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Bioquímica doSARS-CoV-2
leituras para estudantesda HZ559-B
SeleçãoPedro P. Ferreira
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Campinas2020
Capa: Micrografia eletrônica de varredura colorizada (colorized scanning electronmicrograph) de uma célula apoptótica (marrom-esverdeada) fortemente infectada porpartículas (vermelhas) do vírus SARS-CoV-2 (o “novo coronavírus”, que causa a Covid-19). Imagem produzida e divulgada pelo National Institute of Allergy and InfectiousDiseases (NIAID). Fonte: <https://www.flickr.com/photos/niaid/49680675977/in/photostream/>.
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Sumário[1] Apresentação
Pedro P. Ferreira (/04/2020) 4
Blogs de Ciência da Unicamp
[2] EditorialEquipe do Blogs de Ciência da Unicamp (03/2020) 8
[3] Valentões dentro da célula, sensíveis fora dela: os vírusGraci Oliveira (20/03/2020) 11
[4] Química do CoronavírusGisele Silvestre (21 e 23/03/2020) 16
[5] Como nos infectamos e transmitimos os coronavírus?Maria Silvia Viccari Gatti (24/03/2020) 32
[6] Uma mão lava outra com sabão no combate ao COVID-19Graci Oliveira (25/03/2020) 38
[7] Álcool é gel, álcool é pop, álcool é tudo?Gildo Girotto Junior (20/03/2020) 44
[8] Máscaras caseiras são eficientes contra o coronavírus?Isabel Franke (27/03/2020) 53
[9] Quem não vê cara não vê COVID-19?Graci Oliveira (07/04/2020) 62
[10] Semanas cruciais para o sistema de saúde brasileiro: orisco do colapso em gráficos
Júlia Perassoli De Lázari e Paula D. Paro Costa (07/04/2020)80
Outras fontes
[11] Coronavírus: o que o sabão faz com o vírus que causa a covid-19
BBC (01/04/2020)92
[12] Orientação sobre uso de água sanitária no combate ao coronavírus
Fábio Reis (30/03/2020)100
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[1]
Apresentação
Pedro P. Ferreira
10/04/2020
Esta é uma coletânea de textos sobre abioquímica do SARS-CoV-2 e da Covid-19,composta especialmente para es estudantes dadisciplina de Graduação HZ559-B – Sociologiada Ciência, oferecida no primeiro semestre de2020 pelo Departamento de Sociologia doInstituto de Filosofia e Ciências Humanas(IFCH) da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp). Os textos não são de minhaautoria, muito menos de minha propriedade.
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Eu simplesmente copiei os textos da Internet eos editei neste formato. A fonte original dostextos é indicada logo no início de cada umdeles.
Meu objetivo ao compor esta coletânea foiduplo. Por um lado, reflete e compartilha umtrabalho de estudo e pesquisa que venhofazendo desde o início da pandemia global. Poroutro, busca oferecer recursos para que esestudantes matriculades na disciplinaaprofundem seus conhecimentos eamadureçam possíveis temas para seustrabalhos finais na disciplina.
No que se refere a este segundo objetivo, ostextos aqui apresentados podem ser divididosde duas formas. No que se refere às fontes, ostextos foram apresentados em dois blocos: (1)os oito primeiros textos (de 2 a 10) foramextraídos da página “Covid-19”, criada pelaequipe editorial dos Blogs de Ciência da
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Unicamp; e (2) os dois últimos textos (11 e 12),extraídos de outras fontes. Escolhi extrair amaior parte dos textos dos Blogs de Ciências daUnicamp principalmente por ser um materialde confiança, próximo de nós, e produzido paraum público leigo em ciências da natureza. Ostextos extraídos de outras fontes me parecerambons complementos aos demais.
No que se refere ao conteúdo dos textos,eles podem ser divididos em três gruposprincipais:
• Textos mais diretamente voltados para a
estrutura fisico-química do vírus (3 e 4);• Textos mais diretamente voltados para os
efeitos de compostos químicos específicossobre o vírus (6, 7, 11 e 12);
• Textos voltados para os processos de
contágio e proteção (5, 8 e 9)
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Além disso, também incluí um texto commodelos matemáticos de contágio e internaçãohospitalar (Texto 10).
Espero que estes textos possam contribuirpara a formação cidadã geral des estudantes dadisciplina, mas também para as reflexõespropostas pela disciplina, acerca da agênciasocial dos elementos químicos.
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[2]
Editorial
Equipe do Blogs de Ciência da Unicamp
2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/editorial/>. Aversão incluída aqui foi editada e revisada especialmente para uso acadêmico. Favorreferir à publicação original.
Nós dos Blogs de Ciência da Unicamp temosacompanhado o avanço da doença COVID-19,causado pelo Coronavírus (SARS-Cov-2) desdeo início deste ano. Aqui em Campinas e naUnicamp tudo tornou-se mais evidente desde oanúncio da suspensão das aulas nauniversidade, em 12 de março de 2020, devidoao COVID-19.
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Estávamos, como divulgadores, preparandomateriais dispersos nos diversos blogs da rede.No decorrer dos dias, percebemos que uniresforços para produzir um espaço exclusivosobre a pandemia seria essencial para ocompartilhamento seguro de informações! Apartir do dia 21 de março, organizamos estevolume especial que terá atualização diária.
Aqui, você encontrará informações sobrehigienização, a importância da quarentena, oavanço do vírus no Brasil e no mundo,explicações sobre como a doença e o vírus sedisseminam, notícias sobre os estudosdesenvolvidos, sobre diagnóstico e ensaiosclínicos e, enfim, quais medidas podemostomar, individualmente e coletivamente, paraminimizar o impacto na sociedade. Além detextos, você vai encontrar vídeos e imagensexplicativas que podem ajudar a compartilharmelhor essas informações.
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Sabendo que informações de qualidade sãoessenciais para enfrentarmos juntos essasituação, redobramos o nosso cuidado nachecagem dos dados que vocês encontrarãoaqui, com colegas das várias áreas técnicas ecientíficas. E tudo isto com o máximo deagilidade para entregar um material confiávelque possa contribuir com cada pessoa, e comtodos, no atual cenário brasileiro e mundial.
É importante ressaltar que os argumentosexpressos nos posts deste especial são dospesquisadores, produzidos a partir de seuscampos de pesquisa científica e atuaçãoprofissional e foram revisados por pares damesma área técnico-científica da Unicamp.Não, necessariamente, representam a visão daUnicamp. Essas opiniões não substituemconselhos médicos.
Paz, carinho, sabão com água, álcool gel,combate às fake news e solidariedade a todos!
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[3]
Valentões dentro dacélula, sensíveis
fora dela: os vírus
Graci Oliveira
20/03/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/valentoes-dentro-da-celula-sensiveis-fora-dela-os-virus/>. A versão incluída aqui foi editada erevisada especialmente para uso acadêmico. Favor referir à publicação original.
Vírus são partículas infecciosas, invisíveis aolho nu. Eles são formados por um materialgenético protegido por estrutura formadabasicamente por proteínas, o capsídeo. Algunsvírus também apresentam uma membrana (ou
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envelope) formado por proteínas e lípidos, umabiomolécula com nome de origem grega, lipos,gordura.
Existem vários tipos de vírus. Eles variamem tamanho, morfologia (formato ecomposição), mecanismos de replicação econteúdo de material genético. Isso faz com queum vírus que atinge humanos possa não atingiroutras espécies animais, como o cachorro. Ocontrário também é válido.
Comparado ao genoma humano, o materialgenético do vírus é pequeno. Por exemplo,enquanto o genoma humano tem cerca de 3bilhões de pares de bases e cerca de 100 milgenes (National Human Genome ResearchInstitute), os menores genomas virais variam demenos de 2 mil bases, contendo dois genes, a2,5 milhões de pares de bases, contendo maisde 2.500 genes (Simmonds e Aiewsakun 2018).
Apesar de terem no material genético as
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informações necessárias para a produção denovos vírus, eles não são capazes de fazer issosozinhos, e por esse motivo são parasitasintracelulares obrigatórios.
Nos seres vivos, como nós seres humanos,acontecem incessantemente inúmeras reaçõesbio(químicas), o metabolismo. Uma vez dentroda célula, os vírus usam o metabolismo dohospedeiro para se replicar. Dessa forma, ascélulas infectadas produzem mais vírus, quepoderão infectar novas células e hospedeiros.
Valentões dentro da célula, fora eles sãobem sensíveis. Os vírus duram pouco temposozinhos fora da célula/hospedeiro. Aí está anossa vantagem em relação aos vírus: podemosquebrar a transmissão de hospedeiro ahospedeiro e dessa forma quebrar a propagaçãoda contaminação. A quarentena é uma forma deajudar nesse processo.
A membrana (ou envelope) do vírus não é
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como uma armadura medieval, super resistente.Aí entra o nosso contra-ataque: o hábito dehigiene que aprendemos desde pequenos: lavaras mãos com sabão.
Quando lavamos as mãos, o sabão interagecom os lipídeos presentes na membrana (ouenvelope) do vírus, desestabilizando equebrando as interações físico-químicas queocorrem no envelope, destruindo o vírus. Osabão “dissolve” a gordura do vírus. Mas paraque o sabão possa agir de forma efetiva sobre ovírus, é necessário lavar as mão de formaadequada (cf. Varella 2020).
Agradeço a Profa. Dra.Maria Silvia Viccari Gatti pela revisão dotexto, correções e sugestões.
