23
Brihadaranyaka Upanishad (fragmento) tradução e apresentação por Pedro Kupfer http://www.yoga.pro.br/artigos.php? cod=696&secao=3019 Conduza-me da confusão para a Realidade. Conduza-me das Trevas para a Luz. Conduza-me da Morte para a Imortalidade! Apresentamos ao amigo leitor um pequeno extrato da Brihadaranyaka Upanishad, uma das mais antigas obras filosóficas da Humanidade, que faz parte do texto Shatapatha Brahmana (शशशश शशशशशशशश), o “Brahmana dos Cem Caminhos”, que narra, entre outras coisas, o Dilúvio. O Shatapatha Brahmana faz parte do Shukla Yajur Veda, o Yajur Veda Branco. O título deste texto, que pode soar bastante complicado, poderia ser traduzido mais ou menos livremente como “A Grande Floresta do Conhecimento”. Esta Upanishad nos narra um duelo entre o yogi Yajñavalkya e uma assembléia de sábios, convocada pelo rei Janaka, de Videha. Este rei, pai da princesa Sita, heroína do épico Ramayana, é tido na Índia antiga como o paradigma da magnanimidade. Diferentemente do “pão e circo” dos antigos romanos, os duelos dentro do hinduísmo eram intelectuais e estimulavam a liberdade, o auto-conhecimento e a reflexão, ao invés de funcionar como escapismo barato. Afora o diálogo entre o sábio Yajñavalkya e os brâhmanes, contém outro diálogo muito interessante dele com sua esposa, Maitreyi, quando ele está prestes a partir para a floresta, a fim de se dedicar ao auto- conhecimento (brahmavidya).

Brihadaranyaka Upanishad

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Brihadaranyaka Upanishad em português

Citation preview

Brihadaranyaka Upanishad (fragmento)

Brihadaranyaka Upanishad (fragmento)

traduo e apresentao por Pedro Kupfer

INCLUDEPICTURE "http://www.yoga.pro.br/images/detalhe_02.gif" \* MERGEFORMATINET

http://www.yoga.pro.br/artigos.php?cod=696&secao=3019

Conduza-me da confuso para a Realidade.Conduza-me das Trevas para a Luz.Conduza-me da Morte para a Imortalidade!Apresentamos ao amigo leitor um pequeno extrato da Brihadaranyaka Upanishad, uma das mais antigas obras filosficas da Humanidade, que faz parte do texto Shatapatha Brahmana ( ), o Brahmana dos Cem Caminhos, que narra, entre outras coisas, o Dilvio. O Shatapatha Brahmana faz parte do Shukla Yajur Veda, o Yajur Veda Branco. O ttulo deste texto, que pode soar bastante complicado, poderia ser traduzido mais ou menos livremente como A Grande Floresta do Conhecimento.Esta Upanishad nos narra um duelo entre o yogi Yajavalkya e uma assemblia de sbios, convocada pelo rei Janaka, de Videha. Este rei, pai da princesa Sita, herona do pico Ramayana, tido na ndia antiga como o paradigma da magnanimidade. Diferentemente do po e circo dos antigos romanos, os duelos dentro do hindusmo eram intelectuais e estimulavam a liberdade, o auto-conhecimento e a reflexo, ao invs de funcionar como escapismo barato.Afora o dilogo entre o sbio Yajavalkya e os brhmanes, contm outro dilogo muito interessante dele com sua esposa, Maitreyi, quando ele est prestes a partir para a floresta, a fim de se dedicar ao auto-conhecimento (brahmavidya).

"Janaka, rei de Videha, estava preparando um grande ritual do fogo. Eram abundantes as oferendas que seriam dadas aos sacerdotes. Todos os brhmanes de Kurupachala tinham se reunido nessa assemblia.

O rei, sentindo uma grande curiosidade por descobrir qual desses sbios era o mais versado em seu conhecimento dos textos sagrados, reuniu mil vacas e decorou seus chifres com dez ps de ouro.

Depois, o rei dirigiu-se aos sbios dizendo assim:

- "Venerveis brhmanes, aquele que dentre vocs seja o maior conhecedor de Brahman, poder levar estas vacas!"

Nenhum dos brhmanes se atreveu a mexer. Ento, Yajavalkya disse ao seu discpulo:

- "Meu querido Samasravas, leve embora este gado!" E ele assim o fez.

