Bussola Carlo - Plotino Alma No Tempo

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PLOTINO A Alma No Tempo Carlo Bssola

Reitor da Universidade Federal do Esprito Santo Rmulo Augusto Penina Diretor da Fundao Ceciliano Abel de Almeida Agostinho Meron Diretor Adjunto Guilherme Rody Soares Conselho Editorial Aci Nigri do Carmo Carlo Bssola Elfried Orssich Slavetich Enyldo Carvalhinho James Valrio Rampazzo Luiz Gonzaga de Oliveira Joo Manoel Cardoso de Almeida Maria Nader Simes Maria Rosiani Dorieto de Menezes Maurcio Jos da Silva

Roberto Almada OlgaAlbert Editor: Enyldo Carvalhinho Filho Revisora: Mareia Ciarallo Pescuma

FUNDAO CECILIANO ABEL DE ALMEIDA -1990-

PLOTINO A alma no tempo

Carlo Bssola Doutor em Filosofia pela Universidade de Roma Professor de Filosofia da Universidade Federal do Esprito Santo Copyright 1989 by Carlo Bssola Todos os direitos reservados Proibida a reproduo no todo ou em parte deste livro, por qualquer meio, sem autorizao do autor l edio, 1990 Capa: Sagraf Informtica Ltda Projeto Grfico, Editorao Eletrnica e Fotolito: Sagraf Informtica Ltda Vitria - ES Tel.: (027) 223-1620 Impresso: Sagraf Artes Grficas Ltda Vitria - ES Tel.: (027) 223-1377 Catalogao na Fonte (Sagraf Informtica Ltda - Vitria - ES) Bssola, Carlo, 1925 Plotino: a alma no tempo / Carlo Bssola.___ FCAA : Vitria - ES, 1990. 1. Plotino - Ensaios Filosficos. 2. Filosofia. 3. Filosofia Esotria (Misticismo). I. Ttulo. CDU: 101 (042.3) 101 101.33 FUNDAO CECILIANO ABEL DE ALMEIDA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO Campus Universitrio Alaor de Queiroz Arajo Goiabeiras - 29.000 - Vitria

Os deuses devem vir a mim, no eu a eles Plotino (Enades) PREFCIO O objetivo de nosso trabalho apresentar o filsofo Plotino, situando-o em seu tempo, valendo-nos do legado da Histria. Num segundo momento, tentamos detectar o desenvolvimento, a rcinterpretao, a releitura, ou a revivncia do pensamento plotiniano nos dias atuais. Para tal, debruamo-ncs sobre as filosofias esotricas que perduraram at nossos dias, as quais, contrariando o realismo sobre o

materialismo, herana iristotlica, resgatam o mais puro idealismo espiritualista do neo-platnico Plotino. Dentre as filosofias esotricas que desenvolveram o pensamento plotiniano, e anda hoje, o seguem, a saber, os Templrios, os Martinistas, os Pitagricos, citas correntes gnsticas, as correntes espiritualistas da Maonaria e poucas nitras, destacamos a que, a nosso ver, mais tem em Plotino a fonte de sua filosofia: a Ordem Rosacruz. Esperamos que este livro auxilie os estudiosos de Filosofia, dada a lacuna ostente no campo editorial brasileiro acerca da bio-bibliografia de Plotino. O autor agradece ao Editor Enyldo Carvalhinho Filho e professora Mrcia Ciarallo Pescuma pela reviso de lngua portuguesa j que ele italiano naturalizado brasileiro. NDICE 1 - Introduo...................................................................................11 2 - As fontes para escrever este ensaio.........................................11 3 - Importncia de Plotino.............................................................12 4 - O ambiente histrico e cultural................................................13 4.1 - A situao politica...................................................................14 4.2 - Situao econmica.................................................................15 4.3 - Situao cultural.......................................................................16 4.4 - A organizao do Cristianismo nessa poca........................21 4.5 - Situao religiosa.....................................................................23 5 - Vida de Plotino...........................................................................25 6 - As obras de Plotino...................................................................29 7 - Introduo filosofia de Plotino............................................36 8 - O Uno; o Intelecto; a Alma; a ideia central da filosofia de Plotino.....................................................................37 9 - A influncia da filosofia de Plotino..........................................49 9.1 - Em Roma..................................................................................49 9.2 - No imprio romano do oriente.............................................51 9.3 - Os padres da igreja..................................................................54 9.4 - No ocidente..............................................................................54 10 - Ponto de contato entre a filosofia de Plotino e a filosofia da ordem Rosacruz (AMORC).......................................56 1. INTRODUO Neste sculo de materialismo imperante, quando a "iniciao matria" um programa estabelecido por muitos grupos sociais, e as mltiplas doutrinas materialistas se impem confundindo a mente das novas geraes, quando existem pessoas que propositadamente confundem os autnticos valores humanos para desvirtu-los, quando at instituies religiosas do mais valor ao mundo material e transitrio do que ao mundo permanente da Divindade, quando a filosofia sinnimo de alienao, nada melhor do que apresentar a vida e as ideias de um homem que viveu no perodo mais difcil do Imprio Romano, quando Roma era a

capital de todos os vcios e de todas as luxurias: Plotino, um homem que se imps ao respeito de todos, do mais abjeto dos romanos, at o Imperador; Plotino, um homem apaixonado pela Divindade, sem no entanto pertencer a nenhuma religio institucionalizada; um homem livre, porque liberto de qualquer condicionamento econmico e poltico; livre porque ningum conseguiu arrebanh-lo, j que vivia constantemente em busca da verdade um eterno discpulo na senda do conhecimento mstico. 2. AS FONTES PARA ESCREVER ESTE ENSAIO A principal fonte para escrever este ensaio foram as ENNEADES, traduo completa para a lngua francesa feita por E. Brhier e editada em Paris pela sociedade "Les Belles Lettres" em 7 volumes, de 1924 a 1938. F.M. Sciacca, em sua obra "La Filosofia nel suo sviluppo storico" (Roma, 1941), menciona-a como a melhor edio. A Enciclopdia Britnica no verbete "Plotino" diz que "The edition of E. Brhier though the text is poor, is valuable for its admirable notes and introductions to the several treatises". No posso criticar o comentrio da Enciclopdia Britnica, mas tendo estudado o grego por seis anos, como se fazia na minha poca, me parece que realmente a traduo de Brhier muito boa e fiel ao texto original. A Editora Laterza (Bari, Itlia) publicou em 4 volumes a traduo completa das Enades, por obra de V. Cilento (1947-1950), grande conhecedor do grego clssico. Digno de nota tambm o trabalho de C. Carbonaro: "La Filosofia di Plotino", em dois volumes, publicado em Roma pela Editora Perrella, em 1938-1940. Como complementao para um estudo do pensamento de Plotino so teis os seguintes livros: "La Sagesse de Plotin", de M. Condillac (Paris, 1952); "La Purification Plotinienne", de J. Tronillard (Paris, 1955); "Plotin, ou Ia simplicit du regard", de P. Haddot (Paris,1963). A bibliografia completa, incluindo toda a vasta literatura sobre Plotino, at o ano de 1949, pode ser encontrada em "Bibliografia crtica degli studi plotiniani", de B. Marien (Bari, Itlia, 1949). 11 3. IMPORTNCIA DE PLOTINO Quando a Editora Abril lanou a 2S edio da Coleo "Os Pensadores", escrevi ao editor-chefe pedindo que publicasse ao menos parte das Enades de Plotino. Respondeu-me com uma carta muito educada em que deixava claro que no havia espao para Plotino. No entanto, naquela coleo, h espao para alguns, no filsofos, e outros, no pensadores que todavia se interessaram pelo mundo material e escreveram acerca deste, o que foi bastante para que encontrassem lugar ao lado de filsofos e pensadores. Plotino no viveu para o corpo, nem para o mundo material, pois ele transcende essas coisas passageiras, procurando desvendar e entender aquilo que eterno, tanto no universo como no homem. Plotino no pode ser enquadrado em nenhum

