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BEIJOS DA KATIE

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Este livro convida os leitores a uma jornada de amor incondicional. Katie, uma jovem carismática e expressiva, foi para Uganda numa breve missão durante as férias de Natal, e sua vida virou do avesso. Ela se sentiu tão tocada pelo povo e pelas necessidades desse país, que compreendeu que seu destino era voltar para lá e cuidar daquelas pessoas.

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ELOGIOS ABEIJOS DA KATIE

“Beijos da Katie é um desses livros que não conseguimos deixar de lado. Ele vai mudar, literalmente, tudo aquilo que você é, levando-o a transformar sua vida cotidiana em algo extraordinário.”

— Tom Davis, autor de Red Letters, Fields of the Fatherless e Priceless

“Fiquei boquiaberto quando ouvi a incrível história de Katie pela primeira vez. Fico entusiasmado por saber que muitas outras pessoas terão a chance de se inspirar e de ser motivadas por ela.”

— Scott Harrison, fundador/CEO do projeto Charity: Water

“Fiquei profundamente comovido e convencido e me senti inspirado ao ler Beijos da Katie – e terminei querendo conhecer Jesus do modo como Katie conhece. É um relato honesto e inspirador da jornada de uma jovem em nome de um Jesus que ama a todos, especialmente os esquecidos e marginalizados.”

— Mike Erre, autor de Why the Bible Matters e The Jesus of Suburbia

“Uma jornada de tirar o fôlego rumo à dor e à beleza da entrega aos seme-lhantes. Este não é um livro para quem quer que seu conforto, sua conve-niência e seu controle mantenham-se inabalados. Mas se você deseja agir de

acordo com suas crenças, vai encontrar nele a inquietude e a alegria plenas que aguardam aqueles que se aventuram a se aproximar da divindade por meio da adoção e de outras formas de amar órfãos sedentos de amor.”

— Jedd Medefi nd, presidente da Christian Alliance for Orphans

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“Ao ler o livro de Katie, senti que estava lendo Amy Carmichael. Assim como essa missionária fez em sua vida, Katie mostra que Jesus é absolutamente maravilhoso, não apenas naquilo que ela escreve, mas também no modo como ela cuida altruisticamente daqueles que não têm pais. Se você quer com-preender melhor o amor de Jesus pelos pequeninos, leia Beijos da Katie. Ela é, em nossa geração, o que Amy foi na dela: uma heroína, tornando real o clamor para cuidarmos dos órfãos.”

— Dan Cruver, diretor da Together for Adoption eautor de Reclaiming Adoption

“Katie Davis é uma inspiração para mim como esposa, mãe e seguidora de Cristo. Sua devoção pelo Senhor e seu amor por Suas Filhas me desafi am a servir altruisticamente e a partir para a prática com entrega radical!”

— Heather Platt, mãe adotiva e esposa de David Platt, autor de Radical

“Beijos da Katie é mais um maravilhoso lembrete de que, para fazer grandes coisas, não é preciso idade nem experiência, mas o transbordamento de um amor interior mais profundo. Recomendo sinceramente a leitura deste cati-vante relato de entrega ao chamado interior, e desafi o-o a analisar o que você está fazendo para ‘cuidar dos pequeninos’.”

— Dr. Wess Stafford, presidente e CEO da Compassion International

“Katie Davis conta aquele tipo de história que faz os apresentadores de pro-gramas de rádio pararem de falar e dizerem espantados: ‘Ah, ela não fez isso.’ Mas fez, sim! Katie Davis é um jovem dínamo, levando amor e alegria não apenas às suas crianças, mas também a uma cidade inteira e a toda uma região. Ela é uma inspiração e um testemunho de tudo aquilo que é possível

fazer quando as pessoas se dispõem a serem instrumentos.”

— Hugh Hewitt, apresentador de The Hugh Hewitt Radio Show

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A Surpreendente História de uma Jovem da Classe Média Americana que Abriu Mão de Tudo e se Tornou

Mãe Adotiva no Continente Africano

TraduçãoMARCELLO BORGES

KATIE DAVIScom BETH CLARK

BEIJOSda KATIE

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Título original: Kisses from Katie.

Publicado mediante acordo com a editora original, Howard Books, uma divisão da Simon & Schuster, Inc.

Copyright © 2011 Katie DavisCopyright da edição brasileira © 2012 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.

Texto de acordo com as novas regras ortográfi cas da língua portuguesa.

1a edição 2012.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer formaou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas.

A Editora Seoman não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro.

Coordenação editorial: Denise de C. Rocha Delela e Roseli de S. Ferraz.Preparação de originais: Marta Almeida de SáRevisão: Liliane S.M. CajadoDiagramação: Join Bureau

Todas as citações da Bíblia, salvo indicação, foram extraídas da Holy Bible, New International Version® e traduzidas de acordo com a Nova Versão Internacional publicada no site http://www.bibliaonline.net.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Davis, KatieBeijos da Katie : a surpreendente história de uma jovem da

classe média americana que abriu mão de tudo e se tornou mãe adotiva no continente africano / Katie Davis ; com Beth Clark ; tradução Marcello Borges. – São Paulo : Seoman, 2012.

Título original: Kisses from KatieISBN 978-85-98903-46-0

1. Davis, Katie, 1988 – Religião 2. Orfandade – Uganda3. Órfãos – Serviço para – Uganda 4. Órfãos – Uganda – Condições sociais 5. Trabalho com crianças órfãs – Uganda 6. Trabalho social com crianças órfãs – Uganda I. Clark, Beth. II. Título.

12-08034 CDD-362.73092

Índices para catálogo sistemático:

1. Katie Davis : Trabalho com crianças órfãs : Histórias de vida 362.73092

Seoman é um selo editorial da Pensamento-Cultrix.

Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pelaEDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA.

Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SPFone: (11) 2066-9000 — Fax: (11) 2066-9008E-mail: [email protected]

http://www.editoraseoman.com.brque se reserva a propriedade literária desta tradução

Foi feito o depósito legal.

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Para Jesus. Toda palavra, toda respiração é para Você.

