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Atualidades
Neurociência: Primeiro pontapé da Copa 2014 será promovido pela interação cérebro-máquina6
Andréia MartinsDa Novelo Comunicação03/01/201413h42
Se o dia 12 de junho de 2014 é uma data aguardada pelos fãs de futebol, o mesmo vale
para os cientistas. O pontapé inicial da Copa do Mundo será dado por um jovem com
paralisia que usará um exoesqueleto (esqueleto externo) projetado pelo
neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. O projeto recebeu o nome de Andar de
Novo.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Quem possui um corpo sem deficiências tem os movimentos, a ação e reação
coordenados pelo sistema nervoso que emitem comandos para os órgãos e glândulas.
Quando há um problema ou um dano físico, os sinais emitidos pelo sistema nervoso têm
sua passagem interrompida. O exoesqueleto pode reverter a situação por meio da
interação cérebro-máquina.
O exoesqueleto de Nicolelis é uma veste robótica controlada por pensamentos. Ele
funciona através de sensores que captam a atividade elétrica dos neurônios, as células
nervosas, e transformam os pensamentos em comandos. Há outros animais que
possuemesqueletos externos (exoesqueletos), como os insetos .
Os sinais emitidos do sensor localizado nocérebro serão transmitidos em uma unidade
similar a um laptop, carregada pela pessoa em uma mochila. O computador ainda
transmitiria os sinais elétricos cerebrais, enquanto o exoesqueleto estabiliza o corpo da
pessoa e executa o comando. No futuro, a ideia é que pacientes usem a veste como uma
roupa normal, mas que teria inúmeras funcionalidades, como o Homem de Ferro.
Segundo o neurocientista, para que o processo funcione com sucesso, o cérebro precisa
ser retreinado por meio de estímulos que provoquem as reações necessárias para
desencadear os movimentos. Em entrevista, ele descreveu melhor como funcionará a
comunicação entre exoesqueleto e o cérebro.
“Além da veste, o exoesqueleto tem uma mochila, que é a central de controle, que é o
cérebro do exoesqueleto que vai dialogar com o corpo do paciente. Essa central vai
captar os sinais do cérebro do paciente, traduzi-los em sinais digitais para que o
exoesqueleto possa entender e receber os sinais de feedback, que serão transmitidos de
volta ao paciente. Essa veste vai conter todos os motores hidráulicos que vão mover o
exoesqueleto e as baterias, outro componente fundamental, fornecedoras da potência
para o exoesqueleto funcionar”.
As pesquisas de Nicolelis estudam a unidade básica funcional do sistema nervoso
central como sendo uma população difusa de neurônios que interagem em circuitos e
que o cérebro funciona como uma rede dinâmica, integrando diferentes áreas no mesmo
processo.
Conheça alguns mitos e verdades sobre o cérebro22 fotos
15 / 22Os bebês desligam as conexões neurais que não utilizam. VERDADE: eles apresentam um sistema nervoso em franco desenvolvimento. O amadurecimento cerebral depende da carga genética, da nutrição e dos estímulos externos. Se privarmos o pequeno de luz nessa fase, as vias da visão não se desenvolvem adequadamente. O mesmo ocorre com outras privações. "É fundamental nutri-lo, então, com incentivos adequados, inclusive sociais e emocionais, para garantir um desenvolvimento pleno e saudável", ensina o neurologista Leandro Teles. A neurocientista Alessandra Gorgulho concorda. "O cérebro de um recém-nascido ou bebê é como uma esponja: toda informação que chega é absorvida e processada. Conforme o tipo de fomento e a frequência dos mesmos, ele cria mais ou menos sinapses. Assim, menores incitados em sua curiosidade natural, educados em um ambiente onde outros indivíduos lhes dedicam atenção, absorvem mais aquisições e de maneira mais rápida do que uma criança que é negligenciada e, consequentemente, exposta a pouca informação" Leia mais Thinkstock
Testes
A partir dessa ideia, foram realizados testes com macacos rhesus. Eles receberam
implantes de sensores wireless (sem fio) que enviam informações de atividade cerebral
24 horas por dia. Em um dos experimentos, um macaco aprendeu a jogar vídeo game
com controle. Depois de um tempo, o controle foi substituído por um braço robótico
ligado aos sensores no cérebro do macaco. Com isso, ele pode jogar usando apenas seus
impulsos elétricos.
As experiências mostraram que os macacos aprenderam a controlar os movimentos de
ambos os braços de um corpo virtual, também chamado “avatar”, usando apenas a
atividade elétrica do cérebro, comprovando a boa interação entre cérebro-máquina.
Um dos avanços da pesquisa foi mostrar que o sistema somatossensorial, que nos
permite ter sensações em diferentes partes do corpo, pode ser influenciado pela visão.
Ou seja, a mente se mostra capaz de assimilar membros artificiais, como as
neuropróteses, como parte da própria imagem corporal.
Após a Copa, as pesquisas para aperfeiçoar o exoesqueleto continuam, com o objetivo
de levar novas possibilidades a quem precisa de mobilidade, como deficientes físicos
que sofrem de algum tipo de paralisia ou limitações motoras e sensoriais causadas por
lesões permanentes da medula espinhal.
Outros exoesqueletos
Exemplos de exoesqueletos não faltam no mundo da ciência. De modo geral, eles são
pensados para completar a força e a mobilidade humana. As primeiras pesquisas nos
Estados Unidos, na década de 1960, eram voltadas para o campo militar. A ideia era
aumentar a capacidade de carregamento de quem trabalhava nos navios de submarino;
depois, na década seguinte, o exoesqueleto seria pensado para equipar os homens da
infantaria. Atualmente, o Exército norte-americano trabalha na produção de um
exoesqueleto para os soldados, o que traria mais estabilidade e força, elementos vitais
para o combate.
Fora desse contexto, o primeiro projeto de um exoesqueleto foi o SpringWalk, criado
pelo pesquisador do Laboratório de Jatopropulsão da NASA, John Dick, Califórnia
(EUA), no início dos anos 1990. O projeto de Dick cria pernas articuladas, que reduzem
a força dos humanos.
Outros projetos caminham na direção do projeto de Nicolelis. É o caso do HAL (Hybrid
Assistive Limb, ou Membro Assistente Híbrido). Desenvolvido no Japão, esse
exoesqueleto pretende dar mobilidade às pernas. Outra versão mais moderna inclui
todos os membros. Quem usar a veste consegue erguer cinco vezes mais o peso que
consegue carregar. A ideia é que o HAL melhore a mobilidade de paraplégicos e idosos
e ajude trabalhadores que precisam usar a força física a não fazê-lo em nível
prejudicial.
DIRETO AO PONTO
A Copa do Mundo no Brasil em 2014 será iniciada com o pontapé de um jovem paraplégico usando um exoesqueleto. A promessa é do neurocientista Miguel Nicolelis, que trabalha no projeto Andar de Novo.
Com ajuda do exoesqueleto, uma veste robótica controlada por pensamentos, os sensores captam a atividade elétrica dos neurônios e transformam os pensamentos em comandos.
Segundo o neurocientista, para que isso ocorra com sucesso, o cérebro precisa ser novamente treinado por meio de estímulos que provoquem as reações necessárias para desencadear os movimentos.
A invenção já foi pensada para fins militares, para auxiliar em atividades cotidianas em que é necessária a força, e agora pode ser um avanço para levar mobilidade a idosos e pessoas com deficiências físicas.
Bibliografia
Muito Além do Nosso Eu ? A nova neurociência que une cérebro e máquinas, e
como ela pode mudar nossas vidas, Miguel Nicolelis
Atualidades
Insetos na alimentação: Eles podem ser comida do futuro e ajudar a reduzir a fome no mundo?
Carolina CunhaDa Novelo Comunicação10/01/201420h4
Os insetos constituem o maior grupo animal da face da Terra -- há um milhão de
espécies vivas conhecidas de um total de 30 milhões que provavelmente existam. Esses
animais desempenham importante papel ecológico, atuando em diversas
funções: polinizadores, herbívoros, decompositores, predadores e parasitoides. Mas eles
também possuem a fama de serem nojentos, pragas de lavouras e de atrapalhar as
pessoas em dias de calor.
E como alimento dos seres humanos? Sim, já estão pensando nisso. A Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) acredita que o futuro do combate
à fome no mundo está justamente no consumo desses bichinhos.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Recentemente, a FAO publicou um relatório que analisa o potencial dos insetos na
oferta de alimentos para a humanidade. Para a organização, os insetos podem ser
utilizados como reforço na comida de boa parte da população no futuro.
A organização calcula que quase 1 bilhão de pessoas sofram de desnutrição atualmente.
No futuro, o cenário pode ser pior ainda. A população mundial está estimada em 9
bilhões para o ano de 2050. E, para alimentar esse batalhão de gente, a atual produção
de alimentos precisará dobrar.
Mas a expansão das terras cultivadas e a criação de animais não vão acompanhar esse
ritmo. A solução, acreditam os especialistas, estaria nas fazendas de criação de insetos.
Na África, um dos continentes mais atingidos pela fome, 62% dos países têm 500
espécies de insetos comestíveis presente na região, por exemplo.
Comparada à pecuária, a criação desses bichos causaria um impacto ambiental muito
menor. Ela utiliza menos espaço e é mais barata. Além disso, os insetos se reproduzem
em uma velocidade maior e emitem menos gás carbônico (causador doefeito estufa).
Outra possibilidade que esse tipo de cultivo pode abrir é o aumento de renda familiar de
comunidades carentes, uma aposta da FAO, já que eles poderiam ter suas próprias
criações e comercializá-las.
Uma ressalva: uma criação como essa requer a mesma atenção zootécnica que qualquer
outro animal.
E os artrópodes apresentam ainda uma relação eficiente entre ração e carne produzida.
Estudos recentes feitos por um grupo de pesquisadores brasileiros mostram que os
insetos têm mais carne a ser aproveitada e podem converter 2 kg de ração em 1 kg quilo
de massa. No caso do gado, são necessários 8 kg de ração para produzir 1 kg de carne.
Comer insetos, uma questão cultural
A rejeição aos insetos é uma questão cultural. Para muitas pessoas, esse hábito é visto
como um comportamento primitivo, por isso o preconceito. Mas os números podem
surpreender. Atualmente, mais de dois bilhões de pessoas usam os insetos em suas
refeições diárias. A maioria em países do sul da Ásia e regiões tropicais, como América
Central, que abrigam mais de 300 espécies de insetos comestíveis.
O Camboja (sudeste asiático), por exemplo, possui aranhas como iguarias tradicionais; a
China aprecia espetos de grilos e larvas de bicho-da-seda. No México é possível
degustar lagartas, ovos de mosquito, gafanhotos e percevejos, e na Índia, o cupim ao
molho curry é prato popular.
A prática de comer insetos é chamada de entomofagia. Durante séculos, muitos povos
incluíram insetos em seus cardápios. Na Roma e Grécia Antiga eram comuns banquetes
repletos de larvas de besouros e de gafanhotos.
Segundo o último levantamento feito por cientistas, em abril de 2012, existem 1.900
espécies comestíveis de insetos. O maior grupo é o de coleópteros (besouros), com mais
de 400 espécies, seguido por himenópteros (principalmente formigas), com algo em
torno de 300 espécies, ortópteros (gafanhotos e grilos) e lepidópteros (lagartas de
borboletas e mariposas), cada grupo com mais de 200 espécies registradas, além de
cupins, cigarrinhas e moscas, dentre outros.
Os insetos podem ser consumidos em qualquer estágio de desenvolvimento, mas a
maioria dos alimentos para consumo humano envolvem insetos em forma de larva (em
fase de desenvolvimento) ou pupa (estágio do inseto entre a larva e o adulto), etapas que
fazem parte do ciclo dos insetos holometábolos, ou seja, aqueles que apresentam
metamorfose completa durante o seu desenvolvimento.
No Brasil, o “cascudo” mais famoso é a saúva, formiga que pode ser encontrada
principalmente em panelas da região Norte. O hábito é uma herança dos índios
amazônicos e dizem que o gosto lembra o de camarão. Atualmente, apenas uma
empresa localizada em Minas Gerais trabalha com a produção de alimentos à base de
insetos no país e já apresentou um pedido para vender insetos para consumo humano ao
Ministério da Agricultura.
Para acostumar a população a esse tipo de alimento, em 2013, duas redes de
supermercados da França começaram a oferecer produtos testes e rodadas de
degustação. É uma forma de fazer com que as pessoas deixem de ver estranheza num
prato com larvas, minhocas e besouros.
Os benefícios e as vitaminas
Comer insetos não faz mal à saúde dos humanos –nós já utilizamos remédios feitos de
insetos, por exemplo. Esses animais são ricos em proteína, moléculas importantes na
constituição do organismo. A proporção é vantajosa: um corpo de um inseto pode
conter até 80% de proteína (o excesso de proteína deve-se ao sangue de temperatura fria
desses bichinhos). Além disso, eles também são ricos em lipídeos de qualidade
(gordura), fibra, vitaminas e minerais.
O besouro, inseto mais consumido por humanos, por exemplo, possui uma concentração
de ferro mais alta do que um bife de carne bovina. O mineral é um nutriente importante
e sua deficiência pode causar anemia. Já o gafanhoto S. histrio, oferece vitamina D em
níveis semelhantes ao do peixe arenque, ao do fígado de galinha cozido ou à gema do
ovo. A formiga da espécie Atta cephalotes (tanajura ou saúva) também não fica atrás:
possui mais proteínas (42,59 %) do que a carne de frango (23 %) ou bovina (20 %).
Mas cuidado: não dá para adotar essa iguaria no cardápio "caçando" no jardim de casa.
Assim como os animais, os insetos podem estar contaminados ou podem ser focos de
doença e pesticidas. A recomendação é que venham de criadores responsáveis.
DIRETO AO PONTO
Um relatório recente da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), avaliou que os insetos podem ser utilizados como reforço na comida de boa parte da população no futuro. A organização calcula que hoje, quase um bilhão de pessoas sofram de desnutrição. Em 2050, a estimativa é que o mundo tenha 9 bilhões de habitantes. E para alimentar esse batalhão de gente, a atual produção de alimentos precisa dobrar.
O problema é que a expansão das terras para a agricultura e criação de animais não vai acompanhar esse ritmo. A solução estaria nas fazendas de criação de insetos, que seria mais baratas, mais fáceis no quesito estrutural e menos poluente do que as criações de gado.
Atualmente, existem cerca de 1.900 espécies comestíveis de insetos, presentes majoritariamente em regiões da Ásia e de ambiente tropical, como a América Central. Entre os comestíveis, o maior grupo é o de coleópteros (besouros), com mais de 400 espécies, seguido por himenópteros (principalmente formigas), em torno de 300 espécies, ortópteros (gafanhotos e grilos) e lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas), cada grupo com mais de 200 espécies registradas, além de cupins, cigarrinhas e moscas, dentre outros.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
"Insetos comestíveis: uma alternativa de alimento para o futuro?", artigo de Claudio
J. Von Zuben, da UNESP (disponível em:
http://www.rc.unesp.br/biosferas/0037.php)
?Insetos comestíveis: perspectivas futuras para a segurança alimentar e alimentação?,
relatório da ONU de 2013 (disponível em inglês em:
http://www.fao.org/docrep/018/i3253e/i3253e.pdf)
Atualidades
Energia: Exploração de gás e petróleo de xisto deve mudar cenário global4
Carolina CunhaDa Novelo Comunicação21/01/201412h06
O xisto betuminoso é uma rocha sedimentar e porosa, rica em material orgânico. Em
suas camadas, é possível encontrar gás natural semelhante ao derivado do petróleo, que
pode ser destinado para o uso como combustível de carros, geração de eletricidade,
aquecimento de casas e para a atividade industrial. Por se encontrar comprimido, o
processo de extração do gás é complexo e requer alta tecnologia para a perfuração de
zonas profundas, geralmente a mais de mil metros de profundidade. Mas nos últimos
anos, os Estados Unidos, o maior consumidor de energia do mundo, têm investido na
melhoria da tecnologia de extração, o que promete provocar uma revolução na matriz
energética do país – e no mundo.
O movimento dos EUA em busca de outra fonte de energia no futuro caminha na
direção de estudos que apontam uma queda aguda na produção mundial projetada de
petróleo e um aumento na dependência das fontes de combustíveis considerados fósseis
não convencionais (areias oleosas, petróleo de águas ultra-profundas, óleo de xisto) e
não convencionais renováveis, como os bicombustíveis.
Em 2000, a produção norte-americana de gás de xisto era praticamente zero. Desde
2006 as empresas começaram a usar a técnica da fratura hídrica, ou fracking, que
consiste na injeção de toneladas de água, sob altíssima pressão, misturada com areia e
produtos químicos, com o objetivo de quebrar a rocha e liberar o gás nela aprisionado.
Com a nova tecnologia e investimentos, o gás hoje representa 16% da demanda de gás
natural. Somente em 2008, os EUA ampliou a oferta em 50% e está investindo em
novos poços e na produção em larga escala. Em 2035, o país pode tornar-se
autossuficiente com ajuda do xisto.
A reserva americana de gás de xisto foi estimada em 2,7 trilhões de metros cúbicos pela
agência de Informação Energética dos EUA. Essa quantidade é suficiente para abastecer
o mercado por mais de 100 anos. Os EUA também pretendem aumentar a produção de
petróleo no fundo do mar. Isso graças ao avanço na técnica de extração a partir do xisto
betuminoso, o chamado “shale oil” – hoje, a Rússia é o país que mais possui reserva
desse xisto, com 75 bilhões e barris.
A extração também deve mudar o cenário global de energia. Há mais de 50 anos, o
maior fornecedor de recursos petrolíferos do mundo é o Oriente Médio, fato que
determinou em grande parte as relações políticas entre os países membros da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outros países árabes com
alta produção de petróleo com os EUA e Europa.
Essa nova realidade está barateando o preço dos combustíveis nos EUA e já causa
impacto nos mercados econômicos. A produção norte-americana de petróleo de xisto
fará com que o Brasil reduza em 60% as exportações da Petrobras para o país em dois
anos. Em 2013, a empresa vendeu mais para a China do que para os EUA, que durante
anos foi seu maior comprador.
Riscos ambientais são altos
O xisto é considerado o combustível fóssil que menos emite dióxido de carbono. Mas,
assim como o petróleo, a exploração do xisto também oferece riscos ambientais e seus
problemas ainda não são totalmente conhecidos. Embora pareça ser o caminho da
autossuficiência energética para os EUA, por exemplo, sua técnica de extração está
proibida em países como França, Bulgária e Irlanda.
A técnica de extração por fratura hídrica utiliza uma grande quantidade de água e gera
resíduos poluentes. A atividade envolve uma fórmula contendo mais de 600
componentes químicos e emite gás metano (um dos causadores do efeito estufa e
aquecimento global). Um dos riscos mais graves é a contaminação do solo e da água
subterrânea.
Neste processo, pode ocorrer vazamento e as toneladas de água utilizadas podem
retornar para a superfície contaminadas por metais e compostos químicos usados para
facilitar a extração. A ingestão de metano diluído em água, por exemplo, pode causar
sérios problemas de saúde.