movimento de esquerda, nem de direita, nem de centro. Ele est acima disso tudo; por isso -lhe difcil encontrar editores. At hoje nenhum editor brasileiro publicou suas obras completas. As editoras crists se desculpam dizendo que no tm interesse por um livro (As Enades) pago; as editoras leigas dizem que ele tinha um esprito demasiado cristo (religioso); e as editoras de esquerda dizem que era um alienado. Mas o problema no das editoras; o problema que somente uma elite, um grupo restrito poderia ler e entender alguns de seus tratados, sentindo a alma vibrar. Foi para essa elite que aceitei escrever este opsculo; a elite composta por todos aqueles que, embora dando o devido valor s coisas materiais, no querem, todavia, parar na senda que os leva aos mais altos cumes do entendimento l onde se encontram os valores eternos. Talvez tenha sido por causa disso que a Enciclopdia Britnica asseverou ser a filosofia de Plotino "ainda viva e atual neste sculo XX, e parece que continuar a s-lo, pois seus escritos contm um extraordinrio poder de inspirar uma nova viso do mundo, de levantar as mentes dos homens aos valores eternos encorajando uma moral viril extremamente vlida nestes tempos precrios" (Verbete "Plotino", em Enciclopdia Britnica). por isso que os maiores santos da Igreja Catlica, Santo Agostinho, So Basflio, So Gregrio Nazianzeno e Nisseno, Dionsio Aeropagita e os chamados "Padres da Igreja", foram muito influenciados pela doutrina filosfica de Plotino. Tambm os grandes msticos da Idade Mdia: Bocio, Scoto Ergena, So Boaventura, e alguns outros, estudaram as Enades. Isso era comum at quando Santo Toms de Aquino (sculo XIII) introduziu no mundo eclesistico a filosofia de Aristteles: uma filosofia mais voltada para o mundo real, humano e material. Depois que Marslio Ficino (Florena: 1433-1499) traduziu o texto grego das Enades para o latim (1492), houve tambm filsofos renascentistas que cultivaram o pensamento de Plotino; alm do prprio Marslio Ficino, encontramos Nicolau de Cusa, Giordano Bruno e a chamada Escola Platnica de Cambridge, no sculo XII; e, na poca moderna, o Idealismo Romntico Alemo, representado por Schelling e outros. 12 Toda essa elite de filsofos-msticos encontrava em Plotino tanto a justificativa da mortificao dos instintos irracionais para alcanar uma purificao dos sentidos, como uma asceno ao Uno, pela prtica das artes e da Filosofia. Pelas artes, e sobretudo pela msica, Plotino dizia que o homem se aproxima da "harmonia inteligvel" aquela que se refere Inteligncia divina, onde o tempo substitudo pela eternidade. Pela Filosofia atinge-se a contemplao racional capaz de produzir a intuio intelectual, o xtase, a partir do qual se d a unio com o Uno, que o Sumo Bem.

Mas sobretudo h um grupo de pessoas para as quais a filosofia de Plotino de grande importncia: so os membros da Antiga e Mstica Ordem Rosae Crucis (AMORC), pois h muitos pontos de coincidncia entre a filosofia destes e a filosofia de Plotino. Em "Perguntas e Respostas Rosacruzes" (1-ed., 1975, p. 61/62), o Dr. Spencer Lewis recomenda a leitura das obras de Plotino para assim melhor entender a filosofia da AMORC. Porfrio nos relata uma passagem interessante da vida de Plotino. O filsofo no era membro de nenhuma religio especfica; os princpios filosficos do neo-platonismo lhe bastavam, tanto para a inteligncia, como para a vida moral e espiritual. Um dia, Amlio quis levar Plotino para fazer um sacrifcio aos deuses. Plotino respondeu: "Os deuses devem vir a mim, no eu a eles!" Amlio e os discpulos que escutaram o que ele havia dito ficaram impressionados com "to tremendas palavras" e, evidentemente, no entenderam nada e nem se atreveram a perguntar-lhe sobre seu sentido. Todavia, para o Rosacruz que j realizou "a primeira iniciao de Templo", tais palavras de Plotino no contm nenhum mistrio, uma vez que na iniciao -lhe prometido que as mais altas Inteligncias (Plotino disse: "Os deuses") estaro ansiosas para obedecer aos seus desejos e todos os quatro elementos (ar, gua, terra e fogo) se consideraro felizes em satisfazer a sua vontade, conquanto seu motivo seja sempre divino, desinteressado e construtivo. Plotino nos testemunha Porfrio vivia para ajudar os outros: distribua tanto suas luzes intelectuais como todos os seus recursos econmicos. Quanto msica que Plotino usava para meditar e para iniciar suas aulas, era aquela de Pitgoras: a mesma que os Rosacruzes usam em suas reunies, feita de sons voclicos, cuja funo despertar emoes psquicas atravs de emoes fsicas. 4. O AMBIENTE HISTRICO E CULTURAL Plotino viveu numa poca tumultuada em todos os campos da vivncia humana. Uma poca de transio entre velhos valores que se tornavam obsoletos e novos valores ainda no estruturados e no amadurecidos. Uma poca de vazio poltico, econmico, cultural e religioso. 13 4.1 - A Situao Poltica: No fim do sculo II, pouco antes de Plotino nascer (204 d.C), o Imprio Romano comea a desarticular-se, caindo numa profunda desordem poltica. Em janeiro de 193 d.C, assassinado o Imperador Cmodo e, em seu lugar, eleito Prtinax, que logo assassinado e substitudo por Ddio Giuliano (maro), tambm assassinado (junho) e substitudo por Lcio Septmio Severo, um africano de origem fencia: um notvel Imperador que, em 211, conseguiu morrer de morte natural, em sua cama; em seu lugar eleito Caracalla, um brbaro, que s apreciava caadas e guerras

e, sobretudo, a companhia de gladiadores e dos soldados. Em 212, mandou assassinar o irmo, por medo que lhe roubasse o trono. Deixou a administrao do poder civil com sua me, para ocupar-se de guerras. Foi assassinado em 217 e substitudo por Macrino que, em 219, foi substitudo por Heliogbalo, tambm assassinado apunhalado numa latrina, em 222, e substitudo por seu primo Alexandre Severo, homem culto o que representava uma raridade para a poca e religioso. Ele afirmava que todas as religies eram apenas diferentes formas de adorao de um nico Poder Supremo. Em seu palcio, havia uma Capela com as imagens de Jpiter, de Orfeu, de Apoio de Tiana, de Abrao e de Jesus Cristo. Sua me favorecia aos cristos e particularmente a Orgenes (o grande aniigo de Plotino), que frequentemente o convidava para que lhe explicasse algum ponto de teologia. Mas em 235 foi morto por ser um homem muito srio e muito santo; foi eleito C. Jlio Maximino, um homem inculto e ignorante que foi logo assassinado pelas tropas e substitudo por Mximo e Balbino, que foram assassinados pelos pretorianos... Nestes poucos anos que vo de 235 a 257, foram eleitos 37 Imperadores, todos eleitos e assassinados pelas tropas. Em 257, foi eleito o Imperador Aureliano, que teve de enfrentar o maior problema scio-poltico-militar de todos os tempos do Imprio: as invases de povos chamados brbaros por serem "to atrasados que no sabiam raspar a barba". Em 254, os narcomanos invadiram a Pannia e o norte da Itlia. Em 255, os godos entraram na Dalmcia e na Macednia, enquanto que os citas invadiram a sia Menor, e os persas invadiram a Sria. Nessa poca, Plotino tinha pouco mais de 50 anos. Em 257, os godos capturaram todas as cidades do Mar Negro; os persas conquistaram a Armnia, e os povos da Glia se sublevaram massacrando as guarnies romanas. Em 259, os alemes invadiram o norte da Itlia. Em 263, os godos invadiram a costa jnica. Em 267, os srmatas subjugaram todo o Oriente prximo que pertencia ao Imprio Romano. Em 269, os godos se uniram aos srmatas... Uma situao catica e desesperadora, sobretudo tendo-se presente que os soldados componentes das legies romanas eram mercenrios. 14 O Imperador Valeriano morreu em 260 lutando contra os persas e, em 270, o Imperador Cludio II morreu de uma molstia endmica. Nesse metmo ano morreu tambm Plotino, depois de ter assistido ao mais longo e tempestuoso perodo da histria romana, vivendo e filosofando naquela cidade de Roma onde repercutiam todos os acontecimentos da poca. 4.2 - Situao Econmica: A anarquia poltica do Imprio Romano produziu a sua desintegrao econmica num pas onde as terras nunca haviam conhecido a abundncia.

