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Instituto Serzedello Corrêa CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Aula 3 Controle Externo

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  • Instituto Serzedello Corra

    CONTROLES NA ADMINISTRAO PBLICA

    Aula 3 Controle Externo

  • RESPONSABILIDADE PELO CONTEDOTribunal de Contas da UnioSecretaria Geral da PresidnciaInstituto Serzedello CorraDiretoria de Diagnstico, Planejamento e Desenvolvimento de Aes EducacionaisDiretoria de Promoo de Aes Educacionais e Relaes InstitucionaisServio de Diagnstico, Planejamento e Desenvolvimento de Aes Educacionais Servio de Aes Educacionais a Distncia

    CONTEUDISTARenato Santos Chaves

    REVISORAntonio Jos Saraiva de Oliveira Junior

    TRATAMENTO PEDAGGICOFlvio Sposto PompeoSilvia Helena de C. Martins

    REVISO GRAMATICALGabriella Nascimento Cordeiro Pereira

    RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da Unio Secretaria Geral da Presidncia Instituto Serzedello Corra Centro de Documentao Editora do TCU

    PROJETO GRFICOIsmael Soares MiguelPaulo Prudncio Soares Brando FilhoVivian Campelo Fernandes

    DIAGRAMAOVanessa Vieira

    Copyright 2014, Tribunal de Contas de Unio

    Permite-se a reproduo desta publicao, em parte ou no todo, sem alterao do contedo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais.

    Este material tem funo didtica. A ltima atualizao ocorreu em novembro de 2014. As afirmaes e opinies so de responsabilidade exclusiva do autor e podem no expressar a posio oficial do Tribunal de Contas da Unio.

    Ateno!

  • [ 3 ]Aula 3: Controle Externo

    Aula 3 Controle Externo

    Quem o titular do controle externo da Administrao Pblica?

    Quem controla a Administrao Pblica?Quais as modalidades de controle existentes?

    Sabemos que os atos administrativos executados pelos gestores pblicos, que devem obedincia s leis oramentrias, so controlados por rgos criados especificamente para esse controle.

    Nesse sentido, o controle oramentrio-financeiro da administrao pblica federal exercido pelo Congresso Nacional, instituio que representa o povo. Nos nveis estaduais e municipais, de acordo com o princpio da simetria, o controle da administrao pblica exercido pelas respectivas Casas Legislativas. No entanto, tais Casas, tanto o Congresso Nacional quanto as Assembleias Legislativas nos Estados e as Cmaras Municipais nos Municpios, so auxiliadas tecnicamente pelos Tribunais de Contas.

    A partir dessa diviso de tarefas, ou seja, de controlar os atos administrativos no que se refere aplicao dos recursos pblicos, a administrao pblica ganha contornos complexos no tema controle. Existem rgos de controle da prpria administrao (controle interno), assim como rgos de controle exteriores estrutura administrativa (controle externo). H rgos especficos para a avaliao da eficincia dos gastos pblicos, assim como rgos que podem responsabilizar judicialmente os gestores pblicos por ato de improbidade.

    Esta aula de extrema importncia para que possamos entender de forma tcnica a atuao dos diversos rgos de controle existentes na administrao pblica brasileira, especialmente a atuao do Tribunal de Contas da Unio, alm de obtermos conhecimentos sobre a Rede de Controle da Gesto Pblica.

  • [ 4 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    Para facilitar o estudo, esta aula est organizada da seguinte forma:

    Aula 3 Controle Externo 31 Conceito e exerccio do Controle Externo 52 Tribunal de Contas da Unio 73 Rede de Controle da Gesto Pblica 18Sntese 21Referncias bibliogrficas 22Todos prontos?

    Ento vamos comear!

  • [ 5 ]Aula 3: Controle Externo

    1. Conceito e exerccio do Controle Externo

    A Constituio Federal de 1988, no art. 70, dispe que: a fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e patrimonial da Unio e das entidades da administrao direta e indireta, quanto legalidade, legitimidade, economicidade, aplicao das subvenes e renncias de receitas, ser exercido pelo Congresso Nacional, mediante controle externo e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

    Portanto, quem o titular do controle externo da Administrao Pblica, sob o enfoque de fiscalizao oramentrio-financeira, o Congresso Nacional. Logicamente, quando nos referimos ao Congresso Nacional, estamos falando da fiscalizao exercida sobre a Administrao Pblica federal ou sobre as pessoas fsicas e/ou jurdicas que utilizem recursos pblicos federais.