E para minhas meninas, Prossy, Margaret, Agnes, Zuula, Mary,Hellen, Tibita, Sarah, Scovia, Joyce, Sumini, Jane, Grace e Patricia,

por me ensinarem, todos os dias, mais e mais sobre oinfalível amor de Jesus.

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SUMÁRIO

Agradecimentos .............................................................. 9

Prefácio por Beth Clark .................................................. 11

Introdução ...................................................................... 19

1. Apaixonando-me – por um país ...................................... 25

2. No cadinho da contradição ............................................. 43

3. O sufi ciente para sair por aí ............................................ 57

4. Dizendo sim ................................................................... 71

5. “Posso chamar você de ‘mamãe’?” .................................... 87

6. Uma mudança no coração............................................... 99

7. Fome profunda, satisfação profunda ............................... 113

8. Como o amor cobre uma distância tão grande ................ 127

9. Tudo de que preciso ........................................................ 143

10. Uma promessa a ser mantida ........................................... 157

11. Vivenciando o segredo .................................................... 179

12. Um vislumbre do céu ...................................................... 187

13. Graça extraordinária ....................................................... 205

14. Uma educação de outro tipo ........................................... 223

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15. Três mil amigos ............................................................... 237

16. Só mais um ..................................................................... 253

17. Ele dá um lar aos solitários .............................................. 267

18. Calculando o custo ......................................................... 283

19. Uma Jja Ja para nós ........................................................ 297

20. Sempre o sufi ciente ......................................................... 311

Notas .............................................................................. 327

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AGRADECIMENTOS

P ara meus entes queridos, um “obrigada” parece insufi -ciente, mas mesmo assim ofereço humildemente minha mais profunda gratidão a...

Minhas fi lhas incríveis: obrigada por fazerem de mim uma mãe. Pela dádiva que é cada uma de vocês e pelos momentos passados na sua companhia. Obrigada por estarem dispostas a ter mais algumas noites de rolinhos de primavera do que o normal. Vocês são as melho-res fi lhas que uma mãe poderia ter, e eu sempre irei amá-las, muito.

Mamãe, papai e Brad: obrigada por acreditarem incondicional-mente em mim, por sempre me levarem a perseguir meus sonhos e por sonharem comigo. Mamãe e papai, vocês me ensinaram a amar, a viver com força, bondade, graça e alegria. O modo como vocês continuam a dar de si mesmos para mim e para minhas fi lhas torna--me mais humilde. Brad, meu ombro forte e maior incentivador, tenho muito orgulho de chamá-lo de irmão e meu melhor amigo. Eu amo vocês.

Beth, Curtis e Karen: obrigada por disporem de seu tempo e darem seus corações por este livro. Ele é real por causa de vocês. Que dádiva preciosa que Deus me deu, pondo vocês na minha vida num momento como este! Obrigada por sua amizade.

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Equipe Howard: obrigada por acreditarem na mensagem de nossa história. Obrigada por trabalharem tanto, por sua sabedoria e por sua inacreditável paciência comigo, mesmo estourando os prazos. Nunca poderia ter sonhado que haveria pessoas tão gentis traba-lhando comigo.

Shana, Renee e Matt: obrigada por lerem o manuscrito muito antes de ele se tornar um livro e acreditarem no que ele poderia ser. Por todos os conselhos, toda a sabedoria, todas as lágrimas enxugadas e pelos risos compartilhados, não apenas agora, mas sempre. Vocês sabiam que eu poderia prosseguir. Vocês são três dos maiores presen-tes com que Deus me agraciou; obrigada por serem meus amigos, obrigada por formarem a família.

Meus amigos e familiares e todo o belo povo de Uganda: obri-gada por repartirem suas vidas e seus corações comigo e por me permitirem escrever sobre nossos relacionamentos. Sem vocês, não haveria história.

Todos que rezaram, todos que levaram refeições, tomaram conta das meninas durante o dia, realizaram tarefas, fi zeram ligações in ternacionais com incentivos, apareceram com biscoitos tardeda noite e mantiveram a geladeira cheia de Coca Diet. São numero-sos demais para mencionar um a um, mas suas preces e sua genero-sidade me levaram adiante – ergueram meus braços e refrescaram a minha alma. Obrigada.

Meu belo Criador de tudo isto: meu “muito obrigada” é minús-culo demais para expressar-Lhe minha gratidão a Você, que poderia fazer tudo isso sozinho, ter optado por incluir-me em seu plano. Só posso implorar que essa graça, tão imerecida, seja para Sua obra.

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PREFÁCIO

P essoas que realmente querem fazer alguma diferença no mundo costumam fazê-la, de um modo ou de outro. E percebi algo sobre as pessoas que fazem diferença no

mundo: elas mantêm a inabalável convicção de que os indivíduos são extremamente importantes, que toda manifestação da vida é impor-tante. Elas se entusiasmam com um sorriso. Elas estão dispostas a alimentar um estômago, a educar uma mente, a tratar um ferimento. Elas não estão determinadas a revolucionar o mundo de uma só vez; satisfazem-se com pequenas mudanças. Com o tempo, as pequenas mudanças se somam. Às vezes, elas até transformam cidades e nações, e, também, o mundo.

Pessoas que querem fazer diferença fi cam frustradas no cami-nho. Mas se elas passam um dia particularmente estressante, não desistem. Elas seguem em frente. Apesar de suas realizações, a maio-ria delas é espantosamente normal, e o modo como vivem seu coti-diano pode ser bem mundano. Elas não ensinam grandes lições que iluminam subitamente comunidades inteiras; ensinam pequenas lições que podem levar uma melhoria incremental a um homem, a uma mulher, a uma criança. Elas não fazem nada para chamar a atenção para si mesmas, simplesmente prestam atenção nas necessi-dades diárias dos demais, mesmo que sejam apenas as necessidades

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de uma só pessoa. Elas provocam mudanças das quais as pessoas não leem a respeito, às quais não aplaudem. E por causa da disposição dessas pessoas que mudam o planeta, elas nunca pensariam em viver suas vidas de outra maneira.