Sabemos que os grandes fornecedores de trigo para Roma, para a Itlia e para o Imprio de forma geral eram o vale do Beqa, no Lbano (Fencia), a frica do Norte e a Siclia. Juntamente com a escassez de trigo (nessa poca cm que Plotino viveu), os agricultores queixavam-se das altas taxas de juros que consumiam todos os seus ganhos; queixavam-se tambm de que o governo imperial no mandava abrir canais para a irrigao e para acabar com os inmeros brejos que eram focos de malria. Como no eram atendidos, grande nmero de agricultores trocava o campo pela cidade de Roma, ocasionando assim a formao de latifndios, os quais ficavam improdutivos, porque no havia escravos para cultiv-los; com efeito, as iropas quedavam-se exaustas da guerra e no tendo guerras (vitoriosas), no havia escravos. Mas, pela metade do terceiro sculo, quando Plotino tinha cerca de 50 anos, com o comeo das invases dos brbaros e com os tumultos na cidade de Roma, muitos donos de terras passaram a viver em sua casas de campo (que em lngua latina era chamada "villa"), que era fortificada com grossas paredes e com a vigilncia de escravos armados um fenmeno histrico que d incio formao dos castelos medievais. Nessa poca, Plotino pensou em fundar, fora de Roma, nos campos, uma cidade para filsofos, que deveriam viver segundo as leis traadas por Plato no seu "A Repblica". O Imperador Galieno e sua esposa chegaram a considerar seriamente o projeto; mas seus conselheiros, mais prticos do que lericos, dissuadiram-no. Por essa poca, em Roma e na Itlia, a luta de classes tornava-se sempre suais violenta, e o exrcito, recrutado nas provncias mais pobres, saqueava e i oubava os ricos. Tambm nessa poca as minas de ouro, da Trcia, e de prata, da Espanha, comearam a escassear, e os Imperadores, de Septmio Severo em diante, quebraram o padro da moeda para superar as despesas do Estado. Com Nero, o teor de liga do denrio era de 10%; com Cmodo, subiu a 30%; com Septmio Severo, subiu a 50%;uma inflao demasiado grande. Caracalla projetou o "plano cruzado" da poca e substituiu o "denarium" pelo "antonianus", que tinha apenas 50% de prata. 15 J no ano 260, dez anos antes da morte de Plotino, aqueles 50% estavam reduzidos a 5%! Os Imperadores mandavam emitir dinheiro em quantidades astronmicas, porm o dinheiro no tinha nenhum valor. Por isso, os Imperadores exigiam que o povo aceitasse esse dinheiro pelo seu valor nominal, mas pagasse os impostos em outro, ou em espcie. Devido a esse fator, a inflao e a flutuao dos preos estavam fora de controle. Na Palestina romana, neste mesmo perodo, os preos subiram mil por cento. No Egito, a medida de trigo que, no primeiro sculo, custava oito dracmas, no fim do terceiro sculo, j era comprada por 120.000 dracmas.

Uma economia to arruinada, alm de no estimular nenhuma empresa, causou a decadncia da indstria e do comrcio, contentando-se com pequenas produes para o consumo local. Com a pobreza, crescia o nmero de bandidos e ladres. O grande nmero de crianas s quais Plotino providenciava um po era a consequncia de um desastre econmico to vasto quanto o mesmo Imprio. 4.3 - Situao Cultural: Apesar da terrvel situao poltica e econmica, foram desenvolvidos, nessa poca, aspectos importantes da cultura. Quanto Aritmtica, Diofanto de Alexandria escreveu, no ano de 250, um tratado de lgebra, que chegou at ns. Nele, resolve equaes determinadas de l2 e 2- grau, e equaes indeterminadas at o 6- grau. Com ele comeou o desejo de se reduzirem a frmulas todas as relaes quantitativas. Fato curioso: Diofanto usava o "sigma" do alfabeto grego para marcar a quantidade desconhecida, que ns hoje simbolizamos cm a letra "x". O Direito tambm progrediu muito nessa poca. O Imperador Adriano, o mais culto e o mais "viajado" de todos os Imperadores romanos ( exceo, talvez, de Marco Aurlio), por estar familiarizado com todas as culturas do Imprio, aproveitou o que de melhor havia encontrado para introduzi-lo na legislao romana. A legislao romana nunca se cristalizou num cdigo fixado, consistia mais em diretrizes que no impediam a mudana da evoluo da jurisprudncia. Foi assim que o Imperador Antonino um filsofo estico decretou que casos duvidosos fossem resolvidos em favor do acusado,- pois um homem devia ser considerado inocente at provar-se sua culpa. Era o reconhecimento do "direito da pessoa humana", que mais tarde ser desenvolvido por Papiniano (morto em 212), por Paulo (morto em 219), e por Ulpiano, que faleceu em 228; Papiniano, Paulo e Ulpiano apareceram na poca de Septmio Severo (um africano de Leptis Magna, que foi Imperador de 193 a 211), e so considerados os trs grandes luminrios da "Lex Romana". Foram os primeiros a defender os escravos por consider-los seres livres por natureza, e 16 foram tambm os primeiros a defender a igualdade dos direitos das mulheres em relao aos direitos dos homens, Os trabalhos desses trs grandes juristas (particularmente de Ulpiano) foram incorporados, quase na ntegra, ao Digesto de Justiniano. Quanto s Artes, nessa poca no houve grande desenvolvimento: faltava a paz exterior para uma grande inspirao interior. A Pintura conservou aquela forma dura, sem movimento como a de Pompia , faltando-lhe traos suaves.

A Escultura, todavia, floresceu muito, porque Imperadores e nobres queriam deixar para a posteridade a lembrana de seus rostos. Do ponto de vista artstico, essas esculturas revelam segurana tcnica, embora tambm no tenham a graa do helenismo, como podemos observar nos relevos do arco de Septmio Severo, em Roma. Apesar de ser a escultura do rosto relativamente comum, Plotino nunca se deixou retratar, e quando o discpulo Amlio lhe pediu insistentemente para posar, ele respondeu: "Voc no acha que bastante para mim levar com pacincia esta imagem postia com a qual a natureza me vestiu?!... e agora eu deveria permitir que desta imagem postia ficasse uma outra imagem, duradoura, como se valesse a pena ser olhada? Ah... isso no!" A Arquitetura continua a ser a expresso da fora de Roma. So dessa poca a obra colossal do Palcio Imperial, erguido por Septmio Severo, e os Banhos de Caracalla, hoje, as mais impressionantes runas de Roma, alm das Termas de Diocleciano construdas pelo Imperador Maximiano, onde 3.600 pessoas podiam tomar banho de uma s vez (estruturas enormes, onde o conceito de quantidade material se sobrepe ao conceito filosfico de abstrao e de qualidade). A Literatura dessa poca quase no relevante, embora as bibliotecas crescessem em tamanho e em quantidade de livros. Havia um pequeno grupo de mestres que gozavam de popularidade, mas no tinham ideias profundas capazes de transformar uma situao. Os autores que chegaram at ns so: Jmblico, que tentou harmonizar o platonismo com a teologia pag e por tal meio influenciou o Imperador Juliano (o "apstata"); Digenes Larcio, que reuniu num anedotrio as vidas e as opinies dos filsofos; Ateneu de Naucratis, autor de "Os sofistas mesa", que nada mais do que um dilogo sobre comidas, molhos, cortess e filsofos; Longino, que comps um ensaio intitulado "Perihypsus" (sobre o Sublime); Lion Cssio, que, aos 55 anos, escreveu a histria de Roma. Fato interessante da Literatura dessa poca o aparecimento da novela romntica. Petrnio, em Roma, como Apulio, na frica, Luciano, na Grcia, e Jmblico, na Sria, haviam desenvolvido o romance cmico que, todavia, era privado de qualquer vestgio de amor. A novela romntica mais relevante 17 sem dvida a "Aethipica" (Contos egpcios), de Heliodoro de Emesa, que, pela primeira vez na histria da Literatura, trata da castidade e da virgindade das moas (algo muito distante da mentalidade e do "animus" de Plotino!). No entanto foi esta novela que deu origem, ao longo dos sculos, a inmeras imitaes, inclusive "Prsiles Y Sigismunda", de Cervantes, e histria de Clorinda, na "Gerusalemme liberata", de Torquato Tasso.

