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INTRODUÇÃO O termo “savana” é derivado de uma palavra ameríndia, e foi expresso pela primeira vez em 1535 quando Gonzalo Fernandes de Oviedo y Valdez, Governador da Antigua Espanhola, com base em Santo Domingo, o usou para descrever uma paisagem ... sem árvores mas com muita erva alta e baixa ...” (Oviedo y Valdez, 1535; Beard, 1953; Cole, 1960; Brasil, 1975). Este termo pode ser aplicado de forma geral em diversas fisionomias de vegetação aberta (Eiten, 1982; 1986). Entretanto, nas regiões sudeste, central e nordeste do Brasil ele é substituído por “cerrado”, um termo brasileiro que determina uma grande província florística (Bioma) estabelecida em cerca de 2,0 x 10 6 km 2 do território nacional (Goodland, 1971; Eiten, 1977; Ribeiro & Walter, 1998; WWF, 2000). O Bioma do Cerrado brasileiro engloba não só sistemas de baixa densidade arbórea (não-florestal) como também florestais (ilhas de mata, florestas de galeria e cerradão), formando um grande mosaico de ecossistemas. Em Roraima, as áreas de savanas, também se apresentam em forma de mosaico. As formações não-florestais são comumente denominadas por “lavrado”, um termo muito comum entre os habitantes locais e que vem sendo utilizado com mais freqüência desde o início dos anos 1900 (Pereira, 1917; Vanzolini & Carvalho, 1991; Capítulos 1 e 2). Portanto, no âmbito regional, os termos savana, cerrado e lavrado identificam o mesmo tipo paisagístico em Roraima, e poderiam ser integrados no Bioma do Cerrado brasileiro. Entretanto, por definição fitogeográfica, toda esta paisagem faz parte da ecorregião das “Savanas das Guianas” que pertence ao Bioma Amazônia (Ferreira, 2001; Capobianco et al., 2001). Esta diferenciação é importante porque, embora ambos possuam a mesma aparência e estrutura física, existem especificidades ecológicas e florísticas que distinguem as savanas do extremo norte amazônico dos cerrados situados em outras regiões do país. Estudos de grande escala baseados em inventários fitofisionômicos realizados em diferentes áreas de savanas brasileiras, têm apontado uma distância florística das localizadas na Amazônia em relação às do Brasil Central (Ratter & Dargie, 1992; Ratter 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Rua Coronel Pinto 315 – Centro, 69301-970 Boa Vista – Roraima, [email protected] 2 Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) Av. Tancredo Neves, 2501, Caixa Postal 917, 66077-530 Belém – Pará,[email protected] 61 SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris Barbosa R. I., Xaud H. A. M., Costa e Souza J. M. FEMACT - 2004 FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA Reinaldo Imbrozio Barbosa 1 Izildinha de Souza Miranda 2

Barbosa; Miranda, 2005

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  • INTRODUO

    O termo savana derivado de uma palavra amerndia, e foi expresso pelaprimeira vez em 1535 quando Gonzalo Fernandes de Oviedo y Valdez, Governador daAntigua Espanhola, com base em Santo Domingo, o usou para descrever uma paisagem... sem rvores mas com muita erva alta e baixa ... (Oviedo y Valdez, 1535; Beard,1953; Cole, 1960; Brasil, 1975). Este termo pode ser aplicado de forma geral emdiversas fisionomias de vegetao aberta (Eiten, 1982; 1986). Entretanto, nas regiessudeste, central e nordeste do Brasil ele substitudo por cerrado, um termo brasileiroque determina uma grande provncia florstica (Bioma) estabelecida em cerca de 2,0 x106 km2 do territrio nacional (Goodland, 1971; Eiten, 1977; Ribeiro & Walter, 1998;WWF, 2000). O Bioma do Cerrado brasileiro engloba no s sistemas de baixa densidadearbrea (no-florestal) como tambm florestais (ilhas de mata, florestas de galeria ecerrado), formando um grande mosaico de ecossistemas. Em Roraima, as reas desavanas, tambm se apresentam em forma de mosaico. As formaes no-florestaisso comumente denominadas por lavrado, um termo muito comum entre os habitanteslocais e que vem sendo utilizado com mais freqncia desde o incio dos anos 1900(Pereira, 1917; Vanzolini & Carvalho, 1991; Captulos 1 e 2). Portanto, no mbito regional,os termos savana, cerrado e lavrado identificam o mesmo tipo paisagstico em Roraima,e poderiam ser integrados no Bioma do Cerrado brasileiro. Entretanto, por definiofitogeogrfica, toda esta paisagem faz parte da ecorregio das Savanas das Guianasque pertence ao Bioma Amaznia (Ferreira, 2001; Capobianco et al., 2001). Estadiferenciao importante porque, embora ambos possuam a mesma aparncia eestrutura fsica, existem especificidades ecolgicas e florsticas que distinguem as savanasdo extremo norte amaznico dos cerrados situados em outras regies do pas.

