87

Barreiras a Implementacao Da Acessibilidade

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Apontamentos..Isep

Citation preview

  • MESTRADO EM PLANEAMENTO E PROJECTO URBANO 2011/2013

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    Tel. +351-22-508 1901

    Fax +351-22-508 1446

    [email protected]

    Editado por

    FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    Rua Dr. Roberto Frias

    4200-465 PORTO

    Portugal

    Tel. +351-22-508 1400

    Fax +351-22-508 1440

    [email protected]

    http://www.fe.up.pt

    Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja

    mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado em Planeamento e Projecto Urbano

    - 2011/2013 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2013.

    As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o

    ponto de vista do respectivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer

    responsabilidade legal ou outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

    Este documento foi produzido a partir de verso electrnica fornecida pelo respectivo

    Autor.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    O nico lugar onde o sucesso vem antes do trabalho no dicionrio.

    Albert Einstein

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    i

    AGRADECIMENTOS

    A realizao desta dissertao contou com apoios e incentivos de personalidade e instituies variadas,

    pelo que desejo aqui deixar expresso o meu reconhecimento.

    Professora Doutora Ceclia Silva pela orientao, disponibilidade e saber disponibilizados no

    decurso deste ano de trabalho.

    Ao Arquiteto Pedro Homem de Gouveia, tcnico do Departamento de Planeamento de Transporte e

    Mobilidade da Cmara Municipal de Lisboa, pela disponibilidade e apoio prestado principalmente na

    escolha do caminho a seguir.

    arquiteta Lia Ferreira, Provedora Municipal dos Cidados com Deficincia da Cmara Municipal do

    Porto, e a todos os tcnicos da provedoria, pela disponibilidade e apoio prestados.

    Ordem dos Arquitetos, Ordem dos Engenheiros e Ordem dos Engenheiros Tcnicos, especialmente

    s sees regionais do norte e a todos os tcnicos que as constituem, que se mostraram sempre

    disponveis e que sem o seu apoio esta dissertao no seria possvel.

    famlia e amigos, por todo o apoio e motivao.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    ii

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    iii

    RESUMO

    A acessibilidade tem sido uma rea bastante valorizada nas ltimas dcadas, tem sofrido uma evoluo

    transversal, no se restringindo apenas sua definio ou a algumas medidas isoladas, algo provado

    pelo surgimento de normas e recomendaes para a promoo, o ensino e a execuo de medidas de

    acessibilidade que tm sido, ao longo do tempo, transformadas em legislao. Seria de esperar que,

    com toda esta evoluo, os meios urbanos fossem completamente acessveis, no oferecendo grandes

    barreiras a quem por qualquer motivo sente, temporria ou permanentemente, necessidade de uma

    acessibilidade facilitada, mas no o so. Este facto , em Portugal, comprovado por vrios estudos e

    planos realizados, por fontes privadas e governamentais, e pode tambm ser confirmado por qualquer

    pessoa numa apreciao mais atenta do edificado das vilas e cidades portuguesas.

    A explicao para esta discrepncia entre a evoluo terica e legislativa e a implementao real da

    acessibilidade no edificado prende-se com a existncia de barreiras implementao da acessibilidade.

    Estas barreiras assentam em diversos fatores como a prpria inacessibilidade do edificado j

    construdo, a morfologia do territrio, a vontade do poder poltico, a aptido daqueles que planeiam e

    projetam, o custo das obras de adaptao ou a falta de fiscalizao.

    A presente dissertao pretende focar-se numa destas barreiras, a formao tcnica na rea da

    acessibilidade, ao nvel dos cursos de arquitetura e engenharia civil. A pertinncia da escolha da

    barreira justifica-se com o facto de a formao ser, de todas as barreiras, uma das que se localiza mais

    a montante, antes at da existncia de qualquer projeto. Um tcnico com um bom conhecimento sobre

    acessibilidade e a diversidade de solues possveis far, partida, projetos que incluem a

    acessibilidade como algo intrnseco, este conhecimento pode servir tambm para criar solues para

    contornar outras barreiras, como por exemplo os custos da adaptao. J a escolha da arquitetura e da

    engenharia civil como reas profissionais a investigar prende-se com o facto de serem estes os

    tcnicos habilitados a desenhar e projetar o espao edificado.

    Com esta dissertao pretende-se aferir at que ponto a formao tcnica, ou falta dela, na rea da

    acessibilidade representa uma limitao implementao desta por parte dos tcnicos em questo.

    Para a realizao deste objetivo ser feita uma caracterizao da formao na rea da acessibilidade

    nos cursos de arquitetura e engenharia civil e nas formaes complementares existentes, bem como

    uma avaliao da necessidade de formao sentida por estes tcnicos e como isso os limita no desenho

    e implementao de espaos acessveis.

    PALAVRAS-CHAVE: ACESSIBILIDADE, BARREIRAS, DESENHO UNIVERSAL, FORMAO TCNICA,

    ARQUITETURA, ENGENHARIA CIVIL.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    iv

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    v

    ABSTRACT

    Accessibility has been a very valorized area in the last decades, has suffered a transversal evolution,

    not restricted to its definition or some isolated measures, something proven by the appearance of

    standards and recommendations for promotion, education and enforcement of accessibility measures

    that has been turned into legislation over time. One would expect that with all this development, the

    urban environments were completely accessible, without major barriers to whom for whatever reason

    feel, temporarily or permanently, the need for easy accessibility, but they arent. This fact is, in

    Portugal, confirmed by various studies and plans made by government and private sources, and can

    also be confirmed by anyone in a closer examination of the building environment of Portuguese towns

    and cities.

    The explanation for this discrepancy between the theoretical and legislative developments and the

    actual implementation of accessibility in the built environment relates to the existence of barriers to

    implementation of accessibility. These barriers are based on several factors such as the very

    inaccessibility of buildings already constructed, the morphology of the territory, the will of the

    political power, the ability of those who plan and design, the cost of adaptation works or lack of

    supervision.

    This thesis aims to focus one of these barriers, the technical training in the area of accessibility at the

    level of the courses in architecture and civil engineering. The choice of this barrier is justified by the

    fact that the training is, of all barriers, one of which is located further upstream, even before the

    existence of any project. A technician with a good knowledge of accessibility and diversity of possible

    solutions will do, as expected, projects that include accessibility as something intrinsic, this knowledge

    can also serve to create solutions to overcome other barriers, such as the costs of adaptation. The

    choice of architecture and civil engineering as professional areas to investigate relates to the fact that

    these are the skilled technicians to draw and design the built space.

    With this thesis is intended to assess the extent to which technical training, or lack of it, in the area of

    accessibility is a limitation to its implementation by the technicians in question. For the realization of

    this objective it will be done a characterization of the formation in accessibility in the courses of

    architecture and civil engineering and in existing complementary training as well as an assessment of

    the need felt by these technicians training and how it limits them in the design and implementation of

    accessible environments.

    KEYWORDS: ACCESSIBILITY, BARRIERS, UNIVERSAL DESIGN, TECHNICAL TRAINING, ARCHITECTURE,

    CIVIL ENGINEERING

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    vi

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    vii

    NDICE GERAL

    Agradecimentos .................................................................................................................................... i

    Resumo ................................................................................................................................................ iii

    Abstract ................................................................................................................................................ v

    ndice Geral ........................................................................................................................................ vii

    ndice de Figuras ................................................................................................................................. ix

    Smbolos, Acrnimos e Abreviaturas .................................................................................................. xi

    1 . INTRODUO ..................................................................................................................................... 1

    2 . ACESSIBILIDADE .................................................................................................................................. 5

    2.1 Conceitos ..................................................................................................................................... 5

    2.1.1 Acessibilidade ......................................................................................................................... 5

    2.1.2 Barreiras ................................................................................................................................. 7

    2.1.3 Desenho universal .................................................................................................................. 8

    2.2 reas de Estudo ......................................................................................................................... 11

    2.2.1 Comunicao ........................................................................................................................ 11

    2.2.2 Internet ................................................................................................................................ 12

    2.2.3 Transportes .......................................................................................................................... 13

    2.2.4 Espao Edificado ................................................................................................................... 14

    2.3 Legislao e Outras Iniciativas Pblicas ..................................................................................... 15

    2.3.1 Nvel Europeu ....................................................................................................................... 15

    2.3.2 Nvel Nacional....................................................................................................................... 16

    2.3.3 Nvel Local ............................................................................................................................ 19

    2.4 Falta de Implementao de Acessibilidade ............................................................................... 22

    2.4.1 Barreiras Implementao da Acessibilidade ..................................................................... 22

    2.4.2 Formao Tcnica na rea das Acessibilidades ................................................................... 25

    3 . METODOLOGIA DE INVESTIGAO .................................................................................................. 29

    3.1 O Inqurito ................................................................................................................................ 30

    3.2 O Levantamento dos Currculos ................................................................................................ 31

    3.3 As Entrevistas ............................................................................................................................ 33

    4 . DISCUSSO DE RESULTADOS ............................................................................................................ 35

    4.1 Amostragem e Dados Gerais ..................................................................................................... 35

    4.2 Formao Base .......................................................................................................................... 37

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    viii

    4.3 Formao Complementar ......................................................................................................... 40

    4.4 Atividade Profissional ............................................................................................................... 42

    5 . CONCLUSO ...................................................................................................................................... 49

    5.1 Concluses ................................................................................................................................ 49

    5.1.1 Debilidades na Formao Tcnica para as Acessibilidades ................................................. 49

    5.1.2 Dfice de Formao como Barreira Implementao de Acessibilidades ......................... 51

    5.2 Recomendaes Futuras........................................................................................................... 52

    Bibliografia ......................................................................................................................................... 55

    ANEXO 1. INQURITO ........................................................................................................................... 59

    ANEXO 2. LEVANTAMENTO DOS CURRCULOS ..................................................................................... 63

