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INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aula 1 2/03/2013
Princípios básicos:
O que é a Espiritualidade como experiência religiosa?
É a base que nos permite compreender o conteúdo das outras disciplinas, sem Cristo
nada tem interesse.
Etimologia:
Espiritualidade: é a experiência religiosa pessoal de cada um, deriva de vários verbos
que significam
1. Pôr à prova (história de Abraão); experimentar, fazer a prova;
2. Aprender a conhecer; conhecer por dentro a experiência; interiorizar;
3. Procurar de, traduzir na prática;
Ex-pe-riência
Indica uma experiência obtida a partir de, tentar sair de si; abrir-se aos outros;
abrir-se ao exterior, diálogo que é comunhão com o outro; encetar um diálogo
com o outro, com Deus, com o mundo porque não somos ilhas, vigiar sobre o
local de trabalho, estar atento, emergir-se em qualquer coisa;
Do grego validar = passo através do qual validamos, penetrar, ir além,
experimentar, procurar, validar; penetrar; ir além (remete para a metafísica “o
totalmente outro – DEUS”)
Esta raiz projeta-nos para a metafísica transcendente, é o totalmente outro, é o mistério,
o que não conhecemos mas queremos conhecer
Mistério – é algo do qual não se sabe tudo. É uma realidade completamente
desconhecida, é o totalmente outro.
O que é?
É algo do qual não se sabe tudo mas do qual se sabe o suficiente para podermos
continuar na senda da descoberta.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aplicado a Deus:
Sabemos algo mas não tudo. Diz S. Paulo “quando …”. Aquele totalmente outro do
qual não sabemos tudo mas sabemos o suficiente para nos aproximarmos, cada dia
sabemos um pouco mais. As disciplinas ajudam-nos a ir ao encontro do mistério que é
Deus.
O Mistério de Deus é tão complexo, mas ao mesmo tempo acessível. O mistério
humano é tão difícil como o de Deus.
O amor de Deus não tem falhas, são os homens que as arranjam para se justificarem.
Remete para a metafísica: é a experiência … que tem o mesmo modelo esquemático …
Experiência:
É cada percepção de conteúdos e de dados (há-de ser);
Cada modificação de vida consciente do Eu;
Cada determinação da vida consciente do meu eu;
É o complexo de todos os fenómenos conscientes,
É o mistério do ser humano, o mistério humano é tão difícil como o mistério de
Deus.
Deus que é totalmente outro é amor. Tudo é amor de Deus. A experiência que cada um
de nós faz do amor de Deus.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aula 2 16/03/2013
Experiência na teologia moral
Os que estudam teologia – os primeiros dois anos é filosofia, ajuda a pensar.
Na aula anterior falei da experiência a partir da etimologia, hoje é a filosofia do séc.
XX. O termo experiência assumiu conotações mais amplas: consciência abstrata, separa
do sujeito, não designa só a consciência dos estados interiores do sujeito, não fica só no
psicológico.
A dificuldade gerada nos séculos anteriores foi superada no séc. XX.
A experiência é a presença imediata e direta daquilo que se nos mostra a nós, algo
vivido, assumido pela vivência. Esta é a noção concetual.
Aa noção de experiência religiosa segundo alguns mestres da espiritualidade:
Experiências Religiosas de alguns Mestres da Espiritualidade:
S. Bernardo – Idade Média – reformou a espiritualidade beneditina.
Santa Teresa de Ávila – Renascimento - (“Bem pouco eu pude aprender nos
livros, não consegui senão saber aquilo que fazia até à majestade que é Deus
senão me tivesse sido dado pela experiência) O Deus que Sta. Teresa viveu foi
por meio de experiência e não dos livros.
Guilherme de Saint Thierry – contraste entre a inteligência e a experiência
propriamente dita – o Amor Iluminado pela inteligência que leva à vivência do
coração. Devemos temperar a nossa fé no equilíbrio da nossa inteligência, razão
e coração. Jesus “sede sal e luz”
Francisco de Osuna – o mestre desta experiência do coração é a própria
experiência, os que não fizeram a experiência não percebem estas coisas. O que
conta é o coração mas um coração equilibrado. Integrar todos os valores para
viver uma fé esclarecida, para viver de forma sã. Todo o cristão devia trazer
sempre no bolso um espelho para saber onde se deve corrigir.
Santo Inácio de Loiola – Exercícios espirituais. Usa a palavra experiência
muitas vezes à volta do discernimento, da capacidade que devemos pedir a Deus
para Viver a pessoa de Jesus Cristo. Somos a expressão das fontes Sentir, gostar,
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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saborear, mastigar internamente a experiência. O mesmo criador comunica-se à
criatura. O Senhor pode agir imediatamente e opera.
D. Helder da Câmara – Contemporâneo - Proximidade dos pobres. Livro “O
deserto é fértil”.
Madre Teresa de Calcutá – caridade afetiva. Passava duas horas diante do
sacrário de manhã e antes de dormir. Saía para pedir esmola para os pobres. “Às
vezes pareces-me ausente. Onde está Senhor?”(passagens do seu diário).
Cardeal Martini – dizem que foi ele que interveio no Céu para a escolha do
papa Francisco.
Não falamos da espiritualidade monacal.
NOÇÕES:
INTEGRAR / SAL / TEMPERO - Sempre presentes
Experiência na Teologia Espiritual
Comporta sempre 2 coisas:
1. Um contacto objetivo com a realidade;
2. Um sujeito que, mediante este contacto objetivo, estabelece uma relação de
consciência.
Ao mesmo tempo da parte da pessoa que passa pela experiência:
1. Recetividade passiva e abertura;
2. Reação de consciência (que pode ser de aceitação ou rejeição provocatória, que
nos obriga internamente a pôr em ordem as nossas ideias e as nossas
obrigações).
Não se distingue facilmente o elemento recetivo e interpretativo na experiência
religiosa. Ex. de receptividade ativa: Maria
A Experiência como Saber a Realidade
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Não equivale apenas a pensar, é uma experimentação que pode ser pensar e …. Integrar,
experiência religiosa totalizante porque envolve a pessoa toda, sermos mistério, um todo
totalizante como sujeito
Pode ser pensado:
Ver a experiência religiosa mais completa, totalizante.
O sujeito que faz a experiência é um ser concreto, que existe, aberto ao exterior.
Também é razão porque esta experiência é também ciência por isso é verdadeira
consciência. Afetividade, inteligência e intelecto, sempre em equilíbrio.
A experiência realiza-se no encontro recíproco entre objeto e sujeito, por isso é relação
na modificação que se realiza nesta tomada de consciência de Deus. Deus é uma pessoa
que vem ao nosso coração.
Experiência (resumo) – ato por meio do qual a pessoa percebe a relação consigo
própria, o mundo e Deus, percebe-se a si mesma. Temos de nos perceber a nós próprios
e compreendermo-nos na relação com Deus e os outros. Perceber-se a si mesmo, sentir e
intelectual, não se nega o caráter como vivido.
A experiência: implica captar diretamente; acontecer; quando o sujeito se põe a pensar.
É necessário distinguir sempre e saber integrá-las:
passividade pura (sofrimento)
passividade ativa, acatar livre e consciente a vontade de Deus.
Ex: amor visto através de uma criação artística, significado ativo e pessoal que o sujeito
coloca através da experiência, integrar, capacidade de equilíbrio, acolher.
A experiência que se converte num acolhimento que vem da parte de Deus. Acolhida
como um ato livre, consciente, integrado.
A realidade da experiência é uma realidade muito complexa, é um entrelaçar de
relações, num movimento em que o sujeito se realiza a si próprio. É um mistério. Deve-
se considerar como uma ato simples mas também um entrelaçar de relações na qual o
sujeito se realiza a si próprio.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Experimental diferente de experiência, intelecto/coração.
Numa experiência religiosa espiritual temos de ter em conta todas as variáveis:
Generosidade do amor que se entrega. Deus entregou-Se por Amor.
A fé comporta a experiência e requer experiência vivida e entendida. A fé que ama; é
aquela fé que faz experiência do eterno.
«Deus é amor» (S. João), porque é o eterno transformado em experiência de amor.
Experiência doada, totalizante que preenche o homem.
Amar como Deus amou é amar aqueles que são nossos e também os nossos inimigos. O
eterno que se faz amor.
Experiência diferencia de modo empírico, passa para o nível experiencial, experiência
considerada na sua totalidade, variáveis, princípios e valores.
Experiência religiosa equilibrada, vida de fé verdadeiramente esclarecida, generosidade
do amor que se entrega, expressão de um amor generoso. A fé comporta a experiência e
requer esta experiência vivida e entendida. A fé que ama é aquela que faz a experiência
do eterno. Só assim se entende “Deus é amor”, porque é o eterno transformado em
experiência de amor. Experiência que só se pode adquirir se a fizermos. Deus ensina-
nos a amar como Deus amou.
Na próxima aula: experiência religiosa propriamente dita.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aula 3 (gravada) 25/03/2013
EXPERIÊNCIA RELIGIOSA
Serve-nos como lastro para entender a profundidade que é viver Deus com fé … não é
fácil.
Vamos ver, tentar responder:
Poder-se-á ter um contacto efetivo com a realidade transcendente?
Quem é o sujeito da experiência religiosa? se somos sempre nós, se é Deus?
Quem é o objeto da experiência religiosa? se somos sempre nós, se Deus às vezes
também é objeto?
Se somos sempre agentes passivos? Se somos sempre agentes ativos? Se Deus é
simplesmente ele sempre o agente ativo ou se às vezes também é agente passivo da
experiência religiosa?
Depois vamos tentar ver a perceção religiosa, como percebemos, entendemos a
experiência religiosa e algumas das suas caraterísticas fundamentais, porque é na
perceção da experiência presente que nós tomamos ou não contacto com esta realidade
transcendente.
Depois vamos tentar abordar a seguinte questão:
Ver que o ser humano é tão misterioso, é tão complexo que a experiência religiosa que
faz tem de ser entendida de acordo com as suas possibilidades, ou seja, tem de ter em
conta a sua cultura, a sua biologia, o contacto dele consigo próprio, com os outros,
com a sua realidade.
Vamos ver a forma como se pode visualizar e exteriorizar a experiência religiosa.
Aquela que é mais visível é o culto mas não é só o culto que está na experiência
religiosa.
Vamos ver as várias correntes e ver a experiência pessoal de cada um, depois vamos
abordar a experiência religiosa na Sagrada Escritura, na Bíblia.
Partindo deste pressuposto, vamos tentar responder a:
É possível ter um contacto com a realidade transcendental, com o transcendente?
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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No campo da história das religiões e da sociologia das religiões é sempre este o
problema central, o homem é desde sempre um ser religioso.
Ex: gravuras rupestres que aparecem – os antropólogos quase todos se inclinam para
dizer que aquilo que ali está é a tentativa de explicação de algo muito concreto que eles
não conseguem explicar, é o tal contacto com o transcendente, ou seja, uma das
caraterísticas do homem é ser religioso.
Os ateus são religiosos? Porque o que negam? O nada não existe, se se nega Deus nega-
se alguma coisa, se negam Deus é porque Deus existe.
É uma abordagem a partir da qual nós temos sempre de partir, o homem é
essencialmente um ser religioso, é o tema central desde sempre da sociologia das
religiões e da história das religiões.
William James
no seu livro diz: a experiência religiosa fica reduzida muitas vezes à experiência afetiva,
prescindindo de cada contacto objetivo. A experiência religiosa fica reduzida à
experiência afetiva, ficam com um contacto meramente afetivo, muitos começam assim,
nomeadamente as seitas. Fazem um entendimento redutor do que é a experiência
religiosa. As seitas prescindem do elemento objetivo, não o negam mas prescindem
dele.
Na mesma direção temos a
escola psicanalítica
não prescindem do contacto objetivo mas negam-lhe a mesma consistência da perceção
afetiva. A perceção afetiva não é mais de que um produto derivado dos
condicionalismos individuais de cada uma das pessoas.
Ex: escola de Freud, que insiste na componente afetiva identificando-a com a
sublimação dos pulsões mas que tem sempre como fundo a dimensão sexual.
Também é uma forma redutora de entender a experiência religiosa.
Neste curso, não podemos estudar só determinadas orientações, temos sempre de
contrapor, reagir, sugerir, rebater.
Como reação à escola psicanalítica, do entendimento desta perceção de experiência
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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religiosa, apareceu a
escola fenomenológica
Max Scheller – reagia a esta orientação dizendo: a reação consiste em submeter
algumas experiências religiosas fundamentais à análise fenomenológica. Como por ex. a
oração, a mística, o sacrifício, a adoração. São experiências religiosas que reagem
àquela maneira de entender a perceção religiosa na escola freudiana e do outro senhor
americano.
Fazendo esta análise vamos ver algumas das personagens que nos interessam como
agentes reativos a esta escola e que foram capazes não de sublimar mas de entender a
experiência religiosa neste contacto com o transcendente.
Voltamos à pergunta da qual partimos:
Será possível um encontro real com o transcendente?
Alguns exemplos daqueles que foram capazes de o fazer. Exemplos de perfeição para a
qual tendemos mas aonde não estamos. Os chamados místicos:
Sta Teresa de Ávila e Sto Inácio
Eles afirmaram que toda a experiência religiosa é uma simples ilusão, mas ilusão
sobretudo subjetiva, falam de 2 níveis de transcendência.
Fizeram uma experiência religiosa baseada na oração, na adoração, no sacrifício, na
mística.
Quais são então estes 2 grandes níveis de contacto com a transcendência?
1º uma transcendência da consciência da pessoa, nos seus confrontos com a sua própria
vida, com a sua atividade concreta de todos os dias, a contemplação do mundo, entra
aqui muito da poesia. Sta Teresa foi uma das santas que conseguiu nos seus escritos
dizer de forma bela a sua experiência religiosa, o seu contacto com o transcendente.
Mais à frente vamos ver a importância da estética que é uma das componentes da
perceção da experiência religiosa.
2º A transcendência do ser, de um ser divino como absoluto. Que se oferece como
absoluto ao sujeito que é finito. Por mais que nós queiramos é sempre Deus que toma a
iniciativa. A experiência é nossa, somos ser finitos mas é sempre Deus que toma a
iniciativa e quando nós entendemos as coisas ao contrário estamos a inverter a
experiência religiosa.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Há um prefácio muito interessante da eucaristia (é importante tudo o que se reza na
eucaristia) “Deus não precisa dos nossos louvores mas podendo glorificar-vos é dom da
vossa bondade”.
Deus não precisa nada de nós mas quer precisar de nós que é diferente. Deus dá-nos este
exemplo de humildade. Isto é espiritualidade, é tentarmos fazer uma abordagem ao
totalmente outro. Deus é o totalmente outro e sempre totalmente outro porque mistério
como já dissemos. O mistério está constantemente a revelar-se-nos e há-de ser pelo
nosso esforço constantemente descoberto.
Conceito de mistério
não é algo do qual não se sabe nada, mas algo do qual se sabe o suficiente para que pelo
nosso esforço se saiba cada dia cada vez mais a ponto de um dia estarmos tão próximos
dele que sejamos santos. (esta resposta na oral dava direito a um 20)
O 2º nível para estes místicos:
a transcendência de um ser divino como absoluto que se oferece como absoluto ao
sujeito que é finito, que somos nós.
A iniciativa é sempre de Deus que se oferece a nós seres finitos como um dom absoluto.
Sta Teresa
Entendendo deus assim como o transcendente vivido desta forma dizia “meu Criador e
meu Senhor”, o absoluto, o criador, o seu senhor que se lhe oferece a ponto dela o
considerar seu, sua posse.
Sto Inácio
chamava-lhe “minha divina Majestade”.
Então, podemos dizer que alcançamos a experiência religiosa quando alcançamos
objetivamente o absoluto, quando fazemos a experiência objetiva do absoluto,
traduzida nas nossas vidas de múltiplas formas.
Temos de ter em conta múltiplos condicionalismos e ninguém faz uma experiência igual
à do outro, porque partindo da base sociológica o ser humano é único e irrepetível e a
perceção que nós temos é individualizada, não há uma experiência quimicamente pura
que se possa transferir e transpor para o outro para que ele a viva exatamente como eu a
vivo, mesmo nos mesmos ambientes, com as mesmas pessoas o contacto com o
transcendente resulta sempre diferenciado porque a experiência é única, é de cada um.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Então, podemos perguntar-nos:
Mas se é assim não há limites, até que ponto nós podemos chegar a esta realidade
transcendente e dizer que já a possuímos?
Nunca a possuiremos em plenitude. É o único caminho gradativo e progressivo, e
mesmo quando estamos perto só se consegue a plenitude no paraíso, por isso pode
dizer-se que o contacto com o absoluto está sempre condicionado. Não é verdade que
em cada pessoa humana está sempre a sua história, ela efetivamente está sempre
rodeada de tantas circunstâncias, mesmo até circunstâncias inconscientes, o homem é
assim, é este mistério e é com base neste mistério todo que a nossa experiência religiosa
se faz, é única, é de cada um, só por isso é que é bonito. Por isso é que Deus ama-nos a
todos como se cada um de nós existisse sozinho no mundo, com o mesmo amor e é um
amor que não é condicionado, que é infinito, é um amor total, sem reservas a cada um,
com toda a nossa história, com todos os nossos pecados, com todas as nossas virtudes,
com tudo aquilo que nós somos, queremos ser, com o que julgamos ser, com a nossa
relação com os outros, com nós próprios, com o mundo, com o entendimento que
fazemos do mundo, com aquilo que os alemães chamam o nosso contexto histórico vital
que faz de nós aquilo que nós somos.