Outros riscos são a possibilidade de abalos sísmicos, explosões e incêndios. A
controvérsia ambiental levou diversos países a proibir por lei o uso do método, como a
França, Bulgária, Irlanda, Irlanda do Norte e alguns estados norte-americanos.
Brasil avança na exploração de xisto
No país, a técnica mais comum de extração de combustíveis fósseis é a perfuração de
poços tradicionais em terra ou em alto-mar. A grande aposta brasileira para aumentar a
oferta da matriz energética é a exploração da camada de pré-sal no litoral, o que
promete levar o país a autossuficiência de petróleo e gás.
No Brasil, a exploração do gás xisto já existe em pequena escala, pela técnica de
fraturação. O país detém grandes reservas da camada de rocha e, segundo a agência de
Informação Energética dos EUA, temos a 10ª maior reserva de gás xisto do mundo, com
6,9 trilhões de metros cúbicos, atrás da China, que tem as maiores jazidas globais,
Argentina, Argélia, Estados Unidos, Canadá, México, Austrália, África do Sul e Rússia.
Já a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima que o
país tenha 14,6 trilhões de metros cúbicos de reserva de “shale oil”.
Em novembro de 2013, a ANP leiloou blocos destinados ao mapeamento e extração em
12 Estados (Amazonas, Acre, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Piauí, Mato Grosso, Goiás,
Bahia, Maranhão, Paraná e São Paulo). A arrecadação total foi de R$ 165 milhões, e as
atividades de exploração devem começar em 2014. O Governo Federal está avaliando o
impacto ambiental da tecnologia de fraturação.
Uma das reservas brasileiras de maior potencial situa-se no Paraná, próxima ao
Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios subterrâneos de água potável do
mundo. Enquanto a exploração de xisto no Brasil ainda está no começo, no curto prazo,
especialistas no setor avaliam que a exploração do pré-sal poderia ser afetada pela
queda de preços produzida pelo gás.
DIRETO AO PONTO
O xisto betuminoso é uma rocha sedimentar e porosa, rica em material orgânico. Em suas camadas, é possível encontrar gás natural semelhante ao derivado do petróleo, que pode ser destinado para o uso como combustível de carros, geração de eletricidade, aquecimento de casas e para a atividade industrial. O investimento dos EUA nesse tipo de energia promete provocar uma mudança no cenário, com o país caminhando para uma autossuficiência energética em 2035, reduzindo a dependência de países exportadores.
Com relação ao impacto ambiental, o xisto é considerado o combustível fóssil que menos emite dióxido de carbono. No entanto, assim como o petróleo, a exploração do xisto também oferece riscos ambientais e seus problemas ainda não são totalmente conhecidos. Isso faz com que alguns países proíbam a exploração do gás e gera receio por parte de ambientalistas onde a exploração já está em andamento.
No Brasil, a exploração do gás xisto já existe em pequena escala pela técnica de fraturação. O país detém grandes reservas da camada de rocha e, segundo a agência de Informação Energética dos EUA, temos a 10ª maior reserva de gás xisto do mundo, com 6,9 trilhões de metros cúbicos. Já a estimativa Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o país possui 14,6 trilhões de metros cúbicos de reserva de “shale oil”.
Mas a exploração é pequena, já que a aposta brasileira para aumentar a oferta da matriz energética é a exploração da camada de pré-sal no litoral, o que promete levar o país a autossuficiência de petróleo e gás.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
Geografia e Geopolítica do Petróleo (2012, Mauad X). Organizadores: Frédéric
Monié, Jacob Binsztok
A importância da industrialização do xisto brasileiro frente ao cenário energético
mundial (2010), artigo de Marilin Mariano dos SantosI e Patricia Helena Lara dos
Santos MataiII (Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0370-44672010000400012)
Atualidades
Wikipédia: em fase de declínio, site busca novos editores para compartilhar o conhecimento
COMENTEAndréia MartinsDa Novelo Comunicação27/01/201410h58
Houve um tempo em que o conhecimento era um tipo de bem e era possuído por
poucos. Com a internet e o amplo acesso à informação, criou-se um novo jeito de
compartilhar o conhecimento sobre diversos assuntos. As antigas enciclopédias, livros
que serviam de base e consulta sobre diferentes temas, deram espaço aos mecanismos
de buscas e repositórios online. Entre eles uma enciclopédia digital e aberta a qualquer
um com acesso à internet: a Wikipédia.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
PARA SABER MAIS
Interacionismo simbólico - aplicabilidade: Comunicação e cibercultura
Técnica e tecnologia: Como o homem construiu o conhecimento
Em 2011, quando completou sua primeira década, a Wikipédia contabilizava visitas de
mais de 400 milhões de pessoas por mês, publicações em 271 idiomas e 26 milhões de
acessos. Só a edição em inglês ocupava cerca de 1,5 mil volumes de 500 páginas. A
média de novos artigos criados por dia no site era de 9.000. No entanto, a atual queda no
número de editores colaboradores preocupa os coordenadores do projeto.
O canal que chegou a contabilizar 51.000 editores colaboradores em 2007, seu ápice,
viu esse número cair, e, com isso, a qualidade de seu conteúdo. Em 2013, o número de
editores ativos – que podem ser qualquer usuário -- caiu para 31.000.
O site é feito de forma colaborativa e foi criado com a filosofia de que o conhecimento é
universal. Wikipédia é o termo resultante da junção de wiki, que refere-se a rápido,
veloz, e do sufixo grego pedia, educação.
O conceito wiki foi criado por Ward Cunningham em 1995 e a sua filosofia consiste em
manter um espaço na web completamente aberto, onde qualquer utilizador pode
modificar, estruturar e organizar documentos de diversas formas. É como um trabalho
sempre em progresso. Por esse motivo, a perda de colaboradores afeta o DNA do
projeto.
Declínio
Estudiosos e críticos da enciclopédia aberta dividem-se em dois lados para explicar a
chamada “fase de declínio da Wikipédia”, que já dura seis anos: para uns, as novas
regras e os algoritmos de controle de qualidade implementados em 2007 pode ser
parcialmente o responsável pela queda no número de editores. Para outros, a questão é
que os editores mais antigos já colaboraram com tudo o que podiam, e que agora, é
preciso engajar novos voluntários.
Jimmy Wales, um dos fundadores da Wikipédia, parece concordar com a segunda
opção. Para ele, o projeto precisa de atrair um novo público para fazer progresso.
Algumas iniciativas foram feitas pelo site nesse sentido. Em 2012, uma campanha visou
engajar professores para incrementar o conteúdo. A ideia era que docentes e alunos
pesquisassem, aprimorassem e criassem novos temas e assuntos para inserir na
enciclopédia. Projetos como esse já acontecem em diversas instituições de ensino
superior no Egito, na Rússia, na Índia, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Embora
tenha mostrado resultado, a iniciativa não foi suficiente para manter o número de
editores ativos em alta.
No mesmo ano, alguns editores começaram uma página chamada WikiProject Editor,
com a ideia de criar um espaço para ajudar os recém-chegados e promover um ambiente
mais amigável. Mas a iniciativa acabou gerando queixas de assédio moral entre os
administradores.
Outro problema que envolve o site é a confiança na informação. Para postar conteúdo, o
usuário tem que levar em conta três princípios: a verificabilidade, o princípio da
imparcialidade e o princípio de não-incorporação de pesquisas inéditas. Todas as
informações devem ter suas fontes citadas, de preferência mais de uma, mas nem
sempre funciona assim.
Um dos casos mais famosos é o do escritor Phillip Roth, que teve uma informação
errada sobre um de seus livros publicada no site. Ele entrou em contato com a
Wikipédia que respondeu, pedindo uma fonte secundária para atualizar a informação.
Ou ainda, o questionamento que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), fez sobre seu perfil na enciclopédia, que acabou sendo “trancado” por
um usuário e virou caso de polícia, já que ele não concordou como a disposição de
algumas informações.
A continuação do ritmo de edição da Wikipédia depende agora de um engajamento dos
novos usuários e de como as pessoas enxergam a importância e a responsabilidade de
construir uma enciclopédia colaborativa aberta, gratuita e com informações com
credibilidade. Como atrair voluntários dispostos não apenas a usufruir do serviço, mas a
colaborar com a sua manutenção, parece ser o principal desafio da maior enciclopédia
digital.
DIRETO AO PONTO
A Wikipédia foi lançada em 2001 e, desde então, trouxe uma nova proposta para compartilhar informação e conhecimento. No entanto, o site vive há seis anos uma fase de declínio que preocupa seus criadores.
O canal que chegou a contabilizar 51.000 editores colaboradores em 2007, seu ápice, viu esse número cair, e com isso, a qualidade de seu conteúdo. Em 2013, o número de editores ativos – que podem ser qualquer usuário -- caiu para 31.000.
Em 2011, quando completou sua primeira década, contabilizava visitas de mais de 400 milhões de pessoas ao mês, publicações em 271 idiomas e 26 milhões de acessos. Só a edição em inglês ocuparia cerca de 1,5 mil volumes de 500 páginas.
Críticos se dividem apontando que uma mudança no sistema do site teria provocado a queda no número de voluntários. Para outros, os editores antigos já contribuíram com tudo o que podiam e agora um novo grupo de editores precisa ser formado. Como atrair usuários dispostos não apenas a usufruir do serviço, mas a colaborar com a sua manutenção, é o desafio dos criadores da maior enciclopédia digital.
Andréia Martins é jornalista
Bibliografia
Uma história social do conhecimento, da Enciclopédia a Wikipédia v.2. (2012), de
Peter Burke
Ciberativismo: ativismo nasce nas redes e mobiliza as ruas do mundo
COMENTEAndréia MartinsDa Novelo Comunicação04/02/201412h53
11.set.2012 - Egípcios protestam usando máscaras que simbolizam os hackers dos
Anonymous
Quando você busca apoiar uma causa social, o que faz? Provavelmente uma das
primeiras coisas é acessar a internet: fazer uma doação, compartilhar campanhas e
experiências, assinar uma petição ou confirmar presença em algum protesto. Esses são
alguns dos exemplos de como a rede vem ampliando o ativismo social e político e
criando novas formas de atuação e mobilização, compondo o que é chamado
deciberativismo.
LEIA TAMBÉM
Sexting: Vingança, exposição e a intimidade compartilhada na internet
O ciberativismo é um termo recente e consiste na utilização da internet por grupos
politicamente motivados que buscam difundir informações e reivindicações sem
qualquer elemento intermediário com o objetivo de buscar apoio, debater e trocar
informação, organizar e mobilizar indivíduos para ações, dentro e fora da rede. Com
essas possibilidades, todos podem ser protagonistas de uma causa.
A internet pode ser usada ainda como um canal de comunicação adicional ou para
coordenar ações offline de forma mais eficiente. Além disso, permite a criação de
organizações online, permitindo que grupos tenham sua base de atuação na rede; o que
possibilita ações no próprio ambiente da rede, como ocupações virtuais e a invasão de
sites por hackers.
O autor Sandor Vegh no livro "Classifying forms of online activism: the case of
cyberprotests against the World Bank, de 2003" (o livro, sem tradução brasileira, é
considerado uma referência sobre o tema), comenta que as estratégias de utilização da
internet para o ciberativismo objetivam aprimorar a atuação de grupos, ampliando as
técnicas tradicionais de apoio.
Vegh cita três categorias de atuação do ativismo online: 1) conscientização e promoção
de uma causa (por exemplo, divulgar o outro lado de uma notícia que possa ter afetado a
causa ou uma organização); 2) organização e mobilização (convocar manifestações,
fortalecer ou construir um público); e 3) ação e reação.
Exemplos desse tipo de ativismo vão desde petições online, criação de sites denúncia
sobre uma determinada causa, organização e mobilização de protestos e atos que
aconteçam fora da rede, flashmobs, hackerativismo e o uso de games com uma função
política e social.
Casos recentes
Embora as primeiras formas de ativismo online datem do início da década de
1990,movimentos recentes no Brasil e no mundo vêm mostrando o potencial dessa
nova forma de reorganização.
No Irã, por exemplo, em 2009, o Twitter se mostrou um importante campo de batalha
no ambiente virtual, após a reeleição suspeita de fraude do então presidente Mahmoud
Ahmadinejad, que gerou protestos e confrontos com a polícia iraniana. Com comícios
proibidos, a comunicação cortada, a imprensa local camuflando o ocorrido e jornalistas
estrangeiros proibidos de ficarem no país, os iranianos utilizaram o Twitter e o
YouTube para mostrar ao mundo o que realmente estava acontecendo. Osprotestos da
Primavera Árabe seguiram o mesmo caminho.
Um dos casos mais emblemáticos do século 21 talvez seja o do WikiLeaks, site criado
pelo jornalista Julian Assange que divulgou informações sigilosas de vários países,
principalmente sobre os Estados Unidos e a Guerra do Afeganistão.
O celular e as redes sociais também se mostraram uma poderosa "arma" nos protestos
de junho de 2013 no Brasil. Apostando na dinâmica rede-rua, foi pelo Facebook que os
organizadores do MPL (Movimento Passe Livre) conseguiram a adesão de centenas de
milhares de pessoas, sendo que boa parte delas participou dos protestos nas ruas de
diversas cidades brasileiras. Outro grupo que chamou atenção durante os protestos foi
o Mídia Ninja, cuja atuação foi baseada nas transmissões ao vivo dos protestos pela
internet, enquadrando-se na primeira forma de ciberativismo proposta por Vegh.
Hackers e games
Os hackers também ganharam um papel de destaque dentro do ciberativismo, no que é
chamado de ativismo hacker -- ou hacktivismo, definido com uma prática de hacking,
phreaking ou de criar tecnologias para alcançar um objetivo social ou político. Um dos
principais grupos de hackers ativistas é o Anonymous, criado em 2003, e que ganhou
vertentes por todo o mundo.
Os games também entraram na onda do ativismo. Uma iniciativa interessante nesse
sentido é o site Molleindustria. Com o slogan “Games radicais contra a ditadura do
entretenimento”, o objetivo do site é usar a estética dos games para promover a crítica
social e política. Quem acessar o site irá encontrar jogos sobre pedofilia e padres, a
guerra do petróleo, como gerir uma lanchonete do McDonalds e o mais interessante: o
internauta será sempre colocado numa posição desconfortável, para vivenciar na pele –
mesmo que virtualmente – as mais diversas situações.
DIRETO AO PONTO
Quando você quer apoiar uma causa social, o que você faz? Uma das primeiras
coisas provavelmente é participar pela internet: fazer uma doação, compartilhar campanhas, assinar uma petição ou confirmar presença em algum protesto. Esses são alguns dos exemplos de como a internet vem ampliando o ativismo social e político e criando novas formas de atuação e mobilização, compondo o que é chamado de ciberativismo.
O ciberativismo é um termo recente e consiste na utilização da internet por grupos politicamente motivados, que buscam difundir informações e reivindicações sem qualquer elemento intermediário, com o objetivo de buscar apoio, debater e trocar informação, organizar e mobilizar indivíduos para ações e protestos, dentro e fora da rede.
Sandor Vegh, no livro "Classifying forms of online activism: the case of cyberprotests against the World Bank", expões três categorias de atuação do ativismo online: 1) conscientização e promoção de uma causa; 2) organização e mobilização; e 3) ação e reação.
Exemplos desse tipo de ativismo vão desde petições online, criação de sites denúncia sobre uma determinada causa, organização e mobilização de protestos e atos que aconteçam fora da rede, flashmobs, hackerativismo e o uso de games com uma função política e social.
Andréia Martins é jornalista
Bibliografia
Cypherpunk - Liberdade e o Futuro da Internet (2013), de Julian Assange
Cibercultura (1999), Pierre Lévy
Game-ativismo e a nova esfera pública interconectada (2009), Sergio Amadeu
Espaços de subordinação e contestação nas redes sociais (2012), Giselle Beiguelman
Atualidades
Rolezinhos: Jovens da "nova classe média" colocam em xeque modelo de inclusão social
3Carolina CunhaDa Novelo Comunicação07/02/201418h48
11.jan.2014 - Usuários do Facebook marcaram um "rolezinho" no Shopping Itaquera
É um costume dos adolescentes se reunirem em shoppings para passear. Mas quando
centenas de jovens de periferia começaram a promover encontros em shopping centers
de São Paulo, em dezembro do ano passado, os chamados “rolezinhos” viraram caso de
polícia e ganharam repercussão nacional. Além da discussão sobre a adequação ou não
do local para essas reuniões, os rolezinhos também levantaram outra questão: a relação
entre e inclusão social desses jovens e o consumo.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
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A palavra “rolê” é uma gíria associada a dar uma volta e se divertir. Os primeiros
rolezinhos aconteceram em dezembro de 2013, organizados por cantores de funk, em
resposta à aprovação de um projeto de lei que proibia bailes nas ruas de São Paulo
(proposta que depois foi vetada pelo prefeito Fernando Haddad).
Depois, MC’s passaram a promover encontros ao vivo com suas fãs, seguidos pelos
“famosinhos”, pessoas com milhares de seguidores nas redes sociais, que também
entraram na onda e levaram seus fãs do Facebook aos shoppings. O objetivo era
conhecer gente nova, ser visto, paquerar, se divertir e escutar funk ostentação, gênero
musical que mistura batidas de funk a letras sobre consumo e marcas de luxo.
A situação que fugia da rotina habitual desses centros comerciais causou pânico. Um
dos primeiros rolezinhos aconteceu em 7 de dezembro, no shopping Metrô Itaquera,
zona leste da capital paulista. Convocado pelo Facebook, o evento reuniu 6.000 jovens
no estacionamento. Por denúncias de furto e temendo um arrastão, lojistas acionaram a
polícia e o shopping fechou as portas mais cedo.
No dia 11 de janeiro, novamente no shopping Itaquera, um grupo de mil pessoas que se
reunia para um rolezinho foi reprimido pela PM, que chegou a usar bombas de gás
lacrimogêneo, bala de borracha e spray de pimenta. Houve correria, pânico e denúncias
de furto.
Diante da divulgação de que ocorreria um rolezinho no local, o shopping JK Iguatemi,
um dos mais sofisticados da capital paulista, conseguiu liminar na Justiça proibindo o
acesso de menores desacompanhados e multa para quem promovesse a mobilização. O
encontro não chegou a acontecer, mas a checagem de documentos pelos seguranças para
evitar o acesso causou polêmica.
Pela lei, nenhum tipo de estabelecimento comercial pode adotar medidas de
discriminação para evitar o acesso de pessoas. É proibida qualquer seleção de
consumidores a partir de critérios como raça, origem social, idade ou orientação sexual.
Caso o local tome esta atitude, pode receber processos judiciais. O shopping pode
adotar medidas de segurança, como limitar o número de pessoas e coibir condutas
ilegais como o uso de drogas e violência.
Durante os rolezinhos de dezembro e início de janeiro, a Associação Brasileira de
Lojistas de Shopping contabilizou uma queda de 25% no movimento dos
estabelecimentos envolvidos. Com medo, muita gente evitou esses lugares. Já o
fechamento das lojas e a seleção nos shoppings despertou um debate nacional sobre
violência e segregação racial e social. Houve até “rolezinhos de universitários”,
protestos de manifestantes com viés político que questionam as atitudes dos shoppings.
Democratização do consumo?