    Estudos de grande escala baseados em inventrios fitofisionmicos realizadosem diferentes reas de savanas brasileiras, tm apontado uma distncia florstica daslocalizadas na Amaznia em relao s do Brasil Central (Ratter & Dargie, 1992; Ratter1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA), Rua Coronel Pinto 315 Centro, 69301-970 Boa Vista Roraima, [email protected] Universidade Federal Rural da Amaznia (UFRA) Av. Tancredo Neves, 2501, Caixa Postal 917, 66077-530 Belm Par,[email protected]

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    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades AgrossilvipastorisBarbosa R. I., Xaud H. A. M., Costa e Souza J. M.

    FEMACT - 2004

    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADEVEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

    Reinaldo Imbrozio Barbosa 1

    Izildinha de Souza Miranda 2

  • et al., 1996; Oliveira-Filho & Ratter, 2002; Bridgewater et al., 2003), com especial destaquepara a rea isolada de Roraima (Sanaiotti, 1996; 2003). Este distanciamento florsticotem sido justificado pelo fato das savanas do extremo norte amaznico serem pontosisolados e pobres em espcies vegetais arbreas em relao aos stios localizados noBrasil Central. A descontinuidade geogrfica com o Planalto Central Brasileiro e suaposio limtrofe ao Escudo das Guianas, so fontes de variabilidade nos fatores quedeterminaram a diversidade florstica, e a manuteno deste tipo de ambiente como porexemplo, latitude, fertilidade do solo, relevo, clima, etc.

    Mesmo avanando muito nos ltimos anos com os trabalhos de Dantas &Rodrigues (1982), Sette Silva (1993; 1997), Sanaiotti (1996), Miranda (1998), Miranda& Absy (1997; 2000), Barbosa (2001) e Miranda et al. (2003), ainda h lacunas aserem cobertas para melhorar a compreenso das fitofisionomias das savanas de Roraima.Sua caracterizao estrutural, dinmica ecolgica e reconhecimento da biodiversidadecolaboram no entendimento das diferenas ou similaridades existentes entre os grandessistemas abertos sul-americanos. Alm disto, um avano na determinao daspotencialidades naturais destes ecossistemas, no sentido de implementar polticas pblicasde gesto ambiental que se traduzam em realidades regionais.

    No sentido de apresentar e debater os avanos cientficos em torno dacaracterizao das fisionomias de savana em Roraima, ser apresentada uma sriehistrica dos inventrios botnicos (diversidade vegetal) e fitossociolgicos destesambientes regionais. Como apoio s discusses, todos os ecossistemas serocaracterizados a partir de uma comparao entre dois sistemas de classificao: (1)o brasileiro, estabelecido pelo IBGE (1992) a partir de uma sntese do ProjetoRADAMBRASIL (Veloso & Ges-Filho, 1982) e, (2) o implementado para osecossistemas terrestres do Bioma Cerrado, definido por Ribeiro & Walter (1998).Este ltimo um avano nas descries paisagsticas, sendo calcado em uma chavedicotmica que leva em considerao vrios parmetros como tipo de formao(florestal; no-florestal), relevo, nvel de lenol fretico, cobertura de copa, etc.Associaes com a investigao de Miranda (1998) e suas derivaes (Miranda &Absy, 1997; 2000; Miranda et al., 2003), so obrigatrias no aprofundamento dasdiscusses sobre as fitofisionomias das savanas de Roraima. Os trabalhos de Mirandaforam elaborados levando em considerao a classificao das savanas neotropicaisapresentada por Sarmiento (1984), com base nos sistemas abertos da Venezuela;ambientes mais prximos da realidade local.

    BASE HISTRICA DOS INVENTRIOS

    Os inventrios botnicos e as descries da paisagem de savanas em Roraimatm seu incio registrado ao final do sculo XVIII quando da passagem do naturalistabrasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, pelo rio Negro e seus afluentes, na chamadaViagem Filosfica (Ferreira, 1786). Financiado pela Coroa Portuguesa, Ferreira visavafazer um levantamento dos diferentes aspectos regionais no sentido de estabelecer

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    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

  • vnculos de conhecimento e posse destas terras ao norte do rio Amazonas (Barbosa &Ferreira, 1997; ver Captulos 1 e 2). Neste perodo, embora as reas de florestaimpressionassem os exploradores e naturalistas que adentravam pelo rio Branco, o quemais chamava a ateno era o grande bloco de vegetao aberta que se iniciavaprximo da boca do rio Mucaja, se estendendo at as reas serranas estabelecidasmais ao norte, fronteira com as terras espanholas e holandesas.