ReferênciasMINISTÉRIO DA SAÚDE. 2020. O que é coronavírus? (COVID-
19). Acessível em: <https://coronavirus.saude.gov.br/>.SIMMONDS, Peter; AIEWSAKUN, Pakorn. 2018. Virus
classification – where do you draw the line? Archives of Virology 163:2037-46.
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RIOS, Alessandra C. et al. 2016. Alternatives to overcoming bacterial resistances: State-of-the-art. Microbiological Research. 191:51-80.
VOET, Donald; VOET, Judith. 2004. Biochemistry. John Wiley & Sons, INC.
WHO. 2019. Coronavirus disease (COVID-19) Pandemic. Acessível em: <https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019>.
VARELLA, Drauzio. 2020. Como lavar as mãos / Coronavírus #1. Youtube. Acessível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rsQlyIwetsE>.
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[4]
Química doCoronavírus
Gisele Silvestre
23/03/2020
Originalmente publicado em três partes, em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/quimica-do-coronavirus-parte-i/>; <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/quimica-do-coronavirus-parte-ii/>; e <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/quimica-do-coronavirus-parte-iii/>. A versão incluída aqui foi compilada, editada erevisada especialmente para uso acadêmico. Favor referir às publicações originais.
À luz do atual surto de um novo coronavírus(COVID-19), o blog Quimikinha1 gostaria decompartilhar um breve histórico sobre a famíliacoronavírus e sua estrutura, destacando umaimportante proteína que está envolvida no1 Cf.: <https://www.blogs.unicamp.br/quimikinha/blog/>.
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processo de infecção viral. Por último, vamosfalar sobre pesquisa e desenvolvimento deagentes terapêuticos e vacinas para COVID-19 edoenças relacionadas ao coronavírus humano.Este texto tem como objetivo fornecer umabreve visão geral das importantes contribuiçõesda química no desenvolvimento de fármacospara o tratamento do COVID-2019.
Como sabemos, a química tem um papelfundamental a desempenhar na compreensãode tudo, desde a estrutura viral à patogênese,isolamento de vacinas e terapias, bem como nodesenvolvimento de materiais e técnicasutilizadas por pesquisadores, virologistas emédicos (cf. ACS 2020).
Família Coronavírus
O coronavírus (CoV) é uma grande família devírus que causam doenças que variam do
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resfriado comum a doenças mais graves. Em 11de fevereiro de 2020, a Organização Mundial deSaúde nomeou a doença viral que se espalhoupelo mundo de novo coronavírus 2019 (COVID-19) (Liu et al. 2020). Isso porque já existiramoutras espécies da mesma família viral queinfectaram humanos. Por exemplo, em 2003,estava em circulação a Síndrome RespiratóriaAguda Grave (SARS-CoV). Atualmente, aindatemos em circulação a Síndrome Respiratóriado Oriente Médio (MERS-CoV). No entanto,esse último vírus não se espalhou pelo mundotal como o COVID-19. Para saber um poucomais sobre temas relacionados à biologiamolecular, e curiosidades do coronavírus,recomendo o conteúdo divulgado pela biólogaRafaela da Rosa Ribeiro (2020) que trabalhacom o COVID-2019 na Itália.
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Estrutura básica do coronavírus
Na sua superfície, o vírus contém importantesproteínas. Estas macromoléculas se encontramincorporadas na bicapa lipídica da superfície dovírus. Dentre as macromoléculas, se destaca aproteína spike, pela sua forma de coroa (que dáo nome ao vírus) e, sobretudo, pelo seu papelfundamental na infecção viral. O materialgenético do vírus encontra-se no interior donucleocapsídeo, um invólucro de naturezaproteica.
Proteína spike,presente de grego
A proteína spike da SARS-CoV-2 é aresponsável pelo nome característico do vírus,por causa da sua forma similar à de uma coroa.
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De forma bem resumida, a proteína spike docoronavírus é uma máquina molecularmultifuncional que medeia a entrada decoronavírus nas células hospedeiras. Dessaforma, o mecanismo de entrada na células éorquestrado por essa proteína, que tem acapacidade de se ligar aos receptores celulares,e media as fusões célula-vírus.
Entre todas as proteínas estruturais doSARS-CoV, a proteína spike é o principalcomponente antigênico responsável por induzirrespostas imunes do hospedeiro, neutralizaranticorpos e/ou imunidade protetora contra ainfecção pelo vírus. Portanto, a proteína spikeda SARS-CoV tem papéis fundamentais nainfecção viral e na patogênese. Um vídeoilustrativo mostrando como o vírus invade acélula ao ligar-se ao receptor que se encontra nasuperfície da sua camada lipídica pode serassistido em Silvestre (2020).
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Uma vez ligado ao receptor celular, o vírusentra na célula em forma reconhecida e,portanto, protegido pelo sistema imunológicono interior da célula humana. É como se fosseum presente de grego. O receptor não entendeuque abriu a porta e colocou para dentro dacélula um invasor. Agora, dentro da celula, ovírus é livre para se replicar e liberar novascélulas COV-2 totalmente funcionais, querepetem exponencialmente o ciclo.
A estratégia mais comum adotada pelospesquisadores é um ativo químico que possainterromper essa entrada celular e, dessa forma,neutralizar o vírus, deixando-o acessível evulnerável ao sistema imunológico humano.Portanto, a ideia geral no desenvolvimento defármacos direcionados ao COVID-2019 éimpedir a ação dessa importante proteína viral(cf. Walls et al. 2020).
Para que a estratégia de impedir a entrada
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do vírus dentro da célula tenha sucesso, faz-senecessário conhecer as estruturas da proteínaspike e dos receptores. É a magnitude dasinterações químicas que ocorrem entre aspartes envolvidas do receptor celular e docoronavírus que ditarão o sucesso dessa jornadana busca de novos medicamentos. Nessecontexto, a estrutura da glicoproteína spike (S)do SARS-CoV-2 revela a arquitetura doprincipal agente de entrada viral nas célulashospedeiras, ao mesmo tempo em que fornece odesenho do futuro fármaco.
Pesquisa e desenvolvimento de agentesquímicos para o coronavírus
Indo direto ao ponto, não existem atualmentefármacos para conter a ação do coronavírus(SARS-CoV-2) no tratamento de pacientes comCOVID-19. Uma variedade de medicamentos
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aprovados para outras indicações, bem comovários medicamentos em investigação, estãosendo estudados em várias centenas de ensaiosclínicos em andamento em todo o mundo.
Reposicionamento de fármacos
Dado o longo processo de desenvolvimento denovos medicamentos, a estratégia dereaproveitamento de medicamentos tornou-seuma das soluções escolhidas para o tratamentoimediato de indivíduos infectados com SARS-CoV-2.
O reposicionamento ou reaproveitamentode medicamentos é uma abordagem paraacelerar o processo de descoberta demedicamentos. Trata-se da identificação de umnovo uso clínico para um medicamento jáexistente, e aprovado, para uma indicaçãodiferente. Nesse contexto, dentre alguns
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fármacos já conhecidos que são candidatos atratar o COVID-2019, tem-se: arbidol;cloroquinona; lopinavir; remdesivir etc (Liu etal. 2020).
hidroxicloroquina
Pesquisadores na França publicaram um estudoem que trataram 20 pacientes com COVID-19com hidroxicloroquina (Gautret et al. 2020).Eles concluíram que o medicamento mostravaação antiviral positiva, no entanto, não foi umestudo controlado randomizado e não relatouresultados clínicos, como óbitos (cf. Raoult eHsueh 2020). Em orientação publicada nasexta-feira, a Sociedade Americana de Medicina
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Intensiva disse que “não há evidênciassuficientes para emitir uma recomendaçãosobre o uso de cloroquina ou hidroxicloroquinaem adultos gravemente enfermos com COVID-19” (Kupferschmidt e Cohen 2020). Diante dasevidências controversas, ainda há muitocaminho pela frente quanto ao uso satisfatóriode cloroquina no tratamento de pacientes comCOVID-2019.2
ribavirina
A ribavirina é um medicamento antiviralaprovado pelo FDA, que é usado em
2 Mais informações sobre os ensaios podem ser encontradas em: <https://clinicaltrials.gov/>.
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combinação com outros medicamentos para otratamento da infecção crônica pelo vírus dahepatite C e febres hemorrágicas virais.Produzindo uma atividade de amplo espectrocontra vários vírus de RNA e DNA, a ribavirinaé um nucleosídeo sintético de guanosina queinterfere na síntese de mRNA viral. Estudosrecentes sugerem que a ribavirina, emcombinação com interferon oulopinavir/ritonavir, poderia ser eficaz paratratar a infecção por COVID-19 (Liu et al.2020).
lopinavir e ritonavir
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Atualmente, pelo menos nove ensaios clínicossobre lopinavir/ritonavir estão em andamentona China. O resultado inicial sugeriu que olopinavir e o ritonavir mostram atividadeestimulante antiCOVID-19 in vivo, mas comefeitos colaterais intestinais (Liu et al. 2020).No entanto, estudo em pacientes adultoshospitalizados com Covid-19 em seu estágiograve não demonstrou nenhum benefíciosignificativo (Cao et al. 2020). Adicionalmente,uma dose fixa da combinação anti-HIV,lopinavir-ritonavir, está atualmente em ensaiosclínicos com Arbidol ou ribavirina (Liu et al.2020).
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arbidol
O medicamento antiviral de amplo espectroArbidol, que funciona como um inibidor dafusão de células hospedeiras de vírus, entrouem um ensaio clínico para tratamento de SARS-CoV-2. O arbidol é capaz de impedir a entradaviral nas células hospedeiras contra o vírusinfluenza (Liu et al. 2020). Será que o arbidolvai funcionar para o tratamento da COVID-2019?