Os encontros e as reações e eles ganharam diferentes interpretações: seriam um pretexto
para fazer baderna e confusão, gerando prejuízos financeiros e de imagem para os
centros comerciais; reflexo da falta de espaços públicos e de convivência segura para os
jovens, que veem no shopping sua única saída; e, ainda, como uma demonstração de
desigualdade e elitismo da sociedade brasileira.
Esse incômodo estaria relacionado à democratização do consumo, reflexo da ascensão
da classe C no país. Os espaços tradicionais de consumo, que antes eram exclusivos de
uma classe mais abastada, agora são cada vez mais ocupados por classes emergentes. É
a inserção social pelo consumo.
Segundo o Instituto Data Popular, que traçou um retrato dos jovens que participam dos
rolezinhos, eles pertencem fundamentalmente à classe C e têm potencial de consumo
(R$ 129 bilhões por mês) maior do que as classes A, B e D juntas (R$ 99 bilhões por
mês).
Quanto ao perfil dos consumidores que frequentam shoppings brasileiros ele pode ser
dividido em 22% de classe A, 41% da B e 37% da C. Segundo o último censo da
Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers), os jovens da classe C são
maioria dos consumidores nesses estabelecimentos.
Ir ao shopping é se integrar
“Tudo começou como distração e diversão: se arrumar, sair, se vestir bem. Existe toda
uma relação com as marcas e com o consumo, num processo de afirmação social e
apropriação de espaços urbanos. Ir ao shopping é se integrar, pertencer à sociedade de
consumo”, avalia a antropóloga e professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra,
Rosana Pinheiro-Machado, ao comentar sobre a relação de inclusão social que os jovens
veem nesse novo poder de compra.
Os números acima também refletem a ascensão de consumo que a classe C teve nos
últimos dez anos -- chamada de “nova classe C”. A nomenclatura teve seu marco com a
pesquisa intitulada "Nova classe média", realizada pela FGV (Fundação Getúlio
Vargas) e divulgada em agosto de 2008. Essa "nova classe média", ou "nova classe C",
tem uma renda entre R$1.064,00 e R$ 4.561,00 e abriga 52,67% da população, o
equivalente a quase 98 milhões de pessoas.
Houve também aumento do salário mínimo, a diminuição do desemprego, o aumento da
linha de crédito (parcelamento pelo cartão) e a diminuição de impostos de algumas
mercadorias pelo Governo. Outras facetas desse grupo são a facilidade do acesso à
internet e aumento da possibilidade de frequentar uma universidade.
Como resultado, os filhos da chamada “nova classe média brasileira” agora têm acesso a
produtos que antes não podiam comprar e valorizam produtos mais sofisticados.
E o que eles querem consumir?
A maioria dos jovens, segundo o instituto, deseja comprar produtos eletrônicos e a
roupas da moda que geram status e prestígio. A pesquisa revelou que 15% pretendem
comprar um notebook, 11% querem adquirir um smartphone e 11% um tablet. Bonés,
roupas e tênis de grife também estão entre os itens desejados. Os adolescentes da nova
classe C chegam a gastar R$ 1.000 em um tênis, e mesmo assim, algumas marcas não
querem sua imagem associada a esse público.
Para os shoppings, a questão dos rolezinhos será resolvida de duas formas. Uns vão
fechar as portas em caso de aglomeração, outros, como o Shopping Itaquera,
sinalizaram atitude diferente. Foi acertado que o shopping será informado sobre os
encontros, não para impedir, mas organizar melhor o evento. Já o Governo Federal
promete planejar novas políticas públicas para a juventude, em conjunto com os
Estados. Além disso, está monitorando a internet e prepara forças policiais caso os
rolezinhos fujam do controle.
Políticas públicas
No entanto, observadores apontam que o fenômeno dos rolezinhos coloca em xeque
outras áreas e demandas sociais, como educação, saúde e esporte, que não apareceram
na pauta das soluções para evitar a multidão nos shoppings (em 2014, o Brasil deve
ganhar mais 40 shoppings).
“A inclusão dos últimos anos foi em boa medida um aumento do poder de compra a
crédito. Os pobres compram mais – o que é ótimo, porque eles tinham e ainda têm
acesso limitado a vários bens que asseguram o conforto. Mas esse foi o eixo mais
marcante da inclusão. Embora a educação esteja melhorando, a dupla do bem – que
seria o mix de educação e cultura, e o de saúde e atividade física – não desperta igual
atenção nem gera resultados rápidos”, escreve o filósofo Renato Janine Ribeiro no
artigo “A inclusão social pelo consumo”.
DIRETO AO PONTO
Adolescentes sempre se reuniram em shoppings para passear e se encontrar. Mas quando centenas de jovens de periferia começaram a promover encontros em shopping sentir de São Paulo, em dezembro do ano passado, os chamados “rolezinhos” viraram caso de polícia e ganharam repercussão nacional. Além da discussão sobre a adequação ou não do local para estas reuniões, os rolezinhos também apontaram para a relação entre e inclusão social desses jovens e o consumo.
Para muitos, os encontros não passam de um pretexto para fazer baderna e confusão. Outros defendem que faltam espaços públicos e de convivência para os jovens, que veem no shopping sua única saída. Por outro lado, a tentativa de evitar os rolezinhos refletiria um incômodo com a democratização do consumo, reflexo da ascensão da classe C. Os espaços de consumo, que antes eram exclusivos para a elite, agora são ocupados por novas classes emergentes.
O Instituto Data Popular traçou um perfil dos jovens que participam dos rolezinhos. Eles pertencem fundamentalmente à classe C e têm potencial de consumo (R$ 129
bilhões por mês) maior do que as classes A, B e D juntas (R$ 99 bilhões por mês). Esses números refletem a ascensão de consumo que a classe C teve nos últimos dez anos.
No caso desses jovens, o consumo parece ser visto por eles como um caminho para a inclusão social. Esses jovens agora têm a oportunidade de comprar bens que antes eram inacessíveis, e assim, se veem integrados a um grupo social do qual não pertencem quando o assunto é educação, saúde, emprego e esporte.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
Nova classe média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira, Marcio
Pochmann (2012, Boitempo)
Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias, Zygmunt Bauman
(2008, Zahar)
A nova classe média: O Lado Brilhante dos Pobres, Marcelo Neri (2010, FGV/CPS)
O Luxo Eterno - Da idade do sagrado ao tempo das marcas, Gilles Lipovetsky e
Elyette Roux, (Companhia das Letras)
Flash mob: Práticas midiáticas e a experiência do estranhamento nos não-lugares da
cidade, Fernando Gil Paiva Martins e Yuji Gushiken (2011)
Documentário Funk Ostentação, de Kondzilla e 3K Montana
Atualidades
Faça você mesmo: impressoras 3D prometem revolução na medicina, na ciência e no dia a dia
3Carolina CunhaDa Novelo Comunicação14/02/201411h01
Crânio feito com impressora 3D; equipamento está começando a ser usando para criar
ossos e até vasos sanguíneos
Imagine que você queira comprar um tênis novo. Logo você acessa seu computador e
imprime o par, podendo passear com eles uma hora depois. Parece cena de ficção
científica? Não para a tecnologia de impressão 3D, inovação que possibilita criar
objetos de verdade diretamente do computador.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Se a impressora tradicional usa tinta em uma superfície plana, a 3D fabrica objetos reais
em três dimensões e que você pode segurar na mão. Os materiais para impressão são os
mais variados. Borracha, plástico, resina, metal, gesso, cera, tecidos, cerâmica e papel.
Num futuro próximo, qualquer pessoa poderá imprimir de tudo em casa.
A tecnologia existe desde 1986, mas o processo era muito caro e foi usado pela
indústria, principalmente, na manufatura de protótipos para produtos. Somente a partir
de 2009 é que os primeiros modelos de prototipagem rápida começaram a ser vendidos
a preços mais acessíveis
COMO FUNCIONA
Modelagem 3D - Usando um software de modelagem 3D (como os sistemas CAD), um designer cria um modelo virtual do objeto. Na internet, há modelos prontos para download
Processamento da informação -A partir de cálculos matemáticos, um programa divide a imagem em centenas de camadas de cerca de 0,1 mm e gera informações detalhadas sobre cada corte transversal e envia a informação para a impressora
Impressão - A impressão é feita sob uma base, camada por camada, até a peça estar completamente formada. Uma reação química garante a estabilidade do material à manipulação. O tempo de fabricação pode ser de poucos minutos a algumas horas
No Brasil, a primeira impressora 3D foi fabricada em 2012, totalmente nacional. A
máquina usa um filamento plástico como matéria prima para criar objetos.
As possibilidades de uso dessa tecnologia são infinitas e a criatividade não tem limites
para quem busca criar itens personalizados. Nos Estados Unidos, onde a tecnologia é
uma febre, quase tudo já foi impresso: chaves, escovas de dente, canecas, peças de
xadrez, tênis, sapatos de plástico, máscaras, bonecos, tabletes de chocolates, vestidos e
instrumentos musicais.
Muitas dessas invenções podem ser vistas no site Thingiverse.com, uma comunidade de
criadores de produtos impressos na impressora 3D. Cada usuário pode criar um objeto e
disponibilizar o arquivo de código aberto para outros internautas. O site já oferece mais
de 100 mil itens para download.
Na arquitetura, a criação de maquetes em 3D com perfeição de escala e repleta de
detalhes já é rotina em muitos escritórios. Uma empresa do setor chegou a criar uma
máquina gigante chamada D-Shape, que pode construir uma casa sem a necessidade de
intervenção humana. Fãs do automobilismo, como o apresentador de TV Jay Leno,
usam suas impressoras para criar peças de carros antigos que não são mais vendidas no
mercado. Cientistas brasileiros que estudam esqueletos fósseis já digitalizam e fazem
moldes do material para visualizar e estudar melhor as estruturas internas.
Impacto nos negócios e a polêmica impressão de armas
A cultura do “faça você mesmo”, onde qualquer um pode fabricar um produto real veio
para ficar. A lógica é simples: se você pode imaginar e desenhar algo, a impressora
pode construí-lo. É o cenário de liberdade criativa ideal para quem quer despertar o lado
“designer” ou “engenheiro”.
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Essa nova realidade também vai gerar impacto nos negócios. Para as empresas, isso
significa que o processo da fabricação à entrega final ao consumidor pode ser tão
simples como vender um arquivo pela internet, já que os próprios consumidores
poderiam imprimir o artefato. Isso poderia baratear os custos de produtos e aumentar a
possibilidade de personalização.
Por outro lado, muitas empresas já começam a se preocupar com a “pirataria 3D”, na
qual pessoas copiam produtos e os imprimem de forma caseira. Seria algo semelhante
ao impacto que as gravadoras tiveram com a concorrência dos arquivos de música
digital. A fabricante de brinquedos LEGO é uma das que já se preocupam com o
problema. Réplicas de seus bloquinhos de plástico já são populares entre os entusiastas
da impressão 3D.
A fabricação de objetos polêmicos e perigosos também é outro problema. Em 2013, o
americano Cody R. Wilson criou na sua impressora 3D um rifle capaz de fazer até 600
disparos. Este ano, uma empresa americana conseguiu “imprimir” uma pistola de metal
que foi utilizada com êxito. O governo americano chegou a proibir o download de
arquivos para essa finalidade, mas não de forma permanente.
Revolução na medicina e na ciência
Uma das áreas mais beneficiadas pela tecnologia é a medicina, que pode produzir
materiais de alta precisão com as medidas exatas do paciente. Próteses que simulam
órgãos são cada vez mais usadas em diagnósticos, como moldes de arcada dentária,
narizes e ossos.
Os médicos também testam próteses para auxiliar nos tratamentos e lesões, como as
próteses ortopédicas. Nos EUA, uma idosa está usando uma mandíbula feita por
impressão 3D e um bebê recebeu uma prótese de polímero para usar na traqueia. Graças
ao método, ele consegue respirar naturalmente.
Mas os cientistas querem ir além. No futuro, a previsão é que as máquinas comecem a
produzir órgãos e tecidos humanos, como rins, bexigas e vasos sanguíneos que seriam
usados em implantes. Chamada de bioimpressão, essa linha de pesquisa vem
conquistando resultados positivos. Segundo a consultoria Gartner, essa área tem muito
potencial, mas deve levar pelo menos dez anos para atingir seu maior grau de
maturidade.
No Brasil, a Unicamp (Universidade de Campinas) já estuda a impressão em três
dimensões para criar estruturas em que tecidos são reconstruídos na medida ideal para o
paciente. Em 2013, um laboratório britânico criou um material sintético similar a
tecidos vivos, que poderia ter aplicações médicas e substituir possíveis tecidos
danificados no organismo.
Outro campo de estudos é a robótica. Pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of
Technology) buscam produzir robôs a um custo baixo e que sejam capazes de realizar
atividades pré-estabelecidas. As pessoas poderiam “imprimir” os robôs em casa para
que eles ajudassem nas tarefas domésticas.
A NASA gostou da novidade e estuda testar uma impressora 3D no espaço. A máquina
terá o tamanho de uma torradeira e deverá produzir ferramentas e peças de reposição
nos laboratórios da Estação Espacial Internacional (ISS). Outro projeto da instituição é a
pesquisa com materiais orgânicos. A ideia é reproduzir células que possam dar origem a
materiais como carbono e madeira.
De tempos em tempos, uma nova tecnologia aparece para mudar o mundo
profundamente. Foi assim com a energia elétrica, o carro e a internet. As previsões e
pretensões da impressora 3D, não são diferentes.
DIRETO AO PONTO
A impressão 3D é uma tecnologia que permite a criação de objetos em três dimensões. A tecnologia existe desde a década de 1980, mas nos últimos anos, o preço dessas máquinas ficou cada vez mais acessível.
Essas impressoras fabricam objetos camada por camada, a partir de uma imagem criada em um computador, utilizando um software de modelagem digital. Com uma impressora 3D, qualquer imagem se transforma em um objeto de verdade.
As possibilidades de uso dessa inovação são infinitas. Nos Estados Unidos, onde a tecnologia é uma febre, quase tudo já foi impresso: chaves, escovas de dente, canecas, peças de xadrez, tênis, sapatos de plástico, máscaras, bonecos, vestidos e até instrumentos musicais.
A tecnologia também expande as fronteiras para a ciência e a medicina. Com essas máquinas, será possível criar próteses, órgãos e tecidos humanos. Uma técnica que pode revolucionar o mundo.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
"Tecnologias 3D - Desvendando o Passado, Modelando o Futuro", organizado por
Jorge Lopes
"Introdução à Prototipagem Rápida e seus Processos", Antonio Augusto Gorni
Atualidades
Não estuda nem trabalha: crise econômica e social lançam alerta sobre "geração nem nem"
8Andréia MartinsDa Novelo Comunicação25/02/201412h21
Daniel Marenco/Folhapress
Jovens que não estão trabalhando nem procurando uma colocação no mercado e que
estão fora da escola. Esse é o perfil da chamada “geração nem nem”, que inclui pessoas
de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
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Um estudo divulgado no dia 13 de fevereiro pela OIT (Organização Internacional do
Trabalho) apontou que 21,8 milhões dos jovens latino-americanos se enquadram nesse
perfil. Uma pesquisa anterior da OIT, divulgada logo no início do ano, apontava que, de
2007 a 2012, o fenômeno cresceu em 30 países, de uma lista de 40 analisados.
Mas se engana quem pensa que estamos falando de um fenômeno novo. Esse perfil de
jovens já é tema de estudos da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) desde o final dos anos 1990. Entre 1997 e 2010, jovens
com idade entre 20 e 24 anos, que não trabalhavam nem estudavam já eram 13% da
população, chegando a 17,6% em 2010. O que se nota hoje é um aumento desse
fenômeno.
Em Portugal esses jovens são quase meio milhão. Na Irlanda e na Espanha a taxa dos
"nem nem" cresceu 9,4 e 8,7 pontos porcentuais desde 2007; 20% dos jovens irlandeses
e espanhóis estão nessa condição, taxa considerada “preocupante” pela OIT. O Brasil
está a um passo da categoria preocupante, com 19% de jovens com esse perfil.
O fenômeno chamou tanta atenção que, em 2012, com o alto número de jovens até 30
anos fora do mercado de trabalho e das escolas, a italiana Benetton criou uma campanha
publicitária com fotos de jovens e a frase "Desempregado do Ano". A ideia era chamar
atenção para a necessidade de oportunidades de trabalho para esse grupo de pessoas,
reflexo de fatores econômicos e sociais, mas também para um desânimo por parte dos
jovens em encontrar oportunidades de trabalho com baixa remuneração, assim preferem
ficar desempregados até que novas possibilidades apareçam.
"A falta do acesso a oportunidades de trabalho decente gera frustração e desânimo entre
os jovens. Há 108 milhões de razões pelas quais temos que agir agora”, disse o diretor-
geral da OIT, Guy Ryder.
Fenômeno mundial
Conhecidos também pela sigla em inglês Neet (neither in employment, nor in education
or training), esse perfil de jovens cresce por motivos diferentes em cada país. Na
maioria dos países estudados essa é uma situação transitória e os motivos do
crescimento desse perfil de jovens variam: pode ser reflexo de questões culturais – no
México, 77% das garotas não trabalham nem estudam e preferem se dedicar à vida
familiar--, econômicas e políticas, como por exemplo, as recentes crises mundiais que
comprometeram a oferta de trabalho e o cenário de instabilidade política em alguns
países -- como na Turquia e na Grécia, que após a crise e os constantes protestos viram
a taxa de desemprego entre jovens aumentar--, e sociais, como a falta de oportunidades
ou a chegada de filhos.
No artigo “Juventude, trabalho e desenvolvimento: elementos para uma agenda de
investigação", o sociólogo Adalberto Cardoso, da Uerj (Universidade do Estado do Rio
de Janeiro), completa que, a análise do fenômeno em cada país deve levar em conta
aspectos como a oferta de emprego nas cidades, o acesso à educação e o perfil familiar
por não se tratar de um problema com respostas e soluções iguais para todos os casos.
No Brasil, o fator renda é um dos que mais influencia o crescimento de jovens com o
perfil “nem nem”. “Em 2000, famílias entre as 10% mais pobres tinham 233% mais
chances de ter um ‘nem nem’ entre os seus do que famílias entre os 10% mais ricos. Em
2010, esse valor havia aumentado para quase 800%. Isto é, a disponibilidade de recursos
familiares, tal como expressa pela renda enquanto capacidade de aquisição de bens
como saúde e educação para seus membros, por exemplo, confere um caráter de classe
às mudanças ocorridas no período, com aumento da vulnerabilidade dos mais pobres.
Isto é, é maior a proporção de ‘nem nem’ em 2010 entre as famílias que, em termos
relativos, tinham menores condições materiais de dar respaldo a eles”, diz o artigo.
Os números na América Latina
Os números do relatório da OIT mostram que a situação de crescimento econômico com
emprego registrada nos últimos anos na América Latina não foi suficiente para melhorar
o emprego dos jovens, que continuam enfrentando um cenário pouco otimista no qual
persistem o desemprego e a informalidade. Na conclusão do documento, a organização
cita que, com esse cenário, “não é casual que os jovens sejam defensores dos protestos
de rua quando suas vidas estão marcadas pelo desalento e a frustração por causa da falta
de oportunidades”.