Os outros brhmanes sentiram-se muito envergonhados, e questionavam-se entre si: "Como que ele, dentre todos ns, atreve-se afirmar que possui o melhor conhecimento de Brahman?"

Naquele momento, Ashvala, que era o sacerdote oficiante de Janaka, disse a Yajavalkya:

- "Como pode ser que, de todos ns, voc tenha o mais perfeito conhecimento de Brahman? Permita-nos pois, prestar reverncias quele que melhor conhece Brahman. No entanto, ns tambm gostariamos de ficar com essas vacas".

E Asvala interrogou-o longamente [...]

Depois muitos dos brhmanes fizeram as suas perguntas: - "Yajavalkya", disse Jaratkarava Arthabhaga, "como todas as coisas so o alimento da morte, em qual dos fenmenos naturais a morte o alimento?"

"O fogo a morte e o alimento da gua. Aquele que sabe isto vence a morte repetidas vezes".

- "Yajavalkya, quando o homem morre, seus alentos vitais, permanecem ou no no corpo?"

- "No, disse Yajavalkya. "Eles so reunidos aqui, neste corpo, e eles o preenchem e enrijecem. Uma vez assim preenchido, o corpo mantm-se morto".

- "Yajavalkya, quando um homem morre, o que no o abandona?"

- "O nome, porque o nome ilimitado, e ilimitados so Todos-os-deuses, e ilimitado o estado que ele alcana por este caminho".

- "Yajavalkya, quando um homem morre, e sua voz entra no fogo, seu alento vital no vento, sua viso no sol, seu buddhi na lua, sua audio nos pontos cardeais, seu corpo na terra, seu ego no espao, seus plos nas plantas, seus cabelos nas rvores, e seu sangue e smen descansam nas guas, onde, pois, se encontra aquele homem?" - "Arthabhaga, meu amigo, tome minha mo", disse Yajavalkya. "Iremos s ns dois conversar sobre isto, porque no assunto para se falar em pblico".

Eles conversaram sobre o karma. Eles enalteceram o karma. Atravs de boas obras um homem se torna bom. Atravs das equivocadas, ele se torna mau. Ento, Jaratkarava Arthabhaga permeneceu em paz.

Depois foi a vez da Ushasta Chakrayana interrogar o sbio.

- "Yajavalkya, explique-me quele Brahman que evidente e claro, o Ser que permeia todas as coisas".

- "o Ser que permeia todas as coisas o que voc ".

- "Mas quem esse que permeia todas as coisas, Yajavalkya?"

- "Aquele que inspira com a inspirao o Ser que est em ti e permeia todas as coisas; aquele que respira juntamente com a sua "respirao difusa" o Ser que est em voc e permeia todas as coisas. O que respira juntamente com a sua "respirao superior" o Ser que est com voc e permeia todas as coisas: Ele o ser que est em voc e permeia todas as coisas".

Ushasta Chakrayana disse:

- "O seu modo de ensinar exatamente igual ao do homem que diz: Aquela uma vaca, e este um cavalo. Explique-me sobre aquele Brahman que realmente evidente e claro, o Ser que permeia todas as coisas".

- "o Ser que permeia todas as coisas o que voc ".

- "Mas, Yajavalkya, qual o ser que permeia todas as coisas?

- "Como voc poderia ver quele que v a viso? Como voc poderia ouvir o ouvinte da audio? Como poderia pensar no pensador do pensamento? Como poderia entender o entendedor do entendimento? Este Ser que permeia todas as coisas est em voc. Aqueles que no forem conscientes do Ser, vivem sofrendo".

Ento, Ushasta Chakrayana calou-se.Sobre o desapego.

Ergueu-se ento Kahola Kaushitakeya e disse:

- "Yajavalkya, explica-me sobre o Brahman que evidente e claro, o Ser que permeia todas as coisas".

- "o Ser que permeia todas as coisas o que voc ".

- "Mas Yajavalkya, qual o Ser que permeia todas as coisas?"

- "Aquele que transcende a fome e a sede, o sofrimento, a ignorncia e a morte. Quando os sbios chegam ao conhecimento deste Ser, erguem-se acima dos seus desejos de terem filhos, dos seus desejos de possuir riquezas, dos seus sonhos de grandeza, e vagueiam, levando uma vida de mendicantes. No existe nenhuma diferena entre o desejo de ter filhos, e o de ter riquezas, assim como no existe nenhuma diferena entre o desejo de possuir riquezas e os sonhos de grandeza: todos eles no passam de desejos.