Essa percepção me veio em meu primeiro dia numa pequena aldeia perto da casa de Katie, em Jinja, Uganda. Meu motorista levou-me do aeroporto de Entebbe à aldeia porque era lá que Katie estava quando chegamos. O lugar chama-se Masese (que se pronun-cia Ma-CE-ze). É um lugar extremamente carente; é sujo e tem o cheiro do esgoto que apodrece ao sol quente, que geralmente piora por causa do odor característico de bebidas destiladas. Passar por Masese é testemunhar uma cena pungente atrás da outra, e Katie adora a aldeia porque ama o povo que vive lá.

Masese fi ca no sopé de uma colina. No alto dessa colina há uma escola, à qual o ministério* dirigido por Katie fornece alimentação aos alunos e, graças a um arranjo especial com os diretores da escola, às crianças da aldeia também, mesmo as que não estão matriculadas na escola. A escola foi minha primeira parada em Uganda, e dava claramente para distinguir os alunos das crianças da aldeia. É claro que os uniformes dos alunos os distinguiam, mas também seu asseio, seus sapatos e o fato de seus narizes não estarem escorrendo e suas bocas não estarem sangrando.

Muitas das crianças da aldeia pareciam doentes, mas uma garo-tinha, que aparentava ter 2 ou 3 anos, destacava-se das outras. Seu corpinho mal parecia capaz de sustentar sua enorme barriga, e sua pele suja estava coberta de brotoejas inidentifi cáveis, parecidas com verrugas ou bolhas e um tipo de ferimento que aparece com a cata-pora, tudo na mesma lesão. Um ferimento que em parte era casca,

* Ministério, aqui, refere-se ao sentido religioso da palavra, mais especifi camente cristão, como centro de difusão da palavra de Cristo. (N. do T.)

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em parte ferida aberta cobria metade de sua boquinha. Observei Katie aproximando-se dessa criança frágil, levantando-a com ternura, avaliando na hora suas necessidades e fazendo perguntas a seu res-peito para as outras crianças.

“Quem é esta criança?”“Como ela se chama?”“Onde ela mora?”“Quem é a mãe dela?”No início, tinha-se a impressão de que ninguém sabia as respostas,

mas deve ter se espalhado a notícia de que a “tia Katie” queria informa-ções sobre essa criança, pois em pouco tempo a tia da menina procurou Katie para dizer que o nome dela era Napongo, que sua mãe tinha ido para Kampala e isso já fazia alguns meses. Seu pai tinha ido para outro lugar (em Uganda, ir para é uma expressão muito associada a pais). A tia, que devia ter 12 ou 13 anos, era a responsável pela garotinha.

Em poucos minutos, eu estava chacoalhando na Van de dezesseis lugares de Katie pela estrada esburacada que passa pela escola de Masese, com a frágil menina, sua tia e quatro das catorze fi lhas de Katie. Fomos à casa da amiga de Katie, Renee, para dar um banho em Napongo, pois, segundo Katie, a casa de Renee era o lugar mais próximo com água corrente.

Observei espantada – e um pouco angustiada – enquanto a garo-tinha permanecia imóvel na banheira e Katie jogava água nos pulsos dela com um chuveirinho. Em silêncio, perguntei-me por que ela não acelerava um pouco o processo do banho, e então percebi a razão: talvez a menina nunca tivesse estado numa banheira. Se a água da ducha cobrisse todo o seu corpo, ela poderia fi car aterrorizada. Katie estava derramando água em seus próprios pulsos e depois nos da garotinha, para ajudá-la a se sentir segura e à vontade.

Napongo mal se mexeu quando Katie esfregou delicadamente um sabonete nela. A água limpa e transparente que escorria da ducha

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fi cou vermelho-escura ao sair pelo ralo. E então, num gesto que sur-preendeu Katie e a mim, a tia entrou no banheiro, pegou o sabonete das mãos de Katie e começou a esfregá-lo na garotinha. Receei que a menina fosse chorar, mas ela continuou quietinha, sem se contor-cer, choramingar ou apresentar as objeções que crianças de sua idade costumam apresentar.

Katie e eu fi camos observando em silêncio, as duas com a mesma pergunta na cabeça: “Como é que essa tia, que mora na miséria numa aldeia suja e não se lava, sabe da importância da limpeza para essa criança?” Ela estava lavando a garotinha com determinação e con-centração, como se compreendesse que essa atividade era vital para o bem-estar da menina. É bem possível que essa tia sempre tivesse desejado que Napongo estivesse limpa e bem tratada, mas que não dispusesse de meios para ajudá-la.

Quando a tia fi cou satisfeita com o banho da menina, Katie enrolou-a numa toalha e levou-a para uma cama próxima. Ajoelhou--se diante dela e começou a tirar bichos-de-pé da menina. Bicho-de-pé era uma palavra que eu não conhecia. Em Uganda, há bichos-de-pé por toda parte, e eles causam muitos transtornos. São insetos muito pequenos que entram de maneira indolor na pele da pessoa e criam uma pequena bolsa de ovos, deixando um calombo que se parece com uma infl amação. Embora os bichos-de-pé não causem dor antes de ocuparem toda uma região do corpo, sua remoção pode ser extrema-mente dolorosa. Mas a menina não piscou, não gritou e nem se con-torceu enquanto Katie removia os insetos e cortava a pele morta ao redor deles. Simplesmente fi cou sentadinha, com algumas lágrimas escorrendo lentamente pelo seu rosto.

Recuei até um canto, pois imaginei que, se desmaiasse, não cai-ria para trás; apenas escorregaria pela parede. Disse a mim mesma que estava sentindo o cansaço causado pela diferença de horários, o que era verdade – em parte. Em parte, era também uma mescla de

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angústia, tristeza e espanto diante da resignação daquela criança sub-metida a um procedimento tão doloroso.

Em circunstâncias normais, eu me sentiria tentada a achar que aquela menina estava doente demais para se recuperar. Mas como eu sabia que ela estava recebendo os cuidados de Katie, tinha todos os motivos para achar que ela fi caria bem.