Desenvolvimento de vacina
É crucial o desenvolvimento de vacinas segurase eficazes para controlar a pandemia de COVID-
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19, eliminar sua propagação e, finalmente,impedir sua recorrência futura. Como o vírusSARS-CoV-2 compartilha homologia desequência significativa com outros doiscoronavírus letais, SARS e MERS, as vacinasidentificadas nessas patentes relacionadas aosvírus SARS e MERS poderiam facilitar o projetode vacinas anti-SARS-CoV-2 (Liu et al. 2020).
A primeira dose da vacina contra ocoronavírus, denominada mRNA-1273 (Liu etal. 2020), foi administrada ao primeiroparticipante do estudo de Fase 1, em 16 demarço. A vacina de mRNA se baseia emmoléculas sintéticas de RNA mensageiro(mRNA) – que contêm as instruções paraprodução de alguma proteína reconhecível pelosistema imunológico. A ideia é que a defesa doorganismo reconheça essas proteínas artificiaiscomo um corpo estranho, levando o corpo acombatê-las. Se der certo, na presença do
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coronavírus, a célula terá desenvolvido ahabilidade de identificar e combater o vírusreal.
À luz do exposto, nota-se um esforçoconjunto para desenvolver medicamentos evacinas eficazes contra infecções de coronavírusexistentes e potenciais. Dado o processooneroso e árduo envolvido no desenvolvimentoclínico de medicamentos, o surto de COVID-19destaca o valor do desenvolvimento demedicamentos antivirais de amplo espectro, e aimportância de aplicar abordagens inovadoras,como inteligência artificial, para facilitar adescoberta de medicamentos.
ReferênciasACS. 2020. Chemistry in Coronavirus Research: A Free to Read
Collection from the American Chemical Society. American Chemical Society. Acessível em: <https://pubs.acs.org/page/vi/chemistry_coronavirus_research#>.
CAO, Bin; WANG, Yeming; WEN, Danning; LIU, Wen; WANG, Jingli; FAN, Guohui; RUAN, Lianguo et al. 2020. A trial of Lopinavir–Ritonavir in adults hospitalized with severe
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Covid-19. New England Journal of Medicine, March 18.GAUTRET, Philippe; LAGIER, Jean-Christophe; PAROLA,
Philippe; HOANG, Van Thuan; MEDDEB, Line et al. 2020. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents. In Press.
KUPFERSCHMIDT, Kai, COHEN, Jon. 2020. WHO launches global megatrial of the four most promising Coronavirus treatments. Science, March 22.
LIU, Cynthia; ZHOU, Qiongqiong; LI, Yingzhu; GARNER, Linda V.; WATKINS, Steve P.; CARTER, Linda J.; SMOOT, Jeffrey et al. 2020. Research and development on therapeutic agents and vaccines for COVID-19 and related human Coronavirus diseases. ACS Central Science 6:315-31.
LIU, Wei; ZHU, Hai-liang; DUAN, Yongtao. 2020. Effective Chemicals against Novel Coronavirus (COVID-19) in China.Current Topics in Medical Chemistry 20(8):603-4.
RAOULT, Didier; HSUEH, Po-Ren (eds.). 2020. COVID-19 therapeutic and prevention. International Journal of Antimicrobial Agents. 05/04.
RIBEIRO, Rafaela da Rosa. 2020. Coronavírus. Acessível em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/wp-content/uploads/sites/251/2020/03/RAFA.mp4>.
SILVESTRE, Gisele. 2020. Coronavírus entrando na célula – presente de grego. Youtube. Acessível em: <https://www.youtube.com/watch?v=S6qY1AJKbnc>.
WALLS, Alexandra C, PARK, Young-Jun; TORTORICI, M. Alejandra; WALL, Abigail; McGUIRE, Andrew T.; VEESLER, David. 2020. Structure, function, and antigenicity of the SARS-CoV-2 spike glycoprotein. Cell 180:1-12.
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[5]
Como nosinfectamos e
transmitimos oscoronavírus?
Maria Silvia Viccari Gatti
24/03/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/como-nos-infectamos-e-transmitimos-os-coronavirus/>. A versão incluída aqui foi editada erevisada especialmente para uso acadêmico. Favor referir à publicação original.
As informações que apresentadas aqui estãobaseadas nos sites da Organização Mundial daSaúde (https://www.who.int/) e do Ministérioda Saúde (https://coronavirus.saude.gov.br/).
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A COVID-19, doença causada pelo novocoronavírus, é uma doença nova. Dia-a-diaestamos aprendendo mais sobre ela, em funçãodas observações feitas por profissionais dasáreas da Saúde e pelos pesquisadores dediferentes áreas, em todo o mundo. Assim,novas informações podem surgir a cada dia.
Simples assim? Sim.
Nos infectamos com os coronavírus quandolevamos as mãos ao rosto e tocamos as mucosasda boca, do nariz e dos olhos. Ou quandopermitimos que nossos rostos toquem emrostos de pessoas infectadas. Ou quandolevamos celulares contaminados ao rosto. Seestamos em isolamento social e não beijamosninguém, apenas as mãos e os celulares sãoresponsáveis pelo transporte dos coronavírus
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para nos infectar.E quando nossas mãos fazem esse
transporte, inclusive para os celulares? Quandotocamos em superfícies onde estão pequenasgotículas de água contendo vírus. Essasgotículas são liberadas quando pessoasinfectadas falam, tossem, espirram e pelas suassecreções nasais. Quando liberadas, as gotículastendem a cair, em função dos seus tamanhos, evão se depositar nas superfícies dos maisdiferentes tipos que estão na sua frente.
Então, dependendo do tipo de material, vãoficar ali por horas ou dias, e a viabilidade doscoronavírus pode ser mantida. Por isso, quandotocar em qualquer superfície, não leve sua mãoao rosto. Use o álcool em gel se estiver emambiente aberto. Se estiver em casa, ou no seutrabalho, vá até a pia e lave suas mãos com águae sabão por 20-40 segundos. Esses doisprocessos, se realizados de forma correta,
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eliminam os coronavírus das suas mãos. Eainda, se você usa óculos, lave-os todas as vezesque lavar as mãos. Desinfete seu celular comálcool 70o GL, sempre que o colocar sobresuperfícies que também não estavamdesinfectadas.
Uma pessoa infectada pode também tossirna própria mão, ou tocar as secreções da boca enariz. Logo, sua mão também poderá transmitiros coronavírus. Portanto, não aceitecumprimentos de ninguém por meio de mãos.
Quando as pessoas podemtransmitir os coronavírus?
Obviamente, a primeira condição para que umapessoa transmita coronavírus é estar infectadapor eles. Nas primeiras 24 horas após a infecçãojá podemos transmitir esses vírus. Ao entrar nasnossas células das mucosas da boca, nariz e
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olhos, os vírus encontram células nas quaisconseguem se aderir, e serão ali introduzidos.No interior dessas células serão multiplicados –ou seja, formarão milhares de novos vírus, queserão expelidos delas para infectarem outrascélulas, até atingirem as células do pulmão. Aextensão da infecção definirá a gravidade dadoença.
O intervalo entre a infecção e oaparecimento dos sinais e sintomas pode variarde 1 a 14 dias, sendo mais comum ao redor de 5dias após a contaminação. Os principaissintomas são: nariz escorrendo, dor degarganta, tosse, febre e dificuldade de respirar,terminando com uma pneumonia. Essessintomas aparecem de forma gradual.
O principal alerta é a febre. Ela é o alertapara uma atenção redobrada, que seria oisolamento da pessoa de outros contatos emcasa, além do uso de máscaras ao ter contato
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com essa pessoa. No caso de febre persistente eo aparecimento de tosse e dificuldaderespiratória é a hora de procurar o sistema desaúde de sua cidade.
Importante: entre 60 a 80% das pessoasque se infectam com os coronavírus podem nãoapresentar nenhum dos sintomas acimaindicados. Mas elas transmitem os coronavírusmesmo assim. Outros infectados apresentamsintomas leves e não necessitam recorrer aosistema de saúde.
Observe essas informações, e cuidado sevocê pode transmitir os coronavírus: fique emisolamento, tenha separado para seu uso exclu-sivo itens do dia-a-dia como talheres, roupas deuso pessoal, toalhas de banho e rosto etc.Descarte em sacos plásticos tudo com que vocêtenha mantido contato para poder ser lavado oudesinfetado. Essa é uma forma de mostrar seuamor pelos seus e pela humanidade.
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[6]
Uma mão lava outracom sabão no
combate aoCOVID-19
Graci Oliveira
25/03/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/uma-mao-lava-outra-com-sabao-no-combate-ao-covid-19/>. A versão incluída aqui foi editada erevisada especialmente para uso acadêmico. Favor referir à publicação original.
Na nossa pele, a sujeira, que pode conter vírus,como o COVID-19, fica rodeada por umacamada de gordura. Lavar as mãos apenas comágua não é eficaz para remover a gordura das
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mãos ou destruir o COVID-19. Isto é, usarapenas água não é uma forma adequada delimpar as mãos. Daí a importância do uso deuma invenção bem antiga, o sabão/sabonete,para lavar as mãos.
Mas afinal, o que é o sabão?
O sabão pode ser classificado como um sal deum ácido carboxílico de cadeia carbônica longa:um composto orgânico com vários átomos decarbono e hidrogênio na sua estrutura, como oestearato de sódio:
O efeito disso é que a cadeia longa de carbonono sabão forma uma cauda que não se misturacom a água, uma cauda hidrofóbica, enquanto a
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“cabeça” é hidrofílica, capaz de ser solvatada, oudissolvida pela água. No caso do carboxilato,perceba a carga negativa na “cabeça”:
Em água, cada uma das moléculas quecompõem o sabão não fica isolada. Elas sejuntam e formam um aglomerado esférico emque a parte carregada negativamente ficavoltada para a superfície. Esse aglomeradoorganizado é chamado de micela.