    De Ferreira at os dias atuais, as incurses que mais se destacaram com afinalidade de coleta de material botnico e identificao da diversidade vegetal noque hoje definido como as savanas de Roraima, foram elencadas dentro dos trabalhosde Ldio Coradin (Coradin, 1978) e Edileuza Lopes Sette Silva (Sette Silva, 1993;1997). Neste universo, as principais colees podem ser apresentadas, a comear,pelos irmos Robert e Richard Schomburgk, dois alemes financiados pela CoroaInglesa que percorreram o rio Branco e as regies fronteirias da Guiana (rios Mau eTacutu) e Venezuela (Monte Roraima e rios Cotingo e Surumu) entre 1835-42. Obotnico alemo Ernest Heinrich George Ule, do Jardim Botnico de Berlim, seguiuentre 1908-09 pelo rio Branco e localidades prximas das serras Grande, de Mucaja,do Murupu e do Mel, alcanando o Monte Roraima (Ule, 1913; 1915). Embora fizessedescries gerais sobre o ambiente percorrido, Ule se deteve com mais detalhes nasplantas do estrato herbceo (principalmente gramneas) e naquelas do hbito alimentardas populaes indgenas locais. Joo Geraldo Kuhlmann, botnico da Comisso deDefesa da Borracha, realizou algumas coletas nas reas de savana do rio Brancoentre 1912-13, tendo como base a pequena cidade de Boa Vista.

    Na dcada de 1920, destacam-se os botnicos que integravam as expediesdo General Rondon, em especial Philip Freiherr von Luetzelburg. Adiante, AdolphDucke realizou uma srie de colees na dcada de 1930 e incio dos anos 1940, damesma forma que George Alexandre Black, Basset Maguire, A. Aubrville e WilliamRodrigues na dcada de 1950, todos em proximidades de Boa Vista e localidadesadjacentes. Neste perodo importante ressaltar o trabalho de W. Rodrigues que,com parte do material coletado no rio Branco e em proximidades de Manaus iniciouo Herbrio do INPA (Sette Silva, 1993). Alm disto, Rodrigues tambm publicou aprimeira lista de plantas do ento Territrio do Rio Branco (Rodrigues, 1958). Outrofato de destaque foi a presena constante de Dorval de Magalhes, agrnomo nascidoem Roraima, em vrias destas excurses, em especial na de Black (Coradin, 1978).

    Embora as savanas de Roraima e as paisagens do complexo rio Branco-Rupununij fizessem parte de diversas discusses cientficas por autores do incio e meados dosanos 1900 (p. ex. Myers, 1936 e Beard, 1953), apenas em Takeuchi (1960) foramrealizadas descries e uma tentativa de classificao estrutural. Takeuchi observouduas localidades e relacionou dois ambientes destas reas (campo limpo e campocerrado) com suas respectivas espcies dos estratos arbreo e herbceo. As principaisforam Byrsonima verbascifolia (L.) DC. (orelha-de-burro) sempre associada ao campolimpo e, Curatella americana L. (caimb) e Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K. (mirixi oumurici) ao campo cerrado. Fechando a dcada de 1960, Enrique Forero e Ghillean

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    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

  • Prance do Kew Garden, dentro do projeto Plants of Brazilian Amazonia, realizaramdiferentes colees em ecossistemas de altitude (Tepequm, Surucucus e Auaris), florestas-de-galeria dos rios Uraricoera, Mucaja e Apia, e nas reas de savanas prximas deBoa Vista.

    Os levantamentos dos anos 70 e 80 se direcionaram em tentativas para responderquestes mais especficas associados fitogeografia. Por vezes isto foi feito dentro deprojetos de porte nacional e de grande envergadura, como o caso do Projeto RADAM,transformado mais tarde em RADAMBRASIL. Este projeto realizou uma srie de inventriosquantitativos e qualitativos no incio da dcada de 1970, visando uma integrao epadronizao das informaes dos recursos naturais por todo o territrio nacional. Paraas savanas de Roraima, o volume 8 (Brasil, 1975) o de maior interesse, embora todoo Estado seja coberto por mais trs volumes (9, 11 e 18 da coleo). Importanteressaltar que parte do trabalho de levantamento botnico do RADAMBRASIL em Roraima(1974), foi supervisionada por Joo Mura Pires em uma parceria do Museu ParaenseEmlio Goeldi com o ento IAN (Instituto Agronmico do Norte), precursor da atualEmbrapa Amaznia Oriental. Em 1977, Ldio Coradin implementou um inventrio dasgramneas (Poaceae) e leguminosas (herbceas e arbreo-arbustivas) das savanascom o objetivo de reconhecer o potencial forrageiro das reas abertas de Roraima.Coradin (1978) identificou 102 espcies de Poaceae, 18 de Caesalpinaceae, 30 deFabaceae e 7 de Mimosaceae.