Outra famosa novela de amor "Dfnis e Clo", de Longus, composta provavelmente pouco antes de 270, ano da morte de Plotino. Tambm do mesmo perodo a novela "Pervigilium Veneris" (a vspera de Vnus), sem grande valor literrio. O que todavia merece especial ateno, nessa poca, a Escola de Alexandria. Quanto cultura, a Escola de Alexandria, no Egito, muito mais importante do que a mesma Roma. Alexandria era uma cidade industrial (nos moldes da poca), onde viviam representantes de todas as raas e de todos os cultos, imersos na cultura helenstica. Na Escola de Alexandria, o clebre Filon (13 a.C, 42 d.C.) procurou interpretar o Velho Testamento luz da filosofia grega, tendo sido o primeiro a faz-lo, dentre todos os exegetas. Com ele nasceu a "interpretao alegrica", que consiste em se buscar uma significao mais profunda que a simples significao literal. Por esse meio, a religio popular nacional, com seu Olimpo cheio de deuses e deusas, era interpretada pelos esticos com a finalidade de oferecer s pessoas mais cultas uma simbologia da mesma. Santo Agostinho, quatrocentos anos mais tarde,usar desse mtodo para explicar e interpretar o Novo Testamento, no qual se encontra a clebre frase, que j foi de Filon: "haec Sunt per allegoriam dieta" ("estas coisas foram ditas por alegoria"). Outro importante filsofo da Escola de Alexandria foi Panteno, um estico convertido ao cristianismo que, no segundo sculo, dar continuidade s de Filon. Depois dele, o grande Clemente de Alexandria (150-215), mestre de Orgenes (185-254), que por sua vez foi amigo ntimo e mestre de Plotino (204-270). Orgenes, alm de amigo, ser sempre considerado por Plotino como mestre, apesar de decorrerem entre os dois apenas dezenove anos e ser Orgenes cristo, contrariamente a Plotino. A caracterstica dessa escola filosfica a GNOSE. Entendia-se por "gnose" um conhecimento superior, um aprofundamento cognitivo e intelectual da doutrina, concedido ao estudante por intuio espiritual, ou, como outros diziam, por revelao interior. Para entender retamente o pensamento filosfico de Plotino necessrio conhecer o pensamento filosfico da Escola de Alexandria, cujo mestre principal era Clemente. 18 Clemente escreveu uma srie de anotaes filosficas, sem coerncia interna, a que chamou "Strmata" (Tapearia),onde procura mostrar que somente o cristo realiza o ideal do gnosticismo. Segundo Clemente, os filsofos alcanaram a verdade por si mesmos, inspirados por Deus, pois existe um s conhecimento natural de Deus, tomando Pitgoras e Plato como exemplo. Mas o cristo, de acordo com Clemente, est numa situao melhor, pois em lugar de um conhecimento natural de Deus, ele tem um conhecimento pela f ("pistis", em grego). A f

apresenta as teses; a filosofia oferece meios para alcanar a significao profunda das teses. Por isso, a filosofia deve estar a servio da f. essa concepo de filosofia subordinada teologia que Plotino nunca aceitar. Porm, a importncia de Clemente para Plotino est no fato de considerar a vida do homem uma busca incessante da Divindade: isso que torna o homem um "ser divinizado". Clemente foi o primeiro filsofo e telogo cristo a usar o verbo "divinizar" ("theopoio", em grego) com referncia ao homem. Esta divinizao tem seu ponto mais alto na contemplao. Plotino aceitou imediatamente essas verdades que recebeu por intermdio de Orgenes. Uma dvida acompanhou Plotino ao longo de sua vida: como, nesse processo de contemplao conhecimento intuitivo e divinizao so necessrios um livro sagrado e uma hierarquia? (que comearia a ser implantada por Incio, bispo de Antioquia e Clemente Romano, bispo de Roma). Plotino no achava necessrio tornar-se cristo para ser divinizado, uma vez que todos os seres so, em ltima anlise, emanaes da Divindade e portanto j so divinizados. O grande luminar da Escola de Alexandria Orgenes: homem dotado de capacidade extrema tanto de raciocnio como de retrica. Por esse motivo, j aos 18 anos, foi destinado a explicar a teologia crist aos catecmenos de Alexandria. No prazo de poucos anos estava sendo convidado como telogo-filsofo e orador em vrios lugares da frica, Palestina, e, por ltimo, cm Roma. Por seu precoce brilhantismo, grande foi a inveja de seu bispo, o qual chegou a excomung-lo. O historiador Eusbio diz que o clero e o bispo de Alexandria no suportavam a sabedoria de Orgenes. Com efeito, Orgenes tinha uma alma crist vestida de filosofia grega. H uma carta de So Gregrio (o taumaturgo) bispo de Neocesaria, mais ou menos do ano de 250 (Plotino tinha 46 anos) agradecendo a Orgenes (j com seus 65 anos de idade) pelas aulas de Dialtica, Matemtica, Geometria, Astronomia, tica, Histria do Pensamento das vrias Filosofias, e finalmente, de Sagrada Escritura aulas que duraram seis anos, na cidade de Cesaria! 19 Depois do apstolo Paulo (cujas igrejas por ele fundadas foram destrudas ou abafadas, primeiro, pelo seguidores de So Pedro e So Tiago, e, em 68, pelos seguidores de So Joo Evangelista), Orgenes conseguiu dar ao cristianismo nascente uma viso universalista e, fundamentando-o na f assistida pela razo, pois at ento o cristianismo fundamentava-se somente na f e na emocionalidade; e foi esta ltima um dos motivos que sempre afastou Plotino do cristianismo, apesar de ter a mais alta admirao por Orgenes, o qual, quando em Roma aparecia s aulas de

Plotino, este suspendia as aulas, levantava-se e cumprimentava-o, apontando-o como "o sol que apareceu". Plotino no somente aceitava o ncleo das ideias filosficas de Orgenes, mas, sobretudo, procurava imitar-lhe o modo de viver. Orgenes jejuava muito; dormia pouco e no cho; andava descalo; sujeitava-se ao frio e, no fim, emasculou-se. Era evidente que Orgenes era um neo-pitagrico, um platnico e um gnstico fundidos num devoto cristo. Orgenes havia estudado a fundo Amnio Sacca o que tambm Plotino faria. Para Orgenes, o Deus de Moiss torna-se, portanto, o Primeiro Princpio de todas as coisas, e Jesus Cristo no seria o homem descrito pelos evangelistas sinticos, e sim o "logos", o "Nous", a "Inteligncia" de Deus que organiza o mundo (ideia que j est implcita no evangelho de So Joo). Plotino o afirmar exatamente da mesma forma, deixando de lado o aspecto antropomrfico da pessoa humana de Jesus. Orgenes, como Plotino, acredita que a alma passa por uma sucesso de fases antes de chegar a Deus. Para ambos, o fim deste mundo ser apenas o fim "deste" atual mundo, porque depois vir um outro mundo, e mais outro, numa sequncia sem fim, como na filosofia vdica, a qual considera o mundo como "expresso material" da Divindade (teoria que ser retomada e desenvolvida por Spinoza e outros filsofos rosacruzes). Em 254, Orgenes morreu. Viveu e morreu numa pobreza extrema, aos 69 anos. Plotino tinha ento 50 anos, e estava na plenitude de seu trabalho intelectual. No ano de 400, o Papa Anastcio condenou como "blasfmias" as opinies de Orgenes; e, em 553, o Conclio de Constantinopla o excomungou num ato de extrema ignorncia, porque doutrina catlica que a excomunho s se aplique ao "homo viator" aqui na terra, e no quele que est (ou no est) no cu. Porm, do ponto de vista catlico-romano, apenas importavam a ordem, a disciplina e a obedincia: por isso no se admitia que um cristo catlico pensasse individualmente e por si mesmo. Apesar disso, sabemos que todos os sbios cristos dos sculos seguintes a Orgenes aprenderam muito com ele e muito recorreram sua obra filosfica e teolgica. No podia ser diferente, se no VI Conclio Ecumnico, em 621, os bispos confessaram-se "brbaros e ignorantes das letras e das cincias"; sabemos tambm que 20 Eusbio, na "Vida de Constantino" (III, 21) diz que o Imperador advertia insistentemente os bispos que "no fossem ciosos uns dos outros e que suportassem os que lhes eram superiores em sabedoria e eloquncia, e que considerassem o mrito de cada um como glria de todos". evidente que Plotino, por cultura e formao moral, no podia juntar-se a um rebanho guiado por homens de formao to precria, ainda mais se considerarmos como era organizado o cristianismo nessa poca.

4.4 - A organizao do Cristianismo nessa poca: No primeiro e no segundo sculos da nossa era, o cristianismo estava to absorvido na expectativa da volta de Jesus ("Marn-ata": "o Senhor nosso vem!"), que ningum pensava em organizar-se. Esperavam os cristos : voarem com Cristo, nas nuvens, para o cu", conforme a expresso de So Paulo. Como Cristo no voltasse, resolveram organizar-se como instituio. Em meados de 200 e 205 (quando Plotino nascia), a "imposio das mos" na cabea do balizado, tomou a forma da atual ordenao sacerdotal com a qual os bispos assumem o controle efetivo e decisivo dos cristos. Bispo ("Epscopos", em lngua grega) era, no comeo, o supervisor, o vigia, o zelador, o contnuo, que tomava conta tanto do local onde os cristos se reuniam, como das escrituras chamadas sagradas, porque se referiam nova religio: os evangelhos e as cartas dos apstolos. Seu smbolo era a vassoura de cabo comprido, que servia tanto para a limpeza como de vara de correo... e que s vezes se precisasse de correo, as cartas de So Paulo no-lo indicam claramente. Logo em seguida, o cabo de vassoura se transformou no "baculum", o cajado do pastor que toma conta de suas "ovelhas" mudando assim no s de forma, como tambm de sentido. Ovelhas no faltavam, pois eram muitos os convertidos que vinham da plebe. No vazio moral do paganismo, ridicularizado pelos prprios sacerdotes pagos (Ccero escreveu: "miror aruspex cum aruspicem videret non rideret", 'muito me admiraria se um sacerdote no risse quando encontrasse um outro sacerdote"), na frieza humana do estoicismo e na corrupo em que o epicurismo havia se transformado, junto aos romanos, na opresso poltica e econmica de quase todos os Imperadores, o cristianismo trouxe uma nova onda de humanidade e de fraternidade, de decncia e de tranquilidade interior. Todavia, os numerosos centros de cristianismo espalhados pelo Imprio interpretavam os ensinamentos de Jesus, cada um segundo a sua cultura e inspirao individual. O gnosticismo, isto , a procura de um conhecimento divino ("gnosis") por meios msticos (o que certamente no heresia) constitua, no entanto, o maior rival do cristianismo entre as pessoas mais cultas. Havia tambm uma infinidade de seitas crists, como os Eucratitas, os Docetistas, os 21 Adopcionistas, os Modalistas, os Sabelianos, os Monarquistas, os Monofistas, os Monotelitas, e muitos outros...Ireneu, em 187, colecionou 20 variedades de cristianismo, e Epifnio, em 384, contou 80! Tal situao fez com que os bispos de Roma (cuja posio era muito respeitada por ser Roma a capital do Imprio) tomassem a iniciativa de reunir outros bispos e estabelecer uma sagrada-escritura-padro, isto , um Velho e um Novo Testamento oficialmente reconhecidos, e que fixassem uma doutrina oficial e organizassem uma autoridade eclesistica.

