Upload
ricardo-cabral
View
222
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
1/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
1
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
2/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
2
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
AULA NOVE
Ol!
A proposta das duas prximas aulas a de ser a mais objetiva possvel,
ou seja, farei a abordagem dos contedos de forma direta, debatendo e
apresentando os principais temas e assuntos pertinentes a cada item do
contedo programtico. No menos importante, destaco a voc que
fundamental para o completo entendimento e fixao dos pontos a serem
narrados, que voc se dedique um pouco ao estudo da matria demacroeconomia presente no concurso, visto que esta permite uma sustentao
terica de tudo que ser debatido no curso de Economia Brasileira.
So os seguintes os pontos a serem abordados:
Retrospectiva da Economia Brasileira (fundamentos para
abordagem da Economia Brasileira). II PND.
No elevado o quantitativo de questes cobrado pelo CESPE em provas
anteriores, especificamente relacionado aos temas desta aula. Assim sendo,
como forma de consolidao do contedo, optei por adicionar questes
cobradas por outras bancas examinadoras.
Vamos aula.
Um grande abrao e bons estudos!
Mariotti
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
3/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
3
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
1. Retrospectiva da Economia Brasileira
1.1 Introduo
O perodo colonial no Brasil foi marcado pela existncia de monoculturas
produtivas e/ou exploratrias, as quais tinham como destino o atendimento
aos mercados consumidores europeus (exportao dos bens) e, tambm, o
enriquecimento dos pases conquistadores e financiadores da explorao
colonial no pas.
De maneira objetiva, dividimos est primeira abordagem realizando uma
anlise sucinta em relao ao perodo colonial, com nfase na produo de
acar, explorao da minerao e, por fim, a expanso da lavoura cefeeira.
1.1 A economia brasileira no perodo colonial: a economia
aucareira do Nordeste
A ocupao do Brasil colocou o governo portugus diante de um novo
desafio: tornar rentvel um territrio ocupado por uma populao que no
produzia qualquer excedente que pudesse ser comercializado. Na frica e no
Oriente, os portugueses encontraram povos com economias complexas e
variadas, de comrcio intenso e diversificado. Nessas regies, pela fora ou
pela persuaso, foi possvel explorar as riquezas produzidas pela populao
local, como metais preciosos, produtos agrcolas e especiarias.
No Brasil, a populao era nmade, vivia da caa e da pesca, no
praticava o comrcio nem utilizava dinheiro; produzia apenas o necessrio
para o prprio sustento.
As sociedades indgenas, alm disso, estavam fundamentadas na
independncia das tribos, sem ter um Estado organizado. Muitas das
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
4/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
4
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
sociedades africanas e orientais, pelo contrrio, estavam divididas em camadas
sociais hierarquizadas e sobre as quais o Estado tinha forte domnio, o que
facilitava a explorao econmica por parte dos europeus.
Diante dessas caractersticas, a colonizao do pas no esteve nos
planos da burguesia mercantil portuguesa nos primeiros trinta anos aps a
viagem de Cabral. Entretanto, havia grande interesse em garantir o domnio
sobre aquelas terras. Notcias de riquezas minerais exploradas por um reino
localizado no interior do continente (os incas) fortaleciam esse propsito.
O meio mais eficaz para consolidar a posse das terras era promover a
colonizao. Mas para isso era necessrio criar na colnia uma economia em
condies de gerar produtos que pudessem ser comercializados, com bons
lucros, na Europa. Nesse processo, Portugal foi novamente pioneiro. Tornou-se
o primeiro pas europeu a transferir para terras distantes recursos econmicos
capazes de gerar grandes lucros, como mo de-obra, capital e maquinrio.
Em 1530, uma grande expedio comandada por Martim Afonso de
Sousa acabou se tornando marco nesse processo de colonizao. Seus
principais objetivos eram: percorrer o litoral e, quando julgasse necessrio,
explorar o interior em busca de ouro e prata; expulsar os franceses que
encontrasse; organizar ncleos de povoamento e defesa; expandir o domnio
portugus at o curso de gua que se tornaria conhecido como rio da Prata.
Localizado em terras que no pertenciam a Portugal pelo Tratado deTordesilhas, este era considerado a porta de entrada para as ricas minas de
prata do Imprio Inca.
Ao chegar Amrica, Martim Afonso dividiu a expedio: uma parte
seguiu para o norte, a fim de explorar a foz do rio Amazonas; a outra,
comandada pelo prprio Martim Afonso, rumou para o sul, em busca da foz do
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
5/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
5
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
rio da Prata. Na volta, em 1532, fundou So Vicente, no litoral do atual estado
de So Paulo. Esse ncleo inicial seria a primeira vila da Amrica portuguesa.
A ocupao das terras americanas s se tornou possvel na medida em
que a cana de acar mostrou-se adaptvel ao clima e ao solo da regio
tropical. Mas, sobretudo, quando se percebeu que o acar era um produto
rentvel, de grande aceitao no mercado europeu e capaz de gerar bons
lucros.
A experincia de Portugal como produtor de acar nas ilhas do Atlntico(Madeira e Cabo Verde) contribuiu para a escolha do produto, assim como de
sua forma de produo. Por sorte, as condies naturais da colnia americana
e das ilhas eram semelhantes. Ao lado disso, o acar era uma das especiarias
mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu. Por essas caractersticas,
podia atrair o capital necessrio para a implantao do empreendimento
colonial, principalmente o holands.
A explorao da colnia portuguesa, com o cultivo da cana de acar,
assumiu trs caractersticas bsicas: grande propriedade, monocultura e
trabalho escravo.
A opo pela monocultura da cana de acar em grandes propriedades
era decorrncia natural da poltica mercantilista. Os esforos coloniais
deveriam estar voltados para a aquisio de produtos que pudessem sercomercializados com as naes europeias. Essa condio era preenchida pela
lavoura de gneros agrcolas tropicais, como a cana de acar. O chamado
Pacto Colonial, segundo o qual as colnias s perderiam comerciar com suas
metrpoles, complementava os propsitos dessa poltica econmica.
1.2Auge e declnio da minerao
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
6/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
6
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Desde que chegaram Amrica, os portugueses sonhavam encontrar
ouro e prata no territrio conquistado. Na tentativa de realizar o sonho, a
Coroa organizou e incentivou inmeras expedies. Quando o ouro finalmente
foi encontrado, nos ltimos anos do sculo XVII, uma grande agitao tomou
conta da colnia. A notcia se espalhou rapidamente e pessoas das regies
mais distantes, mesmo da Europa, passaram a se dirigir para a regio das
minas.
Os primeiros rumores surgiram em 1694, quando o sertanista
Bartolomeu Bueno de Siqueira encontrou pequenas pepitas na serra deItaberaba. Os anos seguintes foram repletos de novas descobertas. Em 1698,
Antnio Dias de Oliveira se deparou com um rico filo no lugar que viria a ser
depois a cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto. De repente, a regio inteira se
viu povoada por toda sorte de aventureiros.
Na regio das minas, com um pouco de sorte, qualquer pessoa podia
encontrar ouro. No incio, pelas caractersticas da regio, o minrio eraencontrado superfcie da terra ou no leito dos rios. A explorao das minas,
entretanto, era rigidamente regulamentada. Toda descoberta devia ser
comunicada de imediato Intendncia das Minas, que enviava funcionrios
para estudar o terreno e dividir a jazida em datas, nome que recebiam as
propriedades mineradoras. A vantagem do descobridor era escolher a primeira
data. A Fazenda Real escolhia outra, que depois vendia. As restantes iam a
leilo. Entre os critrios de aquisio estava o nmero de escravos que cadainteressado possua, que deveria ser compatvel com a potencialidade da rea.
Minas pequenas ou quase esgotadas eram exploradas individualmente
pelos faiscadores. Escravos tambm se dedicavam a essa atividade. Eles
deviam entregar urna quantidade fixa de ouro ao seu senhor. Se conseguissem
explorar um bom filo, tinham a possibilidade de comprar a prpria liberdade.
Mas importante atentar para o fato de que a expectativa de vida de um
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
7/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
7
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
escravo na regio das minas era inferior dos que viviam nos engenhos de
acar.
Em grave crise econmica, o governo portugus tratou de reter parte
considervel do ouro produzido na colnia. Alm das datas a que tinha direito
ao ser descoberta urna jazida, a Coroa estabeleceu diversos impostos. O
principal deles foi o quinto. De todo o ouro extrado na regio, o governo ficava
com a quinta parte. Mas os mineradores encontraram sempre muitas maneiras
de esconder o metal e vende-lo sem entregar a parte do rei.
Criaram-se, ento, as Casas de Fundio, s quais deveria ser entregue
todo o ouro extrado. Ali, o metal era fundido, transformado em barras
marcadas com o selo real e devolvido ao dono, com o imposto cobrado. Quem
fosse apanhado com ouro sem o selo real podia perder todos os bens ou
acabar seus dias numa colnia portuguesa da frica.
Com o tempo, para garantir a parte do rei, foi estabelecido tambm queos impostos deveriam atingir sempre o mnimo de 100 arrobas (1500 quilos).
