Bioética Da Intervenção

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    277Rev. bioét. (Impr.). 2015; 23 (2): 277-84htp://dx.doi.org/10.1590/1983-80422015232066

    A bioé ca de intervenção no contexto dopensamento la no-americano contemporâneoSaulo Ferreira Feitosa1 , Wanderson Flor do Nascimento 2

    Resumo

    Este ar go destaca o processo de construção, amadurecimento e consolidação da bioé ca de intervenção(BI) como proposta bioé ca libertadora. Para tanto, considera como principal indicador dessa caracterís -ca sua perspec va an ssistêmica, evidenciada pela manifesta opção polí ca e pela insurgência epistêmicacontra a dominação epistemológica do conhecimento bioé co produzido nos países localizados no centrodo sistema-mundo capitalista. Em face de sua marca iden tária la no-americana, seu per l ideológico e suain uência no campo de conhecimento da bioé ca, a BI é apresentada como uma das teorias mais importantesdo pensamento la no-americano contemporâneo, sendo vista como a principal novidade depois da teoria dadependência, da pedagogia do oprimido, da teologia da libertação e da colonialidade do poder.Palavras-chave: Bioé ca. Polí ca. Direitos humanos. América La na.

    Resumen

    La bioé ca de intervención en el contexto del pensamiento la noamericano contemporáneo

    Este ar culo destaca el proceso de construcción, maduración y consolidación de la bioé ca de intervención(BI) como propuesta bioé ca libertaria. Para esto, considera como principal indicador de esta caracterís caa su perspec va an -sistema, evidenciada por la mani esta opción polí ca y por la insurgencia epistémicacontra la dominación epistemológica del conocimiento bioé co producido en los países localizados en elcentro del sistema-mundo capitalista. En la cara de su marca iden tária la noamericana, su per l ideológicoy su in uencia en el campo del conocimiento de la bioé ca, la BI es presentada como una de las teorías másimportantes del pensamiento la noamericano contemporáneo, siendo visibilizada como la principal novedaddespués de la teoría de la dependencia, de la pedagogía del oprimido, de la teología de la liberación y de lacolonización del poder.Palabras-clave: Bioé ca. Polí ca. Derechos humanos. América La na.

    AbstractThe bioethics of interven on in the context of contemporary La n American thought

    This ar cle highlights the process of construc on, matura on and consolida on of a bioethics of interven on(BI) as a libera ng bioethical proposal. Toward that end, it considers the main indicator of that characteris cto be its an -systemic perspec ve, as manifested by its manifest poli cal op on and by epistemic insurgenceagainst the epistemological domina on of the bioethical knowledge produced in the countries located inthe center of the capitalist world system. Because of its La n American trademark, its ideological pro le andits in uence in the eld of knowledge of bioethics, BI is presented as one of the most important theories ofcontemporary La n American thinking, and is seen as the main novelty a er the theory of dependence , thetheory of the oppressed, the theology of libera on and the coloniality of power.Keywords: Bioethics. Poli cs. Human rights. La n America.

    1. Doutor saulo [email protected] – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro Acadêmico do Agreste Caruaru/PE, Brasil 2. Doutor wanderson [email protected] – Universidade de Brasília (UnB) Brasília/DF, Brasil.

    CorrespondênciaSaulo Ferreira Feitosa – Núcleo de Ciências da Vida. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Rodovia BR 104, Km 59, CEP 55.014-900.Caruaru/PE, Brasil.

    Declaram não haver con ito de interesse.

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    “A América La na existe?” E, exis ndo, revelaum pensamento próprio? Essas duas interrogan-tes crí cas foram e con nuam sendo objeto dediscussão entre pesquisadores das mais diferen-tes áreas do conhecimento na região e fora dela.A primeira indagação corresponde ao tulo de um

    dos escritos de Darcy Ribeiro, produzido em 1976.Depois de discorrer sobre o processo histórico eanalisar as consequências do violento empreendi-mento colonial, que impôs a perversa dominaçãodo capital aos povos do con nente, o antropólogobrasileiro a rmará, como resposta, sua existênciana condição de “Pátria Grande de todos nós”. E dirámais: A América La na exis u desde sempre sob osigno da utopia. Estou convencido mesmo de que autopia tem seu sí o e lugar. É aqui 1.