    ANEXO 3. GUIO DA ENTREVISTA ........................................................................................................ 71

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    ix

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 Representao do percurso que levou escolha do tema da dissertao ........................... 3

    Figura 2 Componentes Primrios da Acessibilidade (Adaptado de Halden, D., Jones, P. and

    Wixey, S. (2005)) ................................................................................................................ 5

    Figura 3 A trade de Vitruvius (Fonte: http://www.irregularsquares.com/vitruvius/) ............................. 6

    Figura 4 Diferena entre a acessibilidade pensada no projeto ou a posteriori (Fontes:

    http://demosthenes.info/blog/165/HTML-Forms-Accessibility e

    http://www.universaldesignstyle.com/bad-design-style/page/2/) ........................................ 9

    Figura 5 Comparao entre Acessibilidade, Usabilidade e desenho universal (Fonte:

    http://www.fujixerox.com/eng/company/technology/design/universal.html) ....................... 9

    Figura 6 Os 7 Princpios do Design Universal (Fonte:

    http://access.ecs.soton.ac.uk/blog/training/universal-design/) ......................................... 10

    Figura 7 Representao das quatro vertentes da acessibilidade mais investigadas ........................ 11

    Figura 8 O Ciclo de Viagem. (Adaptado de: Assessment of Accessibility Standards for Disabled

    People in Land Based Public Transport Vehicles, Lafratta, 2008). .................................. 13

    Figura 9 Resumo das barreiras implementao da acessibilidade ................................................ 25

    Figura 10 Representao do cruzamento de dados entre as ferramentas utilizadas e objetivos ..... 29

    Figura 11 Quadro explicativo do mtodo de escolha dos currculos a levantar ................................ 32

    Figura 12 Idade dos inquiridos por classe profissional ...................................................................... 36

    Figura 13 reas de trabalho de engenheiros e Engenheiros Tcnicos ............................................. 36

    Figura 14 Importncia dada s temticas da acessibilidade nas formaes base ............................ 37

    Figura 15 Importncia dada s temticas da acessibilidade nas formaes base aps 2006 .......... 37

    Figura 16 Comparao da importncia dada s temticas da acessibilidade na formao antes

    e depois de 2006 .............................................................................................................. 38

    Figura 17 Quadro comparativo entre a avaliao dos cursos feita atravs dos currculos e a

    pelos ex- alunos ................................................................................................................ 39

    Figura 18 Quantificao da abordagem dos contedos sobre acessibilidade durante a formao

    base .................................................................................................................................. 40

    Figura 19 Quantificao da abordagem dos contedos sobre acessibilidade durante a formao

    complementar ................................................................................................................... 41

    Figura 20 Percentagem de profissionais que trabalha ou trabalhou diretamente na rea da

    acessibilidade ................................................................................................................... 43

    Figura 21 Importncia dada acessibilidadea quando da realizao de projetos ............................ 43

    Figura 22 Conhecimento dos tcnicos sobre as temticas da acessibilidade ................................... 44

    Figura 23 Necessidade de formao sentida na rea da acessibilidade .......................................... 45

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    x

    Figura 24 - Necessidade de formao sentida na rea da acessibilidade pelos profissionais que

    lidam diretamente com esta temtica ............................................................................... 45

    Figura 25 Quantificao dos contedos em que os profissionais sentem mais necessidade de

    formao ........................................................................................................................... 46

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    xi

    SMBOLOS, ACRNIMOS E ABREVIATURAS

    ADA ....................................................................................................... Americans with Disabilities Act

    ANMP .......................................................................... Associao Nacional de Municpios Portugueses

    APPLA .................................................................. Associao Portuguesa dos Planeadores do Territrio

    CEA .................................................................................................. Conceito Europeu de Acessibilidade

    DGEMN ............................................................... Direo Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais

    IGAMAOT ........ Inspeo-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Territrio

    IGAPHE ..................................... Instituto de Gesto e Alienao do Patrimnio Habitacional do Estado

    IHRU ................................................................................. Instituto da Habitao e Regenerao Urbana

    INR ................................................................................................ Instituto Nacional para a Reabilitao

    ISCTE .............................................................. Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa

    ONU ....................................................................................................... Organizao das Naes Unidas

    PAIPDI ........................Plano de Aco para a Integrao das Pessoas com Deficincias ou Incapacidade

    PNPA........................................................................ Plano Nacional para a Promoo da Acessibilidade

    POPH.................................................................................. Programa Operacional do Potencial Humano

    QREN ................................................................................... Quadro de Referncia Estratgico Nacional

    RAMPA............................................................. Regime de Apoio aos Municpios para a Acessibilidade

    ResAP .......................................................................................................... Resoluo do Acordo Parcial

    RGEU ................................................................................. Regulamento Geral das Edificaes Urbanas

    SNRIPD............... Secretariado Nacional para a Reabilitao e Integrao das Pessoas com Deficincia

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    xii

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    1

    1. INTRODUO

    Desde sempre que o Homem tenta modificar o ambiente fsico natural, criando reas para se poder

    estabelecer e suprir as suas necessidades primrias, assim nasce o meio edificado, termo que se refere

    a qualquer espao ou edificao construdos pelo homem. Nos primeiros agregados populacionais

    essas necessidades eram, acima de tudo, a subsistncia da populao e a proteo contra as ameaas

    vindas do exterior mas, desde ento, as cidades tm vindo a sofrer uma evoluo, dando resposta a

    outras necessidades que foram surgindo no decurso da histria. O desenvolvimento das cidades

    ento determinado pelas exigncias sociais, pelas necessidades evidenciadas pela populao nos

    diferentes momentos temporais. Hoje em dia, a cidade , o espao onde os indivduos adquirem a

    condio de cidados, ou seja, indivduos livres, no gozo dos seus direitos civis e polticos, e sujeitos a

    todas as obrigaes inerentes a essa condio. tambm o espao onde se desenrola a vida quotidiana

    da maior parte da populao, pois 53% da populao mundial vive em reas urbanas, 62% no caso de

    Portugal (The World Bank, 2012).

    Com o aumento da esperana mdia de vida e a diminuio da natalidade, os pases desenvolvidos

    caminham para uma sociedade cada vez mais envelhecida. Conjugado este facto com o aumento do

    nmero de pessoas com deficincia, associado a uma melhoria significativa na medicina, que hoje, em

    muitos casos, substitui a morte por uma incapacidade fsica ou mental, denota-se um aumento da

    populao com necessidades especiais e dentro deste conjunto, das pessoas com mobilidade reduzida.

    A incluso destas pessoas e o seu direito qualidade de vida, liberdade de expresso e associao,

    informao, dignidade social e capacidade civil, bem como igualdade de oportunidades no acesso

    educao, sade, habitao, ao lazer e tempo livre e ao trabalho, est consagrada na legislao da

    maioria destes pases, pelo que fulcral garantir-lhes as mesmas condies de acessibilidade que aos

    demais cidados. A forma como estas polticas se desenvolvem tem consequncias diretas na

    sensibilidade social, ou seja, um meio fsico que exclui um certo grupo da sua vida diria, marginaliza-

    o e torna-o um peso para a restante sociedade.

    Um meio edificado acessvel constitui ento um elemento chave para o funcionamento de uma

    sociedade assente em direitos iguais, dotando os seus cidados de autonomia e de meios para a

    prossecuo de uma vida social e economicamente ativa. Constitui o fundamento de uma sociedade

    inclusiva, baseada na no discriminao e, sendo que a nossa sociedade assenta na diversidade, exige-

    se ento a construo de um meio fsico sem barreiras e que no crie deficincias e incapacidades.

    Afinal o que se entende por acessibilidade?

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    2

    "Acessibilidade uma caracterstica do ambiente ou de um objeto que permite a qualquer pessoa

    estabelecer um relacionamento com esse ambiente ou objeto, e utiliz-los de uma forma amigvel,

    cuidada e segura" (Conselho da Europa, 2003), pode tambm ser definida como o conjunto das

    caractersticas de um servio, equipamento ou edifcio que permitem o acesso de todas as pessoas,

    incluindo aquelas com mobilidade reduzida ou com necessidades especiais (Infopdia, 2012).

    Existem ento muitas definies de acessibilidade, indo sempre de encontro possibilidade de acesso

    de todas as pessoas ao meio edificado, via pblica, aos transportes e s tecnologias de informao e

    comunicao, com o mximo possvel de autonomia e de usabilidade.

    A acessibilidade tem sido uma rea bastante valorizada nas ltimas dcadas, surgindo inicialmente

    como uma tentativa de responder s necessidades de algumas comunidades especiais, como a dos

    cidados portadores de deficincia, e combater a discriminao e a excluso social. No entanto,

    apoiada nos conceitos de desenho universal e desenho inclusivo, entre outros, tem passado cada vez

    mais a ser considerada um tema do interesse geral, til para todos, e no um luxo exclusivo para

    alguns nichos. Esta mudana baseia-se essencialmente na perceo que idosos, grvidas, crianas ou

    qualquer pessoa com algum tipo de incapacidade temporria tira grandes benefcios de um ambiente

    edificado acessvel e dos grandes benefcios gerados pela garantia da acessibilidade que, tornando o

    edificado mais funcional gera benefcios de ordem econmica e social, garantindo o acesso do maior

    nmero de pessoas ao maior nmero de atividades, expandindo mercados e criando uma sociedade

    com mais qualidade, baseada na no discriminao.

    Esta evoluo do conceito de acessibilidade no se restringiu apenas sua definio, os esforos

    realizados na promoo e sensibilizao para o tema levaram sua introduo como um direito

    fundamental pela Organizao das Naes Unidas e posteriormente pela Unio Europeia, os primeiros

    passos para o surgimento de normas e recomendaes para a promoo, o ensino e a execuo de

    medidas de acessibilidade que tm sido, ao longo do tempo, transformadas em legislao. Com toda

    esta evoluo, desde a sensibilizao introduo no quadro legal das normas de acessibilidade, seria

    de esperar que os meios urbanos fossem completamente acessveis, mas no o so.