Caso contrrio, seria decretada a derrama. Nesse caso, a populao era
obrigada a completar as 100 arrobas em contribuies pessoais ou impostos
cobrados sobre o comrcio, escravos, etc.. Durante a derrama, eram
suspensas as garantias individuais, podendo ocorrer invaso de residncias,
prises e confiscos.
Se considerarmos que aps 1762, devido queda de produo, a
arrecadao dos impostos nunca mais atingiu 100 arrobas, podemos imaginar
a tenso em que vivia a regio das minas. A insatisfao popular com a poltica
do governo gerou, durante o perodo da minerao, diversas rebelies. A
principal delas foi a Inconfidncia Mineira.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
8/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
8
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
1.2.1 A decadncia das minas
O ouro encontrado na regio das Minas Gerais era, em sua maior
parte, de aluvio, isto , foi depositado, ao longo de milnios, no leito dos
rios e nas margens prximas, pelas guas que erodiram rochas matrizes.
Da a sua pequena concentrao e o rpido esgotamento das jazidas. As
rochas matrizes, alm de raras, no puderam ser plenamente exploradas
nos sculos XVII e XVIII, principalmente pelos deficientes recursos e
conhecimentos tcnicos dos mineradores.
Contribuiu ainda para a decadncia da economia aurfera a sua forma
de explorao. Os mineiros entulhavam os vales com a terra das
montanhas, cobriam com os resduos da lavagem do ouro terrenos ainda
no explorados, obstruam o leito dos rios com areia e pedras e
comprometiam a vida dos escravos.
Destaca-se que a prpria ao do governo pouco colaborou paramanter o nvel da produo; ao contrrio, sua poltica ajudou a acelerar
esse processo, j que sua nica preocupao eram os impostos; para a
queda da produo, as autoridades s tinham a fraude como explicao;
no havia preocupao alguma em melhorar as tcnicas de explorao; os
funcionrios responsveis entendiam de regulamentos e tributos e nada de
minerao; o poder pblico era repressivo, respondia com castigos e
punies grande parte das crticas dos colonos.
A riqueza do ouro, no entanto, foi ainda mais efmera, pois no
possibilitou qualquer acumulao de capital. Grande parte do dinheiro
arrecadado pelo governo foi gasto com a importao de produtos
manufaturados da Inglaterra; nada ficou na colnia, nem mesmo em
Portugal.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
9/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
9
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
A descoberta do ouro deslocou o centro econmico colonial das
capitanias do Nordeste para a regio das minas. Isso provocou
significativas mudanas na administrao colonial.
1.3 A economia brasileira no sculo XIX: expanso da lavoura
cafeeira; transformaes no final do perodo: abolio do
escravismo, incio do desenvolvimento industrial.
Na primeira metade do sculo XVIII, a minerao atraiu boa parte da
populao que antes se dedicava a outras atividades. Alm disso, osprodutos coloniais j vinham sofrendo forte concorrncia no mercado
internacional, como a do acar produzido pelos holandeses nas Antilhas.
Esses dois aspectos levaram a agricultura colonial beira da falncia.
Mas, no final do sculo, com a decadncia da minerao, as
atividades agrcolas ressurgiram, reforando o poder econmico dos
plantadores. A recuperao da agricultura ocorreu devido combinao dediversos fatores: oa aumento da populao europia, com a ampliao dos
mercados consumidores de gneros tropicais; a Revoluo Industrial, que
provocou o crescimento do consumo de matrias primas, estimulando sua
produo; a substituio dos tecidos de linho e l pelos de algodo,
cultivado na Amrica; lutas pela independncia que envolveram as colnias
inglesas da Amrica do Norte e as francesas das Antilhas, diminuindo o
potencial dos concorrentes no comrcio de produtos agrcolas; polticasistemtica de aclimatao de gneros agrcolas adotada pelo governo
portugus na poca de Pombal.
Os trs primeiros fatores reforavam a necessidade do livre comrcio,
o que contrariava frontalmente os interesses da metrpole. A questo
econmica sofreu assim uma espcie de "politizao", transformando
alguns dos colonos em firmes partidrios da liberdade comercial.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
10/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
10
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
1.3.1 O Caf
Introduzido no Brasil em 1727, o caf s ganhou importncia definitiva
um sculo depois. A independncia dos Estados Unidos, em 1776, contribuiu
para sua expanso, j que os norte-americanos tornaram-se grandes
consumidores do produto. No sculo XIX, a exportao de caf cresceria sem
parar. Entre 1821 e 1830, foram exportadas pouco mais de 3 mil sacas de 60
quilos. Na dcada de 1880, essa cifra ultrapassaria o nmero de 51 mil sacas.
Durante o Reinado de Dom Pedro II o caf manteve a posio de maisimportante produto de exportao. Na receita das vendas externas brasileiras,
entre 1840 e 1890, enquanto caa a participao do acar (26,7% para 9,9%)
e do algodo (7,5% para 4,2%), a do caf subia de 41,4% para 61,5%.
A partir de 1860, os tradicionais dficits na balana comercial deram
lugar a supervits. Em certas camadas sociais e regies melhorou o padro de
vida e surgiu algum desenvolvimento tcnico (fbricas, meios de transporte ecomunicao).
Paradoxalmente, a extraordinria importncia do caf constituiria a
riqueza e a fragilidade da economia brasileira. Sem uma diversificao
consistente das atividades produtivas, a economia passou a depender quase
exclusivamente da monocultura cafeeira. Assim, qualquer crise internacional
ou problema na produo e no comrcio do caf arrastava consigo a economiado pas. Isso seria mais comum no perodo republicano.
No incio, a expanso cafeeira fundamentou-se na antiga estrutura da
economia agrcola brasileira: grande propriedade, monocultura de exportao
e explorao da mo de obra escrava. Mais tarde, revelou uma face dinmica
ao incorporar o trabalho livre de imigrantes europeus.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
11/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
11
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Apesar da existncia de dificuldades, em meados do sculo XIX, alguns
fatos possibilitaram a formao de um pequeno surto industrial no pas. Em
primeiro lugar, a industrializao foi favorecida pela dificuldade do pas em
pagar importaes de manufaturados. Isso propiciou a aprovao da Tarifa
Alves Branco, em 1844, que elevou as taxas de importao para 30%, e at
para 60%, no caso de alguns produtos. As novas tarifas funcionaram como
barreira protecionista e tornaram os produtos nacionais mais competitivos no
mercado interno.
A proibio do trfico de escravos, em 1850, foi outro fato importantenesse processo. Em torno dessa atividade, concentravam-se vultosas somas de
capitais que, com a proibio, puderam ser redirecionados para outras
atividades produtivas. Entretanto, parte desse capital acabou tambm
deslocado para a importao de produtos europeus, aumentando a
concorrncia.
Na ltima dcada do Imprio ocorreu um surto considervel deindustrializao. Ele foi possvel por que parte dos lucros obtidos na produo
e, sobretudo na comercializao do caf passou a ser investida na instalao
de fbricas e na importao de trabalhadores assalariados de origem europia.
A chegada dos imigrantes, o desenvolvimento das cidades e o surto
industrial estimularam o surgimento de uma classe mdia constituda de
profissionais liberais, pequenos comerciantes e industriais, militares efuncionrios pblicos civis.
A grande base de sustentao do imprio eram os donos de terras e
escravos. Com a abolio, a monarquia perdeu essa fora de sustentao. A
campanha abolicionista havia agitado o pas de norte a sul e, interligando-se
com a campanha republicana, desmoralizou as autoridades imperiais, cujo
poder desmoronava.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
12/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
12
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Ao lado disso, a industrializao e a expanso do caf produziram novos
grupos sociais desejosos de participao poltica. Um desses grupos eram os
novos cafeicultores do Noroeste e do Oeste paulista, que lutavam por maior
autonomia para as provncias. Afirmavam que somente com a Repblica isso
seria possvel.
1.3.2 A hegemonia do caf
O mais importante produto brasileiro teve a decisiva contribuio do
brao imigrante para chegar a representar 70% do comrcio internacional do
pas. So Paulo, na poca o maior produtor de caf do pas, recebeu cerca de 2
milhes de imigrantes entre 1889 e 1930. Nem todos acabaram nas lavouras
de caf. Muitos foram para os centros urbanos, dinamizados em grande parte
pelos recursos e capitais gerados com a produo e exportao do caf.
A atividade cafeeira sempre foi pontilhada por crises. O aumento da
procura internacional provocava a elevao da exportao, assim como do
preo do produto. Isso fazia com que novos agricultores cultivassem caf. Com
o aumento da produo, passava a existir desequilbrio entre oferta e procura.
Em consequncia havia superproduo e os preos caam, levando a economia
nacional crise. Com o tempo, o governo passou a intervir na produo e na
venda do caf; o preo do produto passou a ser ento resultado de uma
poltica deliberada do governo, que representava os interesses dos
fazendeiros.
