

    E-mail: [email protected]

    EIXO TEMTICO:

    14. Psicologia, Aprendizagem e Educao: aspectos psicopedaggicos e psicossociais.

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    Resumo

    O psiclogo escolar tem por objetivo atender s necessidades e dificuldades da populao escolar (alunos, pais e professores). A fim de conhecer essa realidade, foi realizada uma entrevista com uma psicloga de uma escola particular de Aracaju/SE. Os problemas relacionados ao ensino mdio mais freqentes que surgem no servio de psicologia so dvidas caractersticas da prpria adolescncia. Uma preocupao da psicloga no reproduzir um atendimento clnico dentro da escola. Alm disso, observou-se uma preocupao demasiada com a aprovao no vestibular, sendo esta uma prioridade da escola e da psicloga. A contribuio da psicologia dentro do ambiente de ensino fundamental para a construo de novas formas de relao entre ensino e aprendizagem que possam fomentar novas perspectivas sobre a construo, obteno e orientao do conhecimento.

    Palavras-chave: Psiclogo Escolar, Educao, Atuao profissional.

    Abstract

    The school psychologist aims to meet the needs and difficulties of the school population (students, parents and teachers). In order to know this reality, was held an interview with a psychologist in a private school in Aracaju/SE. The frequent problems related to high school that school psychology service questions are characteristics of adolescence itself. One concern of the psychologist is not to reproduce a clinical service within the school. Moreover, there was an excessive concern with the approval of the examinations, which is apriority for the school and the psychologist. The contribution of psychologist in the teaching environment is crucial to building new relationships between teaching and learning that can foster new perspectives on the construction, acquisition of knowledge and guidance.

    Key-words: School Psychologist, Education, professional performance.

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    INTRODUO

    A Psicologia Escolar , segundo Novaes (1978), uma cincia que se dedica a

    comportamentos escolares, atuando nas relaes dinmicas desse ambiente com a finalidade

    de ajudar e melhorar tais relaes. Trata-se de uma cincia que se ocupa da descrio e do

    estudo dos fatos e fenmenos escolares. Segundo Andal (1984), a Psicologia Escolar vem

    sendo considerada at agora como uma rea secundria da Psicologia, vista como

    relativamente simples, no requerendo muito preparo, nem experincia profissional. Essa

    perspectiva talvez provenha do fato de que, historicamente, a rea escolar tenha-se

    caracterizado como um desmembramento da rea clnica, o que gerou a viso de uma

    Psicologia Escolar clnica.

    De acordo Lima (2008), a psicologia se inseriu na educao atravs do movimento da

    Escola Nova na dcada de 30. Tal movimento revolucionou a educao e criou demandas

    especficas para a psicologia no que diz respeito ao desenvolvimento e aprendizagem.

    Posteriormente, com as Escolas Normais pde-se perceber a importncia do fenmeno

    psicolgico para a teoria e prtica educacional, possibilitando, desse modo espao para a

    psicologia escolar nesse meio (MEIRA & ANTUNES, 2003).

    A atuao do psiclogo escolar, de acordo com Reger (1981), se d, a princpio, de

    acordo com um papel educador, e tem como objetivo bsico ajudar a aumentar a qualidade e a

    eficcia do processo educacional atravs de conhecimentos psicolgicos. O psiclogo

    colabora com a escola no planejamento de programas educacionais para os alunos. Prette et al

    (1996 citado por Lima, 2008) considera tambm que o psiclogo contribui para a criao de

    novos cenrios e prticas educativas, transformadoras da realidade social da criana e do

    jovem. A atuao do psiclogo nesse ambiente passou a ter um carter essencialmente social,

    visto que ele articula outras atividades da instituio, como professor, coordenador,

    administrao, e tambm articula contextos extra-escolares, o qual inclui a famlia,

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    comunidade, entre outros, o que resulta em uma produo educacional coletiva. Alm dessas

    funes, os psiclogos escolares fazem intervenes diretas junto aos alunos, em questes,

    como orientao psicopedaggica, sexual, vocacional, programas de desenvolvimento da

    criatividade, de competncias sociais, cognitivas, ecolgicas. Atua tambm junto famlia

    orientando e promovendo atitudes prticas para um maior envolvimento dos pais frente ao

    desempenho escolar, fsico, intelectual e emocional dos seus filhos (Lima, 2008).