É como nós somos que fazemos experiência deste Deus e deste transcendente.
Então, continuando,
Kant
Que demonstrou no livro “A crítica da razão pura” as categorias da mente humana e que
estão sempre presentes.
Qual o termo que nós encontramos para alcançarmos a verdadeira experiência religiosa?
O absoluto no seu ser objetivo, aqueles que são da escola fenomenológica dizem que
sim, é o absoluto.
Mas, então devemos fazer distinções entre a experiência religiosa dos valores morais,
estéticos, por ex. o bom, o belo. Esta experiência alcança algumas partes da
manifestação do ser mas não é o ser em si próprio porque o ser como ser absoluto é
muito mais que isso e ainda que nós julgássemos que o tínhamos atingido porque é
absoluto passava a ser muito mais, isto é, Deus é este infinito, poderá medir-se o
infinito? É impossível, mas por isso é que é tão rico, por ser infinito é que é sempre uma
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descoberta constante e desconcertante das nossas vidas, quando nós descobrimos em
Deus que nos ama com este amor infinito, tem tantas faces este amor infinito, como fica
interiormente satisfatório ter um Deus assim. Cada dia nos pode amar de maneira
diferente e sempre muito, mesmo quando peco Deus está amar-me e a ensinar-me a
amar e sente muito. E vede como entronca aqui o ensinamento de Jesus “amai os vossos
inimigos”, como seria a nossa humanidade se gostássemos de toda a gente, temos
sentimentos diferentes, somos assim, é a nossa própria história, mas podemos amar
mesmo aqueles de quem não gostamos, já dizia Martin Luther King, cristão mas não
católico, “Jesus Cristo não me mandou gostar de toda a gente, mandou-me amar toda a
gente”. É um alcance fora de série.
Jesus Cristo é este amor infinito que estamos a celebrar particularmente nesta semana
santa, dedicada a esta temática, a entendermos o transcendente na miséria exposta
naquele sofrimento que não vale nada por si mas vale tudo enquanto expressão do amor
infinito que é Deus.
Mas, qual é a beleza que há num homem completamente esfacelado, a ser injuriado,
cuspido, nu, há toda a beleza de Deus, esperança e amor, e o amor tem uma beleza
infinita e é por isso que quem ama feio bonito lhe parece como diz o povo.
Entendemos agora esta realidade transcendendo-a e transpondo-a para a realidade que
estamos a estudar.
Então tudo ganha sentido, mesmo as nossas pequeninas coisas.
Então, os valores morais, estéticos, do bom e do belo por ex. são a expressão ou uma
das expressões da qual nós podemos encontrar manifestação do absoluto.
Depois, distinguir também a experiência religiosa concreta, que vai mais além, porque é
a experiência do absoluto na sua essência.
Ex: um poeta faz a experiência do belo, vê ali a manifestação de um valor moral ou
estético, mas um santo olha para uma paisagem e experimenta ali a omnipotência de
Deus, faz uma experiência religiosa porque tem fé, é diferente. Se o poeta tem fé como
vê de uma forma tanto mais rica esta experiência do transcendente porque o projeta num
mais alto nível no totalmente outro.
Por isso, precisamos de distinguir bem.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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S. Paulo tem uma frase que parece uma contradição mas que entendemos à luz desta
experiência religiosa "tudo posso naquele que me conforta”. Fez uma poderosíssima
experiência de Deus, fez uma experiência do transcendente, o contexto em que faz uma
experiência de Deus tão forte que lhe permite reformular e reconsiderar todos os seus
esquemas mentais (forte tradição judaica, lei). E apesar da forte experiência religiosa foi
três anos para o deserto da Arábia pensar, porque não se considerava preparado para
anunciar aquele que se lhe tinha revelado, para consolidar a sua experiência religiosa
(nós que somos nada achamos o retiro de uma semana demais).
A experiência de Deus empenha-nos, compromete-nos. Se não nos compromete é
porque a experiência de Deus que fazemos é de forma epidérmica, não mexe com o
interior, ou seja, não nos converte que é a palavra chave.
O cerne deste curso e disciplina é integrar todos os aspetos, todas as dimensões para
vivermos uma fé equilibrada.
Paralelismo de tudo quanto dissemos com a experiência, com a perceção comum de
qualquer ser humano. Vamos ver o paralelismo desta experiência religiosa com a
perceção comum do ser humano.
A existência do mundo impõe-se mediante a perceção, assim paralelamente o homem na
sua experiência religiosa alcança não só o valor mas o próprio ser absoluto na sua
existência, faz a experiência dele em cada situação concreta.
Mesmo os ateus estão a fazer uma experiência do transcendente porque não existe o
nada, se negam Deus então ele existe, estão a fazer uma experiência ainda que ao
contrário e pela negação estão a afirmá-lo.
Então, temos de partir deste pressuposto que é em cada situação concreta se faz uma
experiência única de Deus. Temos estes condicionalismos que são históricos, culturais,
sociais, afetivos, a nossa perceção é sempre e tem sempre em conta uma orientação
seletiva. Por ex. uma criança vê a realidade de uma maneira diferente.
Os nossos desejos e ambições condicionam, as nossas perceções, a nossa maneira de
entender e ver o mundo, e também fazer a experiência de Deus somos condicionados.
Um homem verdadeiramente religioso tem uma experiência chave que transforma este
segredo em unidade e envolve toda a sua vida porque é um dos nossos erros, é
tentarmos viver a nossa experiência de Deus, do transcendente às prestações e só
quando nos convém, não envolvemos toda a nossa pessoa.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Todo o nosso dinamismo vivencial, com todas as nossas
condicionantes, históricas, culturais, sociais, afetivas, mas
é só assim que temos uma experiência de Deus a tender
para o completo, porque senão vemos a nossa fé reduzida
à sacristia.
Um padre fora da Igreja também é padre, a relação de entrega ao sacerdócio envolve-o
todo e totalmente, é padre fora e dentro da Igreja, só são funções diferentes.
Tanto fazemos a experiência de Deus em casa, na família, na vida consagrada, somos
pessoas que nos damos totalmente para receber ativamente este dom que parte sempre
de Deus. A iniciativa é sempre de Deus, nós tentamos vive-la com a totalidade da nossa
pessoa, por isso o homem é um mistério.
Como é que eu sendo assim com este comportamento só eu sei posso ter uma
experiência de conversão? Posso ser amado por Deus, como sou, o mal está em termos
uma fé separada da vida ou só vivida em algumas das nossas dimensões não na
totalidade e inteireza do nosso ser porque Deus também se nos dá todo, não se dá só
parte.
Quando recebemos Jesus Cristo na hóstia consagrada está lá também o pai e o Espirito
Santo, está todo Deus e totalmente, Deus não está só presente quando estamos bem
dispostos, está sempre e é na inteireza desta nossa vida que nós temos de assumir a
nossa experiência religiosa.
Esta é uma orientação que nós fazemos de forma seletiva, não tendo em conta a
totalidade e inteireza do nosso ser. Por mais condicionada que seja a experiência
religiosa não nega que alcancemos o ser absoluto, este Deus que se nos dá em cada
experiência que fazemos, que se nos dá quando tomamos café, que se nos dá quando
respondemos mal, que se nos dá na mais bela experiência de Deus que fazemos quando
vamos adorar o Santíssimo sacramento e estamos quase no céu, em todas as dimensões
da vida, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza como dizem os esposos.
E devem entender que é neste Deus que se lhes dá todo e a todos, a um e a outro, nesses
momentos, sempre, quando estão de costas voltadas Deus dá-se-lhe também e se o
descobrirem logo fazem as pazes e se não as fizerem ficam predispostos a faze-las
porque entendem a chatice como uma dimensão humana e depois é entendida à luz da fé
e têm a capacidade interior de converter o coração “tu não mereces mas eu amo-te”. É
este salto que às vezes custa a dar quando deixamos prevalecer a nossa humanidade
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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sobre a graça que Deus nos dá continuamente, Deus não dá só hoje e agora, dá sempre,
mesmo quando achamos que não está a dar.
Quando descobrimos que Deus está sempre ali a conceder-nos audiência permanente é o
nosso grande conforto, tudo muda entre nós.
Isso não acontece porque fazemos um Deus à nossa imagem quando nós é que fomos
criados à imagem dele, invertemos sempre os valores como fazemos na nossa vida.
Por ex. o dever de obediência aos pais. Um prof. dizia que hoje assistimos à 1ª geração
de pais que obedecem aos filhos e à última geração de filhos que obedecem aos pais, os
valores estão invertidos.
A experiência religiosa acontece quando a pessoa se dá conta da acção de Deus na sua
alma, no seu interior e isto leva à conversão e esta conversão tem de ser permanente,
não é pontual (não é: converti-me está tudo feito).
Estou a dar-me conta de que preciso de me converter, a conversão é permanente,
contínua, progressiva, tem várias intensidades, é conversão deste mistério que é o
homem, que não é uma coisa fácil de entender, isto é que é bonito. Se o homem fosse
programável não teria interesse, as variáveis estavam todas identificadas.
A experiência religiosa que cada um faz é sempre individualizada, cada um faz a sua
experiência de Deus diferente da do outro. Isto leva-nos a que o contacto vivido com o
divino ou sagrado através deste processo de conversão se torna consciente porque
quando não é consciente então damos razão às escolas freudianas e outras que
identificam a nossa experiência de Deus como sublimação, não são conscientes, são
outras variáveis que estão em causa.
A experiência religiosa é, acima de tudo e antes de tudo, cultual, vem de culto, o culto
que prestamos ao transcendente que vivemos, o ser sagrado, o ser misterioso, aquele ser
que nos fascina é em primeiro lugar objecto de adoração e do amor por parte da sua
criatura como descobriu Sta Teresa e Sto Inácio.
Por isso a experiência religiosa é o encontro de pessoa, de cada pessoa, cada pessoa
criada com o seu criador. Esta relação encontro que nos compromete totalmente e que
compromete a pessoa toda em todas as circunstâncias da sua vida.
É esta a razão pela qual a experiência religiosa para ser verdadeira tem de ser
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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integradora e integrante, todos os aspectos mais importantes da pessoa encontram-se
presentes, integrados embora hierarquicamente e este hierarquicamente tem muito a ver
com a postura de cada um, eu posso dar primazia em mim a esta dimensão e outro pode
dar a outra, mas o mais importante é que todos os componentes sejam integrantes e
integradores na experiência religiosa que fazem deste absoluto que é Deus.
Em que consiste então a experiência de Deus, a própria experiência que fazemos de
Deus?
O 1º e fundamental passo é a postura que cada um de nós deve ter desta presença
originante de Deus. Deus não precisa nada de nós mas quer precisar.
É o consentimento que nós damos a esta presença, ou seja, à chamada de Deus. Deus
chama-nos, a iniciativa é sempre dele e quando nós consentimos este chamamento
respondemos-lhe integrando todas as dimensões na nossa vida, uns de uma maneira
outros doutra.
É isto que a fenomenologia das religiões identifica como a postura fundamental do
homem, sem este reconhecimento fundamental de Deus que nos chama não se pode
fazer uma autêntica experiência de Deus.
Já era assim, já foi assim na experiência de Job. Ler o livro de Job constituído por duas
grandes partes, uma poética e outra em prosa. Apresenta dois Job, um que responde a
Deus e outro que se revolta com Deus e mesmo na revolta está a resposta diferenciada.
Ele entendeu o chamamento de Deus no sentido de que entendeu o que Deus lhe estava
a dizer com aquilo que lhe estava a acontecer e foi quando descobriu essa resposta ativa
que se converteu permanentemente.
Na fé o homem acolhe e faz a sua experiência da realidade, uma realidade que ele
começa a perceber permanentemente, não há às prestações nem não é só às vezes, é
sempre.
Esta postura supõe que levamos em conta as condicionantes, o saber, o aceitar, o
reconhecer a sua própria finitude de homem.
O homem tem de dar-se conta que é um ser finito, que é como ser finito que há-de
responder ao infinito e entender o infinito na sua finitude. Como é bonito entendermos
as coisas assim, um Deus que é amor infinito quer juntar ao nosso amor finito para que
o nosso amor finito procure a sua infinitude, é de uma beleza extraordinária.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Eu sei que Deus me ama quando estou mal disposto, é a minha finitude e a infinitude de
Deus e quando estas coisas se juntam o meu ser de rezingão converte-se em bem
disposto porque o infinito amor de Deus sobrepõe-se e muda. Podemos aplicar este
exemplo a todas as outras dimensões da vida. Deus que é amor infinito pode
transformar a minha chatice num momento de felicidade plena, basta que eu o entenda
assim e o converta porque o amor infinito quando é aceite, a tal resposta ativa, faz com
que se transforme a minha finitude e esta tende progressivamente a caminhar no sentido
da infinitude que é o próprio Deus.
Quando atingiremos isto na plenitude? quando tivermos fé, só no céu, mas é possível
irmos construindo o céu. É aquela tensão permanente que os teólogos chamam entre o já
e o ainda não. Mas podemos viver este já impregnado, emprenhado no ainda não que
nos espera.
O mais bonito de entendermos é esta proximidade do infinito com o finito, e isto é a
experiência religiosa, isto é o contacto com o transcendente, estamos a começar a
responder à pergunta inicial.
ALGUMAS PROPRIEDADES ESSENCIAIS DESTA EXPERIÊNCIA
RELIGIOSA:
Martin Velasco
Autor de espiritualidade, no livro “A experiência de Deus hoje na nossa vida” afirma
que a estrutura do ato de fé supõe e comporta todo um processo de experiências na qual
a pessoa através das suas mais distintas faculdades e nos seus momentos mais diversos
da sua vida experimenta o mundo vital e neste faz ou tem uma postura dialogal por meio
da qual a pessoa, o sujeito entra em contacto com Deus.
No fundo foi o que dissemos até aqui, todo o mistério do homem entra em contacto com
Deus que se lhe dá todo e totalmente.
Então, a perceção da própria relação com o mundo, com os homens, consigo mesmo e
com Deus,
Esta perceção faz-nos fazer a experiência religiosa equilibrada.
Nós fazemos uma experiência de Deus verdadeira quando temos a perceção correta
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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(como vimos até aqui), a nossa própria relação com o mundo, com os outros (ninguém
vive sozinho), consigo mesmo e com Deus e Deus revela-se nestas mediações todas.
Outra perceção é a participação de cada um de nós neste evento que é esta relação com
Deus porque podemos fazer a experiência religiosa também a partir da experiência dos
outros mas isso é sempre uma experiência fraca, não purificante porque não parte em 1º
lugar da nossa própria pessoa.
Depois, uma tomada de consciência subjetiva desta distancia objetiva entre o homem e
Deus mas que nos permite entrar em comunhão aceitando a iniciativa de Deus que vem
ao nosso encontro e a que chamamos conversão, no grego metanoia que é o processo de
conversão permanente e que leva às mudanças na nossa vida, como S. Paulo mudou,
perseguia-os e depois amava-os.
Esta tomada de consciência faz-se sempre acompanhada de uma interpretação, aqui está
a nossa humanidade, e esta interpretação faz com que nós façamos uma decifração
inteligente, tal processo de discernimento que é entendido nesta perspetiva como uma
reflexão permanente.
Quando nós nos questionamos permanentemente. Por isso é que Deus quando toma a
iniciativa e nós a acolhemos ativamente não ficamos iguais, ficamos inquietos
interiormente, quando Deus não nos inquieta então não fazemos o acolhimento da sua
iniciativa.
Podemos então agora elencar algumas caraterísticas desta perceção, experiência
religiosa, que depois explicaremos:
a passividade e a atividade
o ato de liberdade pessoal
a componente comunitária
o dinamismo interior da própria experiência
todas as condicionantes como a afetividade, a cultura (uma coisa é eu viver a fé
aqui outra é vive-la em África, mas é o mesmo Deus), a cultura especifica, a
microcultura, como nós vivemos diferentemente a fé
Depois vamos falar da experiência tendo como fonte os vários significados e dimensão
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
19
católica e também para contrapor devemos ver algumas ambiguidades desta própria
experiência religiosa.
Depois iremos falar das componentes intelectuais, a intelectualidade da verdade, a
criação do querer a criação volitiva, aquilo que nós queremos, a dimensão afetiva, a
dimensão ativa e a própria dimensão do transcendente.
Para terminarmos esta matéria iremos falar da experiência religiosa na Sagrada
Escritura e depois traduzir tudo isto em Cristo.