Em todos os países pesquisados, as mulheres são maioria entre os jovens da “geração
nem nem”. Na América Latina elas representam 92% desse grupo. Ainda nos países
latino-americanos, aproximadamente 25% desses jovens (5,25 milhões) buscam
trabalho, mas não conseguem outros 16,5 milhões não trabalham, nem buscam
emprego, e cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos. Os que não
trabalham nem estudam e nem se dedicam a outras atividades são classificados de
“núcleo duro” e demandam uma atenção especial dos governantes.
Na região, Honduras é o país que apresenta o maior percentual de jovens “nem nem”,
com 27,5%, seguido da Guatemala (25,1%) e El Salvador (24,2%). Os países com
menor percentual são Paraguai (16,9%) e Bolívia (12,7%).
No Brasil, mulheres negras são maioria
Entre os jovens brasileiros, 19% com idade entre 15 e 24 anos não trabalham nem
estudam. No Brasil, o número de mulheres negras nesse perfil é duas vezes maior que o
de homens, segundo o relatório da OIT. Entre os fatores estão que colaboram para esse
número estão baixo nível social e casos de gravidez na adolescência, o que faz com que
a mulher interrompa os estudos e, também, a atividade profissional.
De maneira geral, não são apenas os jovens entre 15 e 24 anos que preocupam a OIT.
Hoje, 13,1% dos jovens do mundo continuam sem emprego, ou seja, um total de 74,5
milhões de pessoas. Só em 2013, 1 milhão de jovens perderam seus trabalhos e, com os
países ainda em recuperação após a crise econômica de 2008, a perspectiva de futuro
para a “geração nem nem” ainda não parece otimista.
DIRETO AO PONTO
Jovens desinteressados em procurar trabalho devido à falta de qualificação profissional e que não investem na formação porque também não são atraídos pela escola. Esse é o perfil da chamada “geração nem nem”, que inclui jovens de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam.Um estudo divulgado no dia 13 de fevereiro pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) apontou que 21,8 milhões dos jovens latino-americanos se enquadram nesse perfil. Pesquisa anterior da OIT, já apontava que, de 2007 a 2012, o fenômeno cresceu em 30 países.Mas se engana quem pensa que estamos falando de um fenômeno novo. Esse perfil de jovens já é tema de estudos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) desde o final dos anos 1990. Para cada país o motivo do crescimento desse perfil de jovens varia. Alguns têm raízes culturais, em outros são reflexos de cenários econômicos e políticos, ou sociais, como falta de oportunidades e a chegada de filhos, um dos pontos que faz das mulheres entre 15 e 24 anos maioria entre os “nem nem”.O que se nota hoje é um aumento desse fenômeno. Em Portugal esses jovens são quase meio milhão. Na Irlanda e na Espanha, 20% dos jovens estão nessa condição, taxa considerada “preocupante” pela OIT. O Brasil está a um passo de entrar na
mesma categoria, com 19% de jovens com esse perfil, segundo a OIT.
Andréia Martins é jornalista
Bibliografia
Juventude, trabalho e desenvolvimento: elementos para uma agenda de investigação
(2013), de Adalberto Cardoso, da IESP-UERJ
Juventude em tempos de incertezas: enfrentando desafios na educação e no trabalho
(2013), de Dirce Maria Falcone Garcia
Juventude e Elos com o Mundo do Trabalho - Retratos e Desafios (2013), de
Alexandre B. Soares
Atualidades
Índios: Dois projetos ameaçam terras indígenas e acirram conflitos rurais
2Andréia MartinsDa Novelo Comunicação28/02/201419h00
Atualmente, a população indígena no Brasil soma 896,9 mil (menos de 1% da
população), de 305 etnias, com línguas e costumes diferentes, o que faz do Brasil o país
com a maior diversidade cultural do mundo. Os dados são do Censo 2010. No entanto,
os índios ainda têm frágeis direitos aos seus territórios.
Em 2014, duas propostas que visam alterar o direito do uso da terra pelos índios voltam
ao debate no Congresso.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Uma delas é a PEC 215. De autoria do ex-deputado Almir Sá, a proposta quer
transferir para o Congresso Nacional a função de demarcação das terras,
competência que hoje é da União, revisar as terras já demarcadas e ainda propõe
uma mudança nos critérios e procedimentos para a demarcação, que passariam a
ser regulamentadas por lei, e não por decreto como funciona atualmente.
Os órgãos responsáveis pelas demarcações são a Funai (Fundação Nacional do Índio),
que faz os estudos e delimita as áreas; o Ministério da Justiça, que faz a declaração da
terra; e a Presidência da República, que a homologa. Atualmente, segundo a Funai,
existem 645 áreas indígenas em diferentes fases da demarcação.
Todo esse processo deveria ter sido concluído até 1993, uma vez que o artigo 67 da
Constituição de 1988 dava cinco anos para a União finalizar a demarcação das terras
indígenas.
O PLP 227, de autoria do deputado Homero Pereira (PSD-MT), quer regulamentar o
artigo da Constituição que define áreas de interesse público à União. De acordo com a
proposta, terras que se configurarem como assentamentos de reforma agrária,
exploração de jazidas e minerais, construção de rodovias e ferrovias, campos de
treinamento militar, ocupações de terras privadas até 5 de outubro de 1988, entre
outros, não serão liberadas para demarcação indígena.
Em ambas as propostas, as opiniões se dividem. Alguns parlamentares defendem que o
Congresso participe da demarcação por se tratar de terras públicas. Deputados ligados
ao agronegócio (a chamada “bancada ruralista”) avaliam que a forma como o processo
ocorre hoje ameaça a produção agropecuária e prejudica o pequeno produtor.
Para os indígenas, as duas propostas atendem a interesses econômicos (ameaçando suas
riquezas ambientais e minerais) e, se aprovadas, vão dificultar a demarcação da terra,
essencial para que eles preservem seus costumes, tradições e sustentabilidade.
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A disputa constante pela terra
A maioria dos índios brasileiros (57,7%) vive em 505 terras indígenas reconhecidas
pelo governo (Censo 2010). Essas áreas equivalem a 12,5% do território nacional, sendo
que maior parte fica na região Norte -- a mais populosa em indígenas (342 mil). Já no
Sudeste, 84% dos 99,1 mil índios estão fora das terras originárias, seguido do Nordeste
(54%).
Mesmo com a posse inalienável de suas terras garantida por lei, são constantes os
conflitos envolvendo fazendeiros e empresários em terras com recursos naturais e
minérios, principalmente nas áreas rurais -- onde vive a maioria da população indígena
(63,8%)— da região Norte e dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Um dos casos mais conhecidos é o da Raposa Serra do Sol, em Roraima, terra onde
vivem 19 mil índios e é alvo de disputa com fazendeiros e garimpeiros. Nessa região
está localizada a terra indígena mais populosa no país: a Yanomami, com 25,7 mil
habitantes (5% do total) distribuídos entre o Amazonas e Roraima. Já a etnia Ticuna
(AM) é a mais numerosa, com 46 mil índios, sendo 39,3 mil na terra indígena.
Conflitos com fazendeiros
Em meio a esse impasse, os conflitos seguem ocorrendo, em alguns casos, de forma
violenta. Em maio de 2013, a invasão de fazendas em Sidrolândia (MS) por indígenas
culminou na morte de um índio terena. A Força Nacional chegou a ser convocada para
garantir a segurança local. Os terena reivindicam uma área cujo processo demarcatório
se arrasta há 13 anos. Já os fazendeiros não querem perder suas terras. O governo
negocia como os produtores a compra dos terrenos.
Em dezembro do ano passado, produtores rurais do Mato Grosso do Sul organizaram o
“Leilão da Resistência”, para arrecadar recursos para impedir a invasão de terras por
indígenas. O leilão foi impedido pela Justiça, que temia a formação de milícias. Em
2014, causou polêmica um vídeo em que o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS),
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, defende que os agricultores
deveriam se armar para evitar invasões indígenas.
Com as duas propostas em andamento no Congresso, o tema do uso da terra promete
dividir novamente representantes do agronegócio, ambientalistas e indígenas, colocando
em lados opostos a exploração econômica, a preservação do meio ambiente e a
preservação da cultura dos povos tradicionais.
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DIRETO AO PONTO
Em 2014, duas novas propostas no Congresso devem colocar em evidência a questão da demarcação das terras indígenas: a PEC 215, que quer transferir para o Congresso Nacional a função de demarcação das terras, competência que hoje é da União, e o PLP 227, que visa regulamentar o artigo da Constituição que define áreas de interesse público à União, sobre o uso da terra pelos índios.Hoje, os órgãos responsáveis pelas demarcações de terra são a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), que faz os estudos e delimita as áreas; o Ministério da Justiça, que faz a declaração da terra; e a Presidência da República, que a homologa. Atualmente, segundo a FUNAI, são 645 terras indígenas em diferentes fases da demarcação.Embora a população indígena tenha obtido novas conquistas ao longo dos anos, como o Estatuto do Índio, de 1973, e o reconhecimento na Constituição de 1988, a disputa pela da terra ainda é fato recorrente. São constantes os conflitos envolvendo fazendeiros e empresários em terras com recursos naturais e minérios, principalmente nas áreas rurais, onde vive a maior parte da população indígena (63,8%).
Andréia Martins é jornalista
Bibliografia
Índios no Brasil - História, Direitos e Cidadania, de Manuela Carneiro da Cunha
(Claroenigma; 2013)
Os Índios e o Brasil - Passado, Presente e Futuro, de Mércio Pereira Gomes
(Contexto; 2012)
O futuro da questão indígena (1994), artigo de Manuela Carneiro da Cunha.
Publicação do Instituto de Estudos Avançados da USP. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000100016&script=sci_arttext
Atualidades
Crise na Ucrânia: Um país dividido entre a Rússia e a União Europeia
3Carolina Cunha Da Novelo Comunicação11/03/201414h06
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David Azia/AP
7.mar.2014 - Mulher coberta com a bandeira nacional ucraniana deposita e observa,
nesta sexta-feira (7), flores e mensagens deixadas aos mortos nos confrontos recentes na
praça da Independência, em Kiev
Nem sempre os políticos calculam bem as consequências de suas decisões. No caso do
presidente afastado da Ucrânia, sua última escolha lhe custou o cargo e a tranquilidade
de toda a população ucraniana que hoje está no centro de um conflito com a Rússia.
A crise na Ucrânia começou em novembro.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Tudo começou em novembro de 2013, quando o então presidente ucraniano, Viktor
Yanukovich, decidiu abandonar um acordo de livre comércio com a União
Europeiapara se alinhar à Rússia, país que dominou a Ucrânia por gerações quando
esta fazia parte da União Soviética. O acordo estratégico com os russos incluía uma
ajuda financeira, descontos no preço do gás produzido pela Rússia e comprado pela
Ucrânia e a promessa de uma zona de comércio livre.
Desejando a integração com a União Europeia e temendo a influência russa, parte dos
ucranianos foi às ruas para se manifestar contra a decisão. A quebra do acordo foi o
estopim para um governo que já sofria desgastes com problemas como a economia sem
crescimento, corrupção endêmica e a falta de reformas políticas.
O gás natural produzido pela Rússia tem papel relevante na crise. Hoje,
a Europaimporta 30% do gás russo, número que já foi de 45%. A Ucrânia está entre os
dez países que mais consomem gás natural no mundo e também redistribui o produto.
Em seu território, passam 80% do gás russo vendido aos europeus por meio de seus
gasodutos.
No controle dos preços do gás natural, os russos com frequência ameaçam suspender
seu fornecimento aos ucranianos. Em 2006 e em 2009 os dois países entraram em crise
devido a um desentendimento no valor do gás e a suspeitas de que a Ucrânia havia
desviado o gás destinado a países vizinhos. Neste cenário, o desconto de US$ 2 bilhões
anuais no preço do gás natural oferecido pelo presidente russo Vladimir Putin para o
governo ucraniano abandonar o acordo com a União Europeia funcionou como atrativo.
A violenta repressão policial às manifestações fez crescer o movimento e as críticas ao
governo, e alterou a pauta de reivindicações: os protestos não pediam apenas o
alinhamento à União Europeia, mas também a saída do presidente. Houve invasão de
prédios públicos e os confrontos entre manifestantes e policiais deixaram um saldo de
dezenas de mortes.
Após três meses de protestos, o Parlamento votou pela destituição do presidente Viktor
Yanukovich e anunciou eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio. Aleksandr
Turchinov, presidente do Parlamento, assumiu como presidente interino. Países da
União Europeia prometeram uma ajuda financeira para a Ucrânia empreender reformas
econômicas e planejar as eleições presidenciais. Refugiado na Rússia, Yanukovich
defende que continua sendo presidente do país.
Seria o fim da crise? Não exatamente. Enquanto o Ocidente apoiava o novo governo, a
Rússia criticou o país vizinho e o governo provisório, prometendo sanções econômicas
como retaliação.
Na Crimeia, república autônoma da Ucrânia, confrontos entre militantes prós e
antirrussos acirraram o conflito. A Rússia, que mantém uma base naval no litoral da
Crimeia, no sul, enviou tropas militares para executarem manobras na fronteira. O
número de soldados russos no local chegou a 30 mil.
Localizada estrategicamente ao lado do mar Negro, a Crimeia é um Estado autônomo e
60% da população é de origem russa. A influência do país soviético é forte não apenas
na península, mas também nas regiões leste e sul da Ucrânia, que mantém a língua e a
cultura.
No final de fevereiro, o Parlamento em Simferopol (capital da Crimeia) foi invadido por
separatistas com bandeiras da Rússia. Os parlamentares da Crimeia criaram um
referendo para a população decidir se deseja pertencer à Ucrânia ou Rússia.
Historicamente, a região nunca pertenceu de fato à Ucrânia e foi anexada durante a
Guerra Fria porque a União Soviética controlava as duas regiões. Se aprovado pela
Rússia, o referendo deve ser votado no dia 16 de março.
Para o presidente interino da Ucrânia, a ação é ilegal, pois pela constituição ucraniana, a
decisão de rever fronteiras só poderia ser examinada com um referendo nacional.
Turchinov ainda alertou para a atuação similar da Rússia durante a intervenção na
Geórgia no conflito separatista da Abkházia e da Ossétia do Sul, que têm uma grande
população de etnia russa, em 2008. A guerra com a Geórgia durou cinco dias, e a Rússia
permanece no controle da Abkházia e da Ossétia do Sul até hoje, mesmo que a ONU e a
maioria dos países considere-os como parte da Geórgia.
Um país com um passado de lutas
A Ucrânia é uma nação em processo de mudança. Com 46 milhões de habitantes, o
segundo maior país da Europa tem um território maior do que a França e foi palco de
intensos conflitos ao longo da história.
No século 19, a Ucrânia foi anexada ao Império Russo. No século 20, após a Segunda
Guerra Mundial, o país pertenceu à União Soviética e era um dos seus principais
produtores agrícolas. A região leste sempre foi mais próxima da Rússia e a oeste, aos
poucos foi se alinhando ao Ocidente.
Em 1991, após o colapso da União Soviética, a Ucrânia manteve relações próximas com
a Rússia e permitiu que sua frota naval operasse em águas ucranianas. A Ucrânia
também é rota para os gasodutos russos que exportam gás natural para a Europa.
Em 2004, os ucranianos fizeram seu primeiro grande levante popular devido às
suspeitas de fraude nas eleições que colocaram o presidente afastado, Viktor
Yanukovitch, no cargo. As fraudes foram comprovadas pela justiça, e um segundo
pleito deu a vitória a Victor Yushchenko na primeira eleição presidencial democrática
do país. Durante as eleições, o candidato chegou a ser envenenado e sobreviveu.
Quando o antigo regime tentou anular a eleição, milhares de pessoas foram às ruas da
capital e acamparam na Praça Maidan, em Kiev. O risco de uma guerra civil entre a
parte ocidental do país e a oriental (reduto da Rússia) era real. O levante pacífico foi
chamado de Revolução Laranja. O ponto de encontro também foi a Praça da
Independência de Kiev. A mesma que hoje vê uma nova geração de jovens clamarem
por novos tempos.
DIRETO AO PONTO
A decisão do presidente ucraniano Viktor Yanukovych, no final de 2013, de abandonar o acordo de livre comércio com a União Europeia para se alinhar à Rússia, país que dominou a Ucrânia por gerações quando esta fazia parte da União Soviética, desencadeou uma onda de protestos no país. O acordo estratégico com os russos incluía uma ajuda financeira, descontos no preço do gás e a promessa de uma zona de comércio livre.A violenta repressão policial aos protestos fez crescer o movimento e as críticas ao governo, e alterou a pauta de reivindicações: os manifestantes não pediam apenas o alinhamento à União Europeia, mas também a saída do presidente. Após três meses de protestos, Yanukovych foi destituído. Aleksandr Turchinov, presidente do Parlamento, assumiu como presidente interino.Na Crimeia, república autônoma da Ucrânia, confrontos entre militantes prós e antirrussos acirraram o conflito. A Rússia, que mantém uma base naval no litoral da Crimeia, no sul, enviou tropas militares para executarem manobras na fronteira. Agora, inserida no conflito, a população da Crimeia realizará um referendo para decidir se deseja pertencer à Ucrânia ou Rússia.Enquanto isso, a Rússia e Ucrânia seguem sem uma resolução para o impasse em meio aos preparativos dos ucranianos para convocar novas eleições presidenciais, o que pode atrapalhar os planos do presidente russo Vladimir Putin, de se aproximar da Ucrânia.
Bibliografia
A Segunda Guerra Fria (Civilização Brasileira, 2013), de Luiz Alberto Moniz
Bandeira
Da Guerra Fria à uma Nova Ordem Mundial (Contexto), de Ricardo de Moura Faria,
Mônica Liz Miranda
Atualidades
Falta de água: com alto consumo, problema afeta a geração de energia
2Carolina Cunha Da Novelo Comunicação18/03/201417h58
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Luis Moura / Parceiro / Agência O Globo
17.mar.2014 - O índice que mede o volume de água armazenado no Sistema Cantareira
registrou novo recorde negativo nesta segunda-feira (17), atingindo apenas 15% da
capacidade total dos seus reservatórios
Basta uma redução na quantidade de chuvas que as notícias logo chegam: vai faltar água
na sua cidade. Em março, após uma longa estiagem no verão, o nível do reservatório do
Sistema Cantareira, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo, chegou a 15%,
o mais baixo patamar desde que o sistema foi construído, em 1974. O normal para essa
época seria de 60%.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Para compensar a perda do volume de água fornecido pela empresa Sabesp, municípios
abastecidos pelo sistema adotaram medidas de diminuição do consumo. No futuro, a
situação pode piorar. Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, a demanda
por água será 27% maior em 2035.
Além do uso doméstico (em Nova York, um cidadão chega a gastar 2.000 litros de água
potável por dia) e público, os recursos hídricos são utilizados na agricultura, pecuária,
indústria (para fabricar 1 kg de aço são necessários 600 litros de água) e na geração de
energia nas usinas hidrelétricas.
A geração de energia hidrelétrica, nuclear e térmica precisa de água. No Brasil, as
usinas hidrelétricas são responsáveis por mais de dois terços da energia gerada no país.