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Como o sabão age?
Quando lavamos as nossas mãos comsabão/sabonete líquido/sabonete e água,estamos expondo as nossas mãos e as sujeiraspresentes nela a essas micelas, que se re-organizam e interagem, tanto com a água,quanto com a gordura.
O coronavírus tem um estrutura protetoraao seu redor, formada basicamente por lipídios(“gordura”) e proteínas. O sabão é eficaz contrao coronavírus, pois é capaz de interagir com a
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gordura presente na sua membrana (ouenvelope). O sabão separa os componentesindividuais presentes na estrutura que recobreo vírus, destruindo essa estrutura e,consequentemente, destruindo o vírus.
As partículas de sabão se organizam denovo, e toda a sujeira grudada na gordura (e ospedacinhos do que foi o vírus) vão para dentrodas micelas, que acabam sendo levadas pelaágua quando você enxagua a mão.
O sabonete e os detergentes sintéticostambém são capazes de destruir o coronavírus.Todos eles têm a longa cadeia formada decarbono e hidrogênio (também chamada dealquílicas), que se esconde da água, e a outraextremidade que “gosta” da água.
A diferença do detergente sintético emrelação ao sabão preparado a partir de gordurase óleos vegetais é que, no lugar do grupocarboxilato, os detergentes sintéticos contém
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grupos formados por sulfonatos de sódio esulfato de sódio, todos hidrofílicos.
ReferênciasBURROWS, A. et al. 2013. Química: Introdução à Química
Inorgânica, Orgânica e Físico-Química. Volume 3. Rio de Janeiro: LTC.
SOLOMONS, TWG; FRYHLE, C.B. 2013. Química Orgânica. Rio de Janeiro: LTC.
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Álcool é gel, álcool épop, álcool é tudo?
Gildo Girotto Junior
20/03/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/alcool-e-gel-alcool-e-pop-alcool-e-tudo/>. A versão incluída aqui foi editada e revisadaespecialmente para uso acadêmico. Favor referir à publicação original.
Em meio à pandemia vivenciada e às inúmerasações que foram estabelecidas para a proteçãocontra o corona vírus, um item relativamentecomum, e outrora pouco utilizado em nossodia-a-dia, ganhou grande atenção de todos: oálcool em gel.
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Do dia para a noite, a procura e o preçodeste produto tiveram seus índicesabsurdamente elevados. O preço em algunsestabelecimentos chegou a custar mais do que ograma do ouro!
De modo súbito, vimos também emergirinúmeras alternativas, receitas milagrosas eadaptações, que tiveram sua divulgaçãopotencializada por nossa incrível rede dedisseminação de notícias composta poraplicativos de comunicação, redes sociais,programas televisivos, entre outros. Desde ouso de produtos não adequados à aplicação napele (como álcool de churrasqueira, de limpezaou o combustível), passando por receitas deprodução caseira e por estratégias adotadas porindústrias (como a cervejaria que decidiu usar oálcool retirado de suas bebidas para afabricação do formato em gel), pudemospresenciar, nesses últimos dias, iniciativas
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adequadas, oportunismos e práticas poucorecomendadas – práticas que podem nãoapenas deixar de proteger o usuário, comotambém gerar lesões na pele. Entre mortos eferidos, boas e más condutas, oportunismos eingenuidades, o que disso tudo se mostracoerente? O que de fato pode ser recomendado?
Vamos às questões!
Dois pontos parecem ser importantes de seremesclarecidos, e englobam de modo geral essesem número de informações disseminadas arespeito do álcool gel.
O primeiro, que aparece como uma questãofrequente, se refere à MENOR eficiência doálcool 99% (99 partes de álcool e 1 parte deágua – alguns álcoois de limpeza e álcoolcombustível) na assepsia, do que o álcool 70%(70 partes de álcool e 30 partes de água – o
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álcool em gel).Afinal, se o primeiro tem mais álcool,
deveria funcionar melhor, certo? A resposta é:NÃO! Para explicar, podemos começar com umexemplo bastante simples, e que você mesmopode testar em casa (sem precisar ser químicoautodidata).
Experimente tentar lavar uma louça suja degordura apenas com o detergente. Não utilizeágua, apenas detergente (99% de detergente).Faz ideia do que acontece? Pois bem, sua louçairá ficar mais suja do que antes, uma vez que,para a limpeza, é necessário uma ação docomponente do detergente, e uma ação da água.Mas e o que isso tem a ver com o álcool?
A ação do produto é resultado da interação,não apenas do álcool, mas da mistura do álcoolcom a água, numa proporção que foi testada pordiversas pesquisas. Desta forma, para que oproduto consiga de fato agir sobre as moléculas
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que compõem o vírus, é necessário uma açãoconjunta do álcool e da água. O álcool atua namembrana celular bacteriana, tornando-apermeável. Neste processo, a eficácia éaumentada na presença de água. A ausência deágua gera menor penetração da substância noorganismo, e portanto, menor eficiência.
Outro efeito, talvez menos importante, masque vale ressaltar, é que há estudos queapontam um tempo mínimo de contatonecessário. O álcool 99% pode evaporar numtempo menor do que o adequado para aatuação. Assim, ao utilizarmos álcoolpraticamente puro, minimizamos esta ação, oque gera menor desinfecção (cf. Kawagoe et al.2011; Sandle 2016).
O segundo ponto que abrange grande partedas principais divulgações feitas estárelacionado à produção caseira de álcool gel apartir de outros produtos, como álcool de
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limpeza, ou mesmo álcool combustível. Pracomeçar, talvez ninguém comumente tenha emcasa produtos e materiais de medição precisa,nem ao menos tenha formação técnica para aprodução de um produto como esse em casa.Além disso, podemos perguntar: o álcool delimpeza, ou o combustível, são feitos parapassar na pele? Será que a qualidade e/oupureza dos produtos utilizados na fabricaçãodestes componentes é a mesma daquela usadana fabricação do álcool em gel para uso na pele?
Pensemos então em outro exemplo simples,e novamente utilizando o detergente. Vocêusaria detergente de pia para lavar seu cabelo,em substituição ao xampu? Acredito que suaresposta tenha sido não. Mas porque, uma vezque o componente ativo é o mesmo na maiorparte dos detergentes e xampus? Dê umaolhadinha nos rótulos, e procure por laurilétersulfato de sódio (ou sodium laureth sulfate –
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em inglês). Há ainda alguns derivados demesma função, como o linear alquil benzenosulfato de sódio. Aproveite e veja também aquantidade de outras substâncias existentes.
Pois bem, usar qualquer outro tipo deproduto para fabricar álcool em gel seria omesmo que usar detergente como xampu. Oscuidados no preparo de um e outro produto sãobastante distintos, bem como a pureza dosreagentes utilizados, e as substânciasadicionadas com o intuito minimizar quaisquerefeitos sobre a pele. Portanto, o seu produtocaseiro pode não apenas ser ineficiente (pormedidas inadequadas nas quantidades), comocausar problemas na pele. Por essa e outrasrazões, não é recomendado que se faça álcoolem gel a partir de nenhum outro produto quecontenha álcool, e que não tenha a finalidade deuso para a pele.
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Mas o que fazer?
E então? Ficaremos reféns da indústria doálcool gel? Seremos contaminados pelo não usodo produto? A resposta também é não. Emboranão tenha como substituir este produto, ohábito de lavar as mãos com água e sabão, oucom água e o bom e velho detergente, se mostrabastante eficiente no combate ao vírus.Portanto, quem não tem cão, caça com gato, equem não tem álcool usa sabão. Uma atitudemais simples do que virar um alquimistaautodidata, com base nos “conselhos” depessoas que nem ao menos se conhece.
Algumas ressalvas(Ressalvas feitas pela professora Silvia Gatti,
do Instituto de Biologia da Unicamp)
O álcool em gel deve ser utilizado em situações
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em que não temos a possibilidade de lavar asmãos com água e sabão. Lavar com água esabão é o melhor método. Mais ainda: éfundamental utilizar o álcool em gel em toda asuperfície das mãos, em quantidade suficientepara senti-las molhadas inicialmente, até queesse efeito seja diminuído. Nunca se deveutilizar o álcool em gel em mãos sujas. Pois, seas mãos estão sujas, o álcool atua sobre asujeira e pode não eliminar totalmente os vírus.
ReferênciasKAWAGOE, JY, GRAZIANO, KU, MARTINO, MD, SIQUEIRA,
I; CORREA, L. 2011. Bacterial reduction of alcohol-basedliquid and gel products on hands soiled with blood.American Journal of Infection Control 39(9):785–787.
SANDLE, Tim. 2016. Pharmaceutical facility sanitization: bestpractices considered. American Pharmaceutical Review.31/03.
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Máscaras caseirassão eficientes contra
o coronavírus?
Isabel Franke
27/03/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/mascaras-caseiras-sao-eficientes-contra-o-coronavirus/>. A versão incluída aqui foi editada erevisada especialmente para uso acadêmico. Favor referir à publicação original.
Com medo de contrair o coronavírus, ouCOVID-19, várias pessoas estão costurando ecomprando máscaras caseiras para usar na rua,principalmente quando vão às compras. Essesequipamentos de proteção, produzidos em casa
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sem embasamento científico, têm tudo para darerrado. Nesse texto, explico o porquê com umexemplo histórico.