Como a Igreja de Roma insistia em dizer que foi a sede de So Pedro, que l morreu (o que at hoje no foi cabalmente provado, no obstante os esforos arqueolgicos de Pio XII e Paulo VI), auto-proclamou-se "Eclesia caput omnium eclesiarum" ("igreja chefe de todas as demais igrejas"). Quando Plotino nasceu, em 204, era bispo de Roma Zefirino, que governou aquela comunidade crist de 202 a 218. Era "homem simples e analfabeto", como escreveu Monsenhor L. Duchesne, em "Early History of the Christian Church" (London, 1933, 3 vol.; I vol., p. 215). Sucedeu-lhe Calisto, um homem totalmente incompetente, ao ponto de os padres nomearem um outro bispo: Hiplito. Mas Calisto, que apreciava o cargo, no quis renunciar. Roma ficou com dois bispos, isto , dois "papas", at o ano de 235, quando Hiplito aceitou renunciar. O cisma, porm, renasceu em Cartago com o bispo Novato, e, em Roma, com Novaciano. De fato, eram avanos e recuos e, sobretudo, muita desorganizao, pelo fato de que, at ento, ningum tinha certeza de nada, faltavam diretrizes. Essa desorganizao, juntamente com uma doutrina ainda em formao, deve ter provocado m impresso em Plotino que, nessa poca, estava com cerca de 35 anos de idade. Para organizar-se, a igreja de Roma tomou emprestado as formas e os costumes da Roma antiga, alm das roupas para as cerimnias, como a estola, as vestes sacerdotais, o uso do incenso, da gua benta para as purificaes pessoais, dos crios, e, sobretudo, o culto aos mrtires e aos santos, a arquitetura da baslica romana e, para o bispo, o ttulo pago de "pontfice mximo". Quando da morte de Plotino, a lngua oficial da liturgia era o latim. Poucos anos mais tarde, quando os prefeitos romanos perderam tanto o poder como o cargo (sob o efeito das invases barbricas), os bispos de Roma e da Itlia seriam a fonte de ordem e o centro do poder nas cidades. Foi contra essa nova luxria do poder que surgiu o monaquismo cristo, nascido no Egito, a ptria de Plotino. Em 270, no ano da morte de Plotino, no Egito, o egpcio Antnio dava incio a uma vida de orao e solido que se tornaria atrao e exemplo para centenas de anacoretas, que somente em 325 o abade Pacomio haveria de reunir na abadia de Tabene (Egito), criando assim aquele impulso monstico 22 que ir influenciar, na Europa, So Benedito (o fundador dos monges Beneditinos, em 529) e, no Lbano, So Baslio (fundador dos monges orientais, em 356). A igreja de Roma, com seus padres e bispos, ops-se vivamente ao monaquismo; acabou aceitando-o bem mais tarde. O monaquismo no cristo, nem teolgico, mas que em sua forma filosfica mais pura j havia sido praticado por Pitgoras e seus discpulos,

sempre foi o ideal de Plotino, que, mesmo em meio a seus discpulos, vivia numa profunda solido interior, em unio com o Uno. Plotino era convicto, tanto quanto os monges Antnio e Pacomio e os demais anacoretas, que o "corpo tanto o rgo como o crcere da alma" e que "a alma sabe que uma qualidade de uma Realidade mais alta do que o corpo e, por isso, ela sente afinidade com alguma Vida ou Poder Csmico Criador; ento, a alma aspira a juntar-se de novo a essa Realidade Suprema da qual parece ter sado nalguma catstrofe primordial"; "quanto mais desenvolvida a alma, tanto mais persistentemente procura sua fonte divina", e acrescentava: "quando isto acontece, a alma v a Divindade porquanto lhe permitido (...) e verse- iluminada, cheia de luz intelectual; ou, antes, perceber-se- como luz pura, leve, gil, tornando-se Deus". (Enades, VI, 9). 4.5 - Situao Religiosa: Para dar a viso completa da poca em que Plotino viveu, e assim ter a devida apreciao do seu trabalho, falta, por ltimo, dar uma viso rpida da situao religiosa em sua poca. A importncia disso reside no fato de que, naqueles tempos, no havia ateus ( o atesmo um sub-produto do cristianismo dogmtico), e a religio constitua-se numa parte essencial da vida social e individual. Pouco antes do nascimento de Plotino, no fim do primeiro sculo, notamos nas pessoas um medo, frequentemente confessado, de estarem merc de algumas "foras destruidoras" que se apoderaram tanto dos indivduos como da sociedade. E por ningum saber controlar essa situao psicolgica, chegou-se demolio do "culto do homem", que tinha sido o grande ideal do helenismo. Assim, as pessoas procuraram preencher esse vcuo espiritual pelo misticismo ou pela astrologia. Por essas duas portas, entraram, no mundo helnico e romano, as religies orientais: o zoroastrismo, o judasmo e o cristianismo, com a diferena, porm, de que o zoroastrismo e o judasmo permaneceram religies nacionais. O mitrasmo (derivao do zoroastrismo) era a religio do exrcito permanente do regime augustano e dos marinheiros. Era uma religio de "mistrios" que inclua at a "comunho" com a carne e o sangue de Mitra mas nunca foi uma religio popular. O cristianismo, alm de ser uma espcie de sociedade de seguro de vida material e espiritual, para o povo humilde e para os escravos, tinha a 23 vantagem de aceitar tambm as mulheres que certamente eram em nmero maior do que os homens. Outras grandes vantagens da religio crist: o Deus dos cristos era o Deus nico e verdadeiro tanto dos judeus como dos zoroastrianos, com a diferena de que, no cristianismo, esse Deus era representado como estendendo sua mo e sua compaixo aos

pobres, aos perseguidos, aos doentes, na pessoa de Jesus de Nazar, o profeta que se sacrificou para a massa humana de abjetos. Como o rei-mrtir espartano Agis e o nobre mrtir romano Tibrio Graco, Jesus deu a sua vida para o bem do povo sem usar de violncia, coro a vantagem de que Jesus no era aristocrata, mas filho de um pobre carpinteiro, e, como o Deus da vegetao Osris-Adnis-tis-Tamuz, Jesus vencera a morte por meio da sua ressurreio. Estes fatos, embora pudessem parecer tolices aos olhos dos intelectuais helenistas, eram extremamente importantes para os escravos, para as mulheres e para o povo humilde em geral, que ainda alimentava uma religio agrcola pr-helnica. Como Augusto, Alexandre Magno e todos os Faras, Jesus tambm era filho de um deus e de uma mulher humana, virgem, Maria, que bem cedo tomou o lugar de sis e Cibele, com o ttulo de "theutcos" (grande me de Deus). Com o cristianismo tambm continuou o culto aos mortos; porm, no lugar dos heris da lenda, foram colocados os mrtires cristos que, de certo modo, substituam o politesmo greco-romano, preenchendo a grande necessidade da emocionalidade humana. Assim, o cristianismo podia ser confundido, inicialmente, com o monotesmo judaico e tornar-se uma fora irresistvel para o povo, ainda mais que no adotou a lngua de Jesus (o arameu), mas latim. J no sculo II, os bispos de Roma comearam a esboar uma organizao administrativa mundial centralizada, tomando como modelo de sua estrutura aquilo que ainda existia, ao menos em teoria, do Estado helnico e do Imprio Romano. O cristianismo pde faz-lo devido a que, no Imprio Romano, havia um grande esprito de tolerncia: o politesmo helenista inclua grande nmero de divindades etruscas, latinas e orientais; por isso, nenhum helenista se importava com a divinizao de mais um Jesus de Nazar. No final de tudo, apesar das grandes e numerosas perseguies, os cristos venceram. Venceram os cristos pela constncia e pelas converses individuais, duas caractersticas que faltavam ao paganismo, ao judasmo e ao zoroastrismo. A fora do cristianismo estava toda no povo simples, nos "humildes" e nos escravos; noutras palavras, na grande massa. Em 250 (Plotino tinha 46 anos), ocorreu a grande perseguio do Imperador Dcio e, em 257, aquela do Imperador Valeriano, igualmente 24 drstica. A despeito das perseguies, em 303, na poca do Imperador Galcrio, provavelmente pouco menos do que a metade dos sditos do Estado mundial era crist. Plotino morreu em 270, quando pelo menos um tero do Imprio era cristo. Todavia, Plotino nunca pediu o batismo, e nem o seu grande amigo, o cristo Orgenes, pediu-lhe que o fizesse.