    Contudo, por não aceitarem a predominânciada “la nidade”, importantes pensadores la no-ame-ricanos – a exemplo de José Mar e José CarlosMariátegui – farão uso de outras denominações,como “América, Nuestra América”, “Indo-Améri-ca”, “Ibero-América” e, mais recentemente, “AbyaAyala”, expressão oriunda da língua Kuna que podeser traduzida como “terra viva”, “terra madura”,“terra em orescimento”. Nesse par cular – comoopção polí ca –, os movimentos indígenas passa-ram a u lizar Abya Ayala para denominar a região,em subs tuição ao nome “América La na”. Apesardos ques onamentos e suas múl plas respostas, hácerto consenso em torno da “invenção da AméricaLa na” que se dará depois da usurpação do nome“América” pelos Estados Unidos, no século XIX. An-tes disso, a denominação “América” correspondia atodo o con nente, conforme de nido no mapa docartógrafo alemão Mar n Waldseemüller, de 1507.

    De qualquer modo, muitos têm sido os esforçosde pensadores e pensadoras da chamada região la-

    no-americana em produzir pensamento próprio.Se alguns deles não conseguiram desvencilhar-seda herança epistemológica colonial eurocêntrica,outros, contudo, lograram êxito ao realizar rupturas

    epistêmicas mais ou menos radicais. Evidentemen-te, para a de nição do resultado alcançado pesaramvários fatores culturais, socioeconômicos e polí cos,os quais in uíram na opção ideológica e na esco lhado lugar de enunciação de cada protagonista. Emnosso entender, diante do impera vo histórico, opensamento la no-americano deverá obrigar-sea re e r sobre a realidade de dominação e sub-desenvolvimento a que foi subme da a AméricaLa na, derivando-se de tal concepção a necessidadede uma prá ca capaz de transformar essa condiçãoimposta pelo sistema colonial.

    No entanto, deve-se reconhecer que, des-de o início da colonização europeia, a dominaçãoepistêmica in igiu longo período de submissão dopensamento la no-americano às doutrinas epis-temológicas produzidas nos países do Norte, acomeçar pela escolás ca (predominante do século

    XVI ao século XVIII), seguida pelo iluminismo ( nalde século XVIII e início do século XIX – no caso do Bra-sil, coincidindo com o término do período colonial)e pelo posi vismo (a par r do século XIX). Os ideaisliberais também exerceram in uência decisiva sobreo pensamento polí co regional, fortalecendo as dis-putas polí cas dos defensores do republicanismo edo cons tucionalismo, como no caso do México edo Brasil, nos quais, respec vamente, as forças re-publicanas derrotaram as pretensões imperialistasde Maximiliano (1867) e levaram à deposição dedom Pedro II (1889).

    Com os processos de independência polí ca doinício do século XIX, emergiu o nacionalismo, vincu-lado ao aparecimento dos novos Estados nacionaisna região. Em ns do século XIX, as ideias marxistas, juntamente com o anarquismo, começam a ser difun-didas na região, ganhando força no início do séculoseguinte. Nesse momento, passam a desempenharpapel relevante nas lutas de resistência na AméricaLa na, entre as quais podemos mencionar as grevesrealizadas no Brasil pelo operariado, que começava ase organizar nos principais centros urbanos.

    Apesar das múl plas estratégias de coloni-zação do pensamento no território la no-americano,deparamos, no decorrer de toda a história da região,com pensadoras e pensadores dissidentes, os quaissuscitaram, desde o início da presença europeia naempreitada colonial, re exões de resistência à pers-pec va dominante. Entre eles encontram-se tantopessoas na vas do con nente como europeus quese distanciaram da estratégia eurocêntrica de pro-dução do pensamento e de suas linhas mestrasconceituais. Quanto às re exões, havia desde aque-las expressas cole vamente – como o pensamento

    exposto na obra de origem maia, “Popol Vuh” – atéas individuais, provenientes de pensadores comoFelipe Waman Puma de Ayala e Bartolomé de LasCasas, só para citar alguns nomes mais conhecidos,mas infelizmente pouco discu dos ou mesmo des-prezados nos meios intelectuais brasileiros.