Eu conhecia as histórias. Tinha lido todo o blog de Katie, a crônica de sua vida e de seu trabalho em Uganda desde 2007. Eu sabia que, se alguém era capaz de dar a uma garotinha o amor e a atenção de que ela necessitava, seria Katie. Eu sabia que Katie não cuidaria dessa criança apenas durante parte de uma tarde, mas durante dias ou meses, se fosse necessário.

Não por acaso, uns dez dias depois, Katie viu Napongo em Masese. Ela não estava melhorando, como Katie esperava. Natural-mente, apresentava uma aparência bem melhor do que quando a vi pela primeira vez. A ferida em sua boca estava completamente curada, provavelmente porque sua jovem tia havia aplicado a pomada antibió-tica que Katie lhe dera, como fora instruída a fazer. Mas a barriga da menina ainda estava enorme. As feridas espalhadas pelo corpo ainda estavam lá. Os ugandenses identifi cam essa doença e têm um nome para ela, mas ninguém conseguia traduzir esse nome para outra língua.

Assim, durante o resto de minha estadia em Uganda, Napongo morou na casa de Katie com as outras pessoas. Ela recebeu refeições nutritivas e vitaminas, além da atenção e dos cuidados de catorze irmãs. Em seu primeiro domingo na casa, essa menina, que literal-mente usava trapos e andava descalça porque não tinha opção, ganhou um vestido novo e um par de calçados para usar em sua primeira ida à igreja.

Um dos momentos em que Napongo gravou mais a fundo em meu coração teve lugar quando Katie levou-a para fazer o teste de HIV. Katie e eu, com todas as catorze meninas e Napongo, entramos

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na Van e fomos à casa de Renee, que tinha um estoque desses testes. Napongo fi cou sentada na bancada da cozinha. Mais uma vez, fi quei encostada na parede – não custava prevenir. Essa criança tinha supor-tado bravamente a dolorosa remoção de bichos-de-pé, mas começou a berrar quando a agulha penetrou suas veias. O som foi como uma prensa apertando o meu coração, e gotas de seu sangue infantil caíam sobre a tira de papel de teste. Katie, Renee e eu, bem como dois outros amigos, aguardamos nervosos os resultados do teste, cientes do signifi cado que esse teria para a vida e o futuro de Napongo.

Então, após um suspiro profundo, Renee anunciou com um murmúrio: “Ela é positiva.”

A cozinha fi cou silenciosa.Atualmente, a mãe de Napongo já voltou de Kampala e apren-

deu a amá-la e a cuidar dela de maneira totalmente diferente. Com a ajuda de Katie, Napongo tem recebido tratamento regular para o HIV, dando nova vida ao corpo que estava se deteriorando alguns meses antes. Ela frequenta a pré-escola, corre, ri, dança e brinca como as garotinhas de 4 anos costumam fazer. Katie e sua família visitam Napongo com frequência, encantadas e felizes com o modo como sua vida mudou.

A história de Napongo é apenas uma. Muitas outras pessoas da comunidade de Katie podem falar da época em que ela percebeu suas situações e se esforçou para providenciar ajuda e compaixão da forma mais humana que fosse possível. Durante minha breve estadia em Uganda, testemunhei um fl uxo constante de pessoas que apareciam na casa de Katie ou que a paravam na rua por diversos motivos. Uma mulher, sua vizinha, apareceu certa noite. Estava com febre e não se sentia bem. Katie calçou um par de luvas de látex e espetou o dedo da vizinha para fazer o teste de malária. Ao longo dos outros dias, apareceu alguém pedindo a Katie uma carta de referência para poder obter um visto para entrar nos Estados Unidos. Outra pessoa foi falar

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sobre escolas. Uma vizinha parou-a para falar de sua preocupação com saúde e fi nanças. Vendo Katie cuidar de cada uma dessas pes-soas, fazendo o que podia para ajudar ou estimular, eu percebi que não existem estatísticas no mundo de Katie. Existem apenas pessoas, e cada vida é importante.

Você vai perceber isso várias vezes ao longo destas páginas. Não é apenas o modo como Katie vive, mas também é o modo como você pode viver, caso decida fazê-lo. Há sofrimento e necessidades huma-nas em toda parte. Katie não é uma super-heroína; é apenas uma mulher comum que queria, acima de todas as coisas, obedecer a Deus e dizer sim a qualquer coisa que Ele lhe pedisse. No caso, por ter obedecido, uma grande aventura aguardava por ela, e hoje ela se encontra no meio de uma história notável que se manifesta de maneira jubilosa, comovente e corajosa, todos os dias.

Deus tem escrito uma história em Uganda há muito tempo. Ele tem usado muitas pessoas para realizar lá aquilo que Ele queria que fosse realizado. Algumas delas deram suas vidas para os propósitos de Deus nesse país, e, embora não as conheçamos, nós as homena-geamos. Outras estão dando suas vidas para participar de tudo que Deus está fazendo hoje nesse país, enquanto escrevemos este livro. São tanto nativos de Uganda quanto cidadãos de países distantes; são amigos e colegas de Katie; são pessoas comuns que amam um Deus extraordinário; são parte da história de Katie e da contínua história de Deus nesse lugar.

Se você é uma pessoa comum, mas anseia seguir seu chamado interior, talvez encontre inspiração e estímulo nestas páginas. Talvez encontre forças para dizer sim e se lançar em sua própria história maravilhosa.

— Beth Clark

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INTRODUÇÃO

N unca pensei em ser mãe. Bem, para dizer a verdade, acho que sim; mas não agora. Não antes de me casar. Não quando eu tinha 19 anos. Não de tantas e tantas crian-

ças. Felizmente, parece que os planos de Deus não se deixam afetar pelos meus.

Nunca pensei em viver em Uganda, um ponto no mapa da África Oriental, do outro lado do planeta em relação à minha famí-lia e a tudo que signifi ca conforto e identifi cação. Felizmente, os planos de Deus também são muito melhores do que os meus.

É que Jesus mexeu completamente com a minha vida. Desde que me entendo por gente, eu tinha tudo que o mundo considera importante. No colegial, eu era a presidente da classe, rainha da primavera, primeira aluna. Namorava garotos bonitões e usava sapatos bonitos e dirigia um belo carro esporte. Tinha pais maravilhosos que me apoiavam e que desejavam tanto o meu sucesso que teriam custeado meus estudos em qualquer faculdade que eu desejasse.