Passado
A máscara de gás foi criada na Primeira GuerraMundial como uma forma de proteger oscombatentes no front, pois foi em um ataqueem 1915 que as armas químicas passaram a serutilizadas em massa pela primeira vez. Osprimeiros ataques foram realizados com o gáscloro, mas ao longo do conflito outros tipos degases mais letais foram desenvolvidos, comopor exemplo o gás fosgênio e o mostarda.
As primeiras máscaras eram bastantesimples e consistiam basicamente em umpedaço de tecido embebido em soluçõesneutralizadoras, que deveria ser atado ao narize à boca. Uma máscara bastante conhecida é o
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respirador feito com véu negro desenvolvidopor John Scott Haldane, o black veil respirator.Chegar ao design de uma máscaraaparentemente tão simples não foi uma tarefafácil. Como o tecido deveria necessariamenteser embebido com soluções neutralizadoras, eleprecisava permitir a passagem de ar quandoúmido (já que muitas vezes os combatentesvestiam a máscara logo após mergulhá-la nasubstância neutralizadora), e também ser capazde neutralizar os efeitos dos gases quando seco.
Por isso o black veil respirator era feitocom um tipo específico de fibra de algodão,além de utilizar como faixa fixadora um véu –negro, porque era o mais produzido nomomento da guerra, já que era usado por viúvasou mulheres como símbolo luto. Mas nem todosos tecidos permitem a passagem de ar quandoestão molhados, e desconhecer essa informaçãocausou a morte de muitos soldados.
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Em uma tentativa de auxiliar nos esforçosda guerra, o governo britânico fez uma chamadapara que civis fizessem um mutirão paraconfeccionar máscaras. Milhares delas foramconfeccionadas da noite para o dia, e enviadaspara o front. Como se verificou da pior maneira,elas eram não só inúteis, como perigosas. Comoforam confeccionadas com o tipo inadequadode fibra de algodão, essas máscaras nãoprotegiam do gás quando secas, e molhadas nãopermitiam a passagem do ar. Comoconsequência, no meio de um ataque, muitossoldados ficaram desprotegidos, ou precisaramtirar a máscara úmida e acabaram sendo feridosou mortos pelos gases. A partir desse episódio, aprodução de máscaras e outros equipamentosde proteção passou a ser centralizada por umdepartamento criado especificamente para lidarcom as questões das armas químicas: o GasService. Além de produzirem equipamentos,
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esse destacamento era responsável por treinaros combatentes para que eles pudessem usar oequipamento de forma correta, já que só assimele seria efetivo.
Presente
Desenvolver um equipamento exige muitapesquisa e muitos testes. As coisas nãofuncionam porque elas parecem funcionar, massim porque elas acumulam tecnologiasdesenvolvidas a partir de muitas pesquisas eexperiências. E elas só funcionam quando sãoutilizadas de forma adequada, seguindoprotocolos rigorosos de uso, estabelecidos apósnumerosos testes.
As máscaras que estão sendo criadas emcasa ou vendidas por costureiras – e até mesmoaquelas cirúrgicas – não impedem a inalação doCOVID-19. Elas somente são efetivas quando
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usadas por pessoas contaminadas, já queimpedem a dispersão do vírus no ar através degotículas. A pessoa saudável que usa umamáscara caseira está, na verdade, criando umaarmadilha para concentrar o vírus (e outrosmicrorganismos) no próprio rosto. Além disso,tocar na máscara, deslocá-la pelo rosto até aárea dos olhos ou abaixá-la no pescoço parafalar acabam, na verdade, aumentando aschances de contaminação. Por isso essasmáscaras podem ser tão perigosas: elas criamuma sensação falsa de segurança, o que acabaaumentando as chances de contaminação.
As únicas máscaras capazes de impedir ainalação dos vírus são aquelas que possuem umsistema para barrar partículas minúsculas,biológicas ou não, dispersadas por aerossol. Ecomo dito anteriormente: elas só funcionamquando usadas de forma rigorosamente corretae por tempo limitado. Se não conhecemos o
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comportamento e o tamanho do vírus, e asespecificidades dos tecidos, e se não sabemosquais são os protocolos de segurança no uso,criar e usar máscaras caseiras é irresponsável eperigoso. Não existe equipamento milagrosocontra a contaminação. Para diminuir os riscosde contrair a doença devemos ficar em casa eevitar aglomerações, lavar frequentemente asmãos com água e sabão por pelo menos 20segundos, não tocar a face e manter ambientesventilados.
Se você não apresenta sintomas, nãocompre máscara de nenhum tipo! Deixe para aspessoas que trabalham na área da saúde e seusfamiliares, que estão expostos cotidianamenteao vírus, e para as pessoas que precisam cuidarde familiares e amigos doentes. Somente usemáscaras se você estiver contaminado.
Um último lembrete: precisamos proteger einvestir na ciência brasileira, pois é somente
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através de pesquisas e experiências queencontraremos soluções eficientes para osnossos problemas, como é o caso da atualpandemia.
Atualização06/04/2020
(Coordenação do Blogs de Ciência da Unicamp)
Até o presente momento, a OrganizaçãoMundial de Saúde segue sem recomendações deuso de máscara por pessoas não contaminadas.O MS e o CDC mudaram suas recomendações,especialmente em função de pessoas que podemestar infectadas mas não sabem. Todas asrecomendações mais recentes são apenas parausar máscara como barreira mecânica de quemestá infectado.
O Blogs de Ciência da Unicamp decidiumanter este post no ar, uma vez que traz um
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panorama histórico importante dos riscos deproduções sem cuidados técnicos e científicos.Quaisquer recomendações feitas por esteveículo de Divulgação Científica estão, eestarão, sempre, de acordo com preceitoscientíficos e embasados teoricamente.
ReferênciasAULD, S.J.M. 1918. Gas and flame in modern warfare. Nova
York: George H. Doran.FRANKE, I. 2019. A fotografia e a máscara: uma antropologia
da imagem. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)– Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UniversidadeEstadual de Campinas, Campinas.
GRAYZEL, S.R. 2014. Defence against the indefensible: the gasmask, the State and British Culture during and after theFirst World War. Twentieth Century British History25(3):418-34.
JONES, S.; HOOK, R. 2007. World War I gas warfare tacticsand equipment. Colchester: Osprey.
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Quem não vê caranão vê COVID-19?
Graci Oliveira
07/04/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/quem-nao-ve-cara-nao-ve-covid-19/>. A versão incluída aqui foi editada e revisada especialmentepara uso acadêmico. Favor referir à publicação original.
Primeiro, é importante ter em mente que aindanão temos evidências científicas de que asmáscaras caseiras de pano são efetivas paraproteger os indivíduos saudáveis contra aSARS-CoV-2. O mais importante é o mantra“uma mão lava a outra” (com água e sabão),
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limpar as superfícies e o isolamento social(físico).
Mesmo assim, o Ministério da Saúde (2020)publicou em seu site a notícia “Máscarascaseiras podem ajudar na prevenção contra oCoronavírus”. Elas podem ou realmenteajudam? De acordo com o site:
Além de eficiente, é um equipamento simples, que nãoexige grande complexidade na sua produção e pode serum grande aliado no combate à propagação docoronavírus no Brasil, protegendo você e outraspessoas ao seu redor. (Ministério da Saúde 2020).
Mas de que tipo de proteção eles devem estarfalando? Para entender um pouco mais, vamoscomeçar tratando das formas de manifestação,ou não, do vírus.
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Sintomáticos eassintomáticos
Um pessoa infectada pelo SARS-CoV-2 podenão apresentar sintomas (ser assintomática), ouela pode apresentar sintomas, que podem serleves (parecidos com a de uma gripe) ou maisseveros (precisando de atendimento imediato).
Até o momento a Organização Mundial deSaúde não recomenda o uso de máscaras porpessoas que não tenham os sintomas (cf. WHO2020). A exceção é o uso por pessoas queestejam cuidando de outras que possam estarcom COVID-19. Além disso, a OMS não fazmenção ao uso de máscaras caseiras, e deixaclaro que as máscaras descartáveis só devem serusadas uma vez e dispensadas.
Ainda de acordo com a OMS (WHO 2020),o uso de máscaras em si não previne apropagação da COVID-19. Deve-se ficar atento
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às recomendações sobre higienização das mãospor meio de água e sabão ou álcool gel 70%, ede superfícies. Aliados ao isolamento social(físico), essas medidas têm se mostrado as maiseficazes para romper a propagação da doença.
Uma máscara de qualquer materialserve?
Não. Nem todo o material pode ser usado naconfecção de máscaras no combate ao SARS-CoV-2. O vírus SARS-CoV-2 (severe acuterespiratory syndrome coronavirus 2), quecausa a doença COVID-19, tem tamanho quevaria entre 70 a 90 nm (Kim et al. 2020).
Para se ter uma ideia, as réguas escolaressão divididas em centímetros, cada um com 10divisões menores, que são os milímetros. Ovírus é 900 mil vezes menor do que 1 milímetro.Invisível a olho nu. Como ele viaja em
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partículas/gotículas, e possivelmente em(bio)aerossóis (Fineberg 2020), o conjuntoaumenta um pouco de tamanho, mas aindacontinua em uma escala imperceptível aosnossos olhos.
Recentemente, em um canal no YouTube,surgiu a sugestão de uma máscara feita a partirde plástico e papel filtro de café. Você já olhou opapel filtro de perto? Nós conseguimos ver osfurinhos a olho nu! Você realmente acha quesão eficazes contra o coronavírus?