    Assim como ocorreu no início da colonização,podemos veri car, ao longo dos mais de 500 anosque se sucederam, a existência de produções de au-tores la no-americanos, os quais, ao lançar mão dopensamento crí co europeu, criaram suas própriasteorias tendo como referência o contexto da região,

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    fato que possibilitou momentos de resistência epis-têmica, conforme procuramos destacar a seguir.

    A insurgência polí co-epistêmica da AméricaLa na

    O tão propalado “desenvolvimento” la -no-americano dos anos 1950, longe de amenizaras desigualdades, aprofundou-as, ao promover in-ternamente a concentração de riqueza, ampliar osíndices de pobreza e miséria e reforçar a posiçãoimperialista dos Estados Unidos sobre os países daAmérica La na. A execução da polí ca desenvolvi-men sta deu-se, concomitantemente e de maneiracolabora va, com o estabelecimento dos regimestotalitários decorrentes dos golpes militares e dasditaduras, impulsionados e sustentados pelos EUA

    no contexto da Guerra Fria e como parte de sua po-lí ca econômica internacional.

    Ao mesmo tempo, o triunfo da RevoluçãoCubana (1959) e o aparecimento dos movimen-tos de libertação – como a Frente Sandinista deLibertação Nacional (FSLN) na Nicarágua, fundadaem 1961 – alimentavam as utopias, es mulavamo pensamento revolucionário e convocavam aoengajamento, principalmente da juventude, naslutas sociais e no propósito de pensar um projetopolí co de ar culação e libertação do con nente.Che Guevara tornava-se ícone, inspirando ideais delibertação na região e no mundo. Além dos enfren-tamentos às ditaduras locais, havia o empenho devários segmentos da sociedade em canalizar as lutaspara uma dimensão polí ca mais ampla, an -impe-rialista e descolonizadora.

    Nesse contexto, como expressões do pen-samento la no-americano, emergem nessa fase(décadas de 1960 e 1970): a teoria da dependência,cujos autores mais proeminentes são Celso Furtado,Raúl Prebish e Theotônio dos Santos; a pedagogia dooprimido, tendo Paulo Freire como principal formu-

    lador; e a teologia da libertação, na qual sobressaeminicialmente os teólogos Gustavo Gu érrez e Leo-nardo Bo . Essas três propostas contemporâneas,não obstante suas diferenças conceituais e de capa-cidade de mobilização das “massas”, inauguraramum processo de insurgência epistêmica e polí ca naregião que será con nuado mais tarde, na décadade 1990, pelo pensamento descolonial, cujo marcose reporta à teoria da colonialidade do poder, elabo-rada pelo sociólogo peruano Aníbal Quijano.

    A palavra “insurgência” aqui u lizada não serefere ao sen do polí co clássico de “insurreição/

    rebelião”, que implica o uso da força (insurgên-cia armada), mas sim à noção apresentada porCatherine Walsh, segundo a qual a insurgência epis-têmica é compreendida como processo constante deconstrução de novas estratégias e diferentes formasde práxis, ou seja, de criação de mecanismos de pen-

    sar, re e r e atuar conjuntamente no enfrentamentodas epistemologias dominantes.

    Essa insurgência epistêmica contribui pararepensar as perspec vas e paradigmas teóricos epolí cos. Aliada à insurgência polí ca, tem ajudadoa traçar novos caminhos tanto para os povos indí-genas e afrodescendentes como para o conjuntoda população. Tomemos como exemplo as expe-riências recentes da Bolívia e do Equador, as quaisdesenham um horizonte descolonial, na medidaem que se desviam do que temos entendido comoEstado, bem como das lógicas e signi cantes quetêm dado sustentação a tal entendimento 2. Tra-ta-se de experiências de refundação do Estado, aotransformar seu caráter uninacional e monocultural(Estado-nação) em plurinacional e pluricultural (Es-tado pluralista e comunitário), tanto que levaram amudanças substanciais nas cons tuições da Bolíviae do Equador, aprovadas respec vamente nos anosde 2008 e 2009.