Em 1895, quando uma superproduo fez os preos internacionais
despencarem, apareceram os primeiros estudos destinados a evitar futuros
prejuzos. Os governantes de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais
firmaram o Convnio de Taubat (cidade paulista). Esse acordo foi aceito pelo
governo federal e sua aplicao representou a primeira interveno estatal
para valorizar um produto, em benefcio dos cafeicultores.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
13/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
13
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Em sntese, o Convnio implementou as seguintes medidas: garantia de
preos mnimos para os produtores; criao de dificuldades para a exportao
de caf inferior ao tipo 7, que deveria ser consumido no pas; organizao de
servio permanente de propaganda do caf; impostos elevados para dificultar
a ampliao das reas de cultivo; compra e reteno, pelo governo, das sobras
de exportao para impedir a queda dos preos.
Para financiar tais medidas, o governo poderia solicitar emprstimos no
exterior, at o limite de 15 milhes de libras esterlinas. Com o objetivo de
valorizar o produto, o governo retirou do mercado, em quatro anos, oitomilhes e meio de sacas de caf.
Todo este processo, muito embora tenha tido um efeito positivo sobre o
preo do caf, acabou debilitando por consequncia da retrao dos mercados
internacionais devido Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O equilbrio foi
restabelecido apenas com uma forte geada em 1918, que destruiu parte dos
cafezais paulistas e reduziu a safra.
Novas crises iriam acontecer. Em 1924 foi criado o Instituto Brasileiro do
Caf, com poderes para reter a produo sem limites de quantidade. Era uma
tentativa de resolver o problema definitivamente, mas este perdurou,
arrastando o pas a uma crise ainda mais sria a partir de 1929. Assim, de
crise em crise, a economia brasileira seguiria, por muito tempo, dependendo
do caf e dos mercados internacionais.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
14/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
14
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
2. A economia brasileira na primeira metade do sculo XX: as duas
guerras mundiais; a depresso dos anos trinta e seus reflexos; o
processo de industrializao: fases, caractersticas.
O processo de industrializao, e as estratgias de desenvolvimento do
pas, originaram-se a partir da crescente evoluo das trocas internacionais.
Com a consolidao da hegemonia britnica, aps a segunda revoluo
industrial, e a efetiva dependncia de pases agrcolas riqueza da coroa
inglesa, incluindo-se o prprio Brasil, passa-se a se evidenciar a insero do
pas no processo de industrializao, especialmente no Estado de So Paulo. Aatividade produtiva era toda baseada na produo cafeeira, responsvel pela
gerao de riqueza na economia nacional. Com a ecloso da Primeira Guerra
Mundial (19141918), o Brasil, cuja economia estava voltada para o mercado
externo, sofreu imediatamente suas consequncias, No s porque, a partir de
1917, participou diretamente do conflito, mas, sobretudo, porque a guerra
desorganizou o mercado internacional, trazendo novas dificuldades para a
exportao do caf, que outra vez teve o seu preo em declnio.
Essa nova situao determinou com que o governo, internamente,
promovesse a valorizao do caf, valorizao esta suportada pelo Convnio
de Taubat. A crise cafeeira foi resolvida em 1918, com a geada e o fim da
guerra, quando ento a economia internacional retomou o seu ritmo.
A principal consequncia da Primeira Guerra foi, entretanto, a alteraonas condies do comrcio cafeeiro, em virtude da formao de grandes
organizaes financeiras que passaram a atuar, cada qual em seu setor,
praticamente sem concorrncia. Resumidamente, pode-se dizer que a
economia cafeeira do Brasil passou a ser totalmente dominada pela Inglaterra.
Em resposta nova situao, criou-se em So Paulo o Instituto do Caf,
destinado a controlar o comrcio exportador do produto, regulando as entregas
ao mercado e mantendo o equilbrio entre a oferta e a procura.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
15/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
15
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Sendo o Brasil responsvel pelo fornecimento de cerca de 60% do
consumo mundial, o Instituto do Caf tinha em mos todos os recursos de que
necessitava, no s para manter o preo, como tambm para forar altas
artificiais. O instituto, que tinha como objetivo regular o escoamento do caf,
transformou-se num estocador cada vez maior do produto.
Contradies da valorizao precisamente por causa dessa poltica de
valorizao permanente, que mantinha artificialmente o preo do caf,
estimulou-se ainda mais a sua produo (o nmero de cafeeiros em 1924 erade 949.000.000, passando em 1930 para 1.155.000.000). Essa situao
artificial no poderia ser mantida indefinidamente, pois a capacidade de
estocagem estava diretamente ligada ao apoio financeiro que se obtinha no
exterior. Em 1929, como veremos adiante, a crise geral do capitalismo tornou
insustentvel o esquema.
2.1 O Processo de Industrializao
At fins do sculo XIX, a economia brasileira era essencialmente
agroexportadora. Na regio amaznica, produzia-se e se exportava borracha.
No norte e nordeste, acar, algodo, fumo e cacau dominavam. No Rio de
janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo e So Paulo, o caf ocupava o primeiro
lugar. No Rio Grande do Sul produziam-se couro, pele, mate e se exportava
para outras regies do Brasil o charque.
Porm, no final do sculo XIX, esse quadro dominado pela economia
agroexportadora comeou a se transformar. Entre 1886 e 1894, a
industrializao ganhou impulso, embora a sua origem fosse anterior a 1880.
Contudo, o surgimento e o desenvolvimento das indstrias estiveram
intimamente relacionados ao desempenho daquela economia primrio-
exportadora. Isso at a crise de 1929, quando ento a economia
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
16/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
16
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
agroexportadora foi superada pela industrializao, que passou a ocupar o
centro vital da economia.
A industrializao no ocorreu em todo o pas simultaneamente e,
tambm, com a mesma intensidade. O seu plo dinmico situava-se no
sudeste, particularmente em So Paulo, onde se localizava a mais poderosa
economia exportadora: a cafeicultura. A economia cafeeira paulista,
desenvolvendo-se no contexto da transio do trabalho escravo para o livre, e
com ampla possibilidade de expanso nas terras frteis do Oeste, converteu-se
na mais prspera das economias agroexportadoras. Por essa razo, inclusive,que neste estado a industrializao desenvolveu-se mais rapidamente.
De incio, a industrializao fazia parte da economia cafeeira, ou melhor,
do "complexo cafeeiro", pois a produo e a exportao do caf dependiam de
uma complexa organizao de fatores. Alm da esfera propriamente de sua
produo, o complexo inclua ainda o seu processamento, um sistema de
transporte (ferrovias), comrcio de importao e exportao, bancos e, porfim, indstrias. O processo de industrializao acompanhou o ritmo do setor
exportador. Em momentos de expanso, os investimentos industriais
aumentavam, e se contraam em momentos de retrao do mercado
internacional.
At a Primeira Guerra Mundial o Estado no adotou nenhuma poltica de
estmulo industrializao. No entanto, ela era estimulada direta ouindiretamente quando o governo aumentava as tarifas alfandegrias e, sem o
pretender, acabava protegendo as indstrias da concorrncia estrangeira, ou
mesmo quando desvalorizava a moeda nacional desestimulando as
importaes.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
17/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
17
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
A indiferena do governo em relao industrializao tinha a ver com o
modelo econmico agroexportador brasileiro. Segundo esse modelo, o Brasil
exportava produtos tropicais e, em troca, importava produtos manufaturados.
O primeiro passo no sentido da industrializao foi dado com a
substituio dessa pequena produo por unidades industriais maiores. E isso
comeou a acontecer no final da dcada de 1870. No bojo desse processo,
alterou-se tambm a estrutura do mercado, com a gradual eliminao do
intermedirio no comrcio exportador/importador: os exportadores
(estrangeiros) foram direto aos produtores e os importadores espalharamrepresentantes pelo interior.
Com as poderosas casas importadoras controlando o mercado, agora em
contato direto com os consumidores, estava claro que o desenvolvimento
industrial s seria vivel se contasse com uma rede de distribuio do mesmo
tipo. Dessa situao, saram duas solues: a primeira foi a dos prprios
importadores montando indstrias, e a segunda, a dos industriais criando asua rede comercial, dando origem aos importadores-industriais e industriais-
comerciantes, respectivamente.
O processo de industrializao, que vinha, desde o final do sculo XIX,
crescendo de acordo com a expanso das exportaes, ganhou uma nova
direo a partir da Primeira Guerra.
O primeiro efeito da guerra foi a drstica reduo dos investimentos
industriais. A produo, todavia, se expandiu em 1915-1916 com a utilizao
plena da capacidade instalada, mas comeou a declinar em 1917 e o seu
crescimento tornou-se negativo no ano seguinte, pela falta de matrias-
primas, mquinas e equipamentos importados.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
18/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
18
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
O principal efeito da guerra sobre a indstria foi a mudana da atitude do
governo. At ento, no existia o que poderamos chamar de poltica industrial.
A guerra, entretanto, evidenciou os limites e as inconvenincias de um pas
destitudo de um parque industrial compatvel. Por esse motivo, o governo
comeou a adotar consciente e deliberadamente um incentivo para o
desenvolvimento industrial, a fim de promover a sua diversificao. E essa
atitude do governo manteve-se ao longo dos anos de 1920.
No final dos anos 20, a economia capitalista internacional deparou com
uma profunda crise de depresso: a crise de 29. Conforme veremos maisadiante, essa crise eclodiu nos Estados Unidos e teve importantes repercusses
internacionais, atingindo, inclusive, o Brasil, quando ento a economia cafeeira
se desorganizou.