Ver como Cristo é isto tudo e que Cristo. E qual é o Cristo que nós amamos… É o
ressuscitado? Como ele se nos dá, sempre como ressuscitado… não o entendemos
sempre como ressuscitado.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aula 4 06/04/2013
As propriedades essenciais da Experiência Religiosa:
Como a Sagrada Escritura aborda esta temática e depois vamos falar de alguns preâmbulos existenciais da experiência em Deus, e
depois vamos começar a falar doutra matéria:
O problema do nosso cristianismo é querermos ter uma vivência da fé adulta mas
estando nós iniciados, tendo nós uma fé de crianças, depois queremos ter uma fé vivida
adultamente mas sem a base que nos permita entender tudo aquilo que estamos a ouvir,
a base que suporte a fé, precisamos de ter um suporte de fé que nos permita vivenciar
tudo aquilo que acreditamos de uma maneira esclarecida e integral, porque se não é
esclarecida não conseguimos integrar e se não conseguimos integrar tornamo-nos
fanáticos ou alienados, somos gente que vive num mundo que não é o real e quer viver
num mundo que não é o real, Deus não nos criou anjos, criou-nos pessoas com muitos
problemas.
Por que somos e temos defeitos é que devemos viver assim este Deus em que
acreditamos e não num mundo de fantasia.
Falamos da experiência da relação com o mundo, com nós próprios, com os outros.
Outra das propriedades é a participação de nós próprios na primeira pessoa no tal
evento religioso que é a nossa experiência de Deus, que é singular, que não é de mais
ninguém.
Outra propriedade essencial: tomada de consciência subjetiva daquela distância que
nos separa do amor de Deus e permite a comunhão e que leva à conversão do interior
do nosso coração, porque se não tivermos um coração convertido não podemos
acreditar, para que a conversão seja permanente (não é automática, não há um
interruptor que liga e desliga).
Há movimentos dentro da nossa Igreja que permitem um despertar na nossa conversão –
chamados de movimentos de conversão acelerada – mas permitem só um despertar
porque depois a conversão é permanente.
Ex: os cursos de cristandade. É um movimento importante para o despertar da fé, para o
1º anúncio. Mas pode ficar truncada a experiência de Deus que fazemos, é preciso dar
continuidade porque senão fica pior depois. É importante darmos conta que fica
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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truncado tudo o resto, é uma falha. Temos de ter cuidado mesmo com os movimentos da
nossa Madre Igreja porque, às vezes, tornamo-nos bastardos porque não nos queremos
assumir com inteireza e integralmente como filhos na experiência da fé.
Existe sempre uma atividade e passividade, quem toma a iniciativa é sempre Deus.
Nós somos sujeitos passivos que nos convertamos em sujeitos ativos depois de
assumirmos o dom de Deus que nos é dado, ele é que vem ao nosso encontro. Ex: pai
pródigo vai ter com o filho, não espera que este chegue. Deus é assim, permite-nos o
despertar da fé, a consciência religiosa e por mais maus que sejamos o seu amor por nós
é superior e mal nos vê ao longe, isto é, mal vê esta vontade em nós de querer estar com
ele, de querer este diálogo profundo, singular que é precondicionado, esta vontade no
nosso coração por pequenina que seja, vai ao nosso encontro, não espera que nós
chegamos, antecipa-se. Fez assim Deus connosco.
Deus teve um gesto de caridade para connosco ao criar-nos, não nos criou por pena,
Deus criou-nos por amor, caridade é amor, Deus amou-nos até ao limite criando-nos e
nós só temos de corresponder a este amor, e este amor tornou-se pleno quando ele
próprio decidiu assumir a nossa humanidade e elevou a nossa condição a uma dignidade
tal que se permitiu dar-nos o seu próprio filho. Deus não precisa nada disto, quis ser
como nós para que a nossa condição assumisse um relevo divino.
Temos um salmo que diz “Deus criou-nos divinizando-nos”.
A experiência religiosa só o é verdadeiramente quando é uma experiência religiosa
feita através de um ato completamente livre, em liberdade.
Funda-se num ato de liberdade e estabelece a relação de carácter afetivo com o sujeito,
por isso é que nós quando nos relacionamos com alguém a afetividade entra como um
fator determinante, também é com o nosso Deus assim.
Por isso, quando temos relações frias uns com os outros não vamos longe, se temos
relações frias com o nosso Deus não vamos longe.
Então, a liberdade juntamente com o afeto que pomos na nossa relação com Deus é
uma das propriedades essenciais da experiência religiosa.
Outra propriedade essencial é a dimensão ou componente comunitária, de pertença a
uma grande família.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
22
A experiência só se faz tendo em conta a comunidade, por isso é que somos Igreja,
eclesia ou paróquia. Quer dizer que nós só vivemos a fé verdadeiramente se nos
sentirmos uma grande família.
Daí que a fé para ser esclarecida, vivida de forma esclarecida, tem de ser uma fé que
tenha em conta os outros, senão o que fazemos da palavra fraternidade, somos irmãos
porque filhos do mesmo pai, somos filhos no filho, irmanados em Cristo. Como posso
ficar indiferente com um irmão meu na China que está a sofrer e depois transportamo-
nos para dentro de casa, para a família.
A dimensão religiosa só faz sentido e só é vivida de uma forma esclarecida quando
temos em conta a dimensão comunitária, somos Igreja quando somos irmãos, e aqui
entra aquilo a que chamo o dinamismo da reciprocidade do amor. Só faz sentido se nos
implicarmos, se vivermos a fé com esta dimensão comunitária, se eu entendo a fé desta
forma pendo em 1º lugar no outro.
Se entendo a fé como Jesus Cristo me ensina a viver o amor a melhor maneira que tenho
de amar a Maria é que a Maria goste de mim, não fico prejudicado por gostar em 1º
lugar dela porque se ela tem o mesmo entendimento da fé também pensa em 1º lugar em
mim e todos ficamos a ganhar, ninguém perde.
A dimensão da reciprocidade do amor “em Cristo, por Cristo e com Cristo”.
Ex: Transfiguração de Jesus que antecipou o que será a escatologia final, a paresia, para
anunciar a nova lei do amor que não escraviza.
A componente comunitária é essencial para a nossa experiência religiosa, a nossa
espiritualidade ser esclarecida. Jesus Cristo nas suas revelações chamadas teofanias
(teofania é um acontecimento de Deus).
Quando temos Deus no nosso coração, quando estamos entusiasmados (entusiasmados
significa cheios de Deus) não nos lembramos em 1º lugar de nós mas dos outros. O
egoísmo na fé, na nossa religião não tem sentido, é uma cruz por cima. Contudo, somos
mais egoístas do que irmãos, o pecado, e até para isso Deus nos dá a solução:
arrependei-vos, mudai de vida, convertei o coração. Deus sabe que somos egoístas, que
erramos mas também podemos não ser, deu-nos alternativa mas simultaneamente
também deu a capacidade de superar o pecado.
As tentações de Jesus … permitiu-se ser tentado … Jesus jejuou 40 dias e 40 noites.
O espírito do mal vem ao nosso encontro, que ele existe, sempre através da nossa maior
fragilidade e por isso Deus nos previne para estarmos atentos. Em 1º lugar devemos
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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conhecer-nos a nós próprios, para sermos prudentes, para percebermos onde está a nossa
maior fragilidade, a ponto de superarmos a tentação. Deus não permite que sejamos
tentados acima das nossas forças. Diz: conta com isto e desta forma. É totalmente
transparente e leal, não nos esconde o jogo. E assim é que dá gozo viver na fé, com um
Deus que não nos mente, senão não era Deus.
Para a experiência religiosa é essencial percebermos esta componente comunitária.
A experiência é dinamismo por natureza, é dinâmica por natureza, o homem faz a
experiência.
Esta experiência de Deus entende-a como um ato de busca ao mesmo tempo que a
entende como um ato que é um dom de Deus. É Deus que nos dá o dom, é um
pleonasmo, Deus oferecesse-nos e nós só temos que o acolher. Este Deus que nós
possuímos nunca o possuímos, lembrai-vos do conceito de mistério. Por mais que nós
possuamos Deus, por mais que a nossa experiência de Deus seja forte, pode ser sempre
muito mais, ir mais longe, porque Deus não se esgota.
E a este processo de proximidade a Deus chamamos no nosso vocabulário cristão
santidade.
Andamos aqui para sermos santos e não beatos, estes são hipócritas, pensam uma coisa,
dizem outra e fazem outra.
Santos são o contrário, fazem uma experiência de Deus que é coerente, que sabe
integrar, que custa permanentemente, processo permanente e contínuo de conversão,
progressivo e gradativo, consciente que nunca o atingirá, mas pode sempre ser mais,
pode estar sempre mais perto, conscientes que nunca o esgotaremos, senão não era
Deus.
Beato se fosse entendido à letra significa feliz. Felicidade é o que nos motiva e move,
seremos tanto mais santos quanto mais felizes. Mas, distorceu-se o conceito.
Esta experiência religiosa que nós fazemos é sempre uma experiência pré-condicionada,
como e porquê?
É uma experiência de interação de vários movimentos interiores, aqui entra a dimensão
psicológica da fé, porque todos somos diferentes uns dos outros, a nossa singularidade
que é o que nos distingue como pessoas leva a que nós façamos experiências religiosas
de fé diferenciadas e singulares.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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O homem é um ser singular, e aqui entra a dimensão espiritual, a espiritualidade
aplicada à pessoa, ao indivíduo, a cada um de nós,
o que é a nossa alma?
É aquilo que nós somos e mais ninguém é por nós, é a nossa singularidade.
Quando deixarmos de peregrinar por esta terra a carcaça que suportou a nossa alma
desfaz-se, pela nossa fé mantém-se a nossa singularidade, no vocabulário cristão
chamamos alma.
Jesus apareceu aos 11: aparece com o objetivo de os confirmar na fé, aparece com um
corpo glorioso, com a sua singularidade visibilizada. Maria Madalena não o reconheceu,
só a voz. Mas, Jesus permite que entrem os 5 sentidos na experiência religiosa que
fazemos. Quando estivermos na paresia, a viver a escatologia final, quando formos
todos em Cristo, por Cristo e com Cristo, é a nossa singularidade que vai viver, Jesus
vai fazendo com que a nossa experiência religiosa se clarifique.
A dimensão da espiritualidade é tão profunda que nunca chegaremos ao entendimento
do total destas coisas, por isso é mistério.
Quando formos tudo em Cristo com a nossa singularidade, com que corpo é que
viveríamos na paresia? O de criança? A nossa singularidade é que não muda, o nosso
corpo muda, não sabemos com que corpo, será com um corpo glorioso … não sabemos.
Porque o próprio Senhor aparecia e não o reconheciam, reconheceram a voz porque o
permitiu, com o partir do pão que era sacramento, entre outras manifestações.
Hoje o Senhor continua a manifestar-se … pode ser num filme … é a experiência que
fazemos dele que depois nos leva à vida conformada com a proposta de amor e
felicidade que nos vai fazendo. Pode manifestar-se com uma palavra que ouvimos, um
livro que lemos, com um acontecimento marcante nas nossas vidas.
Jesus continua a manifestar-se assim nós tenha-mos o discernimento para o
reconhecer.
Aqui também entra a perspetiva dos discípulos de Emaús.
Qual é a diferença entre Cristo e Jesus?
Cristo é o ressuscitado, a vida em plenitude.
Jesus foi aquele que possibilitou o ressuscitado, a ressurreição, a vida em plenitude.
Jesus Cristo depois de ressuscitado, hoje em dia não se podem dissociar. É a nossa
singularidade na singularidade de Jesus transformado em Cristo recapitulado, como se
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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diz teologicamente. É esta dimensão que nos falta entender para vivermos a nossa fé de
forma esclarecida e equilibrada.
Só foi possível haver ressurreição porque houve cruz. Às vezes, nós temos uma fé cega
porque queremos um Cristo sem cruz. Temos um conjunto de propostas que nos ajudam
a crescer na fé, propostas que Jesus nos fez no Evangelho e a que a Igreja dá seguimento
através de aplicações práticas à nossa vida, que são exigentes.
A nossa vida de fé é exigente, nós só queremos um Cristo ressuscitado e esquecemos
que para haver ressurreição é preciso haver cruz, Jesus precisou de morrer para
ressuscitar, quando só queremos as coisas menos exigentes que o Evangelho nos propõe
e a Igreja vai aplicando à nossa vida, quando queremos tudo? Quando temos capacidade
de ser gente capaz de integrar na cruz a ressurreição?
EX: amor conjugal
Finalmente encontrei a pessoa que sou capaz e desejo fazer feliz (e não a pessoa capaz
de me fazer feliz), este amor não acaba porque o assento tónico está em nós. Se tenho a
capacidade de fazer o outro feliz, de quotidianamente me esforçar, o amor não acaba
porque a responsabilidade está em cada um que tem o objetivo de fazer o outro feliz
diariamente, aqui é que reside o segredo, João tem de amar a sua Maria com os defeitos
que tem também, amar os defeitos do outro é que é difícil e é este amor quotidiano que
é preciso renovar continuamente um pelo outro, que implica e dá origem ao sucesso da
relação, é a cruz, esforço constante.
O que é importante é perceber a dimensão da cruz para nos levar à ressurreição, não
conseguimos sempre porque não somos anjos, para isso existe a conversão do coração,
o pedir perdão, o aceitar o perdão.
Tão importante como pedir o perdão é aceitar o perdão. O João foi humano e não
resistiu à Joana, pediu perdão, reconheceu o erro, a sua humanidade cedeu, e a Maria
aceitou o perdão.
Como é difícil a vivência da nossa fé mas ao mesmo tempo é bonita porque nos dá
felicidade, o que está em causa é a felicidade.
Se descobrirmos Cristo é importante e é quase impossível desprendermo-nos dele. Só
que tem uma abordagem epidérmica de Cristo é que o abandona, porque quem conhece
Jesus Cristo, quem se apaixona pela pessoa de Jesus Cristo, o conhece, vê a
profundidade da sua proposta de felicidade que nos faz, é impossível deixá-lo para trás,
podemos andar mais para trás, para o lado, mas não o largamos porque ele não nos
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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deixa ser infelizes, é tão exigente e chato mas ama-nos e o amor dele supera todas as
dificuldades porque nos faz felizes.
A experiência religiosa, a experiência de Deus, integra hierarquicamente os aspetos
mais importantes da nossa pessoa humana: a sua componente intelectual, volitiva
(seu querer), afetiva, ativa, comunitária e depois transcende a própria pessoa.
A nossa componente afetiva é a que nos dá mais problemas. Eu só faço uma experiência
equilibrada de Deus se a minha componente afetiva for também equilibrada como
pessoa. A dimensão afetiva é importantíssima, aqui entram os cinco sentidos. Ex:
sentirmo-nos bem naquele espaço, com aquele cheiro.
A importância dos nossos cinco sentidos na nossa pessoa, na nossa relação com o
transcendente. A nossa relação com Deus está marcada e é influenciada
determinantemente pelos nossos sentidos todos. Esta dimensão é muito importante.
A experiência é este mistério que transcende o homem e nos leva a tocar o
transcendente que vem ao nosso encontro e a nossa fé simplesmente acolheu, eu
experimento, faço a experiência ativa da presença de Deus através da sua eficácia em
mim.
Deus produz em mim um efeito e toda a experiência religiosa é uma experiência
mediatizada através de símbolos, que são os sacramentos e há os símbolos que sem
serem sacramentos mediatizam a experiência de Deus em nós, isto é, não vou
diretamente, Deus não vai diretamente falar-me.
As pessoas que dizem ter visões, são alienadas muitos deles, não têm integrada a sua
própria pessoa em todas as suas dimensões.
A experiência religiosa é sempre mediada e compete-nos a nós fazer o discernimento
das mediações. Só os místicos têm a graça de ter uma experiência direta com o Senhor.
Deus não é uma experiência que se faça face a face, como fez Moisés, mas é uma
experiência por meio de sinais.
A experiência religiosa é exatamente a consciência desta relação que se estabelece
entre Deus e o homem, em pensamentos e atitudes, em sentimentos, e tudo isto são
mediações que nos levam a fazer a experiência de Deus.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Deus vem entendido como uma espécie de raio de luz que nos remete para a fonte,
voltamos sempre à fonte que é ele, é ele que nos criou, é ele que nos ama. Neste sentido
a experiência que fazemos de Deus supera a própria experiência de o alcançarmos
porque nos damos conta que é uma realidade desconcertante, sempre nova, Ele vai
sempre mais além do que aquilo que estamos a querer viver, porque Deus, numa
palavra, é sempre O totalmente outro, totalmente e outro, porque ele se nos dá sempre
todo e nunca às prestações, é sempre novo, por isso é que é uma experiência de Deus
em nós.
RESUMINDO
As propriedades essenciais da Experiência Religiosa:
a passividade e a atividade;
o ato de liberdade pessoal; a experiência religiosa só o é verdadeiramente
quando é feita através de um ato de liberdade e estabelecer a relação de carater
afetivo com um sujeito. A liberdade mais afeto que pomos na nossa relação com
Deus.
a componente comunitária; de pertença a uma grande família (Igreja, Eclesia,
Paróquia). A fé para ser vivida tem que ser em comunidade, quando somos
Igreja, quando somos irmãos. Dinamismo de reciprocidade do amor: Em Cristo,
com Cristo e por Cristo. Para pensar em mim em primeiro lugar tenho de pensar
no outro.
o dinamismo interior da própria experiência; a experiência religiosa é dinâmica
por natureza, é um ato de busca, um dom de Deus, Deus oferece-Se-nos, só
temos de o acolher.