    Em importante ar go em que analisa o pensa-mento de Quijano, a antropóloga Rita Segato faz aseguinte a rmação: No século das disciplinas da so-ciedade, são somente quatro as teorias originadas nosolo la no-americano que cruzaram em sen do con-trário a grande fronteira, quer dizer, a fronteira quedivide o mundo entre o Norte e o Sul geopolí cos, ealcançaram impacto e permanência no pensamen-to mundial (…)são elas: a Teologia da Libertação, aPedagogia do Oprimido, a Teoria da Marginalidadeque fratura a Teoria da Dependência e, mais recen-temente, a perspec va da Colonialidade do Poder 3.Dois anos antes da produção desse ar go, durantereunião de estudo do grupo de pesquisa sobre plu-ralismo bioé co, do qual foi coordenadora, Segato

    externou o entendimento de que, após a teoria da co-lonialidade do poder formulada por Aníbal Quijano, abioé ca de intervenção aparecia como a principal no-vidade no campo do pensamento la no-americano.Recentemente, voltamos a indagá-la sobre o assunto,e sua resposta veio na rea rmação dessa convicção,muito embora a autora reconheça tratar-se de umateoria em construção e, portanto, a demandar maioraprofundamento e experimentação na prá ca bioé -ca delibera va, a par r de casos concretos.

    Tomando a perspec va de Segato, entende-mos que a bioé ca de intervenção desponta no

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    cenário la no-americano das cinco úl mas décadascomo a quinta proposição teórica – após a teologiada libertação, a pedagogia do oprimido, a teoria dadependência e a teoria colonialidade do poder – acarregar consigo a marca regional e iden tária deseu lugar social originário. Além disso, a par r da

    periferia do sistema-mundo capitalista, a bioé ca deintervenção pretende – assim como as quatro teoriasque a precederam – romper as fronteiras regionaise rmar-se como perspec va bioé ca libertadora,rebelando-se contra a imposição do saber bioé coproduzido nos países centrais, de modo a consolidarde ni vamente seu processo de territorializaçãoepistemológica. Cabe observar que o conceito desistema-mundo aqui u lizado tem como referên-cia as produções teóricas dos sociólogos ImmanuelMaurice Wallerstein 4 e Giovanni Arrighi5, segundo osquais na lógica do sistema-mundo a economia global

    tem vários centros polí cos, com divisão de traba-lho centralizada e operando em diferentes culturas.Portanto, nosso referencial teórico para a análise dasrelações internacionais é o sistema-mundo, e não oEstado-nação, como na abordagem liberal.

    A bioé ca de intervenção

    Em ar go publicado no ano de 2011, Portoe Garrafa associam as caracterís cas das bioé casbrasileiras ao movimento pela reforma sanitária noBrasil, iniciado no nal dos anos 1970 6. Tal asso-ciação jus ca-se, sobretudo, pelo reconhecimentoe valorização da dimensão social para a análise ecompreensão da relação saúde-doença, bem comopor sua importância no processo de discussão, ela-boração e execução das polí cas públicas de saúde.

    No Brasil, a vinculação da bioé ca com aslutas no campo da saúde pública aplica-se, evi-dentemente, à própria gênese da bioé ca deintervenção, cujo principal divulgador, Volnei Gar-rafa, esteve polí ca e intelectualmente envolvido

    nas mobilizações em defesa da saúde pública desdea origem daquele movimento. Do autor, destaca-sea publicação, em 1981, do livro “Contra o monopó-lio da saúde” 7, bastante difundido à época entreintelectuais, sindicalistas e estudantes da esquerdasanitária brasileira, e considerado precursor da re-forma sanitária do nal dos anos 1980.