    O controle externo nos Estados de responsabilidade das Assembleias Legislativas e, nos Municpios, das Cmaras de Vereadores. No Distrito Federal, a titularidade do controle externo recai sobre a Cmara Legislativa do DF.

    Nas palavras de Hely Lopes Meirelles (1997), controle externo o que se realiza por rgo estranho Administrao responsvel pelo ato controlado e visa comprovar a probidade da Administrao e a regularidade da guarda e do emprego de bens, valores, dinheiros pblicos, bem como a fiel execuo do oramento.

    Para Lima (2007), o objeto do controle externo so os atos administrativos em todos os Poderes constitudos, nas trs esferas de governo e atos de gesto de bens e valores pblicos.

    Conforme vimos, a titularidade do controle externo do Poder Legislativo, exercido pelos parlamentares eleitos pelo povo, representantes da sociedade. Entretanto, o controle exercido com o auxlio tcnico do Tribunal de Contas da Unio, no caso federal e, nos Estados e Municpios, com auxlio tcnico do Tribunal de Contas dos Estados. Veja que no existem tribunais de contas nos municpios, exceo dos Tribunais de Contas dos Municpios do Rio de Janeiro e de So Paulo.

    Quatro Estados da federao (Bahia, Cear, Gois e Par) criaram a figura dos Tribunais de Contas dos Municpios. No so tribunais de contas municipais, so, na realidade, rgos da estrutura

    Segundo Lima (2007),

    o controle externo da

    administrao pblica,

    realizado pelas instituies

    a quem a Constituio

    atribuiu essa misso,

    exigncia e condio

    do regime democrtico,

    devendo, cada vez mais,

    capacitar-se tecnicamente

    e converter-se em eficaz

    instrumento da cidadania,

    contribuindo para o

    aprimoramento da gesto

    pblica.

  • [ 6 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    do Estado, ou seja, so rgos colegiados estaduais responsveis por julgar as contas dos Governos dos Municpios, enquanto os Tribunais de Contas dos Estados julgam as contas dos Governos Estaduais.

    O art. 71 da Constituio Federal de 1988 apresenta as competncias do Tribunal de Contas da Unio, enquanto o art. 75 da Carta Magna prev que as normas estabelecidas nesta seo aplicam-se, no que couber, organizao, composio e fiscalizao dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municpios.

    Para arrematar o assunto, vejamos o que nos ensina Lima (2007) acerca dos tribunais de contas estaduais e municipais:

    O primeiro Tribunal de Contas estadual foi o do Piau, em 1899, seguido pela Bahia, em 1915, So Paulo, em 1924, Rio Grande do Sul e Minas Gerais em 1935, e Rio de Janeiro, em 1936 .

    (...)

    Com a Constituio de 1946, cada Estado pde instituir a sua prpria Corte de Contas. O mais recente o de Tocantins, instalado em 1989.

    O TCM [Tribunal de Contas do Municpio] do Rio de Janeiro herdou as atribuies das antigas Cortes de Contas do Distrito Federal e do Estado da Guanabara. Alm do Rio de Janeiro, somente o Municpio de So Paulo dispes de uma Corte prpria.

    Em quatro Estados, alm do Tribunal de Contas do Estado, cuja jurisdio alcana apenas a administrao pblica estadual, existe tambm um Tribunal de Contas dos Municpios no plural responsvel pelo controle externo das administraes de todos os municpios do Estado. So eles: Bahia, Cear, Gois e Par.

    Nos demais Estados, o TCE atua na fiscalizao tanto da administrao estadual, como das municipais, excetuando-se no caso do TCE-RJ e do TCE-SP as respectivas capitais.

    Pelo princpio da simetria, as regras e competncias da esfera federal so aplicveis aos Estados e aos Municpios, naquilo que for possvel. Dessa forma, ao abordarmos o assunto sobre o Tribunal de Contas da Unio, sua natureza jurdica, competncia e decises, devemos saber que so tambm aplicadas nos demais tribunais de contas, no que couber.