    Em Portugal, no ano de 2006, nove anos aps a entrada em vigor da primeira legislao sobre

    acessibilidade, estimava-se que que s aproximadamente 25% dos equipamentos no meio edificado

    pblico haviam tido intervenes de eliminao de barreiras arquitetnicas (SNRIPD, 2006). J

    segundo os censos de 2011, e com um segundo diploma sobre acessibilidade a vigorar, no que refere a

    edifcios habitacionais, a proporo de edifcios com acessibilidade atravs de cadeira de rodas de

    41% e desce para 30% se considerarmos a acessibilidade at ao alojamento. (INE, 2011). Estes so

    apenas alguns exemplos de que, mesmo com a implementao de medidas concretas e com valor

    legislativo, a acessibilidade do espao edificado acaba por no acompanhar essa evoluo, pelo menos

    no ao mesmo ritmo. Este facto deve-se existncia de algumas barreiras implementao da

    acessibilidade, estas assentam em diversos fatores como a prpria inacessibilidade do edificado j

    construdo, a morfologia do territrio, a vontade do poder poltico, a aptido daqueles que planeiam e

    projetam, o custo das obras de adaptao ou a falta de fiscalizao.

    A presente dissertao pretende focar-se numa destas barreiras, a formao tcnica na rea da

    acessibilidade, ao nvel dos cursos de arquitetura e engenharia civil. A pertinncia da escolha da

    barreira justifica-se com o facto de a formao ser, de todas as barreiras, uma das que se localiza mais

    a montante, antes at da existncia de qualquer projeto. Um tcnico com um bom conhecimento sobre

    acessibilidade e a diversidade de solues possveis far, partida, projetos que incluem a

    acessibilidade como algo intrnseco, este conhecimento pode servir tambm para criar solues para

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    3

    contornar outras barreiras, como por exemplo os custos de adaptao. J a escolha da arquitetura e da

    engenharia civil como reas profissionais a investigar prende-se com o facto de serem estes os

    tcnicos habilitados a desenhar e projetar o espao edificado. Na Figura 1 est representado caminho

    que levou escolha do tema desta dissertao, desde o tema geral acessibilidade ao tpico

    formao tcnica.

    Figura 1 Representao do percurso que levou escolha do tema da dissertao

    Com esta dissertao pretende-se aferir at que ponto a formao tcnica, ou falta dela, na rea da

    acessibilidade representa uma limitao implementao desta por parte dos tcnicos em questo.

    Para a realizao deste objetivo ser feita uma caracterizao da formao na rea da acessibilidade

    nos cursos de arquitetura e engenharia civil e nas formaes complementares existentes, bem como

    uma avaliao da necessidade de formao sentida por estes tcnicos e como isso os limita no desenho

    e implementao de espaos acessveis. A concretizao destes objetivos ocorrer ao longo de cinco

    captulos, onde se inclui esta introduo.

    No segundo captulo, denominado Acessibilidade, ser realizado um enquadramento terico sobre as

    temticas da acessibilidade onde se inclui o levantamento dos conceitos de acessibilidade, barreiras e

    desenho universal, uma sntese do que tem sido estudado e debatido internacionalmente em quatro

    reas distintas da acessibilidade, respetivamente comunicao, internet, transportes e espao edificado,

    j apenas com enfoque no espao edificado ser feito tambm o levantamento da legislao e outras

    iniciativas pblicas, ao nvel europeu, nacional e local e por fim, ser evidenciada a falta de

    implementao da acessibilidade e as barreiras existentes que a justificam, dando aqui um enfoque

    especial barreira que ir ser o centro desta investigao, a formao tcnica.

    Aps o enquadramento terico, e j no terceiro captulo, Metodologia de Investigao, ser definida a

    metodologia adotada para a concretizao dos objetivos, esta passar pela realizao de um inqurito a

    arquitetos, engenheiros e engenheiros tcnicos civis onde se pede uma avaliao da importncia dada

    s temticas da acessibilidade na sua formao base, se frequentaram algum tipo de formao

    complementar nesta rea e se, na sua vida profissional, sentem falta de mais formao, passar

    Acessibilidade

    Espao Edificado

    Barreiras Implementao

    Formao tcnica

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    4

    tambm por um levantamento dos currculos de alguns cursos de arquitetura e engenharia civil e a

    avaliao destes quanto importncia dada s temticas da acessibilidade e por entrevistas a

    representantes das sees regionais do norte das ordens que representam arquitetos, engenheiros e

    engenheiros tcnicos sobre a importncia da acessibilidade, do seu ensino e das necessidades que os

    tcnicos por elas representados evidenciam.

    O captulo quatro, Discusso de Resultados, onde sero apresentados os resultados obtidos e a sua

    interpretao. Neste captulo ser dado um enfoque especial ao inqurito, pois ser esta a ferramenta

    de anlise mais importante, sendo a sua diviso influenciada por esse fator. Esta ser feita em seis

    etapas, quatro delas, dados gerais, formao base, formao complementar em acessibilidade e

    atividade profissional, que tm como base principal os resultados do inqurito, uma focada nos

    resultados do levantamentos dos currculos e finalmente uma em que se resumem os resultados das

    entrevistas.

    Finalmente, no captulo cinco, denominado Concluso, sero apresentadas as principais concluses

    obtidas neste estudo e feitas tambm as recomendaes futuras.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    5

    2. ACESSIBILIDADE

    2.1 CONCEITOS

    2.1.1 ACESSIBILIDADE

    Acessibilidade um conceito amplo e flexvel. Esta amplitude e flexibilidade so seus principais

    pontos fortes, mas tambm so a principal razo pela qual a acessibilidade pode ser percebida como

    confusa e complexa. Gould (1969) descreveu a acessibilidade como um conceito escorregadio,

    daqueles que toda a gente utiliza at ser confrontado com o problema de o definir ou medir. Segundo

    o dicionrio da lngua portuguesa, a palavra acessibilidade um nome feminino que significa

    facilidade no acesso, facilidade na obteno ou o conjunto das caractersticas de um servio,

    equipamento ou edifcio que permitem o acesso de todas as pessoas, incluindo aquelas com

    mobilidade reduzida ou com necessidades especiais (Infopdia, 2012).

    Focando a primeira definio, acessibilidade um atributo das pessoas, ou mercadorias, em vez dos

    modos de transporte ou de prestao de servio, e descreve os sistemas integrados do ponto de vista do

    usurio como representado na Figura 2.

    Figura 2 Componentes Primrios da Acessibilidade (Adaptado de Halden, D., Jones, P. and Wixey, S. (2005))

    Grupos de indivduos necessitam de uma gama de atividades que podem ser satisfeitas em vrios

    destinos, as ligaes entre a procura e oferta so feitas atravs de transporte e comunicaes.

    DHC (2000) caracteriza a compreenso da acessibilidade em termos de trs perguntas: "quem", "o

    qu" e "como":

    Quem (ou que local) est a ser considerado, pois a acessibilidade um atributo de pessoas ou

    lugares.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    6

    O que (ou quais) so as oportunidades a alcanar, os usos da terra, pontos de abastecimento de

    atividade ou recursos (incluindo pessoas) que permitem s pessoas (ou lugares) satisfazer as

    suas necessidades.

    Como, representa os fatores que separam as pessoas (ou lugares) dos pontos de abastecimento,

    estes podem ser a distncia, o tempo, informaes de custo, e outros fatores que agem como

    barreiras ou obstculos ao acesso.

    A acessibilidade pode ser examinada atravs de dois pontos de vista, o do indivduo (origem) e o do

    prestador de servio (destino). Quando temos em conta as pessoas, acessibilidade a facilidade com

    que cada indivduo ou grupo de indivduos consegue aceder a uma oportunidade ou conjunto de

    oportunidades, considerando os prestadores de servio, acessibilidade passa a ser a facilidade com

    que um destino pode ser alcanado a partir de uma origem ou conjunto de origens (Simmonds, 1998).

    Todas as definies de acessibilidade incluem alguma referncia a quem, o que e como, mas h

    alguma confuso resultante das diferenas de tratamento dado a cada termo. Os prestadores de servio,

    por exemplo, tendem a simplificar o termo como, reduzindo-o distncia, concentrando-se nos

    destinos existentes e nas caractersticas da populao na rea de influncia. J no planeamento de

    transportes existe tradicionalmente uma grande preocupao com o termo como, focando

    detalhadamente os padres de deslocao entre origens e destinos, sem dar grande relevncia a

    quem o o que (DHC, 2000). Neste caso os indivduos e os seus destinos so apenas considerados

    para prever de que modo as suas caractersticas, como a mobilidade reduzida ou posse de veculo

    prprio, nos indivduos, ou o facto de ser uma zona pedonal ou ter restries de trnsito, nos destinos,

    afetam a mobilidade ou a procura do servio de transporte a fornecer.

    A segunda definio de acessibilidade dada pelo dicionrio foca-se essencialmente nos termos quem

    e o que. Atualmente, na Europa, e segundo o Conceito Europeu de Acessibilidade, Acessibilidade

    a capacidade do meio edificado de assegurar a todos uma igual oportunidade de uso, de uma forma

    direta, imediata, permanente e o mais autnoma possvel (Comisso Europeia, 2003). No entanto,

    esta definio de acessibilidade o resultado de sculos de evoluo, passando o termo por diferentes

    interpretaes, prioridades e tabus.