Nos anos que se seguiram crise, com o apoio governamental, a
industrializao se intensificou e obedeceu ao objetivo de substituir as
importaes. Porm, o processo de industrializao s se completaria nadcada de 1950, com a implantao da indstria pesada - o importante setor
em que se concentram mquinas que fabricam mquinas para outras
indstrias.
Os anos 20 A partir da abolio da escravatura em 1888, o
desenvolvimento do Brasil seguiu um padro marcadamente capitalista, tanto
no segmento agrcola (caf) quanto no urbano (industrializao). No planointernacional, o perodo que vai da Segunda Revoluo Industrial (final do
sculo XIX) crise de 29 representou a fase final de uma era dominada pelo
capitalismo liberal, caracterizado pela no interveno estatal na economia e,
portanto, na crena da autorregulao da economia atravs do livre jogo do
mercado.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
19/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
19
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Em 1929 houve uma violenta crise do capitalismo, que comeou com a
quebra da Bolsa de Nova York e propagou-se para o mundo inteiro. A crise de
29 caracterizou-se pela superproduo, e milhares de empresas, incluindo
muitos bancos, faliram. Em consequncia, milhes de trabalhadores ficaram
desempregados. Tornou-se claro, a partir daquele momento, que as livres
foras de mercado (oferta e demanda) no seriam capazes de levar
economia novamente ao equilbrio.
2.2 Da industrializao Brasileira dos anos 1930 ao fim da
primeira parte do sculo XX
A evoluo do entendimento econmico, devidamente aplicado
economia brasileira, passou por um grande processo de mudanas a partir da
ascenso de Getlio Vargas Presidncia do pas, ainda nos anos de 1930.
Comeava ali o chamado modelo econmico de Substituio de
Importaes, o qual consistia na troca de compra da produo externa de
bens e servios pela escolha de produo interna ao pas. Com a queda de
Getlio e, posteriormente, com a chegada do mineiro Juscelino Kubitschek
presidncia da repblica, foi implantado no pas o chamado Plano de Metas.
Passamos a discorrer mais criteriosamente sobre este perodo, de forma
a estruturarmos os impactos econmicos sofridos pela economia, bem como o
modelo de desenvolvimento adotado pelo pas no ps-guerra (fim da segundaguerra mundial).
2.2.1 O Processo de Substituio de Importaes
Conforme verificamos, no perodo compreendido entre a proclamao
da Repblica at a chegada de Getlio Vargas ao poder, a economia
brasileira dependia basicamente do bom desempenho das exportaes, que
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
20/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
20
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
na poca se restringiam a algumas poucas commodities agrcolas,
especialmente o caf, caracterizando a economia brasileira como
essencialmente agroexportadora. O bom desempenho dependia das
condies do mercado internacional de caf, sendo a varivel-chave nesta
poca o seu preo internacional. As condies deste mercado no eram
totalmente controladas pelo Brasil. Mesmo sendo o principal produtor de
caf, outros pases tambm influam na oferta, sendo boa parte do mercado
controlado por grandes companhias atacadistas que especulavam com
estoques (na medida em que se buscava um aumento do preo do produto
no mercado internacional, restringia-se a oferta).
A demanda dependia das oscilaes no crescimento mundial,
aumentando em momentos de prosperidade econmica e retraindo-se quando
os pases ocidentais (especialmente EUA e Inglaterra) entravam em crise ou
em guerra. Deste modo, as crises internacionais causavam problemas muito
grandes nas exportaes brasileiras de caf, criando srias dificuldades para
toda economia brasileira, dado que praticamente todas as outras atividadesdentro do pas dependiam direta ou indiretamente do desempenho do setor
exportador cafeeiro.
As condies do mercado internacional de caf tendiam a tornarem-se
mais problemticas na medida em que as plantaes do produto no Brasil se
expandiam. Nas primeiras dcadas do sculo XX a produo brasileira cresceu
desmensuradamente. O Brasil chegou a produzir sozinho mais caf do que oconsumo mundial, obrigando o governo a intervir no mercado, estocando e
queimando caf. Neste perodo as crises externas sucederam-se em funo
tanto de oscilaes na demanda (crises internacionais), como em decorrncia
da superproduo brasileira do gro.
Em 1930, estes dois elementos se conjugaram, a produo nacional era
enorme e a economia mundial entrou numa das maiores crises de sua histria.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
21/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
21
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
A depresso no mercado internacional de caf logo se fez sentir e os preos
vieram abaixo. Isto obrigou o governo a intervir fortemente, comprando e
estocando caf, desvalorizando o cmbio com o objetivo de proteger o setor
cafeeiro1 e ao mesmo tempo sustentar o nvel de emprego, de renda e de
demanda agregada. Este conjunto que problemas deixava claro que a situao
de dependncia da economia brasileira, especialmente das exportaes de um
nico produto agrcola, era insustentvel.
A crise dos anos 30 foi um momento de ruptura no desenvolvimento
econmico brasileiro; a fragilizao do modelo agroexportador trouxe tona aconscincia sobre a necessidade da industrializao do pas como forma de
superar os constrangimentos externos e o subdesenvolvimento. No foi o incio
da industrializao brasileira (esta j havia se iniciado desde o final do sculo
XIX), mas o momento em que um novo modelo econmico, sustentado por um
novo governo, passou a ser meta prioritria.
Este objetivo, porm, envolvia grandes esforos em termos de geraode poupana (dinheiro utilizado em investimentos produtivos) e sua
transferncia para a atividade industrial. Isto s seria possvel com uma
grande alterao na poltica econmica vigente, baseado no rompimento com o
Estado oligrquico e descentralizado da Repblica Velha, alm da transferncia
e centralizao do poder e dos instrumentos de poltica econmica nas mos
do Governo Federal. Este foi o papel desempenhado pela Revoluo de 30.
Dela decorreram o fortalecimento do Estado Nacional e a ascenso de novasclasses econmicas ao poder, o que permitiu colocar a industrializao como
meta prioritria, como um projeto nacional de desenvolvimento.
A forma assumida pela industrializao foi o chamado Processo de
Substituio de Importaes (PSI). Devido ao estrangulamento externo ora
1
A desvalorizao do cmbio faz com que cada unidade de dlar norte-americano compre mais unidades de moedanacional (cruzeiro). Nesta condio existe um estmulo compra de caf.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
22/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
22
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
existente, gerado de forma especial pela crise internacional ocasionada pela
quebra da Bolsa de Nova York, houve a necessidade de produzir internamente
o que antes era importado, defendendo-se dessa forma o nvel de atividade
econmica interna (produo interna). A industrializao feita a partir
deste processo de substituio de importaes foi uma industrializao
voltada para dentro, ou seja, que visou atender o mercado consumidor
interno.
O modelo de Substituio de Importaes consistiu no processo forado
de industrializao brasileira, como forma de superao dos problemasexternos e, consequentemente, da mudana da pauta exportadora do pas no
mdio prazo.
Em linhas gerais, pode-se dizer que o PSI foi derivado do chamado
processo de estrangulamento externo, referenciado na queda no valor das
exportaes de produtos agrcolas, mas com a crescente demanda interna por
bens importados.
A poltica de PSI teve continuidade durante o perodo de sada e retorno
de Vargas ao poder, o que significou, em linhas gerais, o fim inequvoco da
dependncia externa do pas exportao cafeeira.
2.2.2 As polticas de interveno do Estado na primeira metade
da dcada de 1950
No cenrio internacional Ps-Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a
grande rivalidade entre os EUA e a Unio Sovitica, que no aspecto econmico
coincidiu com o perodo de escassez de dlares. O Brasil passou por sucessivas
crises de Balano de Pagamentos, o que fez com que o governo abandonasse
literalmente o aspecto liberal das polticas econmicas e assim adotasse um
modelo de desenvolvimento industrial com a relevante participao estatal.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
23/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
23
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
O elevado volume de importaes da economia nacional, no perodo
compreendido entre 1945-1955, levou o governo adoo de medidas de
controle do cmbio como forma de minimizar os impactos sobre o balano2.
O carter social do governo Vargas levou publicao de uma extensa
legislao, especialmente trabalhista, que beneficiou grande parte dos
trabalhadores. No plano de interveno econmica o governo Vargas fundou a
Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Siderrgica Nacional, empresas
estas que passariam a ter papel fundamental no processo industrial do pas.
Ainda tomava corpo no mbito da interveno econmica promovida por
Vargas a necessidade de financiamento do desenvolvimento econmico, o que
coincidiu com a criao do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico
BNDE3e da PETROBRAS.
O BNDE foi fruto de profunda discusso entre o governo brasileiro, oBanco Mundial e o Eximbank4. A promessa de repasse de recursos para a nova
Instituio no montante de US$ 500 milhes permitiu que o projeto fosse
efetivado, criando-se o Banco em 1952. Muito embora tenha ocorrido uma
srie de mudanas nas promessas feitas pelos bancos internacionais quanto ao
repasse de recursos ao BNDE, o projeto da Instituio foi levado frente,
entretanto, com um menor volume de recursos disponveis para a realizao
de financiamentos.