A experiência religiosa é pré-condicionada, da interação de vários movimentos.
As condicionantes como a afetividade, a cultura (uma coisa é eu viver a fé aqui
outra é vive-la em África, mas é o mesmo Deus), a cultura específica, a
microcultura, como nós vivemos diferentemente a fé.
A singularidade (experiências religiosas singulares).
Integra hierarquicamente os aspetos mais importantes da pessoa: componente
intelectual; volitiva (o nosso querer); afetiva (os cinco sentidos, ex: Maria
Madalena conheceu Cristo pela voz), ativa, comunitária, transcende a própria
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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pessoa.
Toda a experiência religiosa é mediatizada através de símbolos – os
Sacramentos.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aula 5 13/04/2013
Vamos falar sobre a experiência religiosa na Sagrada Escritura e depois falaremos sobre os preâmbulos da
existência da experiência de Deus e, por último, breve conclusão, síntese de tudo o que tratamos: como
experimentar Deus hoje nas nossas vidas e concluiremos a 1ª parte da matéria.
Experiência religiosa na Bíblia
Tudo o que vai ser falado resume-se a: Deus que toma conta do homem, não é o homem
que procura Deus, mas é Deus que toma conta do homem e o homem vai-se dando
conta que Deus toma conta dele e depois acolhe-o, procurando-o, muitas vezes, outras
vezes nem se dá conta que Deus está a tomar conta dele e quando descobre é uma
maravilha.
Vamos ver como isto sempre aconteceu desde o princípio na Sagrada Escritura. Mesmo
quando a Sagrada Escritura se tratou de plasmar através do hagiógrafo - que é aquele
que escreve a palavra de Deus inspirado – etiologias – que são histórias narrativas
construídas pelo homem para transmitir uma mensagem de Deus.
O que temos na Sagrada Escritura de histórico é, basicamente, o que começa com a
história dos patriarcas de Abraão para a frente, mas tudo o resto é construído a partir da
forte experiência do Êxodo, a 1ª grande experiência do povo de Deus como povo de
Deus. E a partir desta grande experiência de libertação que sentiram na pele resolveram
escrever tudo o que estava para trás atribuindo-o a esse Deus que experimentaram na
pele, toda a criação.
A experiência religiosa na Bíblia não é tanto uma experiência do povo sobre Deus mas
sobretudo uma experiência de Deus, é diferente.
É uma experiência de Deus, que o povo faz de Deus, plasmada numa história concreta
de um povo que é o eleito de Israel.
De facto, no princípio existe uma experiência criadora de Deus que passa pela busca da
experiência do homem, a autorrevelação de Deus está sempre presente.
Êxodo 22 (facultativo: ler para TPC) “Eu sou o teu Deus”
Carta de João 8,58 “Antes que Abraão fosse Eu sou”
Leitura espiritual da palavra de Deus “Eu sou”. Como é que Deus se revela a Moisés
quando este lhe pergunta que devo dizer “Quem és?”, resposta: “Eu sou Aquele que
sou”. Está aqui plasmada a omnipotência de Deus projetada no horizonte de eternidade
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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que mais tarde Jesus Cristo a plenitude nos veio revelar, ou seja, o nosso Deus não era
nem será é e é este conceito de eternidade que é presença permanente, quotidiana, na
vida do homem, que nós temos de assumir, porque se não partirmos daqui tudo o resto
fica sem conteúdo, fica vazio.
Então, o nosso Deus é e porque é é eterno e este conceito de eternidade vai para além do
conceito cronológico, não se confunde nem se identifica com espaço e com tempo mas
sim com plenitude. O nosso Deus é, não foi nem será, e é porque é foi e será.
O nosso Deus é e ele revela-se assim “Eu sou porque Eu sou”.
Tudo isto é a base da experiência religiosa na Bíblia a partir da qual vamos trabalhar.
Papa João XXIII e Papa João Paulo I “Deus na sua materna misericórdia toma conta do
homem”
(também é mãe)
Cf Isaías 49, 14, 16
É sempre necessário recordar que antes que o homem busque Deus para o encontrar é
Deus que em 1º lugar toma conta do homem, desde a experiência que já falamos (pai
pródigo) o texto sagrado continuamente emerge o primado desta autorrevelação divina,
desta busca humana, e então daqui inferimos que a graça de Deus é uma iniciativa de
Deus e não do homem.
O que é então viver na graça?
É vivermos em plena comunhão com Deus, ou seja, correspondermos à iniciativa de
Deus em nosso favor, quando nós não estamos em comunhão com ele estamos em
pecado, que é o dizer não a Deus, ao seu plano de felicidade, à sua iniciativa de nos
tornar felizes.
Então, quando não estamos na graça de Deus, somos uns desgraçados, não
correspondemos à iniciativa de Deus, ao seu plano para sermos felizes, posso dizer não
e quando digo não estou a dizer não à felicidade que Deus me propõe, estou a fazer
rutura com ele, dizer não à graça.
Então, antes ainda que o homem procure Deus já Deus está à porta do seu coração
para poder entrar.
Apocalipse 3, 20 “Eis que Eu estou à porta e bato, se algum de vós escuta a minha voz e
me abre a porta Eu virei a ele, cearei com ele e ele comigo”.
A imagem da ceia, da comida, Deus dá-se-nos como alimento, fica connosco. Ganha
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
31
tudo sentido, filho pródigo, última ceia, discípulos de Emaús. Cordeiro, entrar, bater à
porta, ficar, estar, ser “Sou aquele que sou”, tudo ganha sentido. Ajuda a compreender
tudo este conjunto de relações que estão entrelaçadas: espiritualidade tem a ver com
todos estes fatores que devidamente integrados, que é a palavra chave, nos dão uma
ideia lógica, nos remete tanto quanto possível para a eternidade.
João Batista “Eis o cordeiro de Deus”
Em hebraico cordeiro significa cordeiro que vai para o matadouro sem berrar;
Filho “Eis o filho de Deus” na autorrevelação que nos é dada a plenitude que se
faz humanidade;
Servo “Eis o servo de Deus”, serviço;
Pão “Eis o pão de Deus”, é aquele que é o alimento que nos fortalece para a
vida, que não é o alimento biológico mas que é a plenitude.
Outra experiência: a de Paulo, foi conquistado por Deus, era um doutor da lei, sabia a
lei e foi conquistado por Deus, só uma experiência muito forte de Deus o levaria a
deixar a lei e entender a lei como lei nova, e lei do amor. Este que era um doutor da lei
teve necessidade de refazer todos os seus esquemas mentais e retirou-se 3 anos para a
Arábia para fazer retiro e só depois se julgou capaz de anunciar aquele Cristo do qual
tinha feito uma experiência forte. Foi conquistado por Jesus Cristo, a diferença entre
Jesus e Cristo, este homem nunca conheceu Jesus, foi conquistado por Cristo, fez uma
experiência fortíssima de Cristo.
Filipenses 3, 12
“Quando estava longe de Jesus Cristo ele confirmou a verdade que é Jesus Cristo”
A intervenção de Deus na história do homem nasce por isso desta experiência religiosa
que nos é transportada, vivida através da Sagrada Escritura e que põe sempre em relevo
o predomínio da iniciativa de Deus, o que em linguagem teológica se chama
autorrevelação.
Sobre a nossa busca do transcendente, do totalmente outro, desse mistério, que não é
algo do qual não se sabe nada mas do qual se sabe alguma coisa mas nunca se saberá
tudo e nos impele numa busca permanente e a este processo de busca permanente
chamamos processo de santificação, de aproximação a Deus que é a santidade. Então,
percebemos que nós somos tomados por Deus.
Marcos 4, 26, 29
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
32
É uma espécie de semente pequenina que Deus lança na terra que é o nosso coração,
como qualquer agricultor vai cuidando para que se desenvolva, cresça e produza
abundância.
A 1ª epifania de Deus. A epifania é uma manifestação.
A 1ª manifestação de Deus revela como único protagonista de toda a criação o próprio
Deus na história do homem e assinala-o com um gesto concreto, o filho de Jesus Cristo.
Daqui que o 1º credo de Israel será a confissão do omnipotente Javé que libertou o seu
povo da escravidão do Egipto e que mais tarde tudo vai concorrer para Jesus Cristo.
Se nós pegarmos em todas as pontas, desde o Êxodo à Anunciação de Maria, veremos
que tudo concorre para aí e aos poucos vamos descobrindo esta iniciativa de Deus junto
do homem, para o levar ao homem com H maiúsculo, que é o filho do homem Jesus
Cristo, veio daqui, nasce.
Cf. Êxodo 22
História da libertação, a profissão de fé por parte de Israel.
Vai articular-se sobre 3 atos salvíficos de Yavé:
A vocação dos patriarcas desde Abraão;
A libertação do Êxodo;
O dom da terra prometida.
É interessantíssimo vermos a partir daqui a graça de Deus e a nossa debilidade.
Ex: depois cada um fará os seus confrontos interiores para crescer na fé e ajuda a
entender esta matéria. A quem é que Deus confiou a libertação do povo? Moisés. Quem
introduziu o povo na terra prometida? Josué. Moisés não porque duvidou, bateu na
rocha 2 vezes e não uma vez como Deus lhe tinha dito.
Conceitos
Dúvida – é o que nós temos permanentemente, o nosso pecado, a nossa
desgraça, o nosso afastamento de deus. Moisés esteve próximo de Deus, aquele
a quem foi pedido que descalçasse as sandálias porque o terreno que pisava era
sagrado.
Deserto.
Rocha – sobre quem é que Jesus fundou a sua Igreja, Pedro, rocha, firmeza de
alma.
Água – vida, fonte da vida, graça, Deus quis dar a vida em abundância.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
33
*****
Os 3 atos referidos anteriormente:
Dt 26, 5-9
Gn 24, 1-13
Deus como nos criou seres livres respeita a nossa liberdade. Quando fizermos aquilo
para que Deus nos destinou consideramo-nos seres inúteis porque não fazemos mais do
que aquilo a que estamos obrigados.
Este acreditar do povo de Israel, este credo, é cantado no Salmo 136 (ler).
Artífice
Kerigma – o anúncio cristão, não faz mais do que proclamar esta epifania que é Cristo.
Cristo é a grande epifania de Deus na História do Homem.
S. Marcos abre o seu Evangelho
Mc 1, 1, 15
Lc 11, 20 “O reino de Deus está próximo e presente no coração de cada homem”.
Proximidade de Deus
Fé já anunciada e começada a viver
1 Cor 15, 3-5
Salienta-se a dimensão histórica da morte de Cristo, para a escatologia da ressurreição.
Escatologia – dimensão outra em que todos sabemos tudo em Cristo.
Também S. Pedro – no anúncio que faz volta-se para a mesma realidade noutro
contexto, os pagãos.
O que Jesus curava em cada coração é através do espírito ressuscitado.
A experiência religiosa na Bíblia é uma grande epifania, na história humana.
O Deus da história do homem revelasse-nos através dos factos mais simples da nossa
existência e temos de pedir a Deus
Ex: Deus caminha com os discípulos de Emaús que não o reconheceram, às vezes é a
palavra de um amigo, é ele a revelar-se-nos, ele manifesta-se-nos multiplicado e nós
andamos distraídos.
Quando estamos sem pecado estamos ligados a ele em graça.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Deus revela-se-nos todo, a todos e totalmente.
É este evento, esta busca
Traduz-se na busca/encontro com Deus, nesta consciência de que a palavra se fez carne
A meta última desta comunhão
Esta comunhão entre o homem e Deus que dá sentido ao nosso sentir, à nossa caridade.
Esta caridade se não tiver esta ligação a Deus é existencialismo.
Fé sem obras é morte.
Arder o coração – presença efetiva de Deus no nosso coração.
Madre Teresa: nunca saíam para os pobres, caridade, sem estarem primeiro duas horas
perante o Santíssimo.
Preâmbulos existenciais da existência de Deus
“Escuta Israel”
Nós somos os da palavra … adaptada a cada necessidade de escutar Deus que nos fala.
Precisamos de entender Deus como um mistério que entra no nosso coração.
Este mundo, Deus é superior a nós próprios que estamos na presença de Deus e temos
de ter a generosidade de nos colocarmos á disposição de Deus
Rm 10, 8
Actos dos Apóstolos ???
Não se revela aos homens em alguns olhares. Deus não se manifesta no:
Olhar disperso, distraído, na pessoa perdida, esquecida de si mesma.
Olhar anónimo, o homem massificado.
Olhara superficial, capaz de não perceber a presença de Deus. Aqueles que se
contentam com o pouco das coisas e não o todo.
Olhar interessado.
Olhar dominador, manipulador, que faz e desfaz, no olhar que explora.
O encontro de Deus supõe uma existência que caminha para o íntimo da pessoa.
Da multiplicidade à unificação só assim entenderemos Deus, quando temos um olhar
anónimo não chegamos lá.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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O Senhor individualiza a sua presença, Deus revela-se aos homens.
Exige-se que estamos predispostos a entendermo-nos como indivíduo e não como
massa.
Os homens contentam-se com o pouco das coisas, movidos só pela utilidade que
desfruta simplesmente.
S. João da Cruz
… o como para chegar á contemplação … a sua pobreza, o seu desprendimento …
… que explora … Deus não se nos revela, não fazemos a experiência de Deus aí
A Experiência religiosa é feita no interior, que se enriquece, que é plenitude
COMO EXPERIMENTAR DEUS HOJE, FAZER ESTA EXPERIÊNCIA DE DEUS?
Buscarmos
caminho da procura
a felicidade, o amor, a plenitude
de não finito, até encontrar o infinito que é Deus
alcança completamente o infinito
e quando o julgamos atingido fica infinito
busca permanente, insaciável
encontramos Deus quando nos encontramos a nós próprios
o encontro consigo próprio, Deus está perto de nós … a experiência de alteridade, do
outro …descobrir Deus nos outros, Deus está no outro mesmo desfigurado …
É difícil entender mas ele é amor e o amor é vida
a experiência do universo, dimensão cosmológica universal.
o homem encontra no meio do universo
sentimo-nos fascinados
S. Tomás de Loyola
dimensão … Deus também se nos manifesta na experiência reveladora da palavra
Deus está presente na sua palavra, Sagrada Escritura, e nos Sacramentos
e experimentamos Deus
no serviço e depois de o encontrarmos somos servos
experiência de encontro de Deus hoje
experiência de ausência de Deus
Sta Teresa
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
36
“o deserto”, “a noite escura”
Vimos a espiritualidade em termos gerais.
Agora, qual a especificidade da espiritualidade católica?
refere-se a Jesus
o crente cristão quando se dá conta da sua fé sabe Deus
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
37
Aula 6 27/04/2013
Falamos da especificidade da experiência cristã, religiosa, da espiritualidade.
Alguns dos termos que nos ajudam a compreender a experiência religiosa que fazemos, um dos quais é:
O TEMOR DE DEUS
Não é ter medo de Deus. Vamos ver como se realiza, como se concretiza, qual a sua
base e conteúdo.
A especificidade desta nossa experiência, tudo se resume e vai dar ao mesmo, a ideia é
sempre a mesma: é Deus que vai ao encontro do homem, é o amor de Deus pelo homem
que realiza tudo isto e depois cada um de nós, seres únicos e irrepetíveis realizam essa
experiência, esse encontro de Deus à sua maneira e é este à sua maneira que nós temos
estado a tentar balizar para não sairmos do caminho, meta que nos conduz a Deus.
E Deus é mistério, constante e permanente revelação que se nos dá continuamente sem
medida, e vamos descobrindo pouco a pouco e, às vezes, com muita dificuldade.
Às vezes, temos tanta preocupação em buscar Deus que nos esqueçamos da nossa
humanidade e é esta que falha. E porque falha não o encontramos mas ele está lá e nós
temos dificuldade nisto, mas os místicos também (apesar de ter feito uma experiência de
Deus mais forte) duvidaram “ausência de Deus”, “a noite escura” Sta Teresa.
São experiências que nos devem levar a repensar a nossa humanidade, Deus vem de
facto ao nosso encontro, nós precisamos é de identifica-lo, reconhece-lo.
Antes de mais, é preciso sublinhar a fundamental referência a Jesus de Nazaré enquanto
que estruturalmente acontece um acontecimento decisivo da revelação.
É a verdade que se converte depois em normatividade. Toda esta verdade absoluta que é
Deus, temos necessidade de converte-la em normas, algumas regras. E quando as
convertemos em muitas regras e depois nos deixamos escravizar por elas é que
estragamos tudo.