    Nesse sen do, os trabalhos de Garrafa, “A di-mensão da é ca em saúde pública” 8, Bioé ca, saludy ciudadanía 9 e E ca y salud pública: el tema de laequidad y una propuesta bioé ca dura para los países

    periféricos 10, publicados entre 1995 e 1999, perío-do inicial do desenvolvimento da bioé ca no Brasil,podem ser considerados marcos historiográ cos daiden dade seminal da bioé ca de intervenção emsua vinculação teórico-polí ca com a saúde pública,da qual se origina a preocupação com as demandas

    de saúde relacionadas com temá cas de situaçõespersistentes e emergentes. As situações persisten-tes dizem respeito às an gas e crônicas demandasé cas das populações, como exclusão social, fome,aborto e eutanásia. Já as situações emergentes deri-vam dos avanços tecnológicos, a exemplo daquelasassociadas à engenharia gené ca, ao trá co de ór-gãos, ao transplante de órgãos, à medicina predi vae aos organismos gene camente modi cados.

    Esses três textos de Garrafa fazem a transiçãopara a conferência Bioé ca fuerte: una perspec -va periférica a las teorías bioé cas tradicionales 11, de 2000, e o ar go Bioé ca, poder e injus ça: poruma é ca de intervenção

    12, produção conjuntade Garrafa e Porto, de 2002. Delimitamos, por-tanto, o período entre 1995 e 2002 como aquelecorrespondente à etapa gestacional da bioé ca deintervenção, salientando ainda que 1995 foi o anode fundação da Sociedade Brasileira de Bioé ca(SBB), fato que simbolicamente representa o mo-mento da emergência da bioé ca no país.

    Contudo, quer da perspec va teórica, quer doponto de vista polí co, seria insu ciente relacionar

    a proposição da bioé ca de intervenção apenas àsin uências do movimento de saúde, mais precisa-mente da reforma sanitária brasileira. Não obstante,temos consciência de que no Brasil esse proces-so social assumiu iden dade militante, chegandomesmo a receber a denominação de “movimentosanitário” por parte de alguns pesquisadores.

    Embora reconheçamos a proximidade polí-ca e afe va entre a reforma sanitária brasileira e

    a bioé ca de intervenção, há entre ambas grandedistância com relação à amplitude de propósito queaos poucos foi se delineando com a própria cons-trução da proposta bioé ca. A primeira está voltadapara a ação emancipatória delimitada no contextoda formulação, execução e monitoramento de polí-

    cas públicas, em par cular das polí cas de saúde,mesmo que isso implique alguma reforma no âmbitodo Estado, tendo como foco um país especí co. Já asegunda se apresenta como proposta de libertação,que leva em conta as injustas relações estabelecidasentre o Norte e o Sul, evidenciadas pelas desigual-dades sociais que dis nguem os países centrais dospaíses periféricos.

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    De acordo com Porto, a bioé ca de inter-venção pode ser tomada como “base é ca para ummodelo abstrato e imaginário de sociedade ideal”,tal como o socialismo utópico 13. Com tal asser va, aautora jus ca o fato de ter se referido à bioé ca deintervenção como “utopia”, ao mesmo tempo que

    esclarece que, para ela, a palavra não é sinônimo deideário ina ngível, mas sim de força mobilizadorapara a construção de projetos históricos concretos,a ngíveis e exequíveis, razão pela qual, ao realizarum balanço dos dez anos da bioé ca de intervenção,fez uso da expressão “retrospec va de uma utopia”,que dá sen do de concretude à proposta.

    Estamos, portanto, diante de referencial utó-pico libertador que se traduz em uma bioé ca doco diano fundamentada na é ca da libertação,conforme a de niu Dussel: A É ca da Libertaçãonão pretende ser uma Filoso a crí ca para mino-rias, nem para épocas excepcionais de con ito ourevolução. Trata-se de uma é ca co diana, desdee em favor das imensas maiorias da humanidadeexcluídas da globalização, na presente “normali-dade” histórica vigente 14. Assumindo uma posiçãode poli zação dos con itos morais, a bioé ca deintervenção defende que a preocupação primei-ra das bioé cas oriundas dos países pobres seja oenfrentamento dos dilemas é cos persistentes. Poresse mo vo, faz opção pela banda frágil da socie-dade e se propõe a lutar contra todas as formas deopressão e pela promoção da jus ça, tendo comoreferencial o princípio da equidade 12.