    Andal (1984) afirma que os psiclogos escolares tm praticado a clnica dentro da

    escola, usando inclusive testes psicolgicos, como de QI e personalidade, dando diagnsticos

    e orientaes detalhadas, oferecendo um servio de psicoterapia para alunos com problemas.

    A autora coloca ainda que com essa atitude, o psiclogo pode provocar alguns problemas,

    como o risco de discriminar e estigmatizar os alunos que se beneficiam desta forma de

    servio, alm de que o sigilo pode no ser mantido pelos prprios alunos, uma vez que a

    privacidade restrita no ambiente escolar. Vale ressaltar que o psiclogo no deve ser

    considerado como um solucionador de problemas, nem como um divulgador de teorias e

    conhecimentos psicolgicos e nem como algum onipotente. Trata-se de um profissional que

    apresenta, como qualquer outro ser, limites e especificidades, mas que tem como objetivo

    auxiliar a escola a remover os obstculos que se interpem entre os sujeitos e o conhecimento,

    favorecendo o processo de humanizao e de desenvolvimento do pensamento crtico

    (MEIRA & ANTUNES, 2003). De acordo com esse contexto, Andal (1984) defende que a

    abordagem utilizada pelo psiclogo escolar deva ser a de agente de mudanas, em que o

    psiclogo atuaria como um elemento catalisador de reflexes, um conscientizador dos papis

    representados pelos vrios grupos que compem a instituio.

    Em relao ao Servio de Psicologia no ambiente escolar, Novaes (1978) o caracteriza

    pela objetividade da sua estrutura e flexibilidade do seu funcionamento. Segundo o mesmo

    autor, tal servio tem por objetivo principal atender s necessidades e dificuldades da

    populao escolar, a qual composta por alunos, pais e professores. Este deve ainda se

    dedicar na preveno, avaliao e orientao de problemas de aprendizagem e de ajustamento

    escolar, contribuindo para a execuo de programas de testes e planejamento de estudos

    psicolgicos sobre o comportamento e desenvolvimento dos indivduos em processo

    educativo. Vale ressaltar que, apesar da evidente necessidade de um acompanhamento

    psicolgico na escola, a falta de recursos financeiros, de pessoal qualificado e de

    desconhecimento das funes e atribuies do cargo levam os Servios de Psicologia a

    ficarem limitados a algumas atividades urgentes de curto prazo, impossibilitando uma

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    dedicao a atividades de maior alcance, as quais viriam de encontro com as finalidades

    essenciais do psiclogo escolar.

    No que diz respeito ao ingresso na universidade, o qual atualmente mediado pelo

    vestibular, a atuao do psiclogo no enfoque educacional essencial. Seu trabalho consiste,

    entre outros aspectos, na facilitao do processo de escolha do curso pretendido, levando em

    conta a questo da barreira ritualizada que leva abordagem da possibilidade de escolha e

    seus fatores determinantes com nfase na dicotomia escolha idealizada e escolha possvel

    (SOARES, 2000 citado por ROSENBURG, 2006). A escolha de um curso nem sempre se

    afigura uma tarefa fcil, visto que natural e frequente existirem indecises, angstias e

    receios por parte dos alunos. Isso implica uma srie de fatores que devem ser analisados entre

    o aluno e o psiclogo na entrevista de orientao, como, por exemplo, uma discrepncia entre

    as aptides e os interesses, as expectativas do aluno, os desejos dos pais, os quais podem

    acarretar dvidas ao estudante, alm da falta de informao relativa aos cursos e a relao

    destes com o mercado de trabalho (DIAS, 2008).

    Partida (2007), que trabalha h quase dez anos como Psicloga e como Orientadora

    Vocacional em cursos pr-vestibulares, percebeu a dificuldade que os jovens e adolescentes

    enfrentam ao fazerem escolhas, principalmente, em relao sua profisso futura. O primeiro

    questionamento a ser feito sobre a dificuldade apresentada nos dias atuais para concretizar a

    escolha vocacional. Os jovens tm diversas opes e a liberdade para fazer qualquer escolha,

    diferentemente do passado em que tnhamos poucas alternativas profissionais e ainda uma

    interferncia mais presente dos pais. Diante de tal dificuldade, os jovens ficam indecisos.