    Ao incio dos anos 1980, Dantas & Rodrigues (1982) realizaram o primeiro estudofitoecolgico baseado na classificao de savanas adotada pelo Projeto RADAMBRASIL.Os autores aproveitaram cinco reas distribudas pelas savanas locais, determinando 33espcies de Gramineae (Poaceae), 15 de Cyperaceae e 190 de outros gnerosfanerogmicos. Esses autores concluram que havia apenas dois tipos de vegetao:campos do Rio Branco e mata serrana, em funo de uma anlise de similaridadeentre os stios estudados. Na seqncia, o Projeto Lavrado, articulado pelo MuseuIntegrado de Roraima (MIRR) em 1985, possua uma linha mestra voltada para aidentificao da diversidade vegetal deste ecossistema de Roraima. Neste mesmo anofoi inaugurado oficialmente o Herbrio do MIRR. O Projeto Flora Amaznica, um braode continuidade do trabalho de Prance dos anos 60, percorreu vrias localidades daAmaznia ao inicio dos anos 80 (1986 em Roraima) e visava ampliar o conhecimento daflora regional associada aos diferentes ecossistemas locais. O Projeto Marac, um projetode parceria entre o INPA e o Royal Geographic Society, realizado entre 1987-88 naEstao Ecolgica de Marac, abrangeu no s levantamentos em sistemas florestaiscomo tambm de savanas, incluindo algumas adjacentes Estao (Milliken & Ratter,1989; 1998).

    Ao incio dos anos 1990, Sette Silva (1993) estabeleceu uma discussofitofisionmica das reas de vegetao florestal existentes nas savanas prximas deBoa Vista. O estudo discutiu as tipologias baseadas nas definies do RADAMBRASIL,em coletas de material botnico e anlises de correspondncia entre os stiosestudados. Como resultado, Sette Silva determinou 188 espcies arbreas distribudas

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    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

  • em quatro categorias florestais: (i) floresta de galeria (Astrocarium jauari Mart., Mauritiaflexuosa L., Pouteria sp e Vismia spp), (ii) floresta sobre relevo crstico e dolinas (Bauhiniaspp, Licania discolor Pilg., Ocotea bracteosa Mez.), (iii) floresta sobre relevo crstico comelementos de mata galeria (Brosimum lactescens (Moore) C. C. Berg, Goupia glabraAubl., Tapirira guianensis Aubl.) e (iv) floresta sobre basalto (Casearia spp, Cordia goeldianaHuber, Peltogyne paniculata Benth.). A anlise da composio florstica do trabalho deSette Silva indicou semelhanas com os llanos venezuelanos e as savanas do Surinamee Guiana.

    Na seqncia, Sanaiotti (1996; 1997) realizou um estudo comparativo sobre adiversidade de espcies arbreas em diferentes blocos de savana por toda a Amaznia,incluindo as de Roraima em sua investigao. Para os quatro sistemas das savanasque Sanaiotti investigou em Roraima, foi constatado que as principais espcies arbreaseram Curatella americana L., Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K., Byrsonima coccolobifoliaKunth., Roupala montana Aubl. e Bowdichia vigilioides Kunth., com amplo destaquepara as trs primeiras.

    Miranda & Absy (1997; 2000), Miranda (1998) e Miranda et al. (2003) fizeramuma longa descrio sobre quatro tipos abertos da vegetao de savanas de Roraima,atravs de inventrio florstico e estrutural (campo limpo, campo sujo, savana parquee campo cerrado). Foram determinadas 382 espcies, sendo 113 de monocotilednease 269 de dicotiledneas. Deste total, 251 espcies eram herbceas, 66 arbreas, 38arbustivas e 14 subarbustivas. As principais espcies arbreas tambm foram C.americana L. e as Byrsonima spp. Especialmente nos trabalhos de 2000 e 2003, osautores mostraram que as fisionomias so caracterizadas por grupos diferentes deespcies e que esses grupos podem estar associados a diferentes caractersticasedficas como, por exemplo, o alto teor de alumnio no solo, caracterstico dos camposabertos dominados por Byrsonima verbascifolia (L.) DC. Vale ressaltar que esses trabalhosse destacam no apenas pelos seus dados florsticos e estruturais sobre as savanas deRoraima, mas principalmente por iniciar uma nova abordagem sobre essas savanas,tentando entender os fatores que determinam o mosaico vegetacional existente nestapaisagem amaznica.

    Por fim, Barbosa (2001) abordou os tipos paisagsticos abertos definidos peloRADAMBRASIL como formas estruturais diferenciadas pela biomassa total (arbrea+ herbcea) acima do solo. As tipologias Sg (savana gramneo-lenhosa), Sp (savanaparque) e Tp (savana estpica-parque) foram avaliadas, e observou-se que a biomassade C. americana L somada de B. crassifolia (L.) H.B.K. e B. coccolobifolia Kunth.representa mais de 90% do estrato arbreo quando os ecossistemas so conjugadosa partir de uma mdia ponderada pela rea de cada um. Este resultado apenasreflete as observaes dos trabalhos fitofisionmicos realizados nas savanas locais,inferindo uma grande importncia ecolgica, principalmente, para a espcie C.americana L.

    Embora com coletas em diferentes sistemas, todos os trabalhos acima citadosestabeleceram forte presena nas savanas regionais a partir da estrutura e apoio de

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    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

  • Boa Vista e localidades adjacentes. Boa parte da coleo de plantas realizada pelosbotnicos e fitossocilogos que adentraram nas savanas de Roraima pode ser facilmenteacessada nos Herbrios do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA - Manaus),do Museu Paraense Emlio Goeldi (MPEG Belm), da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuria (EMBRAPA Belm) e do Museu Integrado de Roraima (MIRR - BoaVista). Alm disto, herbrios como os do New York Botanic Garden (EUA) e os RoyalBotanic Gardens de Kew (Inglaterra) e de Edinburg (Esccia), tambm possuem umaampla coleo em seus acervos realizada atravs de expedies cientficas em parceriacom instituies nacionais. A maioria dos trabalhos citados tambm de fcil acesso,pois esto publicados em revistas e livros de livre domnio.