E o fato de eu amar Jesus estava começando a interferir nos planos que fi zera para a minha vida, e, obviamente, nos planos que outras pessoas tinham para mim. Meu coração foi tomado por um grande amor, um amor que me levou a viver de maneira diferente. Eu fui educada num lar cristão, frequentei a igreja e ouvi histórias

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sobre Jesus durante toda a minha vida. Quando estava com 12 ou 13 anos, comecei a lidar com as verdades da Escritura. Quanto mais eu lia e conhecia o que Jesus dissera, menos eu gostava do estilo de vida que observava à minha volta. Comecei a perceber que Deus queria algo mais de mim, e eu queria mais dEle. Ele fez crescer em mim o desejo de viver intencionalmente de modo diferente de tudo que eu conhecera antes.

De maneira lenta, mas fi rme, comecei a compreender a verdade: eu amava, admirava e venerava Jesus, mas não fazia aquilo que Ele dissera que deveria ser feito. Essa percepção não surgiu da noite para o dia; tive a impressão de que ela já existia no meu coração muito antes de eu me dar conta dela. Estava acontecendo enquanto eu analisava a possibilidade de realizar um trabalho voluntário no exte-rior, estava acontecendo nas três semanas em que viajei pela primeira vez a Uganda, um belo país, repleto de pessoas graciosas e alegres, mas com imensa pobreza e carências, que me imploravam para fazer algo mais. Estava acontecendo de diversas maneiras, e eu não podia negar o fato. Eu queria realmente fazer o que Jesus dissera para fazer.

Assim, dei-me por vencida.No começo, isso deveria ter sido temporário, apenas um ano

antes de eu entrar na faculdade e voltar à minha vida normal de adolescente norte-americana. Mas, depois do ano que passei em Uganda, não era possível voltar ao “normal”. Vira o que era a vida e não podia fi ngir que não sabia. Assim, desisti novamente da minha antiga vida, dessa vez pra valer. Desisti da faculdade; abri mão de roupas de grife e de meu pequeno conversível amarelo; rompi com meu namorado. Eu não tenho mais todas aquelas coisas que o mundo diz que são importantes. Não tenho um plano de aposentadoria; há dias em que nem tenho eletricidade. Mas tenho tudo aquilo que sei que é importante. Tenho uma alegria e uma paz inimagináveis, que só podem advir de um lugar melhor do que este planeta. Não con-

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sigo me imaginar mais feliz. Jesus mexeu com minha vida, despeda-çou-a e a recompôs de um modo mais bonito.

Durante os primeiros meses em que morei em Uganda, no outono de 2007, escrevi: “Às vezes, trabalhar num país do Terceiro Mundo faz com que eu sinta que estou esvaziando o mar com um conta-gotas”. Ainda me sinto assim hoje. Aprendi a conviver com esse sentimento, pois percebi que não vou mudar o mundo. Jesus vai fazer isso. No entanto, posso mudar o mundo para uma pessoa. Posso mudar o mundo para catorze garotinhas e para quatrocentos alunos, para uma avó doente que está morrendo e para uma menina desnu-trida, negligenciada e maltratada de 5 anos de idade. E se uma pessoa vê em mim o amor de Cristo, cada minuto vale a pena. Na verdade, minha vida vale a pena por causa disso.

Há dias em que ainda me sinto sobrecarregada com a magnitude das necessidades e pelo número incrível de pessoas que buscam ajuda. Há dias em que vejo as crianças doentes e desvalidas forrando as ruas das comunidades às quais atendo, e quero acolher cada uma delas, levá-las comigo para casa, dar-lhes comida, roupas e amor. E vejo a vida de meu Salvador, que parou para atender a uma delas.

Por isso, dou atenção e amor a uma pessoa de cada vez. Poisesse é meu chamado como cristã. Só posso fazer o que uma mulher pode fazer, mas farei o que puder. Diariamente, o Jesus que mudou minha vida me permite fazer muito mais do que eu imaginava que fosse possível.

As pessoas costumam me perguntar se eu acho minha vida peri-gosa, se eu tenho medo. Tenho muito mais medo de fi car no con-forto. Mateus 10:28 diz que não devemos temer coisas que podem destruir o corpo, mas as coisas que podem destruir a alma. Estou cercada de coisas que podem destruir o corpo. Lido quase todos os dias com pessoas que têm doenças mortais, e em muitas ocasiões eu sou a única pessoa que pode ajudá-las. Moro num país onde uma das

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mais longas guerras do mundo é travada a apenas algumas horas daqui. A incerteza está em toda parte. Mas vivo em meio à incerteza e ao risco, entre coisas que podem causar destruição física e o fazem, pois estou fugindo de coisas que podem destruir minha alma: com-placência, conforto e ignorância. Tenho muito mais medo de viver uma vida confortável numa sociedade que só serve a si mesma sem seguir Jesus, do que de qualquer doença ou tragédia.

Jesus pediu que seus seguidores fossem muitas coisas, mas ainda não encontrei uma só palavra sobre estarmos “seguros”. Não nos pediu para fi carmos seguros, simplesmente prometeu que, quando estivermos em perigo, Deus estará conosco. E não podemos encon-trar um lugar melhor para estar do que em Suas mãos.

Desde quando consigo me lembrar, um de meus versículos pre-diletos da Bíblia é o Salmo 37:4: “Deleite-se no Senhor, e Ele aten-derá aos desejos do seu coração.” Eu costumava achar que isso queria dizer que, se eu fi zesse o que o Senhor me pedia, seguisse seus man-damentos e fosse uma “boa menina”, Ele concederia meus desejos e faria com que meus sonhos se tornassem realidade. Hoje, essa ainda é uma de minhas passagens favoritas da Escritura, mas aprendi a interpretá-la de maneira totalmente diferente. Não signifi ca que Deus vai fazer com que meus sonhos se tornem realidade, mas, sim, que Deus transformará meus sonhos em Seus sonhos para minha vida.

