Brincando de Dobrar Papel Entre Cantigas e Contos

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  • 8/7/2019 Brincando de Dobrar Papel Entre Cantigas e Contos

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    Brincando de Dobrar Papelentre Cantigas e Contos

    Hosan Dantas

    universo infantil est pontilhado de referncias ldicas. E no podiaser diferente: atravs de sua vivncia nos jogos de representao, aque costumeiramente chamamos apenas debrincadeira , que a criana

    experimenta situaes, conflitos e superao de desafios, que vo proporcionar, alm doprprio prazer de brincar, o seu pleno desenvolvimento.

    nesse ponto que se apiam as reflexes que relacionam o ldico s operaes

    pedaggicas: os sistemas em Educao podem (e devem!) ser analisados a partir dopressuposto do estabelecimento de variveis que promovam exatamente odesenvolvimento do ser humano.

    E com base nessa relao que a ludicidade, j h algum tempo, deixou deapenas circunscrever seu permetro de estudo, unicamente, aos aspectos do jogo e dobrincar. As leituras dos referenciais ldicos tm sido acompanhadas, via de regra, deimplicaes educacionais. no encaminhamento das reflexes acerca do brincar comovarivel pedaggica que os educadores, preocupados com dinmicas mais significativas,

    vo buscar novos olhares sobre sua prtica.Vale refletir, aproveitando a ocasio de comemorao ao Folclore, sobre uma

    outra relao: a que conceitua o brincar uma das tradies populares e imemoriais. Araiz de estudo do Folclore respalda-se exatamente na anlise das manifestaesintegrativas da cultura de um povo e lugar. Sendo a brincadeira uma dessasmanifestaes, temos aqui, tambm, um referencial folclrico.

    Ressalte-se que brincar uma prerrogativa de todos os animais, no apenasrestringindo-se ao ser humano. A brincadeira humana, como aspecto folclrico a partir

    dos estudos dos usos e costumes de um povo ou de um lugar, teria sua origem, decerto,nas relaes familiares pr-histricas. possvel supor, por exemplo, que a crianadaqueles tempos apresentasse uma motivao de imitar os pais nos seus afazeresbsicos, e que, a partir desse processo de imitao definisse estratgias para o seucrescimento, aprendendo (e apreendendo) mecanismos que o subsidiassem para o

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    desenvolvimento daquelas tarefas. o que caracteriza a cultura popular: o aprendizadoobedece a um sistema de tradies e costumes.

    Nesse sentido, interessante pensar como a cultura popular, atravs de suas maisdiversas referncias, pode mostrar Educao, ou a outras cincias, que a predisposio

    aprendizagem torna-se mais destacada quanto mais significativo for o objeto deestudo.

    Aos educadores que trabalham com as crianas pequenas, de 0 a 6 anos, valeretomar, para consolidar essa relao com a cultura popular, a mxima que caracteriza obrincar como atividade em que se pressupe uma relao propcia ao processo dedesenvolvimento integral: scio-afetivo-intelecto-emocional.

    Na prtica, preciso estarmos atentos s possibilidades de redimensionamentodas estratgias e dos materiais que temos mo para o planejamento de atividades que

    venham contribuir, efetivamente, com essa operacionalizao.Sob essa tica,Brincando de Dobrar Papel entre Cantigas e Contos uma

    atividade, mas bem poderia ser pensada como um sistema: a partir da escolha de uminstrumento prtico pertinente a brincadeiras (no caso, o papel e as possibilidades de suatransformao pelo processo de dobr-lo), desenvolvem-se vertentes de descobertase/ou retomadas das cantigas infantis e das narrativas orais.

    Para ilustrar as possibilidades dessa atividade, pensemos em um modelo simplesde dobradura, que todos devem conhecer a casa. uma figura bastante clssica (veja

    ilustrao). Pode-se partir de um estmulo qualquer para motivar o grupo a fazer adobradura, ressaltando-se o respeito s potencialidades individuais. Com o modelopronto, comeam as brincadeiras.

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    Lembrando que j existe uma cano muito popular (Era uma casa muitoengraada...), o educador pode conduzir a brincadeira inicial justamente para reforar oque h de engraado nessa casa no tem cho, no tem janela etc. -, com a inteno detornar vivos os versos da msica. Se a cano no surgir espontaneamente, nada impede

    de apresent-la ao grupo, ensinando-lhe o que diz a letra.Particularmente, eu gosto de fazer surgir do final da msica uma histria como

    se uma brincadeira puxasse outra. Nesse caso, tambm valorao pessoal, prefiro ahistria do livroA Casa Sonolenta , j que o seu enredo permite um dinamismo queagrada muito o pblico infantil. Finda a histria, a brincadeira toma outros rumos,permitindo algumas escolhas: recontar a histria, inventar outra histria com o tema dacasa ou explorar as possibilidades intrnsecas na dobradura da casa: enfeit-la, us-lacomo aplicativo de colagens etc.

    Assim como a casa, outras figuras de simples execuo podem ser descobertasna prtica da dobradura. E o encaminhamento at pode ser o mesmo descrito aqui;dobradura cantiga histria explorao aps os contos. Evidentemente, o educadorque pretender refletir essa prtica vai desenvolver o seu prprio mtodo de trabalho,valorizando este ou aquele momento, conforme especificidades de sua turma ou dascaractersticas de seu espao educativo.

    O que deve ser ressaltado a utilizao de ferramentas, marcadamente ldicas,para a compreenso do processo pedaggico. A linguagem da brincadeira, algumas

    vezes pejorativamente identificada com a ausncia de seriedade, mostra-se, aqui, umavarivel incomensurvel de estabelecimento metodolgico colaborativo nodesenvolvimento da criana.

    De um lado, a arte de contar histrias permite-nos adentrar nas reflexes sobre aaplicabilidade dos contos no contexto educativo, ao oferecerem criana-ouvintevalores psicolgicos e afetivos, presentes nas estruturas das narrativas orais clssicas, jamplamente discutidos nos estudos cientficos a esse propsito. De outro, atividades deconstruo como as transformaes feitas em folhas de papel abrem-nos outroscampos de prospeco de estudos acerca dos princpios educativos que vo consolidarnossa prtica.

    A referncia maior, aqui, da ludicidade acompanhando esse processo de tomadade conscincia s aprofunda a importncia de compreender o brincar como manancialvaloroso de anlise do crescimento scio-afetivo das crianas envolvidas em atividadesque o tenham como estratgia.

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    A integrao entre a arte de contar histrias e as dobraduras de papel,fundamento desta explanao, prev um mecanismo bastante envolvente nos trabalhospositivos que se observam em Educao Infantil: a perfeita sintonia entre brinquedo (oinstrumento) e brincadeira (o que se faz com o instrumento), como facilitadores de

    variveis contributivas ao desenvolvimento das crianas. Caber ao educador, em nomedos ideais mais acertados da Educao, alm da constante anlise de suaspotencialidades, o estudo e a adoo de mtodos que corroborem essa sintonia.

    Publicado na revista Revista Criar Revista deEducao Infantil Ano 2, nmero 09, maio/junho/06, So

    Paulo: Editora Criarp ( www.revistacriar.com.br ), pp. 23-25.

    Hosan Dantas

    Contador de Histrias, Origamista

    e estudioso da Educao atravs do Ldico

    Contato: [email protected]