    CARACTERIZAO FISIOGRFICA DAS SAVANAS DE RORAIMA

    As savanas do norte de Roraima encontram-se sobre o Planalto do Amazonas-Orenoco (Savanas Estpicas) e sobre a Depresso da Amaznia Setentrional (Savanas).O planalto trata-se do grande divisor de guas das bacias hidrogrficas dos riosOrenoco e Amazonas, compartimentado por relevos tabulares, esculpidos em rochassedimentares do Grupo Roraima (Gatto, 1991). Estes ambientes localizam-se nosnveis inferiores desse planalto, em altitudes que variam entre 400 e 800m, numaextensa rea montanhosa, de origem Pr-cambriana pertencentes ao Grupo Roraima, Formao Surumu e ao Granodiorito Serra do Mel. Nessa rea, tambm se encontramdissecaes resultantes do encaixamento da rede de drenagem, principalmente ascolinas de topos convexos e vertentes de declive fraco, e cristas e pontes com vertentesde declive forte (Brasil, 1975).

    Na Depresso da Amaznia Setentrional, o relevo predominantementeaplainado, altitude entre 80 e 160 m, e foi elaborado sobre os sedimentos pleistocnicosda Formao Boa Vista, onde se pode encontrar diversos afloramentos de rochas,constituindo pequenos inselbergs que podem ter altitudes de 400 a 500 m. Apresentauma topografia de ondulaes pouco acentuada, regionalmente conhecida por teso(Brasil, 1975). Nessa regio a drenagem constituda por igaraps, em sua maioria,intermitentes, marcados por Mauritia flexuosa L. (que forma os buritizais), como nasveredas do Brasil Central (Pires & Prance, 1985). Tambm ocorrem pequenasdepresses formando lagos, em geral circulares, isolados ou parcialmente drenadospor igaraps.

    A regio do extremo norte de Roraima apresenta principalmente solos litlicosdistrficos e afloramentos rochosos, com ou sem areias quartzosas distrficas e lateritashidromrficas. Na regio da Formao Boa Vista encontram-se quatro principais tiposde solos. Entre o mdio rio Surumu e mdio rio Parim encontram-se solos de lateritahidromrfica distrfica associados a planassolo eutrfico e areias quartzosashidromficas distrficas e planassolo eutrfico. Na rea central encontram-se latossolosamarelo distrfico associados a areias quartzosas distrficas e laterita hidromrficadistrfica. Ao leste e sul das savanas, encontram-se latossolos vermelho amarelo

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    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

  • associados a solos concrecionados laterticos, latossolo vermelho escuro distrfico elaterita hidromrfica distrfica (Brasil, 1975). Para maiores detalhes sobre os solosdas savanas, remeter para Vale Junior & Sousa (Captulo 4).

    O clima tpico dessas savanas o tropical monnico do tipo Awi pela classificaode Kppen, com altas temperaturas mdias durante o ano e estao seca acentuadacom pico entre dezembro e maro. Levando em considerao os dados da EstaoMeteorolgica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) em Boa Vista, entre 1910e 2000, obtm-se a temperatura mdia (das mdias dirias) anual de 27,8oC (26,8-29,5oC), a umidade relativa de 73,8% (65,2-80,1%) e a precipitao de 1.634 mm(845-2.555 mm). A maior concentrao de chuvas nesta regio de Boa Vista entremaio e julho, com 55-60% do volume total anual (Barbosa, 1997). O regime sazonal deprecipitao que define as duas estaes climticas (seca e chuvosa), revelam umpadro inverso do que se verifica nas reas meridionais da Amaznia (Nimer, 1991).

    CLASSIFICAO DAS SAVANAS

    O volume 8 do Projeto RADAMBRASIL (Brasil, 1975) apresentou a maior seqnciade informaes agrupadas a cerca das savanas locais. Neste estudo, foram indicadasoito formaes vegetais de savanas para todo o Brasil, sendo sete delas firmementeocorrentes em Roraima4. Neste grande levantamento nacional, a equipe de vegetaoconsiderou o termo savana como sinnimo ecolgico de cerrado a ttulo de comparaoentre os demais sistemas de vegetao aberta brasileiros.

    No ANEXO h uma comparao dos tipos de vegetao (florestal e no-florestal)encontrados na paisagem de savana (cerrado) em Roraima, que foram descritos porMiranda & Absy (2000) e Sette Silva (1993), perante as classificaes propostas peloprojeto RADAMBRASIL, e que vem sendo utilizada em outras publicaes oficiais dogoverno brasileiro, como a do IBGE (1992). Esta comparao vem associada aos tipos devegetao dos cerrados do Planalto Central Brasileiro, descritos por Ribeiro & Walter (1998).A maioria das tipologias propostas por Brasil (1975) foram descritas para os cerrados doBrasil Central, mas pouco se sabe sobre as correlaes com os similares em Roraima.