2 Conforme destacadp na nota de rodap 1, com a desvalorizao cambial, alm de estimular as exportaes,
desestimula-se as importaes, haja vista que os produtos estrangeiros se tornam mais caros em termos da quantidade
de moeda nacional.
3Somente em 1982 o BNDE teve a sua denominao alterada para BNDES, isto em funo da criao de uma Diretoria
destinada anlise de financiamento de projetos sociais.4Instituio Norte-Americana responsvel pelo financiamento de importaes e exportaes ao EUA.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
24/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
24
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
A criao da PETROBRAS no ano de 1953 foi decorrente da intensa
campanha iniciada no Ps-Guerra sob o ttulo O Petrleo nosso. Aps uma
srie de discusses de cunho poltico foi dada empresa o Monoplio na
extrao do petrleo5.
3. A economia brasileira na segunda metade do sculo XX: a
experincia do Estado investidor da dcada de 1970; Plano de Metas;
Plano Trienal; PAEG; Planos Nacionais de Desenvolvimento e crise da
dvida externa. (O Plano de Metas e a industrializao pesada)
O Plano de Metas adotado no governo Juscelino Kubitschek pode ser
considerado o auge deste modelo de desenvolvimento; o rpido crescimento
do produto e da industrializao no perodo acentuou as contradies
mencionadas. O principal objetivo do plano era estabelecer as bases de uma
economia industrial madura no pas, introduzindo o mpeto ao setor produtor
de bens de consumo durveis.
O Plano foi dividido especialmente nos seguintes objetivos:
Investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os
setores de transporte e energia eltrica. No que diz respeito aos
transportes, cabe destacar a mudana de prioridade que at o
governo Vargas se centrava no setor ferrovirio e no governo JK
passou para o rodovirio, que estava em consonncia com oobjetivo de introduzir o setor automobilstico no pas;
Estmulo ao aumento da produo de bens intermedirios, como o
ao, o carvo, o cimento, o zinco etc., que foram objetos de planos
especficos;
5O processo de distribuio foi atribudo s companhias estrangeiras.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
25/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
25
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Incentivos introduo dos setores de bens de consumo durveis e
bens de capital (mquinas e equipamentos utilizados na produo);
e
Incentivo produo industrial privada por meio da concesso de
crdito em massa.
interessante observar a coerncia que existia entre as metas do plano,
em que se visava impedir o aparecimento de pontos de estrangulamento na
oferta de infra-estrutura e bens intermedirios para os novos setores, bem
como, atravs dos investimentos estatais, garantir a demanda necessria para
produo adicional.
O cumprimento das metas estabelecidas foi bastante satisfatrio, sendo
que em alguns setores estas foram superadas, mas em outros ficaram aqum.
Com isso, observou-se rpido crescimento econmico no perodo com
profundas mudanas estruturais, em termos da base produtiva do pas.
No obstante, o plano trouxe uma srie de problemas. O financiamento
dos investimentos pblicos, na ausncia de uma reforma fiscal6 condizente
com as metas e os gastos estipulados, teve que se valer principalmente da
emisso monetria7, observando-se no perodo uma grande acelerao
inflacionria. Do ponto de vista externo, observou-se uma deteriorao do
saldo em transaes correntes
8
e o crescimento da dvida externa. A
6Melhoria dos perfis tanto da arrecadao de receita quanto dos gastos pblicos.
7Uma das formas possveis do governo se financiar por meio da emisso monetria, ou seja, simplesmente rodando
dinheiro novo e pagando os seus compromissos. Essa ao bastante temerria, visto que tende a provocar a
depreciao do poder de compra da moeda, dado que um excesso de dinheiro pode gerar inflao, que faz com que
uma simples unidade monetria compre cada vez menos bens.
8 As transaes correntes referem-se a uma das rubricas do balano de pagamentos, na qual so computadas as
exportaes e as importaes de bens, alm do pagamento dos juros da dvida externa contrada pelo pas (setorpblico e setor privado).
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
26/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
26
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
concentrao da renda ampliou-se devido ao desestmulo agricultura e o
consequente investimento de capital intensivo na indstria9.
3.1 Os Anos 1960 e 1970
O incio dos anos 60 caracterizou-se pela primeira grande crise
econmica do Brasil em sua fase industrial. Neste perodo ocorreu uma queda
importante dos investimentos e a taxa de crescimento da renda brasileira caiu
fortemente em funo da materializao das contradies inerentes ao
processo de substituio de importaes. Para dar prosseguimento aodesenvolvimento econmico, tornava-se necessrio desenvolver o setor de
bens de capital10 e ampliar o setor de bens intermedirios11 que estavam
defasados, assim como a infra-estrutura12urbana.
Vrios problemas se colocaram neste sentido, em especial a ausncia de
mecanismos de financiamento adequados, tanto para o setor pblico, que se
encontrava com elevado dficit pblico13
devido aos gastos realizados no Planode Metas (durante o governo de Juscelino Kubitschek), como para o setor
privado, em um momento em que as altas escalas de capital dos setores a
serem implantados necessitavam de maiores recursos financeiros para
viabilizar o investimento.
Outro problema que se colocava ao prosseguimento do desenvolvimento
era que tanto o setor de bens de capital como o setor de bens intermedirios,chamados setores de demanda derivada, isto , setores em que a demanda
9Os industriais passaram a acumular a maior fatia da renda, retirando esta do campo e, consequentemente, piorando a
distribuio dos recursos, visto que boa parte da populao ainda vivia em reas rurais.
10Bens de capital referem-se produo de mquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo.
11Bens intermedirios so bens considerados na produo de bens finais. Na produo de um pneu de automvel, por
exemplo, utilizada malha de ao e borracha. Estes bens podem ser considerados como bens intermedirios.
12
Ruas, avenidas, redes de gua e esgoto.13
Excesso de gastos em relao s receitas pblicas.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
27/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
27
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
pelos produtos depende diretamente da demanda pelos produtos finais na
economia. Em virtude da concentrao de renda da economia e da ausncia de
mecanismos de financiamento ao consumidor14, a demanda pelos produtos do
setor de bens de consumo durveis15 era bastante limitada, restringindo os
impactos (estmulos) deste setor para o resto da economia. A consequncia
desta situao foi a retrao nas taxas de crescimento e a acelerao
inflacionria16.
Era um consenso na poca a necessidade de reformas institucionais que
promovessem um quadro favorvel retomada dos investimentos.
O governo Jnio Quadros procurou adotar medidas que cunho
ortodoxo17, baseando-se na conteno gasto pblico18 e de uma poltica
monetria contracionista19. Muito embora as medidas tenham sido muito bem
recebidas, no nvel poltico Jnio enfrentava srias dificuldades para aprovao
destas, haja vista a inexistncia de base parlamentar no Congresso. Por meio
de um gesto enigmtico Jnio renunciou, esperando contar com a populaopara que o trouxesse de volta ao poder e assim pudesse dar continuidade s
suas pretenses. O resultado todos ns sabemos. Jnio no obteve sucesso, e
ainda gerou um srio problema a ser administrado pelo Parlamento, pois a
Constituio brasileira poca previa que o Vice-Presidente deveria assumir.
Por meio de uma soluo de conciliao o Congresso alterou o regime do
governo do pas do Presidencialismo para o Parlamentarismo, o que permitiu o
14Concesso de crdito atravs de instituies financeiras.
15Venda aos consumidores de geladeiras e televises, com produo incipiente no pas.
16Neste caso a inflao ocorreu pelo lado da oferta, uma vez que existiam poucos produtos disponveis.
17Ortodoxia, em economia, se refere adoo de polticas econmicas conservadoras, adequadas regra tradicional
de conduo da prpria economia.
18A conteno dos gastos pblicos contribui para a reduo do dficit pblico.
19 Aliado conteno dos gastos, uma poltica monetria restritiva impede um financiamento monetrio dos
compromissos do governo, contribuindo assim para minimizao do processo inflacionrio decorrente do excesso dedinheiro em circulao.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
28/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
28
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
tempo de retorno de Joo Goulart ao Brasil, que se encontrava fora e, ao
mesmo tempo, que Tancredo Neves assumisse como Primeiro Ministro
interinamente.
A fase do parlamentarismo do Parlamentarismo durou at 1962. Neste
perodo o PIB do pas teve elevado crescimento, derivado da fase de
maturao do Plano de Metas. No obstante, a inflao no perodo teve forte
elevao, passando de 40% ao ano. Por meio de um plebiscito convocado por
Jango, a populao votou pelo retorno do Presidencialismo, o que permitiu ao
governante mais estabilidade para conduo da Economia.