    Apesar de ter sido apresentada há poucomais de quinze anos – considerando a gênese dare exão feita ainda em 1998, no IV Congresso Ar-gen no de Bioé ca, na cidade de Mar del Plata, porGarrafa, quando era denominada “bioé ca dura” –,essa matriz bioé ca já conta com signi ca vo re-pertório teórico. Tal produção é fruto, sobretudo,dos esforços de seus principais formuladores, comotambém da contribuição de simpa zantes e adeptosda proposta, especialmente os egressos dos quinze

    cursos de especialização em bioé ca que vêm sen-do realizados anualmente desde 1998 pela CátedraUnesco de Bioé ca da Universidade de Brasília(UnB) e do Programa de Pós-Graduação stricto sen-su (mestrado e doutorado) desenvolvido a par r de2008 pela mesma ins tuição, além de bioe cistasla no-americanos.

    Dentre a produção bibliográ ca de seus auto-res mais proeminentes, podemos destacar os ar gos:É ca y salud pública: el tema de la equidad y unapropuesta bioé ca dura para los países periféricos 10;

    Bioé ca fuerte: una perspec va periférica a lasteorías bioé cas tradicionales 11; Bioé ca, poder einjus ça: por uma é ca de intervenção 12; Interven-

    on bioethics: A proposal for peripheral countries ina context of power and injus ce 15; Gênero, raça ebioé ca de intervenção 16; Bioé ca de intervenção:

    considerações sobre a economia de mercado17

    ; Deuna ‘bioé ca de princípios’ a una ‘bioé ca interven-va’ crí ca y socialmente comprome da 18; Inclusão

    social no contexto polí co da bioé ca 19; La bioé cade intervención y el acceso al sistema sanitario y a losmedicamentos 20; A in uência da reforma sanitáriana construção das bioé cas brasileiras 6; Ampliaçãoe poli zação do conceito internacional de bioé ca 21. Além destes ar gos destacam-se os seguintes capí-tulos de livro ou verbete: “Bioé ca de intervenção:retrospec va de uma utopia” 13; “Mul -inter-trans-disciplinaridade, complexidade e totalidade concreta

    em bioé ca”22

    ; “Convenção Regional do Mercosulsobre Bioé ca: uma proposta da Cátedra Unesco deBioé ca da UnB”23, e “Bioé ca de intervención” 24.

    Essa relação de trabalhos não contempla a tota-lidade da produção de Garrafa e de Porto no período1999-2012, mas cons tui uma seleção abalizada pelaimportância de seu conteúdo e por seu simbolismoe historicidade na consolidação da proposta episte-mológica da bioé ca de intervenção. Consideradacorrente autônoma e diferenciada das demais bioé-

    cas, inclusive as la no-americanas, a bioé ca deintervenção destaca-se, por exemplo, de duas pro-

    postas par cularmente bem fundamentadas nocontexto brasileiro – a bioé ca de proteção 25 e abioé ca vinculada à teologia da libertação 26 –, muitoembora mantenha com estas vínculos ideológicos eafe vos, o que lhe assegura a possibilidade de intera-gir dialogicamente com ambas.

    Contudo, é fundamental ressaltar que outrascontribuições vêm se somando a esse repertório, naperspec va de con rmar o paradigma epistemológi-co da bioé ca de intervenção, o que lhe possibilitaservir de instrumento de denúncia e discussão sobreas situações de injus ça, bem como colaborar para abusca de alterna vas. Entre essas produções, pode-mos indicar: Bioé ca de intervenção: uma propostaepistemológica e uma necessidade para sociedadescom grupos sociais vulneráveis 27; Bioé ca de inter-venção: aproximação com os direitos humanos eempoderamento 28; Ensino em bioé ca: breve aná-lise da primeira década do curso de especializaçãoda Cátedra Unesco de Bioé ca da UnB 29; Por umavida não colonizada: diálogo entre bioé ca de inter-venção e colonialidade 30; Bioé ca de intervenção e jus ça social: olhares desde o sul 31.

