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Baptista, Fernando Paulo (2010), "O coração entre sístole e diástole e a tensão da hipotenusa"

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Intervenção do Dr. Fernando Paulo Baptista na secção sobre “O Português como Língua de Ciência”, no II Congresso da Língua Portuguesa, que teve lugar no Instituto Piaget, Campus de Almada, de 26 a 27 de Novembro de 2010.

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entre “navegação” (com a tripulação e os víveres “instalados” a bordo)...

e a “tensão” (ou

“o esticar das cordas”)...

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I. ESQUEMA TÓPICO («ANDAMENTOS DA PARTITURA»)

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Desenvolvimento

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1. Uma saudação... uma homenagem... um tributo... uma convicção...

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Quero, antes de mais, felicitar, com um bem-haja muito vivo, o Instituto Piaget pela iniciativa deste tão importante evento e saudar, com afectuoso respeito académico, todos os Congressistas.

Ao elaborar este meu texto (em consonância com o sentir e a intencionalidade que subjazem à «temática» e ao «programa» deste Congresso...), pretendi que, também ele, configurasse um acto de afectuosa gratidão à «doce Língua Portuguesa», nossa «Madre Língua», na forma de uma articulada homenagem a várias dimensões:

— homenagem, antes de mais, aos criadores dos seus mais belos e perenes textos, oriundos de todos os Povos e Países da CPLP e das comunidades da «diáspora»;

— homenagem aos estudiosos que, com sólida consistência e coerência, iluminante clarividência filosófico-epistemológica e meticuloso rigor teórico-científico, a analisam, descrevem e explicam na sua dupla sistemicidade e operatividade modelizante, discursiva e textogénica (seja enquanto diassistema linguístico, seja enquanto sistema e policódigo semiótico-literário) e que dela cuidam afincadamente com apaixonada sabedoria; 7

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— homenagem aos professores que, com irresignada e curiosa determinação e esclarecida consciência da importância e do alcance estratégico da actualização permanente das suas competências sapienciais (sófico-epistémicas) e metodológicas, sabem aproveitar ao máximo esse inestimável e alicerçante contributo informativo e formativo, para promoverem e orientarem o processo do seu ensino e da sua aprendizagem, com amorosa, fecunda e criativa sensibilidade, inteligência e imaginação;

— homenagem, em suma, a todos quantos, no passado e no presente, nas modalidades da criação poético-literária, da oratória (sagrada e profana), do ensaio, da reflexão filosófica e teológica, da hermenêutica, da crítica, da investigação científica, da educação e do ensino, da política, do direito, da comunicação social, etc., deram e continuam a dar à Língua Portuguesa — ou seja, «à mais esplendorosa, perdurável e irradiante criação de Portugal», no lapidar ajuizamento de Vítor Aguiar e Silva — e à sua dimensão oceânica e planetária o seu contributo inestimável.

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Um tributo, portanto, de profundo amor e gratidão, em primeiro lugar e acima de tudo, a esta nossa encantadora língua que tem vindo a proporcionar e a «mediar», sem alternativas, e numa intranscendível e intransferível dinâmica instituidora, organizativa e operatória, as aprendizagens de efectivo potencial semiósico e morfo-poiésico que estruturam e modelam, a nível ontogenético, cultural, sapiencial, hermenêutico e comunicacional, o nosso modo de ser e estar, de pensar e agir, de sonhar e realizar, de par com a construção da nossa «visão do mundo», dos nossos «mapas mentais» (mind maps), das nossas «matrizes cognitivas», dos nossos «arquivos memoriais», da nossa «enciclopédia interior» e do nosso «capital simbólico» e, de um modo muito especial, dos nossos «campos textogónicos» de onde irrompem, afinal, em sua multiplicidade e diversidade, as modelações textuais, desde as mais simples e espontâneas às mais complexas e elaboradas, através das quais se verbaliza e se revela, oralmente ou por escrito, o inesgotável «potencial fenomenológico» das polimorfas relações, interacções e

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envolvências existenciais do ser humano com o inestancável devir das realidades do mundo empírico-factual, da sua apaixonada e odisseica viagem filosófico-epistemológica, questionante, indagativa, investigativa, experimental e noético-gnosiológica, à descoberta dos mistérios e enigmas da Vida e do Universo e bem assim da singularidade onírico-imaterial da sua acção demiúrgica na conformação-configuração simbólico-estética e teorético-epistémica dos «mundos possíveis» da criatividade e da ficcionalidade poético-literária e sófico-científica... Na verdade, sem a palavra que se realiza discursivamente no território concreto de uma dada língua (no nosso caso, a Língua Portuguesa) e sem o seu domínio consciente, crítico, criativo e inovador, sem a paixão pela sua defesa e promoção (provedoria e promotoria) contra quem a tenta vilipendiar, ofendendo a sua dignidade histórico-cultural e desprezando a “polifónica” e “polilógica” universalidade da sua enorme grandeza e projecção planetária, o seu “estatuto” e “condição” de LÍNGUA DE SABEDORIA, DE CULTURA E DE CIÊNCIA, ao subalternizá-la servilmente perante mesquinhas e conjunturais “modas” ou medidas ditadas do estrangeiro, sejam de matriz ou proveniência “bolonhesa” ou de outra, nomeadamente a “endógena” (e. g.: a

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política ministerial, a práxis universitário-departamental, reitoral, etc... [«... dos Portugueses / Alguns tredores houve algũas vezes... Camões: Lus., IV, 33]), tudo pode ficar gravemente comprometido, porque sujeito, de modo irresponsável, abastardado, estrangeirado e anti-identitário, a incalculáveis e danosos riscos e perigos... E quero, a este respeito, deixar bem claro o seguinte: a minha formação humanista e universalista leva-me a rejeitar qualquer tipo de «xenofobia»; leio muitas obras escritas em inglês no meu constante esforço de actualização intelectual; defendo acerrimamente uma formação «poliglota»; todavia, nunca abdicarei da primazia da língua materna — esta nossa doce língua de Camões e de Aquilino — em todos os domínios, situações e contextos de comunicação, sejam eles de natureza geral e corrente, sejam eles de natureza académica e especializada... Pelo que considero ridícula, no mínimo, a ideia de a leccionação de aulas, a elaboração de testes e de actas (para além da aberrante exigência de a redacção de dissertações de licenciatura, mestrado e doutoramento...)... tudo isso... passar a ser feito em língua inglesa!!!... Em que país estamos nós?...

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Mas seja como for, a minha fé inabalável, a minha convicção irremovível, a minha certeza irrenunciável, a minha luta indomável, em suma, o meu indissolúvel e irrevogável enamorado encantamento continuará a ser este até morrer e mesmo para além da própria morte:

Enquanto houver um poeta de língua portuguesa à superfície da terra e à luz do sol — e porque «o poeta nunca morre» (*) —, jamais faca de morte alguma conseguirá cortar a energia foto-voltaica que revolve, desde a fundura dos étimos, a «alma das palavras» e as entranhas subliminais da nossa madre língua, ou matar a «coita de amor mortal» que alimenta e perpetua essa louca, incandescente e prometeica paixão do fogo criador!... (**)  

(*) Albano Martins: As Escarpas do Dia (Poesia 1950-2010), Porto, Edições Afrontamento, 2010, poema «A Florbela», p. 31. (**) Cf. Fernando Paulo Baptista: Nesta nossa doce língua de Camões e de Aquilino, Sernancelhe, edição da CM de Sernancelhe, 2010, pp. 17-27.

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2. Um enquadramento sófico-epistémico: 2.1. Da sabedoria (sof¤a [sophia]) e da teoria (yevr¤a [theoria])

2.2. Dos «fenómenos» (tå fainÒmena [ta phainomena) enquanto «objectos epistémicos»

2.3. da linguagem verbal enquanto «potencial semiogénico» e «léxico-gramatical» da modelização de “mundos” e da construção e organização dos saberes

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2.1. Da sabedoria (sof¤a [sophia]) e da teoria (yevr¤a [theoria])

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O PROCESSO OBSERVACIONAL

O consagrado historiador, epistemólogo e professor inglês, ALAN FRANCIS CHALMERS, no seu conhecidíssimo livro intitulado What is this thing called Science?(*), referindo-se ao modo como se desenvolve o processo observacional na actividade científica, escreve o seguinte:

«Não podemos observar com precisão o que queremos. Todavia, se é verdade que as imagens das nossas retinas fazem parte do acto e do processo do que nos é dado observar, não é menos verdade que também faz parte desse mesmo acto e processo uma componente constituída pelo estado interno das nossas mentes ou cérebros, estado esse que, por sua vez, depende da nossa educação cultural, do nosso conhecimento e das nossas expectativas, não sendo determinado, portanto, unicamente pelas propriedades ou condições físicas dos nossos olhos e da cena observada.»