5. VIDA DE PLOTINO A biografia de Plotino foi escrita por seu discpulo Porfrio, rica em alguns detalhes, mas omissa em outros pontos que o leitor moderno gostaria de conhecer. Porm, o escrito de Porfrio o nico documento insuspeito que possumos. Em seus escritos, Porfrio atesta a grande virtude do mestre; sua vida santa, cheia de bondade, humildade e tolerncia; um homem que possua o dom da intuio e da adivinhao em grau elevado; um homem que, por considerar-se sobretudo e sumamente "alma", sofria por sentir-se aprisionado num corpo. Pelo pouco (ou nenhum) valor que Plotino dava ao corpo, nunca falou sobre seus antepassados, seus pais ou sua terra natal, e se negava a posar para o pintor c para o escultor, respondendo a Amlio, seu discpulo (que tanto queria ter uma imagem sua): "...No vale a pena perder tempo nisso!" E como nenhum amigo tivesse conseguido dobrar-lhe a vontade, Amlio conseguiu que o pintor Cartrio participasse das aulas de Plotino para que, olhando para ele atentamente, pudesse gravar na mente as feies e os traos de seu rosto. Chegou-se assim a ter um esboo que, corrigido por Amlio, serviu de modelo para o retrato que foi realizado sem que o mestre o suspeitasse. Temos assim o rosto de Plotino conservado at hoje: um rosto alongado, no qual os traos da intelectualidade e da afetividade se equilibram deixando poucas marcas do instinto. Um homem calvo e barbudo, com a fronte de tamanho mdio e bem proporcionado, indicando um esprito sadio, lgico e com grande poder de sntese. Na testa, duas rugas fortes, ntidas e retas: sinais de inteligncia profunda unida grande tolerncia e largueza de viso. O olhar do homem que vive alm dos problemas mundanos, olhar do mstico. Plotino nasceu em Alexandria,_.no EgitQ, nQ.ano.de.2Qipu 204 d..3 numa lamlia copta, relativamente rica, que lhe proporcionou a possibilidade - ter uma completa instruo grega. Tinha cerca de 28 anos quando comeou a estudar filosofia com os melhores filsofos da sua cidade, que, todavia, no o deixaram satisfeito, pois lhe instigavam a nsia de conhecer, na constante decepo de no encontrar aquilo que a sua intuio lhe deixava entrever. Foi por este motivo que um amigo seu o colocou em contato com Amnio Sacca, um cristo que se 25 converteu ao paganismo e do qual nada sabemos a no ser que Plotino o considerava o verdadeiro iniciador do alexandrinismo (como era chamado o movimento filosfico neo-platnico), alm de ser o mestre de Longino, Saturnil, Orgenes, Hernio e Plotino.

Alm de filsofo, era um asceta, um "iniciado", que, num ambiente grego, reunia discpulos pagos, cristos, e gnstcos, como Saturnil. Com Amnio Sacca, comea a primeira, e ltima, escola teolgica do paganismo expressado mediante conceitos e palavras neo-platnicas. A caracterstica marcante de Amnio Sacca era evitar qualquer formalismo na busca radical da verdade. Para tanto, restringia ao mximo o nmero de discpulos e amigos, para ter a maior liberdade possvel na discusso de suas reflexes. Depois de ter assistido primeira aula de Amnio, Plotino disse: "Este o homem que eu buscava"; por onze anos frequentou seu crculo filosfico. Sempre de acordo com a biografia de Plotino, trs foram os alunos de Amnio Sacca mais destacados c dedicados: Hernio, Orgenes e Plotino. O ambiente filosfico que tanto atraa esses trs alunos e Plotino em modo particular era constitudo essencialmente de um mundo mstico que fazia de cada homem um deus, dando-lhe conscincia de ser um "segmento" da Divindade. Na verdade, a conscincia do divino comea a prevalecer, em Alexandria, sobre o materialismo e sobre o determinismo das filosofias anteriores. Desse modo, a filosofia de Amnio abandona a interpretao sensorial da realidade para dedicar-se especulao da metafsica, iniciando um novo platonismo, onde as "ideias divinas" de Plato, que "desciam do mundo hiper-urnico" para formar os corpos, confundam-se com as teorias pitagricas da reencarnao, formando um ascetismo severo com base de sustentao na filosofia, com o fim de permitir alma a sua volta a Deus o seu lugar de origem. Plotino era um entusiasta de Amnio. Espiritualmente, Plotino era um mstico; filosoficamente, era um metafsico, mais preocupado com o conhecimento intuitivo do que com o conhecimento racional. Em 242, o Imperador Gordiano organizou uma expedio contra os persas. Plotino, com 39 anos, querendo tomar contato direto com a filosofia que se praticava entre os persas e aquela que se praticava entre os hindus, uniu-se expedio (metafsica hindu e neo-platonismo so quase sinnimos, pois ambos partem da unidade do Ser, de modo que consideram o homem uma realidade divina, embora transitria): divina quanto alma, ou seja, quanto essncia; transitria quanto ao corpo, ou seja, quanto forma de existncia. Gordiano foi derrubado, na Mesopotmia, por Saper, rei dos persas, e 26 Plotino conseguiu sobreviver refugiando-se por alguns meses em Antioquia, aUe um sculo antes de Cristo, foi um dos mais brilhantes centros da civilizao helnica. Com 40 anos de idade, resolveu ir a Roma, onde se fixou, fundando uma escola de filosofia que tinha o mesmo esprito e a mesma metodologia de Amnio Sacca em Alexandria: um grupo pequeno de alunos selecionados,

com os quais lia, explicava e comentava alguns escritos de autores consagrados. Plotino lia um trecho, convidando em seguida seus alunos a exporem suas ideias e suas dvidas; aps, fazia seus comentrios, pondo-se de p quando a teoria apresentada continha um pensamento muito profundo. Relata-nos Porfrio que , durante suas explicaes, Plotino tinha uma palavra fcil para expressar seu pensamento, embora cometesse erros de linguagem, como acontecia a todos os estrangeiros. No entanto, quando falava, sua inteligncia brilhava atravs do olhar resplandecente e, embora tendo sempre um aspecto agradvel, nessas horas seu semblante se tornava belo. Enquanto falava to eloquentemente, um ligeiro suor emanava de sua fronte. Ensinava com doura, mesmo que s vezes tivesse de corrigir energicamente um aluno. Sempre dava possibilidade de os alunos fazerem perguntas, e at os incitava a faz-las. Frequentemente, suas aulas tomavam rumos diferentes, com discusses por vezes inteis, o que o mestre permitia para, em seguida, corrigir e ensinar a lgica do debate. Conseguiu assim formar um pequeno mas seleto grupo de filsofos que imortalizaram suas ideias dentro e fora da sociedade romana. Lembramos, dentre eles, Amlio, aluno de Plotino por 24 anos! Aquele que mais o ajudou e que, inspirando-se em suas ideias, escreveu nada menos que cem tratados filosficos; outro aluno foi Castrcio: aquele que mais venerava o mestre; e tambm Eustquio. O Senador Rogaciano foi um aluno que, pelo amor s ideias de Plotino, largou o magistrio e a prpria famlia para levar uma vida asctica, o que lhe proporcionou a admirao dos romanos. Outro destacado aluno foi Porfrio, que por seis anos ficou na escola do mestre; escreveu a biografia de Plotino, alm de importante tratado sobre ''As categorias de Aristteles", e a "Vida de Pitgoras". Tambm eram seus alunos os senadores Marcelo Orntio e Sabino. Orgenes frequentemente assistia s aulas de Plotino, e quando entrava na sala de aula, Plotino corava, queria terminar sua lio, e dizia: "O prazer de lalar acaba quando o mestre sente que seus ouvintes j nada mais tm a aprender com ele"; numa clara aluso (escreveu Porfrio) estima que nutria por Orgenes. Contavam-se tambm dentre os alunos algumas mulheres da famlia imperial. Alis, o prprio Imperador Galieno e sua esposa, se no cbegaram a sentar-se entre os alunos, professaram profundos respeito e co .iderao Para com a pessoa do filsofo e sua doutrina, chegando a; ponto de prometer-lhe a reconstruo, fora de Roma, de uma vila abar jnada que Poderia tornar-se o ncleo de uma aldeia chamada Platonpolis (cidade de 27 Plato), a qual serviria de morada para filsofos que desejassem seguir as leis contidas no livro mximo de Plato, "A Repblica". Se o projeto no se realizou ioi porque o casal imperial foi dissuadido por seus assessores.