  • [ 7 ]Aula 3: Controle Externo

    2. Tribunal de Contas da Unio

    O Tribunal de Contas da Unio, com sede em Braslia, rgo administrativo, composto por 9 (nove) Ministros. um rgo que auxilia tecnicamente o Congresso Nacional nas funes de controle externo da Administrao Pblica.

    Deve-se esclarecer que, apesar de o TCU exercer este auxlio tcnico ao Congresso Nacional e constar junto com o Legislativo na distribuio e limites oramentrios, no um rgo subordinado ao Poder Legislativo, pois possui autonomia prpria para agir. As atribuies do TCU esto definidas na Constituio Federal de 1988, as quais veremos logo em seguida.

    O Tribunal de Contas da Unio funciona com trs colegiados: o Plenrio (todos os Ministros) e com a Primeira e a Segunda Cmaras, cuja composio definida no Regimento Interno do Tribunal. Tambm funciona junto ao TCU a Secretaria, que, por sua vez, subdividida em unidades tcnicas. Mais adiante discorreremos em pormenor sobre a atuao das unidades tcnicas do Tribunal.

    As funes bsicas do Tribunal de Contas da Unio1 podem ser agrupadas da seguinte forma: fiscalizadora, consultiva, informativa, judicante, sancionadora, corretiva, normativa e de ouvidoria. Algumas das atuaes assumem ainda o carter pedaggico.

    1) Funo Fiscalizadora: Essa funo compreende a realizao de levantamentos, auditorias, inspees, acompanhamentos e monitoramentos, relacionados com a atividade de controle externo. Envolve a apreciao da legalidade dos atos de concesso de aposentadorias, reformas e penses e de admisso de pessoal no Servio Pblico Federal, a fiscalizao de renncias de receitas e de atos e contratos administrativos em geral.

    2) Funo Consultiva: A funo consultiva exercida mediante a elaborao de parecer prvio, de carter essencialmente tcnico, sobre as contas prestadas, anualmente, pelo Presidente da Repblica. Inclui tambm o exame, sempre em tese, de consultas feitas por autoridades legitimadas para formul-las, a respeito de dvidas na aplicao de dispositivos legais e regulamentares concernentes s matrias de competncia do Tribunal.

    1 - Brasil. Tribunal de Contas da Unio. Conhecendo o Tribunal / Tribunal de Contas da Unio. 4. ed. Braslia : TCU, Secretaria-Geral da Presidncia, 2008. Disponvel em: www.tcu.gov.br.

  • [ 8 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    3) Funo Informativa: A funo informativa exercida quando da prestao de informaes solicitadas pelo Congresso Nacional, pelas suas Casas ou por qualquer das respectivas Comisses sobre a fiscalizao exercida pelo Tribunal. Compreende ainda representao ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados, assim como o encaminhamento ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, de relatrio das atividades do Tribunal.

    4) Funo Judicante: Por determinao constitucional, o TCU julga as contas dos administradores e dos demais responsveis por dinheiros, bens e valores pblicos da administrao direta e indireta, incluindo as fundaes e as sociedades institudas e mantidas pelo Poder Pblico Federal e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuzo ao errio. O Tribunal tambm se pronuncia conclusivamente sobre indcios de despesas no autorizadas, em razo de solicitao de Comisso Mista de Senadores e Deputados. Entendendo-as irregulares, prope ao Congresso Nacional a sua sustao. Cerca de 2.600 rgos e entidades federais prestam contas regularmente ao Tribunal. Alm disso, tambm esto sob jurisdio do Tribunal, no que se refere a recursos federais repassados, os Municpios, os Estados da Federao e o Distrito Federal, que somam quase 5.600 unidades.