(*) Que aqui cito pela versão espanhola; cf. Alan Francis Chalmers: ¿Qué es esa cosa llamada ciencia?, Madrid, siglo veintiuno de españa editores, sa, 142000, p. 9. 15

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OS “OLHOS” DO SÁBIO...

Palavras lúcidas estas, que realçam bem o facto de que os processos de observação desenvolvidos no âmbito da investigação científica, na diversidade multímoda das configurações e estilos que podem assumir, co-envolvem sempre, na mesma e unitária instância corpóreo-mental — o ser humano, ênyrvpow [anthropos] —, uma função oftálmica (normalmente reforçada e ampliada pelas «próteses» adjuvantes proporcionadas pela maquinaria tecnológica: laboratórios, raios x, raios laser, tumografia axial computorizada [tac], ressonância magnética [rm], microscópios, telescópios, aceleradores de partículas, sondas, satélites…), função essa, sustentada, iluminada e pilotada, porém, por uma dÊnamiw [dynamis] de natureza intelectual, emocional, educativa, cultural e sapiencial... O que só vem confirmar e validar a eloquente justeza do milenar dito do Ecclesiastes (2, 14), segundo o qual, os olhos do sábio estão na sua cabeça [«sapientis oculi in capite eius»]!…

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«UM SÁBIO É UM CAMPO CIENTÍFICO FEITO HOMEM»

Ganha, assim, especial relevância e expressividade a «tese» de Pierre Bourdieu, inspirada e enquadrada na sua «teoria dos campos» e plasmada na lapidar metáfora de que «um sábio é um campo científico feito homem», com a ressalva, porém, de que a sabedoria, num ajuizamento que se me afigura pertinente, correcto e sustentável, vai muito para além dos territórios e dos horizontes específicos da ciência… Nem é outro, o entendimento que deflui da mais consistente reflexão epistemológica em torno da «ciência», do «conhecimento científico», da «racionalidade científica», da «teorização científica» e da «metodologia da investigação científica» e, ainda, do modo como se constituem, se testam, se validam e operam implicativa e aplicativamente as próprias «teorias científicas». E essa reflexão, tão vasta quanto exigente e complexa (e, não raro, tão polémica como contraditória...), não pode deixar de se direccionar projectivamente para dois grandes planos que se co-implicam em estreita e recíproca interacção e articulação:

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— o plano da personalidade singular e ipseídica do ser humano (cidadã ou cidadão...) teorizador, investigador e cientista;

— o plano da sua condição e do seu estatuto institucional, interpessoal e alterídico, de membro de uma específica «comunidade científica» e/ou de uma academia, co-envolvendo a ponderação, entre outras, de temáticas e problemáticas tão cruciais como as da caracterização da racionalidade científica e do método científico e da demarcação criterial entre ciência, senso comum, não-ciência, pseudo-ciência e ficção científica, da selecção e estabelecimento de campos fenoménicos e sua constituição em campos epistemológicos, com a inerente definição dos objectos epistémicos e análise integrada dos dados observacionais e experienciais respectivos, a suscitação de problemas e a subsequente formulação de conjecturas ou de hipóteses, o desencadear do processo investigativo (research process) e de elaboração (e reelaboração...) do conhecimento e a convocação, para o efeito, das mais fecundas propostas da epistemologia e da filosofia da ciência, nomeadamente, a pluralidade dos contributos trans-lógico-empiristas de Gaston Bachelard, Karl Popper, RussellHanson, Imre Lakatos, Thomas Khun, Paul Feyerabend, Joseph Sneed,

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Wolfgang Stegmüller e Larry Lauden, para além dos desenvolvimentos que têm merecido, entre outros, o «teorema de Thomas Bayes» em torno da problemática da probabilidade (conditional probabilities; subjectivist models of learning: prior probability vs posterior probability...), com os diferenciados contributos de Jon Dorling, Paul Horwich, Roger Rosenkrantz e John Earman, a «tese de Duhem / Quine», face ao falsificacionismo popperiano, bem como as correntes do «Novo Experimentalismo», a envolver figuras como Ian Hacking, Allan Franklin, Peter Galison, David Gooding, Robert Ackermann e Deborah Mayo, etc., etc... Nesse contexto de global enquadramento reflexivo, importará proceder à clarificação crítica e ao apuramento teorético e metateorético de questões tão decisivas como as da subjectividade, intersubjectividade, objectividade, (in)certeza, (in)determinismo, causalidade (multicausalidade), acaso, probabilidade, verdade («verdade de facto», «verdade de crença», «verdade de razão», «verdade sémio-discursiva»...), transcendentalidade, relativismo, fiabilidade..., bem como à ponderação das suas implicações com os métodos e

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procedimentos de refutação, falsificação, testagem, avaliação, validação e legitimação das teorias e das «revoluções» científicas, à luz de um adequado referencial paramétrico-criteriológico que contemple os planos formal, semântico, axiomático-epistemológico, metodológico e cosmo-ontológico, nos termos em que o propõe, por exemplo, Mario Bunge, sem esquecer os fundamentais níveis de adequação mundividencial, pressupositivo-assumptiva, metodológico-processual e orientativo-reguladora, com seus desdobramentos fásicos e respectivas operações de contrastação, correcção e afinamento melhorativo: adequação fundamentante, focalizadora, analítica, problematizadora, indagativa, heurística, avaliativa, validadora, descritiva, explicativa e discursivo-enunciativa (textualizadora). Na verdade, e quanto ao primeiro plano, o cidadão teorizador, investigador e cientista (sujeito activo e reflexivo do yevre›n [theorein] e, em certo sentido, «herdeiro» legítimo do filÒsofow [philosophos] socrático e do yevrÒw [theoros] platónico-aristotélico...), na sua postura curiosa, perscrutante, inteligente e imaginativa, na sua focalização exoscópica e endoscópica, extra-

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muros e intra-muros, microscópica e macroscópica, merorâmica e panorâmica, na sua mirada observante, indagante, determinada e persistente e no seu agir interpretativo, descritivo e explicativo, suscitado pelo campo fenoménico que o toca, entusiasma e fascina e que ele toma e assume como «objecto epistémico», isto é, como «objectum cognoscendum, describendum et explanandum», não deixa de mobilizar mnésico-noeticamente, e de modo autocrítico, criterioso e selectivo, o capital noemático, semiósico, conceptual, imagético e memorial, a «enciclopédia» semiosférica, informativa, cognitiva, hermenêutica e sapiencial, depurada, integrante e integrada, que foi construindo, configurando, arquivando e actualizando ao longo da sua experiência vital, em toda a diacronia do seu Lebenswelt que é, na expressiva e afectiva metáfora de Castanheira Neves, «a pátria a que a ciência sempre terá de voltar» (*)...

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(*) Cf. António Castanheira Neves no seu denso e interpelante ensaio: «Da “verdade” especulativa e dogmática da filosofia às “verdades” exactas e controláveis da ciência — ou o erro da pretensa superação da filosofia pela ciência?», in revista Lusografias, n.º 6/7/8, ano III, Lisboa, Edições Piaget, 2007, págs. 20-31: «(...) o mundo da vida (...) é a pátria a que a ciência sempre terá de voltar, numa assimilação humano-cultural de sentido, sob pena de uma sua alienação humana e de inumanos resultados.» (pág. 23).