    Datam do sculo I a.C. as primeiras noes de acessibilidade, quando o arquiteto e escritor romano

    Marcus Vitruvius Pollio escreveu um tratado completo sobre construo e arquitetura, denominado De

    Architectura, ele estuda os padres de propores com as suas implicaes mtricas e os princpios

    arquiteturais: utilitas, venustas e firmitas (utilidade, beleza e solidez) buscando ampliar e determinar

    regras para o universo da arte. (Polin, 1992)

    Firmitas assegurada quando as fundaes so

    levadas at o solo firme e os materiais sabiamente

    selecionados; utilitas, quando o arranjo das partes

    perfeito e no apresenta obstculos ao uso, e quando

    cada classe de edifcio designada a sua orientao

    conveniente e apropriada; e venustas, quando a

    aparncia da obra agradvel e elegante, e quando

    os seus membros esto em proporo devida de

    acordo com os corretos princpios da simetria.

    (Polin, 1992)

    Figura 3 A trade de Vitruvius (Fonte:

    http://www.irregularsquares.com/vitruvius/)

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    7

    Destes trs princpios bsicos podemos dizer que Vitruvius distingue a usabilidade como o mais

    importante, dizendo que primeiro que tudo os edifcios e as cidades so feitas para serem utilizadas de

    acordo com o propsito para que foram desenhadas. Pode-se equiparar ento o termo utilitas ao termo

    acessibilidade utilizado hoje em dia. No entanto, a viso de Vitruvius tem como referncia o corpo de

    um homem bem formado, sem qualquer tipo de limitao fsica.

    Apenas nos anos 50, aps a II Guerra Mundial, comearam a surgir os primeiros conceitos modernos

    de acessibilidade, com a denncia da existncia de barreiras fsicas nos espaos urbanos, edifcios e

    meios de transporte coletivo que impediam ou dificultavam a locomoo de pessoas com deficincia,

    cujo nmero aumentou significativamente devido guerra. Neste perodo surge o conceito de

    Normalizao, na Dinamarca, associado a medidas que permitem a qualquer pessoa viver de forma

    confortvel, independentemente da idade, sexo, incapacidade, perceo e capacidade para se deslocar

    (Akiyama, 2005).

    Nos anos 60, surgem vrias especificaes tcnicas para a acessibilidade de pessoas com deficincia

    aos edifcios (Inglaterra 1963, EUA 1968, Sucia 1969), seguindo-se em 1975 a publicao, pela ISO,

    das primeiras diretrizes sobre as necessidades de pessoas com deficincia nos edifcios e a promoo

    do conceito de Design Livre de Barreiras, pela Organizao das Naes Unidas, aps a Declarao dos

    Direitos das Pessoas Deficientes: As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e

    gravidade de suas deficincias, tm os mesmos direitos fundamentais que seus concidados da mesma

    idade (UN, 1975).

    No entanto, o grande marco para a Acessibilidade surge apenas em 1980, nos EUA, com o Americans

    with Disabilities Act (ADA), uma lei civil que probe a discriminao de pessoas com incapacidade e

    promove a acessibilidade no trabalho, em edifcios e transportes pblicos, em locais de utilizao

    pblica e nas telecomunicaes. Em 1981, o Ano Internacional das Pessoas Deficientes promovido

    pela ONU sob o lema Participao Plena e Igualdade levou ao aparecimento de campanhas mundiais

    para alertar a sociedade a respeito das barreiras arquitetnicas e exigir no apenas a eliminao destas

    mas tambm impedir a insero de barreiras em novos projetos.

    Os tcnicos, sejam eles arquitetos, engenheiros ou designers esto treinados para projetar para as

    maiorias, para o mtico Homem Mdio, que na verdade no existe, pois todo o indivduo nico e

    como grupo a espcie humana bastante diversa. Segundo Nilay Evcil (2010) todas as pessoas tm

    necessidades especiais a certa altura das suas vidas. Crianas, grvidas, idosos, pais com crianas de

    colo, pessoas que transportem objetos pesados ou volumosos ou que tenham sofrido algum tipo de

    leso temporria tm a sua locomoo condicionada. Para alm destes casos, e segundo o mesmo

    autor, qualquer pessoa est habilitada a ficar permanentemente incapacitada, seja por doena ou

    acidente, sendo uma minoria as pessoas que permanecem saudveis durante toda a vida.

    O termo Acessibilidade, que era tendencialmente associado pessoa com deficincia, num princpio

    de proteo e de modo a lhe garantir o acesso, em igualdade de condies, ao meio edificado, aos

    transportes, s tecnologias de informao e comunicao, evolui para um princpio de incluso e no

    discriminao, deixando de ser olhado como um benefcio apenas para as pessoas com deficincia,

    mas para todas as pessoas, atravs da tomada de conscincia das implicaes positivas que a

    acessibilidade tem na qualidade de vida de todos.

    2.1.2 BARREIRAS

    A ideia de acessibilidade indissocivel da ideia de barreira pois so termos opostos que se negam

    entre si. Se a acessibilidade no uma realidade porque existem barreiras e quando um ambiente se

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    8

    torna acessvel, o que realmente acontece a eliminao de todo o tipo de barreiras. No se pode ento

    falar de acessibilidade sem fazer uma reflexo sobre as barreiras, a sua conceo, tipos e significado.

    Segundo Amengual (1992) as barreiras no meio fsico podem ser de divididas em arquitetnicas,

    urbansticas, no transporte e nas telecomunicaes.

    Barreiras arquitetnicas: so os obstculos que se apresentam no interior dos edifcios face

    aos diferentes tipos e graus de incapacidade.

    Barreiras urbansticas: so os obstculos que se apresentam nos espaos no edificados de

    domnio pblico e privado, zonas histricas e mobilirio urbano face aos diferentes tipos e

    graus de incapacidade.

    Barreiras no transporte: so os obstculos que se apresentam nos transportes particulares ou

    coletivos, terrestre, martimos, fluviais e areos face aos diferentes tipos e graus de

    incapacidade.

    Barreiras nas telecomunicaes: so os obstculos ou dificuldades que se apresentam na

    compreenso e captao de mensagens e no uso de meios tcnicos disponveis s pessoas com

    diferentes tipos e graus de incapacidade.

    Muitas barreiras esto ento vinculadas ao meio fsico, mas muitas outras esto relacionadas com a

    interao do indivduo com o seu ambiente social, como a dificuldade de captao de mensagens

    sonoras ou visuais, de utilizao de meios tcnicos ou mesmo a falta de conhecimento. De salientar

    tambm que todos os indivduos so geradores de barreiras, muitas delas fruto de atitudes de

    indisciplina e desrespeito pelas regras existentes. Existe tambm uma diferena entre a existncia e a

    perceo de barreiras dado que o seu impacto varia de pessoa para pessoa e de situao para situao.

    O facto de um indivduo conviver diariamente com barreiras que no condicionem a sua

    acessibilidade, pode lev-lo a assumir a sua presena a ponto de as no reconhecer como tal. Devem-

    se ento entender as barreiras como qualquer impedimento ou obstculo que limita ou impede o

    acesso, utilizao, desfrute, interao e compreenso de uma maneira normalizada, digna, cmoda e

    segura de qualquer espao, equipamento ou servio.

    2.1.3 DESENHO UNIVERSAL

    A par desta evoluo do termo acessibilidade, surgiram nas ltimas dcadas os conceitos de Desenho

    Universal (EUA) e Desenho para Todos (Europa), ambos com o mesmo significado.

    O conceito de Desenho Universal nasceu pela mo de Ron Mace, um arquiteto norte-americano que

    dedicou boa parte da sua carreira s questes da Acessibilidade, e resume-se a ultrapassar o conceito

    de acessibilidade para pessoas com deficincia para passar a considerar o projeto ou design de

    produtos e ambientes para uso de todas a pessoas, na maior extenso possvel, sem a necessidade de

    adaptao ou design especializado (Mace 1985).

    Segundo Molly Follette Story (1998), os defensores da arquitetura acessvel desde cedo reconheceram

    o poder legal, econmico e social de um conceito que albergasse as necessidades comuns das pessoas

    com e sem limitaes, constatando tambm que quando as acessibilidades no so includas

    harmoniosamente num projeto, tornam-se isoladas, mais caras e geralmente feias. Essa diferena

    evidente na Figura 4.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    9

    Figura 4 Diferena entre a acessibilidade pensada no projeto ou a posteriori (Fontes:

    http://demosthenes.info/blog/165/HTML-Forms-Accessibility e http://www.universaldesignstyle.com/bad-design-

    style/page/2/)

    Tendo em conta que muitas das mudanas necessrias para dar acesso a pessoas com necessidades

    especiais beneficiam toda a populao, chegou-se concluso que, generalizando a sua

    implementao estas podero ser mais baratas, no discriminativas, atraentes e mesmo

    comercializveis.

    Segundo Pedro Homem de Gouveia, arquiteto portugus dedicado s questes da acessibilidade, a

    Acessibilidade e o Desenho Universal tm uma semelhana fundamental, pois so dois meios para

    atingir um mesmo fim: edificaes, produtos e servios bem concebidos.

    Tm tambm uma diferena prtica, pois a Acessibilidade, costuma ser traduzida em normas tcnicas,

    que muitas vezes so tornadas obrigatrias por fora de lei, j o Desenho Universal foi desde o incio

    expresso em princpios. Os quais no tm sido traduzidos em normas tcnicas, nem lhes tem sido dada

    fora legal, provavelmente, segundo o mesmo, por no ser essa a sua vocao.

    No entanto, estes princpios so uma excelente filosofia de projeto, e uma boa matriz de avaliao e

    tm vindo a suscitar cada vez mais interesse em todo o mundo, entre arquitetos, designers, paisagistas,

    engenheiros e informticos, tendo sido aplicados, com sucesso, em projetos de espaos pblicos,

    edifcios, equipamentos, produtos, etc.

    A Figura 5 explica o modo como o desenho universal

    enquadra acessibilidade, usabilidade e a diversidade

    de utilizadores sendo que num primeiro ponto,

    acessibilidade no mais que garantir que algo possa

    ser utilizado, usabilidade fazer com que esse objeto

    seja mais facilmente utilizado e finalmente,

    enquadrando a diversidade de utilizadores garante

    uma expanso da quantidade de utilizadores. Ento o

    desenho universal tornar algo mais fcil de utilizar

    para um maior nmero de pessoas.