    5) Funo Sancionadora: A funo sancionadora surge quando d aplicao aos responsveis das sanes previstas na Lei Orgnica do Tribunal (Lei n 8.443 de 1992), em caso de ilegalidade na despesa ou irregularidade nas contas. Essas sanes podem compreender, isolada ou cumulativamente:

    aplicao, ao agente pblico, de multa proporcional ao valor do prejuzo causado ao errio, constituindo o montante do dano o limite mximo da penalidade;

    cominao de multa ao responsvel por contas julgadas irregulares, por ato irregular, ilegtimo ou antieconmico, por no-atendimento de diligncia ou determinao do Tribunal, por obstruo ao livre exerccio de inspees ou auditorias e por sonegao de processo, documento ou informao;

  • [ 9 ]Aula 3: Controle Externo

    inabilitao do responsvel, pelo perodo de cinco a oito anos, para o exerccio de cargo em comisso ou funo de confiana no mbito da administrao pblica;

    declarao de inidoneidade do responsvel, por fraude em licitao, para participar, por at cinco anos, de certames licitatrios promovidos pela administrao pblica.

    6) Funo Corretiva: Ao constatar ilegalidade ou irregularidade em ato de gesto de qualquer rgo ou entidade pblica sob sua jurisdio, o TCU fixa prazo para cumprimento da lei. No caso de ato administrativo, quando no atendido, o Tribunal determina sua sustao. Na hiptese de contrato, compete ao Congresso Nacional a sustao do ato, mediante solicitao das medidas cabveis a quem de direito. Caso o Congresso Nacional, ou quem deva sustar o ato, deixe de adotar a providncia devida no prazo de noventa dias, a deciso tomada pelo Tribunal.

    7) Funo Normativa: Decorre do poder regulamentar conferido ao Tribunal pela sua Lei Orgnica, que faculta a expedio de instrues e atos normativos (de cumprimento obrigatrio sob pena de responsabilizao) acerca de matrias de sua competncia e a respeito da organizao dos processos que lhe devam ser submetidos.

    8) Funo de Ouvidoria: Reside na possibilidade de o Tribunal receber denncias e representaes relativas a irregularidades ou ilegalidades que lhe sejam comunicadas por responsveis pelo controle interno, por autoridades ou por qualquer cidado, partido poltico, associao ou sindicato. Essa funo tem fundamental importncia no fortalecimento da cidadania e na defesa dos interesses difusos e coletivos, sendo importante meio de colaborao com o controle.

    9) Carter Pedaggico: O Tribunal de Contas da Unio atua de forma pedaggica, ou seja, transmitindo conhecimentos corretos, quando orienta e informa sobre procedimentos e melhores prticas de gesto, mediante publicao de manuais e cartilhas, realizao de seminrios, reunies e encontros de carter educativo, participao em palestras, conferncias e workshops, ou, ainda, quando recomenda a adoo de providncias, em auditorias de natureza operacional. O carter educativo surge tambm quando da aplicao de sanes a responsveis por irregularidades ou prticas

  • [ 10 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    lesivas aos cofres pblicos, na medida em que tais punies funcionam como fator de inibio prtica de ocorrncias semelhantes.

    A competncia, funcionamento e demais atuaes do Tribunal de Contas da Unio esto previstas na Constituio Federal de 1988 (arts. 71 a 73), na Lei Orgnica do TCU (Lei n 8.443/92) e no Regimento Interno (Resoluo-TCU n 155/2002, com alteraes posteriores).

    Segundo a Constituio Federal, as principais competncias do Tribunal de Contas da Unio (TCU) esto demonstradas a seguir:

    Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Repblica, mediante parecer prvio que dever ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento (art. 71, I). O TCU examina as contas da gesto do Presidente da Repblica, apresentadas via relatrio, emitindo opinio sobre elas. Aps essa atuao, encaminha para o Congresso Nacional julgar as contas do Chefe do Poder Executivo;

    Julgar as contas dos administradores e demais responsveis por dinheiros, bens e valores pblicos da administrao direta e indireta, includas as fundaes e sociedades institudas e mantidas pelo Poder Pblico federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuzo ao errio pblico (art. 71, II). O TCU julga as contas das demais pessoas, fsicas ou jurdicas, que movimentam recursos pblicos federais. O resultado desse julgamento pode ser pela regularidade, regularidade com ressalvas ou pela irregularidade, conforme veremos mais frente;

    Apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admisso de pessoal, a qualquer ttulo, na administrao direta e indireta, includas as fundaes institudas e mantidas pelo Poder Pblico, excetuadas as nomeaes para cargo de provimento em comisso, bem como a das concesses de aposentadorias, reformas e penses, ressalvadas as melhorias posteriores que no alterem o fundamento legal do ato concessrio (art. 71, III). O Tribunal de Contas da Unio acompanha os atos de nomeao dos servidores pblicos da Administrao Pblica federal, bem como se os atos de aposentadoria

  • [ 11 ]Aula 3: Controle Externo

    esto em conformidade com as normas legais. No verifica, entretanto, os atos de nomeao para a ocupao de cargos comissionados;

    Realizar, por iniciativa prpria, da Cmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comisso tcnica ou de inqurito, inspees e auditorias de natureza contbil, financeira, oramentria, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio, e demais entidades referidas no inciso II (art. 71, IV). Esta a funo fiscalizadora do TCU que pode tanto ser de iniciativa prpria quanto de iniciativa do Congresso Nacional;

    Fiscalizar a aplicao de quaisquer recursos repassados pela Unio mediante convnio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congneres a Estado, ao Distrito Federal ou a Municpio (art. 71, VI). Tambm, no mbito da funo fiscalizadora, o TCU verifica a correta aplicao de recursos repassados a Estados, Municpios e outras pessoas fsicas ou jurdicas, a ttulo de transferncias voluntrias, conforme visto no subtpico quem presta contas a quem;

    Aplicar aos responsveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanes previstas em lei, que estabelecer, entre outras cominaes, multa proporcional ao dano causado ao errio (art. 71, VIII). Esta funo sancionadora do Tribunal de Contas da Unio;

    Assinar prazo para que o rgo ou entidade adote as providncias necessrias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade (art. 71, IX). Esta a funo corretiva do TCU, que, segundo esta previso constitucional, tem a competncia de fixar prazo para a Administrao Pblica cumprir fielmente a lei sob pena de aplicar punio ao gestor que no cumpra a determinao anunciada;

    Apurar denncias apresentadas por qualquer cidado, partido poltico, associao ou sindicato sobre irregularidades ou ilegalidades (art. 74, 2). O TCU atua aqui na funo de Ouvidoria, na qual recebe denncia do cidado ou de outras pessoas jurdicas e, conforme a natureza do caso apresentado, realiza

  • [ 12 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    diligncias, fiscalizaes e determinaes sobre atos de administradores pblicos;

    Fixar os coeficientes dos fundos de participao dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios e fiscalizar a entrega dos recursos aos governos estaduais e s prefeituras (art. 161, pargrafo nico). O valor que cada Estado e Municpio recebe a ttulo de Fundo de Participao Estadual ou Municipal definido aps os clculos percentuais realizados pelo TCU, de acordo com a populao de cada Municpio e Estado apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    O organograma do Tribunal de Contas da Unio composto da seguinte forma:

    a) Colegiado: Plenrio, Primeira Cmara e Segunda Cmara;

    b) Autoridades: So os Ministros, em nmero de nove, conforme visto anteriormente. Os Ministros do TCU, em suas ausncias nos colegiados, so substitudos por auditores, tambm denominados Ministros-Substitutos, convocados pelo Presidente da Corte. Dentre os Ministros, um escolhido para exercer a Presidncia da Corte e o Vice-Presidente ser o Corregedor. Na linha das autoridades encontramos, ainda, o Ministrio Pblico que funciona junto ao TCU (MP/TCU). Esclarecemos que um Ministrio Pblico especial, composto de um Procurador-Geral e mais seis Procuradores. Ao MP/TCU, aplicam-se os princpios institucionais da unidade, da indivisibilidade e da independncia funcional. Dentre as atribuies primordiais do MP/TCU, dispostas na Lei n 8.443/92, encontramos:

    Promover a defesa da ordem jurdica, requerendo, perante o TCU, as medidas de interesse da Justia, da Administrao e do Errio;

    Comparecer s sesses do Tribunal e dizer de direito, verbalmente ou por escrito, em todos os assuntos sujeitos deciso do TCU;

  • [ 13 ]Aula 3: Controle Externo

    Promover junto Advocacia-Geral da Unio as medidas necessrias ao arresto dos bens dos responsveis julgados em dbito; e