Assim, a falta de chuvas e a escassez de água afetam o fornecimento de luz, gerando
apagões, racionamento entre outras medidas. Uma recente decisão do ONS (Operador
Nacional do Sistema Elétrico) foi aumentar a capacidade de geração das termoelétricas,
que custam mais caro. Esse custo adicional será repassado ao consumidor brasileiro na
hora de pagar a conta de luz.
Com o crescimento da população, o inchaço desordenado das cidades e o
desenvolvimento econômico que aumenta a demanda por recursos hídricos, a água de
qualidade é cada vez mais escassa.
Escassez de água
A necessidade de um consumo consciente e a escassez da água levou
a ONU(Organização das Nações Unidos) a criar em 2004 o Dia Mundial da Água, em
22 de março.
A água é um elemento fundamental a todo ser vivo. Mas o acesso à água potávelsempre
foi um problema para as populações do mundo. A Terra é composta de 70% de água, a
maior parte localizada nos oceanos. Desse percentual, cerca de 3% é formado por água
doce. E grande parte dela se encontra congelada nas calotas polares ou embaixo da
superfície do solo.
A possibilidade da escassez de água futura alerta o Brasil para a necessidade de reduzir
sua dependência das grandes hidrelétricas. Um relatório recente produzido pela
Coppe/UFRJ, área de engenharia da universidade, e financiado pelo Banco Mundial,
aponta para a possibilidade das hidrelétricas em construção Santo Antonio, Jirau e Belo
Monte não gerarem a energia esperada devido à falta de chuvas na Amazônia.
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Dados da ONU de 2006 estimam que até 2050 mais de 45% da população mundial não
terá acesso à água potável. Segundo a previsão dos organismos internacionais, quase
todos os três milhões de habitantes que devem ser adicionados à população mundial até
2050 nascerão em países que já sofrem com a escassez desse recurso. As áreas mais
atingidas serão a África, a Ásia Central e o Oriente Médio. Num futuro não muito
distante, o cenário desenhado é de países brigando mais por água e menos por petróleo.
Vários problemas afetam a qualidade da água e agravam o seu desperdício. No campo,
as técnicas inadequadas de irrigação e o uso abusivo de produtos químicos afetam o
meio ambiente. O problema se agrava com o desmatamento e remoção de áreas de
vegetação e matas ciliares que protegem os rios. Nas cidades, o lançamento de lixo e
esgoto sem tratamento podem poluir os mananciais que abastecem a região. Sem contar
ações cotidianas, como fechar a torneira enquanto escovar os dentes, economizar o
tempo no banho, ensaboar a louça com a torneira fechada, entre outras.
Brasil, uma potência hídrica
Segundo a ANA (Agência Nacional das Águas), o Brasil é considerado a maior potência
hídrica do planeta – dados estimam que o país detenha aproximadamente 12% da água
doce do mundo.
O maior potencial hídrico do Brasil é a Amazônia. No entanto, o uso da água para gerar
energia a partir de uma hidrelétrica implica inundar grandes áreas, o que é visto como
um problema socioambiental.
A riqueza de volume de água é garantida pelas chuvas tropicais e por três grandes
bacias: Amazônica, São Francisco e Paraná. Além disso, o Brasil possui a maior reserva
de água doce subterrânea do mundo, o aquífero Guarani, que abrange parte dos
territórios da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai e cruza a fronteira de oito
Estados brasileiros (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), e já abastece cidades próximas.
O aquífero é uma formação geológica rochosa capaz de armazenar e ceder água
subterrânea, abastecendo poços artesanais e fontes de água doce. Para especialistas, os
aquíferos poderiam ser uma alternativa para atender necessidades futuras de consumo
de água. No entanto, essa não é uma solução simples.
O problema é que em quase todos os continentes, importantes aquíferos estão sendo
esgotados de forma mais rápida que o tempo de recarga, como é o caso da Índia, China,
Estados Unidos, norte da África e Oriente Médio, causando um déficit hídrico mundial
de cerca de 200 bilhões de metros cúbicos por ano.
Além do risco de contaminação, cidades que estão sob estas águas subterrâneas podem
afundar com o uso indiscriminado, com aconteceu na Cidade do México (México) e na
Califórnia (EUA). Ou seja, são exemplos do desperdício da água e de uma possível
solução para um dos principais desafios mundiais do século 21.
DIRETO AO PONTO
Basta uma redução na quantidade de chuvas que as notícias logo chegam: vai faltar
água na sua cidade. Nas médias e grandes cidades brasileiras, a falta de água já faz parte do dia a dia. Em março, após uma longa estiagem no verão, o nível do reservatório do Sistema Cantareira, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo, chegou a 16%, o mais baixo patamar desde que o sistema foi construído, em 1974. O normal para essa época seria de 60%.
A água é um elemento fundamental a todo ser vivo. Mas o acesso à água potável sempre foi um problema para as populações do mundo. A Terra é composta de 70% de água, a maior parte localizada nos oceanos. Desse percentual, cerca de 3% é formado por água doce. E grande parte dela se encontra congelada nas calotas polares ou embaixo da superfície do solo.
Com o crescimento da população, o inchaço desordenado das cidades e o desenvolvimento econômico que aumenta a demanda por recursos hídricos, a água de qualidade é cada vez mais escassa e passa a comprometer o fornecimento de energia do país, ainda dependente da energia gerada pelas grandes hidrelétricas.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
A Água, de José Galizia e Takako Matsumura Tundisi
Água: Oito Milhões de Mortos por Ano, organização Michel Camdessus
Atualidades
Apartheid : 20 anos após seu fim na África do Sul, ele "sobrevive" em outros países
11Andréia MartinsDa Novelo Comunicação21/03/201417h11
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AFP
Desde 2010, a ONU (Organização das Nações Unidas) comemora em 18 de julho o Dia
internacional em homenagem ao herói da luta anti-apartheid, o Mandela Day
Atualizado em 21/05/2014, às 16h35
No Brasil e em boa parte do mundo, o preconceito de raça, cor e etnia é considerado
crime. Mas o amparo da legislação não impede episódios de racismo como o da cliente
que recentemente recusou ser atendida por uma profissional negra, em Brasília, ou de
pessoas que não permitem negros em seus estabelecimentos e negam qualquer tipo de
direito ao outro devido à sua cor.
Superar essa diferença racial foi um obstáculo importante para alguns países. Um deles
em especial, a África do Sul , que durante quatro décadas adotou um regime de
segregação racial que privilegiava a elite branca. O fim deste regime conhecido
comoapartheid completa 20 anos em 2014 e teve como um de seus principais nomes o
do ex-presidente Nelson Mandela (1918-2013).
Direto ao ponto: Ficha-resumo
O apartheid -- palavra africâner que significa separação -- foi um regime de
segregação racial estabelecido após as eleições gerais de 1948, quando o Partido
Nacional Reunido e o Partido Africâner venceram com a promessa de acentuar a
separação entre brancos e negros --herança do período colonial de ocupação holandesa e
britânica. Unidas, as legendas formaram o Partido Nacional, que governaria o país até
1994, quando Mandela chegou à presidência nas primeiras eleições livres.
A segregação imposta pelo governo afetou todos os espaços e relações sociais. Negros
não podiam se casar com brancos, não podiam ocupar o mesmo transporte coletivo
usado pelos brancos, não podiam morar no mesmo bairro e nem realizar o mesmo
trabalho, nem comprar e alugar terras, entre outras restrições. A discriminação se
estendia também aos coloured (mestiços), indianos e brancos sul-africanos.
Novas formas de apartheid
Ao longo de toda a história, diversos povos tradicionais e grupos étnicos sofreram
perseguição. Durante a colonização das Américas, os indígenas e negros foram as
grandes vítimas da escravidão. Na Europa, os judeus e ciganos foram discriminados e
expulsos de muitos países, em diferentes períodos, da Inquisição na Idade Média ao
século 20, com o nazismo alemão.
O apartheid sul-africano foi uma das leis mais recente de separação de grupos. Duas
décadas após o fim dessa política, o apartheid vai sendo recriado em outras formas.
Atualmente, entre os povos que mais sofrem discriminação estão os ciganos que vivem
na Europa, oriundos em sua maioria do Leste Europeu, de países como Romênia e
Bulgária. A União Europeia estima que haja seis milhões de ciganos nos países do
bloco. A maioria vive em guetos e em situação de pobreza extrema.
Na França, onde moram cerca de 20 mil ciganos, a política anti-imigração iniciada com
o governo de Nicolas Sarkozy e seguida por François Hollande já desmantelou
acampamentos e expulsou centenas de ciganos para seu país de origem. Em 2008, o
premiê italiano Silvio Berlusconi já havia iniciado uma expulsão em massa dos ciganos
do país.
Na Grécia e Irlanda, o governo já retirou crianças de casais ciganos que não se pareciam
com os pais. Em Portugal, dezenas de famílias de ciganos foram removidas para
assentamentos “só para ciganos”. Na Itália, causou polêmica a criação do bairro “La
Barbuta”, construído nos arredores de Roma. O local é rodeado de cercas e câmeras e
tende a isolar as famílias ciganas.
Na República Checa, onde vivem 200 mil ciganos, criaram-se escolas especiais para as
crianças ciganas, que em alguns casos dividem a sala de aula com crianças
incapacitadas. Há bairros que reúnem apenas essa população, separados do resto e sem
acesso aos mesmos direitos, e muitos restaurantes proíbem a entrada de "romenis", na
Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Bulgária.
Os mulçumanos também constituem outra parcela da população de imigrantes,
estigmatizada e alvo de xenofobia na Europa. As famílias de estrangeiros vivem
concentradas nas periferias das grandes cidades.
A crise econômica dos países europeus e o aumento do desemprego têm levado os
governos a desmantelar aos poucos, o antigo modelo do Estado de bem-estar social, que
garante assistência social aos desempregados. Como consequência, os políticos têm
adotado medidas mais duras contra a imigração. E com o crescimento da extrema direita
na Europa, a situação tende a piorar.
O apartheid sul-africano
O apartheid na África do Sul é o único caso histórico de um sistema político onde a
segregação racial chegou ao âmbito institucional. Mesmo com maioria de não-brancos,
o país tinha no histórico decisões que beneficiavam a minoria branca. Três anos após
sua independência, em 1913, a África do Sul aprovou a Lei de Terras, forçando os
negros africanos a viverem em reservas e proibindo-os de trabalharem como meeiros.
As vendas ou aluguel de terra para negros também ficaram proibidas, limitando a
ocupação dos negros em 80% da África do Sul.
Os opositores da lei formaram o Congresso Nativo Nacional Sul-Africano, que se
tornaria o partido Congresso Nacional Africano (CNA), banido mais tarde pela política
do Partido Nacional. Os efeitos da Grande Depressão de 1929 e da Segunda Guerra
Mundial acarretaram problemas econômicos para a África do Sul, convencendo o
governo a aumentar essa separação de cores.
Entre os anos 1970 e 1980, o apartheid provocou muita violência, tanto por parte dos
que se manifestavam contra o regime quanto por parte dos soldados, que repreendiam os
protestos, além da prisão de líderes antiapartheid, como aconteceu com Mandela. Um
episódio marcante ocorreu em 1976 quando crianças negras de Soweto, reduto pobre
nos arredores de Johanesburgo, foram alvejadas com balas de borracha e gás
lacrimogêneo enquanto protestavam contra o ensino da língua africâner.
Como resultado, a África do Sul sofreu uma série de embargos de outros países e ficou
proibida de sediar eventos esportivos mundiais, encerrando de vez a ilusão de que o
apartheid trouxe paz e prosperidade para a nação.
Em 1989, Frederic. W. de Klerk assumiu a presidência, naquele que seria o último
mandato do Partido Nacionalista. Em 1990, o novo presidente pôs fim ao apartheid.
Neste mesmo ano, Mandela, que desde 1964 cumpria pena de prisão perpétua, foi posto
em liberdade. Nas primeiras eleições livres, em 1993, Mandela foi eleito presidente da
África do Sul pelo CNA, e governou de 1994 a 1999.
Passadas duas décadas do fim dessa política, o país ainda tenta igualar os padrões de
vida entre brancos e não-brancos. Hoje, com uma população acima de 50 milhões de
habitantes (Censo 2012), o desemprego afeta 4,5 milhões de pessoas, um quarto da
força de trabalho, e o país lidera a lista das nações com grande desigualdade de renda,
com 50% da população vivendo na linha de pobreza, a maioria negra.
Somam-se a isso problemas como o difícil acesso ao mercado de trabalho e também à
educação pelas camadas mais pobres e a epidemia da Aids. O país é o mais afetado do
mundo pelo vírus, o que afeta diretamente a economia do país, ainda governado pelo
partido que levou Mandela ao poder e que, ao longo dos anos, acumulou denuncias de
corrupção.
DIRETO AO PONTO
O fim do apartheid -- palavra africana que significa separação -- completa 20 anos em 2014. O regime de segregação racial estabelecido após as eleições gerais de 1948, na África do Sul, tinha como objetivo acentuar a separação entre brancos. A política só seria encerrada em 1994, após décadas de violência e violação de direitos contra os não-brancos, quando Nelson Mandela chegou à presidência nas primeiras eleições livres em 1993.
O fim da separação por cor não foi suficiente para levar o país a ter uma sociedade mais igual. Ainda minoria, o padrão de vida dos brancos ainda é melhor do que o dos negros, por exemplo, e o país apresenta índices sociais problemáticos, como 50% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, além do difícil acesso ao mercado de trabalho e educação.Se há 20 anos a África do Sul encerrava a separação entre as raças, hoje muitos povos e etnias continuam perseguidas e são tratadas de modo diferenciado, como é o caso dos ciganos na Europa, citando um exemplo.A crise econômica dos países europeus e o aumento do desemprego têm levado os governos a desmantelar aos poucos, o antigo modelo do Estado de bem-estar social, que garante assistência social aos desempregados. Como consequência, os políticos têm adotado medidas mais duras contra a imigração. E com o crescimento da extrema direita na Europa, a situação tende a piorar.
Atualidades
Golpe ou revolução: Historiadores explicam o que aconteceu em 1964
COMENTECristiane CapuchinhoDo UOL, em São Paulo28/03/201415h07
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memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/Arquivo Nacional
Oficiais militares em frente ao Congresso 1968
A história sobre o movimento que depôs o presidente João Goulart em 1964 tem
diversas versões. 50 anos após o acontecido, historiadores ouvidos pelo UOL
Educação explicam a diferença entre chamar de golpe ou de revolução.
Golpe ou revolução
Hoje é corrente o uso do termo golpe de Estado para denominar o movimento que
derrubou o presidente João Goulart em 1964, mas a denominação mudou ao longo do
tempo.
EM 1964, HOUVE UM GOLPE DE ESTADO
"Você tem uma memória que se constrói ao longo desse período todo que vai se
alterando. O uso de alguns conceitos implica em uma posição. Quando ocorreu o
evento usava-se revolução, revolução gloriosa, redentora", explica Luiz Antonio Dias,
professor de história da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
"A expressão golpe militar passou a ser usada depois, já no final da ditadura. O golpe
traz consigo a ideia de ilegitimidade, de violência."
MILITARES FIZERAM UMA REVOLUÇÃO
O historiador da USP (Universidade de
São Paulo) Marcos Antonio da Silva destaca que o golpe não se limita ao Estado e
tampouco ao fato ocorrido entre março e abril de 1964. "Temos que lembrar sempre que
é um processo em que a sociedade também foi afetada."
Apesar do consenso entre estudiosos do tema, o termo revolução é usado por
simpatizantes do regime militar até hoje no Brasil. "Na Argentina e no Chile, ninguém
ousa não chamar de golpe", comenta Dias.
Golpe militar ou civil-militar
Por muitos anos o golpe de 64 foi caracterizado como uma ação militar, mas na última
década o termo golpe civil-militar passou a ser mais frequente entre pesquisadores do
assunto.
O termo golpe militar evidencia os militares como os principais agentes da derrubada do
presidente Jango. No entanto, estudos apontam a importância do apoio das elites,
empresários e da imprensa para a realização do golpe.
"Uma série de documentos foram revelados e mostram uma grande articulação de
empresários, da elite e da imprensa para a realização do golpe. Antes, a sociedade civil
sempre aparecia quase como vítima dos militares e os estudos mais recentes mostram
uma importante articulação golpista entre os civis. Por isso temos que pensar em
golpe civil-militar", considera Luiz Antonio Dias.
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Cristiane Capuchinho é jornalista
Atualidades
Violência contra a mulher: Opinião do brasileiro sobre estupro gera protestos
5Carolina Cunha Da Novelo Comunicação07/04/201415h53
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Os resultados da pesquisa "Tolerância social à violência contra as mulheres", divulgada
em março de 2014 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), provocou
diversas reações nas redes sociais após apontar que 65,1% dos entrevistados concorda
total ou parcialmente que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo
merecem ser atacadas”.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Poucos dias após a divulgação da pesquisa, o Ipea reconheceu que o resultado estava
errado. O percentual correto para a questão é 26%. Mesmo assim, a pesquisa levantou
outros pontos que chamam atenção: Para a maioria dos entrevistados (58,5%), "se
mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros" e para 65,1%, “mulher que
é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”.
Outros resultados apontaram que 22,4% concordam que a questão da violência contra as
mulheres recebe mais importância do que merece; para 54,9% existe mulher que é para
casar e mulher que é pra cama; e para 27,2%, a mulher casada deve satisfazer o marido
na cama, mesmo quando não tem vontade.
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Repercussão
A conclusão de que a culpa pelo crime do estupro seria da própria vítima –resultado que
depois se mostrou errado-- chocou a opinião pública e gerou uma campanha nas redes
sociais logo após a divulgação da pesquisa. Criado no Facebook pela jornalista Nana
Queiroz, de Brasília, o movimento #eunãomerecoserestupradapropôs que o internauta
tirasse uma foto de si mesmo com uma placa com o mote da campanha.
Apesar do efeito viral positivo, centenas de usuários postaram ameaças e agressões na
página do evento, comprovando que o pensamento de parte da sociedade não está tão
distante da pesquisa. Um dos agressores, por exemplo, segurava um cartaz com os
dizeres "#eu já estuprei e estupro de novo". Outros ameaçaram as manifestantes de
estupro. Organizadores do evento procuraram a polícia, que vai identificar e tentar
enquadrar os agressores por apologia e intenção ao crime.
A repercussão da pesquisa foi também reflexo de acontecimentos anteriores. Na semana
que antecedeu a divulgação da pesquisa, a violência contra o sexo feminino também
ficou em evidência com os casos de vítimas de abusos sexuais no metrô e nos trens de
São Paulo. Páginas de internautas que incentivam o assédio de mulheres no transporte
público têm sido monitoradas pela polícia, como os autodenominados “encoxadores do
metrô”, uma comunidade de 12 mil usuários no Facebook.
Em fevereiro deste ano, quatro anos após ter sido produzido, um curta-metragem da
cineasta francesa Eléonore Pourriat fez sucesso na internet. No vídeo “Maioria
Oprimida”, ela mostra como seria o mundo se os homens fossem sistematicamente alvo
de ofensas físicas e verbais por mulheres, com situações que elas lidam no dia a dia. Em
entrevista ao jornal britânico The Guardian, a diretora criticou o sexismo e disse que o
filme está mais atual do que nunca. “Meu filme fez sucesso agora por que certos direitos
estão ameaçados. É como uma maré negra”.