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Tudo isso, no horizonte englobante e aberto da Weltanshauung que também foi conformando, ajustando e aperfeiçoando, sem, todavia, descurar ou desconsiderar as contribuições congéneres da comunidade científica de pertença (e de outras comunidades de saber...) ou rejeitar o diálogo polifónico ou mesmo a controvérsia e o dissentimento, a polémica, o debate vivo, problematizador e antidogmático, na incessante procura e construção da indispensável consensualidade epistemológica, regulada não só pelos mais altos níveis de rigor teorético, axiomático-conceptual, metodológico, processológico, lógico-discursivo e argumentativo, mas também por irrenunciáveis padrões ético-axiológicos e deontológicos, consagradores dos interpelantes e virtuosos valores da probidade, da seriedade, da isenção, do rigor, da verdade, do respeito, da dignidade e da excelência…

Cf. Fernando Paulo Baptista: «Sob o signo da luz ou a «centelha» [scintilla] de Zeus na palavra «teoria» [yevr€a (theoria)]...» apud: Rosa Maria Goulart, Maria do Céu Fraga e Paulo Meneses (coord.): O Trabalho da Teoria — Actas do Colóquio em Homenagem a Vítor Aguiar e Silva, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 2008, pp. 41-83. Considerar a bibliografia aí citada.

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2.2. DOS «FENÓMENOS (tå fainÒmena) ENQUANTO «OBJECTOS

EPISTÉMICOS»

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Dos contributos que têm vindo a ser avançados para a dilucidação do conceito de «teoria», ressaltou o consensualizado entendimento de que uma «teoria científica», correctamente concebida e construída, deve proporcionar uma «narrativa» descritivo-explicativa, global e coerente, de «uma determinada área de fenómenos», o que conduz à irresgatável (porque incontornável...) assunção de que, em ciência, são os «fenómenos» das diferentes e respectivas áreas de pertença que constituem a «matéria prima» sobre que se configuram, nas objectivações / objectificações protagonizadas pelo «sujeito epistémico», os «objectos» da teorização, da investigação e da experimentação. Mas essa focalização «objectivante» e «objectificante» (*) que «estabiliza» e configura um fenómeno na forma de «objecto simbólico-semiósico», no quadro da dinâmica corpóreo-mental em que os dados hiléticos sensório-perceptivamente captados se transformam, pela noese (nÒhsiw [noesis]) e pela semiose (shme€osiw [semeiosis]), em conteúdos noético-noemáticos ou noemas e em unidades sémicas (semas e sememas) pressupõe e implica sempre a sua dialéctica subjec-

(*) em que, de modo relacional, intencional e interactivo, se institui e constitui um «objecto» para aquele «sujeito» e, homologamente, um «sujeito» para aquele «objecto»...)

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tivação / subjectificação num «sujeito»: o sujeito cognoscente, o sujeito epistémico, o sujeito semiótico, o sujeito discursivo-comunicativo. Sujeito esse que, todavia, não é uma instância qualquer, porquanto se trata, reconhecidamente, de uma entidade dotada de um «estatuto» onto-gnosiológico, institucional e simbólico, intersubjectivamente avaliado, validado e legitimado na base de uma rigorosa objectivação analítico-judicativa e de uma criteriosa, exigente, testada e comprovada ponderação valoradora do seu perfil académico e competencial e do seu desempenho e curriculum reais, com especial destaque para a sua produção investigativa e sapiencial nas áreas culturais, sofo-científicas e disciplinares respectivas. É assim que, em lógica e implicativa consequência, importa sublinhar que «os objectos epistémicos» não existem a se ou propter naturam: são, pelo contrário, na perspectiva de Remo Bodei, «unidades intencionais, pontos nodais da rede de coordenadas com que o mundo está estruturado» por acção do poder noético-constitutivo, conceptualizante e sémio-configurante da mente daquele mesmo sujeito.

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Por outro lado, dadas, como vimos, a natureza «substante» dos fenómenos, a sua condição «arqueológica» e a sua «matricialidade» interpelante, suscitante e co-originante, no processo do conhecimento, não pode deixar de se impor aqui, e a partir de agora, uma prévia (porque indispensável...) tentativa de clarificação do termo (e do conceito...) através do qual eles são nomeados, instituídos, designados, identificados, singularizados e universalizados... Assumo assim, de modo assertivo, e numa perspectiva epistemo-categoriológica, que é nos «fenómenos» (verbo-conceptualmente denominados e enquadrados) que reside a base de sustentação e a fonte de alimentação de toda a actividade científica.

***

É que um «fenómeno», em consonância com a semântica arqueológica do nome que o nomeia, é uma «manifestação de luz»: na verdade, o plural neutro — tå fainÒmena — designava, na velha Grécia, «as constelações visíveis», «os fenómenos celestes» e, por extensão, tudo quanto podia ser observado, contemplado e explicado. Porque, sem luz, sem a luz que vinha dos deuses e sem «a luz» que irradiava da sof€a [sophia] dos yevro€ [theoroi], não era possível a yevr€a [theoria]...

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UM «FENÓMENO» É, EFECTIVAMENTE, AQUELE AURORAL E GENESÍACO «APARECER» que começa por desencadear o espanto da admiração e da curiosidade e a concentração meditativa da contemplatio e que, através de uma inconformada e aprofundante indagação, através de uma popperiana «búsqueda sin término», se vai transformando em «objecto epistémico», a ser interpretado, compreendido, descrito, caracterizado e explicado, de forma rigorosa, clara, coerente e global, pelo potencial de racionalidade e de intelecção proporcionado pelas teorias científicas, com a sua arquitectónica de princípios e axiomas, leis, protocolos e demais mecanismos de regulação operatória, com a sua rede sistemática de termos e conceitos, proposições, hipóteses, problemas («quebra-cabeças»), paradigmas, modelos, métodos e procedimentos... OS «FENÓMENOS» CONSUBSTANCIAM, ASSIM, «A LUMINOSA MANIFESTAÇÃO», NO «APARECER», de tudo quanto nesse aparecimento se pode tornar captável e concebível (do latim: capere e concipere), constituindo o puro e simples desvelar-se do ser em si, num jogo e num desafio intérminos: o aberto e interpelante jogo e desafio da verdade (élÆyeia [aletheia]) de que nos fala Heidegger e de que o Da-sein, o humano e reflexivo «pastor do ser», é, entre ocultação e revelação, o intransferível protagonista, o desassossegado, insatisfeito e criativo indagador e construtor...

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Perspectivados à escala cósmica, à luz de uma teoria como a «M-theory de supercordas» e no horizonte global de um processo evolutivo e metamórfico de complexificação e expansão crescentes que culminou na epifania do Homem no ventre acolhedor de Deméter, todos os «fenómenos», no âmago dos diferentes modos de irrupção manifestativa e de configuração expressional da sua natureza, materialidade e/ou simbolicidade, transportam sempre consigo as prístinas radiações «fotónicas» daquelas elementais, super-quentes, super-densas e super-vibráteis nano-partículas que se libertaram na Grande Explosão ou Big Bang com que, segundo a conjectura mais generalizadamente aceite entre astrónomos, cosmólogos, físicos de partículas e físicos em geral, se terá inaugurado, a singularidade do processo da cosmogénese, para, nas condições de adequabilidade receptiva que foram proporcionadas por milhões de anos de evolução, suscitarem, como «réplica», a «contra-radiação» neuronal, inteligente, reflexivo-verbal e alumiante, saída das corpóreas entranhas da antropogénese: no fundo, UMA LUZ AO DESVELADOR E DIALÓGICO ENCONTRO E CONFRONTO COM OUTRA LUZ...

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Por isso é que, independentemente das concretas consequências de natureza epistemológica originadas pela viva controvérsia que, nos começos do século XX, a tríade relacional «fenómeno <> observador <> teoria» suscitou no seio da comunidade científica dos Físicos, ao convocar teses como as de Pierre Duhem e ao envolver directamente na polémica figuras tão destacadas como Niels Bohr, Schröedinger, Heisenberg e Einstein, não deixa de ganhar uma forte dimensão simbólica a famosa posição anti-positivista enunciada por Einstein, segundo a qual, «there is no observation without theory»!... Tal como, na fundamentada perspectiva de um dos maiores linguistas do nosso tempo, M.A.K. Halliday (*), «there can be no theorizing without language, or more specifically, without the semiogenic power of grammar [não pode haver teorização sem a linguagem, ou mais especificamente, sem o poder semiogénico da gramática]».

(*) Cf. M.A.K. Halliday: The language of science, London / New York, Continuum, 2004, p. 3.