Que o sbio se afaste dos estudos com desapego e viva como uma criana. Que ele se afaste com desapego, tanto dos estudos e do viver como uma criana, e que se torne um sbio silencioso. Que ele se afaste com desapego; do silncio e do seu oposto, e que se torne um verdadeiro sbio".

- "E o que o faz, realmente, um sbio?"

- "Tudo quanto, realmente, o conduz para isso. Aqueles que no forem conscientes do Ser, sofrem [sem cessar]".

Ento Kahola Kaushitakeya calou-se.

A seguir, Uddalaka Aruni disse:

- "Yajavalkya, ns vivamos no povo dos Madras, em casa de Patajala Kapya, enquanto estudvamos o ritual do fogo sagrado. Sua esposa era possuda por um esprito, e ns perguntamos-lhe quem ele era. Ele respondeu-nos ser Kabandha Atharvana e, dirigindo-se a Patajala Kapya e seus estudantes, disse: "Kapya, voc conhece o fio que une e mantm unidos este mundo, o outro mundo, e todos os seres?".

"Patajala Kapya respondeu:

"No senhor, no conheo".

"Dirigindo-se novamente a Patajala Kapya e aos estudantes do ritual do fogo, ele disse:

"Kapya, voc conhece a Harmonia Intrnseca que rege a ordem neste mundo e no outro, e em todos os seres, internamente?" "Patajala Kapya respondeu:

"No senhor, no o conheo".

Falando outra vez a Patajala e seus estudantes, [o esprito] disse:

"Kapya, aquele que conhece o fio e a Harmonia Intrnseca, conhecer tambm Brahman, todos os mundos, os deuses, os Vedas, todos os seres, o Ser, - Tudo!" Foi assim que ele falou. "Agora, eu conheo tudo isso. Se voc; Yajavalkya, tiver conduzido o gado sem ter conhecimento do fio e da Harmonia Intrnseca, sua cabea ser decepada".

- "Com toda certeza, conheo o fio e a Harmonia Intrnseca".

- "Qualquer um pode dizer, "eu sei, eu sei", respondeu ele. Exponha seu conhecimento".

Prana e Conscincia.- "O prana, Gautama, o fio", disse Yajavalkya. "Atravs desse fio que o prana, este mundo, o outro mundo e todos os seres, permanecem unidos. por isso que se diz, Gautama, que os membros de um cadver se desagregam,j que foram arranjados e receberam coeso pelo prana, Gautama!".

- "Muito correto, Yajavalkya: fale-nos agora sobre a Harmonia Intrnseca".

OSer e a Natureza.- "Aquele que estando nesta terra diferente da terra, e a quem a terra no conhece, cujo corpo a terra, que harmoniza a terra interiormente - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na gua diferente da gua, a quem a gua no conhece, cujo corpo a gua, que harmoniza a gua interiormente, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando no fogo diferente do fogo, a quem o fogo no conhece, cujo corpo o fogo, que harmoniza o fogo interiormente, aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na atmosfera diferente da atmosfera, a quem a atmosfera no conhece, cujo corpo a atmosfera, que harmoniza a atmosfera interiormente, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando no vento diferente do vento, a quem o vento no conhece, cujo corpo o vento, que harmoniza o vento interiormente, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando no cu diferente do cu, a quem o cu no conhece, cujo corpo o cu, que harmoniza o cu interiormente, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando no sol diferente do sol, a quem o sol no conhece, cujo corpo o sol, que harmoniza o sol interiormente - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando nas direes da terra diferente das direes da terra, a quem os pontos cardeais no conhecem, cujo corpo feito de pontos cardeais, que harmoniza intimamente os pontos cardeais, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na lua e estrelas diferente da lua e das estrelas, a quem a lua e as estrelas no conhecem, cujo corpo feito da lua e das estrelas, que harmoniza a lua e as estrelas interiormente - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando no espao diferente do espao, e quem o espao no conhece, cujo corpo feito do espao, que harmoniza interiormente o espao - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na escurido diferente da escurido, a quem a escurido no conhece, cujo corpo a escurido, que harmoniza interiormente a escurido - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na luz diferente da luz, a quem a luz no conhece, cujo corpo a luz, que harmoniza interiormente a luz - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

Sobre todos os seres."Falei em relao s foras da natureza; agora, irei versar sobre todos os seres:

"Aquele que estando em todos os seres diferente de todos os seres, a quem por sua vez os seres no conhecem, cujo corpo o corpo de todos os seres, que harmoniza interiormente todos os seres, aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

Sobre o corpomente."Isto foi em relao aos seres. Agora, em relao ao prprio corpomente!