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    Retornando ao balanço teórico realizado porPorto sobre os dez anos da bioé ca de intervenção,encontramos nesse trabalho importante suportepara fundamentar nosso entendimento de que abioé ca de intervenção cons tui uma das principaisnovidades do pensamento la no-americano, após

    o surgimento da colonialidade do poder, correnteantecedida pela teoria da dependência, pela peda-gogia do oprimido e pela teologia da libertação. Porisso, preocupa-nos a maneira conclusiva pela qual aautora formula a epítome analí ca dessa nova pro-posta epistemológica no campo da bioé ca:

    Sinte zando esta retrospec va, considero que abioé ca de intervenção poli zou a bioé ca, des- pertando os bioe cistas para os pressupostos daReforma Sanitária e indicando que os con itos emSaúde, que se originam na dimensão social, são te-

    mas por excelência da é ca aplicada. Es mulou aconsciência de que corpo e mente são um, buscandoa superação do paradigma cartesiano. Apontou quecada pessoa é efe vamente um ator na sociedadee deve agir para regular a dinâmica das inter-re-lações sociais com base nos princípios da jus ça,orientados pelos direitos humanos, segundo as ne-cessidades cole vas 32.

    Embora possamos dis nguir nas palavras daautora três obje vos alcançados pela bioé ca deintervenção durante sua primeira década de exis-

    tência, a forma pela qual estão ordenados podedar a impressão de que o segundo e o terceiroobje vos são complementares do primeiro – a po-li zação da bioé ca com base nos pressupostos dareforma sanitária e da dimensão social da saúde –,o que poderia sugerir um reducionismo da bioé -ca de intervenção, já que essa se propõe a amplaperspec va interven va, muito além da problemá-

    ca da saúde. No entanto, como acreditamos quePorto não pretendeu externar tal compreensão –pelo contrário, propôs-se registrar a “concre zaçãoda utopia” da bioé ca de intervenção em toda sua

    amplitude polí ca (prá ca) e ideológica (teórica) –,recorremos aos seus argumentos para validar nossaa rmação sobre a amplitude desse projeto bioé co,ao qual a autora contribuiu, juntamente com Garra-fa, para dar vida.

    Nossa convicção é corroborada pela profundi-dade da análise de Porto, que ao realizar o referidobalanço considerou os seguintes aspectos: a) con-textos, marcos teóricos e referenciais; b) autocrí caà ideia de intervenção; c) crí cas à bioé ca de in-tervenção. Ao enfrentar cada um desses pontos,conseguiu dar respostas convincentes às indagações

    vindas de fora ou por ela própria formuladas, lançan-do mão, inclusive, de algumas exempli cações,dentre as quais se destaca a aprovação da Decla-ração Universal sobre Bioé ca e Direitos Humanos da Unesco 33, iden cada como conquista da bio é caem âmbito mundial, que contou com empenho de-

    cisivo da Sociedade Brasileira de Bioé ca e da RedeLa no-Americana e do Caribe de Bioé ca da Unesco.Nesse processo, incluem-se o valioso aporte teóricoda bioé ca de intervenção e o engajamento polí -co de seus formuladores, o que para nós cons tuiindica vo de resultado da incidência (intervenção),da aceitação da proposição teórica e de seu impactoalém das fronteiras da América La na.

    Garrafa, em seu ar go Ampliação e poli zaçãodo conceito internacional de bioé ca, apresentadona abertura do IX Congresso Brasileiro de Bioé caem 2011 e publicado em 2012, valorizou fortemen-te a relevância dessa conquista, situando-a entre asmedidas e mudanças necessárias para enfrentar osan gos e novos problemas da bioé ca , na qual des-taca como primeiro item a u lização dos princípios ereferenciais da Declaração Universal sobre Bioé cae Direitos Humanos 34.