    Interpor os recursos permitidos em lei.

    c) Secretarias: O Tribunal dispe, tambm, de Secretarias para atender as atividades de apoio tcnico e administrativo necessrias ao exerccio de sua competncia. So as seguintes Secretarias: Secretaria-Geral da Presidncia (Segepres), Secretaria-Geral de Controle Externo (Segecex) e Secretaria-Geral de Administrao (Segedam). Ligada Presidncia do TCU funciona a Secretaria de Controle Interno (Secoi), que tem a funo de exercer o controle interno sobre os atos administrativos do prprio Tribunal de Contas da Unio. O TCU conta, ainda, com o Instituto Serzedello Corra (ISC), unidade vinculada Segepres e incumbida da gesto da educao corporativa, incluindo a realizao de treinamento, aperfeioamento, concurso pblico, cursos, simpsios, trabalhos e pesquisas relacionadas com as tcnicas de controle da Administrao Pblica.

    No mbito da Secretaria-Geral de Controle Externo (Segecex) funcionam as diversas unidades tcnicas que realizam trabalhos de fiscalizao e de instruo processual, subsidiando as decises proferidas pelo Tribunal de Contas da Unio.

    Alm das unidades tcnicas existentes na sede, em Braslia, o TCU conta com uma Secretaria de Controle Externo na capital de cada unidade da federao. Estas unidades tcnicas respondem pela sigla Secex, acompanhada da sigla do Estado, por exemplo, Secretaria de Controle Externo do Tribunal de Contas da Unio no Estado do Amap (Secex-AP). Estas secretarias de controle externo nos estados so os braos do TCU no territrio nacional.

    Acesse a pgina do TCU e visualize o organograma (http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/transparencia/estrutura_organizacional).

  • [ 14 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    No mbito da funo judicante, o Tribunal de Contas da Unio julga as contas dos administradores, conforme descrito no art. 71, II, da Constituio Federal de 1988.

    As contas podem ser julgadas:

    Regulares quando expressarem a exatido dos demonstrativos contbeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gesto do responsvel. Neste caso, o Tribunal confere quitao plena;

    Regulares com ressalva quando as contas evidenciarem impropriedade ou qualquer outra falha de natureza formal de que no resulte dano ao errio. Nesta hiptese, o Tribunal confere quitao ao responsvel e normalmente determina a correo das falhas;

    Irregulares quando comprovada alguma das seguintes ocorrncias: omisso no dever de prestar contas; prtica de ato de gesto ilegal, ilegtimo, antieconmico ou com infrao norma legal ou regulamentar; dano ao errio decorrente de ato de gesto ilegtimo ou antieconmico e desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores pblicos.

    Quando as contas so julgadas irregulares e, em havendo dbito, o Tribunal condena o responsvel ao pagamento da dvida atualizada monetariamente, acrescida dos juros de mora devidos.

    O responsvel que tiver suas contas julgadas irregulares poder ficar impedido de candidatar-se a cargo eletivo, por deciso da Justia Eleitoral.

    O Tribunal de Contas da Unio disponibiliza na pgina na internet (http://portal.tcu.gov.br/fiscalizacao-e-controle/home.htm) os Relatrios de Gesto das Unidades Gestoras da Administrao Pblica que prestam contas ao TCU de forma eletrnica. Conforme a funo normativa conferida ao tribunal, a Corte de Contas expede Resolues e Instrues Normativas orientando os gestores federais em relao maneira pela qual, a cada ano, devem prestar contas.

    Entende-se por Relatrio de Gesto o conjunto de documentos, informaes e demonstrativos de natureza contbil, financeira, oramentria, operacional ou patrimonial relativos gesto dos responsveis por uma ou mais unidades jurisdicionadas, organizado

  • [ 15 ]Aula 3: Controle Externo

    2 - Instruo Normativa-TCU n 63/2010. Disponvel em: http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/IN/20100903/INT2010-063.rtf

    de forma a possibilitar a viso sistmica da conformidade e do desempenho desta gesto.2

    As decises oriundas do Tribunal de Contas da Unio so tratadas no mbito de processos de controle externo. Dessa forma, todos os princpios inerentes aos atos procedimentais devem ser respeitados, a exemplo do princpio da legalidade, da ampla defesa e do contraditrio

