avritzer

Embed Size (px)

DESCRIPTION

RESUMO TEXTO AVRITZER

Citation preview

  • SOCIEDADE CIVIL, INSTITUICOES PARTICIPATIVAS EREPRESENTAAO: DA AUTORIZACAO LEGITIMIDADE DA AO(2007)

    LEONARDO AVRITZER

    A participacao politica no Brasil tem sido marcada por dois fenmenos: aampliacao da presena da sociedade civil nas polticas pblicas e ocrescimento das instituioes participativas.

    A presenca de instituicoes com participaao da sociedade civil e de atoresestatais nas areas de assitencai social, saude, meios ambiente e politicasurbanas. Existem mais conselheiros no Brasil que vereadores.

    Envolvimento da sociedade civil nas politicas sociais = novo problema = novasformas de representao ligadas a ela. Representao oficial da sociedadecivil.

    A representacao realizada pelos atores da sociedade civil diferentedaquele exercida pela instituicao representativa por excelencia, o Parlamento,em pelo menos dois aspectos: 1) no h o requisito explicito da autorizacao2) no h estrutura de monoplio territorial, assim como no h o supostode uma igualdade matematica entre is indivduos que dao origem arepresentacao. Pelo contrrio ela pluralista.

    A representacao realizada pela sociedade civil lembra mais a estruturamedieval de superposicao simultanea do que a estrutura monopolista prpria amodernidade.

    A representacao da sociedade civil um processo de superposiao derepresentacoes sem autorizacao e/ou monoplio para o exerccio dasoberania. (Young vai falar de autorizacao por afinidade)

    Pergunta: seria essa profileraao de formas de representacao social umadistorao do prprio funcionamento da representaao ou seria apenasmais um caso entre outros que tem servido para reelaborar a prprianocao de representacao? (sendo outros: a Comunidade Europeia, assim comoONGs)

    Resumo: Artigo divide-se em 3 partes: 1) reexamina os fundamentos dodebate sobre representacao, tal como abordado por Hanna Pitkin, atravs dadiscussao do pressuposto da autorizacao, a vinculacao entre representacao eeleicao, a ideia do monopolio e o argumento da territorialidade. 2) abordagemde 3 anlises sobre a questao: a tentativa de Gurza Lavalle, Houtzageer eCastello de defender uma concepcao de representacao virtual baseada emBurke, a tentativa de Nadia Urbanati de propor uma forma no-eleitoral dereepresentacao baseade na ideia de Condorcer de extensao temporal e atentativa de Dryzek de defender uma ideia de representacao discursiva. 3)propoe um conceito de representacao relacional, dissociando representacao deautorizacao e associando a vinculos simultaneos ente atores sociais, temas efruns capazes de agrega-los.

  • Um reexame da teoria da representaao de Hobbes a Hanna Pitkin

    A moderna teoria da representacao est baseada em tres elementos: aautorizao, o monoplio e a territorialidade.

    Discusso de autorizao: Analisado a partir da dupla estratgia de Hanna Pitkin que faz o cruzmento

    entre representaao abordada a partir da representacao teatral e juridica poltica (Hobbes), e uma abordagem historica de como se institucionalizou arepresentacao na modernidade.

    A primeira estrategia fundamentada no Leviat de Hobbes, que busca doisfundamentos seculares para a nocao de representacao, um 1o, na Grcia, coma ideia de prosopon, da substituicao de uma pessoa por outra no teatro, eum 2o, em Roma , com a ideia do procurador em Ccero.

    Em Ccero,a idia de representao envolve dois elementos: o daidentificao e o da autorizao. Hobbes d importncia apenas aautorizaao (vertente dentro da teoria democrtica).

    No caso da representao, o problema central como passar a possuir as aesde um outro: discussao de legitimidade ao ato da autorizaao.

    Em quais condioes os indivduos podem representar outros indivduos comlegitimidade?

    3o elemento fundamental em Hobbes: diferenciao entre o autor limitado eo ator livre.

    O problema hobbesiano se limita ao ato de provar a legitimidade dos pactos eacordos assinados pelos representantes dos atores. Mas vamos alem deHobbes para pensar 2 questoes centrais para uma teoria de participacao dasociedade civil: 1) se introduzirmos a democracia como varivel, a politicacarece tanto do ator que age limitado pela autorizacao recebida (representante)quanto do ator livre que ao inves de delegar seus atos, decide se responsabilizarpor eles. 2) Se o ator que age por sua conta fala em nome de outros atores,no deixa de haver representacao, ainda que esta se d por identificacao.

    Este segundo tipo de relao o foco deste artigo. Antes aborda as ideias de eleicao, monopolio e territorialidade foram

    agregadas idia de autorizao no decorrer do debate. A teoria da representacao dividida em 2 grandes momentos: 1) discussao

    acerca da legilitmidade do contrato social no processo de constituicao de umgoverno 2) teoria sobre o revezamento dos governantes no poder(republicanismo). O republicanismo a principio trabalhava com a ideia de umsorteio, o conceito de eleiao foi introduzido posteriormente.