    Figura 5 Comparao entre Acessibilidade,

    Usabilidade e desenho universal (Fonte:

    http://www.fujixerox.com/eng/company/technology/

    design/universal.html)

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    10

    Os 7 Princpios do Design Universal

    Uma equipa do Centro para o Desenho Universal da Universidade Estadual da Carolina do Norte, com

    o objetivo de determinar as caractersticas timas da performance e dos componentes que fazem os

    produtos e os ambientes usveis pela maior diversidade de pessoas, conduziu uma srie de avaliaes

    de produtos de consumo, espaos arquitetnicos e elementos de construo. Foi ento criado um grupo

    de trabalho composto por arquitetos, designers industriais, engenheiros e investigadores para elaborar

    um conjunto de princpios que pudesse conter a base de conhecimento existente sobre Desenho

    Universal. Princpios aplicveis a todas as disciplinas de projeto, Arquitetura, Urbanismo e Design, e a

    todas as pessoas.

    Os 7 princpios bsicos do Desenho Universal so:

    Utilizao equitativa: pode ser utilizado por qualquer grupo de utilizadores;

    Flexibilidade de utilizao: Engloba uma gama extensa de preferncias e capacidades

    individuais;

    Utilizao simples e intuitiva: fcil de compreender, independentemente da experincia do

    utilizador, dos seus conhecimentos, aptides lingusticas ou nvel de concentrao;

    Informao percetvel: Fornece eficazmente ao utilizador a informao necessria, qualquer

    que sejam as condies ambientais/fsicas existentes ou as capacidades sensoriais do

    utilizador;

    Tolerncia ao erro: minimiza riscos e consequncias negativas decorrentes de aes

    acidentais ou involuntrias;

    Esforo fsico mnimo: pode ser utilizado de forma eficaz e confortvel com um mnimo de

    fadiga;

    Dimenso e espao de abordagem e de utilizao: Espao e dimenso adequada para a

    abordagem, manuseamento e utilizao, independentemente da estatura, mobilidade ou

    postura do utilizador. (Story, M., Mueller, J., Mace, R., 1998)

    Figura 6 Os 7 Princpios do Design Universal (Fonte: http://access.ecs.soton.ac.uk/blog/training/universal-

    design/)

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    11

    Entretanto o termo Desenho Universal posto em causa por alguns autores que o consideram

    enganoso, pois aponta para uma nica soluo universal para todos os problemas do projeto, indo de

    encontro s necessidades de todas as pessoas, algo impossvel, pois no existe um objeto que toda a

    gente, sem exceo, possa utilizar. Steinfeld e Tauke (2002) afirmam que o termo Desenho Inclusivo

    mais exato, considerando que o pblico-alvo ou a universalidade ser apenas a razoavelmente

    possvel.

    Quanto s vantagens da aplicao do desenho inclusivo, podem ser interpretadas sob diferentes

    ngulos:

    Para Clarkson e Keates (2003), o desenho inclusivo ajuda maximizao de mercado dos produtos,

    pois permite que este seja utilizado por um maior nmero de pessoas. Assim, o desenho inclusivo, no

    uma atividade dirigida ao nicho de mercado das pessoas com necessidades especiais, todas as

    pessoas podem beneficiar dele, gerando maiores lucros.

    Segundo Steinfeld e Tauke (2002) ao visar a eliminao da discriminao, o desenho inclusivo apoia a

    plena participao social para todos os membros da sociedade. Fornecendo uma caracterstica

    funcional fcil de usar e atrativa aos consumidores, est a aumentar o respeito pela diferena e a evitar

    o estigma.

    O estigma tambm focado por Coleman (1999) ao sublinhar a importncia de todas as pessoas de

    todos os nveis da sociedade conseguirem uma vida independente ou normal. Reala tambm que as

    pessoas com incapacidade no querem produtos diferentes ou especiais, nem serem separadas do resto

    da comunidade, algo possvel de conseguir atravs do desenho inclusivo.

    2.2 REAS DE ESTUDO

    Neste subcaptulo pretende-se fazer um apanhado geral das vrias reas abrangidas pela acessibilidade,

    pois, apesar deste estudo se focar no espao edificado essa no a nica vertente onde necessria

    acessibilidade. Segundo Iwarson e Stahl (2003) a acessibilidade um termo que abrange todos os

    parmetros que influenciam a ao humana no ambiente que o rodeia. Aplica-se ento a problemtica

    da acessibilidade, a reas distintas, focando-se o debate internacional principalmente em quatro

    vertentes representadas na Figura 7. Para cada uma dessas vertentes ser, seguidamente, feito um

    resumo das temticas que tm sido alvo do interesse da comunidade cientfica.

    Figura 7 Representao das quatro vertentes da acessibilidade mais investigadas

    2.2.1 COMUNICAO

    Comeando pela comunicao, Americans with Disabilities Act (2007), defende que a comunicao

    deve ser efetiva, ou seja, tudo o que seja escrito ou falado deve ser compreendido por todos do mesmo

    modo, tenham ou no algum tipo de deficincia que afete a comunicao. Segundo os mesmos, para a

    maior parte das pessoas a comunicao no um problema, excetuando-se as que tm deficincias que

    Acessibilidade

    Espao Edificado

    Transportes Internet Comunicao

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    12

    impliquem a audio, viso, fala, leitura, escrita ou compreenso, que devido a esses problemas tm de

    utilizar diferentes meios para comunicar.

    Destacam-se ento neste campo cientfico vrios projetos na rea das ajudas comunicao como

    prteses auditivas e visuais, escrita braille, impresso aumentada, programas de leitura de texto,

    geradores de som, telefones com videochamada, linguagem gestual, geradores e amplificadores de

    voz, criao de smbolos e sinaltica ou o recente cdigo de cores para daltnicos. Mirenda (2003)

    reala que independentemente da modalidade ou ajuda utilizada, uma interveno bem-sucedida

    quando torna a comunicao entre pessoas e ambientes o mais espontnea possvel, reforando com

    isso a necessidade da existncia de tais tcnicas de comunicao das quais, segundo o mesmo,

    ningum deve ser privado. A combinao de uma ajuda individualizada, uma boa instruo e o ajuste

    destas aos ambientes, parceiros de comunicao e s necessidades de comunicao da pessoa em

    questo so necessrios para maximizar a possibilidade de sucesso comunicao para pessoas com

    este tipo de limitaes.

    2.2.2 INTERNET

    A acessibilidade na internet pode ser inserida na comunicao, pois esta no fundo um meio de

    comunicao. O facto de ser o maior conglomerado de redes de comunicaes em escala mundial e

    dispor de milhes de computadores interligados permitindo o acesso a informaes e todo tipo de

    transferncia de dados eleva-a para outra escala, tendo tambm na rea das acessibilidades uma

    importncia extrema, podendo ser considerado um campo isolado de investigao. De acordo com a

    Internet World Stats (2012), mais de dois mil milhes de pessoas tem acesso Internet, o que

    representa mais de 30% da populao mundial, neste nmero incluem-se pessoas de diferentes idades,

    culturas, educao e com diferentes capacidades, tanto fsicas como cognitivas.

    Para Henry (2005) a internet tem cada vez mais importncia em reas como educao, emprego,

    governo, comrcio, sade e lazer, entre outras, sendo essencial garantir igualdade no acesso internet

    e s oportunidades por ela criada para todas as pessoas. Clark (2003) define a acessibilidade na

    internet como a prtica de fazer websites utilizveis por pessoas com todas as capacidades e

    incapacidades. Ponto reforado por Petrie e Kheir (2007) reforando que na maior parte das vezes o

    aumento da acessibilidade a pensar nas pessoas com incapacidade levam a um aumenta da usabilidade

    para todos os utilizadores.

    A acessibilidade na internet tem sido desenvolvida atravs Web Accessibility Initiative (WAI) ento

    definida em trs principais guias:

    Web Content Accessibility Guidelines (WCAG, 2008), que conta com duas verses, a primeira data de

    1999 e estabelece parmetros que ajudam a tornar os contedos da internet mais acessveis, tanto para

    as pessoas com diferentes capacidades como para um espectro mais alargado de aparelhos de output,

    como dispositivos mveis. Este guia foi considerado um padro servindo de base para legislao e

    metodologias de avaliao em vrios pases. Uma segunda verso do documento, em 2008, alarga os

    parmetros a todas as tecnologias de programao e estes passam de meras instrues aos autores para

    parmetros testveis e aplicveis.

    Authoring Tools Accessibility Guidelines (ATAG, 2000), desenvolvido em 2000, so um conjunto de

    parmetros para os criadores de programas de construo e edio de pginas de internet cujo objetivo

    torna-los acessveis para todos os programadores, independentemente das suas capacidades, produzir

    contedos acessveis partida por definio e estimular e ajudar os programadores a criarem

    contedos acessveis.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    13

    Finalmente, o User Agent Accessibility Guidelines (UAAG, 2002) so tambm um conjunto de

    parmetros, desta feita dedicado aos programadores que criam softwares de navegao e visualizao

    de contedos, tornando-os o mais acessveis possvel, pois no adianta haver contedos acessveis se

    os meios pelos quais estes so divulgados no o so. Est neste momento a ser desenvolvida uma nova

    verso deste documento que se espera vir a ser completada ainda em 2013.

    2.2.3 TRANSPORTES

    Uma rea em grande destaque na investigao internacional sobre acessibilidade so os transportes,

    como j foi referido anteriormente, o foco desta reviso incide sobre a acessibilidade definida como o

    conjunto das caractersticas de um servio, equipamento ou edifcio que permitem o acesso de todas

    as pessoas, incluindo aquelas com mobilidade reduzida ou com necessidades especiais (Infopdia,

    2012), assim, dentro dos transportes, a investigao vai incidir na acessibilidade fsica ao meio de

    transporte em si e no nos destinos ou oportunidades proporcionadas por este.

