Upload
neomastervr
View
214
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Aula 15 de análise real 1 curso de licenciatura em matemática do cederj
Citation preview
Combinacoes de Funcoes ContınuasMODULO 1 - AULA 15
Aula 15 – Combinacoes de Funcoes Contınuas
Metas da aula: Estabelecer os principais fatos sobre operacoes com
funcoes contınuas bem como sobre composicao dessas funcoes.
Objetivos: Ao final desta aula, voce devera ser capaz de:
• Conhecer os resultados sobre operacoes com funcoes contınuas e sobre
composicao dessas funcoes, bem como suas aplicacoes no estabeleci-
mento da continuidade de funcoes.
Introducao
Nesta aula vamos estabelecer os principais resultados sobre operacoes
com funcoes contınuas assim como sobre a composicao dessas funcoes.
Operacoes com Funcoes Contınuas
Seja X ⊂ R, sejam f e g funcoes de X em R e seja c ∈ R. Vamos
iniciar esta aula estabelecendo a preservacao da continuidade pelas operacoes
de soma f + g, diferenca f − g, produto fg, multiplicacao por constante cf ,
e, quando g(x) 6= 0 para todo x ∈ X, do quociente f/g. Subsequentemente,
vamos analisar a questao sobre a continuidade da composicao de funcoes
contınuas.
Teorema 15.1
Sejam X ⊂ R, f, g : X → R, c ∈ R. Suponhamos que f e g sao contınuas
em x ∈ X.
(i) Entao f + g, f − g, fg e cf sao contınuas em x.
(ii) Se g(x) 6= 0 para todo x ∈ X, entao o quociente f/g e contınua em x.
Prova: Se x nao e um ponto de acumulacao de X, entao a conclusao e
automatica. Portanto, vamos assumir que x e um ponto de acumulacao de
X.
(i) Como f e g sao contınuas em x, entao
limx→x
f(x) = f(x), limx→x
g(x) = g(x).
189CEDERJ
ANALISE REAL
Combinacoes de Funcoes Contınuas
Logo, segue do Teorema 13.2 que
limx→x
(f + g) = limx→x
f + limx→x
g = f(x) + g(x).
Portanto, f+g e contınua em x. De forma inteiramente semelhante, provamos
que f − g, fg e cf sao contınuas em x.
(ii) Do mesmo modo, se g(x) 6= 0 para todo x ∈ X, o Teorema 13.2 implica
que
limx→x
(f
g
)
=limx→x
f
limx→x
g=f(x)
g(x)=
(f
g
)
(x).
Portanto, f/g e contınua em x. �
O proximo resultado e uma consequencia imediata do Teorema 15.1,
aplicado a todo ponto de X.
Teorema 15.2
Sejam X ⊂ R, f, g : X → R funcoes contınuas em X, e c ∈ R.
(i) As funcoes f + g, f − g, fg e cf sao contınuas em X.
(ii) Se g(x) 6= 0 para todo x ∈ X, entao a funcao quociente f/g e contınua
em X.
Observacao 15.1
Para definir funcoes quocientes, as vezes e mais conveniente proceder do
seguinte modo. Se g : X → R, seja X∗ := {x ∈ X : g(x) 6= 0}. Podemos
definir o quociente f/g no conjunto X∗ por
(f
g
)
(x) :=f(x)
g(x)para x ∈ X∗. (15.1)
Se g e contınua num ponto x ∈ X∗, claramente a restricao g∗ de g a X∗
tambem e contınua em x. Portanto, segue do Teorema 15.1 aplicado a g∗
que f/g∗ e contınua em x. Como (f/g)(x) = (f/g∗)(x) para x ∈ X∗ segue
que f/g e contınua em x ∈ X∗. Similarmente, se f e g sao contınuas em X,
entao a funcao f/g, definida em X∗ por (15.1), e contınua em X∗.
Exemplos 15.1
(a) Se p e uma funcao polinomial, de modo que p(x) = anxn + an−1x
n−1 +
· · · + a1x + a0 para todo x ∈ R, entao segue do Exemplo 13.1 (e) que
limx→x
p(x) = p(x) para todo x ∈ X. Portanto, uma funcao polinomial e
contınua em R.
CEDERJ 190
Combinacoes de Funcoes ContınuasMODULO 1 - AULA 15
(b) Se p e q sao funcoes polinomiais em R, entao existe no maximo um
numero finito de raızes de q, α1, . . . , αm. Se x /∈ {α1, . . . , αm}, entao
q(x) /∈ 0 de modo que podemos definir a funcao racional r por
r(x) :=p(x)
q(x)para x /∈ {α1, . . . , αm}.
Vimos no Exemplo 13.1 (f) que se q(x) 6= 0, entao
limx→x
r(x) = limx→x
f(x)
g(x)=f(x)
g(x)= r(x).
Portanto, r e contınua em x. Assim, concluımos que uma funcao
racional e contınua em todo numero real para o qual ela esta definida.
(c) Consideremos a serie s(x) :=∑anx
n para x ∈ R. Segue do Teste da
Raiz 11.4 que s converge se
|x| lim |an|1/n < 1.