Pela santidade de sua vida, no s os membros da famlia imperial o estimavam e veneravam, como tambm muitas pessoas das famlias mais ricas e nobres de Roma, as quais, ao morrerem, confiavam-lhe seus filhos, com toda a sua fortuna. Sua casa era cheia de meninos e meninas, ficando aos cuidados pessoais do filsofo a educao e os bens materiais de cada um, exigindo que os tutores das crianas apresentassem regularmente as contas financeiras. Depois dos 60 anos, a sade de Plotino comeou a enfraquecer. Nunca comia carne, s comia po de trigo, e pouco. Sempre evitou qualquer relao sexual (embora nunca tenha condenado o casamento) por considerar algo que embaraa a criao mental, e jejuava frequentemente, acreditando que, enfraquecendo o corpo, fortalecia o poder da alma. Assim, acabou adoecendo seriamente de uma enfermidade intestinal. Aconselhado a fazer lavagens intestinais, sempre se ops, porque, dizia, tais remdios no condiziam com um homem de idade. Por seu desprezo ao corpo, no tomava banhos, embora se submetesse diariamente a massagens em sua casa. Quando os massagistas morreram, e ele deixou de tomar as massagens, foi atacado por uma grave enfermidade de pele. Porfrio, seu bigrafo, diz que, nos ltimos anos, a enfermidade do mestre se agravou de tal maneira que sua voz perdeu a clareza e a sonoridade, e se tornou rouca; sua viso enfraqueceu e suas mos e ps cobriram-se de lceras. Deixou Roma, a fim de ficar sozinho, mudando-se para o campo, na propriedade de Zetus, um amigo seu, ento j falecido. O sustento para a sua vida vinha das propriedades de Zetus e de Castrcio. Plotino acamado, chegou Eustquio, que havia-se mudado para Putolum (Pozzuoli); ao v-lo, Plotino exclamou: "Ainda estou te esperando!". Naquele momento, uma cobra deslizou por baixo da cama do moribundo e sumiu num buraco da parede. Plotino morreu. Tinha 66 anos de idade; era o ano de 270 d.C. Todos os romanos acharam que morrera um deus, to grande era o conceito de santidade em que era tido na Roma desregrada de ento. Apesar de no seguir nenhuma religio oficial, Plotino era extremamente religioso: toda a sua filosofia , afinal, a justificativa racional de seu ardente desejo de fundir-se Divindade. Como Plotino, s aparecer mais um: Agostinho de Tagaste, ele tambm oriundo do norte da frica (354-430 d.C.) tentou realizar o conbio entre o neo-platonismo e o cristianismo. Relata-nos Porfrio que Plotino vivia constantemente mergulhado psquica 28 1 e mentalmente na Divindade. Duas vezes o encontrou num estado de xtase, fora dos sentidos, como se contemplasse o Eterno. Plotino era a

verdadeira encarnao do filsofo, assim com Pitgoras o concebia: um constante e cicrno buscador da verdade; um homem que fazia da filosofia uma regra de vida; um monge que permanecia solitrio com seu Deus, mesmo numa casa cheia de meninos ou de discpulos. Nele, a filosofia se tornava religio, estilo de vida. comportamento, expresso humana do eterno e indivisvel Uno, objelo nico da sua contemplao e do seu desejo. Nunca mais a filosofia alcanou, como uma metafsica neo-platnica, um ponto to alto, exceo, talvez, dos grandes msticos cristos Tereza de vila e Joo da Cruz que, embora no sendo filsofos, realizaram o supremo momento do platonismo a unio da alma Divindade. 6. AS OBRAS DE PLOTINO Depois de vinte e um anos de permanncia em Roma, quando j contava com 59 anos, Plotino, pressionado pelos alunos, decidiu escrever alguns tratados de filosofia que eram confiados somente a um restrito nmero de discpulos. Eram pequenos tratados soltos, muito curtos, que abrangiam o quanto cabia numa aula ou numa conversa. Porfrio e Amlio estimularam-no a escrever mais e mais. Plotino concordou e escreveu, mas nunca relia, nem repassava o que havia escrito. Porfrio nos diz ser tal fato devido fraca viso do mestre, que podia ler somente com muita dificuldade. Por isso, quem corrigia seus tratados era Porfrio. Desenhava mal as letras e no separava claramente as slabas. Preocupava-se sobremaneira com o sentido, mas no com a ortografia. Ordenava suas ideias mentalmente e depois passava-as para o papel, sem interrupo, como se estivesse copiando um texto de um livro. Seu estilo era conciso, embora pleno de ideias; no havia lugar para adjetivos. Ao v-lo escrever, diz Porfrio, parecia um homem sob inspirao divina. Depois da morte de Plotino, foi Porfrio quem ficou com todo a material que, por expressa vontade do mestre, foi corrigido e reordenado. Ao exemplo de Andrnico de Rodes, que reordenou as obras de Aristteles e Teofrasto, Porfrio ordenou os tratados por matrias, e no seguindo a ordem cronolgica; mesmo sabendo que isso podia apresentar um Plotino diferente da realidade, quis realizar seu projeto. Porfrio escreveu que todos os escritos de Plotino podem ser classificados cm trs grupos: os primeiros, da juventude; os segundos, da maturidade; os terceiros, do fim de sua vida, quando seu corpo j estava cansado. Da (conclui Porfrio) as diferenas em sua fora de pensamento: os primeiros 21 tratados so os que menos densidade intelectual contm; os 24 tratados da segunda srie nos revelam uma maturidade perfeita; os 9 ltimos ressentem-se da diminuio de suas foras. 29

Conclumos que, de 243 a 255 (12 anos), Plotino escreveu 21 tratados; de 263 a 268 (5 anos), escreveu mais 23; e de 268 a 270 (2 anos), escreveu os ltimos seis. O nmero 54 cabalstico; 6 vezes 9 54, e corresponde mentalidade pitagrica de dar um sentido extra-temporal s coisas e aos acontecimentos. Tanto o nmero 9 como o nmero 6 so mltiplos de 3 o nmero perfeito , o "Sagrado Tringulo" de Pitgoras (e dos modernos filsofos rosacruzes). Porfrio arranjou um modo de agrupar os escritos de Plotino cm 6 grupos de 9 tratados cada, de onde vem o nome "Enadas", ou como alguns escreveram, "Enades", que significa "conjunto de 9 tratados", que so os seguintes: Enade -1 (trata do homem e da moral): 1. Que o ser vivente? que o homem? (53); 2. Que virtude? (19); 3. Que dialtica? (20); 4. Que felicidade? (46); 5. A felicidade cresce com o tempo? (36); 6. Que belo? (1); 7. O primeiro bem e os outros bens (54); 8. De onde vm os males? (51); 9. O suicdio razovel? (16); Enade - II (trata do mundo sensvel e da Providncia): 1. O mundo (40); 2. O movimento circular (14); 3. Os astros operam? (52); 4. As duas matrias (12); 5. A potncia e o ato (25); 6. A qualidade e a forma (17); 7. A mistura completa (37); 8. Por que os objetos distantes parecem pequenos? (35); 9. Aos que dizem que o mundo e o seu Autor so maus (33); Enade - III (ainda sobre o mundo sensvel e a Providncia): 1. Sobre o destino (3); 2. A Providncia -1 (47); 3. A Providncia - II (48); 4. O demnio que todos temos (15); 5. O amor (50); 6. Os seres que no tm corpo so impassveis (26); 7. O tempo e a eternidade (45); 8. A natureza, a contemplao e o Uno (30); 9. Algumas consideraes filosficas (13). 30 Enade - IV (trata da alma, a primeira "hipstase", ou Suprema realidade): 1. a essncia da alma -1 (21); 2. A essncia da alma - II (4);