Liderado por Celso Furtado o governo lanou o Plano Trienal,
baseando-se nas propostas de impulso ao crescimento econmico com
combate inflao e a adoo de reformas sociais. Os objetivos especficos do
Plano eram:
Reduzir a taxa de inflao para 25% em 1963, e at 1965 alcanaro patamar de 10%;
Crescimento dos salrios na mesma proporo do aumento da
produtividade da mo-de-obra20;
Realizao da Reforma Agrria tanto para reduo da crise social
que afetava o pas poca quanto para permitir a elevao doconsumo de ramos industriais;
20 Aumentado-se a produtividade da mo-de-obra, ou seja, a quantidade de bens a serem produzidos por um
trabalhador em um mesmo tempo, aumenta-se os ganhos do empresrio e, desta forma, os ganhos dos trabalhadorespor meio do aumento salarial.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
29/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
29
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Busca pela renegociao de dvida externa, a qual gerava grande
presso sobre o pagamento de juros e, consequentemente, sobre o
balano de pagamentos; e
Promover o crescimento do PIB de 7% a.a..
Muito embora as propostas do Plano fossem positivas, no encontraram
guarida. A vertente esquerdista do governo contribuiu para o isolamento do
pas, de forma a impedir com que boa parte do plano obtivesse sucesso. A
publicao da Lei n
o
4.131/62, que tratava do controle de capital estrangeiro
21
,em que a remessa de lucros provenientes dos investimentos produtivos no pas
ficava limitada a 10%, provocou uma sensvel reduo de novos investimentos
na economia nacional.
Afora estes aspectos, mas em linha com a vertente esquerdista da
poltica, Jango resolveu aumentar o salrio do funcionalismo pblico e
restabeleceu subsdios agrcolas abolidos no incio do programa, contribuindopara a escalada inflacionria no ano de 1963.
A elevao das tenses no campo poltico, conjuntamente com a poltica
de expropriao de empresas estrangeiras, contriburam para a insatisfao
das foras armadas, cansadas de exacerbada filosofia adotada pelo governo. O
resultado deste contexto foi queda de Joo Goulart, destitudo por meio do
Golpe Militar de maro de 1964.
Em resumo, pode-se dizer que tanto o governo de Jnio Quadros quanto
o governo de Joo Goulart foram prisioneiros da situao poltica e, apesar de
buscarem diferentes formas de resolver a questo e encaminhar a soluo
econmica, ocorreu certo imobilismo no campo nacional e internacional. Neste
contexto, o golpe militar de 1964, impondo de forma autoritria uma soluo
21Entrada e sada de recursos estrangeiros.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
30/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
30
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
para a crise poltica, foi uma precondio ao encaminhamento tcnico das
medidas de superao da crise econmica - reformas constitucionais e
conduo da poltica econmica de forma adequada e segura.
3.2 O PAEG e o governo militar
O governo Castelo Branco lanou o PAEG (Plano de Ao Econmica do
Governo), com vistas a resolver os problemas econmicos do pas. O PAEG
pode ser dividido em duas linhas de atuao: polticas conjunturais de combate
inflao, associadas a reformas estruturais que permitiram oequacionamento dos problemas inflacionrios e das dificuldades que se
colocavam ao crescimento econmico.
Os objetivos colocados pelo PAEG eram: acelerar o ritmo de
desenvolvimento econmico; conter o processo inflacionrio; atenuar os
desequilbrios setoriais e regionais; aumentar o investimento e com isso o
emprego; e corrigir a tendncia ao desequilbrio externo do balano de
pagamentos. O controle inflacionrio e/ou as formas de conviver com ela eram
vistos como precondies para a retomada do desenvolvimento, e o combate
inflao s poderia ser feito acoplado s reformas institucionais.
O diagnstico sobre a inflao, que havia subido para 83,2% a.a. em
1963, centrava-se no excesso de demanda22. Este era explicado em funo da
tendncia ao dficit pblico23, da elevada propenso a consumir (decorrente da
poltica salarial frouxa dos perodos anteriores - os chamados arroubos
populistas) e tambm da falta de controle sobre a expanso do crdito. Estas
22Um excesso de demanda faz com que haja um volume de procura por bens superior oferta, o que tende a fazer com
que haja um aumento dos preos e, por conseqncia, da inflao.
23
Um excesso de gastos pblico representa um excesso de consumo que, por conseguinte, implica numa tendnciainflacionria.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
31/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
31
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
presses inflacionrias propagavam-se com a expanso monetria, que era o
veculo para sua perpetuao.
Especificamente, as principais metas do PAEG eram:
Reduo do dficit pblico mediante a reduo dos gastos e da
ampliao das receitas atravs da reforma tributria e do aumento
das tarifas pblicas (a chamada inflao corretiva). Com isso, o
dficit pblico reduziu-se de 4,2% do PIB em 1963 para 1,1% em
1966;
Restrio do crdito e aperto monetrio. Houve aumento das taxas
de juros reais e consequentemente do passivo das empresas. Este
fato levou a uma grande onda de falncias, concordatas, fuses e
incorporaes, processo este que atingiu principalmente as
pequenas e mdias empresas dos setores de vesturio, alimentos e
construo civil. Esta limpeza de terreno e consequente geraode capacidade ociosa foi um importante fator para a futura
retomada do crescimento econmico;
O terceiro elemento da poltica de conteno da demanda foi a
poltica salarial, em que se supunha a existncia de uma taxa de
desemprego relativamente baixa, o que levava a elevados salrios
reais e inflao crescente. Para romper esta dinmica, o governopassou a determinar os reajustes salariais, via poltica salarial,
objetivando romper as expectativas e conter as reivindicaes. A
frmula de reajustes decidida pela poltica salarial teve por
consequncia uma grande reduo do salrio real.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
32/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
32
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Com estas medidas, a inflao reduziu-se, entre os anos de 1964 e 1967,
da casa dos 90% a.a. para os 20% a.a. Este resultado se deveu em grande
parte a uma retrao nas taxas de crescimento econmico.
3.3 Reformas Institucionais do PAEG
Quanto aos problemas institucionais, identificou-se como ponto bsico a
ausncia de correo monetria em uma economia com altas taxas
inflacionrias. Vrios eram os problemas gerados pelo processo inflacionrio, a
saber:
A inflao, conjugada lei da usura (que impedia juros nominais
superiores a 12% a.a.), desestimulava a canalizao de poupana
para o sistema financeiro24;
A lei do inquilinato, numa situao inflacionria, constitua-se em
forte desestmulo aquisio de imveis e, consequentemente,
construo civil25;
Desordem tributria, pois a ausncia de correo monetria, no
caso dos dbitos fiscais, estimulava o atraso de pagamentos e, no
caso dos ativos e do patrimnio das empresas, levava tributao
de lucros ilusrios.
Neste sentido, se por um lado se fazia necessria a reduo das taxas de
inflao, tambm se procurou criar mecanismos que possibilitassem o
crescimento econmico em um ambiente de inflao moderada.
24Perceba que como havia restrio taxa mxima de juros para concesso de emprstimos, e considerando que a
inflao corroia os juros, no havia interesse dos bancos em conceder emprstimos.
25
Como o reajuste dos aluguis era restrito, havia interesse por parte dos compradores em adquirir novos imveis nosentido de realizar a locao destes.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
33/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
33
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
As principais reformas institudas pelo PAEG foram: a reforma tributria,
a reforma monetria e financeira e a reforma do setor externo.
3.4 A Reforma Tributria
Os principais elementos envolvidos nesta reforma foram:
A introduo da correo monetria no sistema tributrio26,
visando reduzir as distores j mencionadas;
A alterao do formato do sistema tributrio. Transformaram-se osimpostos tipo cascata (que incidem a cada transao sobre o valor
total), em impostos tipo valor adicionado. Criou-se o IPI (imposto
sobre produtos industrializados), o ICM (imposto sobre circulao
de mercadorias) e o ISS (imposto sobre servios). A importncia
desta alterao foi romper o estmulo at ento existente
integrao vertical da produo27, e facilitar a utilizao dos
impostos como instrumento de poltica de desenvolvimento e de
reduo de distores, ao permitir as diferenciaes de alquotas e
facilitar a concesso de isenes e incentivos fiscais s atividades
especficas;
A redefinio do espao tributrio entre as diversas esferas do
governo. A Unio ficou com o IPI, o Imposto de Renda, os
Impostos nicos, os Impostos de Comrcio Exterior, o ImpostoTerritorial Rural (ITR). Os estados ficaram com o ICM e os
municpios, com o ISS e o IPTU (imposto sobre propriedade
territorial urbana). Alm disso, foram criados os fundos de
26 Na medida em que as obrigaes tributrias so reajustadas, garante-se o valor real da arrecadao fiscal do
governo.
27 A integrao vertical ocorre quando diferentes processos de produo - desde o insumo at a venda final ao
consumidor - que podem ser produzidos separadamente, por vrias firmas, passam a ser produzidos por uma nicafirma. Ademais, destaca-se que a integrao vertical tende a aumentar o preo do produto final entregue sociedade.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
34/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
34
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
transferncia intergovernamentais: o fundo de participao dos
estados e dos municpios, que se baseavam em parcelas de
arrecadao do IPI, do IR e do ICMS. Os critrios de distribuio
dos recursos baseavam-se na rea geogrfica, na populao e no
inverso da renda per capita, com vistas a favorecer estados mais
pobres. Houve importante centralizao das decises sobre a
legislao tributria, inclusive definindo as alquotas dos impostos
das demais esferas, procurando eliminar a guerra fiscal.