    Questao central na 2a metade do seculo XX: a maneira como as eleioes,enquanto instrumento da representacao, adquiriram status monopolista nointerior de um determinado territrio.

    Os conceitos de monopolio e territorialidade no so inerentes a ideia derepresentacao, e s foram associados a ela com a consolidacao do Estado

  • moderno. O Estado moderno vai se tornar a nica instituio com capacidade de ao

    no interior do territrio. A construcao do Estado moderno tambm umproceso de homogeneizacao das comunidades polticas.

    Concluso: na sua origem, representao poltica envolve a ideia deafinidade, dimensao paulatinamente substituida pela ideia de monopolioda representaao no interior do territorio.

    A critica do conceito de representacao pela teoria poltica contemporanea

    Nova concepo de representao: a virtual, feita por Houtzager, GurzaLavalle e Castello; a de representao alm da dimenso eleitoral, feita porNadia Urbinati; e a discursiva, feita por John Dryzek.

    Houtzager, Gurza Lavalle e Castello: Problemas atuais da representacao relacionados a dualidade constitutiva

    entre formacao da vontade e sua institucionalizacao. Buscam a solucao em um autor clssico do pensamento anti-revolucionrio,

    Edmund Burke, que fala da autonomia dos representantes. umaabordagem equivocada pois o discurso de Burke se apoia no conceito derepresentao virtual como defesa da representacao sem eleicoes dasmonarquias pre-Revolucao francesa.

    Nadia Urbinati: Urbanati avana em relacao maneira como Hanna Pitkin abordou o

    conceito de representao, teorizando-o a partir dos diferentes usos lingusticosdo termo.

    Para Urbanati o conceito de representacao em torno de autorizacao eaccountability deixou de ser satisfatrio devido a transformaoes na polticadomestica e internacional que passou a incluir mais atores internacionais eno-governamentais na implementacao de polticas pblicas.

    Urbanati lana luz sobre as formas nao-eleitorais, mas legitimas derepresentacao poltica.

    Duas contribuicao para justificar a legitimidade destas novas formas derepresentacao: 1) mostra que a eleiao uma das multiplas dimensoes darepresentacao e da relacao entre Estado e sociedade civil, e questiona suacapacidade e dar conta da totalidade das relacoes entre atores sociais e Estado.2) desvincula a relacao entre soberania e representacao, mostrando ainadequacao da forma como Rousseau as associa.

    Rousseau: tenso insolvel entre democracia, soberania e representao.Em o Contrato Social, Rosseau diz que o individio ou livre para exercer suaprpria soberania ou ele a delega a um outro e, ao faz-lo, torna-se um escravo.

    Rousseau no consegue evoluir de um modelo privado para um pblico ese prende a uma forma elementar de no-delegao da soberania. Noentanto, todas as formas de participao, at mesmo as mais diretaspossveis, implicam em delegao de soberania, e a ques-to justamente

  • pensar quais so as suas formas polticas. Contribuioes inspiradas em Condorcet e na substituio do conceito de

    soberania pelo conceito de julgamento poltico: abrangncia temporal maisampla para a relao entre o representante e o representado na qual a eleioseria apenas um momento. Julgamento poltico envolveria outrastemporalidades e outras formas no-eleitorais de representao e at mesmoa possibilidade da revogao da autorizao concedida.

    Ela propor duas formas de ampliao da representao: a ampliaotemporal, atravs do referendum revogativo do mandato,e a possibilidade dereviso das leis.

    Ela no consegue pluralizar as fontes que geram o julgamento poltico demodo a integrar as novas formas de participacao ao conceito que ela prope.

    Ela no consegue incorporar, na sua perspectiva de representacao, nenhumanova insitucionalidade capaz de dar vazo seja advocacia, seja representao da sociedade civil. (???)

    Jonh Dryzek: Props uma diferenciao relevante entre a representacao de pessoas e

    interesses e a de discursos, visando diferenciar sua abordagem da deliberaaodemocrtica da proposta por John Rawls, que associa constitucionalismoliberal democracia deliberativa.

    Para Dryzek, h dimensao discursiva ignorada pelo constitucionalismo liberal.Seria necessrio um desenho de dimensao discursiva capaz de contemplarnovas formas de discurso no necessariamente expressas pela via eleitoral.

    Dryzek aponta que a concepcao eleitoral de representacao supoe que acategoria demos enquanto agregacao da totalidade dos indivduos no seriacapaz, atravs do sufrgio, de reunir as mltiplas dimenses da polticamoderna.

    Ela no d conta da pluralidade de discursos no necessariamenteexpressos pela via eleitoral. Seria necessrio identificar um conjunto dediscursos diferentes e dar a eles vazo em uma cmara onde estivesse mem oposio uns contra os outros.

    Dryzek avana em perceber que os novos atores e as novas formas deassociao colocam em xeque o funcionamento da representao baseadano demos enquanto instncia monopolista de agregao de indivduos.