Suponhamos que existe α := lim |an|1/n em R. Facamos
R :=1
αse α 6= 0 e R := +∞ se α = 0.
O numero R assim definido e chamado o raio de convergencia de s(x).
Defina s(x) :=∑anx
n para todo x ∈ X := (−R,R) ⊂ R. Entao a
funcao s(x) e contınua em todo x ∈ X.
De fato, seja dado ε > 0. Tomemos δ1 > 0 e r > 0 tais que −R < −r <x− δ1 < x < x+ δ1 < r < R. Como
∑anr
n converge, podemos obter
N ∈ N tal que∞∑
n=N+1
anrn <
ε
3.
Assim temos∣∣∣∣∣
∑
n=N+1
anxn
∣∣∣∣∣+
∣∣∣∣∣
∑
n=N+1
anxn
∣∣∣∣∣≤ 2
∞∑
n=N+1
anrn <
2ε
3
para todo x ∈ X tal que |x − x| < δ1. Agora p(x) :=N∑
n=1
anxn e uma
funcao polinomial e, portanto, pelo item (a) e contınua em todo x ∈ R.
Logo, existe δ2 tal que se |x− x| < δ2, entao
|p(x) − p(x)| < ε
3.
191CEDERJ
ANALISE REAL
Combinacoes de Funcoes Contınuas
Tomemos δ := min{δ1, δ2}. Entao se |x− x| < δ, temos
|s(x) − s(x)| ≤ |p(x) − p(x)| +∣∣∣∣∣
∑
n=N+1
anxn
∣∣∣∣∣+
∣∣∣∣∣
∑
n=N+1
anxn
∣∣∣∣∣
<ε
3+
2ε
3= ε.
Como ε > 0 e arbitrario, concluımos que s(x) e contınua em x para
todo x ∈ X.
(d) Consideremos as series s(x) :=∞∑
k=0
(−1)k
(2k + 1)!x2k+1 e c(x) :=
∞∑
k=0
(−1)k
(2k)!x2k.
Facamos ak :=(−1)k
(2k + 1)!e bk :=
(−1)k
(2k)!para k = 0, 1, 2, . . . . E facil ver
que
lim|ak+1||ak|
= 0 e lim|bk+1||bk|
= 0.
Assim, deduzimos pelo Exemplo 11.2 (c) que
lim |ak|1/k = 0 e lim |bk|1/k = 0.
Portanto, ambas as series s(x) e c(x) possuem raio de convergencia
igual a +∞. Portanto, podemos definir as funcoes
s(x) :=∞∑
k=0
(−1)k
(2k + 1)!x2k+1 e c(x) :=
∞∑
k=0
(−1)k
(2k)!x2k para todo x ∈ R.
Vamos ver em aula futura que, de fato, temos
s(x) = sen(x) e c(x) = cos(x) para todo x ∈ R.
Do item anterior segue entao que sen(x) e cos(x) sao funcoes contınuas
em R.
(e) E possıvel provar analiticamente que vale a classica interpretacao geometrica
para sen x e cosx. (Veja Figura 15.1.) Dessa interpretacao geometrica
vemos facilmente que valem
| sen x| ≤ |x| e sen2 x+ cos2 x = 1 para todo x ∈ R.
Da segunda relacao, segue imediatamente que | sen x| ≤ 1 e | cosx| ≤ 1.
Alem disso, valem as formulas
sen x− sen y = 2 sen
(x− y
2
)
cos
(x+ y
2
)
,
cosx− cos y = −2 sen
(x+ y
2
)
sen
(x− y
2
)
.
CEDERJ 192
Combinacoes de Funcoes ContınuasMODULO 1 - AULA 15
Portanto, se x ∈ R, entao temos
| sen x− sen x| ≤ 2 · 1
2|x− x| · 1 = |x− x|.
Isto nos da uma outra maneira de mostrar a continuidade de sen x para
todo x ∈ R.
Da mesma forma,
| cosx− cos x| ≤ 2 · 1 · 1
2|x− x| = |x− x|,
o que tambem nos da uma outra prova da continuidade de cosx para
todo x ∈ R.
xcosx
sen x
raio = 1
Figura 15.1: A interpretacao geometrica de sen x e cosx.
Composicao de Funcoes Contınuas
Vamos agora mostrar que se f : X → R e contınua num ponto x e
se g : Y → R e contınua em y := f(x), entao a composta g ◦ f e contınua
em x. Para que tenhamos g ◦ f definida em todo X, e preciso tambem que
f(X) ⊂ Y .
Teorema 15.3
Sejam X, Y ⊂ R e sejam f : X → R e g : Y → R funcoes tais que f(X) ⊂ Y .
Se f e contınua num ponto x ∈ X e g e contınua em y := f(x) ∈ Y , entao a
funcao composta g ◦ f : X → R e contınua em x.