    Podemos mencionar como exemplos de processos de controle externo:

    Tomada de Contas Especial: processos autuados para verificar a responsabilidade por dano causado ao errio;

    Prestao de Contas: processo destinado a avaliar e julgar a regularidade e o desempenho da gesto na administrao direta e indireta;

    Denncia: processos autuados em virtude de manifestao de cidado ou Pessoa Jurdica acerca de irregularidades;

    Representao: processos autuados em razo de representao sobre irregularidades apresentados por rgos, entidades e autoridades previstos na Lei Orgnica do TCU e no Regimento Interno/TCU.

    O Tribunal de Contas da Unio tambm conta com uma Ouvidoria, canal de comunicao, por telefone ou via internet, diretamente com a sociedade, para receber denncias e outros assuntos de interesse do controle externo. Mais frente estudaremos em maior profundidade o funcionamento da Ouvidoria.

    Frise-se que o Tribunal de Contas da Unio, diante das suas funes institucionais, trabalha sempre visando ao bem da sociedade. O negcio, a misso e a viso do TCU esto consignados a seguir:

    Negcio: Controle Externo da Administrao Pblica e Gesto dos Recursos Pblicos Federais;

    Misso: Controlar a Administrao Pblica para contribuir com seu aperfeioamento em benefcio da sociedade;

  • [ 16 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    Viso: Ser reconhecido como instituio de excelncia no controle e no aperfeioamento da Administrao Pblica.

    Visite a pgina do Tribunal de Contas da Unio3 na internet e obtenha mais orientaes sobre o funcionamento desta Corte de Contas. Voc encontrar tambm vrias publicaes, normas, julgados e jurisprudncia que servem de orientaes para os interessados.

    Podemos mencionar os seguintes assuntos comentados na pgina do TCU:

    1) Fiscalizao e Controle:

    a) Desestatizao e regulao

    b) Obras pblicas

    c) Pessoal

    d) Programas de governo

    e) Responsabilidade fiscal

    f) Tecnologia da Informao

    g) Transferncias constitucionais

    2) Contas:

    a) Contas do Governo da Repblica

    b) Contas pblicas

    c) Relatrio de Gesto

    d) Tomada de contas especial

    3 - www.tcu.gov.br

  • [ 17 ]Aula 3: Controle Externo

    3) Responsabilizao:

    a) Contas julgadas irregulares

    b) Eleies

    c) Inabilitados para funo pblica

    d) Licitantes inidneos

  • [ 18 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    3. Rede de Controle da Gesto Pblica

    Os controles so exercidos por diversos rgos que compem a Administrao Pblica, a exemplo do Ministrio Pblico Federal e Estadual, da Polcia Federal, da Advocacia-Geral da Unio e da Controladoria-Geral da Unio. Cada rgo possui uma rea de atuao conforme a sua misso institucional definida na Constituio Federal ou em normas infraconstitucionais.

    Cada instituio produz as prprias informaes a fim de coibir o desvio e a corrupo na mquina pblica. No raro, a atuao desses rgos de forma isolada, ou seja, cada um na sua rea, sem contato com os demais, gera duplicao de esforos. Suponhamos que a Polcia Federal esteja realizando percia numa obra e esta obra tenha sido auditada ou fiscalizada pela Controladoria-Geral da Unio e pelo Tribunal de Contas da Unio, sem que nenhum destes rgos tenha tomado conhecimento das aes dos demais. Isto duplicao de esforos.

    Vislumbrando evitar essa possibilidade, bem como com o objetivo de unir esforos e ser mais clere no combate corrupo, o Tribunal de Contas da Unio lanou, em 2009, uma proposta para a formao de uma rede entre os rgos governamentais, com o objetivo de conferir maior eficincia, efetividade e eficcia gesto pblica. Essa unio foi denominada Rede de Controle da Gesto Pblica, oficializada por meio de documento intitulado Protocolo de Intenes.