    Em Brasil (1975) a separao dos sistemas de vegetao aberta de savana esavana estpica foi basicamente geogrfica, ficando a maior parte das savanasestpicas em reas de maior altitude, nas serras que limitam com Venezuela e Guiana.A maioria destas tipologias estpicas foi apresentada pelo Projeto RADAMBRASIL naforma de grandes mosaicos, no se estabelecendo limites fisionmicos efetivamentevisveis na escala de trabalho de campo.

    Miranda & Absy (2000) descreveram quatro tipos fisionmicos a partir de 45reas estudadas em Roraima, sua classificao fisionmica mostrou que as savanasestudadas em regies serranas no se diferenciaram de reas de savanas no-serranas.

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    4 Para os estudos do Projeto RADAMBRASIL, a tipologia Sd (Savana Arbrea Densa ou Florestada ou Cerrado) setornou um ecossistema de pouca expresso (ou mesmo inexistente) por causa da escala de trabalho - 1:250.000redesenhada em um mapa fitossociolgico de 1:1.000.000. Entretanto, estas formas existem em mosaicos, nasproximidades do contato da floresta com a savana, principalmente na parte oeste desta grande paisagem regional.

    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

  • Esse resultado tambm foi reforado por Miranda et al. (2003) que classificaram as 45reas em trs grupos florsticos e estruturais distintos. A vegetao de savana esavana estpica xeromrfica e forma um mosaico fisionmico que se distribui emdiferentes regies geogrficas. Entretanto pode haver uma relao geogrfica comcategorias vegetais superiores. Assim, possvel classific-las da seguinte forma:

    1. Savana

    So as unidades de vegetao situadas em todo o sistema geomorfolgicoda Formao Boa Vista e quase todo da Formao Surumu. Em sua parte mais ao sule central, toda esta vegetao de savanas caracterizada por formar um grandemosaico com lagos que abastecem pequenos cursos de gua por toda esta regio.No possui um limite bem definido, mas ao norte, faz divisa com o grande complexoda Serra da Memria e, ao sul, com a confluncia dos rios Mucaja e Branco. Possuiquatro divises:

    1.1 Savana Arbrea Densa (Sd) soos caimbezais situados quase queintegralmente na regio oeste do contatoda floresta com a savana. A altura mdiadas rvores estabelecida entre 6-8 mpodendo, contudo, serem encontradosindivduos de at 10m. A principal espciearbrea encontrada neste ecossistema a Curatella americana L. (caimb),segmentada por indivduos de Byrsonimaspp (mirixis ou muricis), Bowdichia virgilioidesKunth. (paricarana) e Himatanthus articulathus (Vahl.) Wood. (sucuba).

    1.2 Savana Arbrea Aberta (Sa) -localizada principalmente na bacia do baixorio Surumu, e em pontilhes esparsos portoda a zona de contato floresta-savana -caracteriza-se por rvores baixas (5 a 7m), bem espaadas. Suas espciesarbreo-arbustivas tpicas so Byrsonimacrassifolia (L.) H.B.K. Roupala montanaAubl., Randia formosa (Jack.) K. Schum.,C. americana L., Antonia ovata Pohl.,Casearia sylvestris Swartz., Erythroxylumsuberosum A. St. Hill., Godmania cf

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    Figura 1 - Savana arbrea densa (Sd)

    Figura 2 - Savana arbrea aberta (Sa)

    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

  • esculifolia H.B.K. Standl., Tocoyena formosa (Cham. & (Schltdl.) K. Schum. e Psidiumguianense Pers.

    1.3 Savana Parque (Sp) agrupam-se principalmente na regio centro e oestedas savanas, limite com a florestaestacional de transio. Entretanto,no so contnuas e podem serpercebidas facilmente em outrasreas. Caracter iza-se por umadistribuio agrupada dos elementoslenhosos, o que pode lhe conferir umafisionomia em moitas, apresentandouma elevada rea basal, densidade deindivduos e grau de cobertura. C.americana L. e as Byrsonima spp soas espcies caracterstica dessatipologia.

    1.4 Savana Graminosa ou Gramneo-lenhosa (Sg) - localizada ao longo de toda abacia do alto rio Branco, caracteriza-se pelos campos que se estendem pelas ondulaesdo pediplano de Boa Vista, entremeados de lagoas temporrias, s vezes permanentes,e densa rede de drenagem ladeada por veredas de buritis. Esses campos podem serdivididos em duas sub-unidades paisagsticas: (i) campo limpo caracterizado peladominncia do extrato graminoso e pela presena (ou no) da espcie sub-arbustivaByrsonima verbascifolia (L.) DC. (mirixi orelha-de-burro) e (ii) campo sujo ainda comforte presena do extrato graminoso, mas observada com maior densidade de espciesarbreo-arbustivas de pequeno porte, principalmente de Byrsonima cf intermedia A.Juss. e B. crassifolia (L.) H.B.K., alm raros indivduos de C. americana L.