No Brasil, o site Think Olga promove a campanha “Chega de Fiu Fiu”, que pede o fim
das cantadas e do assédio sexual às mulheres. Em pesquisa feita pelo site, 81% das
mulheres já deixaram de fazer alguma coisa (como passear) por medo do assédio
masculino na rua.
Todos esses casos revelam como o estupro e o pensamento machista ainda estão
presentes na nossa cultura e nos números de violência.
Segundo dados do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os casos de estupros no
Brasil superam os de homicídios dolosos. Em 2012, foram 50 mil casos registrados.
Pelo Twitter, a presidente Dilma afirmou que os dados são alarmantes e lembrou que
muitas mulheres ainda não denunciam a violência por medo e vergonha.
Atualmente, somente uma pequena parcela dos estupros chega ao conhecimento da
polícia. A partir de estatísticas de atendimentos realizados em 2011 por postos de saúde
e hospitais públicos, um levantamento do Ministério da Saúde estima que no mínimo
527 mil pessoas sejam estupradas por ano no Brasil. O estudo Estupro no Brasil: uma
radiografia segundo os dados da Saúde revela que 89% das vítimas são do sexo
feminino e possuem, em geral, baixa escolaridade. Do total, 70% são crianças e
adolescentes. Para essa parcela, o maior perigo está dentro de casa - 80% dos estupros
são cometidos por parentes, namorados ou conhecidos das vítimas.
Onda de conservadorismo
A luta das mulheres por direitos, ou o movimento feminista, pode ser dividida em três
momentos: as reivindicações por direitos democráticos como o direito ao voto, divórcio,
educação e trabalho, nos séculos 18 e 19; a liberação sexual, impulsionada pelo
aumento dos contraceptivos, no fim da década de 1960; e a luta por igualdade no
trabalho, iniciada no fim dos anos 1970. Hoje, grupos feministas ainda buscam avanços
no que diz respeito aos direitos reprodutivos, uma briga já ganha em alguns países, mas
que enfrenta o poder das alas conservadoras em outros.
A conquista destes e de outros direitos civis no Ocidente está diretamente relacionada a
uma forte resposta conservadora contra o avanço dos mesmos. Nas ciências sociais, o
termo usado para esse fenômeno é a palavra “backlash”. Se por um lado a sociedade
está mudando, por outro, uma parcela quer manter o que já é tradicional e se mobiliza
para isso.
No Brasil, no campo da política, esse efeito se reflete na aprovação de novas leis no
Congresso, principalmente em temas que discutem sexualidade, saúde reprodutiva e
vida familiar. Entre os exemplos estão propostas como a criação do Estatuto da Família,
de autoria do pastor e deputado Anderson Ferreira (PR-PE), que reconhece como
família apenas a união entre homem e mulher; o projeto da “cura gay”, do deputado
João Campos (PSDB-GO); e o Estatuto do Nascituro, com o objetivo de proibir o aborto
em caso de estupro – direito assegurado por lei -- e obrigar que o pai pague pensão
alimentícia às crianças concebidas mesmo em uma relação sexual forçada.
Um dos principais motivos do aumento desses projetos é a ascensão nos últimos anos da
chamada bancada evangélica, que conta com um número expressivo de deputados que
levam para o Congresso propostas baseadas em valores e crenças religiosas. Embora o
Brasil seja um Estado laico, em que religião e o Direito teoricamente não se misturam, o
processo democrático permite que o deputado tenha a liberdade de apresentar qualquer
tipo de proposta para votação.
No Brasil, muitas são as iniciativas de grupos de mulheres e coletivos para diminuir a
violência de gênero. No Governo Federal, quem trata do tema é a Secretaria de Política
para Mulheres trabalha na ampliação de campanhas para divulgar a Lei Maria da Penha,
criada em 2006 e hoje o principal instrumento jurídico para coibir e punir a violência
doméstica contra mulheres.
Outra ação é o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, criado
em 2007 para articular iniciativas contra esse tipo de violência. Além disso, a ONU
Mulheres no Brasil tem tomado medidas para acabar com a violência contra as
mulheres. Entre elas, o Protocolo para a Investigação das Mortes Violentas de Mulheres
por Razões de Gênero, a campanha "O valente não é violento" e o aplicativo "SOS
Mulher", que faz parte de um projeto global por cidades seguras para mulheres e
meninas.
DIRETO AO PONTO
Uma pesquisa do Ipea que apontou que 65,1% dos brasileiros concordam com a frase: "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” gerou polêmica e uma reação em cadeia nas redes sociais. Embora o número tenha sido corrigido dias após a divulgação –a percentagem correta é 26%--, outros questões exploradas pela pesquisa apontam que ainda há uma presença forte do machismo na sociedade brasileira.São exemplos os resultados que apontam que para 58,5% "se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros" e que na opinião de 65,1% dos entrevistados, “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”.A pesquisa ouviu 3.810 pessoas em maio e junho do ano passado em 212 cidades. Mesmo sendo um número pequeno de entrevistados, o resultado foi suficiente para a sociedade questionar o caráter machista que ainda ronda o país.Somam-se a essa discussão recentes denúncias sobre assédios e abusos sofridos por mulheres no transporte público, o limite das cantadas, que gerou a campanha Chega de Fiu Fiu, e projetos propostos pela ala conservadora da política nacional que interferem na liberdade de escolha das mulheres.
Bibliografia
Filme Opressed Majority, de Eléonore Pourriat (Assista em:
https://www.youtube.com/watch?v=V4UWxlVvT1A)
O Que É Feminismo, de Branca Moreira Alves e J. Pitanguy (Brasiliense)
Pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres (Ipea). Disponível em
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mul
heres.pdf
Atualidades
Justiça com as próprias mãos: Linchamentos desafiam ordem e Estado
COMENTEAndréia MartinsDa Novelo Comunicação14/04/201415h15
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Reprodução/Facebook
4.fev.2014 - Adolescente de 16 anos nu é preso a um poste por uma trava de bicicleta no
Rio de Janeiro
Um jovem acusado de assalto é amarrado a um poste no Rio de Janeiro. O mesmo
acontece com um ladrão de 26 anos em Itajaí (SC). Em Goiânia (GO), um adolescente é
espancado pela população após um furto, enquanto em Teresina (PI), um suspeito de
assalto é amarrado e tem seu rosto posto em um formigueiro.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Esses são apenas alguns dos casos de linchamento ou do que se chama "fazer justiça
com as próprias mãos" que ocorreram no país neste início de ano. Para especialistas e
sociólogos, tais ações refletem o descontentamento e a descrença da população na
Justiça e noEstado e funcionam como reação à onda de violência. Ocorrem não como
medida preventiva, mas punitiva para com o suspeito de cometer algum delito.
No entanto, pelo menos no Rio, a ação não foi bem vista pela população. Pesquisa do
Datafolha apontou que 79% da população reprovou a ação de justiceiros que
espancaram e amarraram a um poste um suspeito de roubo de carros.
Origem dos linchamentos
A origem da expressão “linchamento” é controversa. Alguns dizem que a palavra foi
criada inspirada nas práticas de Charles Lynch, que durante a guerra de independência
dos Estados Unidos matava dessa forma os pró-britânicos. A hipótese mais aceita, no
entanto, é que a palavra tenha sua origem ligada ao capitão norte-americano William
Lynch (1742-1820), que durante a Revolução de 1780, também nos Estados Unidos, era
conhecido por linchar os negros até a morte.
No passado, os “justiceiros” teriam a premissa para devolver o troco na mesma moeda
por causa do Código de Hamurabi, criado em 1780 a.C., um dos primeiros códigos de
leis escrito na História, também conhecido como Lei de talião, que pregava o princípio
de proporcionalidade da punição, no "olho por olho, dente por dente".
Fenômeno frequente
Os últimos levantamentos sobre o tema mostram que linchamentos acontecem em
grande número no país. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP, entre os
anos de 1980 e 2006 o Brasil registrou 1.179 casos de linchamentos, sendo os Estados
de São Paulo (568), Rio de Janeiro (204) e Bahia (180) os que apresentaram os maiores
números. Ampliando a pesquisa até 2010, o Estado de São Paulo somou 662 casos de
linchamentos, tendo 839 vítimas, enquanto no Rio de Janeiro foram 215 casos e 273
vítimas.
Mas essa prática “fora da lei” não é apenas uma característica do Brasil. Entre o final de
março e início de abril deste ano a Argentina também registrou uma onda de
linchamentos. Em dez dias foram pelos menos dez casos, sendo que um resultou na
morte de David Moreira, de 18 anos, que teria supostamente tentado roubar a carteira de
uma mulher que carregava o filho no colo e morreu após apanhar de uma multidão em
Rosário, terceira maior cidade de Argentina, na província de Santa Fé.
Em 2013, o Egito, em plena crise política pela queda de mais um governo, viu uma série
de linchamentos públicos, fruto de um momento que combinava o enfraquecimento do
Estado e a desmoralização da polícia.
Volta ao Estado Natural
O comportamento livre e “justificado” dos linchadores reflete um pouco os conceitos de
Estado Natural de Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632 - 1704).
Para Hobbes os homens são maus por natureza. Tal pensamento explica uma de suas
mais conhecidas frases: "o homem é o lobo do próprio homem". Ao falar do Estado
Natural, ele refere-se a um Estado em que o homem pode tudo, há ausência de regras e
de uma instituição estabelecendo a ordem e a liberdade pode ser usada de qualquer
forma, não necessariamente para fins pacíficos. É uma etapa pré-civilizatória, anterior à
sociedade civil organizada, que, para Hobbes, surge não pela “boa vontade de uns para
com os outros, mas o medo recíproco”. O Estado aparece, então, com autoridade
absoluta para estabelecer a ordem.
Já o Estado Natural de Locke significava a ampla liberdade dos homens, mas ela não
deveria ser usada para prejudicar o outro, ou seja, deve existir dentro da lei. Ao
contrário de Hobbes, que acredita que a confiança no Estado deva ser absoluta, Locke
diz que se houver quebra de confiança no Estado ou se este não cumprir com as suas
obrigações, o povo pode se rebelar. Nessa linha, os linchamentos seriam formas de se
rebelar contra um Estado em que não se confia mais.
Desordem?
José de Souza Martins, sociólogo que estuda há mais de 20 anos linchamentos no país,
disse recentemente que hoje existe em média um linchamento por dia no Brasil. Em
suas pesquisas, o caso mais antigo registrado no Brasil data de 1585, em Salvador (BA).
A vítima foi Antônio Tamandaré, índio que liderava um movimento messiânico, tendo
brancos entre seus adeptos. Foram os próprios índios que o seguiam que o prenderam,
queimaram e estrangularam, além de destruir seu templo.
O sociólogo aponta que "os linchamentos que aqui ocorrem, pela forma que assumem e
pelo caráter ritual que parecem ter, são claramente punitivos" e oferece outra reflexão: a
de que o linchamento não seria necessariamente uma manifestação de desordem, mas
pode ser interpretado como um questionamento da desordem.
DIRETO AO PONTO
O início de 2014 foi marcado por uma série de casos envolvendo linchamentos e da população fazendo “justiça com as próprias mãos” no Brasil. Os casos foram desencadeados após um grupo de "justiceiros" amarrar um adolescente nu, acusado de assalto, a um poste no Rio de Janeiro. Ações semelhantes se espalharam pelo país, boa parte registrada em vídeos postados na internet.
Para especialistas e sociólogos, tais ações refletem o descontentamento e a descrença da população na justiça e funcionam como reação à onda de violência. A sensação de impunidade e insegurança chegou também à Argentina, que também neste ano, registrou dez casos de linchamentos em dez dias, sendo que um resultou na morte do suposto ladrão.
O sociólogo José de Souza Martins, que há 20 anos estuda o assunto, aponta que "os linchamentos que aqui ocorrem, pela forma que assumem e pelo caráter ritual que parecem ter, são claramente punitivos" e oferece outra reflexão: a de que o linchamento não seria uma manifestação de desordem, mas um questionamento da desordem.
Andréia Martins jornalista
Bibliografia
Leviatã, Thomas Hobbes
Democracia em Pedaços, Gilberto Dimenstein (Companhia das Letras; 1996)
As condições do estudo sociológico dos linchamentos no Brasil (1995), de José de
Souza Martins
Linchamento o lado sombrio da mente conservadora (1996), de José de Souza
Martins
Atualidades
Turbulência: Modelo matemático previu onda de protestos devido a alta de preços dos alimentos
2Carolina CunhaDa Novelo Comunicação21/04/201411h33
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Sergey Dolzhenko/EFE
9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do presidente
Viktor Yanukovytch
Nos últimos meses, protestos na rua se tornaram cenas cada vez mais comuns ao redor
do mundo. O fenômeno aconteceu na Ucrânia, Síria, Venezuela e Tailândia. Muitos são
os motivos dessa instabilidade política, mas, para analistas, a alta do preço dos
alimentos pode explicar a eclosão de manifestações em todos esses países.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram uma
hipótese: o encarecimento da comida poderia ser um fator predominante no início dos
protestos em diversos países. O instituto usa a ciência e a matemática a favor da
resolução de questões da sociedade, como crises econômicas, violência e políticas
públicas.
Para o estudo, intitulado "A crise alimentícia e a instabilidade política no Norte da
África e no Oriente Médio", os pesquisadores cruzaram dados da Organização para
Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO, sigla em inglês) sobre a variação
do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.
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O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO
aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor
do mundo. Para ele, o número seria uma espécie de “ponto de ebulição”.
Reprodução
Falta de liderança do governo
Segundo o estudo, a alta no preço dos alimentos demonstraria uma falta de
liderança por parte do governo que, em situações como essa, perde o apoio popular.
"Condições de ameaça generalizada para a segurança [de um país] são particularmente
apresentadas quando o alimento fica inacessível para a população em geral", conclui a
pesquisa.
A alta dos preços diminui o poder de compra e aumenta a pobreza da população, fatores
que contribuem para a instabilidade política. Isso aconteceu em 2008, ano de crise
econômica e de elevação nos preços dos alimentos. No Egito, por exemplo, o pão
aumentou 50% naquele ano. Em 2008, houve a queda do presidente no Haiti e protestos
no Egito, Argentina, Camarões e Moçambique.
A partir desse cruzamento de dados, em 2010, Yaneer Bar-Yam construiu um modelo
matemático que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer.
No final de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas chamado Mohamed Bouazizi ateou
fogo em si mesmo como protesto, num ato de desespero. Ele não conseguia mais
sustentar sua família por causa da alta de preços. O feirante não resistiu aos ferimentos e
sua morte provocou uma onda de protestos em 2011. A ação foi considerada a fagulha
do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, uma série de levantes
populares em países do Norte da África e Oriente Médio.
Previsão em 2013
O modelo matemático previu que os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento
em 2013 e o índice de preços da FAO superaria o patamar de 210 pontos, gatilho para
protestos.
Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade
política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia,
Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain,
Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. A previsão de protestos populares foi
comprovada em todos esses países entre o final de 2013 e os primeiros meses de 2014.
Na Suécia, por exemplo, o protesto foi contra o racismo e xenofobia devido a uma alta
nos atos de violência cometidos por neonazistas. Em fevereiro de 2014, protestos contra
o governo também eclodiram na Bósnia-Herzegóvina, que viu levantes populares como
não se viam desde o fim da guerra de 1992-1995, e Venezuela, boa parte dessas
manifestações é contrária ao governo do atual presidente Nicolas Maduro.
Segundo a FAO, o preço geral de alimentos aumentou cerca de 75% desde a virada do
século. Isso se deve a diversos fatores: aumento da demanda, aumento dos custos de
insumos para a produção, mudanças climáticas, aumento da produção de
biocombustíveis, entre outros.
Em 2008, um relatório da ONU projetou que os preços dos alimentos devem se
estabilizar somente em 2017.
No Brasil, a tendência atual é de aumento da inflação, ainda que longe dos índices da
década de 1980 ou de provocar uma crise econômica grave. Em março deste ano, os
gêneros alimentícios foram a categoria que mais puxou a inflação para cima. É difícil
avaliar a relação desses índices com os recentes protestos brasileiros. Ainda assim, o
aumento dos preços deve ser um tema importante no debate político.
DIRETO AO PONTO
Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram a hipótese de que o aumento no preço dos alimentos poderia ser um fator
predominante na eclosão dos protestos em diversos países. O instituto cruzou dados da FAO (Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas) sobre a variação do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.
O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor do mundo. Isso aconteceu em 2008, ano de crise econômica. Em 2010 Yaneer Bar-Yam construiu um modelo matemático, que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer, em 2011.
O modelo também previu que em 2013, os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento. Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia, Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain, Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. Poucos meses depois, esses países viram emergir conflitos e protestos de rua.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
A crise alimentícia e a instabilidade política no Norte da África e no Oriente Médio
Big Data - Como Extrair Volume, Variedade, Velocidade e Valor da Avalanche de
Informação Cotidiana, de Kenneth Cukier e Viktor Mayer-Dchönberger
Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência, de Maria José Esteves de
Vasconcellos
Complexity - A Guide Tour, de Melanie Mitchell
Atualidades
Ditadura militar: Grandes obras e truculência policial são heranças do regime
30Carolina CunhaDa Novelo Comunicação30/04/201410h33
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Manoel Pires/Folhapress
O general e presidente do Brasil Ernesto Geisel recebe cumprimentos em forma de
continência de militar
O Golpe Militar instaurado no Brasil em 1964 completa 50 anos em 2014. Ao longo de
21 anos em que estiveram no poder, os militares deixaram marcas que permanecem
presentes, principalmente em três áreas: infraestrutura, com a construção de obras
grandiosas; educação, com a falta de investimentos na área pública, aumentando o
abismo entre escolas públicas e as particulares; e na forma de atuação da polícia.
Obras grandiosas
O regime investiu num modelo desenvolvimentista marcado por empresas estatais e
obras públicas gigantescas nas áreas de transporte, energia e estratégia militar, que
buscavam a soberania do Brasil.
Apelidadas de “obras faraônicas” pela imprensa da época, neste período foram
construídas a rodovia Transamazônica (BR-230), as hidrelétricas de Tucuruí, Balbina e
Itaipu (a maior do Brasil), a ponte Rio-Niterói, as usinas nucleares de Angra, a Ferrovia
do Aço e o projeto de minério de ferro de Carajás e de celulose de Jari.
Entenda a ditadura militar no Brasil em 40 datas históricas
A Transamazônica, que nunca foi terminada, deveria promover a ligação entre a
fronteira peruana com o Atlântico e a ocupação da Amazônia, no que seria “a mais
gigantesca via terrestre pioneira em construção no mundo”. A usina de Itaipu foi até
2008, a maior hidrelétrica do mundo. Já a ponte Rio-Niterói foi considerada na época
um símbolo de modernidade e a mais longa ponte do planeta construída em vigas
caixão. O regime tinha como lema o “Brasil Grande” e queria promover uma imagem
de progresso nacional.