O direito canónico é uma necessidade mas quando nós não entendemos o direito como
uma ajuda, como algo que é pastoral, e nos deixamos escravizar por ele estraga tudo. O
direito é importantíssimo mas para não banalizar. Mas, temos de espiritualizar o direito,
pastoralizar o direito. Entender o direito desta forma, não como algo que escraviza mas
como algo que nos liberta.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Ideia da ECLESIA SUPRA: a Igreja é maior que o nosso pecado, que o nosso coração,
supre.
EX: história dos casais que se recasaram. À base do direito canónico estão proibidos de
participar plenamente na vida da Igreja mas, em termos de vida espiritual, podem estar
muito ligados a Deus e estão proibidos por uma norma de participar plenamente. Têm
uma ligação a Deus baseada na verdade, o direito é importante mas para balizar, temos
de o espiritualizar e pastorizar, ver a lei como algo que nos liberta.
EX: Casal com 2 filhos na plenitude da vida conjugal decidiu que não pode ter mais
filhos e usa anticoncepcionais. Se são cristãos entram num dilema interior, a Igreja não
autoriza mas a vinda de outro filho vai pôr em causa um bem maior, a estabilidade
matrimonial. Devem ir ter com o director espiritual, cada caso é um caso, a Igreja é pela
vida e não pode aconselhar algo que limita a vida, mas está em causa um bem maior. A
Igreja ama a pessoa, Deus liberta, não escraviza.
Critica-se a Igreja injustamente, pode ser contra por uma questão de princípio, mas
aceitar, a Igreja ama a pessoa.
Temos uma visão redutora da instituição.
Partiu da normatividade e se a norma é radical impede que a nossa experiência de Deus
seja feita naturalmente.
Então, Jesus de Nazaré é imprescindível e intranscendível nesta comunhão com Deus, é
por Jesus com o Espírito Santo que entendemos a experiência que fazemos de Deus.
Jesus diz “Eu e o meu Pai somos um só” com o Espírito Santo como é óbvio.
Nós só podemos fazer uma experiência de Deus completo se entendermos que ele se
identifica completamente com o Pai pela força do Espírito Santo.
EX: Acidente
Homem sem fé – ajuda por filantropia e altruísmo
Homem com fé – faz a mesma coisa mas vê no outro um irmão, a garantia de estar a
ver Cristo que veio para o salvar e o prolongamento desta ação na eternidade.
Temos de nos deixar formar (tomar a forma) por este Cristo que é com o Pai um só pela
força do Espírito.
Esta referência ao outro trinitário é uma referência funcional, através da palavra da
Sagrada Escritura que lemos, através dos Sacramentos que celebramos.
Os Sacramentos são algo muito importante, são um sinal concreto da presença de
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
39
Deus.
A Igreja teve ao longo dos séculos múltiplas formas de divulgar e viver os sacramentos.
Na idade média eram milhares: beijar a mão do bispo, água benta.
Houve necessidade de não banalizar o sacramento como um ato concreto, específico,
mas um sinal de amor de Deus por nós.
Hoje são 7 – para simbolicamente referir a plenitude da vida desde o nascimento até à
morte natural.
7 é um número simbólico, significa a plenitude, é a junção do 4 e 3.
4 significa a universalidade presente nos pontos cardeais, nada fica de fora disto,
do universo todo;
3 porque entendemos pela nossa fé que a experiência de Deus que nós fazemos é
trinitária, nada é mais perfeito do que Deus.
Logo, a universalidade (4) mais a perfeição (3) dá a plenitude.
7 sacramentos através do quais Deus se manifesta por forma efetiva e particular na
vida de cada um, por isso é fundamental nós termos esta referência bíblica e
sacramental para termos uma referência orgânica fundamental da presença de Deus
nas nossas vidas, porque tudo isto são mediações, Deus não se nos revela directamente,
só os místicos, nós só temos mediações.
Existe ainda uma outra dimensão na nossa experiência religiosa, espiritualidade a ter em
conta:
DIMENSÃO ECLESIAL
Sermos Igreja.
Ninguém consegue viver a fé em plenitude sozinho. Os sociólogos dizem que ninguém
consegue viver sozinho. Temos este sentido de Igreja. EX: um irmão nosso a sofrer na
China é como se estivesse aqui porque é nossa família. Vivemos em Igreja.
Esta dimensão eclesial não a podemos dispensar na nossa experiência religiosa. Às
vezes não temos um entendimento correto da fé. Ex: “Eu cá tenho a minha fé”, isto não
é a fé da Igreja, ter a fé da Igreja implica ter a fé naquilo que ela tem de mais
gratificante e do que tem de mais exigente. Não queremos nem podemos ter só Cristo
ressuscitado, para ressuscitar teve de passar pela Cruz. Ou seja, a nossa fé só é
verdadeiramente fé se for a fé da Igreja. É uma hierarquia que é mistério de comunhão,
vivida de forma hierárquica. Por isso se enquadram aqui os dogmas, se acreditares nisto
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
40
desta forma não corres o risco de pecares.
Pecado – tudo aquilo que nos desvia da graça, nos torna infelizes, nos deixarmos vencer
pela tentação, pelo mais fácil.
Temos a fé da Igreja e não a nossa fé porque esta desvirtua. Igreja é também cruz.
Nós temos de entender a vida da fé como uma vida da fé em Igreja, assumirmos os
sofrimentos dos outros e alegrarmo-nos com as alegrias dos outros.
Implica-nos na referência concreta a uma comunidade que nos ajude a viver.
É importante termos estas três dimensões da experiência religiosa:
BÍBLICA
SACRAMENTAL
ECLESIAL (comunitária)
Estes 3 estruturam hierarquicamente, ajudam-nos a encontrar caminhos concretos “Não
vos deixarei órfãos” disse o Senhor. Ter sempre como referência Jesus Cristo.
Âncora que nos segura mesmo quando nos sentimos a naufragar, é a comunidade que
nos suporta, somos irmãos, é a vida em Igreja, este acontecimento Cristo que é palavra
escrita traduzido em sacramento vivido em comunidade, é o lugar onde deve terminar a
nossa experiência religiosa, é o lugar onde autenticamente a palavra se interpreta, onde
o sacramento se recebe e sobretudo se vive.
A figura do crente cristão tem, trás consigo, uma interioridade e uma profundidade que
nos leva a estarmos unidos a Cristo e chamamos a isto COMUNHÃO (se estou sozinho
unido não comungo) – que é estarmos unidos a Cristo, que é comunhão, que em si é
família porque com o Pai, Filho e Espírito Santo (por isso não faz sentido não
comungar, estou ali a presenciar outra comunhão da qual aquela é símbolo) e
comunidade onde me insiro em intimidade com o Senhor. É esta ligação numa Igreja
que leva a descobrir a transparência real deste mistério profundamente, Cristo
ressuscitado, vivo.
A experiência espiritual cristã parte da experiência pascal de Cristo, que acontece na
existência concreta de cada vida de cada crente, isto implica viver pelo espírito desta
vida, tomar consciência que a própria relação filial com Deus só existe se tiver
mediação de Cristo porque senão não é a fé da Igreja. Significava viver espiritualmente
no abandono do espírito de Cristo discernindo qual a experiência que progressivamente
nos orienta mais para Ele, porque cada um de nós é um ser único e irrepetível.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
41
O acontecimento Jesus Cristo é a realidade que o crente cristão faz ou é chamado a
fazer, não simplesmente como informação.
LÊR livro da sabedoria
Deus é sabedoria, não é informação.
Deus é sabedoria que se traduz na vida concreta de cada dia, que vive e procura viver
segundo a referência fundamental ao Filho e no Filho que é Jesus Cristo, e esta
experiência transporta-a para a vida de cada batizado, ressuscitado que é o centro da
mensagem cristã. É este Deus que é revelado em Cristo que morreu e ressuscitou para
salvar cada homem. Se nós só nos entendemos a viver a fé de uma forma eclesial, Jesus
Cristo teria salvo a humanidade se cada um de nós fizesse sozinho parte da humanidade
(porque não somos massa), fosse de facto humanidade, para Ele não somos massa,
somos indivíduos com um nome concreto, com os nossos defeitos e virtudes, não nos
criou anjos, e é assim que nos faz uma proposta de felicidade e salvação, ama cada
homem como se existisse sozinho no mundo. Quando descobrimos este amor infinito
somos levados a vive-lo e a transporta-lo para todos aqueles que envolvem e fazem
parte da história das nossas vidas.
O cristão na sua experiência cristã, fundada sobre a fé, toma consciência que na sua
realidade imutável e finita existe, está uma semente eterna alimentada pela semente do
divino que está em si – que é o BATISMO. Deus criou no nosso coração uma semente
de eternidade que a nós compete fazer crescer e fortificar até à eternidade. É no
fortificar e crescer que está a nossa ação, porque o mais difícil já foi feito por ele, já
nos salvou. A nós compete não perder aquilo que Ele já nos ganhou. Mas, sendo fácil é
difícil porque vivemos num mundo cheio de dificuldades, mas é possível porque Deus
não nos pede nada que nós não possamos e, mais, não permite que sejamos tentados
acima das nossas forças.
É nesta experiência progressiva que o cristão tem e descobre o suporte da sua fé que é
um dom de Deus. A fé é um dom de Deus. Podemos ter racionalmente fé e faltar
descobrir Deus no nosso coração, nas nossas orações.
A experiência cristã é a experiência do conhecimento e desta consciência efetiva da
oferta que nos faz o Espírito Santo através de Cristo.
Trata-se de um conhecimento experiencial da realidade divina que vai para além da
consciência especulativa da verdade divina, ou seja, Deus é sempre muito mais do que
aquilo que nós possamos imaginar, quando chegamos a determinado ponto, o nosso
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
42
objetivo, Deus transporta-se para outro ponto, é sempre mais, é sempre o totalmente
outro e sempre outro, por isso é sempre mistério desconcertante nas nossas vidas.
Conhecemo-lo mas temos a possibilidade de o conhecer sempre mais – a este processo
progressivo chama-se CAMINHO DA SANTIDADE.
Nunca chegaremos a ser santos?
Sim, mas temos vários graus de santidade, fomos santificados com o batismo, a semente
de Deus entrou no nosso coração, com fé vamos revelando, efetivando essa santidade,
compete-nos a nós fazer esse esforço. A experiência do espírito é também uma
experiência de fé. Todos os cristãos indistintamente são chamados a fazer esta
experiência de Deus, esta experiência de fé que tende para a plenitude da vida cristã
como antecipação da vida futura.
É aquilo a que os teólogos chamam a tensão permanente entre o já e o ainda não.
Nós tendemos para a santidade na expetativa da vida plena que nos está reservada, ainda
não a vivemos mas podemos vive-la já ainda que imperfeita. E é este processo contínuo
que nós temos de percorrer, esta tensão permanente entre o já e o ainda não.
ESCATOLOGIA – CÉU e INFERNO
Estas categorias não são lugares físicos, não vamos para o céu, vamos viver em céu.
São categorias espirituais, nós vivemos já em céu se vivermos na graça de Deus e se
continuarmos a viver a graça de Deus espiritualmente, então vivemos permanentemente
em Deus e ganha forma e consistência o que rezamos “Em Cristo, por Cristo e com
Cristo”.
Então, é este estado de espírito que depois se eterniza na nossa singularidade a que
chamamos alma que é viver em Deus, a que chamamos céu, em céu, não é no céu.
Inferno é viver num estado de sofrimento tal que nos vem da ausência de Deus. Se Deus
é a felicidade plena, a ausência da felicidade plena é a infelicidade plena. Não há dor
maior que ser infeliz, isso é infelicidade, viver em infelicidade é viver fora de Deus,
ausentes de Deus.
Conetou-se o inferno com a imagem das chamas por causa da lixeira de Jerusalém –
hades – onde se queimava continuamente o lixo, foi identificada biblicamente como o
lugar da ausência de Deus.
Deus sabe bem o que faz senão não era Deus.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Inferno – infelicidade plena, ausência de Deus, é a desgraça, é o contrário da felicidade
plena, não é um lugar físico, é um estado de espírito. Quando deixarmos de existir como
existimos agora, quando ressuscitarmos em Cristo teremos um corpo glorioso como o
do Senhor onde vamos estar com a nossa singularidade, somos únicos, o corpo é
carcaça. É viver sem Deus no coração.
Os 3 pastorinhos: como crianças que eram foram transportadas para um imaginário
físico que lhes permitiu entender ao nível do seu conhecimento o que é o sofrimento da
ausência de Deus.
Segundo os teólogos, temos a obrigação de transportar para a realidade da vida em
Igreja – Purgatório – é possível por isso acontecer pela força da nossa oração aplicado
por aqueles que estão noutra dimensão em purgatório (a fazer esta experiência de
proximidade com Deus) e da vontade de Deus. Purgatório é um estado de espírito em
que nós nos purificamos espiritualmente para atingir a felicidade.
Mas, é um estado de espírito, por isso celebramos pelos defuntos, porque somos Igreja e
eles são Igreja connosco, são Igreja purgante (junta à Igreja triunfante e Igreja
peregrina) e a comunhão dos santos e a nossa caridade. Aplico-a por alguém que está lá
e o Senhor aproveita o meu gesto de acordo com o seu beneplácito, só o Senhor sabe
como, mas eu é que não posso dispensar-me de o lembrar.
A experiência religiosa, experiência cristã coloca-se a partir da origem sobre um plano
de conhecer por amor e, enquanto tal, esta experimentação com base no que os teólogos
chamam a tensão entre o já e ainda não.
Quando a Sagrada Escritura fala de experiência religiosa indica um conhecimento
vivido, ou seja, concreto, unido à vida de amor que é o substrato de toda a vida mística,
esta vida mística sendo inata ao homem é uma consciência natural de Deus
transcendente que supera a ordem de pensar.
Deus é sempre mais.
Quem é Deus para ti?
É o totalmente outro, é aquele que eu persigo completamente todos os dias mas que
nunca atingirei porque Ele se me revela sempre diferente (esta resposta valia 20 valores).
É esta experiência vivida que eu persigo mas que tenho consciência que nunca atingirei
na sua plenitude, ninguém, é inato a nós mas está sempre para além de nós e é por este
motivo que S. Paulo fala de um conhecimento de amor. Ele amou Cristo que nos passa
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
44
pela consciência, pelo conhecimento, em plenitude.
S. João da Cruz – experiência traduzida em palavras – “Conhece-se por amor no qual as
coisas não se conhecem mas se saboreiam porque não as conseguimos atingir pelo
intelecto.”
Só um místico pode dizer isto.
Deus é de tal foram inatingível que só o vamos saboreando aos poucos nas pequenas
coisas do dia a dia e é por isso que Ele é fantástico.
Expressão que nos ensina a perceber um pouco mais este Deus, esta experiência
religiosa:
TEMOR DE DEUS
O que é?
Não é ter medo de Deus.
Tem a ver com amor.
É amarmos Deus de uma forma referencial, é não o tratarmos por Tu, ou seja, não nos
familiarizarmos tanto com Ele que o banalizamos.
É termos a preocupação de não banalizar Deus, de não julgarmos por nos relacionarmos
com Ele de uma forma tão intensa e intima que o podemos banalizar. É entende-Lo
como superior a nós, é o amor referencial, não sermos capazes de o banalizar. Diz o
povo “ás vezes tratamos os santos pelo nome”. Há coisas pequenas que são o reflexo da
falta de tacto, de capacidade de lidar com o transcendente. Ex: benzer com a mão
esquerda. Devemos aprender a tratar Deus como deve ser tratado.
Se entendermos o conceito as nossas atitudes são em consonância com tal.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
45
Aula 7 04/05/2013
Vamos falar de 3 conceitos / temas / palavras que têm de estar sempre presentes quando
abordamos a experiência espiritual:
O temor de Deus;
A santidade (falar de espiritualidade sem termos como objetivo o
principal não tem interesse);
A ascese – é aquele caminho de esforço que nos conduz à perfeição.
O TEMOR DE DEUS
Não é mais do que uma relação de respeito para com o nosso Deus, não é medo.
Temos sempre de partir da palavra de Deus, da escritura, porque toda a nossa
experiência religiosa cristã se baseia na Sagrada Escritura.
Desde sempre há uma relação muito estreita, quando se fala de temor a Deus, entre o
Deus entendido como um ser terrível e um Ser que nos fascina. O terror e o amor andam
muito ligados. A relação é tão estreita que muitas vezes se confunde e se passa
rapidamente da imagem de Deus terrível, ao qual não se pode chegar, distante, para o
Deus próximo, que nos fascina, que é admirável porque é amor.
Palavra para refletir este fascínio de Deus:
Estupor – é uma admiração, baralha-nos os
esquemas mentais, ficamos estupefactos, é
um fascínio.
Partamos, então, deste conceito e vamos desventrando o seu conteúdo.
A experiência fundamental bíblica que invoca e que é invocada, nesta área da
espiritualidade, como temor de Deus:
É um processo, é sempre um processo, na espiritualidade tudo implica um processo,
nunca é algo completamente acabado. É um processo e processo dinâmico, é uma
caminhada que vamos fazer.