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2.3. Da linguagem verbal enquanto «potencial semiogénico» e «léxico-gramatical» da modelização de “mundos” e da construção e organização dos saberes

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Na verdade, «sem a linguagem verbal, o mundo não era “mundo”: seria o caos mais negro, mais cego e mudo que imaginar se pode!... Sem a verbosfera, sem as construções que ela possibilita, sem a informação que ela liberta, organiza e distribui, os saberes sobre o Cosmos, sobre a Terra, sobre a Vida e sobre o próprio Homem seriam impossíveis. Sem a palavra, toda a energia criadora da Humanidade ficaria irrevelável. No universo inteiro, mesmo povoado de seres de toda a espécie, mesmo recamado dos milhões de galáxias repletas de miríades de estrelas superluminosas, reinaria a escuridão negra do mais absoluto silêncio... Tudo “olharia” para tudo sem qualquer sentido que iluminasse essa mirada... Nada nem ninguém, porque seria a mudez de tudo» (*). Por outro lado, a criação e construção de um qualquer mundo (real ou ficcional) com um sentido genuinamente humano, seja ele qual for, afigura-se de muito difícil consecução fora das fronteiras da palavra, tal como o sublinha Hugo Mujica (**), quando, em heideggeriana registo, escreve: «como palabra del ser,

(*) Cf. Fernando Paulo Baptista: Tributo à Madre Língua, Coimbra, Pé de Página, 2003, pp. 61-62. (**) Cf. Hugo Mujica: Flecha en la niebla — Identidad, palabra y hendidura, Madrid, Editorial Trotta, 1997, 158.

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el hombre se convierte en el privilegiado lugar en el que acontece la irrupción, el despliegue y la expresión del sentido de la existência». Mas porque são luz e senhores da luz (di-lo a raiz constitutiva dos nomes que os nomeiam — Zeus, Iupiter, Deus (*) —, foi aos deuses que coube sobre ela — luz — o poder supremo: a nós, humanos, caber-nos-á a «socrática» contra-partida de ter sempre presente a convergente lição de Platão e de Hegel, na expressiva síntese de Remo Bodei: na pura luz, vê-se tão pouco como na mais cerrada escuridão... Resta-nos, apesar de tudo, uma singular e distintiva prerrogativa (mesmo se confinada aos balizadores, e porventura discutíveis, «limites» de que fala Wittgenstein...), prerrogativa essa que Aristóteles consignou na sua Política (1253a, 9-10), nos seguintes e consabidos termos: o homem é o único dos seres vivos dotado de palavra — «lÒgon d¢ mÒnon ênyrvpow ¶xei t«n z–vn».

(*) YeÒw (ZeÊw [< Zeus < *dyew+s], Juppiter [< *dyews + piter < dyews + pater], dies [< *dyew+es / diyew+es]), fãow / fãeow > fãouw > f«w, fvtÒw: yeÒw (= deus, criador e senhor da luz); ZeÊw (= Zeus, criador e senhor da luz); Juppiter (= deus pai, criador e senhor da luz); dies (= dia, a fase luminosa do dia solar, por oposição à noite); fãow, fãeow > fãouw // > f«w, fvtÒw (= a luz cósmica), lexemas da mesma família do verbo fa€nv (= fazer brilhar, fazer ver, tornar visível, fazer (a)parecer).

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E se é em poética sintonia com Nemésio, se é em órfica consonância com ele que sentimos que é «da vaga vocálica que dependemos / como alga que a onda leva à areia», também, em homóloga convergência com Vergílio Ferreira, nos cabe «inventar a realidade nas palavras que a inventam», ainda que tão-somente sustentados no limitado poder dessa trémula e perdida centelha (scintilla) que Zeus nos outorgou desde o Big Bang… Poder limitado, é certo, mas em todo o caso poder demiúrgico, consubstanciado, em última instância, na faculdade modelizante e configuradora da palavra, «fotão» semiogénico e protoplásmico da texto-gonia e da texto-fania de todos os discursos: desde os mais simples e mais informais das práticas comunicativas do quotidiano, aos mais elaborados e mais complexos da Ciência, das Humanidades e das Belas Letras…    

Verbo ao abismo idêntico, toado Sobre os traços de fogo que precedem A presença de Deus no monte irado…

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NÓS SOMOS A LUZ QUE VÊ A LUZ QUE VEMOS!…

É por tudo isso que cada vez mais admiro o velho e enigmático Heraclito (frg. 11), quando o imagino, espantado e perplexo, a concluir: O raio tudo governa!... Porque a verdade é esta: com Zeus ou sem Zeus, nós somos a luz que vê a luz que vemos!... Está por superar, por qualquer dinâmica evolutiva ou metamorfósica, esta realidade fáctica de a capacidade da palavra ainda não ter uma verdadeira alternativa antrópica para tudo quanto seja a imaginação e a criatividade sapiencial e artística, o engendramento, a construção e a formalização dos diversos conteúdos de «rêverie», paixão, vivência, memória, experiência, experimentação e aprendizagem humana integrada (afectiva, relacional, comunicacional, cognitiva e metacognitiva…), a ideação, visionamento, visualização, projecção e conceptualização rigorosa

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em todas as áreas do conhecimento e da investigação científica, em suma, a arquitectónica, a sistémica e a orgânica dos saberes, bem como a sua modelação e orquestração em discurso, com as específicas estratégias subjacentes aos diferentes actos, modos e planos de enunciação e textualização… Por tudo isso, se pergunta: não deverá ser esse o ciclópico e morfogénico labor da palavra (aos níveis atómico, sub-atómico, molecular e tecidular), a ser conduzido em simbiótica interacção com o exigente, rigoroso e iluminante trabalho da teoria?… Será possível uma teorização rigorosa explícita, fora do rigor explicitante da palavra?...

***

A linguagem verbal, segundo M.A.K. Halliday, «não reflecte passivamente a realidade: cria activamente a realidade». Na verdade, «as categorias e os conceitos da nossa existência material não nos são ‘dados’ antes da sua expressão em linguagem. Mais propriamente: são construídos pela linguagem, na intersecção do material com o simbólico.»

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[«language does not passively reflect reality: language actively creates reality; the categories and concepts of our material existence are not ‘given’ to us prior to their expression in language; rather, they are construed by language, at the intersection of the material with the symbolic.»] (*). Essa capacidade «onto-poiética» («onto-constitutiva») da linguagem verbal radica no facto de ela ser, de entre todos os sistemas semióticos humanos, a maior fonte de poder, com um potential semiogénico de horizonte indefinido: «Of all human semiotic systems, language is the greatest source of power. Its potential is indefinitely large.» (**).

(*) Cf. M.A.K. Halliday: Language in a Changing World, 1993, Sidney, ALA, 7. De notar a recorrência desta perspectiva no pensamento de Halliday: «Language is not a passive reflex of material reality; it is an active partner in the constitution of reality...» (cf. M. A. K. Halliday: On Language and Linguistics, London / New York, Continuum, 2003, pp. 3-4. (**) M. A. K. Halliday: On Language and Linguistics, London / New York, Continuum, 2003, p. 3.

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Por outro lado, ainda em consonância com este mundialmente consagrado linguista inglês, «todo o progresso científico e tecnológico consiste na interacção entre o material e o semiótico: nenhum dos dois conduz o outro, mas, do mesmo modo, nenhum deles pode avançar sozinho» [all scientific and tecnological progress consists in the interplay of the material and the semiotic: neither of the two drives the other, but equally neither can procedd alone]» (*). Mas são os potenciais da respectiva léxico-gramática que constituem «a maior fonte de poder» de onde, em última instância, dimana «a energia semiótica» de qualquer sistema linguístico (**). Mais ainda (e em reiterada consonância com Halliday): uma consciência de primeira ordem é uma consciência semiótica — isto é, a capacidade de significar ou de transformar em significado» [«… higher-order consciousness is semiotic consciousness — that is, the ability to mean, or to transform into meaning»].

(*) Cf. M. A. K. Halliday: The Language of Science, London / New York, Continuum, 2004, p. 16. (**) Idem: ibidem, p. 54.