    Segundo Cullen (2006) a acessibilidade cada vez mais reconhecida como um elemento chave para

    um sistema de transporte de alta qualidade, eficiente e sustentvel. Todos os utilizadores beneficiam

    de acesso mais fcil a autocarros, comboios, avies ou barcos. Griffin (2000) defende que o melhor

    modo de aumentar a utilizao dos transportes pblicos estabelecer um ambiente onde o acesso dos

    pees seja seguro, conveniente e confortvel. A acessibilidade nos transportes comea ento nos

    terminais, a falta de acessibilidade num terminal de transportes pblicos traz inconvenientes maioria

    das pessoas, culminando no impedimento da livre circulao das pessoas com incapacidades motoras.

    importante ter em conta vrios fatores quando se analisa um ciclo de viagem do ponto de vista da

    acessibilidade, principalmente ao nvel dos obstculos impostos aos utilizadores, que aumentam

    conforme o seu nvel de incapacidade. A Figura 8 mostra um ciclo de viagem padro em transporte

    pblico, comeando no planeamento da viagem, o acesso do exterior para o terminal, a compra de

    bilhetes, encontrar o servio pretendido, aguardar no terminal, a embarque no meio de transporte, a

    chegada ao destino e o desembarque do meio de transporte.

    Figura 8 O Ciclo de Viagem. (Adaptado de: Assessment of Accessibility Standards for Disabled People in Land

    Based Public Transport Vehicles, Lafratta, 2008).

    A -Planeamento

    da viagem

    B - Viagem para o terminal de transportes

    C - Acesso ao terminal de transportes

    D - Compra de bilhete

    E - Encontrar o servio

    pretendido

    F - Embarque no meio de transporte

    G - Chegada ao destino

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    14

    Para alm destes fatores, Lafratta (2008) foca a acomodao durante a viagem, a criao de lugares

    especiais para diferentes necessidades, como espaos dedicados a cadeiras de rodas, com o tamanho

    apropriado, perto de uma entrada acessvel, de instalaes sanitrias acessveis e com lugares para pelo

    menos um acompanhante. Este foco nos lugares acessveis dos meios de transporte transversal a

    todos os meios de transporte embora nos transportes areos esteja muito aqum das espectativas. No

    caso de um utilizador em cadeira de rodas ele levado para o seu lugar de cabine, perdendo toda a sua

    autonomia e mobilidade durante a viagem, incluindo o acesso s instalaes sanitrias (Accessible Air

    Travel, 2009)

    2.2.4 ESPAO EDIFICADO

    Segundo o Conceito Europeu de Acessibilidade (2003), podem-se distinguir dois tipos de meio fsico:

    natural e edificado. Quando se fala em acessibilidade, a referncia ao meio edificado, pois o meio

    fsico natural aquele cujo desenvolvimento depende to s da ao de elementos naturais, como a

    chuva e o vento, sendo quase sempre inacessvel e inabitvel. Logo que um ambiente fsico natural,

    como por exemplo uma floresta, modificado para ser utilizado pelo homem, torna-se parte do meio

    edificado. Assim, o meio edificado, quer seja privado ou pblico, refere-se a qualquer espao ou

    edificao construdos pelo homem, dependendo do prprio homem a sua acessibilidade.

    A comunidade cientfica tem-se debruado bastante na falta de acessibilidade no espao edificado.

    Darcy and Harris (2003) entendem que um ambiente inacessvel pode afetar negativamente o bem-

    estar de pessoas com incapacidade pois as barreiras arquitetnicas impedem essas pessoas de aceder a

    infraestruturas, logo de realizar as atividades que nelas se desenvolvem. Segundo Henry (2009), a falta

    de acessibilidade ao ambiente fsico edificado uma das barreiras mais significativas participao

    das pessoas com incapacidades na sociedade.

    Para OHara e Cooper (2004) um ambiente inacessvel pode tambm causar uma maior

    vulnerabilidade ao stress, baixa auto estima e um grande desconforto a quem no consiga ultrapassar

    certas barreiras arquitetnicas. Ento, os edifcios, especialmente os pblicos, devem ser construdos

    com base num desenho sem barreiras, que encoraje a integrao e o acesso de modo prtico e seguro

    para todas as pessoas, incluindo as que tem problemas de viso ou audio, que trazem um carrinho de

    beb, andam numa cadeira de rodas ou os idosos.

    A falta de acessibilidade pode, para Alonso (2005) ser dividida em quatro fatores, apresentando maior

    ou menor dificuldade de resoluo. Pode resultar de problemas estruturais derivados da configurao

    estrutural do espao urbano e da falta de considerao pela acessibilidade na conceo da cidade e nos

    planos urbansticos: mudanas de cotas, pendentes excessivas, passeios estreitos, etc., problemas no

    desenho urbano, derivados da falta de integrao da acessibilidade nos projetos de execuo dos

    espaos da cidade: o passeio e a colocao do mobilirio urbano ou das rvores, pavimentao

    inadequada, falta de rebaixamento nos cruzamentos, elementos que limitam a altura livre no passeio,

    etc., problemas de manuteno derivados da falta de considerao da acessibilidade nas tarefas de

    manuteno e gesto do espao pblico urbano: mau estado do pavimento, inadequada poda das

    rvores, etc. e finalmente, problemas de incumprimento cvico e normativo, derivados da falta de

    considerao da acessibilidade no uso da cidade e na falta de fiscalizao por parte da polcia e da

    administrao municipal: veculos mal estacionados, obras, esplanadas, toldos, publicidade, etc.

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    15

    2.3 LEGISLAO E OUTRAS INICIATIVAS PBLICAS

    2.3.1 NVEL EUROPEU

    Como est bem assente nos artigos 2 e 3 do Tratado da Unio Europeia (Unio Europeia, 1992),

    que esta se rege por valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade e do respeito pelos

    direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias, combatendo a excluso

    social e as discriminaes e promovendo, nomeadamente, a justia e a proteo sociais.

    Tambm no Tratado sobre o Funcionamento da Unio Europeia (Unio Europeia, 1957), e

    segundo os artigos 10 e 19, na definio e execuo das suas polticas e aes, a Unio tem por

    objetivo combater a discriminao e aps aprovao do Parlamento Europeu, pode tomar as medidas

    necessrias para combater a discriminao, nomeadamente a discriminao em razo da deficincia.

    A Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europeia (Unio Europeia, 2000) reafirma o direito

    no discriminao e o princpio da integrao das pessoas com deficincia. So ento evidentes as

    preocupaes da Unio com a igualdade de direitos e a no excluso e por conseguinte o direito

    acessibilidade plena e para todos.

    O aparecimento, em 1996, do Conceito Europeu de Acessibilidade (Conselho Europeu, 2003) um

    exemplo dessas preocupaes. Este surge como resposta a um pedido da Comisso Europeia

    apresentado em 1987 e assenta nos princpios do desenho universal nos edifcios, infraestruturas e

    produtos para consumo e na disponibilizao de meios fsicos adequados e seguros, usufrudos por

    todos, incluindo as pessoas com deficincia, rejeitando assim a diviso que se faz de pessoas sem e

    com deficincia. feita uma abordagem centrada no ser humano e na sua diversidade, seja ela

    dimensional, percetiva, motora ou cognitiva, associando a acessibilidade para todos como uma

    oportunidade e a sua conceo como um investimento em vez de um custo para a sociedade. O

    documento providencia ainda algumas recomendaes para a criao de ambientes fsicos acessveis,

    atravs de exemplos de diretrizes que adaptem o desenho dos espaos e dos servios s necessidades

    criadas pela diversidade humana. Esses exemplos devem ser utilizados como fonte de inspirao

    criao de legislao e manuais de boas prticas. Finalmente, o documento faz algumas

    recomendaes para a gesto da acessibilidade nas cidades, com o exemplo de Barcelona, indicando

    um mtodo de interveno que congrega as diferentes partes envolvidas no processo, polticos,

    tcnicos, cidados e empregados, especificando reas de ao e definindo um sistema de gesto, assim

    como coordenando, analisando e avaliando a opinio de todos os envolvidos.

    Em 2001 a Resoluo do Acordo Parcial (Conselho Europeu, 2001) vem recomendar aos Estados

    membros, entre outras medidas, que tomem em considerao na elaborao das polticas nacionais, os

    princpios de desenho universal e as medidas visando melhorar a acessibilidade no sentido mais lato

    possvel, relativamente aos programas de ensino e a outros aspetos da educao, da formao e da

    sensibilizao que relevam diretamente dos governos, de acordo com as responsabilidades de cada

    pas. Define tambm a introduo dos princpios de desenho universal nos programas de formao do

    conjunto das profisses relacionadas com o meio edificado, a todos os nveis e em todos os sectores.

    Segundo esta resoluo, a noo de desenho universal deve fazer parte integrante do ncleo bsico da

    formao inicial destas profisses e deve ser proposta uma formao contnua adequada aos

    profissionais da rea, tais como arquitetos, engenheiros, projetistas e urbanistas, devendo a sua

    participao ser vivamente encorajada. A Resoluo do Acordo Parcial defende que os programas de

    ensino devem ser concebidos em colaborao com os utilizadores, incluindo os organismos e

    associaes de e para pessoas com deficincia;

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    16

    Finalmente aparece a Estratgia Europeia para a Deficincia 2010-2020 (Conselho Europeu, 2010),

    cujo principal objetivo capacitar as pessoas com deficincia para que possam usufruir de todos os

    seus direitos e beneficiar plenamente da sua participao na sociedade e na economia europeias. So

    identificadas oito grandes reas de ao: acessibilidade, participao, igualdade, emprego, educao e

    formao, proteo social, sade e ao externa. Na rea da acessibilidade os objetivos so garantir

    que as pessoas com deficincia tenham acesso, em condies de igualdade com os demais cidados, ao

    ambiente fsico, aos transportes, aos sistemas e tecnologias da informao e comunicao (TIC) e a

    outras instalaes e servios. Para isso, para alm de uma aposta em legislao e normalizao,

    fomentar a incluso dos temas acessibilidade e desenho universal nos programas escolares e nas

    aes de formao especificamente destinadas aos profissionais pertinentes. Esta estratgia define

    tambm que a Unio Europeia apoiar e complementar tambm as atividades nacionais que visem

    aplicar o princpio da acessibilidade, eliminar as barreiras existentes e melhorar a disponibilidade e a

    gama disponvel de tecnologias de assistncia.