"Aquele que estando no alento vital diferente do alento vital, a quem o alento vital no conhece, cujo corpo o alento vital, que harmoniza interiormente o alento vital, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na fala diferente da fala, a quem a fala no conhece, cujo corpo a fala, que harmoniza interiormente a voz - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na viso diferente da viso, a quem a viso no conhece, cujo corpo a viso, que harmoniza a viso interiormente - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na audio diferente da audio, a quem a audio no conhece, cujo corpo a audio, que harmoniza a audio interiormente - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na inteligncia diferente da inteligncia, a quem a inteligncia no conhece, cujo corpo o intelecto, que harmoniza interiormente a inteligncia, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na pele diferente da pele, a quem a pele no conhece, cujo corpo a pele, que harmoniza interiormente a pele, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Aquele que estando na compreenso diferente da compreenso, a quem a compreenso no conhece, cujo corpo a compreenso, que harmoniza a compreenso interiormente, - aquele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal".

"Ele o observador no observado, aquele que ouve sem ser ouvido, aquele que pensa sem ser pensado, aquele que compreende sem ser compreendido. Nenhum outro observador chega onde ele est, nem outro ouvinte, nem outro pensador, nem outro entendedor consegue ser melhor que ele: Ele o Ser que voc , a Harmonia Intrnseca, o Imortal. Todos aqueles que vm a si mesmos como sendo diferentes dele, sofrem.

Uddalaka Aruni calou-se.

Ento Gargi Vachaknavi disse:

"Venerveis brhmanes, ouam. Farei duas perguntas a Yajavalkya. Se ele as responder, nenhum de ns ser capaz de derrot-lo na discusso sobre a natureza de Brahman".

- "Faa suas perguntas, Gargi", disse Yajavalkya.

Ela disse:

- "Yajavalkya, tal como um jovem heri da famlia dos Kashyas ou Videhas que, tendo peparado o seu arco, segura duas flechas mortferas em sua mo e avana contra seus inimigos, assim avano eu em direo a voc com minhas duas perguntas".

OSer e a Criao.- "Faa as perguntas, Gargi", repetiu ele.

E ela disse:

- "Yajavalkya, aquilo que est por cima do cu e por baixo da terra, aquilo que est entre o cu e a terra, - aquilo sobre quem os homens falam como sendo passado, presente e futuro: em que aquilo tecido, tramado e urdido?"

Ele respondeu:

- "Gargi, aquilo que est por cima do cu e por baixo da terra, aquilo que est entre o cu e a terra, - aquilo sobre o qual os homens falam como sendo passado, presente e futuro: aquilo tecido, tramado e urdido no espao"

Ela disse:

- "Todas as honras lhe so devidas, Yajavalkya, por ter decifrado essa pergunta. Prepare-se para a outra".

"Pergunte-me, Gargi" - disse Yajavalkya.

Ela disse:

"Yajavalkya, o que aquilo que est por cima do cu e por baixo da terra, aquilo que est entre o cu e a terra, - aquilo de que os homens definem como sendo passado, presente e futuro, em que isso tecido, fiado e urdido?"

Ele disse:

"Gargi, aquilo que est por cima do cu, por baixo da terra, entre o firmamento e a terra, - aquilo do qual os homens falam como sendo passado, presente e futuro: Aquilo tecido, fiado e urdido no espao".

- " Em que , ento, tecido o espao?"

- Ele disse:

"Gargi, aquilo o que os sbios chamam o Imperecvel!

"Aquilo no denso nem sutil; grande nem pequeno; no incandescente como o fogo nem fluido como a gua. Aquilo no faz sombra, nem escurido. Aquilo no vento nem espao. Aquilo no est ligado a nada. Aquilo no o paladar nem o olfato; Aquilo no a viso nem a audio; Aquilo no a palavra nem buddhi; Aquilo no a luz nem vida; Aquilo no tem face nem medida; Aquilo no tem dentro nem fora. Aquilo a nada devora e por nada pode ser devorado.