    Segundo Dias (2008), para que o aluno obtenha sucesso numa determinada rea, necessrio

    que exista para alm dum investimento intelectual, um investimento afetivo e emocional que

    funcione como a alavanca no desejo de aprender.

    Segundo Fierro (1995), a adolescncia um perodo do desenvolvimento humano no

    qual iro se formar mais definidamente a identidade, os padres de comportamento e estilo de

    vida. comum ocorrerem dvidas e questionamentos, necessidade de auto-afirmao e de

    conhecer o novo, desejo de usufruir a liberdade dos adultos, o afastamento da famlia por

    parte do jovem e o estreitamento dos laos afetivos. As dvidas, receios ou mesmo os erros

    nas escolhas fazem parte de uma aprendizagem e de um processo de evoluo caracterstico

    de qualquer ser humano e que atinge uma maior intensidade na fase da adolescncia, por ser

    caracterstica de enormes mudanas fsicas e emocionais num curto espao de tempo (DIAS,

    2008).

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    Na escola, os contedos curriculares asseguram a instruo e apreenso de

    conhecimentos, havendo uma preocupao central com o processo ensino-aprendizagem,

    porm, nos dias atuais, a entrada na universidade pelo vestibular tambm passa a ser um

    objetivo importante. J, na famlia, os objetivos, contedos e mtodos se diferenciam,

    fomentando o processo de socializao, a proteo, as condies bsicas de sobrevivncia e o

    desenvolvimento de seus membros no plano social, cognitivo e afetivo (POLONIA &

    DESSEN, 2005). Do ponto de vista da escola, envolvimento ou participao dos pais na

    educao dos filhos e filhas significa comparecimento s reunies de pais e mestres, ateno

    comunicao escolacasa e, sobretudo, acompanhamento dos deveres de casa e das notas.

    Esse envolvimento pode ser espontneo ou incentivado por polticas da escola ou do sistema

    de ensino (CARVALHO, 2000).

    A relao famliaescola basicamente depende de consenso sobre filosofia e currculo

    (adeso dos pais/mes ao projeto poltico-pedaggico da escola), e de coincidncia entre

    concepes e possibilidades educacionais da famlia e objetivos e prticas escolares. A

    relao famliaescola tambm ser variavelmente afetada pela satisfao ou insatisfao de

    professoras e de mes/pais, e pelo sucesso ou fracasso do/a estudante. (CARVALHO, 2004).

    Segundo Polonia & Dessen (2005), as pesquisas tm demonstrado que os pais esto

    constantemente preocupados e envolvidos com as atividades escolares dos filhos e que

    dirigem a sua ateno avaliao do aproveitamento escolar, sendo isto independente do

    nvel socioeconmico ou escolaridade. Ocorre que famlia e pais no so categorias

    homogneas e as relaes entre famlias e escolas, pais/mes (e outros responsveis) e

    professoras/professores tambm comportam tenses e conflitos. Algumas famlias e pais/mes

    participam mais do que outras; e se as professoras, por um lado, desejam ajuda dos pais, por

    outro lado, se ressentem quando este envolvimento interfere no seu trabalho pedaggico e em

    sua autoridade profissional (CARVALHO, 2004).

    De acordo com Polonia & Dessen (2005), uma das dificuldades na integrao famlia-

    escola que esta ainda no comporta, em seus espaos acadmicos, sociais e de interao, os

    diferentes segmentos da comunidade e, por isso, no possibilita uma distribuio eqitativa

    das competncias e o compartilhar das responsabilidades. Uma dessas responsabilidades seria

    o apoio ou suporte dado pelos pais ou responsveis ao aluno. Segundo Desland e Bertrand

    (2005), a necessidade ou no de superviso aos filhos depende das demandas implcitas ou

    explcitas deles que, por sua vez, esto relacionadas a fatores como idade, independncia,

    autonomia e desempenho como aluno. Alm disso, os pais devem se predispor, referendados

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    pelos filhos, acionando recursos que envolvem a ajuda e o acompanhamento; quando os filhos

    mostram necessidade de trabalharem sozinhos, os pais devem se afastar, reduzindo seu nvel

    de superviso e auxlio s tarefas escolares.