As máscaras usadas como Equipamento deProteção Individual (EPI) são regulamentadas eservem como um filtro, impedindo que algumaspartículas passem e outras não. Mas cuidado!Existem vários tipos de máscaras, cada umapara um fim específico.
Bartoszko et al. (no prelo), compararam asmáscaras cirúrgicas e a N95, usada porprofissionais de saúde, e avaliaram seu possível
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uso para a proteção contra SARS-CoV-2. Oestudo mostrou que elas não são similares. Elasnão são capazes de proteger contra os aerossóisexpelidos pelos pacientes. Mesmo na proteçãocontra gotículas, que são maiores do que osaerossóis, as máscaras apresentam “baixaevidência de efetividade”.
De acordo com a Cartilha de ProteçãoRespiratória contra Agentes Biológicos paraTrabalhadores de Saúde, da Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (2006) brasileira:
É importante destacar que a máscara cirúrgica:• NÃO protege adequadamente o usuário de
patologias transmitidas por aerossóis [...], pois,independentemente de sua capacidade defiltração, a vedação no rosto é precária neste tipode máscara;
• NÃO é um EPR . (Agência Nacional de Vigilância
Saninária 2006:20; todas as ênfases no original).
EPR é a sigla para “Equipamento de Proteção
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Respiratória”. Isso quer dizer que a máscaracirúrgica não garante que uma pessoa saudávelnão possa ser contaminada por alguns tipos depatógenos, como o SARS-CoV-2.
Mas se ela não protege, por que ela tem sidoindicada para pessoas com sintomas da COVID-19? Porque ela funciona como uma barreiramecânica para o contaminado, diminuindo adispersão do SARS-CoV-2 no ambiente. Umefeito parecido com o tossir no cotovelo e/ousobre um papel (lembre-se de jogar o papel forae lavar as mãos depois).
Como a máscara médica descartávelfunciona? Ela impede que as gotículas doespirro ou tosse da pessoa que a está usandovoem longe, diminuindo assim a contaminaçãodo ambiente.
Existem dois principais motivos para não serecomendar a compra/uso de máscara cirúrgicapor pessoas que não apresentam sintomas:
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(1) Não há evidência de que elas podemproteger uma pessoa saudável de contrair ovírus SARS-CoV-2 e
(2) A diminuição da disponibilidade demáscaras em situações que realmente sãonecessárias, ou seja, por profissionais dasaúde.
Uma pessoa saudável usando uma máscaracirúrgica não tem garantia de que ela estáprotegida contra a COVID-19. O mesmo seaplica ao uso de máscara caseira feita de pano.
Num comentário publicado no jornal TheLancet sobre o uso racional de máscarasdurante a pandemia do COVID-19, Feng et al.(2020:1) fazem uma observação importante:“há uma distinção essencial entre a ausência deevidência e a evidência da ausência”. Isto é,ainda são muito pequenas as evidências de que
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o uso de máscaras possa permitir uma proteçãocontra essa infecção respiratória.
Quando devo usaruma máscara?
O consenso científico é que as pessoas devemcobrir tosses e espirros e usar máscaras casoestejam doentes. As máscaras cirúrgicasdescartáveis, quando usadas pelos sintomáticos,ajudam a diminuir a propagação do vírus no ar,por reterem gotículas de água.
Mas e para as pessoas que estão comsintomas leves? O uso de máscaras cirúrgicas érecomendado quando na presença de outraspessoas, mas lembre-se de que elas não devemser reutilizadas, e só podem ser usadas por nomáximo 3 horas. Além disso é importante fazero descarte adequado das máscaras cirúrgicas.
E os assintomáticos? Os estudos mostram
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que as pessoas assintomáticas podem transmitiro vírus a outras pessoas, que podem entãodesenvolver sintomas.
Nishiura et al. (2020) mostraram que nogrupo de japoneses que foram evacuados deWuhan para o Japão, havia cerca de 30.8% deassintomáticos. Isso significa que uma pessoacom a aparência saudável pode ser portadora dovírus. Outras estimativas, em estudos comgrupos diferentes, mostram porcentagensdiferentes (cf. Heneghan et al. 2020).
Na China, das 72.314 pessoas examinadasaté 11 de fevereiro, 61,8% testaram positivo, eapenas 1,2% desses se mostraramassintomáticos (cf. Zhang et al. 2020).3 Masessas pessoas assintomáticas poderiamcontaminar outras pessoas? Bai et al. (2020)
3 Tem sido divulgada pela mídia em geral uma estimativa de 80% de “assintomáticos”, mas o que afirma a Organização Mundial de Saúde (WHO 2020) é que os “sintomas leves e assintomáticos” são estimados em 80%. Outras estimativas sobre assintomáticos estão disponíveis em Heneghan et al. (2020).
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reportaram o caso de um grupo familiar em queum dos pacientes, originário de Wuhan, podeter carregado o vírus de forma assintomática, einfectado outras 4 pessoas que acabaram pordesenvolver sintomas. Outros casos de gruposassintomáticos têm sido reportados (e.g.: Lu etal. 2020; Zhang et al. 2020; Kimbal et al.2020), evidenciando a importância de testageme isolamento dessas pessoas no combate apropagação da doença (cf. Day 2020).
Liu e Zhang (2020) afirmaram que o uso demáscara por uma pessoa infectada comsintomas leves foi capaz de garantir que outrasnão fossem infectadas. Mas e as que ainda nãodesenvolveram os sintomas, as pré-sintomáticas que podem começar a ter sintomasdo 3 ao 14 dia após a infecção? E as pessoasassintomáticas? Será que o uso de máscaras éefetivo?
Em uma carta publicada no The National
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Academies of Science, Engineering andMedicine, o médico e chefe do EmergingInfectious Diseases and 21st Century HealthThreats, Harvey V. Fineberg (2020), reportouque alguns estudos encontraram a presença dovírus a partir de (bio)aerossóis, expelidos narespiração normal e ao falar, por pacientes comSARS-CoV-2, indicando uma possível rota decontaminação. De acordo com uma publicaçãoda Science, nem todos os especialistasconcordam com a transmissão por essa via, eespecialistas da Organização Mundial de Saúdeapontam que nenhum dos 75 mil casosreportados na China, até aquele momento,havia resultado de uma infecção a partir dessarota (cf. Service 2020).
A carta escrita por Fineberg cita um outrotrabalho, que mostra que: o uso de máscarascirúrgicas por crianças e adultos com doençarespiratória aguda reduz a proporção de vírus
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liberados para o outro lado da máscara. Outroartigo, publicado na Nature, mostrou que o usode máscaras cirúrgicas por pessoas sintomáticasreduz a quantidade de vírus expelido pelospacientes com coronavírus (Leung et al. 2020).No entanto, ainda não há comprovaçãocientífica de que o uso de máscaras protejaindivíduos saudáveis.
E as máscaras caseiras de pano? Não háevidências científicas que provem a eficácia douso de máscaras caseiras como forma deprevenir que um indivíduo saudável contraia oSARS-CoV-2. O que existem são especulaçõesde que as máscaras de pano, quando usadas porpessoas infectadas, podem funcionar como umabarreira mecânica, impedindo a ampladispersão do vírus. Mas é clara a necessidade demais estudos científicos.
Na última sexta-feira, dia 3 de Abril, oCentro de Controle e Prevenção Doenças (CDC
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2020) dos Estados Unidos reviu a sua posição, epassou a indicar o uso de máscaras ou proteçãode tecido no rosto em locais públicos. De acordocom o CDC (2020), a recomendação do uso demáscaras de pano está relacionada àpreocupação com a transmissão do vírus porpessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas.
Mas e se você decidir usaruma máscara caseira de pano?
É importante, na verdade fundamental, teralguns cuidados para que ela não cause maismal do que bem. Isso pois ela pode ser umafonte de contaminação, se não forem tomadosos cuidados necessários, como, por exemplo,evitar tocar a máscara durante o tempo de usopara não contaminar as mãos. Também énecessário que, após o uso, sua máscara sejalavada de maneira adequada.
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ReferênciasAGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. 2006.
Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores de Saúde. Brasília: Anvisa.
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[10]
Semanas cruciaispara o sistema desaúde brasileiro: o risco do colapso
em gráficos
Júlia Perassoli De Lázari
Paula D. Paro Costa
07/04/2020
Originalmente publicado em: <https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/semanas-cruciais-para-o-sistema-de-saude-brasileiro-o-risco-do-colapso-em-graficos/>. Aversão incluída aqui foi editada e revisada especialmente para uso acadêmico. Favorreferir à publicação original.
Pouco a pouco, um vocabulário que antes só
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fazia parte de filmes de ficção, foi se tornandorealidade, invadindo nossas vidas sem pedirlicença: “coronavirus”, “COVID-19”,“pandemia”, “quarentena” e, infelizmente,“colapso”; palavra que nos trará dias dolorososque jamais mais sairão de nossas memórias, eque imprimirá cicatrizes profundas em muitasfamílias.
A narrativa mais simples para se chegar aocolapso tem uma sequência clara:
● É fato que parte dos portadores de COVID-19 precisarão de tratamento intensivo, ouseja, leitos de UTI. Uma UTI é definida peloMinistério da Saúde (2010) como “áreacrítica destinada à internação de pacientesgraves, que requerem atenção profissionalespecializada de forma contínua, materiaisespecíficos e tecnologias necessárias aodiagnóstico, monitorização e terapia”.
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●Também é fato que existe um número finito
de UTIs.● Se o número de casos confirmados se tornar
tal que a porcentagem de casos quetipicamente necessitam de UTI se tornemaior que o número de leitos de UTIdisponíveis, o colapso acontece.