    Recentemente, a bioé ca de intervençãoavançou em sua perspec va de libertação, instau-rando diálogos interepistêmicos, como aquele quelhe acrescenta a caracterís ca descolonial, argumen-to formulado por Nascimento e Martorell 35. Entreoutros aportes essenciais para a re exão acadêmicae consideração nas tomadas de decisão, inclui-se opluralismo bioé co. De acordo com Segato 3, o plura-lismo bioé co vai além da pluralidade de doutrinas,como postula o pensamento bioé co ocidental: elepropõe-se iden car e analisar outras experiênciase teorizações de é cas da vida que não são contem-pladas pela biopolí ca da história contemporâneado Ocidente, ou seja, não se limita à ideia de hu-manidade biologizada e universalizada. Para tanto,busca inspiração no pluralismo jurídico, que postuladiferentes concepções de jus ça e direito, in uen-

    ciando prá cas dis ntas de resolução de con itos,como aquelas adotadas pelos povos originários.

    A proposta da bioé ca de intervenção, comsua arrojada maneira de expor a imbricação dasquestões polí cas e sociais na forma de avaliar e ca-mente os con itos bioé cos, não apenas demandaintervenções concretas, mas também conclama aobservar o lócus a par r do qual pensamos paraavaliar tais con itos. Sendo assim, obriga a perce-ber a área da saúde como mais um entre outroscampos fundamentais, o qual, a despeito de sua im-portância, precisa ser ar culado com a avaliação das

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    condições sociais em que a vida é experimentadanas diversas regiões geopolí cas de nosso planeta.Portanto, de modo inven vo e decisivo, a bioé cade intervenção insere a saúde no contexto insurgen-te do pensamento la no-americano.

    Considerações nais

    Durante sua primeira década de existência,a bioé ca de intervenção conseguiu, com base emsua fundamentação teórica e na colaboração comas demais bioé cas brasileiras e la no-americanas,assegurar, em âmbito internacional, a aceitação dadimensão polí ca na formulação e na prá ca bio-é ca, ao estabelecer como eixo aglu nador dessadimensão o paradigma dos direitos humanos.

    Ao propor-se como ponte entre os sujeitos(cidadãos), a sociedade e o Estado, a bioé ca deintervenção assume forte caráter social. O termo“intervenção”, em uma perspec va histórica maisampla, esteve geralmente associado ao intervencio-nismo das grandes potências mundiais nos Estadosnacionais econômica e poli camente frágeis. Embo-ra não se deva sucumbir às rotulagens pejora vashistoricamente construídas, também não se podeignorá-las. Pode então acontecer de a expressão“bioé ca de intervenção” soar estranha para alguns,à primeira vista. Contudo, o que importa de fato é a

    ação e como ela se manifesta. Por esse mo vo, todaação interven va deve ocorrer sempre a par r dodiálogo com as pessoas e ins tuições envolvidas,sejam elas des natárias ou propositoras da ação.Portanto, intervenção – neste caso – jamais poderáser confundida com intervencionismo.

    A bioé ca de intervenção conforma um para-digma bioé co que vem sendo testado e validado,especialmente em seu campo experimental e dedifusão mais importante: a Cátedra Unesco de Bioé-

    ca e o Programa de Pós-Graduação em Bioé cada Universidade de Brasília. Para tanto, assume-sede maneira consciente a responsabilidade e asconsequências do processo de produção de um co-nhecimento bioé co que se propõe operar em duasdimensões: epistemológica e polí ca. Em âmbitoepistemológico, por meio da crí ca, desconstruçãoe reconstrução de saberes; no âmbito polí co, pela

    re exão crí ca da práxis bioé ca e pela defesa deprá cas que estejam comprome das com a trans-formação da injusta realidade social.

    Dessa forma, a bioé ca de intervenção vaiocupando lugar relevante na arena bioé ca e seconsolidando como importante teoria do pensa-mento la no-americano da atualidade. É com essaabertura epistêmica que a proposta vai ncando asbases de sua territorialização epistemológica, empermanente ar culação e interação com as episte-mologias insurgentes do Sul.

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    Par cipação dos autoresAr go elaborado a par r de tese de doutoramento de Saulo Feitosa. Este redigiu uma proposta inicialque foi depois analisada, corrigida e ampliada por Wanderson Nascimento.

    Recebido: 7.11.2014

    Revisado: 4. 2.2015

    Aprovado: 20. 2.2015

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