BALANÇO DE MASSA.pdf

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  • INTRODUO Os dados relacionados fome nas regies brasileiras ainda so preocupantes.

    O Brasil conta com uma populao de aproximadamente 191 milhes de habitantes, sendo que nos Estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Gois, Distrito Federal e Tocantins, principais ncleos do bioma Cerrado, vivem cerca de 15 milhes de habitantes (IBGE, 2010).

    Se por um lado a carncia alimentar em algumas regies do pas ainda preocupante, os problemas com sobrepeso e obesidade, tanto em adultos quanto em crianas, tm aumentado o fator de risco para as doenas crnicas no transmissveis, tais como o diabetes tipo II, hipertenso, doenas cardiovasculares, problemas de articulao e alguns tipos de cncer, devido ao consumo de alimentos pouco saudveis, principalmente produtos de origem animal com alto teor de lipdeos e alimentos industrializados muito calricos (BRASIL, 2004).

    O hbito alimentar da populao do Centro-Oeste brasileiro conserva parcialmente a cultura alimentar do passado, uma vez que as frutas do Cerrado continuam presentes na sua dieta, ainda que em escala bem reduzida, devido expanso contnua da fronteira agrcola em direo ao Cerrado a partir de 1970 (ALMEIDA et al., 2008).

    Assim, objetivou-se nesse estudo de caso propor o aumento do consumo de duas espcies frutferas nativas do Cerrado (araticum e cagaita) e duas espcies frutferas exticas (acerola e maracuj) no municpio de Ipor (GO), por meio da produo de geleia dessas frutas, buscando-se a melhoria na alimentao e nutrio dos consumidores e o aumento na rentabilidade dos produtores rurais dessa regio, atravs da diversificao da produo agrcola.

    ESTRATGIAS PARA O AUMENTO DO CONSUMO DE FRUTAS NATIVAS E

    EXTICAS O municpio de Ipor localiza-se na regio Oeste do Estado de Gois, onde

    residem 31.274 habitantes, distribudos em uma rea de 1.026,38 km, sendo 1.012,29 km2 na zona rural e 14,09 km2 na rea urbana (IBGE, 2010). Sua economia se baseia predominantemente na pecuria leiteira, e em menor proporo na bovinocultura de corte. De um total de 104.500 bovinos, 16.100 vacas so ordenhadas diariamente. Alm disso, existe o cultivo em pequena escala de culturas anuais (arroz = 150 ha, milho = 1.200 ha e soja = 1.125 ha) e perenes (mandioca para comercializao da raiz in natura, produo de polvilho e farinha = 200 ha, banana = 34 ha e coco da Bahia = 7 ha) (IBGE, 2011).

    A rede de ensino iporaense conta com 534 alunos matriculados na pr-escola (rede municipal), 555 alunos matriculados no ensino fundamental (rede municipal), 2.077 alunos matriculados no ensino fundamental e 1.089 alunos matriculados no ensino mdio (ambos pertencentes rede estadual), totalizando 4.255 estudantes da rede pblica de educao (IBGE, 2012).

    Assim, prope-se nesse estudo de caso a produo de geleia de araticum, cagaita (frutas nativas do Cerrado), acerola e maracuj (espcies exticas) para serem consumidas pelos alunos da rede pblica de educao do municpio de Ipor, durante a merenda escolar (juntamente com bolachas e biscoitos), atravs do Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), lei 11.497, que dita como obrigatrio a utilizao de no mnimo 30% dos recursos do PNAE para aquisio de produtos oriundos da agricultura familiar (TRICHES & SCHNEIDER, 2012). Dessa

  • forma, a presente proposta visa incentivar, diversificar e aumentar a produtividade e rentabilidade dos produtores rurais do municpio de Ipor, onde se predomina a mo de obra familiar.

    PROPRIEDADES NUTRITIVAS E BEFEFCIOS SADE DAS FRUTAS DO

    CERRADO Estima-se que as dietas das comunidades ocidentais incluem propores

    mdias de cido linoleico (mega 6) e cido linolnico (mega 3) em torno de 20:1 a 25:1 (em peso), muito acima das recomendaes do National Research Council (NRC, 1989), que preconiza uma alimentao composta dos cidos linoleico e linolnico na razo de 10 a 12,5:1 em peso. Atualmente tem havido grande interesse no entendimento das funes dos cidos graxos no organismo humano, pois certas situaes patolgicas, como arteriosclerose, diabetes tipo II e alguns tipos de cncer esto diretamente relacionadas ao tipo e qualidade de lipdeos na dieta. O araticum e a cagaita apresentam teores de 0,76 e 10,5% de cido linoleico em relao ao total de cidos graxos, respectivamente, enquanto as concentraes de cido linolnico so de 3,1 e 11,86%, respectivamente, tambm em relao ao total de cidos graxos (ALMEIDA et al., 2008). Portanto, infere-se que o araticum e a cagaita apresentam aspectos benficos sade devido maior proporo de cido linolnico em relao ao linoleico, podendo auxiliar na preveno das doenas citadas anteriormente.