    Considerando-se agora as estratgias para trabalhar com as problemticas relacionadas

    aos alunos, temos as dinmicas de grupo que permitem s crianas e adolescentes

    responderem s necessidades ldicas escassas nos ambientes em que se relacionam, tendo

    como objetivo de integrao entre os membros de um grupo, alm de possibilitar o feedback

    de dados, que uma tcnica de mudana de comportamento para que o indivduo adquira

    maior capacidade de organizar os dados e agir criativamente. Sendo assim, os resultados so

    positivos e satisfatrios no que diz respeito integrao, aprendizagem, motivao, interesse,

    reflexo e conscientizao (Baptista & Baptista, 2001).

    Alm desse tipo de estratgia para lidar com problemas escolares, o Servio de

    Psicologia Escolar deve preocupar-se em aperfeioar as tcnicas de diagnstico escolar,

    procedendo investigao sistemtica do meio scio-econmico, do ambiente familiar, do

    nvel de adaptao e de aproveitamento escolar do aluno, alm das suas caractersticas de

    personalidade, aptides e capacidades especficas. Assim, o conceito de diagnstico na

    educao ampliou-se no sentido de acompanhar os objetivos educacionais, sempre voltados

    para o processo do desenvolvimento integral da personalidade do aluno (LIMA, 2008).

    O objetivo desse estudo foi o de investigar a rotina de trabalho e as tomadas de deciso

    de uma psicloga escolar do ensino mdio em seu contexto de trabalho, procurando pensar

    sobre a prtica do psiclogo escolar e suas problemticas.

    MTODO

    Este trabalho caracteriza-se por ser um estudo de caso. Esta um dos tipos de pesquisa

    qualitativa cujo objeto uma unidade que se analisa profundamente. Evidencia-se como um

    tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho descritivo e o pesquisador no pretende

    intervir sobre a situao, mas d-la a conhecer tal como ela lhe surge. Vale destacar que um

    dos princpios desse mtodo foi considerado para esse estudo que manter-se atento a novos

    elementos que podero surgir, buscando novas respostas e novas indagaes no

    desenvolvimento do seu trabalho.

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    Foi realizada uma entrevista com uma psicloga de uma escola particular localizada na

    cidade de Aracaju/SE. A escola atende desde o ensino infantil at o pr-vestibular. Utilizou-se

    um roteiro de entrevista semi-estruturado com questes abertas, no qual a psicloga pde

    descrever o seu trabalho e o papel do psiclogo na referida instituio de ensino. O udio da

    entrevista foi gravado e posteriormente analisado, juntamente com anotaes feitas no

    momento da entrevista.

    A entrevistada tem formao em Psicologia, especialista em Psicodrama e atua na rea

    de Psicologia Clnica, alm da Psicologia Escolar. Trabalha na referida instituio h dois

    anos, como responsvel pelo Ensino Mdio e Pr-vestibular, visto que a escola possui trs

    psiclogas, sendo que cada uma responsvel por um nvel de ensino, a saber: educao

    infantil, ensino fundamental e ensino mdio.

    Foram abordadas questes como: Quais os problemas mais freqentes que aparecem

    no dia-a-dia da psicloga; Quais projetos so desenvolvidos, quais ainda sero e como

    funcionam; Como feito o trabalho com os alunos; e Como a relao entre a psicologia e a

    coordenao do colgio.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Sobre os problemas mais freqentes que aparecem no dia-a-dia da psicloga do ensino

    mdio, diferentemente dos outros nveis de ensino, so dvidas em relao profisso que

    ser escolhida, sexualidade, uso de drogas, relacionamento afetivo, bem como familiar e com

    os colegas de sala, problemas estes, segundo a psicloga, caractersticos da prpria

    adolescncia.