Hoje, vivo os desejos de meu coração e não consigo me imaginar mais feliz; não consigo viver uma vida que não seja esta que se desen-rola diante de mim, dia após dia. Mas, creia-me, não estou vivendo segundo o meu plano. Eu achava que queria estudar numa faculdade com meu namorado do colegial, casar-me, ter uma carreira de sucesso e fi lhos, morar numa bela casa na rua dos meus pais e viver feliz para sempre. Hoje, sou uma mulher solteira criando um monte de meni-nas e tentando ensinar o amor de Jesus numa terra completamente diferente de minha cidade natal e de minha cultura. Essa não é a vida

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que sonhei ter, ou imaginei que fosse desejar. Estou observando a obra de Deus, e ao “deleitar-me no Senhor” fazendo aquilo que Ele me pede e dizendo sim às necessidades que Ele coloca diante de mim, Ele está mudando os desejos do meu coração e alinhando-os com os dEle. Quando vou com Ele para lugares difíceis, Ele os transforma nos mais agradáveis lugares que posso imaginar.

Dá a impressão de que é bonito, aventureiro, até romântico, de certo modo, não? E é bonito. E o que é mais louco é que tudoé muito simples. Não me entenda mal: não foi fácil. Mas é simples porque todos nós fomos criados, em última análise, para fazer a mesma coisa. A aparência não será a mesma. Pode acontecer no exterior ou no seu quintal, mas acredito que fomos criados para mudar o mundo para alguém. Para servir a alguém. Para amar alguém do modo como Cristo nos amou, para difundir Sua luz. Esse é o sonho, e ele é possível. Em algumas ocasiões é extremamente difícil, mas as bênçãos superam – e muito – os percalços.

Não tenho nenhuma vontade de escrever um livro a meu res-peito. Este é um livro sobre Cristo. Este é um livro sobre um Cristo que está vivo hoje e não apenas conhece, mas cuida de cada fi o de cabelo de minha cabeça. E da sua também. Não posso nem fi ngir que entendo isso, mas sei que é verdade. Sei que é verdade porque vi isso de maneira profunda no curto espaço de tempo em que estou viva. Vi isso em milagres extraordinários e em momentos tão mun-danos que facilmente nos esquecemos deles. E é por isso que estou escrevendo este livro. Escrevo-o na esperança de que um vislumbre da vida de minha família e da minha própria vida, com minha estu-pidez e com a graça de Deus, lembre-o desse Cristo vivo e amável e do que signifi ca servi-Lo. Escrevo na esperança de que, ao chorar e rir com minha família, você veja que Deus ainda usa seres humanos imperfeitos para mudar o mundo. E se Ele pode me usar como ins-trumento, Ele pode usar você.

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APAIXONANDO-ME – POR UM PAÍS

À s vezes, isso me atinge como se fosse uma tijolada: minha vida é meio insana. Tenho 22 anos; tenho catorze fi lhas, onze das quais estão estudando em casa. E é tão frequente

termos mais gente morando conosco – avós prestes a morrer, refu-giados sem teto, crianças gravemente desnutridas – que estou sempre fazendo uma contagem mental antes de preparar refeições. Na maior parte do tempo, porém, chacoalhar por essas estradas de terra ver-melha em minha Van de dezesseis lugares cheia de crianças cantando (ou gritando), vizinhos e até nosso macaquinho de estimação parece tão normal que tenho difi culdade para escrever a respeito. Para mim, essa loucura cotidiana não tem nada de muito espetacular; é apenas a consequência de seguir Jesus rumo ao impossível, fazendo o pouco que posso e confi ando no fato de que Ele fará o resto.

Mudar-me para o outro lado do mundo e ter uma enorme famí-lia nunca foi meu sonho, nem mesmo me passou pela cabeça. Porém, em retrospecto, posso ver que Deus conduziu toda a minha vida preparando-me para a vida que Ele planejara para mim – as pessoas que Ele colocou nos lugares certos nos momentos certos, as circuns-tâncias com que eu nunca sonharia, seriam, um dia, para sua glória. Pois nos anos que antecederam minha ida para Uganda, eu fantasiei que faria alguma coisa incrível para Deus e para os outros; o que

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aprendi é que não posso fazer nada incrível, mas, ao acompanhar Deus em situações impossíveis, Ele pode fazer milagres em mim e por meu intermédio.

A primeira vez que falei disso – sobre a ideia de fazer alguma coisa fora do normal – para meus pais de maneira séria foi no meu 16o aniversário. Para comemorar, meus pais me levaram para comer meu prato favorito, sushi, em meu restaurante favorito. Foi um evento tranquilo, até eu fazer um comentário desconcertante que mudou completamente o ambiente: “Acho que vou passar um ano fazendo trabalho missionário depois de concluir o colegial e antes de ir para a faculdade”.

Os sorrisos nos rostos de meus pais deram lugar a olhares vagos e confusos. A conversa alegre à mesa do jantar cessou e parecia que meu comentário havia contaminado a atmosfera. Silêncio.

Eu também podia ter dito que queria jogar futebol americano ou voar até a Lua. Para eles, passar um ano em trabalho missionário era algo igualmente exótico. Era uma coisa inédita na família Davis, e, conforme percebi, devia ser inaceitável. Meu pai sempre foi taxa-tivo quanto ao que desejava para minha vida, desejos enraizados em seu amor por mim e em sua preocupação com minha segurança e meu bem-estar. Assim como a maioria dos pais, minha mãe e meu pai queriam fazer tudo o que fosse possível para me assegurar uma vida de sucesso e de conforto e achavam que o melhor, ao garantir um “bom futuro” para mim, seria proporcionarem-me uma educação universitária, preparando-me para uma carreira.

Pouco depois de ter dito que queria passar um ano em algum tipo de aventura antes da faculdade, meus pais se recuperaram do choque e reagiram da melhor maneira possível; eles não disseram não. Só disseram que não sabiam bem se era uma boa ideia e que iam pensar no assunto. No meu coração, eu estava convicta de que meu desejo era bom. Eu estava pronta para ir; cabia a Deus convencer meus pais.