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Essa consciência é construída a partir da «lexicogramática» (*) que, além de configurar uma teoria da experiência humana (**), constitui a base sobre que assenta a qualidade que distingue a linguagem científica [the distinctive quality of scientific language»] (***). Na verdade, a gramática (léxico, morfologia e sintaxe), enquanto «teoria da experiência», transforma os fenómenos em classes e o primeiro recurso de que dispõe para esse efeito é o vocabulário (****). Neste contexto e no que mais específica e directamente concerne aos termos técnicos da linguagem científica, cabe sublinhar que (muito embora esta questão não constitua «the whole story»...) os termos técnicos são uma parte essencial da linguagem científica [«technical terms are an essencial part of scientific language»] e que, sem eles, seria impossível criar um discurso do conhecimento organizado [«it would be impossible to create a discourse of organized knowledge without them»] (*****).

(*) Plano, nível ou estrato que, no modelo diassistémico tri-planar ou tri-estratal de M.A.K. Halliday, congloba a sintaxe, a morfologia e o léxico (cf. M. A. K. Halliday: The Language of Science, London / New York, Continuum, 2004, pp. 17-18, 26, 54-55). (**) Cf. Idem: ibidem, pp. 43, 50, 59, 109, 119. (***) Cf. Idem: ibidem: p. 201; e também: M. A. K. Halliday and J. R. Martin: Writing Science — Literacy and Discursive Power, London / Washington, The Falmer Press, 1993, p. 4. (****) Cf. Idem: ibidem: p. 63. (*****) cf. M. A. K. Halliday: The Language of Science, já cit., p. 201; e também: M. A. K. Halliday and J. R. Martin: Writing Science — Literacy and Discursive Power, igualmente já cit., p. 4. 38

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Daí, A IMPORTÂNCIA que deve ser dada à aprendizagem do léxico em geral e, de um modo muito especial, ao léxico da “arquitectónica” e da “sistémica” organizativas do conhecimento, designadamente o conhecimento mais elaborado e mais rigoroso: teorias, paradigmas, modelos, arquétipos, esquemas, princípios, postulados, axiomas, leis, proposições, definições, ideias, categorias, conceitos, noções, descrições, caracterizações, classificações, taxinomias, terminologias…

****

É, pois, na base de um tal entendimento que venho afirmando, cada vez com maior convicção, que «QUEM É LIMITADO LINGUISTICAMENTE, ISTO É, QUEM TEM UMA COMPETÊNCIA LÉXICO-GRAMATICAL POUCO DESENVOLVIDA, DIFICILMENTE TEM CONSCIÊNCIA DE QUE É LIMITADO EM TODOS OS SENTIDOS» (*).

(*) Fernando Paulo Baptista: Tributo à Madre Língua, Coimbra, Pé de Página Editores, 2003, p. 70. 39

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3. Para uma aprendizagem “inteligente” (e, assim, mais consciente e consistente…) do léxico em geral e do léxico científico em particular, no quadro de uma lexicopoiética.

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3.1. Do significado «arqueológico» da palavra ‘ciência’ (< do latim: scientia) para o conteúdo

conceptual e epistemológico por ela designado…

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Da palavra e da ideia de “ciência”

A ideia de ciência (*) implica, na sua semântica profunda, as ideias de análise, decomposição, corte, cisão, dilaceração, desfibragem…, a operar em todos os sentidos, em todas as direcções… Não é apenas o “objecto” seleccionado, erigido e instituído como “centro” da focalização/observação específica e própria do processo de intelecção, compreensão, descrição, caracterização… São também os métodos, os instrumentos, os procedimentos e demais recursos accionados nesse processo; é o quadro teorético e conceptual; é o próprio “sujeito” (ou “comunidade de sujeitos”: ex.: uma dada “comunidade científica”…) que, pelas exigências do processo por si protagonizado, é chamado a re-ver-se, a actualizar-se ininterruptamente, reformulando hipóteses e conjecturas, realimentando constantemente a sua base sapiencial, metodológica e organizacional, desde o ponto de partida até ao ponto de chegada…

(*) Do latim: scientia, nome derivado do verbo scio, -is, -ire, sciui [scii], scitum (= separar, dividir, cortar, desvelar, pôr em situação de evidência… para poder conhecer, saber), sendo de notar que scire, scientia, tal como consciência, consciente, cônscio, néscio, ínscio, rescindir, prescindir, cisão, rescisão, abcissa, xisto, esquizofrenia, esquina… são palavras da mesma família…

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É da constante afinação das suas capacidades de conhecer, dos sempre renovados potenciais de informação especializada, do aperfeiçoamento e ajustamento dos métodos e meios que acciona que o “objectum cognoscendum” se torna mais inteligível no dinamismo em que ele se vai objectivando e, assim, constituindo como “objecto” para o sujeito que sobre ele se debruça observacional e analiticamente... Em bom rigor, o mais físico dos “entes em si” que suscitam a curiosidade gnosiológica do sujeito cognoscente, quando, na teia de relações instauradas pelo acto de conhecer, se transforma em “objecto” já é, logo aí, uma “construção” que tem a matriz “progenitora” de quem o observa e gnosiologicamente o objectiva. Na presença directa, face a face, com o sujeito epistémico os mais “estáveis” dos entes em si transfiguram-se. É essa a força “cosmogónica” e “misteriosa” que decorre da condição antrópica do sujeito epistémico. Nada escapa a essa metamorfose.

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A “cientificação” do mundo é um projecto global que se vem desenvolvendo, gradualmente, por sectorizações, por cortes e cisões, por dilacerações e depurações parcelares: em cada “objecto” está sempre o “sujeito” com a sua força objectivante, com a sua intencionalidade focalizadora, a sua capacidade teorético-intelectiva e noética, analítico-decompositiva, interpretativo-compreensiva (hermenêutica), descritivo-explicativa, sémio-comunicativa…

44 Galileu Galilei (1564-1642), Charles Darwin (1809-1882) e Albert Eisntein (1879-1955), três símbolos maiores do esforço humano no árduo processo da «cientificação» do mundo...

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Poema do coração

Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração, e também a Bondade, e a Sinceridade, e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.

Então poderia dizer-vos: “Meus amados irmãos, falo-vos do coração”, ou então: “com o coração nas mãos.”

Mas o meu coração é como o dos compêndios. Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral) e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos). O sangue ao circular contrai-os e distende-os segundo a obrigação das leis dos movimentos.

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Por vezes acontece ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados, e uma lâmina baça e agreste, que endurece a luz dos olhos em bisel cortados.

Parece então que o coração estremece. Mas não. Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático, que esse vento que sopra e que ateia os incêndios, é coisa do simpático. Vem tudo nos compêndios.

Então, meninos! Vamos à lição! Em quantas partes se divide o coração?

António Gedeão: Poemas Escolhidos — Antologia organizada pelo autor, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 51999, pp. 58-59.

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o coração • coração é um órgão que actua como uma bomba, realizando contracções e dilatações rítmicas para manter a circulação do sangue. A sua actividade de “bombeamento” desenvolve-se em três fases: • 

1.ª fase: contracção das aurículas — sístole — e dilatação dos ventrículos — diástole;

2.ª fase: contracção dos ventrículos — sístole — e dilatação das aurículas — diástole;

3.ª fase: descompressão global do músculo cardíaco — diástole.

Estas três fases repetem-se ritmicamente.

Sobre estes movimentos do coração e seu dinamismo vital, ver L. Gavrilov e v. Tatarinov: Anatomia Humana, Moscovo, Editora MIR, 1988, pp. 234 ss. 48

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Inventário do léxico científico presente (explícita ou implicitamente) no poema:

– válvula (tricúspide e mitral)

– aurícula

– ventrículo

– sístole (contrai…)

– diástole (distende…)

– simpático

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válvula

“adn semântico”: a ideia de rodar, dar voltas, volver, girar…

Proveniente do latim valvulae, -arum: concha, invólucro, valva pequena; diminutivo de valvae -arum [= folhas ou batentes de porta]; nome plural com a mesma raiz do verbo volvo, -is, -ere, volui, volutum (= volver, girar, rodar, dar voltas…).

família lexical: volta, voltear, volteio, voluta, volúvel, volume, circunvolução, devolver, devolução, envolver, evolver, evoluir, evolução, involver, involução, revolver, revolução, abóbada (do latim medieval: uoluita > a+bolvita > a+bovida > abóbeda > abóbada), abobadar, volte-face, valva, valvular, univalve, bivalve…

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tricúspide √ tricúspide < tri + cúspide [= três cúspides, i.e., que têm a forma de três pontas de lança, lisas e agudas ou aceradas (pontiagudas)]

√ exemplos de lexemas com idêntica estrutura morfológica:

• tri + ângulo (três ângulos)

• tri + mestre (três meses)

• tri + céfalo (três cabeças)

… etc., etc…

Nota: o nome cúspide (< em latim: cuspis, -idis) designa a extremidade aguda e dura, ou seja, a ponta da lança, acerada em ápice como o ferrão ou aguilhão das abelhas ou do escorpião ou também de certo de tipo de folhas; em latim, dizia-se cuspis por oposição a spica ou spiculum [= ponta “barbada”, a fazer lembrar a espiga dos cereais.