A Harmonia nas Leis da Criao." graas a esse Imperecvel, Gargi, que o sol e a lua mantm-se afastados, e assim continuam. graas a esse Imperecvel, Gargi, que o cu e a terra mantm-se afastados, e assim continuam. graas a esse Imperecvel, Gargi, que segundos e minutos, dias e noites, quinzenas, meses, estaes e anos se sucedem, e assim continuam. graas a esse Imperecvel que alguns rios, Gargi, correm das montanhas imponentes para o Leste, e outros para o Oeste, cada qual seguindo seu curso pr-estabelecido. graas a esse Imperecvel, Gargi, que as gentes elogiam os magnnimos. graas a esse Imperecvel que os deuses dependem do pujari e os ancestrais dependem dos rituais oferecidos por seus descendentes.

"Todas as oblaes que um homem possa oferecer neste mundo, Gargi, todos os rituais purificatrios que ele possa praticar, todas as asceses que ele possa impor a si mesmo, ainda que tudo isso se mantenha por milhares de anos, tudo ter um fim, a no ser que ele conhea esse Imperecvel!

"Gargi, lamentemo-nos por todos aqueles que abandonam este mundo sem atingir o conhecimento do Imperecvel! Porm, Gargi, aquele que parte deste mundo conhecendo o Imperecvel, em verdade um sbio, pois ele conhecedor de Brahman.

"Gargi, esse mesmo Imperecvel observador no observado, o ouvinte que no ouvido, o pensador que no pensado, o compreendedor que no compreendido. No existe outro observador seno Ele. No existe outro ouvinte seno Ele. No existe outro pensador seno Ele. No existe outro compreendedor seno Ele. nesse Imperecvel, Gargi, que o espao tecido".

Ento, Gargi disse: "Venerveis brhmanes, devem considerar-se muito afortunados se conseguirem livrar-se deste homem apenas prestando-lhe homenagens, porque nenhum de vocs ser capaz de derrot-lo numa discusso sobre Brahman". E ela, Gargi Vachaknavi, calou, ficando em paz.

Yajavalkya disse ento:

- "Venerveis brhmanes, que algum de vocs, se assim desejar, me interrogue, ou ento todos vocs podem questionar-me; ou ainda, eu interrogarei algum de vocs, ou poderei interrogar todos vocs juntos".

Porm, nenhum dos brhmanes atreveu-se a interrog-lo. Ento, ele os questionou atravs deste poema:

- "Tal como majestosa a rvore, suprema na floresta, da mesma forma , em verdade, o Homem. Seus cabelos so como as folhagens. Sua pele, a casca externa. Sob sua pele corre o sangue, assim como corre a seiva sob a casca da rvore. Quando ferido, a seiva escorre do seu corpo, como da planta cortada. Sua carne a casca interna. Seus membros rgidos, como a madeira do tronco. Seus ossos so o cerne. Assim como da raiz da rvore derrubada cresce uma nova, como, e de que raiz, ir crescer o homem mortal, quando este derrubado pelo Rei da Morte? "No respondam, "do smen", porque ele nasce de algum que est vivo. A rvore que cresce da semente, aps secar, rebrota outra vez. Arranquem, porm, a rvore pela raz e ela no tornar a crescer. Da mesma forma, quando a Morte arranca o Homem mortal pelas razes, de que raiz ir ele crescer? Tendo nascido, ele no volta a nascer. Quem que iria ger-lo outra vez? Brahman o entendimento, o contentamento. Ele prprio a ddiva, o sankalpa do ofertante, a meta de quem, pacientemente, espera para conhec-lo".Dilogo entre Yajavalkya e Maitreyi"Maitreyi, minha querida," disse Yajavalkya, "Vou renunciar a esta vida. Permita-me fazer uma partilha final (dos meus bens) entre voc e Katyayani."Ento, Maitreyi disse: "Venervel senhor, se de fato, a terra inteira, com todos seus tesouros me pertencesse, alcanaria eu a imortalidade atravs desses bens?" "No," respondeu Yajavalkya, "sua vida seria apenas igual daqueles que tm riquezas. No entanto, no h a mnima chance da imortalidade ser obtida atravs da abundncia."Ento Maitreyi disse: "O que deveria eu fazer ento, com aquilo que no me torna imortal? Ensine-me, venervel senhor, sobre aquele que voc conhece como o nico meio de se alcanar a imortalidade."Yajavalkya respondeu: "Minha querida, voc j era minha amada antes, e agora menciona o assunto que me mais caro. Venha e sente-se: irei lhe explicar. Enquanto lhe explico, medite sobre minhas palavras."Ento Yajavalkya disse: "Em verdade, no pelo amor ao esposo, minha querida, que o esposo amado: ele amado pelo amor ao Ser que, em sua verdadeira natureza, uno com o Ser Ilimitado."Em verdade, no pelo amor esposa, minha querida, que a esposa amada: ela amada pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo amor aos filhos, minha querida, que os filhos so amados: eles so amados pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo amor riqueza, minha querida, que a riqueza buscada: ela buscada pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo amor aos educadores, minha querida, que o educadores so venerados: eles so venerados pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo respeito aos guerreiros, minha querida, que os guerreiros so respeitados: eles so amados pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo amor ao mundo, minha querida, que o mundo amado: ele amado pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo amor aos elementais da natureza, minha querida, que os os elementais da natureza so amados: eles so amados pelo amor ao Ser. "Em verdade, no pelo amor aos seres vivos, minha querida, que os seres vivos so amados: eles so amados pelo amor ao Ser."Em verdade, no pelo amor ao Todo, minha querida, que o Todo amado: ele amado pelo amor ao Ser.O Ser deve ser conhecido."Em verdade, minha querida Maitreyi, o Ser quem deve ser conhecido. Palavras sobre ele devem ser ouvidas. Reflexes e meditaes sobre essas palavras devem ser feitas. Pelo conhecimento do Ser, minha querida, atravs da audio, a reflexo e a meditao, tudo conhecido."O educador rejeita quele que enxerga a si mesmo como sendo diferente do Ser. O guerreiro rejeita quele que enxerga a si mesmo como sendo diferente do Ser. O mundo rejeita quele que enxerga a si mesmo como sendo diferente do Ser. Os deuses rejeitam quele que enxerga a si mesmo como sendo diferente do Ser. Os seres rejeitam quele que enxerga a si mesmo como sendo diferente do Ser. O Todo rejeita quele que enxerga a si mesmo como sendo diferente do Ser. O educador, o guerreiro, o mundo, os deuses, estes seres vivos, o Todo, so o Ser.Yajavalkya e Vidaghdha[A palavra Deus no existe em snscrito com o sentido que lhe damos no Ocidente. Claro que algum poder ver deuses nos mantras hindus. Pessoalmente, prefiro ver os devas, os "deuses" hindus, como elementais da natureza, formas de energia ou representaes simblicas intuitivas das camadas da existncia que transcendem a mente. A Brihadranyaka Upanishad (III:9) deixa isso bem claro neste dilogo:]

"Ento Vidagdha Shkalya perguntou: - Quantos deuses existem, Yajavalkya?

O sbio respondeu de acordo com o seguinte nivid (frmula invocatria):

- Tantos como so mencionados no nivid do hino a todos os deuses, ou seja, 303 mais 3003 ( = 3306).

- Sim - disse Shkalya - mas quantos deuses existem mesmo, Yajavalkya?

- Trinta e trs.

- Sim - disse ele - mas quantos deuses h mesmo, Yajavalkya?

- Trs.

- Sim - disse ele - mas quantos deuses existem mesmo, Yajavalkya?

- Dois.

- Sim - disse ele - mas quantos deuses h, Yajavalkya?

- Um e meio.

- Sim - disse ele - mas quantos deuses existem, Yajavalkya?

- Um.

- Sim - disse ele - mas quais so os 303 e os 3003 deuses?

Yajavalkya disse: - Esses so apenas seus poderes (mahima). Eles so somente trinta e trs.

- E quais so esses trinta e trs?

- Oito Vasus, onze Rudras e doze dityas fazem trinta e um. Com Indra e Prajapati so trinta e trs.

- Quais so os Vasus?

- O fogo, a terra, o vento, o sol, o cu, a lua e as estrelas. Estes so os Vasus pois configuram este excelente (vasu) mundo. Por isso so chamados Vasus.