    2.3.2 NVEL NACIONAL

    A par da Unio Europeia e de outras organizaes internacionais em que se encontra integrado, como

    por exemplo a Organizao das Naes Unidas, Portugal tem dado cada vez mais importncia

    temtica da acessibilidade.

    Segundo a Constituio da Repblica Portuguesa (Assembleia Constituinte, 1976), cabe ao Estado a

    promoo do bem-estar e qualidade de vida da populao e a igualdade real e jurdico-formal entre

    todos os portugueses.

    com base nestes valores que se defende, segundo a Lei de Bases da Preveno, Habilitao,

    Reabilitao e Participao das Pessoas com Deficincia a promoo de uma sociedade para todos

    atravs da eliminao de barreiras e da adoo de medidas que visem a plena participao da pessoa

    com deficincia (Lei n. 38/2004).

    Desde os anos 80 que a acessibilidade fsica s pessoas com mobilidade reduzida tem sido defendida

    em Portugal. Em 1982 foi dado o primeiro passo nesse sentido com uma alterao do Regulamento

    Geral das Edificaes Urbanas (Decreto-Lei n 43/82). Estas alteraes teriam o objetivo de aprovar

    medidas para criar condies mnimas de acessibilidade nas novas edificaes mas nunca chegaram a

    vigorar, tendo sido publicado o Decreto-Lei 172-H/86, de 30 de Junho, que as revogou com a

    justificao de que iria gerar um aumento nos custos das habitaes. A alterao no avanou tambm

    no que refere ao espao pblico, mesmo no tendo sido realizados estudos concretos sobre a

    quantificao dos custos da eliminao das barreiras arquitetnicas nos edifcios e na via pblica mas,

    ...segundo informao do Governo ao Conselho Superior de Obras Pblicas e Transportes, a

    aplicao do DL n. 43/82 acarretaria um aumento de custos na construo na ordem dos 5%.

    (ISCTE, 1997).

    Em Julho de 1986 foi publicado um despacho que aprova as Recomendaes Tcnicas para melhoria

    da acessibilidade dos deficientes aos estabelecimentos que recebem pblico, medida reforada pela

    Resoluo de Conselho de Ministros n 34/88, de 16 de Julho, que previu a criao de meios que

    possibilitem o acesso aos servios pblicos de cidados de mobilidade condicionada. Salienta-se que

    no possuam valor legal e consequentemente A eficcia destas recomendaes foi reduzida pelo

    facto de serem meras recomendaes e tambm pela reduzida divulgao que tiveram. (ISCTE,

    1997).

    Apenas em 1997 foi publicado um diploma de mbito nacional que exigia a acessibilidade nos espaos

    que recebem pblico. Segundo o Decreto-Lei n. 123/97, de 22 de Maio, que aprova as normas

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    17

    tcnicas destinadas a permitir a acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada a edifcios de

    acesso pblico, equipamentos coletivos e vias pblicas, os espaos pblicos deveriam ser acessveis

    at 2004 e as novas construes que recebem pblico, com algumas excees, teriam que ser

    acessveis segundo as normas deste Decreto-Lei.

    O papel desempenhado pelas Cmaras Municipais era essencial no que respeita aplicao efetiva do

    diploma aos edifcios e estabelecimentos que recebessem pblico e via pblica. Igualmente

    fundamental era o desempenho dos diversos servios e organismos da Administrao Pblica no que

    respeita adaptao dos edifcios existentes e construo de novos, para que se caminhasse no sentido

    de uma cidade acessvel.

    Diploma que apesar das muitas fragilidades que lhe foram apontadas, permitiu uma aprecivel

    mudana de mentalidades e de filosofia e ainda a criao de condies de acessibilidade em edifcios

    pblicos e que recebem pblico, bem como na via pblica. Algum fracasso no que respeita aplicao

    pode ter-se devido falta de fiscalizao e ausncia de escalonamento para se realizar as adaptaes

    necessrias, alm das muitas excees criadas.

    A promulgao, em 2004, da Lei de Bases da Preveno, Habilitao Reabilitao e Participao

    das Pessoas com Deficincia (Lei n. 38/2004, de 18 de Agosto) que reafirma que a promoo de

    uma sociedade para todos atravs da eliminao de barreiras e da adoo de medidas que visem a

    plena participao da pessoa com deficincia uma incumbncia do estado e o desenvolvimento das

    Grandes Opes do Plano 2005-2009 (Conselho de Ministros, 2005) onde definida a necessidade

    de elaborar o Plano Nacional para a Preveno, Habilitao, Reabilitao e Participao das Pessoas

    com Deficincia, decorrente da Lei de Bases, aprovar e implementar o regime jurdico das

    organizaes no-governamentais das pessoas com deficincia, aprovar e implementar o regime de

    representao legal, e matrias conexas, de maiores e menores em situao de incapacidade e aprovar

    e implementar o regime jurdico das Acessibilidades, so o ponto de partida para o 1 Plano de Aco

    para a Integrao das Pessoas com Deficincias ou Incapacidade (PAIPDI) e para o Plano Nacional

    para a Promoo da Acessibilidade (PNPA), bem como para o Decreto-lei 163/2006, de 8 de Agosto, a

    nova Lei das acessibilidades.

    O Decreto-lei 163/2006, de 8 de Agosto, veio revogar e substituir o Decreto-Lei n 123/97, de 22 de

    Maio, definindo condies de acessibilidade a satisfazer no projeto e na construo de espaos

    pblicos, equipamentos coletivos e edifcios pblicos e habitacionais, aprovando em anexo as normas

    tcnicas a que devem obedecer aqueles edifcios. Este Decreto-Lei traz alteraes significativas a

    vrios nveis, desde logo ao nvel das infraestruturas por si abrangidas, pois acrescenta aos edifcios

    pblicos, equipamentos coletivos e via pblica, todos edifcios e estabelecimentos que recebem

    pblico, e tenham mais de 150m2, e edifcios habitacionais. reforado tambm o conjunto de

    medidas que pretende evitar a construo de novas edificaes no acessveis, sendo impedida a

    construo quando em no conformidade com a lei, ou a abertura de quaisquer estabelecimentos

    destinados ao pblico, atravs da no atribuio de licena. So introduzidos mecanismos mais

    exigentes a observar sempre que quaisquer excees ao integral cumprimento das normas tcnicas

    sobre acessibilidade sejam concedidas, sendo feita a exceo a cada norma, no libertando da

    obrigao total de adaptao pela impossibilidade de cumprimento de apenas uma norma.

    Ao nvel das sanes aplicadas este Decreto-lei define coimas para a violao das normas tcnicas de

    acessibilidades sensivelmente mais elevadas que as previstas no diploma anterior e a sua aplicao

    pode tambm ser acompanhada da aplicao de sanes acessrias, como a no atribuio de licena

    durante um certo perodo de tempo. Outra aposta feita neste documento a participao pblica,

    permitindo e incentivando um papel ativo na defesa dos interesses acautelados aos cidados com

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    18

    necessidades especiais e s organizaes no-governamentais representativas dos seus interesses.

    Foram tambm acautelados mecanismos de avaliao e acompanhamento da sua aplicao,

    procedendo-se periodicamente a um diagnstico global do nvel de acessibilidade existente no

    edificado nacional.

    A fiscalizao do cumprimento das normas definidas no decreto-lei divide-se em trs escalas:

    Entidades da administrao pblica central e dos institutos pblicos que revistam a natureza

    de servios personalizados e de fundos pblicos cabem Direco-Geral dos Edifcios e

    Monumentos Nacionais, de salientar que esta foi extinta pelo D.L. n 223/2007 de 30 de Maio

    a quando da criao do Instituto da Habitao e da Reabilitao Urbana (IHRU, I. P.), onde se

    integraram as atribuies do Instituto de Gesto e Alienao do Patrimnio Habitacional do

    Estado (IGAPHE) e da Direco-Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais (DGEMN),

    excluindo neste caso as atribuies referentes ao patrimnio classificado.

    Entidades da administrao pblica local Inspeo Geral da Administrao do Territrio

    que, no seguimento da entrada em vigor dos Decretos-Lei n.s 7/2012, de 17 de janeiro e

    23/2012, de 1 de fevereiro, se fundiu com o Instituto de Gesto e Administrao Pblica,

    dando origem IGAMAOT Inspeo-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do

    Ordenamento do Territrio.

    Particulares ficam a cargo das cmaras municipais.

    Surge tambm em 2006 o 1 Plano de Ao para a Integrao das Pessoas com Deficincias ou

    Incapacidade (Conselho de Ministros, 2006), para o perodo 2006-2009. Este documento surge como

    o epicentro das diversas vertentes da poltica de deficincia e no que respeita temtica da

    acessibilidade o grande objetivo garantir a acessibilidade a servios, equipamentos e produtos. Para a

    realizao deste objetivo denotam-se medidas de preveno como a elaborao de um guia de

    recomendaes para a incluso das questes do Desenho Universal nos currculos da Universidades,

    Escolas Superiores e Tcnicas, pblicas e privadas, que nunca chegou a ser realizado, e a elaborao

    de um guio tcnico de divulgao de largo espectro, na rea das acessibilidades em edifcios

    habitacionais em situao de reabilitao urbana e de reparao, de que exemplo a realizao de um

    programa de informao dirigido s Cmaras Municipais sobre as Normas Tcnicas de Acessibilidade

    no meio edificado pblico, habitacional e via pblica. Os instrumentos definidos para por em prtica

    tais medidas so o Plano Nacional de Promoo da Acessibilidade (PNPA), contemplando os

    diferentes domnios da acessibilidade, o Programa de formao a agentes autrquicos em matria de

    acessibilidade e desenho universal, abrangendo no mnimo 80 Municpios e o Prmio de

    Acessibilidade, a atribuir periodicamente a projetos inovadores em empreendimentos habitacionais.