Dessa forma, as principais consequncias da reforma tributria foram oaumento da arrecadao e uma grande centralizao tanto da arrecadao
como das decises em termos de poltica tributria, constituindo-se em
importante instrumento poltico, ao subordinar os estados ao governo central.
Permitiu ainda, atravs da vinculao da receita e da criao de rgos ao lado
da administrao direta, uma descentralizao dos gastos, com maior
flexibilidade operacional.
3.5 A Reforma Monetria Financeira
Os principais objetivos nesta reforma eram: criar condies de conduo
independente da poltica monetria e direcionar os recursos montantes
promovendo condies adequadas s atividades econmicas.
Esta reforma divide-se em quatro grupos de medidas:
A instituio da correo monetria e criao da ORTN (Obrigao
Reajustvel do Tesouro Nacional). A introduo da correo
monetria tornava sem sentido a Lei da Usura, eliminando uma
srie de ineficincias do sistema financeiro. Ao permitir a prtica de
taxas de juros reais positivas, estimulava a poupana e ampliava a
capacidade de financiamento da economia. A criao das ORTNs,
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
35/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
35
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
cuja variao determinaria o ndice de correo monetria, tinha
por objetivo dar credibilidade e viabilizar o desenvolvimento de um
mercado de ttulos pblicos que fornecesse instrumentos de
financiamento no inflacionrios do dficit pblico, bem como
possibilitasse as operaes de mercado aberto28, visando o controle
monetrio. Este ltimo objetivo s se viabilizou de fato a partir de
1970, com a criao das LTNs (Letras do Tesouro Nacional29), pois
as caractersticas das ORTNs (ttulos ps-fixados de longo prazo)
dificultavam as operaes de mercado aberto, que devem ser feitas
com ttulos prefixados de curto prazo
30
;
A Lei n. 4.595/64 - criao do CMN (Conselho Monetrio Nacional)
e do BACEN (Banco Central do Brasil). Com esta lei procurava-se
criar condies para que a poltica monetria fosse conduzida de
forma independente. O CMN substituiu o conselho da SUMOC
(Superintendncia da Moeda e do Crdito), e passou a ser o rgo
normativo da poltica monetria, com a funo de definir as regrase as metas a serem atingidas. O BACEN foi criado (assumindo a
antiga Carteira de Cmbio e Redesconto do Banco do Brasil e o
Servio de Meio Circulante do Tesouro Nacional), para ser o agente
executor da poltica monetria. Alm disso, ele tambm seria o
agente fiscalizador e controlador do sistema financeiro. O Banco do
28As operaes de mercado aberto so caracterizadas pela emisso de ttulos pblicos com o sentido de fazer poltica
monetria. Quando a autoridade monetria (BACEN) vende ttulos pblicos s instituies financeiras, seu objetivo e
entregar um ttulo com remunerao futura (juros) em troca do recebimento de moeda (dinheiro) hoje, destinado a evitar
com que este mesmo dinheiro seja emprestado e, assim, possa gerar inflao.
29As Letras do Tesouro Nacional a espcie mais como de ttulo pblico. Conforme vocs podero verificar em um
curso de Economia do Setor Pblico, o qual trata da Lei de Responsabilidade Fiscal atualmente vigente no pas, o
Banco Central no mais realiza a emisso de ttulos (constituio de dvida), mas to somente realiza a colocao dos
ttulos (compra e venda no mercado financeiro). A emisso feita pelo Tesouro Nacional, o qual as repassa ao BACEN
por meio da constituio de um ativo para com a autoridade monetria.30
Curto prazo de vencimento.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
36/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
36
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Brasil, alm de suas funes de banco comercial31, permaneceu
com os servios de compensao de cheques, depositrio das
reservas voluntrias32, e caixa do BACEN e do Tesouro Nacional, ou
seja, constitua-se no agente bancrio no governo.
Vrios problemas ainda permaneciam para a consecuo do objetivo de
controle independente da poltica monetria, a saber:
A subordinao do BACEN ao CMN, o que permitia ingerncia
poltica na atuao do BACEN;
A Conta Movimento, criada inicialmente para transferir recursos do
BB para o BACEN entrar em operao, fez com que o BB no
perdesse a condio de Autoridade Monetria, uma vez que podia
expandir sem limites suas operaes de crdito, pois possua uma
linha direta de financiamento junto ao BACEN33;
O chamado Oramento Monetrio, que deveria ser pea parajuntar as duas autoridades monetrias (BACEN e BB). Este
oramento passou a receber vrios gastos de origem fiscal, com a
criao de vrios fundos e programas que seriam administradas
pelas Autoridades Monetrias - PROAGRO, PROEX, FUNRURAL etc.
Com isso, o BACEN, que deveria ser rgo de controle monetrio,
transformava-se tambm em banco de fomento, criando-se umentrelaamento entre contas monetrias e fiscais, de tal modo que o
31Um banco comercial, em essncia, aquele que permite ao seu cliente a abertura de conta-corrente bem como a
movimentao financeira dos recursos depositados, inclusive a tomada de crdito.
32Recursos que sobram no caixa dos bancos e que estes preferem m anter junto ao BB que, na poca, ainda exercia
alguma influncia nas decises de poltica monetria.
33Um banco tradicional tem como principal fonte de recursos os diversos depsitos feitos por correntistas. No caso do
BB, poca, ele tinha condies de tomar recursos para emprstimos por meio da conta movimento, o que acabava, dealguma forma, por impedir com que o BACEN tivesse o controle efetivo da oferta de moeda na economia.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
37/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
37
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Oramento Fiscal poderia aparecer equilibrado, enquanto todo o rombo se
colocava no Oramento Monetrio. O BACEN era responsvel pela
administrao da dvida pblica, podendo emitir ttulos em nome do Tesouro
Nacional. Dessa forma, a dvida pblica e os gastos com juros do Tesouro
poderiam crescer, independentemente da existncia de um dficit a ser
financiado, mas simplesmente por objetivos de controle monetrio. Alm disso,
criava-se um mecanismo para o Tesouro Nacional forar o BACEN a financiar
seus dficits via emisso monetria.
Percebe-se, portanto, que estas medidas acabaram por criar um
estranho arcabouo institucional, em que se misturavam as polticas fiscal e
monetria; o BACEN no controlava a poltica monetria nem o Tesouro
Nacional controlava a poltica fiscal, sendo que o resultado deste quadro foi o
de inviabilizar o conhecimento e o controle social sobre as operaes do
governo.
As demais instituies do mercado de capitais - Bolsa de Valores,
Corretoras e Distribuidoras - tambm foram regulamentadas e subordinadas
ao BACEN. Criaram-se vrios tipos de incentivos fiscais para dinamizar este
segmento, entre os quais se destaca o Decreto-lei n. 157, no qual os
indivduos poderiam adquirir cotas de fundo de aes com parcela do Imposto
de renda (pessoa fsica) devido. Merece ainda destaque a criao do Sistema
Nacional de Crdito Rural (SNCR), sendo o BB o agente central, e os bancos
comerciais agentes subsidirios. A fonte de recursos para o sistema era, almdos fundos fiscais e da Conta Movimento, uma parcela dos depsitos vista
captados pelos bancos comerciais, que deveriam obrigatoriamente ser
utilizados no financiamento agrcola.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
38/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
38
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
3.6 A Reforma do Setor Externo
A reforma do setor externo tinha por objetivo estimular o
desenvolvimento econmico, evitando as presses sobre o Balano de
Pagamentos e assim eliminando uma das principais distores do Processo de
Substituio de Importaes - PSI. Destacam-se duas linhas de atuao neste
sentido: melhorar o comrcio externo brasileiro e atrair o capital estrangeiro:
Em relao ao comrcio externo, buscou-se, por um lado,
estimular e diversificar as exportaes atravs de uma srie de
incentivos fiscais (isenes fiscais - IPI, ICM, IR - crdito-prmio do
IPI etc.) e da modernizao e dinamizao dos rgos pblicos
ligados ao comrcio internacional (CACEX). Quanto s importaes,
a idia era eliminar os limites quantitativos e utilizar apenas a
poltica tarifria como forma de controle. A principal medida
adotada na rea do comrcio externo foi a simplificao e
unificao do sistema cambial, que objetivava eliminar as
incertezas decorrentes da conduo errtica da poltica cambial,
bem como os desestmulos exportao decorrentes da
valorizao cambial. Para tal, adotou-se o sistema de
minidesvalorizaes a partir de 1968, pelo qual a desvalorizao
cambial deveria refletir o diferencial entre a inflao domstica e a
internacional34;
Quanto atrao do capital estrangeiro, buscou-se inicialmente
uma reaproximao com a poltica externa norte-americana, a
chamada Aliana para o Progresso. Em seguida, efetuou-se a
renegociao da dvida externa e firmou-se um Acordo de
34 Como a taxa de cmbio reflete o preo, em moeda nacional, de uma unidade moeda estrangeira, toda vez que
ocorrer um processo de inflao no pas, com a consecutiva perda do poder de compra da moeda nacional, maior ser
a necessidade de moeda nacional para se comprar uma mesma unidade de moeda estrangeira. O sistema deminidesvalorizaes tinha este papel, qual seja a de refletir na taxa de cmbio a inflao interna do pas.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
39/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
39
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
Garantias para o capital estrangeiro. As ligaes com o sistema
financeiro internacional foram feitas atravs de dois mecanismos: a
Lei n. 4.131/64, que dava acesso direto das empresas ao sistema
financeiro internacional, e a Resoluo n. 63, que possibilitava a
captao de recursos externos pelos bancos comerciais e de
investimentos para repasse interno. Esta ltima significava a
colagem do sistema financeiro nacional ao internacional e o incio
do processo de internacionalizao financeira no Brasil.