Em poucas palavras, profissionais da saúdeterão que decidir quem ocupará o leito, e quemserá fadado à falta de tratamento. Obviamente,os profissionais da saúde farão de tudo paraminimizar essas escolhas, à custa de horasextras e condições de trabalho não-ideiais.Infelizmente, muitos deles começarão aadoecer, agravando o colapso por falta derecursos humanos capacitados, e em suasmelhores condições de trabalho. Mais ou menosnesse ponto, as pessoas começarão a conhecerpelo menos uma pessoa que morreu de COVID-
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19, e os números deixarão de ser números, parase tornarem gente.
O colapso pode ser mais dolorosopara alguns Estados
Muitos talvez ainda se perguntem: já estamosno caminho do colapso? Quando eleacontecerá?
O Brasil é um país com grandesdesigualdades em sua infraestrutura de saúde.São Paulo, o epicentro da pandemia no Brasil,só não entrou em evidente colapso devido à suaavantajada proporção de leitos deUTI/habitante, comparável à de países deprimeiro mundo. Essa situação é similar paraoutros Estados do Sudeste e Sul (cf. Tabela 01).
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Estado Leitos de UTI AdultoSUS Privados
São Paulo 4071 5349Rio de Janeiro 1379 3084Minas Gerais 2309 1218Paraná 1471 876Rio Grande do Sul 1267 673Tabela 01: Estados brasileiros que têm maior disponibilidadede leitos de UTI. Fonte: DATASUS-02/2020; foramconsiderados leitos adultos (UTI1, UTI2, UTI3), coronarianos (2e 3) e de isolamento.
No entanto, o mesmo não acontece para outrosEstados brasileiros, em particular da regiãoNorte. Um número inferior de casosconfirmados pode levar a região rapidamentepara o colapso (cf. Tabela 02).
Estado Leitos de UTI AdultoSUS Privados
Rondônia 182 82Tocantins 90 62Acre 64 15Amapá 33 35Roraima 43 8Tabela 02: Estados brasileiros com menor disponibilidade deleitos de UTI. Fonte: DATASUS-02/2020; foram consideradosleitos adultos (UTI1, UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e deisolamento.
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Estamos longe do colapso?
A resposta é: infelizmente não. Justificam-se,então, as notícias de construção de hospitais decampanha por todo o país.
Os gráficos abaixo (cf. Fig. 01) mostram queEstados brasileiros do Norte e Nordeste serãoos primeiros a entrarem em colapso,possivelmente já nas próximas semanas. Paraestes Estados, as ações de isolamento socialparecem ser essenciais para “ganhar tempo”.
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Fig. 01: O colapso pode ser ilustrado pelo momento em que alinha laranja cruza a linha vermelha.
Para realizar essas projeções, foramconsiderados os seguintes aspectos:
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● Foram considerados as capacidades deleitos de UTI para adultos reportados peloDATASUS incluindo UTI-a Tipo II, Tipo III,UCO Tipo II e Tipo III e Unidade deIsolamento conforme definições no anexoda Portaria N° 895 do Ministério da Saúde,de 31 de março de 2017.
● Partiu-se da hipótese razoável de quemuitos dos leitos de UTI disponíveis nosEstados já estavam ocupados antes da criseglobal da COVID-19. Baseamo-nos nacobertura da imprensa, considerando o piorcaso, no qual apenas 22% da infraestruturadisponível está vaga (cf. Mariz e Souza2020).
●Finalmente, consideramos a distribuição
das faixas etárias brasileiras para estimar aporcentagem de internações de UTI noBrasil em aproximadamente 1,44%.
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Esperar pelo melhor,preparar-se para o pior
Neste momento, inúmeros pesquisadorestrabalham em modelos matemáticos para tentarprever a evolução da pandemia no Brasil e nomundo. Tais modelos são ferramentasessenciais para que tomadores de decisãopossam decidir quando, onde e como agirempara diminuírem os impactos de uma doençaque se alastra rapidamente.
Nossas projeções assumem cenáriospessimistas: uma evolução exponencial dadoença; e uma baixa disponibilidade de leitosde UTI. Esperamos que estes cenários não seconcretizem, mas parece ser prudente olharcom atenção para a situação.
* * *
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Este trabalho é o resultado de uma força tarefade alunos de iniciação científica, mestrado edoutorado da Faculdade de Engenharia Elétricae de Computação (FEEC), do Instituto deComputação (IC) e Instituto de Matemática,Estatística e Computação Científica (IMECC) eFaculdade de Ciências Médicas (FCM).
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ReferênciasMARIZ, Renata; SOUZA, André de. 2020. Coronavírus: leitos
de UTI têm mais de 70% de ocupação em 17 estados. OGlobo, 30/03.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2010. Resolução No 7, de 24 defevereiro de 2010. Dispõe sobre os requisitos mínimospara funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva edá outras providências.
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Coronavírus: o queo sabão faz com ovírus que causa a
covid-19
BBC
01/04/2020
Originalmente publicado em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-52096406>. Aversão incluída aqui foi editada e revisada especialmente para uso acadêmico. Favorreferir à publicação original.
Lavare le mani; мыть руки; Hände waschen; 请洗⼿手 ... Em qualquer idioma, a mensagem maisimportante do momento é clara: lave as mãos.
Não importa quão avançada esteja a Ciência
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no século 21, a principal arma durante apandemia de coronavírus é a antiga tecnologiade combinar sabão e água. Embora nãotenhamos certeza de quem, quando ou comoalguém teve uma ideia tão brilhante, sabemosque essa mistura ainda é a melhor estratégiapara combater doenças infecciosas e nemmesmo o novo coronavírus pode vencê-la. Maspor que essa combinação funciona tão bem?
O que para nós pode ser tão agradável quese torna relaxante (o som da água, o prazer desenti-la escorrer sobre a pele, o aroma do sabãoe a pausa) é, para micro-organismos, altamentedestrutivo. Uma única gota de sabão na águapode matar inúmeras bactérias e vírus.
O segredo do sabão
O sabão é uma mistura de gordura, água eálcalis ou sal básico. O álcali vem do árabe: Al-
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Qaly القالي,القلي , que é o que os sumériosusavam em 3000 a.C., a referência mais antigaconhecida. A receita que usamos hoje é muitosemelhante à registrada em escrituras antigas, epor um bom motivo: porque essa soluçãoescorregadia cumpre seu papel, a limpeza.
O segredo está nas características de cadaextremidade das moléculas de sabão, que têmcabeça e cauda. A cabeça é hidrófila, enquanto acauda é hidrófoba e lipófila. Em outraspalavras, é atraída pela água, de um lado, e poróleo ou gordura, do outro lado.
Quando você está lavando as mãos e asmoléculas de sabão se encontram com gordura,suas caudas são atraídas por ela enquanto acabeça permanece na água. As forças de atraçãoentre as cabeças e a água são tão fortes quelevantam a gordura da superfície, de modo queela é completamente cercada por moléculas desabão, que a separam em pedaços cada vez
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menores, que são então arrastados com a água.Mas por que é esse processo é tão eficaz contraos vírus como o que causa a covid-19?
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'Morte' do vírus
O coronavírus, como todos os vírus, ébasicamente um conjunto de instruções(fragmentos de código genético) em busca decélulas para invadir e forçá-las a seguir seuscomandos. Mas acontece que essas instruções -o ácido ribonucleico (RNA) - são empacotadasno que é conhecido como envelope viral, e o doSars-CoV-2 é composto de lipídios, que sãogorduras. Diante do sabão, esse é o calcanhar deAquiles do vírus.
Quando o coronavírus está nas suas mãos,ele não consegue penetrar na pele, pois suacamada externa é levemente ácida, mas elespodem permanecer lá esperando aoportunidade de entrar no corpo por lugaresmais vulneráveis. E é nesse momento que você
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pode interceptá-lo e destrui-lo, simplesmentelavando as mãos.
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O sabão não apenas solta o vírus da pele, mastambém faz com que o envelope viral sedissolva, de modo que proteínas e o RNAdeslizem e o vírus morra metaforicamente (eleé, na verdade, desativado, pois os vírus nãoestão exatamente vivos). Aí, a água leva osrestos do que até 20 segundos atrás era umaséria ameaça à nossa saúde e à dos outros.
Por que 20 segundos?
Porque leva algum tempo para a mágica dosabão acontecer e, além disso, tambémprecisamos de alguns segundos para garantirque estamos ensaboando todos os lugares.
Os desinfetantes também funcionam, mas amaravilha da água com sabão é que você sóprecisa de um pouco de produto para usar emtoda a mão e, apenas esfregando, se livra dosindesejados. Para conseguir o mesmo efeito
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com outros produtos, que geralmente contêmálcool, você precisa encher com essassubstâncias todos os cantos onde os víruspodem estar ocultos.
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Orientação sobreuso de águasanitária nocombate aocoronavírus
Fábio Reis
30/03/2020
Originalmente publicado em: <https://pfarma.com.br/coronavirus/5355-agua-sanitaria.html>. A versão incluída aqui foi editada e revisada especialmente para usoacadêmico. Favor referir à publicação original.
O Conselho Federal de Química publicou umreview que detalha informações que integram o
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“Technical Brief” da Organização Mundial deSaúde (OMS) lançado, neste mês, para auxiliarno enfrentamento à pandemia de coronavírus.
O documento é um roteiro simples:basicamente, trata da diluição de uma pequenaquantidade de água sanitária em água potável, oque demonstrou ser capaz de eliminar o novocoronavírus (SARS-CoV-2).
Apenas mudando a concentração de águasanitária em água potável, é possível dardiferentes usos ao produto. A únicarecomendação, na hora de comprar a águasanitária, é que o princípio de cloro ativo seja de2% a 2,5%.