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De vez em quando, nos dezoito meses seguintes, eu mencionava essa conversa e buscava na Internet a palavra orfanato para avaliar algumas oportunidades que eu poderia ter como voluntária. Uganda nunca me passou especifi camente pela cabeça. À medida que meu último ano do colegial chegava ao fi m, comecei a me candidatar como voluntária em vários orfanatos que encontrara na Internet. Um lar provisório para recém-nascidos foi o primeiro a responder dizendo que precisavam de voluntários. Fiquei animada, e meus pais concor-daram que eu podia ir, nas férias de inverno do último ano, com a esperança de que eu iria “tirar a ideia da cabeça”. A única exigência era que um adulto deveria viajar comigo.

Meus pais podem ter sido mais astutos do que imaginei. É claro que encontrar um adulto disposto a passar três semanas longe do emprego nos Estados Unidos e que quisesse passar comigo essas férias, que incluíam o Natal, na África, foi impossível. Por isso, implorei à minha mãe que fosse comigo. Quando percebeu o quanto eu queria ir e que eu não desistiria dessa ideia, ela disse que iria pensar. Em pouco tempo, ela entendeu que essa viagem não era um capricho, mas algo pelo que eu ansiava apaixonadamente, e como ela é uma mulher que realmente deseja a felicidade e a realização de seus fi lhos, concordou, embora hesitante, com a aventura. Não demorou até que sua relutância se convertesse num entusiasmo ansioso, e ela fi cou contente por ser a pessoa que iria compartilhar esse sonho comigo.

Em dezembro de 2006, minha mãe e eu estávamos a caminho de Uganda, onde passaríamos três semanas como voluntárias em uma casa para recém-nascidos órfãos ou abandonados. Nessas três semanas, entreguei meu coração para um lugar que antes me era desconhecido. Apaixonei-me por Uganda desde que cheguei. Ao acordar na primeira manhã de nossa estadia, olhei à minha volta e vi os sorrisos brancos e reluzentes em rostos cor de ébano; ouvi vozes alegres numa linguagem musical e risos gentis. Vi a força e a pro-

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fundidade de caráter nos olhos das pessoas. Descobri que Uganda era uma bela terra, povoada por belas pessoas.

Jinja, a cidade mais próxima da aldeia onde moro hoje, fi ca ao lado do lago Vitória e da fonte do rio Nilo. As paisagens do lago e do rio tiraram meu fôlego quando as contemplei pela primeira vez, e a explosão de cores que vi ao percorrer estradas esburacadas e vibrantes de terra vermelha, atravessando o esplêndido cenário verde, me cativou.

As pessoas que chamam de lar esse fascinante país surpreende-ram-me com sua bondade graciosa e suas maneiras gentis. Vi, com olhos arregalados, reses, cabras e galinhas percorrendo livremente as aldeias enquanto crianças curiosas andavam entre as cabanas e os pequenos negócios (como as lojinhas que vendem bebidas em lata, bacias de zinco ou crédito para celulares). Na cidade, vi a mesma vida cotidiana presente em toda sociedade, à sua própria maneira, com as pessoas fazendo compras nas principais ruas de Jinja, indo ao banco, encontrando amigos e conversando na calçada. Quando visitava as aldeias, presenciava homens e mulheres debulhando milho, cozi-nhando, conversando ou simplesmente sentados ao longo da estrada, participando discretamente dos acontecimentos da vida da aldeia.

Fosse na cidade, fosse numa aldeia, havia crianças por toda parte. Quando viam uma pessoa cuja pele tinha cor diferente, riam e gri-tavam. Algumas corriam alegremente em minha direção, outras ber-ravam e saíam correndo ao ver um estrangeiro. Aquelas que não tinham medo de mim pegavam na minha mão com vontade, como se fôssemos velhos amigos. Para mim, foi fácil me apaixonar por essas pessoas e por seu país, com sua imensa beleza justaposta a uma extrema pobreza.

Na maior parte do tempo, nos ocupávamos com a comida dos bebês, a troca de fraldas, as aulas e as brincadeiras com as crianças do local. As crianças e as mulheres que trabalhavam no orfanato abriram

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caminho até meu coração, deixando pequenas marcas sobre ele. Eu nunca mais seria a mesma.

Ao fi m de nossa viagem, saí chorando de Uganda – o país e seu povo já faziam parte de mim. Chorei até voltar ao Tennessee, sabendo que um dia eu iria retornar. Conforto, conveniências e luxo não eram mais minhas metas, pois passei a preferir desafi os e sacrifícios e a querer arriscar tudo para fazer uma coisa na qual eu acreditava. Com-preendi isso ao dar banhos em bebês e trocar suas fraldas, ao conhe-cer crianças mais velhas e jogar pedras no rio com elas, e ao fazer tudo que podia para atender às necessidades humanas básicas que eram tão evidentes ao meu redor. Meu coração encontrara sua feli-cidade ao servir àquelas belas pessoas que o mundo chama de “pobres”, mas que para mim pareciam tão ricas em amor. Não tenho dúvida de que Deus já vinha preparando um lugar para Uganda em meu coração, muitos anos antes de eu localizar o país num mapa; não encontro outra explicação para o amor que senti instantanea-mente por esse lugar e por seu povo. Embora o solo vermelho tenha desgastado as solas dos meus pés, Uganda nunca saiu do meu coração e nunca esteve longe da minha mente.

Ao voltar para os Estados Unidos para concluir o último semes-tre do colegial, percebi que havia fi cado meio obcecada por Uganda. Eu olhava para o relógio da sala de aula para descobrir que horas seriam lá e devaneava sobre o que meus amigos estariam fazendo em Uganda. Falava tanto de Uganda que meus amigos devem ter tido vontade de me mandar calar a boca. Eu sabia que precisava voltar.