    Uma preocupao das trs psiclogas de no reproduzir um atendimento clnico

    dentro da escola. Elas prezam por um acolhimento seguido de uma escuta e, ao diagnosticar

    um problema, podem encaminhar o caso para um profissional que possa ajudar o aluno em

    seu problema, como por exemplo, nutricionista, psiquiatra, fonoaudilogo ou mesmo

    psiclogo. Os problemas podem ser inclusive com a escola, como no caso em que o aluno no

    se adapta a metodologia de ensino adotada pelo professor ou no est conseguindo atingir os

    escores para ele ingressar em determinado curso. O trabalho dela mais focalizado em uma

    orientao, a qual se d em mdia de duas a trs sesses para direcionar o aluno para o que for

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    melhor para ele. A atuao da entrevistada condiz com o que proposto ao psiclogo escolar

    realizar em seu contexto de trabalho, pois Darley (1943) afirma que o diagnstico do

    psiclogo da educao est ligado identificao dos problemas especficos, devendo ser,

    primeiramente, encontrado o problema mais freqente naquele meio escolar (econmico,

    social, do professor, etc.), possibilitando, assim, uma orientao e aconselhamento

    apropriados.

    A referida psicloga, em parceria com as outras duas psiclogas da escola, identificou

    que havia uma deficincia no contato entre a psicologia e o corpo docente, pois os trabalhos

    realizados eram totalmente direcionados aos alunos. Para solucionar esse impasse, foi criado

    um projeto intitulado Professor, nosso maior patrimnio que ainda seria colocado em

    prtica. Inicialmente, as psiclogas realizaram uma escuta buscando a demanda dos

    professores e a partir disso, iriam levar profissionais das reas citadas para realizarem um

    curso de capacitao com os docentes. O intuito do projeto que o professor sinta-se melhor

    em seu ambiente de trabalho, mais valorizado e tenha um maior rendimento frente ao alunado.

    Em relao ao trabalho com os alunos, a psicloga disse fazer Orientao Profissional,

    na qual leva profissionais de diversas reas com o intuito de apresentar melhor as atribuies

    destes aos alunos, mostrar como est o mercado de trabalho e a rea de atuao, alm de

    tirarem dvidas, a fim de auxiliar os alunos a decidirem melhor qual a profisso gostariam de

    seguir. comum o jovem se sentir indeciso quanto ao seu futuro e, segundo Dias (2008), isso

    no sinnimo de fracasso ou desinteresse no futuro. Com o auxlio dos pais, os alunos

    podem procurar profissionais especializados que certamente sabero ajudar e orientar nesta

    fase importante da vida.

    Alm disso, a entrevistada disse que so desenvolvidas Dinmicas de Grupo em todas

    as sries para trabalhar problemas interpessoais, inclusive no ensino mdio. Muitas vezes, a

    coordenao sinaliza algum problema da turma e a partir disso, ela monta as dinmicas: a

    primeira mais ldica e na segunda, trabalha-se o problema trazido pela turma ou pelo

    coordenador. Alm destas dinmicas, que surgem de acordo com a demanda espontnea, h

    dinmicas fixas, que so feitas duas vezes por ano em cada turma, uma em cada semestre.

    Os horrios so organizados com os alunos da turma e os professores para que seja conciliado

    um horrio para a dinmica. Muitos alunos comparecem e o feedback normalmente positivo,

    diz a psicloga. Outro projeto relacionado Orientao Profissional consiste em levar os

    alunos do Ensino Mdio e pr-vestibular a conhecerem as profisses in loco, ou seja, lev-los

    para o campo de atuao de profisses diversificadas de acordo com o interesse deles. Como

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    exemplo, os alunos j foram levados em hospitais, obras de engenharia, clnicas, entre outros,

    pois eles muitas vezes escolhem a profisso pelo status desta ou mesmo pelo dinheiro. Sobre a

    discusso de escolha de cursos de maior status, a psicloga afirma: ... importante que o

    aluno veja que a medicina mais que usar um jaleco branco e ficar passeando para cima e

    para baixo com um estetoscpio pendurado no pescoo. Ela explica que avisa em todas as

    salas que esto sendo organizados grupos para a visitao dos locais de trabalho e os que

    estiverem interessados a procuram para participar.