Usando como medida um copinho de café,de 50 ml, se utiliza metade dessa quantia,dissolvida em um litro d’água, para obter umasolução diluída capaz de eliminar o coronavírusda superfície de mesas, maçanetas, chaves,embalagens e produtos trazidos do
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supermercado, por exemplo. Concentraçõesmais elevadas de água sanitária exigem luvas.
Falta de álcool gel
Nesse momento em que fica difícil encontrarálcool gel no mercado, e que boa parte dapopulação não tem condições de adquiri-lo, odoutor em Ciência, Jorge Macedo, faz o alerta: areceita bem diluída pode também ser usada nasmãos, na falta de álcool gel ou água e sabão.
“Nesse caso, claro, a frequência de uso temde ser menor porque, pra algumas pessoas, asolução pode causar ressecamento nas mãos edermatites. Mas quanto à segurança doprocedimento não existem dúvidas”, afirmaMacedo.
O especialista afirma ainda que, se usadasda maneira correta, as soluções de águasanitária são capazes de deixar o visitante
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indesejado do lado de fora das casas.“Basicamente, temos como utilizá-las no panoumedecido, ou com borrifador, desses usadospara molhar pequenos vasos de plantas”,assinala.
Solução caseira para eliminaro Coronavírus da sua casa
Em um supermercado, compre a água sanitáriade sua preferência. Antes, porém, leia o rótulo eveja se a concentração de princípio de cloroativo é de 2 a 2,5%.
ATENÇÃO: a água sanitária pura tem pH11,5-13,5, e não adianta você utilizá-la pura. Issopois o que leva à morte os organismos é umasubstância chamada “ácido hipocloroso(HClO)”, que não existe em pH tão alto como oda água sanitária pura. Falamos: “A águasanitária pura não faz nem cócegas no vírus!! Se
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morrer, o vírus vai morrer por afogamento oupelo cheiro!”
Logo, vamos ensinar a preparar umasolução diluída de água sanitária que, empoucos segundos (15 a 20s), vai eliminar ocoronavírus da superfície dos objetos de suacasa.
Preparo
1 – Pegue um copinho descartável para café;esse copinho tem a capacidade de 50 mL.
2 – Coloque 25 mL de água sanitária pura nocopinho. Ou seja, você deve colocar águasanitária até a metade do copinho. Se passarum pouco, não tem problema. Nesse casonão pode faltar.
3 – Pegue uma garrafa de plástico comcapacidade de 1 L, coloque um pouco deágua e adicione os 25 mL de água sanitária.
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4 – Complete o volume da garrafa com água,tampe e agite para misturar a água sanitáriacom a água.
Essa solução é fatal para o coronavírus, de 15 a20 segundos.
ATENÇÃO
1 – Não deixe o frasco exposto à luz. Guarde emlugar fresco, dentro de um armário esomente retire no momento que for utilizar.
2 – Identifique o frasco: arrume uma etiqueta ecole com o nome “Água Sanitária Diluída”,ou escreva o nome no frasco com umacaneta de tinta permanente. Você vai notarque a solução nem tem odor característicoforte da água sanitária, e por isso éimportante identificar o conteúdo do frasco.
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Como aplicar em superfícies
Umedeça um pano limpo nessa solução, passenas embalagens dos produtos que comprou, naschaves, nas maçanetas, nas mesas etc. Atenção:não passe no celular!
Se você tiver a pele mais sensível, utilize asolução com luvas. A maioria das pessoas nãoterá nenhum problema no contato com essasolução diluída, mas o uso constante pode levarao ressecamento da pele.
Outro processo de aplicação: pegue umfrasco com borrifador, coloque a água sanitáriadiluída, borrife nas superfícies e, após 15-20segundos, retire o excesso com um pano seco elimpo. Nesse método não se tem contato diretocom a solução.
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Observação
Para pisos, áreas abertas, sanitários, solas desapato etc., você deve preparar uma soluçãomais concentrada. Para isso, basta seguir asmesmas instruções apresentadas acima naseção “Preparo”, mas agora com um copinho decafé cheio até o topo (i.e., com 50 mL de águasanitária). Essa solução é muito maisconcentrada, por isso o uso de luvas é indicado.
Para limpar as solas dos sapatos, umedeçaum pano limpo com a solução, e coloque nochão da porta de entrada, do lado de dentro. Aoentrar em casa, esfregue sobre o pano as solasdo seu sapato. Sempre que for necessário,umedeça o pano novamente com a solução.
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Explicação da sustentação científicada ação de desinfecçãodas soluções diluídas
Com base nas informações da OrganizaçãoMundial da Saúde (WHO), esse Review édistribuído em duas partes: uma para leigos,para o dia a dia de suas residências; e outrapara aqueles que tiverem interesse em conheceros princípios científicos que norteiam asorientações.
O SARS-Cov-2 é um vírus envelopado, comum fragmento externo – membrana.Geralmente, os vírus envelopados são menosestáveis no ambiente e mais suscetíveis aoxidantes, como exemplo, os derivados clorados(WHO/UNICEF, 2020).
A solução diluída de um derivado clorado(0,05% = 500 ppm) pode ser usada paradesinfetar as mãos quando não há possibilidade
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de usar nelas o produto à base de álcool ousabão. No entanto, soluções diluídas de cloronão são recomendadas (por serem agentesoxidantes) quando se tem disponível para asmãos o álcool 70% ou sabão e água (WHO,2020).
Na utilização da solução diluída de cloro háum risco maior de irritação nas mãos e efeitosnocivos à saúde (por exemplo, ao produzir ediluir soluções de cloro). Outras soluções decloro, principalmente as mais diluídas, devemser feitas diariamente, armazenadas em localfresco e seco, com a tampa afastada da luz solar;caso contrário, elas podem perder potência eeficácia na desinfecção (WHO, 2020).
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Informações sobre as soluçõescloradas diluídas preparadas
É importante ressaltar que não existe “cloro” nanatureza. A terminologia utilizada, o jargãopopular “vai colocar cloro na água”, é umaafirmação totalmente equivocada do ponto devista químico. Esse nome foi usado nesseReview, pois ele é dirigido a pessoas leigas.
Existem diversos derivados clorados àdisposição. A escolha do hipoclorito de sódio(NaClO) para preparo das soluções se deve aofato de ser ele o princípio ativo do produtoamplamente disponível, conhecido como “águasanitária”.
Por isso, cientificamente, é incorreto dizerque adicionamos “cloro na água”. Na verdade,adicionamos na água um derivado clorado, e oprocesso de hidrólise desse derivado libera asubstância química HClO (ácido hipocloroso). É
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essa substância que consegue reduzir, a umnível seguro, a contaminação de superfícies. Acloração está, portanto, vinculada à liberação deHClO, após a hidrólise de um derivado cloradoem meio aquoso. A terminologia “cloro”, porém,virou uma expressão popular (Andrade eMacedo 1996; Macedo 2009, 2016, 2019).
O uso contínuo do cloro só ocorreu a partirde 1902, na Bélgica, com o refinamento dacloração, isto é, com a determinação das formasde cloro – cloro “combinado” (CRC, ascloraminas) e “residual livre” (CRL, ácidohipocloroso) – e com a cloração baseada emcontroles bacteriológicos (Andrade e Macedo1996; Macedo 2009, 2016, 2019).
Os compostos clorados são mais efetivos emvalores de pH mais baixos, quando a presençade ácido hipocloroso é dominante. Por isso, foiindicado que se faça uma solução diluída deágua sanitária: com a diluição, reduzimos o pH.
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A OMS indica que, para a desinfecção serefetiva, é necessário que o pH esteja entre 6,5 e8,5.
Cálculos para definição dosvolumes indicados para o preparo
das soluções diluídas de água sanitária
A água sanitária possui de 2 a 2,5% de princípioativo, logo ela possui de 20.000 a 25.000 mgCRL/L, expressos, em mg Cl2/L.
Para fazer os cálculos, foi usada comoreferência a menor concentração, 2%. Se elaestiver com mais de 2%, nossa solução diluídavai ficar um pouco mais concentrada, o que éaté mais efetivo no processo de desinfecção,dando maior segurança de eliminação docoronavírus.
O cálculo consiste na seguinte “regra detrês”: se existem 20.000 mg CRL em 1 L de
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água sanitária, então quantos (x) mg de CRLexistem em 25mL de água sanitária?
20.000 mg CRL :: 1 L de água sanitáriax mg CRL :: 25 mL de água sanitária
Temos, assim, que:
x = (20.000 x 25) / 1000 = 500 mg CRL
Logo, quando indico que se coloque 25 mL daágua sanitária em 1 L de água, estou produzindouma solução diluída de, no mínimo, 500 mgCRL/L o que é exatamente a solução 0,05%indicada pela OMS. Já na solução indicada parasolas de sapatos, como o volume é dobrado,terá, no mínimo, 1000 mg CRL/L.
ReferênciasANDRADE, N.J.; MACEEDO, J.A.B. 1996. Higienização na
Indústria de Alimentos. São Paulo: Livraria Varela Ltda.
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MACEDO, J.A.B. 2009. Desinfecção & Esterilização Química. Belo Horizonte: CRQ-MG.
__________. 2016. Águas & Águas. 4a. Edição. Belo Horizonte: CRQ-MG.
__________. 2019. Piscina – água & tratamento & química. 2a. Edição. Belo Horizonte: CRQ-MG.
MELLO, C.A. 1997. Avaliação da eficiência de sanificantes químicos em condições de uso simulado sobre psicrotróficos acidificantes. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)- Universidade Federal de Viçosa.
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