Aliás, temos sempre de partir deste pressuposto, nós cristãos, a nossa cidadania é uma
cidadania celeste. Nós não somos deste mundo (?), nós não nos pertencemos, nós
andamos aqui emprestados uns aos outros pelo tempo que Deus quer e o tempo nós
identificamo-lo como cronológico mas para Deus não é cronológico. O tempo para
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
46
Deus é plenitude e por isso o nosso Deus é (não foi nem será).
E é neste processo dinâmico que nós exercitamos a nossa cidadania celeste e
exercitamo-la, ou seja, vivemo-lo já aqui, de uma forma limitada, por defeito (senão não
teria sentido a eternidade entendida como plenitude, não tinha sentido vivermos em
céu).
O Céu não é um lugar físico mas um estado de espírito onde todos seremos tudo em
Cristo.
Então, o temor de Deus, entendido na área da espiritualidade, é um processo que
começa com a experiência de que Deus é e permanece sempre um mistério terrificante,
e vamos ver como Deus é e permanece sempre para o homem como um mistério.
À partida Deus é sempre isto: é e é sempre um processo gradativo, progressivo, mas
para o homem que é imanente é sempre terrificante e é mistério.
Partindo da perspetiva humana esta experiência é assumida ao mesmo tempo por duas
caraterísticas:
a passividade e a atividade.
É algo que nos coenvolve, é sempre uma relação a dois – Deus e o transcendente,
imanente e transcendente, o homem e Deus, é um coenvolvimento que se converte, pela
forma de ser dinâmica e de ser processo, de terrível em fascínio, em amor. Deus revela-
se ao homem, primeiro o homem tem medo d’Ele e quando o começa a descobrir
entende-O como amor. Por isso, Deus não é aquele Ente que quer escravizar, que mete
medo, é um Ente superior que ama e nos ensina a amar.
O Temor de Deus toma forma, ganha forma e consistência numa vida reverente e é
aperfeiçoado no amor, este sim amor reverente. Devemos ter o cuidado de não tratar
“Deus por tu”, não banalizar os sacramentos. Não é pelo facto de nos familiarizarmos
muito com Ele que devemos perder-Lhe o respeito. Pode-se converter numa dinâmica
de amor, amor reverente e não terrífico. A relação face a face pode ser respeitosa.
No Antigo Testamento, o termo Temor de Deus, foi muitas vezes entendido como terror
e piedade, mas piedade não é o conceito correto de piedade, é o de pena. E Deus não
nos amou por pena mas por caridade, é amor apelativo. É a forma mais perfeita de amar
– é a caridade. Deus não criou o universo por pena, criou-o por caridade, por amor.
Entendendo Temor de Deus de uma forma mais técnica:
Mistério tremendo, ou seja, como aquele mistério que nos faz tremer, que é tremendo.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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O homem experimenta espontaneamente o sentimento de uma presença que o
transcende sempre e diante da qual aprofunda a sua pequenez.
Vamos colocarmos á milhares de anos quando o homem começou a fazer esta
experiência mais clarividente de Deus, não entendia determinados fenómenos. Deus
como terrível está plasmado em alguns dos salmos.
Então, quando se dá conta que este Deus é assim grande o homem dá-se ao mesmo
tempo conta da sua pequenez e começamos a fazer comparação com Ele e ao
compararmo-nos com Ele damos conta deste processo que é dinâmico, que vai
evoluindo e chegamos a um ponto que é de união, ou seja, Deus cuja iniciativa parte
sempre dele, a sua grandeza - a pequenez do homem.
Um processo dinâmico de aproximação em que o pequeno vê o grande com medo mas
pela aproximação que se faz, à medida que o pequeno se vai coenvolvendo neste
dinamismo dá-se conta de que se junta e reconhece como amor e a experiência mais
acabada disto é a encarnação. Ele não precisava nada de encarnar mas quis encarnar
para assumir a nossa condição … em tudo igualdade exceto no pecado. Para elevar a
nossa pequenez à sua grandeza e nos ensinar o caminho de humildade que passa, que se
traduz por ir ao encontro, a grandeza vir ao encontro da pequenez, ou seja, Deus vir ao
encontro do homem, a transcendência juntar-se com a imanência e levando a imanência
à transcendência.
Ascensão – é este mistério que celebramos, a nossa humanidade está presente na
humanidade redentora de Cristo e a nossa humanidade porque se torna grande na
humanidade de Cristo e a nossa pequenez se transforma em grandeza e a nossa
imanência de alguma forma se torna transcendência e nós já nos encontramos sendo
humanos divinos porque a nossa humanidade na humanidade de Cristo encontra-se já
resgatada no Céu – ficamos divinizados. E este processo de divinização começou
quando? no nosso batismo.
Como é bonito e se enquadra neste processo dinâmico de entendermos Deus como um
amor reverente, não temos de ter medo de Deus, temos de ter temor de Deus.
Mistério tremendo
O homem não só se dá conta da grandeza de Deus como aprofunda a sua pequenez.
Como Deus aparece na sua santidade e grandeza Ele pede um profundo respeito. É
natural que tendo diante de nós a Santidade a olhamos com profundo respeito.
Diz o salmo “louvem o Seu nome grande e terrível porque Ele é Santo”.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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A oração ganha uma nova forma se tivermos a aplicar o que aprendemos. Já não é o
grande dos nossos esquemas mentais porque está filtrado por esta espiritualidade que
estamos a aprender.
Moisés cobriu a sua face quando Deus lhe apareceu “Eus sou o Deus de teus pais, o
Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob”, cobriu o rosto porque tinha medo
de olhar para Deus, é este medo que ele ainda não tinha entendido como amor, que
progressivamente vai entender porque Deus está connosco.
Os judeus têm uma coisa simbólica para entender esta dimensão desta forma.
Kipá – dos judeus, usam-no por causa de serem fiéis a esta revelação de Deus a Moisés,
tapam a cabeça diante de Deus.
Solidéu do bispo – bispos quando vão falar com o Santo Papa tiram o solidéu porque
fazem uma reverência, só a Deus, só diante de Deus.
Entendendo-o, agora, sob a forma de espiritualidade cristã.
Ao mesmo tempo e já mais tarde, quando Elias ouviu a voz do Senhor cobriu o rosto
com um manto (1Reis).
Não somente a aparição de Deus suscita um temoroso respeito mas também a sua ação
na própria criação e na história. Cf Salmo 33
Depois com a libertação do povo da escravidão do Egipto, cf Ex 14
Deus que julga mas com amor expresso no Salmo 76.
Tudo isto são experiências fortes de um Deus que é terrível neste sentido mas que o
medo se transforma em amor à medida que Ele se vai revelando.
Deus é verdadeiramente distinto do homem, aquele que se aproxima de Deus, aquele
que responde à Sua Voz que o chama, a iniciativa parte sempre de Deus, parte de uma
distância abissal, o homem sente que Deus ao princípio lhe é totalmente estranho, a sua
voz não é compreensível, o homem experimenta a necessidade de se superar a si mesmo
para dar um salto no vazio, para se lançar naquele fogo que queima mas que o purifica
porque o queima. Só em último caso se dará conta que aquela Voz não era nem procedia
de uma distância infinita mas de uma distância próxima que nasce da própria intimidade
do homem consigo próprio, nós encontramos Deus quando nos encontramos a nós
próprios, encontramos Deus dentro de nós, é uma proximidade tão intíma que se revela
assim.
Esta distância abissal no princípio converte-se no fim numa proximidade intíma porque
dentro de nós. O medo e quase repulsa inicial corresponde à transcendência de Deus, à
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
49
distância infinita entre Deus e o homem e por isso é mistério profundo que se
transforma depois em mistério de amor.
Extingue-se esta aproximação feita pelo homem, é mais próximo, Deus está mais
próximo de nós que nós mesmos, Deus criou-nos, quere-nos mais do que nós próprios e
quando nós descobrimos que ele está mais próximo de nós que nós mesmos, Deus
identifica-se completamente connosco, é o chamado (o que os padres da Igreja
chamavam) “intimo meo Deus”, ou seja, Deus misturado com o próprio homem que
ganha uma consistência diferente quando entendemos a eucaristia. Não há maior
intimidade do que aquela, um Deus como o estamos a entender que se fez comida para
nós o comermos, se mistura connosco que é transcendência, ou seja, imanência, que nos
dê a força que vem do alto. Querem maior intimidade que esta, misturar-se connosco?
É o grande amor de Deus quando Ele me toca, me faz sentir qualquer coisa, a sua
presença trás uma paz interior que invade o meu coração, os místicos chamam de paz
interior esta interioridade – é esta paz a Deus interior, íntimo, não há palavras que
expliquem esta paz, é uma suavidade, uma doçura, que não tem comparação com
qualquer coisa de semelhante no mundo. Trata-se de uma suavidade distinta daquilo que
vem dos afetos humanos, é uma paz que o homem sonha e cujo sonho se torna realidade
quando faz a experiência de Deus desta forma. É a plenitude, numa palavra, que invade
o nosso coração, que nos invade a nós mesmos, que nos abre aos outros, e entendemos
Deus presente no outro, tudo ganha sentido. “Tudo o que fizerdes ao mais pequenino é a
Mim que o fazeis”.
Quando nós entendemos Deus no outro é a tal dinâmica da simplicidade do amor de que
já falamos – não fico prejudicado se me lembrar em primeiro lugar do outro porque o
outro se tiver os mesmos sentimentos que eu há-de lembrar-se em primeiro lugar de
mim. É nesta reciprocidade e nesta dinâmica do amor que nós fazemos a
experiência deste Deus amor.
Deus também na sua imanência se revela transcendente. O mesmo mistério é imanente e
transcendente e ao mesmo tempo mistério tremendo e fascinando (o tal estupor).
Em termos mais técnicos:
A tradução do Temor de Deus.
Deus entendeu-o também desta forma o nosso ser, a nossa singularidade (alma) diante
deste Deus tremendo experimenta uma reacção paradoxal, é ao mesmo tempo fascinada,
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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partida, e aterrorizada, cativada, amedrontada e confiante.
Esta paradoxal estrutura é frequentemente descrita por alguns verbos:
tremer, estar partido, estar aterrorizado
e, ao mesmo tempo, amar, servir, seguir (que nos implica e compromete).
O Temor de Deus é uma reverência completa que se traduz num amor respeitoso.
Concluindo:
O Temor de Deus abraça inteiramente o caminho espiritual do homem começando por
afastar a pessoa do mal, depois conduz a pessoa à penitência, ao arrependimento
verdadeiro, levando-a a observar os mandamentos e entendendo-os como algo que nos
liberta e não que nos escraviza, abrindo assim uma perspetiva de um amor respeitoso,
elevando a nossa alma até à sapiência mística, ou seja, a um entendimento perfeito de
Deus.
O Temor de Deus verdadeiro deve ser entendido assim e só faz sentido se nos levar a
isto.
QUE É SANTIDADE
Sempre que se faz uma experiência de Deus não se pode falar em espiritualidade cristã
sem falar em santidade, é para isto que cá andamos, é para ser santo.
Todo o cristão comprometido, esclarecido, só tem um caminho e um objetivo: ser santo.
E vamos ver que para entendermos este caminho de santidade, este conceito, temos de
fazer comparações (como graça e desgraça, felicidade e infelicidade).
Este tema tem em conta um elemento essencial, presente em todas as espiritualidades:
todos querem ser santos à sua maneira (Ex. budistas), todas as religiões percorrem um
caminho de perfeição. Devemos amar a Deus desta forma profunda mas devemos
respeitar os outros que sendo fiéis aos seus princípios se salvam na mesma como nós
(Leiam documentos do Vaticano II). Então, todas as religiões, todas as espiritualidades,
compreendem este processo de santificação no qual predomina um aspeto mais ativo,
muitas vezes, doutras vezes, um elemento mais passivo.
Aqueles que interpretam a espiritualidade à luz desta dimensão essencial que é a
santidade situam o fenómeno num campo específico de tensão – por um lado é o santo
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
51
ou está o santo que é Deus, O totalmente outro, do outro lado o profano, que é o impuro,
o não santo. Deus vem ao nosso encontro e quando nos demos conta tomamos
consciência de que Ele vem ao nosso encontro e vamos ao encontro d’ Ele, e então nós
os impuros ao aproximarmo-nos do puro vamos perder impureza. Nós pecadores ao
aproximarmo-nos dos santos vamos perdendo o pecado e ganhando graça e é este
processo que chamamos de santidade.
No entanto, há múltiplas formas de lá chegar e por isso é que a Igreja é mãe e mestra e
nos disponibiliza montes de meios para sermos santos.
Só não nos salvamos se não quisermos. Primeiro o trabalho já está feito – Deus já nos
salvou, a nós compete-nos simplesmente não perder aquilo que Ele já nos ganhou e é
este não perder que é o nosso trabalho, sendo o mais fácil não deixa de ser difícil.
Não é fácil aproximarmo-nos do santo, somos pecadores, não é fácil aproximarmo-nos
do puro nós que somos os impuros.
Judeus ortodoxos:
não lhe podemos tocar e se tocamos vão-se lavar porque nós somos impuros e isto,
levado ao extremo, conduz a que não ingiram carne de porco (porque este é o símbolo
mais perfeito da impureza e pode a impureza contaminar o puro). Ver a parábola do filho pródigo –
lavou porcos, bateu no fundo, situamo-nos no contexto.
A impureza que se converte em pureza é o caminho a percorrer do pecador para a
santidade e é este caminho que temos de percorrer.
Às vezes, parece que somos seguidores dos fariseus, não utilizamos a inteligência que
Deus nos deu mas a nossa humanidade decadente.
Ex: Jesus insurgiu-se contra o conceito de sábado como sagrado, em que não se podia
trabalhar, de não poderem socorrer ninguém sequer. Hoje, o percurso da procissão…
Sempre foi assim mas Deus deu-nos inteligência. As tradições são importantes mas
enquanto nos ajudam a sermos santos, a crescermos na fé, a estarmos mais próximos
de Deus, a entende-Lo como amor. Quando nos faz infelizes usamos a inteligência para
mudar as coisas de forma a aproximarmo-nos de Deus. Somos seguidores de Cristo ou
dos fariseus?
Processo de santificação
é um processo dinâmico, como todos os outros, gradativo, progressivo, que nos
aproxima num sentido em que Deus toma a iniciativa de vir ao nosso encontro e nós
quando o reconhecemos vamos ao encontro d’Ele até nos mudarmos.
Este processo de passar do impuro para puro, do não santo para santo, do pecado à
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
52
graça, é o que se chama SANTIFICAÇÃO.
Utilizamos para o conseguir múltiplas ajudas que a Igreja nos disponibiliza:
sacramentos, ações de formação, cursos, o que podermos usar para sermos mais santos.
Como conclusão deste conceito de santidade, diremos da espiritualidade compreendida
nesta perspetiva, a santidade é um processo dinâmico.
Neste conceito de santidade Deus atira-se para o seu povo, purifica-o, conhece-o, à luz
desta sua figura inacessível que se torna acessível. A espiritualidade é esta transição,
percurso, do não santo ao santo, esta passagem é feita em diversos estados que se
convertem em modelos de espiritualidade de uns para os outros – os modelos que a
Igreja nos aponta são os santos – não são mais do que pessoas iguais a nós que
souberam e conseguiram passar neste processo e conclui-lo com êxito, passar do não
santo a santo, de um estado de pecado a estado de graça permanente. E isto é difícil, por
isso é que há mártires (nas várias dimensões da humanidade).
Muitos há que o conseguiram levando à plenitude um ou outro aspeto da sua
humanidade, por isso é que são padroeiros, atingiram o estado de perfeição numa
dimensão humana e os mártires deram o testemunho com a sua vida total, por isso não
precisam de processo de canonização, deram a vida toda, não precisam de se esforçar
nesta ou naquela dimensão. Hoje, há muitos mais.
A palavra perfeição é uma palavra usada na Bíblia neste sentido de integridade original,
transmite todo um processo de crescimento, gradual, floresce, que leva a um abandono
completo que é caraterizado pela perfeição. Esta perfeição é a santidade.
Podia-mos falar de Deus o Santo, a humanidade da espiritualidade, crescimento,
evolução, mas deixamos para mais tarde. O importante é entender o conceito de
santidade e não ter medo de ser santo.
Nós estamos aqui para sermos santos.
ASCESE
É uma coisa interessantíssima.
É um conceito helénico (partiu dos gregos) e começou por ser um conceito atribuído ao
físico.
É o esforço físico no sentido de conseguir a perfeição. Nós cristãos apropriamo-nos
deste conceito e aplicamo-lo a nós na componente espiritual. É todo o esforço que
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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fazemos para conseguirmos atingir o estado de perfeição que nos leva à santidade.
Partindo dos termos helenísticos, eu hoje custa-me a rezar a liturgia das horas, tenho a
obrigação de o fazer mas custa-me, mas faço-o. É este esforço, este contrariar a minha
vontade, este contrariar o pecado original.
Pecado original que não é mais do que a nossa natural inclinação para o mal porque
somos humanos. A nossa humanidade a dar de si.
A ascese vai no sentido de contrariarmos permanentemente a nossa natural
inclinação para o mal servindo-nos de todas as estratégias que a Igreja
disponibiliza a fim de atingir um estado de perfeição chamado santidade.