193CEDERJ
ANALISE REAL
Combinacoes de Funcoes Contınuas
Prova: Seja W uma ε-vizinhanca de g(y). Como g e contınua em y, existe
uma δ′-vizinhanca V de y = f(x) tal que se y ∈ V ∩Y , entao g(y) ∈W . Como
f e contınua em x, existe uma δ-vizinhanca U de x tal que se x ∈ U∩X, entao
f(x) ∈ V (Veja Figura 15.2). Como f(X) ⊂ Y , segue que se x ∈ U ∩ X,
entao f(x) ∈ V ∩ Y de modo que g ◦ f(x) = g(f(x)) ∈ W . Mas como W e
uma ε-vizinhanca de g(y) arbitraria, isso implica que g ◦ f e contınua em x.
�
W
U
x
y = f(x)
f
V
g(y)
g
Figura 15.2: A composicao de f e g.
O teorema seguinte e uma consequencia imediata do Teorema 15.3.
Porem vamos enuncia-lo devido a sua importancia.
Teorema 15.4
Sejam X, Y ⊂ R, f : X → R contınua em X e g : Y → R contınua em Y .
Se f(X) ⊂ Y , entao a funcao composta g ◦ f : X → R e contınua em X.
Os Teoremas 15.3 e 15.4 sao muito uteis para estabelecer a continuidade
de certas funcoes. Eles podem ser usados em diversas situacoes em que seria
difıcil aplicar a definicao de continuidade diretamente.
Exemplos 15.2
(a) Seja g(x) := |x| para x ∈ R. Segue da desigualdade triangular que
|g(x) − g(x)| ≤ |x− x|
CEDERJ 194
Combinacoes de Funcoes ContınuasMODULO 1 - AULA 15
para todo x, x ∈ R. Logo, g e contınua em todo x ∈ R. Se f : X ⊂R → R e qualquer funcao contınua em X, entao o Teorema 15.4 implica
que g ◦ f = |f | e contınua em X.
(b) Seja g(x) :=√x para x ≥ 0. Segue do Exemplo 7.2 (b) e do Teo-
rema 14.2 que g e contınua em todo numero x ≥ 0. Se f : X ⊂ R → R
e contınua em X e se f(x) ≥ 0 para todo x ∈ X, entao segue do
Teorema 15.4 que g ◦ f =√f e contınua em X.
(c) Seja g(x) := sen x para x ∈ R. Vimos no Exemplo 15.1 (d) que g e
contınua em R. Se f : X ⊂ R → R e contınua em X, entao segue do
Teorema 15.4 que g ◦ f e contınua em X.
Em particular, se f(x) := 1/x para x 6= 0, entao a funcao g ◦ f(x) =
sen(1/x) e contınua em todo ponto x 6= 0.
Exercıcios 15.1
1. Determine os pontos de continuidade das seguintes funcoes e diga que
teoremas sao usados em cada caso.
(a) f(x) :=x2 + 2x+ 1
x2 + 1(x ∈ R),
(b) f(x) :=√
x+√x (x ≥ 0),
(c) f(x) :=
√
1 + | sen x|x
(x 6= 0),
(d) f(x) := cos√
1 + x2 (x ∈ R).
2. Mostre que se f : X → R e contınua em X ⊂ R e se n ∈ N, entao a
funcao fn definida por fn(x) := (f(x))n para x ∈ X e contınua em X.
3. Seja x 7→ [[x]] a funcao parte inteira. Determine os pontos de con-
tinuidade da funcao f(x) := x− [[x]], x ∈ R.
4. Seja g definida em R por g(1) := 0 e g(x) = 2 se x 6= 1, e seja
f(x) := x + 1 para todo x ∈ R. Mostre que limx→0
g ◦ f 6= g ◦ f(0).
Por que isso nao contradiz o Teorema 15.3?
5. Sejam f, g definidas em R e seja x ∈ R. Suponhamos que limx→x
f = y e
que g e contınua em y. Mostre que limx→x
g ◦ f = g(y).
6. De um exemplo de uma funcao f : [0, 1] → R que e descontınua em
todo ponto de [0, 1] mas tal que |f | e contınua em [0, 1].
195CEDERJ
ANALISE REAL
Combinacoes de Funcoes Contınuas
7. Seja h : R → R contınua em R satisfazendo h(m/2n) = 0 para todo
m ∈ Z, n ∈ N. Mostre que h(x) = 0 para todo x ∈ R.
8. Se f e g sao contınuas em R, seja S := {x ∈ R : f(x) ≥ g(x)}. Se
(sn) ⊂ S e lim sn = s, mostre que s ∈ S.
9. Seja g : R → R satisfazendo a relacao g(x + y) = g(x)g(y) para todo
x, y ∈ R. Mostre que se g e contınua em x = 0, entao g e contınua
em todo ponto de R. Alem disso, se tivermos g(x0) = 0 para algum
x0 ∈ R, entao g(x) = 0 para todo x ∈ R.
10. Sejam f, g : R → R contınuas num ponto x ∈ R, e seja h(x) :=
max{f(x), g(x)} para x ∈ R. Mostre que h(x) = 12(f(x) + g(x)) +
12|f(x) − g(x)| para todo x ∈ R. Use esse fato para mostrar que h e
contınua em x.
CEDERJ 196