- Quais so os Rudras?

- Os dez ares vitais do indivduo, mais a conscincia, que o dcimo primeiro. Quando eles partem deste corpo mortal, nos fazem chorar (rudra = chorar, gritar). Por isso que eles so chamados Rudras.

- Quais so as dityas?

- Elas so as doze luas do ano. Elas so as dityas, porque carregam o mundo inteiro ao longo do tempo. Como elas andam (yanti) carregando (d) o mundo, so chamadas dityas.

- Qual Indra? Qual Prajapati?

- O trovo Indra. O sacrifcio Prajapati.

- Qual o trovo?

- O raio.

- Qual o sacrifcio?

- Os animais sacrificais.

- Quais so os seis deuses?

- O fogo, a terra, o vento, a atmosfera, o sol e o cu. Eles so seis pois o mundo inteiro esses seis.

- Quais so os trs deuses?

- Os trs mundos (bhr, bhuva, svh), pois neles que todos estes deuses existem.

- Quais so os dois deuses?

- O alimento e a respirao.

- Qual o um e meio?

- Aquele que purifica (o vento).

- Mas aquele que purifica somente um. Como pode ele ser um e meio?

- Porque nele o mundo inteiro prosperou (adhyardhnot). Ento, ele um e meio (adhyardha).

- Qual o deus nico?

- A respirao. Ela chamada Brahman, o Ilimitado."O Dilogo entre Driptabalaki e o rei Ajatasatru.

"Driptabalaki, do cl dos Gargyas, era um homem de vastos conhecimentos. Um dia, ele foi ao encontro de Ajatasatru, rei de Varanasi, e lhe disse:

- "Posso lhe instruir sobre o Ser?"

Ajatasatru respondeu: "Lhe darei mil presentes se conseguir, e ento o povo espalhar esta notcia: 'O nosso rei to generoso como o rei Janaka'".

Ento, Gargya iniciou seu discurso:

- "No Sol, l no firmamento, existe um esprito. Reconheo esse esprito como o Ser".

- "No me fale dele desta maneira", respondeu-lhe Ajatasatru. "Considero o Sol apenas como o regente da radiao e o rei de todos os seres da terra. Aquele que o reconhece deste modo torna-se Senhor, Comandante e Rei de todos os seres".

Ento Gargya disse: "H um esprito na longnqua Lua. Reconheo esse esprito como o Ser".

Ajatasatru respondeu-lhe: "No me fale dele assim. Apenas considero a Lua como o grande rei Soma, envolto em vestes brancas. Aquele que assim o reconhece recebe diariamente o nctar do soma e nunca lhe faltar comida".

- "Existe um esprito no relmpago". disse Gargya, "Reconheo esse esprito como o Ser".

- "No me fale dele dessa maneira", disse o rei. "Considero o relmpago apenas como uma coisa resplendecente. Aquele que o reconhece assim torna-se resplendecente, e resplendecente ser sua descendncia".

Ento, Gargya disse: "Existe um esprito no espao. Reconheo esse esprito como o Ser".

- "Como pode dizer isso?", replicou o rei. "Considero o espao apenas como a plenitude que no se abrange. Aquele que o reconhece assim enche-se de plenitude, de filhos e riqueza, e seus descendentes no desaparecem deste mundo.

Ento Gargya disse: "H um esprito no vento. Reconheo esse esprito como o Ser".

Ajatsatru respondeu:

- "No me fale assim. Reconheo o vento apenas como o invencvel Indra,.um exrcito inconquistvel. Aquele que o reconhece assim torna-se um conquistador invencvel que conquista todos os demais".

Ento Gargya disse:

- "H um esprito no fogo. Reconheo esse esprito como o Ser"

Ajatasatru respondeu:

- "No me fale dele assim. Reconheo o fogo como uma poderosa fora elemental. Aquele que o reconhece assim torna-se todo-poderoso, e poderosa se torna a sua linhagem".

Ento Gargya disse:

- "Existe um esprito nas guas. Reconheo esse esprito como sendo o Ser".

Ajatasatru respondeu:

- "Como pode dizer isso? Reconheo esse esprito como uma reflexo maravilhosa. Aquele que o reconhece assim honrado por tudo aquilo que reflete sua prpria natureza, assim como seus descendentes".

Ento Gargya disse:

- "Existe um esprito no espelho. Reconheo-o como o Ser".