Durante minha estadia em Uganda, conheci um pastor que fun-dara e administrava um orfanato nos arredores de Jinja. Ele estava planejando abrir um jardim de infância lá e me pediu para ser a professora. A ideia parecia meio estranha, pois eu não tinha muita experiência com ensino além da escola dominical, mas ele insistiu em dizer que eu era a pessoa certa para a tarefa. Quando voltei, com-

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preendi que estava preparada para fazer o que fosse preciso para voltar a minha adorada Uganda, mesmo que fosse para ser professora do jardim de infância.

No fi m do último ano, depois de muita conversa e diversas opor-tunidades para meus pais compreenderem que eu estava falando sério sobre voltar para Uganda, meus pais fi nalmente permitiram que eu adiasse a faculdade por um ano. Prometi que só iria passar um ano em Uganda e que, quando esse ano terminasse, voltaria aos Estados Unidos e me matricularia em uma faculdade. Enquanto isso, porém, concordei em dar aulas no jardim de infância de uma pequena aldeia próxima a Jinja, em Uganda. Embora muitos amigos e boa parte de minha família não compreendessem meu desejo de fi car longe por tanto tempo, ninguém conseguiu arrefecer meu entusiasmo. De vez em quando, eu fi cava nervosa, mas normalmente não conseguia con-ter minha animação com a perspectiva dessa aventura de um ano.

Meu pai, ainda aborrecido por eu não ir para a faculdade, nunca perdeu sua preocupação paterna por mim. Como um pai que se esfor-çara para dar à sua única fi lha tudo que ela quis ou de que precisou, ele tinha várias dúvidas sobre a aventura na qual eu estava prestes a embarcar. Na verdade, ele se recusou a permitir que eu me mudasse para um lugar tão distante de casa e permanecesse nele por um ano sem que ele antes o visitasse. Por isso, decidiu ir comigo a Uganda e fi car lá por uma semana para analisar todos os aspectos daquele lugar que me cativara tanto, para ter certeza de que eu estaria bem.

Na manhã em que íamos viajar, lembro-me de ter acordado em minha cama mais do que confortável, em nosso bairro de classe média alta. Nesse lugar em que muitas senhoras pagavam caro para fazer as unhas e manter seus gramados impecáveis, onde muitas pes-soas não tinham a menor vontade de conhecer a África Oriental, comi minha última porção de manteiga de amendoim com torrada, e todos os meus amigos apareceram naquela que era a única casa

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onde eu tinha morado até então para me dizer adeus, todos aos pran-tos. Dizer adeus por um ano a meus amigos, ao namorado por quem estava apaixonada e com quem esperava me casar um dia e a meu irmão caçula partiu meu coração. Parte de mim perguntava como eu podia deixar tudo aquilo para trás, mas outra parte de mim estava pronta para fazer isso.

A viagem a Uganda é longa, qualquer que seja a rota percorrida. É longa por Amsterdã, é longa por Londres, é longa pelo Oriente Médio. Passei trechos da viagem animada com a ideia e trechos cho-rando ao lembrar quanto tempo levaria até rever minha família e meus amigos.

Meu pai passou toda a primeira semana de meu ano em Uganda tentando me convencer a embarcar com ele no avião em que voltaria aos Estados Unidos no fi m daquela semana. Ele não gostou da sujeira que viu; não gostou dos sinais de doenças em tantos lugares; e não gostou do modo como alguns homens olhavam para uma jovem ou a tratavam. Ele detestou ter de me deixar num país tão estranho para ele, mas percebeu como fi quei feliz lá, e, quando saiu de lá, estava consciente de que meu coração estava satisfeito e de que ele voltaria sozinho para casa.

As semanas que se seguiram foram repletas de alegria e de frus-tração. Pouco a pouco, fui me acomodando em meu quarto, de um metro por um e oitenta, nos fundos da casa do pastor. Seu lar era o orfanato, onde viviam 102 crianças entre 2 e 18 anos.

Não consigo explicar em palavras o amor que sinto por essas crianças, ou por que o sinto. Creio que muita gente teria olhado para elas e visto apenas suas roupas sujas, as feridas em suas cabeças ou o muco que forma cascas ao redor de suas narinas. Elas teriam visto os dormitórios do orfanato com seu piso de cimento duro onde ratos e baratas se sentem à vontade e fi cariam um tanto enojadas. Com a graça de Deus, porém, eu não vi essas coisas.

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A verdade é que eu me via naqueles rostinhos. Eu os contem-plava e sentia esse amor inimaginável, e sabia que é assim que Deus me vê. As crianças corriam para me dar presentes como pedrinhas ou terra, e eu me via – suja e doente – oferecendo minha vida ao Deus do Universo, implorando-lhe que a transformasse em alguma coisa bela. Sentei-me nesse mundo em pedaços, pequena e suja a seus pés, e Ele que se senta nas alturas decidiu comungar comigo, amar--me mesmo assim. Ele se faz de cego para meus pecados e minha sujeira para forjar um relacionamento comigo. E é isso que Ele fez comigo com relação a essas crianças tão preciosas. Ele me cegou para a sujeira e as doenças, e só enxerguei crianças com fome daquele amor que eu estava tão ansiosa por compartilhar com elas. Adorei-as não apenas por ser quem eu era, mas por conta de quem Deus é. Fiquei sentada naquele piso frio e duro e esfreguei meu nariz em seus pescoços sujos e beijei suas cabeças cobertas de parasitas e não vi essas coisas. Eu estava enamorada.

Desde o instante em que cheguei, fi quei ocupada, feliz e exausta de tanto ninar bebês, ler para criancinhas, brincar com alunos da pré-escola e entreter as crianças de 5 e 6 anos. Passei as manhãs dando aulas no jardim de infância e a maioria das tardes no orfanato com as crianças entre 2 e 6 anos, pois as crianças mais velhas iam à escola durante o dia e só voltavam ao orfanato mais ou menos às cinco da tarde.

Cheguei em Uganda carregada de papéis, lápis de cera, tabelas de aritmética e livros com fi guras, pronta para dar aulas para as doze ou catorze crianças com idade pré-escolar que viviam no orfanato. Enquanto viajava, porém, o pastor decidiu abrir a escola para a comunidade de favelas que cercava o orfanato, e os moradores não perderam tempo e aproveitaram a chance de proporcionar educação de graça para os fi lhos.

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