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mitral (< de mitra + -al)

mitra (do grego m€tra, -aw [mitra, -as], através do latim mitra, -ae): originariamente, designava uma espécie de “cintura larga” usada pelos guerreiros e pelos atletas e também uma espécie de “cachecol” feminino; cabeleira de teatro; turbante ou tiara de origem asiática; diadema ou coroa [símbolo do poder régio]; depois, insígnia eclesiástica [símbolo do poder religioso] com que os bispos e outros prelados passaram a cobrir a cabeça em certas cerimónias…

família lexical: mitrar, mitrado [espertalhão, sabido…], mitriforme… mitral = que tem a forma de uma mitra; válvula mitral ou válvula bicúspide [que é fendida no vértice e termina em duas pontas divergentes].

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aurícula do latim: auricula, -ae, diminutivo de auris, -ris (= orelha); literalmente, significa “pequena orelha” (de notar que o nosso lexema “orelha” provém do diminutivo auricula(m), com monotongação do ditongo inicial (au > o), fechamento do i tónico (i > e), síncope do u pós-tónico (-icula > -icla) e palatalização do grupo consonântico cl (cl > lh).

família lexical: auriculado, auricular, auriculiforme, auriculista, aurículo… estético (< do grego: a‡syhtikÒw [aisthetikos])…

ventrículo do latim: ventriculum, -i, diminutivo de venter, -tris (= ventre); literalmente, significa “pequeno ventre”.

família lexical: ventricular, ventriculito, ventriloquia, ventriloquismo, ventríloquo… (< ventri + loquor)... 53

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sístole <> diástole

«Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral) e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).

O sangue ao circular contrai-os e distende-os segundo a obrigação das leis dos movimentos.» (A. Gedeão)

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Raiz: stel- / stl- [> stal-]- / stol-

“adn semântico” = pôr, colocar, instalar, pôr de pé, estar / ficar de pé, manter-se em posição vertical, manter-se firme e determinado; (em contextos relacionados com a actividade náutica): aparelhar e preparar o navio para a viagem, ou a armada para a batalha, pôr em ordem o que é necessário, enviar, seguir determinada rota, rumar para…

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sí stol e (stol- : raiz no grau “o”)

Em Grego: sustolÆ [systolê: su(n) + stolÆ] = reunião, movimento de contracção, de afluxo, de fechamento sobre si próprio, concentração, retorno, regresso…

sust°llv [systéllo: su(n) + st°llv] = reunir, contrair, congregar…

sun [sun] ou jun [ksun]: ± equivalente ao latim cum [= com], indicando: conjunto, conjunção, companhia, combinatória, reunião, afluxo, concentração…

st°llv: abastecer, aprovisionar com víveres para a viagem, equipar, preparar, armar...

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diá stol e (stol- : raiz no grau “o”)

Em Grego: diastolÆ [diastolê: dia + stolÆ] !afastamento, dispersão, disseminação, distensão, expansão, dilatação…

diast°llv (diastéllo: [dia + st°llv]) afastar, distender, expandir, dilatar, separar…

dia [dia]: ao longo de, por, através de, por causa de (sugere as ideias de separação, mediação, distribuição, dispersão, descompressão, expansão…).

st°llv: abastecer, aprovisionar com víveres para a viagem, equipar, preparar, armar...

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apó stol o (stol- : raiz no grau “o”)

Em Grego:

épÒstolow [apóstolos: épo + stolow] = enviado para longe, legado, mensageiro, emissário, apóstolo; e, também, barco de transporte de mercadorias, expedição naval... !

épot°llv [apostéllo: épo + st°llv]= enviar, expedir, mandar para longe…

épÒ [apo]: ± equivalente ao latim ab, indicando o ponto a partir do qual, a origem... e sugerindo movimentação para fora de, afastamento, separação…

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epí stol a (stol- : raiz no grau “o”)

Em Grego:

§pistolÆ [epistolê]: mensagem, ordem, aviso, carta, epístola…

§pist°llv [epistello]: enviar, mandar, ordenar, enviar carta ou mensagem…

§p¤ [epí]: sobre, acerca de, em cima de, à superfície de, na direcção de…

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e stol a (stol- : raiz no grau “o”)

Em Grego:

stolÆ [stolê] (> estola, por via do latim stola, -ae, com prótese do «e» antes do grupo consonântico inicial “st”, na evolução para português: e + stola): túnica, indumento, equipamento, acessório paramental, estola (símbolo da inocência e da legitimação apostólica)…

st°llv: abastecer, aprovisionar com víveres para a viagem, equipar, preparar, armar...

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e stel a (stel- : raiz no grau “e”)

Em Grego:

stÆlh [stéle] (> estela, por via do latim stela, -ae, com prótese do «e» antes do grupo consonântico inicial “st”, na evolução para português: e + stela): estela, monumento sepulcral e/ou comemorativo, coluna, pilar, marco…

st°llv: abastecer, aprovisionar com víveres para a viagem, equipar, preparar, armar...

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in stal ar (stl- > stal-: raiz no grau “zero” em que a soante l

gera um a breve e permanece: al )

Em Latim (medieval):

installo, -as, -are… (< de stallum, relac. com o frâncico *stal [= posição, “estatuto”]) = instalar (por via do francês installer, com a raiz no grau zero — stl- > stal- —, tal como acontece com peristáltico, peristaltismo, sistáltico, pedestal…): pôr, posicionar e implantar com os devidos preparativos, meios e condições, por forma a desenvolver-se vitalmente e de modo adequado e, portanto, a não se deixar cristalizar…

NOTA: Assim e em bom rigor, a «comissão instaladora» de uma organização recém-criada tem como missão primordial organizar e apetrechar adequadamente o “navio” para a viagem do que vai ser o seu desempenho ao serviço da comunidade social em que se integra...

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Raiz: stel- / stl- [> stal-]- / stol- família lexical:

apostolado, apostolar, apostólico, apóstolo, diástole, diastólico, epístola, epistolar, epistolário, epistolografia, epistológrafo, estela, estola, estolão, estolidez, estólido, estultice, estultícia, estultície, estultificação, estultificante, estultificar, estultilóquio, estulto, instalação, instalado, instalador, instalar, pedestal, peristáltico, peristaltismo, sistáltico, sistolar, sístole, sistólico…

Obs. 1. De notar que é “estulto” [lat.: stultus = insensato, estúpido, imbecil…] quem, sob o peso “bruto” dos apetrechos e dos preparativos, perdeu a plasticidade e educabilidade e se deixou “cristalizar”; quem não é capaz de tirar partido das condições e possibilidades da “instalação” e “empossamento” num cargo e se acomodou e petrificou, estupidificando-se e não mais se desenvolvendo…

Obs. 2. Por outro lado, o apóstolo é o mensageiro que foi preparado e apetrechado para viajar para longe (apo-) e ser portador de uma mensagem para a qual está legitimado: por isso, pode usar a «estola» como paramento simbólico dessa legitimação.