    Vrios estudos epidemiolgicos apresentam evidncias consistentes sobre os efeitos benficos dos antioxidantes presentes nas frutas. Os antioxidantes possuem a capacidade de neutralizar os radicais livres, que so molculas instveis e altamente reativas, podendo ser gerados durante os processos biolgicos normais, ou por fontes exgenas, como o tabaco, poluio do ar, solventes, pesticidas, anestsicos e radiaes. Os componentes mais investigados que possuem potencial antioxidante nas frutas abrangem as fibras, compostos fenlicos, ismeros conjugados do cido linoleico, os monoterpenos, cido ascrbico (vitamina C), os tocoferis (vitamina E), e alguns minerais, como o zinco e o selnio. Estudos recentes comprovaram que tanto o araticum quanto a cagaita possuem elevada capacidade de sequestrar radicais livres, ou seja, atividade antioxidante (ROESLER et al., 2006; ROESLER et al., 2007; GENOVESE et al., 2008; GONALVES et al., 2010).

    importante salientar que a produo e comercializao de frutas vm sendo pouco exploradas na regio do Cerrado. Ao contrrio, esse bioma vem sendo rapidamente devastado para criao de reas de pastagens ou plantio da soja. Dessa forma, a produo da geleia de acerola, araticum, cagaita e maracuj representa uma aplicao economicamente vivel e ambientalmente correta dos recursos do Cerrado, uma vez que a busca por uma alimentao saudvel tem aumentado muito nos ltimos anos. A seguir, descreve-se em detalhes o fluxograma e balano de massa da produo da geleia de acerola, araticum, cagaita e maracuj. Calculou-se a quantidade consumida de geleia de cada uma das quatro frutas selecionadas como sendo uma poro de 27 g, servida na merenda escolar juntamente com bolachas e biscoitos uma vez por semana, durante 40 semanas, aos 4.255 estudantes da rede pblica de educao do municpio de Ipor, totalizando 4.600 kg de cada geleia durante o ano (0,027 kg 40 semanas 4.255 estudantes).

  • CONCLUSO A produo da geleia de acerola, araticum, cagaita e maracuj uma proposta

    prtica e aplicvel, pois pode ser realizada em agroindstrias de pequeno porte administradas com mo de obra familiar, sem a necessidade de altos investimentos com utenslios e equipamentos para a produo das geleias. Alm dos aspectos benficos sade citados anteriormente pelo consumo do araticum e da cagaita, a presente proposta tambm pode contribuir para o aumento da renda dos produtores locais do municpio de Ipor, atravs da diversificao da produo. O clculo das quantidades das geleias se restringiu ao consumo dos estudantes da rede pblica de educao que recebem merenda escolar, porm o mercado potencial ainda maior caso haja a comercializao em supermercados, padarias e feiras livres.

  • FLUXOGRAMA DE PRODUO E BALANO DE MASSA DA GELEIA DE ACEROLA

    U

    Higienizao gua clorada

    (50 ppm)

    Frutas = 2.123,1 kg

    gua residuria

    Remoo de cascas

    e sementes

    11,4% de cascas e

    sementes = 241,7 kg

    88,6% de polpa = 1.881,4 kg (FREIRE et al., 2006)

    Mistura

    Sacarose = 472,5 kg

    gua = 2.835,4 kg

    Pectina = 28,1 kg

    Cozimento

    4.600 kg geleia de acerola (1.881,4 kg de polpa + 472,5 kg de sacarose + 2.835,4 kg de gua + 28,1

    kg de pectina - 617,4 kg de vapor)

    Vapor = 617,4 kg

  • FLUXOGRAMA DE PRODUO E BALANO DE MASSA DA GELEIA DE ARATICUM

    Frutas = 4.342,4 kg

    Higienizao gua clorada

    (50 ppm) gua residuria

    48,2% de cascas =

    2.093 kg Remoo de cascas

    Corte

    Cozimento

    42,8% de polpa = 1.858,4 kg (COHEN et al., 2010)

    Remoo de sementes 9% de sementes =

    391 kg

    Triturao

    Resduo = 36,8 kg

    Vapor = 269,1 kg

    Vapor = 232,3 kg

    4.600 kg de geleia de araticum (1.858,4 kg de polpa + 2.787,6 Kg de gua + 464,6 kg de

    sacarose + 27,6 kg de pectina - 36,8 kg de resduo - 501,4 kg de vapor)

    gua = 2.787,6 kg

    Peneiramento

    Cozimento Pectina = 27,6 kg

    Sacarose = 464,6 kg

  • FLUXOGRAMA DE PRODUO E BALANO DE MASSA DA GELEIA DE CAGAITA

    L

    Frutas = 2.260,1 kg

    Higienizao

    Corte

    Remoo de sementes 16,3% de sementes

    = 368,5 kg

    Remoo de cascas

    81,8% de polpa = 1.848,7 kg (SILVA et al., 2001)

    gua clorada

    (50 ppm) gua residuria

    1,9% de cascas =

    42,9 kg

    Mistura

    Sacarose = 461,8 kg

    Pectina = 27,3 kg

    gua = 2.772,7 kg

    Cozimento Vapor = 510,5 kg

    4.600 kg de geleia de cagaita (1.848,7 kg de polpa + 461,8 kg de sacarose + 2.772,7 kg de gua