    2. Savana Estpica

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    Figura 3 - Savana parque (Sp)

    Figura 4 Savana gramneo-lenhosa(Sg - campo limpo)

    Figura 5 Savana gramneo-lenhosa(Sg - campo sujo)

    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

  • Ocupa a rea dissecada do extremo norte brasileiro, situada entre a savana daplanura de acumulao do Graben do Takutu, ao sul, e o planalto florestado da Venezuela,ao norte. Seu limite oeste ntido e bem demarcado pela Floresta Densa Montana epelo campo cerrado da rea arentica muito dissecada. Seu limite leste impreciso,prolongando-se para a Guiana. Esse tipo vegetacional subdivide-se em quatro subtipos:

    2.1 Savana Estpica Arbrea Densa(Td) - localizada nas regies serranas,vales encaixados e encostas das rochasvulcnicas. Caracteriza-se por umavegetao arbrea decidual, comespcies dos gneros Aspidosperma,Tabebuia, Mimosa, Piptadenia, Cassia,etc.

    2.2 Savana Estpica ArbreaAberta (Ta) - localiza-se nas mesmas serras, caracteriza-se principalmente por uma

    disperso arbrea bem aberta, comtapete graminoso ralo nas encostasrochosas e contnuas nas arenticas.Essa cobertura graminosa dominadapor Aristida e Trachypogon, que ficamcompletamente secos no perodo semchuvas.

    2.3 Savana Estpica Parque (Tp) da mesma forma que as anteriores,localiza-se em pores das regiesserranas, sempre acima dos 600 m de

    altitude, e quase sempre associada aseqncias vegetacionais com Ta.Embora no marcante, por vezesdominado por C. americana L.,podendoser vistos com facilidade indivduos deB. crassifolia (L.) H.B.K., Himatanthusarticulathus (Vahl.) Wood. e outros queassumem porte menor que o habitualcomo Bowdichia virgilioides Kunth. Osolo pedregoso e o estrato graminoso ralo.

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    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

    Figura 6 - Savana Estpica Arbrea Densa (Td), aofundo em mosaico.

    Figura 8 - Savana Estpica Parque (Tp)

    Figura 7 - Savana Estpica Arbrea Aberta (Ta),nas encostas em mosaico.

  • 2.4 Savana Estpica Graminosa (Tg) - tpica das reas serranas, localizada nosvales abertos e nos topos das reas arenticas aplainadas. Ao longo dos pequenoscursos de gua, em geral rasos e espraiados, aparecem alguns buritis que no chegama influenciar na paisagem. Diferente das savanas graminosas (Sg), no apresentapredominncia de Byrsonima verbascifolia (L.) DC. Tambm pode ser dividida em duassub-unidades (campo limpo e campo sujo) em funo da densidade e da cobertura decopa dos indivduos arbreo-arbustivos presentes no sistema (ver ANEXO).

    3. Outros Sistemas

    Distribudas pelas savanas encontram-se outras formaes vegetais distintas como(i) pequenas ilhas de florestas, geralmente de forma circular ou elptica, (ii) matas degaleria s margens dos igaraps ou rios que drenam a regio e (iii) matas de buritis(Mauritia flexuosa L.) ou buritizais que acompanham pequenos cursos dgua, geralmenteestacionais, muito comum principalmente na regio da Formao Boa Vista. Emboradistantes de uma fisionomia graminosa com esparsas rvores, estes ecossistemas florestaisso parte integrante do grande mosaico de unidades vegetais que formam a paisagemgeral das savanas de Roraima.

    71

    Figura 11 - Ilha de Mata Figura 12 - Mata de Galeria

    Figura 9 Savana Estpica Graminosa(Tg - campo limpo)

    Figura 10 Savana Estpica Graminosa(Tg - campo sujo), primeiro plano.

    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

  • CONSIDERAES FINAIS

    As savanas do extremo norte amaznico so mais prximas florsticamente dassituadas na Venezuela, Guiana e Suriname do que aquelas encontradas nas regiesCentro-Oeste, Sudeste e Nordeste do Brasil (Planalto Central), onde est concentrada amaior parte do Bioma do Cerrado brasileiro. As duas categorias fisionmicas em Roraima(florestal e no-florestal) so subdivididas em diferentes tipologias. As paisagens noflorestais de baixa e mdia altitude esto razoavelmente estudadas e apresentam comoprincipais espcies a Curatella americana L. (caimb) e as Byrsonima spp (mirixi oumurici), que so sempre a maioria dos indivduos presentes e a maior parte da biomassaarbrea acima do solo. Para os no-florestais de alta altitude (> 1.000 m), muito poucofoi realizado, a no ser algumas coletas no Monte Roraima e no Tepequm. Alm disto,uma melhor definio e delimitao das savanas estpicas necessitaria ser incorporadaa estudos futuros. Muito pouco se sabe destes sistemas complexos do extremo nortede Roraima, excetuando-se as coletas efetivadas por Miranda (1998). Os sistemasflorestais possuem uma boa base de investigaes realizadas nas proximidades de BoaVista, mas necessita de ampliao na distribuio da rea de estudos no sentido demelhor classificar essa tipologia regional. Isto um ponto de importncia na questo daidentificao e conservao do patrimnio gentico das savanas de Roraima.