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simpático

Raiz: kwent(h)- / kwnt(h)- > path- / pati- / pass-

com as variantes pass- /pac- / paix- / pati- / pato- , suscitadora da ideia geral de “sofrer, suportar, padecer...”, ideia que funciona como uma espécie de “ADN semântico”

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I. Inventário lexemático

a) lexemas de proveniência latina (*):

apaixonar[-se] apassivante apassivar compaixão compassividade compassivo compatibilidade compatível impacientar[-se] impaciente impassibilidade impassível incompatível paciente paixão passa (s. f.) passibilidade passiflora passiflorácea passional passionalidade passionário passiva passivamente passível passividade passivo passo (adj.) patível…

(*) Relacionáveis com o verbo patior, -eris, pati, passus sum [= padecer, sofrer, suportar...] e com outros lexemas da mesma família etimológica [passio, -onis, passus, passibilis, patientia, compatibilis, compassio..., etc.]):

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b) lexemas de proveniência grega1

alopatia alopático antipatia antipático antipatizar apatia apático cardiopatia empatia empático encefalopatia frenopatia hemopatia homeopata homeopatia homeopático patético patetismo patobiologia patofobia patoforese patogenesia patogenia patogénico patognomonia patognóstico patografia patólise patologia patológico patólogo patomania patometabolismo patomímia patonomia patopeia patopoiese psicopatia simpatia simpático simpatizar telepatia…

1 Relacionáveis com o verbo pãsxv [pascho] [= receber uma impressão ou uma sensação, sofrer um tratamento bom ou mau] e com outros lexemas da mesma família etimológica: pãyow [pathos], sumpãyeia [sympátheia], épãyeia [apátheia], §mpãyeia [empátheia], payhtikÒw [pathetikós]...

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Pódio lexical sim pát ico

alopatia alopático antipatia antipático antipatizar apatia apático

cardiopatia empatia empático encefalopatia frenopatia hemopatia homeopata homeopatia homeopático patético patetismo patobiologia patofobia patoforese patogenesia patogenia patogénico

patognomonia patognóstico patografia patólise patologia patológico patólogo patomania patometabolismo patomímia patonomia patopeia patopoiese psicopatia

simpatético simpatia sim pát ico simpatizar telepatia…

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Sistema nervoso vegetativo (autónomo) e seus subsistemas:

1. simpático 2. parassimpático O sistema nervoso vegetativo (também dito autónomo), exerce a sua influência, essencialmente, sobre os órgãos internos: aparelho digestivo, respiratório, excretor, reprodutor, circulatório e glândulas de secreção interna, ou seja, sobre todos os sistemas que realizam as funções vegetativas do organismo, o metabolismo, o crescimento e a reprodução. Considerando a disposição dos seus núcleos constitutivos e o tipo de influência por si exercida, o sistema vegetativo divide-se em dois subsistemas:

1. o simpático; 2. o parassimpático.

Para uma caracterização bastante clara e acessível do sistema nervoso vegetativo e de seus dois subsistemas, ver L. Gavrilov e v. Tatarinov: Anatomia Humana, Moscovo, Editora MIR, 1988, 319-338; e também António Damásio: a) O Erro de Descartes — Emoção, Razão e Cérebro Humano, Lisboa, Publicações Europa-América, 1995, 108- 195; b) O Sentimento de Si — O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência, Lisboa, Publicações Europa-América, 2001, 60, 70, 182, 296, 297, 300.

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Pietá

Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado, Da pedra e da tristeza, no teu canto, Comigo ao colo, morto e nu, gelado, Embrulhado nas dobras do teu manto.

Sobre o golpe sem fundo do meu lado Ia caindo o rio do teu pranto; E o meu corpo pasmava, amortalhado, De um rio amargo que adoçava tanto.

Depois, a noite de uma outra vida Veio descendo lenta, apetecida Pela terra-polar de que me fiz;

Mas o teu pranto, pela noite além, Seiva do mundo, ia caindo, Mãe, Na sepultura fria da raiz.

Miguel Torga, Poesia Completa [Diário I], Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000, p. 117

70 Escutar, em simultâneo, de J. S. Bach: Matthaus-Passion (St Matthew Passion) BWV 244 /Bostridge * Selig * Rubens * Scholl * Gura * Henschel * Collegium Vocale * Herreweghe (+CD-Rom).

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a “tensão” no

«Teorema de Pitágoras»...

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Teorema de Pitágoras «Num triângulo rectângulo, o quadrado da hipotenusa

é igual à soma do quadrado dos catetos».

Euclides: Livro I dos Elementos, proposição 47.

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Do significado do lexema

‘hipotenusa’

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Em Latim:

tendo, -is, -ere, tetendi, tentum / tensum1: tender, estender [extender], ganhar extensão, estirar, esticar, afinar [as cordas da harpa, da lira, da cítara…], dirigir(-se) para, encaminhar-se, inclinar-se para, aspirar a, esforçar-se por, empenhar-se…

teneo, -es, -ere, tenui, tentum: ter, acolher, manter(-se), continuar, conter, reter, suster, sustentar, lograr, conseguir, apoderar-se de, ter em seu poder, ter na mente, conhecer, saber, ter um rumo, ter ideias próprias, ter convicções…

1 Nota: o supino tensum formou-se por analogia com pransum (de prandeo) e tonsum (de tondeo); e, embora mais tardio porque posterior a tentum, acabou por prevalecer sobre este. Cf. Andrew L. Sihler: New Comparative Grammar of Greek and Latin, New York / Oxford, Oxford University Press, 1995, § 212 d, 203.

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entonar, entono, entretém, entretenga, entretenimento, entreter, entretimento, entretenga, entretenimento, entreter, entretimento, epítase, estendal, estendedouro, estender, estenderete, estendível, extensão, extensível, extensivo, extenso, extensor, extenuante, extenuar, hipertensão, hipertensivo, hipertenso, hipertonia, hipertónico, hipotensão, hipotenso, hipotensor, hipotenusa, hipotonia, hipotónico, intenção, intencional, intendência, intendente, intender, intensão, intensidade, intensificação, intensificar, intensivo, intenso, intentar, intento, intentona, mantença, manter, manutenção, manutenir, manutenível, monotonia, monótono, neotenia, obtenção, obtenível, obtentor, obter, ostender, ostensão, ostensível, ostensivo, ostensor, ostensório, ostentação, ostentar, ostentativo, ostentoso, oxitonizar, oxítono, paroxítono, parassimpaticotonia, peritoneal, peritoneu, peritónio, peritonite, pertença, pertence(s) pertencente, pertencer, pertinácia, pertinaz, pertinência, pertinente, politonal, politonalidade...

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portento, portentoso, pretendente, pretender, pretendida, pretensão, pretensiosismo, pretensioso, pretenso, pretensor, proparoxítono, prótase, protático, protender, protendido, protensão, rédea (lat.: retina), renda, render, retém, retenção, retentiva, retentivo, retentor, retentriz, reter, retesador, retesamento, retesar, reteso, retináculo, retinência, retinente, simpaticotonia, sintonia, sintónico, sintonizar, subentendido, subentender, superintendente, superintendência, superintender, sustentação, sustentáculo, sustentador, sustentar, sustentável, sustento, suster, sustimento, sustenido, sustimento, telangiectasia, tenacidade, tenáculo, tenaz, tença, tenção, tencionar, tenda, tendal, tendão, tendedeira, tendedura, tendeiro, tendência, tendencioso, tendente, tender, tendido...

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tendilha, tendilhão, tendinite, tendinoso, tenência, tenente, tenesmo, tenesmódico, ténia, teníase, tenífugo, teniobrânquio, tenióide, tenopatia, tenor, tenorino, tenotomia, tenótomo, tenro, tensa, tensão, tênsil, tensímetro, tensioactivo, tensivo, tenso, tensor, tensorial, tenta, tentacular, tentáculo, tentação, tentadiço, tentador, tentame, tentar, tentativa, tentear, tenteio, tento, ténue, teor, ter, terno, ternura, tetania, tetânico, tetanizar, tétano, toada, toadilha, toante, toar, tom, tonal, tonalidade, tonante, tonar, tonário, tonia, tonicidade, tónico, tonificante, tonificar, tonilho, tonismo, tonitruante, tonitruar, tono, tonometria, tonómetro, tonos, tónus, tonotecnia, vagotonia…

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a hipotenusa e a harpa

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Música

Poderei

com esta harpa de cordas tensas, com as pérolas

deste colar de sons e mágoa,

tocar o teu ouvido ou a tua alma,

poderei chegar sem que o vento me anuncie

mais perto dessa cama que nunca foi o céu ou

a terra ou o mar onde,

impiedosa,

não se abrisse a tempestade?