Com base no que acabamos de descrever, pode-se concluir que a poltica
adotada no PAEG obteve grande xito na reduo das taxas inflacionrias e em
preparar o terreno para a retomada do crescimento. Este quadro, como
veremos, permitiu altas taxas de crescimento ao longo da dcada de 70,
durante o perodo do chamado Milagre Econmico brasileiro.
3.7O milagre econmico
O chamado Milagre Econmico foi o perodo entre 1968 e 1973 em que o
PIB brasileiro apresentou as maiores taxas de crescimento, derivados de todas
as reformas e estruturao do parque fabril nos 15 anos anteriores. Associado
a este crescimento encontrou-se tambm todo o contexto favorvel da
economia mundial na poca.
As diretrizes do governo em 1967 j colocavam o crescimento econmicocomo objetivo principal, acompanhado de conteno da inflao, sendo que se
admitia o convvio com uma taxa de inflao em torno de 20 a 30% a.a.. Nesta
fase, alterou-se o diagnstico sobre as causas da inflao, destacando os
custos como principal determinante. Com isso, afrouxaram-se as polticas de
conteno da demanda. As polticas monetria, executada pelo Bacen, a fiscal,
realizada pelo governo federal, e a creditcia, capitaneada pelos bancos,
contriburam favoravelmente para os objetivos do governo. Exceo coube
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
40/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
40
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
feita poltica salarial, pois esta era considerada como elemento de custos, e
que como tal poderia impactar o processo inflacionrio. No mesmo sentido,
teve incio uma poltica de controle de preos, onde os reajustes deveriam ter
aprovao prvia do governo, com base nas variaes de custos. Para tal fim,
criou-se o CIP (Conselho Interministerial de Preos) em 1968.
A busca do crescimento, segundo o governo, deveria processar-se com o
investimento em setores diversificados e com menor participao do Estado,
ou seja, deveria basear-se no setor privado. importante destacar que o
crescimento se colocava tambm como uma necessidade para legitimar oRegime Militar, que procurou justificar sua interveno na necessidade de
eliminar a desordem econmica e poltico-institucional, e recolocar o pas nos
trilhos do desenvolvimento.
Tendo como ponto de partida o plano denominado I Plano Nacional de
Desenvolvimento I PND, o perodo do milagre teve dentre as principais
fontes de crescimento, as seguintes:
A retomada do investimento pblico em infra-estrutura, especialmente
relacionados Construo Civil, possibilitada pela recuperao financeira
do setor pblico, devido reforma fiscal e aos mecanismos de
endividamento interno (financiamento no inflacionrio dos dficits);
Aumento dos investimentos das empresas estatais, observando-se, noperodo, um aumento nos investimentos e o processo de conglomerao
destas empresas, atravs da criao de vrias subsidirias; a Petrobrs e
a Vale do Rio Doce foram exemplos tpicos deste processo;
Demanda por bens de consumo durveis (geladeiras, veculos, etc.) -
devido grande expanso do crdito ao consumidor ps reforma
financeira. Nesta situao, percebe-se que a opo para a ampliao do
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
41/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
41
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
mercado consumidor se deu em grande medida pelo endividamento das
famlias;
Crescimento das exportaes, especialmente a de bens manufaturados,
graas expanso no comrcio mundial e melhoria nos termos de
troca. Devido s alteraes promovidas na poltica externa no pas e aos
incentivos fiscais, verificou-se no perodo um crescimento no valor das
exportaes (volumes em termos de troca), o que representou ampliao
significativa na capacidade de importar da economia (quanto mais
moeda estrangeira entra proveniente de exportaes, maiores so osrecursos para compra de bens importados, tambm cotados em moeda
estrangeira);
Tanto o setor de bens de consumo leve (no durveis), quanto a
agricultura, apresentaram desempenhos mais modestos. O crescimento
nestes setores decorreu do aumento da massa salarial, que, por sua vez,
se deve ao aumento de emprego, e ao crescimento das exportaes de
manufaturados tradicionais e de produtos agrcolas. A agricultura cresceu
4,5% a.a., em mdia, no perodo, apesar da forte expanso do crdito
agrcola, centralizado no Banco do Brasil. Nesta fase, deu-se o incio do
processo de modernizao agrcola, atravs da mecanizao, fazendo
com que esta se tornasse importante fonte de demanda para a indstria;
Quanto ao setor de bens de capital, seu desempenho pode ser divididoem duas fases. Na primeira, at 1970, apresentou menor crescimento,
dado que este se baseou na ocupao de capacidade ociosa e no na
ampliao da capacidade instalada. Conforme foi sendo ocupada esta
capacidade, aumentava-se a taxa de investimento na economia, sendo
que a formao bruta de capital fixo superou os 20% do PIB no perodo
de 1971/73; e
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
42/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
42
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
O aumento da demanda por bens de capital fez com que este setor fosse
o de maior crescimento na segunda fase do perodo do milagre. Ao
longo de todo o perodo 1968/73, a taxa de crescimento mdio do setor
foi de 18,1% a.a..
Tanto no setor de bens de capital, como no setor de bens intermedirios,
a expanso econmica gerava presso por importaes, causada pela
insuficincia de oferta interna. Esta presso importadora ainda foi estimulada
pela poltica do CDI (Conselho de Desenvolvimento Industrial), que concedeu
incentivos de forma indiscriminada e foi bastante liberal nas importaes, o
que pode ter contribudo inclusive para o atraso na produo interna de bens
de capital, cujo crescimento ocorreu apenas depois de 1970.
A presso por importaes poderia levar necessidade de recursos
externos, para cobrir o Balano de Pagamentos, no fosse o elevado
crescimento do valor das exportaes brasileiras. Alm da poltica cambial(minidesvalorizaes cambiais) e comercial (incentivos fiscais e monetrios), o
crescimento das exportaes foi tambm beneficiado pela expanso do
comrcio mundial, decorrente do excesso de liquidez internacional, ocasionado
pelos dficits pblico e externo dos EUA, financiados com expanso monetria.
A conjugao desses fatores levou tanto ao crescimento da quantidade
exportada como melhora dos termos de troca, redundando numa balana
comercial equilibrada no perodo.
Alm da boa performance do setor exportador, assistiu-se neste perodo
primeira onda de endividamento externo, com ampla entrada de recursos. O
aumento das necessidades de financiamento das empresas privadas instaladas
no Brasil, fruto do acentuado crescimento econmico que se estabeleceu, foi
suprido, em grande parte, por emprstimos externos. Ao invs dessas
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
43/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALISTA/BACENAula 09
Prof. Francisco Mariotti
43
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Francisco Mariotti
empresas endividarem-se no mercado financeiro brasileiro, buscaram recursos
diretamente no exterior.
A dvida externa, no perodo, alcanou US$ 13 bilhes, sendo que
aproximadamente US$ 6,5 bilhes se transformaram em reservas
internacionais, ou seja, a dvida lquida correspondia a algo em torno de US$ 6
bilhes. Considerando o grande crescimento das exportaes no perodo,
verificou-se que o chamado coeficiente de vulnerabilidade externa35 (relao
entre dvida lquida e o montante de exportaes) atingiu um valor inferior a
1 (100%)em 1973.
Tabela demonstrativa da evoluo do Coeficiente de
Vulnerabilidade Externa
ANOS Dvida Lquida Exportaes Coeficiente
( 1. ) (.2.) (.1)/(.2)
1968 3,5 1,9 1,841969 3,4 2,3 1,48
1970 4,1 2,7 1,521971 4,8 2,9 1,661972 5,3 4,0 1,331973 6,1 6,2 0,981974 11,9 8,0 1,491975 17,1 8,7 1,971976 19,4 10,1 1,921977 24,9 12,1 2,061978 31,6 12,6 2,51
Fonte: Banco Central
Com base no acima descrito, percebe-se que naquele momento a
situao cambial estava bastante tranquila. O volume de reservas existentesem 1973 correspondia a mais de um ano de importaes, enquanto o critrio
tcnico utilizado pelo FMI recomendava um volume de reservas equivalentes a
trs meses de importaes.
35O coeficiente de vulnerabilidade um indicador do grau de solvncia externa de um pas, e mede a relao entre
divida externa liquida de um pas (divida externa reservas internacionais) e o valor das exportaes. O objetivo verificar quantos anos de exportao so necessrios para pagar a divida externa do pas.
7/26/2019 Banco Central Do Brasil Analista Macroeconomia e Economia Brasileira Do Bacen Area 3 Aula 09
44/80
Macro e Economia. Bras. em Teoria e Exerccios (rea 3) ANALIS