Vamos ver depois muitas matizes.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Aula 8 11/05/2013
AS RELIGIÕES
A espiritualidade nas várias religiões, ideia do que os outros fazem e pensam.
Dois grandes eixos: religiões em si e diferenças entre religiões monoteístas e politeístas.
Centrarmo-nos nas três grandes religiões monoteístas que sendo proféticas não são tanto
místicas como as orientais.
Homem: Um Ser Religioso
Desde sempre que o Ser Humano sentiu necessidade de procurar o
transcendente, a sua vontade de se relacionar com o transcendente sempre se faz
sentir
Sentiu, desde sempre, a presença de um Ser Superior como origem e fim de
todas as coisas…
… E por isso, sente a necessidade de abrir-se e relaciona-se com Ele
mas…
O que é a RELIGIÃO?
A palavra Religião (do latim"religio" usado na Vulgata, que significa "prestar culto a
uma divindade", “ligar novamente", ou simplesmente "religar").
Podemos defini-la como um «canal» na relação com o Ser Superior. Com um conjunto
de crenças relacionadas com aquilo que a Humanidade considera como sobrenatural,
divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que
derivam dessas crenças.
Podemos considerar que a Religião é a ponte na relação entre o Ser Supremo (que
chamamos Deus) e o Homem
É um conjunto de doutrinas, de rituais e de práticas que pretendem estabelecer o
contacto entre o humano e o divino.
O Caminho faz-se caminhando… Com o passar dos séculos, as várias civilizações
foram marcadas por vários tipos de relação com o Sagrado …
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
55
Podemos destacar duas etapas na História das Religiões
POLITEÍSMO
MONOTEÍSMO
Politeísmo
Consiste na crença em mais do que uma divindade, sendo que cada uma é considerada
uma entidade individual e independente com uma personalidade e vontade próprias,
governando sobre diversas actividades, áreas, objectos, instituições, elementos naturais
e mesmo relações humanas.
O reconhecimento da existência de múltiplos deuses e deusas, no entanto, não equivale
necessariamente à adoração de todas as divindades de um ou mais panteões, pois o
crente tanto pode adorá-las no seu conjunto, como pode concentrar-se apenas num
grupo específico.
Exemplos de Religiões Politeístas
Grécia Antiga
Roma
Egipto
Escandinávia
Ibéria
Ilhas Britânicas
Regiões Eslavas, assim como as suas reconstruções modernas como o Xamanismo
Druidismo
Xintoísmo
Hinduísmo.
Monoteísmo
A crença em um só Deus distinguindo-se, assim, do politeísmo que conceitua a natureza
de vários deuses, como também diferencia-se do henoteísmo por ser este a crença
preferencial em um deus reconhecido entre muitos.
A divindade, nas religiões monoteístas, é omnipotente, omnisciente e omnipresente, não
deixando de lado nenhum dos aspectos da vida terrena.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
56
A crença em um só Deus, que para além de ser considerado todo-poderoso é também
um ícone moral para os adeptos de religiões monoteístas - exigindo dos fiéis
observância de normas de conduta consideradas puras.
Exemplos de Religiões Monoteístas
Cristianismo
Fé Bahá'í
Islamismo
Judaísmo
Zoroastrismo
As Religiões Abraâmicas
Derivam do Patriarca Abraão:
Judaísmo
Cristianismo
Islamismo
Abraão (é uma etiologia, foi com base numa experiência de fé que foi o Exodo)
Nasceu em Ur, actual Iraque.
Era chefe de uma tribo e, como todos os seus conterrâneos, adorava vários
deuses até à revelação do Deus único.
Está na base das três grandes religiões: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.
O JUDAÍSMO
Judaísmo é o nome dado à religião do povo judeu.
De acordo com a fé judaica, a revelação do Deus uno e único aconteceu de forma muito
concreta através da sua intervenção na história do Povo de Israel (hebreus).
História do Judaísmo
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
57
De acordo com a narrativa bíblica, Deus ordenou a Abraão que partisse para
Canaã (território conhecido por Palestina, Israel ou Terra Santa) prometendo
abençoar os seus descendentes à categoria de nação poderosa.
Depois, Deus revelou-se a Moisés (no séc. XIII a.C.), manifestando-se no Monte
Sinai; depois, por meio dos profetas.
Deus tornou a falar muitas vezes ao Povo de Israel para recordar a Aliança, ou
seja, o compromisso que tinha estabelecido com ele.
Um pacto chamado “Aliança” (símbolo da aliança é a circuncisão)
Neste pacto, Deus comprometia-se a abençoar e proteger o seu povo e este
comprometia-se a cumprir a vontade de Deus expressa, simbolicamente, nos
“Dez Mandamentos”
Esta Aliança é a consequência do Êxodo (Libertação do Egipto) – o evento mais
importante do Judaísmo: a experiência da libertação, a Aliança e a Lei (Dez
Mandamentos).
O Judeu…
É todo aquele que segue os princípios do Judaísmo e é reconhecido como tal
pela comunidade judaica.
A lei judaica considera judeu todo aquele que nasce de mãe judia ou se
converteu ao Judaísmo de acordo com essa mesma lei.
Princípios básicos da fé judaica
A existência de um só Deus.
Presença e revelação de Deus nos acontecimentos da história.
A base é a Aliança entre Deus e Israel, o povo eleito.
Espera a vinda do Messias e a vida eterna.
Língua Hebraica
Hebraico: é o principal idioma do Judaísmo, utilizado como língua litúrgica.
Língua oficial do Estado de Israel.
Aramaico: língua que Jesus falava – é a língua materna de algumas pequenas
comunidades.
Outros idiomas…
Textos Sagrados
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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A Torah é a Escritura mais importante do Judaísmo. É o Livro sagrado por
excelência. É a Lei.
Tanakh (Bíblia Hebraica)
Torah (LEI)
Neviim (PROFETAS)
Ketuvim (ESCRITOS)
Nomes de Deus
No Judaísmo, o nome mais importante de Deus é o que é conhecido como
tetragrama sagrado : as quatro letras que formam a palavra YHWH (Iavé).
YHWH é Aquele que está presente – foi o nome com que Deus se apresentou a
Moisés (Ex, 3-14).
Devido à proibição de pronunciar o nome de Deus, por respeito sagrado,
desenvolveu-se entre os judeus um profundo sentimento de reverência para com
esta palavra, pelo que a utilizavam somente em ocasiões de extrema solenidade.
Assim, em vez de a pronunciarem, os judeus substituíam YHAWH por
ADONAI (meu Senhor) ou HASHEM (O Nome).
EL (Elevado) e ELOHIM (Altíssimo), geralmente traduzidos por Deus, são
nomes comuns usados nas escrituras hebraicas para se referirem a Deus.
Ressurreição e vida para além da morte
Exceptuando alguns pontos polémicos, a Tanakh não faz referência à vida
depois da morte, nem a um céu ou inferno.
Porém, após o exílio na Babilónia, os judeus assimilaram as doutrinas da
imortalidade da alma, da ressurreição e do juízo final, e estas crenças
constituíram importante ensino por parte dos fariseus (ao contrário dos saduceus,
que as rejeitam).
Nas actuais correntes do Judaísmo, praticamente todos os judeus crêem na
ressurreição e na vida depois da morte.
Calendário e rituais
A era judaica começa com a criação do mundo - 3761 a.C.
Calendário judaico tem como base o ano lunar, com 12 meses de 29 ou 30 dias,
num total de 354, mas periodicamente é acrescentado um mês extraordinário.
Os judeus contam as semanas de Sábado a Sábado.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
59
O Shabbat (Sábado) é o dia mais importante da semana.
O dia não termina e começa à meia-noite como na cultura ocidental; para os
judeus o dia começa ao pôr-do-sol.
O estudo da Torah é o principal dos deveres de um judeu.
Religião e vida quotidiana estão intimamente ligadas e as festas santificam o
tempo através da recordação dos grandes eventos da história de Israel.
Símbolos do Judaísmo
Como qualquer outra religião, o Judaísmo tem símbolos que a o identificam…
A Menorah
É um dos mais antigos símbolos da fé judaica.
É um candelabro com sete braços que simboliza o Judaísmo e o Estado de Israel.
É o símbolo da nação de Israel e da sua missão, que é a de ser a luz entre as
nações.
Estrela de David
Estrela de seis pontas feita com dois triângulos equiláteros, é símbolo do
Judaísmo desde o séc. XVII
Era o emblema do escudo do rei David.
Desde 1897 passou a ser o símbolo do Sionismo e, actualmente, é o símbolo da
bandeira de Israel.
Mão de Hamesh
É um dos símbolos mais usados na joalharia judaica, embora não se saiba ao
certo porque se tornou tão popular.
É uma mão invertida com um olho no centro ou com várias letras hebraicas.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Mezuzza
É uma pequena caixa que contém um rolo de pergaminho com o shema (Dt 6,4-
9). Texto bíblico em que Deus ordena que se conservem as suas palavras nas
mentes e nos corações.
É fixado no umbral de todas as casas. Sempre que se entra numa casa é
necessário beijar os dedos e tocar no Mezuzza de forma a mostrar amor e
respeito a Deus.
Chai
É geralmente visto em colares e outras peças de joalharias.
Representa a palavra hebraica Chai (viver).
Há quem defenda que este símbolo se refere à vida de Deus.
Vestuário…
O Kippá (espécie de pequeno barrete) é o símbolo distintivo usado pelos judeus
(só os homens) para manifestar respeito a Deus
Tefilim é o nome dado a duas caixinhas de couro dentro das quais está u
pergaminho com trechos fundamentais da Torah, que se prendem à testa e ao
braço esquerdo no momento da oração para indicar a presença da palavra de
Deus na mente e no coração.
Tzitzit, que se prende ao tallit (espécie de xaile), é a sua parte mais importante,
serve para lembrar aos judeus o cumprimento dos Mandamentos; só pode ser
usado por homens adultos durante as orações da manhã.
Alimentação
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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De acordo com a Lei de Moisés, os judeus dispõem de um código que lhes permite
comer apenas determinados alimentos.
Entre os alimentos impróprios/proibidos podem-se nomear os seguintes:
Carne de porco
Camarão, lagosta e todos os frutos do mar
Os peixes que não possuam escamas
Carne com sangue
Qualquer alimento que misture carne e leite
O Cristianismo
O cristianismo é a religião dos que crêem que Jesus de Nazaré é Filho de Deus.
Jesus Cristo é, para os cristãos, a grande mensagem de Deus à Humanidade. A grande
arma é o amor.
Veio anunciar a Boa Notícia da salvação, ou seja, o projecto de felicidade para todos:
viver o amor, a justiça e a verdade, trabalhando incansavelmente pela paz. Mas é
sobretudo na sua pessoa que o crente faz a experiência da relação com Deus.
JESUS DE NAZARÉ
Falar da história do Cristianismo é, antes de mais, recordar e recontar a história do seu
acontecimento originário: a pessoa histórica de Jesus, o Cristo, que é o seu fundador, o
seu mentor espiritual e o ponto de orientação último.
Jesus nasceu em Belém, num dos últimos anos de vida de Herodes, o Grande, sendo
imperador de Roma, César Augusto, 6 ou 7 anos antes da nossa era.
Jesus nasceu no seio de uma família judia – Maria e José -, sendo descendente da tribo
de Judá. Viveu a maior parte da sua vida na modesta aldeia de Nazaré, na região da
Galileia.
Durante a infância aprendeu a ler e a escrever, como acontecia com todos os judeus.
Jesus aprendeu a rezar segundo os costumes da religião judaica e a conhecer e respeitara
Lei herdada.
Jesus terá aprendido o ofício de carpinteiro. Por volta dos trinta anos, teve uma
experiência fundamental de encontro com Deus que alterou profundamente o curso da
sua pacata vida em Nazaré.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
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Depois do Seu baptismo começou a correr a Palestina de norte a sul anunciando uma
mensagem de amor e de paz e manifestando, através do seu comportamento, a presença
de um Deus que é Pai e que ama apaixonadamente cada ser humano.
Jesus revela o amor de Deus pelos homens independentemente da sua condição social.
Jesus manifesta ainda que Deus tem uma especial predilecção pelos pobres,
desprotegidos e pelos que não têm rumo.
Esta nova maneira de entender Deus e de compreender a sua relação com as pessoas
veio criar a Jesus inimizades com aqueles que ocupavam o poder e que viam nele um
potencial revolucionário do Judaísmo.
Embora a sua mensagem fosse revolucionária, a revolução que Jesus preconizava era
essencialmente a revolução do coração humano: a libertação dos preconceitos e dos
egoísmos e a assunção de comportamentos solidários.
Para Jesus, o amor é a única arma com força para derrotar o mal.
Mas este homem que passou pela terra a fazer o bem não é apenas admirado como
homem. Para os cristãos, ele é o Cristo (Messias), o Filho de Deus. Este é o essencial da
fé cristã: aderir a Jesus, confiar nele e acolhê-lo como aquele que nos trouxe o caminho
da salvação e no qual podemos encontrar-nos com Deus.
Jesus propõe uma relação com Deus de grande proximidade a ponto de o podermos
chamar Papá, paizinho (Abbá, em aramaico)
A MISSÃO DE JESUS
Jesus propõe: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. O mandamento do amor
radical, originalidade do Cristianismo, é ainda o bilhete de identidade dos cristãos.
A missão de Jesus relatada nos Evangelhos resume-se ao anúncio, por gestos e palavras,
do Reino de Deus, que não é de confronto e disputa de poderes mas de um reino de
justiça, de paz e de amor.
O Reino de Deus proposto por Jesus resulta da construção de relação de amizade e
intimidade com Deus e com as pessoas.
Jesus manifesta Deus pelo amor e mostra que esta disposto a tudo por nós.
A morte e ressurreição de Jesus é o ponto fulcral da fé cristã. A prova está precisamente
numa entrega contínua e total de Jesus que lhe custou a própria vida. Isto porque o
Reino anunciado incomodou os poderosos do seu tempo. Falar e comer com
marginalizados? Amar os inimigos? Dar mais importância à pessoa do que à Lei?
Chamar hipócritas aos fariseus?
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
63
A crucifixão foi o suplício de Jesus mas a grande novidade relatada pelos Evangelhos
foi a sua ressurreição três dias depois de morrer. Jesus ressuscitou e deste modo a morte
foi vencida para brotar a “vida nova”.
A partir da crucifixão de Jesus, a cruz tornou-se no principal símbolo dos cristãos.
No entanto, o peixe, ainda agora utilizado, foi um dos primeiros símbolos (iktus, palavra
grega – cada letra te equivale à inicial da frase: JESUS CRISTO FILHO DE DEUS
SALVADOR)
As FESTAS
Como qualquer religião, o Cristianismo tem durante o ano várias festas que assinalam
os princípios da fé cristã.
Se no NATAL os cristãos celebram o nascimento do Menino Jesus, é na
PÁSCOA que celebram o acontecimento central da sua fé: o Jesus do presépio
anunciou o Reino do amor e foi condenado à morte numa cruz, segundo o costume
romano (punição destinada apenas aos criminosos); mas RESSUSCITOU «ao terceiro
dia».
O NATAL
No Natal, os cristãos assinalam o mistério da Encarnação. Jesus nasceu para salvação
dos homens fruto do amor de Deus pela humanidade.
Os cristãos celebram esta festa entre o dia 25 de Dezembro até à Epifania (Dia de Reis)
– 6 de Janeiro. Celebramos o Natal a 25 de dezembro porque foi construído a partir da
anunciação, a festa que os cristãos celebravam. A festa do deus sol foi cristianizada
pelos soldados romanos.
A PÁSCOA
A festa mais importante dos cristãos em que se assinala a morte e Ressurreição. Este é o
grande pilar da fé cristã. A mensagem de Cristo culmina com a Sua Ressurreição.
É também a festa mais importante dos judeus que celebram a passagem do povo do
exílio no Egipto para a Terra Prometida. Como Jesus morreu e ressuscitou durante
Páscoa judaica, os cristãos celebram a passagem da morte à vida.
Esta festa não tem data fixa.
O PENTECOSTES
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
64
Outra festa importante em que se assinala a descida do Espírito Santo obre Maria e os
Apóstolos.
Celebra-se 50 dias depois da Páscoa.
Normalmente é nesta celebração que o bispo administra o sacramento do crisma aos
jovens.
CALENDÁRIO
Domingo – “Dies Domini”: Dia do Senhor em que se festeja semanalmente a
ressurreição de Jesus, pela celebração da Eucaristia (missa), é dia sagrado e de
descanso.
O Ano Litúrgico – é o calendário dos cristãos.
Contém as datas das festas e celebrações litúrgicas durante o ano que se comportam aos
acontecimentos mais importantes da vida de Jesus. Divide-se em dois ciclos, o do Natal
(começa com o Advento) e o da Páscoa (Inicia com a Quaresma).
PRINCÍPIOS BÁSICOS
Durante os primeiros séculos os cristãos foram dando forma aos princípios básicos da
sua fé sistematizados no Símbolo dos Apóstolos mais conhecidos por CREDO.