    H outro projeto, voltado para os pais, intitulado Escola de pais, que antes era

    realizado apenas no ensino infantil e em agosto de 2010 ser implementado em todos os

    nveis de ensino. Sero feitas palestras com diversos profissionais para os pais a fim de

    auxili-los em relao educao e o acompanhamento dos filhos. Um exemplo disso seria

    trabalhar com a questo da presso dos pais para que os filhos escolham uma determinada

    profisso, sem levar em conta o que os mesmos querem. As palestras iriam ajudar os pais a

    lidarem melhor com seus filhos, visto que eles podem sugerir e no impor o curso,

    ocasionando, com a imposio, uma perda de tempo, alm do sofrimento psquico. Outro

    objetivo estreitar os laos entre famlia e escola, a fim de proporcionar um melhor

    aprendizado e conforto do aluno. No momento, estavam sendo enviadas circulares para os

    pais para convid-los, alm de serem informados nas reunies de pais.

    O ponto forte da escola, que demonstra a real misso e valores da instituio, a

    preocupao com bons resultados no vestibular, pois o colgio preza pela aprovao. Isso

    pode ser explicado pela ideologia do colgio que, desde sua fundao, almeja os melhores

    resultados nos vestibulares do estado. Estuda-se em funo de uma prova visando aprovao

    ao final do ano letivo ou o sucesso no vestibular. Todo o trabalho escolar realizado no ensino

    mdio direcionado em funo do vestibular. Enquanto o fora da escola estimulante,

    atrativo, cheio de opes que de certa forma esto levando ao conhecimento, leitura e

    escrita, o dentro da escola, ao contrrio, o reino da obrigatoriedade, do desinteressante, do

    instrumental. So esses os sentidos construdos nas enunciaes dos alunos, segundo a

    entrevistada.

    Braga e Monteiro (2005) afirmam que esse movimento causou uma grande revoluo

    no ensino bsico, principalmente no ensino mdio, direcionando o contedo ensinado

    exclusivamente para o interesse da aprovao no vestibular. Isso trouxe alguns benefcios:

    exigiu-se mais do professor; mais dinamismo, competncia, comunicabilidade, organizao e

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    agilidade. Mas, por outro lado, trouxe inmeros prejuzos, transformando a relao

    ensino/aprendizagem em um mero treinamento para se dar bem em uma prova pontual.

    Outra questo fundamental para a coordenao pedaggica so os valores ticos e

    morais, os quais so uma orientao para os professores e psiclogos. H uma preocupao

    com a formao de cidados para que os alunos sejam pessoas ativas na sociedade e no

    meros espectadores da vida. O coordenador pedaggico da escola, segundo a psicloga,

    muito obstinado e preocupado com essas questes. A este respeito, Rosenburg (2006) afirma

    que

    Como no Brasil a admisso na universidade est condicionada

    realizao do exame vestibular, a poca que o antecede caracterizada

    como uma fase de turbulncia e insegurana, porque est ligada

    diretamente ao ingresso do adolescente no mundo adulto e do

    trabalho. Logo, a capacidade de formular projetos de vida, oriunda da

    escolha profissional, deve ser estimulada e diversificada por meio do

    envolvimento em experincias de trabalho, da anlise de informaes

    e da clarificao de valores e ideais, objetivando consolidar no

    indivduo uma atitude ativa, um processo de explorao e de

    investimento com vistas tomada de decises pessoais.

    Em relao s problemticas do colgio, deve-se ressaltar a interao entre a

    coordenao e a psicologia, havendo contato direto para a resoluo de problemas, a fim de

    achar uma soluo para os problemas existentes e atingir o melhor resultado possvel. A

    clientela da escola de alto nvel financeiro e, por isso, tem acesso a diversos meios,

    tornando-se uma preocupao da escola fazer com que o aluno saia bem orientado para a vida.

    H uma boa interao entre a escola, incluindo o setor de psicologia, e a famlia. Ao

    fazerem a matrcula, os pais so levados na sala da psicologia para que tenham maior contato

    com a mesma e, assim, desmitificar que a atuao da psicologia se restringe a rea clnica.