    Por fim, mesmo com a escassez de conhecimentos mais profundos sobre osecossistemas de Roraima, possvel mencionar que a diversidade vegetal local talvezno seja to pobre quanto se imagina. O grau de conhecimento atual permite apontar188 espcies de plantas arbreas apenas nos sistemas florestais das cercanias deBoa Vista. Mais de 110 espcies arbreo-arbustivas se destacam entre os sistemasno-florestais, alm de cerca de 250 espcies herbceas. Ambos os sistemas totalizamaproximadamente 550 espcies. Embora longe do total absoluto j identificado paraos cerrados do centro-sul do Brasil - que possuem mais de 6.400 espcies de plantasvasculares em cinco sub-provncias florsticas com cerca de 2,0 x 106 km2 (Mendona

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    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

    Figura 13 - Buritizal

  • et al., 1998; Felfili, 2003) - possvel que, com uma intensificao dos inventrios e umamelhor distino das paisagens regionais, possa se chegar a valores acima dos atualmenteobservados. Isto demonstraria, em bases cientficas slidas, que as savanas de Roraimano so to pobres em diversidade vegetal quanto se imagina. Estes ambientes regionaispossuem identidade ecolgica e florstica prpria sem, no entanto, possuir uma nicaunidade de conservao especfica, no sentido de preservar sua riqueza ambiental. Seexiste um momento apropriado para se iniciar uma discusso deste tipo, ento, omomento agora, devido ao forte processo de expanso das lavouras e da silviculturaempresariais por toda a rea chamada de lavrado.

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    FITOFISIONOMIAS E DIVERSIDADE VEGETAL DAS SAVANAS DE RORAIMA

  • ANEXO

    Comparao de diferentes classificaes fisionmicas para a vegetaode savana (cerrado) do Brasil.

    SAVANAS DE RORAIMA - Etnoecologia, Biodiversidade e Potencialidades Agrossilvipastoris

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    Territrio Brasileiro Cerrados do Planalto Central Brasileiro Savanas de Roraima Categoria Brasil (1975) e IBGE (1991 e 1992) Ribeiro & Walter (1998) (1)Miranda & Absy (2000); (2)Sette Silva (1993)

    Fisionmica Paisagem Paisagem Cobertura Estrato Arbreo Paisagem Cobertura Estrato Arbreode Copa - % (Altura) de Copa - % (Altura)

    No-florestal Savana gramneo-lenhosa (Sg) Campo Limpo 0 ausente (1)Campo Limpo 0 ausenteCampo Sujo < 5 sem destaque (1)Campo Sujo < 2 2,4-3,3m

    Savana parque (Sp) Parque de Cerrado 5-20 2-4m (1)Savana Parque 2-15 2,7-3,8mCerrado Ralo 5-20 2-4m

    Savana arborizada (Sa) Cerrado Tpico 20-50 3-6m (1)Campo Cerrado > 15 3,0-4,3m

    Savana-estpica gramneo-lenhosa (Tg) - - - - - -

    Savana-estpica parque (Tp) - - - - - -

    Savana-estpica arborizada (Ta) - - - - - -

    Formao Pioneira (Ph) Vereda de Buritis 5-10 - Buritizais - -

    Relquia (rm ou rl) Campo Rupestre < 5 sem destaque - - -

    Relquia (rmb ou rlb) Cerrado Rupestre 5-20 2-4m - - -Florestal Savana florestada (Sd) Cerrado Denso 50-70 5-8m - - -

    Cerrado 50-90 8-15m - - -

    Savana-estpica florestada (Td) - - - - - -

    Floresta Aluvial (Aa, Fa ou Da) Mata Ciliar 50-90 20-25m (2)Floresta de Galeria - -

    Floresta Aluvial (Aa, Fa ou Da) Mata de Galeria 70-95 20-30m (2)Floresta sobre relevo - -crstico / mata galeria

    Formao Pioneira (Pa) Palmeiral 60-80 - - - -

    rea de Tenso Ecolgica (SO) Mata Seca 50-95 15-25m - - -Contato Savana-Floresta Ombrfila Sempre-verde

    rea de Tenso Ecolgica (SN) Mata Seca 50-95 15-25m (2)Floresta sobre relevo - -Contato Savana-Floresta Estacional Semidecdua crstico / dolinas

    rea de Tenso Ecolgica (SN) Mata Seca 50-95 15-25m - - -Contato Savana-Floresta Estacional Decdua

    rea de Tenso Ecolgica (SN) - - - (2)Floresta sobre - -Contato Savana-Floresta Estacional basalto / serras