    Em 2007 criado o Plano Nacional de Promoo da Acessibilidade (Conselho de Ministros, 2007),

    este constitui um instrumento estruturante das medidas que visam a melhoria da qualidade de vida de

    todos os cidados e, em especial, a realizao dos direitos de cidadania das pessoas com necessidades

    especiais atravs da garantia, s pessoas com mobilidade condicionada ou dificuldades sensoriais, da

    utilizao plena de todos os espaos pblicos e edificados, mas tambm dos transportes e das

    tecnologias da informao. A implementao do PNPA definida para o perodo de 2006-2015,

    considerando dois horizontes temporais: Um perodo at 2010, em que so definidos objetivos com

    medidas e aes concretas, indicando os respetivos prazos de concretizao e promotores e um

    perodo de 2011 a 2015, cujos objetivos seriam definidos em finais de 2010, tendo em conta uma

    avaliao sobre o estado da aplicao do PNPA.

    Na primeira fase de implementao do PNPA so estabelecidas linhas de orientao para alcanar os

    seguintes objetivos:

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    19

    1. Sensibilizar, informar e formar;

    2. Assegurar a acessibilidade no espao pblico e no meio edificado;

    3. Promover a acessibilidade nos transportes;

    4. Apoiar a investigao e a cooperao internacional;

    5. Fomentar a participao;

    6. Garantir a aplicao e o controlo;

    Ao Instituto Nacional para a Reabilitao caberia o papel de acompanhamento e monitorizao da

    implementao do PNPA, tendo a obrigao de providenciar junto de todas as entidades pblicas e

    privadas envolvidas, informao sobre o grau de execuo das medidas.

    Essa avaliao foi realizada no Relatrio de Execuo da Fase 1 do PNPA 2007-2010 (INR, 2010),

    sendo que, segundo o relatrio, esta avaliao permitiu obter uma discriminao individualizada ao

    a ao, dentro de cada Linha, no permitiu por outro lado, uma perceo imediata da globalidade da

    avaliao. Esta falha na avaliao deveu-se, segundo o mesmo relatrio, a alguns constrangimentos

    como o facto de a implementao de uma grande parte das medidas/aes referidas, depender da ao

    das autarquias e, tendo em conta o nmero de autarquias existentes, terse- tornado muito difcil realizar uma consulta exaustiva com vista verificao do estado de implementao, a falta de

    definio da entidade ou entidades para as quais transitaram as competncias da DGEMN, que

    resultou no no cumprimento avaliao e acompanhamento do processo nas entidades da

    administrao pblica central e dos institutos pblicos que revistam a natureza de servios

    personalizados e de fundos pblicos.

    Como recomendaes futuras o relatrio que considerou 2007-2010 como um processo de

    aprendizagem, conclui que um novo tipo de ficha de monitorizao, com metas, indicadores,

    periodicidade de recolha, identificao de agentes mais relevantes, que garantam a transversalidade da

    monitorizao da execuo, permitir verificar se os atuais responsveis podero ser os mais indicados

    para assegurar a execuo e/ou os mecanismos de recolha da implementao. Ser tambm

    importante, para o futuro, identificar as sinergias que resultam da articulao entre diferentes aes,

    eventualmente pertencentes a diferentes linhas, de forma a poderem reforarse entre si e potenciar os seus efeitos positivos. Finalmente, a ttulo de exemplo, o relatrio reala as implicaes que podem

    existir entre a formao de sensibilizao dirigida s pessoas com deficincia, suas famlias e tcnicos

    de organizaes no-governamentais na rea dos direitos das pessoas com deficincia, e o eventual

    aumento, por parte dos diversos organismos/servios, do nmero de reclamaes relacionadas com o

    exerccio da cidadania.

    2.3.3 NVEL LOCAL

    Ao nvel local, as iniciativas em prol da acessibilidade so geralmente tomadas pelos municpios e

    juntas de freguesia tentando resolver situaes pontuais e no respondendo a critrios estratgicos e

    territoriais, o que reduz os seus efeitos. muitas vezes uma resposta a um problema especfico, no

    existindo uma viso integral da acessibilidade, em todas as suas vertentes, no e respondendo a todas

    as limitaes, nem a sua implementao ocorre de um modo integrado, criando planos ou

    regulamentos, o que diminuiu a sua eficcia.

    No que toca a planos integrados de acessibilidade, e focando os de iniciativa estritamente municipal,

    existem poucos casos no pas. A Cmara Municipal de Lisboa afirma-se como a pioneira nesta rea,

    com regulamentao desde 1980, com a criao do primeiro grupo de trabalho para as acessibilidades

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    20

    em 1981 e com posturas municipais que definiam normas e conceitos de acessibilidade e eliminao

    de barreiras arquitetnicas, como instrumentos auxiliares de trabalho de projetistas e interventores no

    espao pblico.

    Em 1997, aprova a criao do Conselho Municipal para a Integrao da Pessoa com Deficincia.

    Apoiado pelo Departamento de Ao Social a atividade do Conselho rege-se por princpios como

    promover o dilogo entre pares como forma de estimular e fomentar a construo de espaos urbanos

    acessveis a toda a populao ou cooperao interinstitucional com o objetivo de melhorar a qualidade

    de vida, acessibilidade e mobilidade na cidade da pessoa com deficincia (Deliberao n.

    65/AM/2009). Por necessidade de atualizao e adaptao nova realidade jurdica imposta pelo

    Decreto-Lei n 123/97 e na sequncia da deciso do Conselho da Europa de proclamar 2003 - Ano

    Europeu das Pessoas com Deficincia, a Cmara Municipal de Lisboa publica em 2004 o

    Regulamento Municipal para a Promoo da Acessibilidade e Mobilidade Pedonal (CML, Edital n.

    29/2004) que estabelece parmetros de acessibilidade fsica que em conjunto com outros parmetros

    indispensveis prtica de planeamento e projeto, tm o objetivo de contribuir para a sua qualidade e

    consequente melhoria do espao urbano.

    Em 2009 comea a ser criado o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, este tem por objetivo

    tornar Lisboa acessvel impedindo a criao de novas barreiras, adaptando as edificaes existentes e

    mobilizando a comunidade para a criao de uma cidade para todos. Neste plano so definidas 5 reas

    operacionais: via pblica, equipamentos municipais, articulao com a rede de transporte pblico,

    fiscalizao de particulares e desafios transversais (CML, Deliberao n. 566/CM/2009).

    A norte, criao do cargo de Provedor Metropolitano dos Cidados com Deficincia (Porto) e nas

    Cmaras Municipais de Sta. Maria da Feira, Marco de Canaveses, Lous e Viseu tambm um marco

    importante pois no mbito das funes da Provedoria esto a anlise do impacto da falta de

    acessibilidades como fator de discriminao, informar e sensibilizar tcnicos que trabalham as

    questes do urbanismo, via pblica e transportes sobre as questes da acessibilidade e mobilidade e

    promover sesses de trabalho acerca do regime jurdico das acessibilidades.

    Em 2008 criado, por proposta do Provedor Metropolitano dos Cidados com Deficincia, e aprovado

    pela Junta Metropolitana do Porto o Conselho de Acompanhamento e Implementao de

    Acessibilidade e Mobilidade para Todos (CAIAMT). Este Conselho teria como misso contribuir para

    criar uma marca de acessibilidade e de mobilidade para todos na rea Metropolitana do Porto.

    Com vista avaliao do grau de execuo e de eficcia decorrentes da aplicao de Decreto-Lei n

    123/97, no que toca s condies de acessibilidade das pessoas com necessidades especiais, o Instituto

    Nacional para a Reabilitao (INR) promoveu, em Janeiro de 2003, em colaborao com a Associao

    Nacional de Municpios Portugueses (ANMP), um inqurito s autarquias. Apenas 150 dos 308

    Municpios inquiridos remeteram ANMP os questionrios respondidos.

    A reduzida taxa de respostas a este inqurito apenas permitiu tirar concluses de natureza geral, como

    o reconhecimento da ausncia de levantamentos e identificao das barreiras arquitetnicas, a falta de

    financiamento para as intervenes e a falta de informao/sensibilizao do pessoal tcnico ligado

    aos servios de obras e conservao dos edifcios. No entanto, os resultados obtidos permitiram

    corroborar a ideia formada de que poucas intervenes, com vista a assegurar condies de

    acessibilidade, haviam sido realizadas aps a entrada em vigor do referido diploma (SNDRIP, 2007).

    Em 2003 Ano Europeu das Pessoas com Deficincia deu o mote construo da cidade solidria,

    democrtica e acessvel para todos. Competia comunidade e particularmente aos seus representantes

  • Barreiras Implementao da Acessibilidade: Formao Tcnica

    21

    eleitos dar o exemplo. A necessidade afirmada por todos de requalificar os espaos urbanos encontra

    um parceiro no projeto nacional Rede Nacional de Cidades e Vilas com Mobilidade para Todos.

    Esse projeto foi lanado pela Associao Portuguesa dos Planeadores do Territrio (APPLA), com a

    pretenso de constituir um instrumento de planeamento capaz de intervir na melhoria das condies de

    acessibilidade no meio urbano. Estava ento lanado um desafio aos Municpios e a todos os tcnicos

    e profissionais do planeamento e desenho urbano para que numa atuao conce