    Alm disso, nas reunies de pais, a psicloga est sempre presente, estando disponvel para

    qualquer dvida. Quando h um problema com o aluno, se necessrio, ela convida os pais

    para uma sesso e at mesmo os encaminha para a terapia, se for o caso. Rego (2003) aponta

    que a escola e a famlia compartilham funes sociais, polticas e educacionais, na medida em

    que contribuem e influenciam a formao do cidado. Ambas so responsveis pela

    transmisso e construo do conhecimento culturalmente organizado, modificando as formas

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    de funcionamento psicolgico, de acordo com as expectativas de cada ambiente. Portanto, a

    famlia e a escola emergem como duas instituies fundamentais para desencadear os

    processos evolutivos das pessoas, atuando como propulsoras ou inibidoras do seu crescimento

    fsico, intelectual, emocional e social (POLONIA & DESSEN, 2005).

    Um ponto contraditrio que acontece na realidade, apoiando-se na literatura, foi a

    questo da preocupao e do envolvimento dos pais, que segundo Polonia & Dessen (2005),

    constante nas atividades escolares dos filhos, (...)independente do nvel socioeconmico ou

    escolaridade. Nos dias de hoje, at os pais que querem estar inteirados do que est

    acontecendo com seus filhos no ambiente escolar. Tal situao possui diversos motivos,

    como: falta de tempo dos pais (citado anteriormente), falta de projetos que engajem a famlia

    com a escola, ou at as atitudes e discursos do aluno que do a entender aos pais que est

    tudo bem na escola, e por isso, o mesmo no necessita de apoio ou ajuda. Estas

    justificativas desconsideram os pais ou responsveis que no se interessam em saber o quo

    bom est o rendimento e as relaes do seu filho no ambiente escolar.

    A psicloga diz no haver projetos voltados para a comunidade. Quando perguntada

    quanto a isso, ela diz que a nica questo discutida no setor de psicologia da escola foram as

    relaes interpessoais do quadro funcional da escola. Porm, as psiclogas consideram ser

    esse um papel da psicologia organizacional e no cabe a elas, psiclogas escolares, realizarem

    essa tarefa. Elas no se eximem em fazer o trabalho, mas acredita que necessrio delimitar

    as reas de atuao do psiclogo, visto que j no compreendido facilmente qual o papel do

    psiclogo. Elas j passaram para o setor financeiro e para a coordenao de que se faz

    necessrio a contratao do psiclogo organizacional, a qual provavelmente ocorra no

    referente ano. Observa-se nessa resposta um desvio do conceito de projetos para

    comunidade, pois os funcionrios do colgio foram considerados indivduos da comunidade,

    sendo o que alvo da pergunta foi a comunidade externa.

    CONSIDERAES FINAIS

    Observou-se uma preocupao demasiada com a aprovao no vestibular, sendo esta

    uma prioridade da escola e, conseqentemente, da psicloga. Percebemos atravs do discurso

    e das atividades promovidas na escola, conforme relatos da psicloga, uma despreocupao

    na postura da prpria escola para com a sua interao e o seu prprio papel social, assim

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    como sua relao com a cultura da comunidade em que est inserida. Assume-se, desse modo,

    uma postura que busca atender uma demanda de cuidados e prticas voltadas para o

    desempenho no vestibular. Sobre esse movimento de direcionamento dos objetivos da escola

    para o vestibular

    Essa questo que hoje atinge a maioria das escolas em nosso Estado, principalmente as

    particulares, nos coloca numa posio de refletir sobre esse modo de construo do ensino.

    Devemos refletir em cima das conseqncias desse tipo de educao sobre o engajamento dos

    futuros cidados e profissionais com as especificidades da cultura local e da sua comunidade.

    Existem ainda, as conseqncias que recaem sobre o desenvolvimento do interesse do aluno

    pelo conhecimento, pela leitura e pelo processo criativo, uma vez que, tambm as suas

    especificidades parecem no ser colocadas entre as prioridades do processo de educao,

    exceto quando essas especificidades podem prejudicar o seu desempenho no vestibular.

    vlido frisar que a contribuio da psicologia dentro do ambiente de ensino

    fundamental para a construo de novas formas de relao entre ensino e aprendizagem, de

    forma que possam fomentar nos alunos, nos professores e na escola novas perspectivas sobre

    a construo, obteno e orientao do conhecimento. Assim, focando sempre as

    especificidades do humano, da comunidade e das relaes, necessrio buscar alimentar um

    interesse genuno e voluntrio de todos para com a experincia do conhecimento.

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