    + 27,3 Kg de pectina - 510,6 kg de vapor)

  • FLUXOGRAMA DE PRODUO E BALANO DE MASSA DA GELEIA DE MARACUJA

    dda

    Fruta = 5.373,8 kg

    Higienizao

    Corte

    Remoo de cascas

    Remoo de sementes

    33,2% de polpa = 1.784,1 kg (NEGREIROS et al., 2007)

    Mistura

    Cozimento

    4.600 kg de geleia (1.784,1 kg de polpa + 1.784,1 kg de sacarose + 1.486,7 kg de extrato

    lquido pectinoso - 454,9 kg de vapor)

    gua clorada

    (50 ppm) gua residuria

    51,3% de cascas =

    2.756,8 kg

    Produo de extrato

    lquido pectinoso

    13,3% de sementes

    = 714,7 kg

    2,2% de perdas

    = 118,2 kg

    Extrato lquido pectinoso

    = 1.486,7 kg

    Sacarose = 1.784,1 kg

    Vapor = 454,9 kg

  • FLUXOGRAMA DE PRODUO E BALANO DE MASSA DA PRODUO DE EXTRATO LQUIDO PECTINOSO QUE SER USADO NA PRODUO DA

    GELEIA DE MARACUJ

    Cascas = 2.756,8 Kg

    Cozimento gua = 3.664,4 Kg Vapor = 366,4 Kg

    Triturao

    Peneiragem

    Extrato lquido

    pectinoso = 1.486,7 kg

    Resduo

    = 4.568,1 kg

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ALMEIDA, S. P.; COSTA, T. S. A.; SILVA, J. A. Frutas nativas do Cerrado; caracterizao fsico-qumica e fonte potencial de nutrientes. In: Cerrado: ecologia e flora. Braslia, DF: Embrapa Informao Tecnolgica, 2008. p. 353-381. BRASIL. Diagnstico de sade e nutrio da populao do campo: levantamento de dados e proposta de ao. Braslia: CGPAN: DAB: SAS, 2004. 34p. COHEN, K. O.; SANO, S. M.; SILVA, J. C. S.; MELO, J. T. Avaliao das caractersticas fsicas e fsico-quimicas dos frutos de araticum procedentes de Cabeceiras, GO. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento/Embrapa Cerrados, 270, 2010. FREIRE, J. L. O.; LIMA, A. N.; SANTOS, F. G. B.; MARINUS, J. V. M. L. Caractersticas fsicas de frutos de acerola cultivada em pomares de diferentes microrregies do estado da Paraba. Agropecuria Tcnica, v.27, n.2, p.105-110, 2006. GENOVESE, M. I.; PINTO, M. S.; GONALVES, A. E. S. S.; LAJOLO, F. M. Bioactive compounds and antioxidant capacity of exotic fruits and commercial frozen pulps from Brazil. Food Science and Technology International, v.14, n.3, p.207-214, 2008. GONALVES, A. E. S. S.; LAJOLO, F. M.; GENOVESE, M. I. Chemical composition and antioxidant/antidiabetic potential of Brazilian native fruits and commercial frozen pulps. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.58, n.8, p.4666-4674, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE. 2010. Estado/GO/MS/MT/DF/TO. Gois/Ipor. Online. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/ http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=521020&search=goias|ipora Acesso em 31 de julho de 2013. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE. 2011. Gois/Ipor/Pecuria 2011. Gois/Ipor/Lavoura temporria 2011. Gois/Ipor/Lavoura permanente 2011. Online. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?codmun=521020&idtema=98&search=goias|ipora|pecuaria-2011 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?codmun=521020&idtema=100&search=goias|ipora|lavoura-temporaria-2011 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?codmun=521020&idtema=99&search=goias|ipora|lavoura-permanente-2011 Acesso em 01 de agosto de 2013. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE. 2012. Gois/Ipor/Ensino matrculas docentes e rede escolar 2012. Online. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?codmun=521020&idtema=117&search=goias|ipora|ensino-matriculas-docentes-e-rede-escolar-2012

  • Acesso em 31 de julho de 2013. NATIONAL RESEARCH COUNCIL NRC. Recommended dietary allowances. 10th edition. National Academy of Sciences, Washington, DC, 1989. 285p.

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