A atual construção da Hidrelétrica de Belo Monte é a retomada de um projeto
apresentado nos anos 1970, chamado de Hidrelétrica de Kararaô, nome dado em alusão
a uma aldeia no rio Iriri, e que previa a construção de seis grandes usinas ao longo do
rio Xingu. Sem recursos próprios e devido a pressões dos índios e da comunidade
internacional, o projeto foi abandonado.
Chamado de Milagre Econômico, esse período da ditadura militar brasileira foi
caracterizado por um expressivo crescimento econômico do país, especialmente entre
1969 e 1973, no governo do presidente Emílio Médici. Por outro lado, o alto
investimento aumentou o endividamento externo do Brasil, o que ajudou a pavimentar o
período de recessão e inflação dos anos 1980.
Em 1984, o Brasil devia aos governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de
seu PIB (Produto Interno Bruto). Os pagamentos da dívida só foram regularizados em
1994, já no período democrático, após um acordo com os credores para reduzir o
montante devido e os juros.
Violência da Polícia Militar
A PM (Polícia Militar) é uma das principais forças de segurança das cidades brasileiras.
No entanto, os métodos utilizados pela PM são muitas vezes associados à truculência e
violência. E para especialistas, a cultura violenta da PM é um dos resquícios da
ditadura.
Quando os militares assumiram o poder no Brasil, sob o pretexto de manter a segurança
interna e eliminar o perigo do comunismo, o Estado aumentou o autoritarismo e a
repressão, criando órgãos de controle da informação, como o SNI (Sistema Nacional de
Informações).
Em 1969, foi criada a Lei de Segurança Nacional, que restringia a liberdade de reunião,
associação e de imprensa, e em 1970 foi criado o DOI-Codi, centro de repressão do
Exército conhecido como “sucursal do inferno”, palco de torturas e desaparecimento de
presos políticos e “suspeitos de subversão”.
Naquela época, a PM foi usada como extensão dos órgãos de repressão da ditadura e o
uso da violência e a tortura se tornaram rotina e práticas autorizadas pelo Estado. A
polícia de São Paulo foi uma das primeiras a ser militarizada logo depois do golpe, com
a imediata incorporação e comando da PM pelas Forças Armadas.
Nos anos 1960, surgiu também em São Paulo o temido “Esquadrão da Morte”, um
grupo de extermínio de origem policial. Em 1966, quando ainda era chamada de Força
Pública do Estado de São Paulo, a PM teve como comandante o coronel João Baptista
de Figueiredo, o mesmo que mais tarde encerraria a era de presidentes militares com
mandato entre 1979 e 1985.
No início dos anos de 1970, a PM paulista criaria uma unidade especial, a Rota (Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar), que surgiu para combater a guerrilha urbana e as ações
praticadas pela esquerda armada. Nas décadas seguintes, a Rota seria alvo de denúncias
de tortura e assassinatos contra criminosos comuns e de jovens sem antecedentes
criminais.
Por outro lado, os “Direitos Humanos” passaram a ser vistos como ideologicamente
filiados à esquerda e depois passaram a ser vistos como “defensores de bandidos”.
Incentivar as corporações a adotar uma cultura de direitos humanos
VOCÊ NA DITADURA
Jogue e descubra como você viveria durante os 21 anos de ditadura militar
Educação
Durante os anos do regime militar, a educação brasileira passou por transformações em
seu currículo, que passou a exaltar o nacionalismo.
Ainda no governo do presidente João Goulart, especialistas em educação como Anísio
Teixeira e Paulo Freire foram nomeados para retrabalhar a alfabetização e pensar em
como oferecer uma educação de qualidade no ensino público brasileiro. Essas novas
diretrizes da educação constavam no PNA (Plano Nacional de Alfabetização), extinto
após a deposição de Jango, com o Golpe Militar.
No mesmo ano, nas universidades, a ditadura militar considerou ilegal a UNE (União
Nacional dos Estudantes) e criou os Diretórios Acadêmicos, restritos a cada curso, e o
Diretório Central dos Estudantes. Com isso, o governo eliminava a representação a nível
nacional dos estudantes, bem como qualquer tentativa de ação e organização política.
Durante a ditadura aconteceram, ao menos, duas reformas educacionais. Uma em 1968,
nas universidades, e em 1971 no ensino básico, quando foram criadas disciplinas como
Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica.
A expansão da educação pública veio acompanhada de intensa privatização do ensino,
fazendo com que as escolas particulares ficassem cada vez mais desejadas pelas famílias
brasileiras. No caso do ensino superior, o crescimento do setor privado fez com que as
vagas em instituições particulares se tornassem majoritárias após o período da ditadura
militar.
A forte repressão política e ideológica fez com que muitas escolas de segundo grau e
campus universitários fossem invadidas por tropas militares, com a prisão, demissão e
exílio de estudantes e professores. A perseguição se intensificou a partir do Ato
Institucional Nº 5, de 1968, que possibilitou a punição severa dos chamados
“agitadores” que incomodavam os militares.
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Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
"Ditadura à Brasileira", Marco Villa (Leya, 2014)
"As universidades e o regime militar", Rodrigo Patto Só Motta (Zahar, 2014)
Atualidades
Ebola: População africana enfrenta nova epidemia do vírus
COMENTEAndréia MartinsDa Novelo Comunicação05/05/201405h00
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Cynthia Goldsmith/AFP Photo /Divulgação/CDC
24.mar.2014 - Micrografia eletrônica colorida de transmissão revela um pouco da
morfologia ultraestrutural exibida por uma partícula viral do vírus Ebola
O vírus ebola voltou a preocupar autoridades africanas e de saúde após um novo surtoter
sido identificado no início deste ano em Guiné, onde mais de 100 pessoas teriam
morrido vítimas do vírus. Isso sem contar os casos suspeitos no Mali, Serra Leoa e
Libéria, todos países da África Ocidental.
Considerado um dos vírus mais perigosos, a febre hemorrágica ebola é fatal em 90%
dos casos, pois não há cura nem vacina para combatê-lo. A violência com que o vírus
ataca o corpo humano deve-se a uma proteína que rompe as paredes dos vasos
sanguíneos, provocando hemorragia interna e externa.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Após uma incubação de dois a 21 dias, o vírus provoca uma forte febre, com dores de
cabeça e musculares, conjuntivite e fraqueza generalizada. Em um segundo momento,
os sintomas são vômitos, diarreia e, às vezes, erupção cutânea. A transmissão ocorre por
vias respiratórias ou por contato com fluidos corporais das pessoas infectadas, como o
sangue.
O ebola é um filovírus (da família Filoviridae), nome dado ao vírus particularmente
mortal para o organismo humano. Foi identificado pela primeira vez em 1976, após
algumas epidemias graves em Nzara, província oeste-equatorial do Sudão, e em
Yambuku, região vizinha no norte da República Democrática do Congo (antigo Zaire) e
próxima ao rio Ebola, que deu nome doença.
Desde a sua descoberta, já foram identificados cerca de 2.000 casos, sendo 1.300 fatais.
A última epidemia do vírus registrou mais de 400 casos e matou 224 pessoas em
Uganda, entre outubro de 2000 e março de 2001. No fim de 2007, mais de 100 pessoas
foram infectadas com o vírus no país.
Até agora, todos os casos do ebola em humanos foram registrados na África. No caso
dos animais, em 1989 e 1990, um filovírus designado Ebola-Reston foi isolado em
macacos mantidos em quarentena nos laboratórios americanos de Reston (Virgínia),
Alice (Texas) e na Pensilvânia, nos EUA. O mesmo filovírus foi identificado em
macacos em quarentena nas Filipinas, perto de Manila, prontos para serem exportados.
Alguns dos macacos morreram e pelo menos quatro pessoas foram infectadas, embora
não tenham tido problemas clínicos.
Em 2000, mais de 300 gorilas morreram vítimas de um surto de ebola, no noroeste do
Congo, na África. Na época, o país também registrava casos entre humanos. Entre 1990
e 2000, o número de chimpanzés e gorilas foi drasticamente reduzido nos parques da
região africana. Pesquisadores acreditam que muitos doentes, para evitar a internação,
podem ter procurado abrigo nos parques e, após sua morte, serviram de alimentos para
os animais, que acabaram contaminados.
Embora não haja cura, pesquisadores continuam desenvolvendo medicamentos para
tratar o ebola. Em outubro de 2012 um “coquetel” de anticorpos denominado MB-003
foi testado em animais expostos aos vírus. O coquetel atua inativando o vírus e
estimulando o sistema imunológico a eliminar as células infectadas. O resultado foi
positivo nos macacos que haviam sido expostos em até uma hora ao vírus.
Ebola é vírus raro no oeste da África
Na epidemia atual, chamou atenção o fato de serem raros os casos de ebola no oeste da
África, mais comuns na região central e no leste do continente. O primeiro e último caso
na África Ocidental aconteceu em 1994, na Costa do Marfim, quando um cientista
contraiu o vírus após ter contato com chimpanzés infectados.
Por esse motivo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou que o atual surto
epidêmico de ebola na África Ocidental está entre os "mais assustadores" desde o
aparecimento da doença, há 40 anos. A disseminação do vírus preocupa, pois pode estar
se propagando em direção Conacri, capital da República da Guiné, e ao país vizinho,
Libéria, o que seria preocupante.
Os hospedeiros naturais do vírus são os morcegos frugívoros (cuja alimentação é
basicamente de frutas), mas gorilas e chimpanzés também são tidos como transmissores
do ebola por meio da ingestão de frutas nas quais os morcegos salivaram ou defecaram.
No caso dos humanos, o contágio pode acontecer quando comemos estes animais, o que
é comum na África. Para cientistas, foi desta forma que o ebola se alastrou pela região.
Além disso, um fator cultural pode contribuir para o contágio ser mais comum na
África: a tradição de lavar os corpos dos mortos durante a preparação para o enterro.
Como o corpo da vítima do ebola permanece contagioso mesmo depois da morta,
dependendo do contato tido com a vítima, o vírus pode ser transmitido. Por isso, as
vítimas devem ser rapidamente enterradas ou cremadas.
DIRETO AO PONTO
O vírus ebola voltou a preocupar autoridades africanas e de saúde após um novo surto ter sido identificado no início deste ano em Guiné, onde mais de 100 pessoas teriam morrido. Isso sem contar os casos suspeitos no Mali, Serra Leoa e Libéria, todos países da África Ocidental.
Os casos de ebola nessa região da África são raros, sendo mais incidentes na região central e no leste do continente. Por isso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou que o atual surto epidêmico de ebola na África Ocidental está entre os "mais assustadores" desde o aparecimento da doença, há 40 anos.
Desde a descoberta do vírus, em 1976, já foram identificados cerca de 2.000 casos, sendo 1.300 fatais. A última epidemia do vírus registrou mais de 400 casos e matou 224 pessoas em Uganda, entre outubro de 2000 e março de 2001. No fim de 2007, mais de 100 pessoas foram infectadas com o vírus no país. Todos os casos em humanos só foram registrados na África. A febre hemorrágica do ebola é considerada fatal em 90% dos casos, já que não tem cura ou vacina.
Bibliografia
A História da Humanidade Contada pelo Vírus, de Stefan Cunha Ujvari (Contexto,
2008)
Ciência17/04/2014 - 16:43
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Astronomia
Nasa: descoberto primeiro exoplaneta habitável do tamanho da Terra
Batizado de Kepler-186f, planeta é rochoso e pode ter água líquida
Planeta foi descoberto pelo telescópio Kepler, lançado ao espaço para localizar zonas habitáveis fora do
Sistema Solar(NASA Ames/SETI Institute/JPL-CalTech)
Pesquisadores da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, anunciaram a descoberta de um novo planeta rochoso com grandes chances de ter água líquida — e vida — em sua superfície. O achado foi publicado nesta quinta-feira na revista Science.CONHEÇA A PESQUISA
Título original: An Earth-Sized Planet in the Habitable Zone of a Cool Star
Onde foi divulgada: periódico Science.
Quem fez: Elisa V. Quintana, Thomas Barclay, Sean N. Raymond, Jason F. Rowe, Emeline Bolmont, Douglas A. Caldwell, Steve B. Howell, Stephen R. Kane, Daniel Huber, Justin R. Crepp, Jack J. Lissauer, David R. Ciardi, Jeffrey L. Coughlin, Mark E. Everett10, Christopher E. Henze, Elliott Horch, Howard Isaacson, Eric B. Ford, Fred C. Adams, Martin Still, Roger C. Hunter, Billy Quarles e Franck Selsis
Instituição: Universidade Estadual de São Francisco, entre outras.
Resultado: Descoberta do Kepler-186f, um planeta com dimensões semelhantes às da Terra, composto de rochas e contendo água líquida.
Chamado de Kepler-186f, o planeta foi localizado pelo telescópio Kepler, da Nasa, que foi lançado ao espaço em março de 2009 com o propósito de procurar zonas habitáveis e planetas com dimensão semelhante à da Terra fora do nosso Sistema Solar.
São considerados habitáveis planetas que mantêm a maior parte de sua água em estado líquido — elemento que os astrônomos consideram fundamental para a existência de vida extraterrestre. "É lógico que não sabemos se existe, realmente, vida nessas zonas. Partir dessa premissa, porém, é importante para concentrarmos as nossas buscas", diz Stephan Kane, professor de física e astronomia da Universidade Estadual de São Francisco.
Leia também:Nasa anuncia descoberta de 715 novos planetas fora do Sistema Solar Estudo liderado por brasileiro descobre primeiro asteroide rodeado de anéisO Kepler-186f orbita uma estrela anã chamada Kepler-186, localizada a cerca de 500 anos-luz do nosso sistema solar, e é, dentre os exoplanetas localizados em zonas habitáveis, o primeiro com tamanho e densidade parecidos com os da Terra. "Uma vez que se sabe a densidade de um planeta, podemos calcular se ele é rochoso ou não", afirma Kane. O Kepler-186f se distancia dos grandes planetas gasosos, que, por causa da grande massa, acumulam gás de hidrogênio e hélio na atmosfera.
Outra peculiaridade do Kepler-186f é a sua rotação, parecida com a da Terra. "Planetas encontrados anteriormente têm apenas uma face voltada para a estrela e a outra para a escuridão. O Kepler-186f deve ter, portanto, uma temperatura bem distribuída na sua superfície", diz Douglas Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da USP. "Esse é o planeta mais promissor já encontrado e merece ser estudado por outras técnicas para aprendermos melhor sobre suas características."
Galante ressalta que o anúncio do Kepler-186f é um avanço natural das pesquisas na área e que outras descobertas devem ser feitas. "O Kepler-186f deve ser o primeiro de muitos planetas com condições promissoras para a existência de vida que serão encontrados por esses novos telescópios."
Atualmente, apenas a Terra tem condições óbvias de vida no Sistema Solar. Marte, no entanto, já teve, há bilhões de anos, água e uma atmosfera espessa. Os astrônomos já mostraram, também, que as luas Europa, de Júpiter, e Enceladus, de Saturno, têm oceanos ou grandes lagos de água líquida sob sua superfície congelada, indícios de condições adequadas para alguns tipos de vida.
Descobertas envolvendo exoplanetas
Mais escuro
Uma equipe de pesquisadores descobriu que o planeta TrES-2b — localizado a 750 anos-luz da Terra — é o mais escuro já observado. Com tamanho similar ao de Júpiter, o gigante gasoso orbita sua estrela a uma distância de apenas 4,8 milhões de quilômetros (Sol e Terra estão separados por 148,45 milhões de quilômetros). Mas ele reflete apenas 1% da luz solar nele projetada. "O TrES-2b reflete menos luz do que a tinta acrílica preta", compara o astrônomo David Kipping.Leia mais
Uma estimativa da Nasa de 2013 revelou que há pelo menos 17 bilhões de planetas do tamanho da Terra na Via Láctea. Ao menos uma em cada seis estrelas da Via Láctea tem um planeta do tamanho da Terra em sua órbita — e a estimativa é de que existem 100 bilhões de estrelas na nossa galáxia. Para ser habitável, um planeta deve estar a uma distância de sua estrela que permita evitar temperaturas extremas e que a água possa existir em estado líquido, algo essencial para a vida.Leia mais
Em 2012, astrônomos descobriram um exoplaneta composto por diamante e grafite orbitando uma estrela semelhante ao Sol na constelação de Câncer, a 40 anos-luz de distância. Denominado 55 Cancri-e, o planeta havia sido detectado pela primeira vez em 2004, mas só então os cientistas conseguiram confirmar a sua composição.Leia mais
2 de 5
O quarto Sol
Astrônomos amadores utilizaram dados do telescópio Kepler para identificar um planeta que tem o céu iluminado por quatro sóis. O planeta, batizado de PH1, situado a cerca de 5.000 anos-luz da Terra, está em órbita de dois sóis, sendo que outras duas estrelas giram em torno destes. Segundo os astrônomos, apenas seis planetas são conhecidos por orbitar dois sóis, mas nenhum deles tem outras estrelas em órbita nos seus sistemas.Leia mais
O primeiro exoplaneta a ter a cor identificada foi o HD 189733b, localizado a 63 anos-luz da Terra. Para investigar sua coloração, os pesquisadores usaram o espectrógrafo do Telescópio Hubble. O aparelho mediu as mudanças na luz refletida pelo planeta durante toda a sua órbita e concluiu que, assim como a Terra, o HD 189733b é azul. A descoberta foi feita no ano passado e, meses mais tarde, um planeta cor-de-rosa foi encontrado — o GJ 504b.
"Se pudéssemos viajar para esse planeta, veríamos um mundo ainda brilhando com o calor de sua formação, com uma cor que lembra flores de cerejeira, um magenta escuro", afirmou Michael McElwain, pesquisador do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa, em Maryland, nos Estados Unidos, que participou da descoberta.Leia mais
08/04/2014 Prova gera polêmica ao chamar funkeira de pensadora contemporâneaA pergunta cita Valesca Popozuda e sua música 'Beijinho no ombro'. Prova foi elaborada por professor de filosofia de uma escola do DF.Flávia AlvarengaBrasília16 comentários
Uma prova de filosofia de uma escola pública de Taguatinga, no Distrito
Federal, provocou polêmica depois de citar a funkeira Valesca Popozuda
como "grande pensadora contemporânea". O teste provocou polêmica nas
redes sociais e foi um dos assuntos mais comentados na manhã desta
terça-feira (8).
A pergunta da prova foi inspirada na música “Beijinho no Ombro”. O
enunciado dizia: “Segundo a grande pensadora contemporânea Valesca
Popozuda, se bater de frente...”. Os alunos tinham que completar, seguindo
o verso da música. A resposta correta era: "é só tiro, porrada e bomba".
“A sala toda virou um fuzuê. Achei a questão muito sem noção”, conta a
aluna Monique Gomes.
A prova de filosofia foi aplicada a 400 alunos do ensino médio. De acordo
com a Secretaria de Educação, o professor tem autonomia para elaborar as
questões e, por isso, a prova não será cancelada.
“Nenhuma advertência, nada contra esse professor. O conteúdo que ele
estava testando dos alunos está mantido. Ele seguiu as orientações do
nosso currículo da educação básica”, afirma Marcelo Aguiar, secretário de
educação do Distrito Federal.