    A proposta de Dryzek tem trs limitaes importantes: 1) separa representacaode indivduos daquela de ideias, o que parece dificil de ser feito e ignora o fatode que no se representam s discurso, mas tambm interesses, valores eideias. (Young separa alguns desses elementos) 2) ele supoe que a sociedadecivil se limita a advocacia de ideias quando se percebe cada vez mais umassociativismo ligado a interesses e valores e propostas especificas depoliticas publicas. 3) ignora que a maior parte das vezes nas quais a sociedadecivil est exercendo funes de representaao, ela est apoiada em organismosdeliberativos com os quais divide prerrogativas com membros do Executivoe, portanto, a criacao de uma cmara unicamente discursiva no

  • resolveira o problemas da legitimidade da representaao.

    A dimenso nao-eleitoral da representacao: a representacao por afinidade

    Um conceito mais amplo de representacao que envolva tanto a sua dimensaoeleitoral quanto a nao-eleitoral, tem como ponto de partida o questionamentoda relacao direta entre representacao e soberania.

    Ambos os conceitos esto em crise. No caso da soberania centrada no Estado moderno, a crise causda por um

    enfraquecimento paulatino do Estado e pelo papel cada vez maior deinstituies internacionais no campo da economia e das tro- casinternacionais.

    No caso da representacao, a questo como reconstru-la de modo a integrarseu elemento eleitoral com as diversas formas de advocacia e participao quetm origem extra-eleitoral.

    Representaao de multiplas soberanias para dar conta dos elementoseleitorais e no-eleitorais.

    O autor propoe uma combinacao das contribuicoes de Urbanati e Dryzek,tentando superar a incapacidade de Urbanati de pensar o continuum darepresentacao e de Dryzek de pensar elementos no-discursivos das novasformas de representacao.

    O elemento mais importante desse debate perceber que existem diversostipos de autorizao relacionados a trs papis polticos diferentes: o deagente, o de advogado e o de partcipe. Em todos tres, h o elemento doagir no lugar de de Hanna Pitkin, que varia de perspectiva.

    1) O caso do agente no ser discutido pois tratado por Pitkin. 2) O caso da advocacia de causas coletivas, emergiu nas ultimas dcadas um

    novo conceito, de ONGs que trabalham fora dos estados nacionais. a advocaciade temas parece prescindir da escolha ou de qualquer outro tipo de autorizacao.No a autorizacao, e sim a afinidade ou identificacao de um conjunto deindivduos com a situacao vivida por outros indivduos que legitima aadvocacia. ex. ONGs internacionals esto representando um discurso dasmulheres em geral e no um conjunto especfico de pessoas.

    3) O caso da representacao da sociedade civil, tem se tornado muito fortenas reas de polticas pblicas no mundo em desenvolvimento, se d a partirda especializacao temtica e da experiencia. (atores que lidam h muitotempo com um problema na rea das politicas sociais tendem a assumir opapel de representante da sociedade civil no assunto).

    h freqentemente, especialmente no Brasil, eleies para esses representantes,mas o eleitorado tem caractersticas muito especficas. Por vezes no possuiigualdade matematica da soberania e no possui o elemento monopolistaterritorial. Exercem o papel de criar afinidades intermediarias, isto , elasagregam soliedariedades e interesses parciais.

    A diferena entre a representacao por afinidade e a eleitoral que aprimeira se legitima em uma idendidade ou solidariedade parcial exercida

  • anteriormente. A questao das identidades parciais na poltcia reassumem um novo papel

    que foi, de alguma maneira, abolido pela poltica moderna.

    A representao eleitoral deve significar a abertura de um quadro derelacionamento entre diferentes tipos de soberania (Young, 2000) (???) Nessesentido, a eleio decide uma maneira atravs da qual corpos representativos serelacionaro com a advocacia e a representaao da sociedade civil

    No Brasil, os ultimos governosestabeleceram relacao entre representacaoeleitoral e no-eleitoral. E a eleio tem determinado tambm a maneira comoum tipo de repre- sentao capaz de legitimar o outro.

    Assim, no governo FHC, os presidentes dos conselhos nacionais eramindicados pelo presidente, e no governo Lula eram eleitos pela sociedade civil.

    Isso mostra que uma forma de representao podde tanto emprestarlegitimidade a outra como pode questiona-la.

    As eleies continuam sendo a maneira mais democrtica de escolha dosrepresentantes, mas, uma vez eleitos, estes se encontram com a advocacia detemas e a representacao da sociedade civil. Representantes que ignoram essarepresentacao, tendem a se deslegitimar entre seus proprios eleitores etem sido incapazes de implementar a sua prpria agenda.

    Instituies hbridas Concluso: Nesse sentido, a questo colocada pela poltica contempornea

    deve ser uma reduo da preocupao com legitimidade dessas novasformas de representao e um aumento da preocupao sobre de quemodo elas devem s esobrepor em um sistema poltico regido por mltiplassoberanias. O futuro da representao eleitoral parece cada vez maisligado sua combinao com as for- mas de representao que tm suaorigem na participao da sociedade civil.