Em suma:
1 - Crença num só Deus manifestado em Três Pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo.
2 - A ressurreição de Jesus Cristo é o pilar
3 – Adesão pessoal e comunitária a Jesus Cristo e ao seu mandamento do Amor.
Para um cristão, o mais importante é viver em constante relação com Jesus e, para isso,
recorre à Bíblia e escuta/medita a sua palavra; também pode fazê-lo através da oração.
Mas em comunidade vive-se a presença próxima de Jesus de outra forma: através das
celebrações.
Os sinais e os símbolos das celebrações tornam Jesus presente no meio da comunidade.
Igreja é mistério de comunhão hierárquica.
A LITURGIA
É um conjunto das celebrações que constituem o centro da Igreja, das quais se
destacam, como mais importantes, as celebrações dos sacramentos.
Destes, os que todos os cristãos celebram são o Baptismo e a Eucaristia.
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
65
Sacramentos são sinais de que Deus está perto de cada pessoa. Acompanham os
momentos mais marcante do cristão do nascimento à morte.
TEMPLO
Igreja é nome dado aos templos dos cristãos. Esta denominação deriva do próprio nome
da Instituição.
Igreja (eklesia) significa assembleia e, por isso, ao local onde se reuniam os cristãos (a
Igreja) começou também a chamar-se de igreja. Gente convocada para celebrar o amor.
PRINCIPAIS LOCAIS DE CULTO
Basílica da Natividade: em Belém, é a igreja mais antiga da Terra Santa. Foi mandada
construir em 326 por ordem de Santa Helena, mãe do imperador romano Constantino.
Basílica do Santo Sepulcro: está construída num local, em Jerusalém, onde a tradição
cristã crê que Jesus foi sepultado e onde ressuscitou no Domingo de Páscoa.
Basílica de São Pedro: No Vaticano, em Roma. Ocupa o local onde, segundo a tradição,
está o sepulcro de S.Pedro. É a igreja mais venerada do mundo católico porque
representa a unidade e a comunhão universal na figura do Papa como sucessor do
apóstolo Pedro.
O LIVRO
- A BÍBLIA composta por duas grandes partes AT (Antigo Testamento) e NT (Novo
Testamento).
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
66
Aula 9 18/05/2013
O que se entende por religião?
A nossa ligação a Deus.
Temos de ter em conta o que são etiologias e a história a partir do povo de Israel e a
partir da qual se desenvolve. Os judeus são os nossos pais na fé.
Até os não crentes sabem que há o antes e o depois de Cristo.
Convertei o vosso coração, arrependei-vos.
Radical, o essencial de ser cristão, amar à nossa medida é fácil, o amor como Jesus nos
amou implica renúncia, angústia e sofrimento interior mas também é gratificante porque
infinito.
Sofrimento da cruz só vale enquanto expressão de amor infinito. A grande obsessão de
Jesus em salvar-nos por amor. Se Jesus não tivesse ressuscitado era vã a nossa fé.
Acreditamos numa pessoa que está viva.
“Nascer de novo”.
O islamismo
O Islão ou Islamismo (do árabe al-islãm) é uma religião monoteísta e abraâmica
que surgiu na Penísula Arábica no séc. VII d.C, baseada nos ensinamentos do
profeta Maomé, registados no livro sagrado, o Alcorão.
ISLÃO é o aportuguesamento da palavra árabe Islam, que significa “submissão
voluntária e incondicional à vontade de Deus”. Esta palavra tem uma relação
etimológica com outra palavras árabes como Salaam ou Shalam, que significam
paz.
Situação histórico-geográfica
O Islão nasceu na Arábia, numa região marcada pelo deserto.
Os árabes viviam em sociedades tribais compostas por vários clãs que
agrupavam famílias alargadas.
Algumas tribos eram sedentárias, outras nómadas e as guerras entre tribos eram
constantes.
Situação histórico-geográfica
INTRODUÇÃO À ESPIRITUALIDADE IDEP
67
Do ponto de vista religioso, os árabes eram politeístas e adoravam sobretudo
divindades na forma de árvores ou pedras.
Os seus rituais religiosos passavam pelo sacrifício de animais, por jejuns e
peregrinações.
Nos inícios do séc. VII d.C., a Arábia encontrava-se rodeada por dois impérios que se
defrontavam: a Oeste, o império bizantino cristão, e a Leste, o império persa cuja
religião oficial era o Zoroastrismo, embora aí também vivessem cristãos e judeus.
A cidade de Meca, a cerca de 80 km do mar, era o centro de uma peregrinação anual
feita pelos árabes a um santuário, a Kaaba, onde se encontra a Pedra Negra,
provavelmente um meteorito, que era alvo de veneração. Os peregrinos davam sete
voltas em torno dela no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
Meca era uma cidade importante porque controlava o tráfego das caravanas que
atravessavam a Arábia. Porém, a sua principal receita provinha do comércio de
objectos religiosos, com base no politeísmo.
Maomé
Muhammad (Maomé) nasceu a 12 de Rabi-al-awwal (terceiro mês do calendário árabe),
em 570 ou 571, na cidade de Meca. Este homem viria a alterar a história da Arábia e do
mundo.
Os seus pais faleceram muito cedo. O pai antes do nascimento de Maomé e a mãe
quando este tinha seis anos. Por isso, Maomé foi criado pelo tio.
Muhammad (Maomé) tornou-se marcador e viajou com as caravanas do deserto para
vender os seus produtos.
Nestas viagens conheceu judeus e cristãos através dos quais entrou em contacto com o
monoteísmo.
Aos 25 anos casou com uma viúva rica chamada Khadija.
Muhammad (Maomé) tinha o hábito de jejuar e meditar nas montanhas próximas de
Meca. Por volta de 610, aos 40 anos, enquanto fazia um desses retiros, experimentou
aquilo que considerou ser uma revelação divina.
Um ser misterioso (Jibril, o anjo Gabriel)ordenou-lhe que recitasse uma frase a qual
viria a ser a primeira revelação do Livro, mais tarde compilado com o nome de Alcorão.
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Convencido de que era um sucessor dos profetas hebreus, começou a pregar aos
habitantes de Meca que deviam acreditar num Deus único e anunciou-lhes o dia do
Juízo Final, no qual os actos de cada pessoa seriam avaliados e a riqueza pessoal seria
inútil.
Alguns acreditaram nele, mas outros tornaram-se seus inimigos e fizeram com que
tivesse de fugir de Meca para Yathrib, mais tarde chamada Medina, a Cidade (do
Profeta).
Este evento realizou-se no ano 622 e ficou conhecido como Hégira (fuga), marcando o
início do calendário islâmico.
A fuga de Maomé e dos seus seguidores foi uma afronta ao poder de Meca e as duas
cidades entraram em guerra.
Em Medina, Maomé fez alianças com várias tribos e fundou a comunidade do Islão
(Umma).
Reuniu uma força militar com a qual se defendeu, por duas vezes, das forças de Meca.
Por fim, os habitantes desta cidade aceitaram que Maomé entrasse nela como peregrino,
no ano 630.
Em Meca, destruiu os ídolos Kaaba e fixou uma nova peregrinação e novas normas
religiosas.
Por altura da sua morte (632), quase toda a Península Arábica estava unificada sob a
bandeira do Islão.
Símbolos do Islão
O símbolo por excelência do Islão é o hilal, também chamado crescente. Segundo a fé
islâmica, a Lua representa o calendário muçulmano e a estrela representa Alá (Deus, em
árabe).
O crescente era o símbolo da cidade de Bizâncio (ex-Constantinopola e actual
Istambul). Quando os Otomanos (turcos) conquistaram a cidade adoptaram o antigo
símbolo da cidade difundindo-o por todos os países sob o seu domínio. É por isso que
hoje quase todos os Estados islâmicos têm o crescente na bandeira.
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Em muitas correntes do Islão, é proibido fazer representações ou desenhos de seres
humanos, portanto a arte desenvolveu-se em formas geométricas, flores, folhagens,
palavras.
É o chamado estilo arabesco, caracterizado pela harmonia da repetição. Para muitos
simboliza o infinito sem centro e, consequentemente, a natureza da criação de Alá.
Textos Sagrados
Os ensinamentos de Alá estão contidos no Alcorão (em árabe Qur’an, recitação).
Os muçulmanos acreditam que Maomé recebeu ensinamentos de Alá por intermédio do
anjo Gabriel através de revelações.
Maomé recitou estas revelações aos seus companheiros, muitos dos quais se diz terem-
nas memorizado e escrito no material que tinham à disposição (folhas de palmeira,
pedras, etc).
As revelações de Maomé foram mais tarde reunidas em forma de livro. Considera-se
que a estruturação do Alcorão, como livro, ocorreu por volta do ano 650.
O Alcorão é constituído por 114 capítulos chamados suras, organizadas segundo a
extensão (da mais longa para a mais curta). Cada sura está dividida por versículos
chamados ayat.
As suras são identificadas por um nome que é, em geral, a primeira palavra do capítulo:
família, mulheres, arrependimento, luz, ressurreição…
Os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último de uma longa linhagem de profetas
do Antigo Testamento referidos na Bíblia e Jesus.
É no Livro que subsiste a Palavra de Deus pelo que desencorajam as traduções do
Alcorão que deve ser aprendido em árabe.
A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus que deve ser
adorado.
Contém também exortações éticas, morais, avisos sobre a chegada do Juízo Final e
regras relacionadas com aspectos da vida diária como o casamento e o divórcio.
No mundo islâmico os ensinamentos contidos no Alcorão têm força de Lei.
Princípios Básicos
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O Islão assenta em seis crenças principais:
1 – Ter fé em Alá, único Deus existentes;
2 – Acreditar nos Anjos, seres criados por Alá;
3 – Acreditar no Alcorão como o derradeiro e completo livro sagrado;
4 – Acreditar nos vários profetas enviados por Alá à humanidade.
5 – Acreditar no dia do Juízo Final, no qual as acções de cada pessoa serão analisadas
6 – Acreditar na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o que
acontece a cada pessoa.
A fé de Deus revelada aos profetas
«Dizei: “Cremos em Deus e no que tem sido revelado; no que foi revelado a Abraão, a
Ismael, a Isaac, a Jacob e às tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi
dado aos profetas por seu Senhor. Não fazemos distinção alguma entre eles, e
submetemo-nos a Ele”». Alcorão 2, 136
Os cinco pilares do Islão
Os cinco pilares do Islão consistem em cinco deveres básicos de cada muçulmano:
1 – Recitação e aceitação do credo (Shaadah).
2 – Oração cinco vezes por dia (Salah).
3 – Esmola (Zakah)
4- Observância do Jejum no Ramadão (Saum).
5 – Peregrinação a Meca (Hadj).
1º Pilar: A profissão de fé
Consiste na repetição do credo islâmico, que deve ser dito com a máxima sinceridade:
“Não há outro Deus além de Alá, e Maomé é o seu profeta ”
2º Pilar: A oração
Cinco vezes por dia em horas bem determinadas: a primeira é antes do sol nascer; a
segunda, ao meio-dia; a terceira, entre o meio dia e o pôr do sol; a quarta ao pôr do sol e
a última, entre o pôr do sol e a meia-noite.
Do minarete da mesquita, o meu-zin convida os crentes com a expressão: “Deus é o
altíssimo. Vinde à oração, vinde à salvação”.
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A oração pode ser feita individual ou colectivamente em qualquer local, desde que
esteja limpo, por isso, antes da oração os crentes lavam as mãos, os pés e a cabeça.
Depois de purificado, o muçulmano orienta-se para Meca e, descalço, sobre o seu tapete
pessoal, começa a recitar o takbir (exaltação): “Deus é o maior” elevando os braços
para o céu. De seguida recita o início do Alcorão (abertura) e a oração prossegue com a
recitação de frases e mudanças de posição corporal.
3º Pilar: A esmola
Consiste na partilha. O Islão estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente
uma certa quantia, calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos
pobres ou por outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes,
endividados…).
4º Pilar: O Jejum
Durante o Ramadão (o nono mês do calendário Islâmico) cada muçulmano adulto e
saudável deve abster-se de comer, beber, fumar e de ter relações sexuais desde o nascer
ao pôr do sol.
Os doentes, idosos,, grávidas, crianças até à puberdade, mulheres que amamentam e os
pobres estão dispensados do jejum. Em compensação, estes devem alimentar um pobre
por cada dia que faltarem ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano.
O jejum é considerado uma forma de purificação, de aprendizagem ao auto-controlo e
de desenvolvimento de empatia em relação àqueles que passam fome ou outras
necessidades.
No final do Ramadão, os muçulmanos agradecem a Deus as forças concedidas para
levar a cabo o jejum. Decoram as casas, visitam os familiares e aproveitam estas festas
para o perdão e a reconciliação.
5º Pilar: A peregrinação
Consiste na viagem a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na vida para todos os que
gozem de saúde e disponham de meios financeiros.
Decorre durante o décimo segundo mês do calendário Islâmico.
Perto de Meca os muçulmanos vestem um traje especial todo branco para que não haja
distinção entre classes. Na mesquita de Meca dão sete voltas em torno do Kaaba e
completam outros rituais, durante vários dias.
Calendário, rituais e espiritualidade
O Calendário islâmico é um calendário lunar composto por 12 meses de 29 ou 30 dias
com um total de cerca de 354 dias.
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O mês começa quando o crescente lunar aparece pela primeira vez após o pôr-do-sol.
Este calendário não corrige o facto do ano lunar ser quinze dias mais curto que o
calendário solar, o que faz com que as festividades muçulmanas circulem por todas as
estações.
A contagem da era islâmica começou com a Hégira – a fuga de Maomé de Meca para
Medina, em 16 de Julho de 622.
As comunidades islâmicas reúnem-se na mesquita, lugar onde o crente se prostra
perante Deus, especialmente à sexta-feira, o seu dia sagrado, para prestar culto a Alá.
Na mesquita não há imagens nem cadeiras, há apenas tapetes para as pessoas se
prostrarem.
A sexta-feira é o dia sagrado dos muçulmanos porque foi nesse dia que Deus criou o
primeiro homem (Adão), e porque o dia do Juízo Final há-de ocorrer também a uma
sexta-feira.
A ética muçulmana resume-se a nove atitudes: a sinceridade, a moderação, a justiça, o
perdão, a reconciliação, a dádiva, a meditação, o discurso edificador e o olhar atento.
O Islão é aberto a todos, independentemente da etnia, idade, género…
Não existe uma autoridade mas sim um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu
conhecimento da religião e da lei islâmica – os imãs e sheiques que coordenam a oração
e explicitam os ensinamentos do Profeta.
O contacto directo com Alá, sem intermediários, faz do Islamismo uma religião
acessível, já que pelo menos na tradição sunita, não existe hierarquia e a fé pode ser
praticada em qualquer lugar.
Como é que alguém se torna muçulmano?
Quando uma pessoa proferir, em árabe e diante de uma testemunha, que “não há
divindade além de Deus, e Maomé é o seu Mensageiro”.
É um processo de conversão extremamente simples, é apontado como um dos motivos
para a rápida expansão do Islão pelo mundo.
Já o percurso para a prática da fé é mais complexo e implica a aprendizagem dos
princípios básicos da religião.
Festas religiosas
As duas festas mais importantes do Islão são:
- Eid ul-Fitr: celebra o fim do jejum do Ramadão.
- Eid ul-Adha: marca o fim
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- da peregrinação a Meca.
Lugares sagrados
Os muçulmanos consideram sagradas três cidades:
- MECA (Arábia Saudita) – cidade onde está edificada a mesquita mais sagrada
do Islão, a Mesquita de Msjid Al-Haram. É nesta mesquita que se encontra a
Kaaba, lá dentro está a Pedra Negra, uma das relíquias mais sagradas do Islão.
- MEDINA (Arábia Saudita) – cidade que marcou o início da era muçulmana e
onde se encontram os túmulos do profeta Maomé e dos primeiros califas.
- JERUSALÉM (Israel) – Local de onde, de acordo com a fé islâmica, Maomé,
transportado de Meca numa experiência espiritual, subiu até ao céu de onde
regressou. A cidade foi conquistada em 638 pelo califa Omar e aí foi construída
em 691 a mesquita Cúpula da Rocha, ou de Omar.
Vocabulário
Burka: A longa túnica e o véu que cobrem todo o corpo de uma mulher.
Hijab: Véu usado por muitas mulheres muçulmanas.
Hezbollah: Significa “Partido de Deus”.
Imã: responsável pela mesquita.
In Sha a Allah: Expressão que significa “Se Deus quiser” e que deu origem à expressão
portuguesa oxalá
Jihad: traduzida por «guerra santa» mas o seu significado original é luta, usado
sobretudo no sentido espiritual.
Madrassa: escola ou lugar de ensino, frequentemente associada a uma mesquita.
Talibã: significa estudante
Há um só Deus e Maomé é o seu Mensageiro
Sinopse das Religiões Abraâmicas
Judaísmo
Cristianismo
islamismo
(imprimir as 2 tabelas dos powerpoints)
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Aula 10 25/05/2013
Estive ausente.