O professor Antônio Kubitschek, que elaborou a prova, explicou que a
intenção era chamar a atenção dos alunos: “Era pra gerar polêmica. O
objetivo da questão foi esse. Eu só não esperava que tomasse essa
discussão nacional, principalmente, fazendo um recorte da prova”.
Em uma rede social, a cantora Valesca Popozuda disse que tudo isso é
uma bobagem e que se sentiu honrada, tanto pela pergunta quanto ao
título de pensadora, mas recusa o título porque é muito forte e não se sente
pronta para isso.
O professor de filosofia da Universidade de Brasília, Agnaldo Portugal, avalia
que a questão polêmica fez os estudantes pensarem, um dos princípios da
filosofia: “Um filósofo antigo, Sócrates, tinha exatamente esse tipo de
método. Ele fazia as pessoas pensarem melhor por meio da ironia, por meio
do questionamento daquilo que parece mais estranho, mais bizarro
questionar”.
Atualidades
Segurança pública: Em seis anos de implantação, UPPs ainda enfrentam desafios nas
comunidades do Rio
COMENTECarolina CunhaDa Novelo Comunicação17/05/201414h41
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Ale Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
21.mar.2014 - Policiamento é reforçado após o comandante da UPP de Manguinhos,
Gabriel Toledo, ser baleado e a sede da unidade incendiada na noite de quinta-feira (20),
no Rio de Janeiro
Nas décadas de 1980 e 1990 o Rio de Janeiro ficou conhecido pela violência extrema e
pelos grupos armados de traficantes que dominavam as favelas cariocas na chamada
“guerra do tráfico”. A expressão “cidade partida”, cunhada pelo escritor Zuenir Ventura,
simbolizava o muro imaginário das desigualdades sociais que dividia o morador do
asfalto e do morro em duas realidades distintas.
Marcado pela baixa qualidade de vida e pelo abandono do poder público, a favela se
tornou verdadeira fortaleza de quadrilhas organizadas que exerciam a autoridade nesses
locais. Já os bairros de classe média e alta, com boa infraestrutura de serviços públicos,
acabaram acuados por tiroteios e pela guerra das facções.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Para reduzir a violência, em 2007, o Governo do Rio de Janeiro iniciou uma nova
política de segurança pública, representada pela implantação das UPPs (Unidades de
Polícia Pacificadoras) em comunidades controladas pelo tráfico de drogas. O projeto
inédito foi inspirado numa experiência parecida realizada nas cidades de Bogotá e
Medelín, na Colômbia.
Na época, pesou também o fato da cidade do Rio de Janeiro ter sido escolhida para
sediar megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que
colocam em evidência a capacidade do governo de controlar o território.
As UPPs têm como objetivo principal a retomada de regiões antes dominadas pelo
tráfico e devolver à população a paz e a tranquilidade pública. Cada UPP tem sua
própria sede, que pode contar com uma ou mais bases de ocupação permanente.
A primeira unidade pacificada foi o Morro Santa Marta, na Zona Sul, em 2008. Desde
então, até maio de 2014 foram implantadas 37 UPPs, envolvendo mais de 8.000
policiais militares e impactando 1,5 milhão de pessoas. Este ano, o secretário de
Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, disse que o governo pretende instalar
mais 32 UPPs no Estado até 2018.
A instalação de uma UPP é precedida por uma ação militar que visa retomar o terreno
controlado por criminosos. A ação geralmente é feita pelas tropas do Exército e do
Batalhão de Operações Especiais (Bope). Depois de ocupada militarmente, a região
recebe uma unidade de polícia permanente, que conta com um efetivo policial próprio e
patrulhamentos diários.
A terceira etapa consistiria em estabelecer um diálogo entre a sociedade civil e as forças
de segurança e a instalação de serviços públicos e projetos de desenvolvimento social, a
chamada UPP Social, que ampliaria o acesso à cidadania e promoveria melhorias na
qualidade vida dos moradores.
Para especialistas, este é um ponto que precisa ser melhor pensado. Algumas obras já se
tornaram símbolos do período pós-UPP, como o teleférico e o cinema do Complexo do
Alemão. Em algumas comunidades, a pacificação trouxe turistas que são atraídos pela
“experiência” de se hospedar em uma favela, como nas favelas da Rocinha e do Vidigal,
que agora recebem um número expressivo de turistas.
Segundo dados da Prefeitura do Rio, desde 2009, já foram investidos cerca de R$ 1,5
bilhão nas áreas pacificadas. Entre as ações, estão o levantamento de dados
socioeconômicos e a implantação de serviços públicos como a coleta do lixo, o
programa Saúde da Família (PSF), que atinge 75% dos moradores de áreas das UPPs e
Espaços de Desenvolvimento Infantis (EDI), escolas voltadas para a educação básica.
O programa UPP Social também prevê a urbanização das favelas (com obras como
asfalto, contenção de encostas entre outras) e a integração dessas áreas ao conjunto da
cidade. Pelo perfil de muitas favelas, que carecem com a falta de saneamento básico,
transporte, moradia, entre outras demandas, ainda é preciso muito mais para os
resultados positivos chegarem.
Os prós e contras
A presença do poder público nas favelas se reflete no direito de ir e vir pela cidade
(antes, muitos moradores não conseguiam deixar o morro), na existência de novos
estabelecimentos comerciais e serviços voltados para moradores, a proibição de ligações
clandestinas de luz e TV e a chegada da energia elétrica fornecida por empresas, a
promoção da formalização de negócios e o incentivo a microempreendedores.
A ideia inicial da UPP era criar uma unidade de polícia próxima, baseada no
policiamento comunitário, que busca uma parceria entre a população e as forças de
segurança. Entretanto, críticos observam uma ocupação militar ostensiva marcada pelo
controle da população e a limitação de direitos que resguardem a cidadania e criam o
chamado “estado de exceção”, no qual os direitos garantidos pela Constituição são
suspensos por motivos emergenciais. No caso das UPPs, a atuação policial muitas vezes
ignora esses direitos.
Entre as denúncias feitas por moradores, estão a busca e apreensão no interior das
residências sem mandado judicial, a imposição de toque de recolher, a necessidade de
autorização dos policiais para a realização de eventos em área pública, a proibição de
bailes funks, as revistas vexatórias de pessoas sem indicação de delito, entre outros.
O mais grave são as denúncias de abusos da PM, a tortura e o desaparecimento de
pessoas. Casos de crimes que aconteceram recentemente, como de Cláudia Silva
Ferreira, que teve o corpo arrastado por um carro da PM no Morro da Congonha, o
pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, que desapareceu depois de ser levado
por policiais para a sede da UPP no morro, e do dançarino Douglas Rafael da Silva
(DG), encontrado morto no Morro do Pavão-Pavãozinho em condições não esclarecidas
são crimes que alertam sobre a conduta da polícia.
No caso do assassinato de DG, o fato causou uma revolta entre os moradores da
comunidade do Pavão-Pavãozinho, que realizaram em abril deste ano passeatas
exigindo a saída da UPP, com denúncias sobre a truculência da polícia e a existência de
milícias paramilitares nas favelas.
Para interagir com a população e reforçar a polícia comunitária, este ano a
Coordenadoria de Polícia Pacificadora começa a testar o serviço Paz com Voz,
ouvidoria móvel que vai receber denúncias e reclamações dos moradores e percorrerá as
37 comunidades ocupadas.
As UPPs já mostram resultados positivos na redução da violência como a queda do
índice de homicídios nas comunidades pacificadas. Segundo dados de 2012 do Instituto
de Segurança Pública (ISP), as primeiras 18 comunidades com UPPs do Rio tinham
registrado média de 8,7 homicídios por 100 mil habitantes, menos da metade da taxa
média do país, de 24,3.
Apesar disso, o estudo do Instituto demonstrou que a violência cresceu no Estado do
Rio. O número de homicídios aumentou 23,6% em março deste ano em comparação
com o mesmo mês de 2013. Especialistas avaliam que o avanço das UPPs teria
deslocado a atuação de bandidos para áreas onde não há policiamento suficiente.
DIRETO AO PONTO
Para combater a criminalidade, em 2008 a cidade do Rio de Janeiro implementou
uma nova política de segurança pública, representada pela implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) em favelas comunidades controladas pelo tráfico de drogas.
A primeira unidade pacificada foi o Morro Santa Marta, na Zona Sul. Desde então, até maio de 2014 foram implantadas 37 UPPs, envolvendo mais de 8.000 policiais militares e impactando 1,5 milhão de pessoas.
A ideia inicial da UPP era criar uma unidade de polícia próxima, baseada no policiamento comunitário, que busca uma parceria entre a população e as forças de segurança. Entretanto, críticos observam uma ocupação militar ostensiva marcada pelo controle da população e a limitação de direitos que resguardem a cidadania e criam o chamado “estado de exceção”.
Entre as denúncias feitas por moradores, estão a busca e apreensão no interior das residências sem mandado judicial, a imposição de toque de recolher, a necessidade de autorização dos policiais para a realização de eventos, a proibição de bailes funks, as revistas vexatórias de pessoas sem indicação de delito, entre outros.
Por outro lado, dados de 2012 do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que as UPPs promoveram a redução da violência como a queda do índice de homicídios nas comunidades pacificadas.
Carolina Cunha é jornalista
Bibliografia
A Condição Humana, Hannah Arendt (Forense Universitária)
Vivendo no fogo cruzado, de Maria Helena Moreira Alves e Philip Evanson (Unesp,
2013)
O Espaço do Cidadão, de Milton Santos (Edusp)
Documentário 5x Pacificação, de Cadu Barcellos, Rodrigo Felha, Luciano Vidigal e
Wagner Novais (2012)
Militarização do social como estratégia de integração - o caso da UPP do Santa
Marta (2012), de Sonia Fleury (Artigo disponível em
http://www.scielo.br/pdf/soc/v14n30/07.pdf)
Atualidades
Copa do Mundo: Brasil enfrenta crise de imagem com protestos, atrasos em obras e cobertura
internacional negativa
126/05/201417h42
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Faltando menos de um mês para a realização do mundial, o período pré-Copa do Mundo
será lembrado pelo clima de protestos, que vem se desenrolando desde junho de 2013, e
de criticas à realização do mundial. A seguir, relembre em charges as principais p
Atualidades
Energia: Entenda por que o petróleo está no centro de atuais disputas políticas no mundo
1Carolina CunhaDa Novelo Comunicação30/05/201406h00
Plataforma de extração de petróleo da empresa chinesa China National Offshore Oil
Corporation's (CNOOC)
Gerar energia é uma das necessidades fundamentais do mundo industrializado. Nos
séculos 18 e 19, o carvão foi importante fonte de energia para a Primeira Revolução
Industrial. No século 20, a utilização do petróleo e seus derivados substituiu o carvão
como base da matriz energética mundial, um recurso natural não renovável.
Os combustíveis fósseis envolvem questões econômicas, ambientais e também políticas
– a manutenção da segurança energética e a disputa pelo controle do petróleo são
frequentemente associadas a fatores de conflitos em diversos países.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
A região do Oriente Médio, por exemplo, é detentora das maiores reservas de petróleo
em terra do mundo. A abundante matéria-prima sustenta o PIB (Produto Interno Bruto)
de países como Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuwait, Qatar e Emirados Árabes.
Anos atrás, essa riqueza foi um dos grandes motivos de conflitos que aconteceram na
região, principalmente no Golfo Pérsico, como a Guerra do Iom Kipur (1973) entre
árabes e israelenses, a Guerra Irã-Iraque (1980-1988) e a Guerra do Golfo (1991),
quando o Iraque invadiu o Kuwait e sofreu intervenção dos EUA.
Na Ásia, a Rússia é a grande produtora de petróleo e gás e exerce influência sobre as
rotas de exportação dos recursos energéticos produzidos na região do Cáucaso. Além de
ser um dos maiores fornecedores de hidrocarbonetos para a União Europeia, parte de
seu território funciona como corredor de gasodutos que também passam por ex-
repúblicas soviéticas, como a Ucrânia.
A Europa importa 67% do gás que consome e praticamente a metade vem da Rússia. O
atual conflito entre Ucrânia e Rússia, que anexou o território ucraniano da Crimeia,
impacta diretamente o mercado de energia. O gigante soviético ameaçou fechar as
torneiras de gasodutos caso sofra sanções econômicas da União Europeia, que considera
que a Rússia está incentivando o separatismo na Ucrânia.
Na África, o Sudão do Sul, país criado em 2011 após a separação do Sudão, vive há
cinco meses em uma guerra civil que já deixou milhares de mortos e uma legião de
refugiados. O motivo é a disputa de poder entre tropas do governo e rebeldes, que acirra
a tensão entre grupos étnicos no país. A ONU e organizações humanitárias alertam
sobre o risco de uma epidemia de fome capaz de deixar o país ainda mais vulnerável.
Um dos panos de fundo do conflito é o controle dos dividendos do petróleo, base da
economia do país, um dos mais empobrecidos do mundo. Em abril deste ano, as forças
rebeldes tomaram o controle de poços petrolíferos. A matéria-prima representa 98% das
receitas de exportação do Sudão do Sul e seria o principal potencial de desenvolvimento
econômico do país.
Em 2012, o clima já era tenso na região. A maior parte das reservas se situa na fronteira
com o vizinho Sudão, que com a perda de divisas, viu a economia piorar após a
independência. O país do sul se recusou a pagar taxas pelo uso dos gasodutos no norte e,
como retaliação, o Sudão impediu a passagem de navios petroleiros e o sul fechou
poços de perfuração.
Na América Latina, a Venezuela é o único país sul-americano a integrar a OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), e suas reservas petrolíferas são a
maior fonte de renda do país. Os EUA são o principal comprador do petróleo
venezuelano. Em abril deste ano, o presidente Nicolás Maduro declarou a um jornal
britânico que os recentes protestos da oposição no país estão sendo apoiados pelos
norte-americanos, que teriam interesse em derrubar o governo para ter mais liberdade
no mercado de hidrocarbonetos.
Em maio, o Congresso americano elevou a pressão pela imposição de sanções à
Venezuela, com o argumento de que o país estaria violando direitos humanos na
repressão a opositores e protestos contra o governo. Entre as sanções propostas, estaria
o bloqueio à importação de petróleo.
Veja também
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História do petróleo no Brasil
No Brasil, o petróleo nunca chegou a gerar um conflito armado, mas sua exploração
sempre foi estratégica para o Estado. Desde o final do século 20, o Brasil aumentou
progressivamente a produção de petróleo encontrado nos oceanos.
Por anos o país buscou a meta da autossuficiência em petróleo. O objetivo foi alcançado
pela primeira vez em 2006. Outro marco foi a descoberta dos campos de pré-sal, que
prometem triplicar a produção brasileira. Hoje, o país se destaca pelo domínio da
tecnologia de exploração do petróleo em águas profundas.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil iniciou um projeto de desenvolvimento
industrial que buscava reduzir a dependência das importações e a conquista da soberania
econômica brasileira. Já havia poços de petróleo na Bahia, mas a produção era em
pequena escala.
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), o presidente exerceu uma
política econômica nacionalista e de investimentos em setores estratégicos, criando
estatais nas áreas de mineração, aço e energia. “O petróleo é nosso!" foi o lema da
campanha no início dos anos 1950. Em 1953, Vargas promulgou a Lei 2.004 que criava
a Petrobras, empresa estatal responsável pela exploração do petróleo no território
brasileiro e encarregada do monopólio da atividade no setor.
No governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), sob o slogan de “50 anos de
desenvolvimento em 5”, o governo continuou a apostar na expansão do mercado interno
e na industrialização com incentivos a diversos setores e abertura a investimentos
estrangeiros, como a implantação da indústria automobilística, que teve um forte
crescimento no período.
Durante o Regime Militar (1964-1985), o governo continuou a expansão da produção
de petróleo e investiu em pesquisas geológicas. Em 1968, ocorreu a primeira descoberta
de petróleo no mar, dado origem ao campo de Guaricema, em Sergipe.
Em 1973, OPEP triplicou os preços do produto. A crise se estendeu até 1980 e fez o
preço do barril disparar em todo o mundo, e os gastos com importação acabaram
influenciando a balança comercial e a recessão econômica do Brasil. Na Europa, a crise
e a corrida armamentista da Guerra Fria (1945-1989) impulsionaram o investimento
em usinas de energia nuclear, enquanto o Brasil buscava uma fonte alternativa para os
combustíveis.
Nesse período, em 1975, o Governo Federal instituiu o Proálcool (Programa Nacional
do Álcool), incentivo à produção de biocombustível, que substituiu a gasolina pelo
etanol derivado da cana-de-açúcar e que teria papel estratégico na economia na década
seguinte.
O monopólio estatal em relação ao petróleo chegaria ao fim em 1997, quando o governo
Fernando Henrique Cardoso promulgou a Lei 9.478, que passou a permitir a produção,
o refino, o transporte e a importação de petróleo por empresas diferentes da Petrobras.
No mesmo ano, o Brasil começou a incrementar o peso do gás natural na sua matriz
energética com a construção do gasoduto Brasil-Bolívia. Em 2006, quando Evo Morales
foi eleito presidente da Bolívia, ele nacionalizou empresas estrangeiras de exploração de
hidrocarbonetos, como a brasileira Petrobras, que passou a pagar royalties mais caros
pelo produto.
Na época, o exército boliviano ocupou todos os campos de petróleo e gás natural do país
e o fato provocou um atrito diplomático com o Brasil. Depois, o presidente Lula
reconheceu que o país tinha direito a soberania. Hoje, somos o principal comprador do
gás boliviano.
Em 2007, o anúncio da descoberta do pré-sal em áreas oceânicas mudou o panorama do
setor de petróleo no Brasil. Com a descoberta e a exploração das reservas do pré-sal,
os royalties advindos dessa fonte tornaram-se alvo de disputas entre governos estaduais
e municipais. A disputa se acirrou no final de 2012, em função de novas regras para o
setor votadas no Congresso Nacional.
DIRETO AO PONTO
Gerar energia é uma das necessidades fundamentais do mundo industrializado. Nos séculos 18 e 19, o carvão foi importante fonte de energia para a Primeira Revolução Industrial. No século 20, a utilização do petróleo e seus derivados substituiu o carvão como base da matriz energética mundial, um recurso natural não renovável.
Os combustíveis fósseis envolvem questões econômicas, ambientais e também políticas – a manutenção da segurança energética e a disputa pelo controle do petróleo são frequentemente associadas a fatores de conflitos em diversos países.
No Brasil, o petróleo nunca chegou a gerar um conflito armado, mas sua exploração sempre foi estratégica para o Estado. Desde o final do século 20, o país aumentou progressivamente a produção de petróleo encontrado nos oceanos e buscou por anos a meta da autossuficiência.
O objetivo foi alcançado pela primeira vez em 2006. Outro marco foi a descoberta dos campos de pré-sal, que prometem triplicar a produção brasileira. Hoje, o país se destaca pelo domínio da tecnologia de exploração do petróleo em águas profundas.
Carolina Cunha é jornalista.
Bibliografia
Geoeconomia e geopolítica dos recursos energéticos na primeira década do século
XXI, de Hoyêdo N. Lins
Fonte de Guerra: O Panorama do Conflito Global, de Michael Klare