    Assinaram o Protocolo de Intenes, inicialmente, os seguintes rgos/entidades:

    1. Associao dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON)

    2. Associao Nacional do Ministrio Pblico de Contas (AMPCON)

    3. Banco Central do Brasil (BACEN)

    4. Cmara dos Deputados (CD)

    5. Conselho da Justia Federal (CFJ)

    6. Conselho Nacional de Justia (CNJ)

  • [ 19 ]Aula 3: Controle Externo

    7. Controladoria-Geral da Unio (CGU)

    8. Ministrio da Fazenda (MF)

    9. Ministrio da Justia (MJ)

    10. Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (MP)

    11. Ministrio da Previdncia Social (MPS)

    12. Ministrio Pblico Federal (MPF)

    13. Senado Federal (SF)

    14. Tribunal de Contas da Unio (TCU)

    15. Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

    16. Advocacia Geral da Unio (AGU)

    17. Associao Brasileira dos Tribunais de Contas dos Municpios (ABRACOM).

    Em 2010, o Ministrio da Sade integrou a Rede de Controle da Gesto Pblica, assinando o Protocolo de Intenes.

    Entende-se por Rede de Controle um centro decisrio formado pela unio dos rgos participantes do acordo, que objetiva aprimorar a efetividade da funo de controle do Estado sobre a gesto pblica. A partir da celebrao do Protocolo de Intenes, em 25/03/2009, iniciou-se a efetivao da Rede de Controle da Gesto Pblica por meio da realizao de Oficinas de Trabalho em Braslia e a implantao de Redes nos Estados.

    As Oficinas de Trabalho visaram debater os seguintes temas, dentre outros:

    a) Compartilhamento de conhecimentos, informaes, base de dados e solues de tecnologia da informao, voltados para o exerccio do controle e para a melhoria dos resultados institucionais e da administrao pblica, observada a legislao pertinente;

    b) Atividades dos partcipes em que haja interseco de objeto de fiscalizao ou controle;

  • [ 20 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    c) Estruturao de redes de relacionamento entre os rgos e entidades pblicos para aes de controle e gerenciamento de informaes;

    d) Realizao de atividades conjuntas de controle entre os partcipes;

    e) Instrumentos, normatizao e mecanismos de suporte a uma rede de controle da gesto pblica;

    f) Avaliao dos acordos afins existentes e sugestes para o aprimoramento e definio de modelos de instrumentos correlatos;

    g) Aes de capacitao

    Na prtica, foram constitudos cinco grupos de trabalho para tratar dos seguintes temas: tipologias de irregularidades, auditoria de obras, tomadas de contas especiais, cadastro de gestores pblicos em situao irregular e terceirizaes no servio pblico.

    Os grupos de trabalho reuniram-se com o objetivo de colocar em prtica estudos e debates e levar s instncias decisrias as propostas apresentadas. Praticamente todos geraram produtos que se transformaram em medidas prticas j utilizadas pelos rgos e entidades integrantes da Rede de Controle.

    A Rede de Controle da Gesto Pblica tambm possui atuao em cada uma das unidades da federao, nas quais foram formadas integraes com atuao regional e local. Um exemplo a Rede de Controle da Gesto Pblica do Paran, cuja atuao contribuiu para que a Lei de Acesso Informao e os portais de transparncia dos municpios paranaenses fossem efetivos.

  • [ 21 ]Aula 3: Controle Externo

    Sntese

    Nesta aula compreendemos a atuao do controle externo da administrao pblica, especialmente as funes de controle exercidas pelo Tribunal de Contas da Unio.

    Estudamos, tambm, que, no intuito de somar esforos, os rgos de controle se juntaram e criaram a Rede de Controle da Gesto Pblica cujo objetivo primordial conferir maior eficincia, efetividade e eficcia gesto pblica.

  • [ 22 ] CONTROLES NA ADMINISTRAO

    Referncias bibliogrficas

    BRASIL. Constituio Federal Brasileira. Disponvel em Acesso em 25 de agosto de 2014.

    DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed. So Paulo: Atlas, 2004.

    LIMA, Luiz Henrique. Controle Externo: teoria, jurisprudncia e mais de 400 questes. Rio de Janeiro: Campus, 2007.

    MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26 ed. Malheiros Editores. So Paulo, 2001.

    MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2010.

    SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25 ed. So Paulo: Malheiros, 2005.