(…)

José Agostinho Baptista: Biografia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, 575 84

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a tensão, o arco e a corda…

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O Arco de Ulisses

Assim falavam os pretendentes; mas o astucioso Ulisses,

após ter levantado o grande arco e de o ter examinado,

tal como um homem conhecedor da lira e do canto

facilmente estica uma corda a partir de uma cravelha nova,

atando bem a tripa torcida de ovelha de um lado e de outro —

assim sem qualquer esforço Ulisses armou o grande arco.

Pegando nele com a mão direita, experimentou a corda,

que logo cantou com belo som, como se fosse uma andorinha.

Homero: Odisseia, C. XXI, vv. 404-411 (tradução de Frederico Lourenço, Lisboa, Livros Cotovia, 2003, 350).

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Do significado do lexema

“cateto”

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LINGUAGEM MÉDICA  (cf. : http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/cateter.htm)

CATETER ou CATÉTER?... (1)

       

Muito se tem polemizado sobre a pronúncia da palavra cateter. Ca-té-ter ou ca-te-tér? E, no caso da forma paroxítona, como seria o plural? Catéteres ou cateteres?  A palavra cateter já existia em grego, com acento na última sílaba — kathetér — e com o significado de algo que se introduz. Hipócrates usou-a com o sentido de pessário[1] (= tampão vaginal) e Galeno para designar instrumentos metálicos usados para esvaziar a bexiga[2]. O facto de o acento tónico recair na última sílaba, em grego, tem servido de argumento aos que defendem a forma oxítona em português. Do grego, a palavra passou para o latim, com recuo da sílaba tónica.                 1 Um contributo de Joffre M. de Rezende apud: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/cateter.htm

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«No que toca aos vocábulos de procedência grega, discutem muitas vezes os mais doutos. Nasce a divergência, em muitos casos, de ser tomada como padrão ora a acentuação grega, ora a latina», diz o filólogo Machado Filho[3]. Catéter é um exemplo típico dessa dificuldade.  O latim foi usado até ao século XVIII nos escritos médicos e, desse modo, muitos termos gregos sofreram alteração prosódica ao serem a ele incorporados. É compreensível, portanto, que a acentuação latina tenha predominado nas palavras que transitaram pelo latim, ao contrário daquelas de formação erudita, oriundas directamente do grego, que conservaram, de um modo geral, o acento tónico original. As opiniões, no entanto, são discordantes. Ramiz Galvão assim se refere ao acento tónico da palavra cateter: «Os dicionários acentuam cathéter; mas, sendo este uso geral entre os cientistas, e contrariando tal prosódia abertamente a quantidade da raiz, deve ser preferido cathetér, como se proviesse regularmente pelo acusativo latino — catheterem — tal como clister». «Os substantivos portugueses de origem erudita terminados em er e derivados de substantivos gregos com a terminação ér, êros (excepção feita de charácter) são oxítonos como clister, alter, masseter, ureter, etc."[4].

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Cândido de Figueiredo, a propósito de cateter e outros vocábulos de origem grega, terminados em er, justifica a forma paroxítona lembrando que «a prosódia não nos veio da Grécia; veio de Roma»... «em latim não há palavras oxítonas, à parte os monossílabos»[5.] Recomenda, no entanto, para o plural, o acento tónico na penúltima sílaba, que está de acordo com a prosódia grega e latina: cateteres, ureteres, caracteres, etc. Havendo disputa entre os doutos, manda o bom senso acolher a interpretação que mais se aproxima do uso e da tradição. O que é preciso é abandonar o farisaísmo de pronunciar uma palavra de um modo e escrever de outro, simplesmente por respeito ao que está no dicionário, esse bicho-papão de todos nós. A meu ver, tanto neste caso como em outros semelhantes, o uso deve prevalecer. Fiquemos, pois, com as formas catéter e catéteres, à semelhança do espanhol, e passemos a usá-las na linguagem escrita com acento bem visível na segunda sílaba. A mesma lição nos dá Mendes de Almeida: «A palavra catéter é grega, mas o latim obriga-nos a dizer catéter no singular e catetéres no plural»[6]. No caso de éter explica o plural éteres (proparoxítono) por ser breve a última sílaba em grego, representada pela letra épsilon e não pela letra eta como no caso de catéter.

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Plácido Barbosa[7], além de advogar a acentuação latina — catéter — aceita o plural catéteres, sem o deslocamento da sílaba tónica, por ser a forma mais usual. Os dicionários mais antigos da língua portuguesa registam catéter (Constancio[8], Faria[9], Lacerda[10], Adolfo Coelho[11]), enquanto os léxicos mais modernos adoptam a forma oxítona (Laudelino Freire[12], Nascentes[13], Silveira Bueno[14], Aurélio Ferreira[15]), assim como o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras[16]. Entre os dicionários especializados em terminologia médica, Mário Rangel[18] e Rey[17] optaram por catéter; Pedro Pinto[19] e Paciornik[20] por cateter (tér). Estamos, assim, diante de um impasse do ponto de vista linguístico. Na literatura médica brasileira, especialmente na referente à comunicação oral em Congressos e reuniões científicas, bem como na linguagem coloquial dos médicos, a forma usual é catéter no singular e catéteres no plural.

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Referências bibliográficas (respeitantes à polémica

«CATETER / CATÉTER»)

1. LIDDELL, H., SCOTT, -: A greek-english lexicon, 9.ed., Oxford, Claredon Press, 1983. 2. GALENO: Oeuvres anatomiques, physiologiques et médicales. Trad. Ch. Daremberg. Paris, Baillière, 1854, p.682, 3. MACHADO FILHO, A.M.- Coleção "Escrever Certo", 2.ed. (6 vol.). São Paulo, Boa Leitura Ed., 1966, p. 69 4. GALVÃO, B.F.R.- Vocabulário etymologico, ortographico e prosodico das palavras portuguesas derivadas da língua grega. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1909. 5. FIGUEIREDO, C.- Vícios da linguagem médica, 2.ed. Lisboa, Liv. Clássica Ed., 1922, p. 225 6. ALMEIDA, N.M.- Dicionário de questões vernáculas. São Paulo, Ed. "Caminho Suave" Ltda., 1981. 7. BARBOSA, P.- Dicionário de terminologia médica portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917. 8. CONSTANCIO, F.S.- Novo dicionário crítico e etimológico da língua portuguesa, 3.ed. Paris, Angelo Francisco Carneiro, 1845. 9. FARIA, E.- Novo dicionário da língua portuguesa, 2 ed. Lisboa, Typographia Lisbonense, 1856. 10. LACERDA, J.M.A.A.C.- Dicionário enciclopédico ou Novo dicionário da língua portuguesa. Lisboa, F. Arthur da Silva, 1874. 11. COELHO, F.A.- Dicionário manual etimológico da língua portuguesa. Lisboa, P. Plantier Ed., 1890. 12. FREIRE, L.- Grande e novíssimo dicionário da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, José Olympio Ed., 1957. 13. NASCENTES, A.-: Dicionário da língua portuguesa. Academia Brasileira de Letras, 1961-1967. 14. BUENO, F.S.- Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa. São Paulo, Ed. Saraiva, 1963. 15. FERREIRA, A.B.H.- Novo dicionário da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999. 16. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1999. 17. RANGEL, M.- Dicionário médico. Rio de Janeiro, Irmãos Di Giorgio & Cia., 1951. 18. REY, L.- Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A., 1999. 19. PINTO, P.A.: Dicionário de termos médicos, 8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962. 20. PACIORNIK, R.- Dicionário médico, 2.ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1975.   Adaptado do livro Linguagem médica, 2.ed., com autorização da editora CEGRAF, da Universidade Federal de Goiás. Actualizado em 26/08/2002 Autor: Joffre M. de Rezende e-mail: [email protected] http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende 96

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Comunicação apresentada ao II Congresso de Língua Portuguesa

Campus Universitário do Instituto Piaget de Almada,

dias 26 e 27 de Novembro de 2010.

Fernando Paulo Baptista

(da «INTERUNIVERSITAS — WEB-ACADEMIA para o diálogo interdisciplinar entre as Humanidades, as Belas Letras, as Belas Artes, a Ciência, a Técnica e a Tecnologia»;

e da «ACADEMIA HENRIQUE — O NAVEGADOR»)

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