O rei respondeu-lhe:

- "Ento, fale-me dele assim, pois reconheo esse esprito como efulgente. E aquele que assim o reconhece torna-se efulgente, como efulgente ser sua descendncia. Ainda, comparado aos demais, supera-os em seu resplendor".

Ento Gargya disse:

- "H um esprito no rudo do andar do homem. Reconheo esse esprito como sendo o Ser".

Ajatasatru respondeu-lhe:

- "No me fale dele assim, porque o reconheo como a vida. E aquele que assim o reconhece, torna-se a fora da vida, e, nas aes do cotidiano, essa fora vital no o abandona antes de tempo".

Ento, Gargya disse:

- "Existe um esprito nas direes da terra. Reconheo esse esprito como o Ser".Ajatasatru respondeu-lhe:

- "No me fale dele assim, porque o reconheo como o Segundo [manifestado], inseparvel da Unidade [no manifestada]. Aquele que o reconhece desta maneira, adquire esse Segundo e no afastado pela pluralidade".

Ento Gargya disse:- "H um esprito na sombra. Reconheo esse esprito como o Ser".

Ajatasatru respondeu:

- "No me fale dele assim, porque o conheo como um reflexo da morte. Aquele que assim o conhece, torna-se poderoso neste mundo, e a morte no ceifa sua vida antes de seu tempo chegar".

Gargya disse:

- "Existe um esprito no corpo humano. Reconheo esse esprito como o Ser".

Ajatasatru respondeu:

"No me fale dele assim, porque o reconheo como o possuidor de uma entidade. Aquele que assim o reconhece, vem a possuir essa entidade, como tambm sua descendncia". Gargya manteve-se silencioso. Ento o Rei perguntou-lhe: - " tudo?"

- " tudo!" respondeu Gargya. Disse o Rei:

- "Se isso tudo, ento, nada sabemos!" Gargya dirigiu-se ao Rei:

- "Voc consente em que me torne seu discpulo?", perguntou Ajatasatru.

- " contra os costumes um brhmane aproximar-se de um guerreiro e pedir-lhe que discurse sobre o Ser. No obstante, te instruirei com toda clareza".

O Ser est no sono.Pegando Gargya pela mo, o Rei levantou-se e comearam ambos a caminhar. Ao chegar do lado de um homem adormecido, chamaram-no usando vrios nomes:

- " Grande Rei Soma, usando em vestes brancas!" Porm, o homem adormecido no acordou. Ento, o Rei sacudiu-o com suas mos e acordou-o. O homem ergeu-se. E Ajatasatru disse:

- "Quando este homem estava adormecido, onde se encontrava o Ser, do qual consiste a conscincia? E desde onde que ele retornou?"

Gargya no sabia responder.

O rei Ajatastru disse:

- "Enquanto este homem dormia, o Ser que configure a conscincia apossou-se da precepo dos sentidos e recolheu-se no corao. Quando isto sucede, se diz que o homem dorme. Ento a respirao, a palavra, a viso, a audio e o pensamento so cativos desse Ser [respondem a ele].

"Tambm lhe pertence o mundo dos sonhos, quando o homem sonha. Ento ele acredita que se tornou um grande rei ou um grande sbio, e vive [no sonho] em condies confortveis ou desconfortveis. Como um grande rei, levar consigo o seu povo e, atravessar os seus domnios, por onde desejar. Do mesmo modo esse Ser apodera-se das faculdades da vida desse homem, e vagueia merc de seus desejos.

"Quando o homem est no sono profundo e nada percebe, esse Ser vai desde o corao at o alto da cabea, atravs dos setenta e dois mil canais chamados hitah, que ligam o centro do corao ao do alto da cabea. Tal como um jovem, um grande rei, ou um grande sbio podem descansar, depois de ter atingido seu znite, assim, acontece com o Ser.

"Assim como os fios sutis derivam da aranha, assim como a centelha deriva do fogo, derivam do Grande Ser todas as vidas, todos os mundos, todos os deuses, todos os seres em todas as direes. Pela compreenso dos mistrios do Universo, [a viso] das Upanishads nos auxilia a atingir a Realidade da Realidade. Os ares vitais so uma realidade, e Ele a realidade [desses ares vitais]. "

Artigos relacionados:

Visualizar todos os artigos deste autor