3. Dificuldades com referncia alma -1 (27); 4. Dificuldades com referncia alma - II (28); 5. Dificuldades com referncia alma - III (29); 6. A sensao e memria (41); 7. A imortalidade da alma (2); 8. A alma que entra no corpo (6); 9. Se todas as almas constituem uma s alma (8), Enade - V (trata do intelecto, a segunda "hipstase" ou Suprema realidade): 1. As trs principais "hipstases" (12); 2. A origem e a ordem das realidades que vm depois do Primeiro (11); 3. A "hipstase" que tem a faculdade de conhecer (49); 4. Sobre o Uno (7); 5. Os inteligveis no esto fora da Inteligncia (32); 6. O que est alm do ser no pensa (24); 7. Existem ideias das coisas particulares? (18); 8. A beleza inteligvel (31); 9. A inteligncia, as ideias e o Ser (5). Enade - VI (trata do Ser, dos nmeros, das ideias e do Uno): 1. Os gneros do Ser -1 - (42); 2. Os gneros do Ser - II - (43); 3. Os gneros do Ser - III - (44); 4. O Ser est em todas as partes, todo inteiro e um s -1 - (22); 5. O Ser est em todas as partes, todo inteiro e um s - II - (23); 6. Os nmeros (34); 7. A multiplicidade das ideias (38); 8. O que voluntrio; a vontade do Uno (39); 9. Sobre o Bem, ou seja, o Uno (9); (Os nmeros entre parnteses indicam a ordem cronolgica em que Plotino redigiu esses tratados). Pode-se notar que Plotino no escreveu de forma sistemtica; elaborou tratados parciais e incompletos, de forma que a ordenao dada por Porfrio se tornou quase necessria. Mesmo assim, antes de entrar em alguns temas cios mais importantes, somos obrigados a fazer a sntese prvia do seu Pensamento para facilitar a necessria compreenso ao leitor. Inicialmente, podemos j afirmar que a filosofia de Plotino se caracteriza Por uma profunda unidade, no sentido de que todos os 54 tratados e as ultiplas concluses derivam de uma nica ideia bsica essencial: o Uno. 31 O Uno, evidentemente, Deus, mas no o Deus que as Escrituras' judaicocrists reduzem a um perito indefinido nalgum lugar do cu, cora caractersticas antropomrficas, e sim o Deus de Spinoza, ou, talvez, na

linguagem da mentalidade moderna, a Energia Eterna, infinita, inexplorvel, nica e incomensurvel de que fala Einstein. Com efeito, lemos na biografia de Einstein que, quando lhe perguntaram se acreditava em Deus, respondeu prontamente: "Acredito no Deus de Spinoza": O Deus de Spinoza, apresentado com outros conceitos e com outras palavras, era o mesmo Deus de Plotino. Spinoza afirmava a existncia de uma nica substncia; Plotino dizia existir uma nica realidade: o Uno. Plotino no negava a existncia da matria, mas afirmava ser a mesma pura potencialidade, ou possibilidade de alguma forma (material) qualquer, pois as mltiplas formas que a matria assume provm da alma ("pske") que outra coisa no seno energia interior. Chamamos Natureza, ele dizia, ao conjunto das energias das almas ("segmentos" da Energia Total o Uno) que produzem todas as formas materiais existentes no mundo, sempre, porm, obedecendo a uma escala de realidades, de modo que a realidade mais alta produz a mais baixa (e no vice-versa). Desse modo, ele dizia, o desenvolvimento do indivduo no tero materno o resultado do trabalho da "pske" que nada mais do que a Fora Vital dentro do indivduo, moldando o corpo, por influncia do desejo e do rumo que a alma lhe imprime. Mas no s o corpo humano que tem alma: todos os animais e todos os insetos, todas as plantas e todas as flores, assim como os elementos chamados inorgnicos, tm uma Alma (Fora Vital) correspondente. O mal no existe, porquanto pura possibilidade da matria (considerada como pontencialidade) tomar uma forma sempre mais evoluda; nesse sentido, o mal derrota um estado da matria ( e seus atributos) que ainda no conseguiu atingir a sua plenitude. O corpo, assim, a priso da alma. Com efeito, a alma tem aspiraes diferentes c superiores s do corpo. Fundamentalmente, a alma aspira a juntar-se de novo Alma Universal da qual se desprendeu (ou "caiu" segundo interpretao gnstica). Com referncia a esse ponto, parece que Plotino aderiu a alguma interpretao dos gnsticos, alguns dos quais frequentavam sua escola. Ele professa rejeitar o gnosticismo e, no entanto, descreve a descida da alma por ' planos sucessivos, do cu ao corpo do homem. Tambm Plotino aceita a , noo vdica e pitagrica da transmigrao da alma, para uma forma mais ! alta (humana) ou mais baixa (animal) de vida, de acordo com o bem praticado ' ou deixado de praticar em cada encarnao. a lei do carma: a lei de causa e efeito, que ele reafirma de uma modo at potico, como quando escreve, (Enade - 111,4) que os msicos sero, na vida futura, pssaros canoros, e os i filsofos altamente especulativos sero guias. 32

O que necessrio, em todo caso, que se tenha coragem de purificar o rpo castia-lo e domin-lo , pois s assim a alma desenvolver suas otencialidades espirituais, elevando-se at Deus. Por isso, Plotino dar o exemplo de uma vida mortificada, procurando reprimir todos os instintos mormente o instinto do sexo, da fome e do lucro. "Somente assim dizia Plotino eu deixo de viver e comeo a existir, saindo de mim para o Uno", e mais adiante: "quando isso acontecer, a alma vislumbra a Divindade o quanto lhe permitido; (...) ento, ficar cheia de luz interior; ou melhor, se aperceber como sendo ela mesma cheia de luz, pura, leve, gil, feita de Deus" (Enade - VI,9). A imortalidade da alma uma verdade no sentido de que, depois da morte, a alma reabsorvida na Energia Vital Universal, isto , na Divindade (Enade V,l e Enade - 111,7). Com isso, Plotino exclui a imortalidade da alma como se esta fosse uma personalidade individual (Enade - VI,1). Deus o ponto mais alto, alis, o nico ponto importante de toda a filosofia de Plotino. Plotino fala muito sobre a matria ou, mais propriamente, sobre as formas materiais, mas nunca perdendo de vista a nica realidade, Deus ("alm do Ser, h o Uno" - Enade - V,l). A matria conhecida por meio das ideias que so formadas em ns mediante a sensao, a percepo e o pensamento; sendo assim, antecipando tanto Hume, como os idealistas do sculo XIX, tem-se a impresso de que Plotino considerava a matria como um feixe de ideias. intuio que Plotino dedica toda a sua ateno, pois a intuio o fundamento do raciocnio metafsico; o degrau que o eleva at o Uno. Plotino, como de resto a escola neo-platnica, faz da faculdade intuitiva a fonte da certeza ltima e definitiva. Tal faculdade se encontra, em estado adormecido, em todos os homens, embora certas raas, como os africanos, por causas geogrficas e culturais, tenham-na desenvolvido mais do que outras por exemplo, a raa branca, que permanecendo em contnuas fases de conquistas e em situaes culturais evoluentes, desenvolvem sobretudo a razo. Para Plotino e os neo-platnicos, desenvolver a intuio espiritual constituise na mais importante tarefa de um homem, pois pela intuio que ele vislumbra a verdadeira natureza e essncia do universo, que Deus.Com eleito, "intuir" no se constitui numa continuao dos dados dos sentidos ou do intelecto; "intuir" no o ponto mais alto do entender ou do sentir. Pela intuio inicia-se no homem um processo de vislumbre e um correspondente entendimento interior pelo qual o homem no "chega" at a verdade. Poderamos dizer que se o sentir e o entender so algo realizado diretamente Pelas faculdades do homem, intuir algo realizado diretamente no interior do homem. O homem no pode intuir todas as vezes que quiser: a intuio no 33

depende de seu poder de vontade; pelo contrrio, o resultado de uma extrema passividade tanto dos sentidos quanto da inteligncia; nesse momento que a alma, isto , o "segmento divino", vem, por assim dizer, tona, e fala de um modo sinttico, mas real, fazendo com que o homem entenda, vislumbre, intua a verdade. De acordo com a filosofia de Plotino e dos neo-platnicos, a Divindade est no homem por intermdio da alma. Intuio a percepo do conhecimento que a Divindade tem de si mesma. Do mesmo modo, Deus que se revela ao homem pela intuio; com efeito, o homem no percebe a Deus pelos sentidos, nem o entende pelo intelecto. Dele nada sabemos, a no ser que existe, ou melhor, que ; que " est" como Deus. Os filsofos cristos usam da analogia, mas esta no passa de suposio fantasiosa. Alis, deve-se entender claramente que qualquer definio ou qualificao O limitaria, e por isso no seria mais Deus. Podemos dizer ser Ele o Uno, no sentido de nica realidade. Desse Uno emana o MundoRazo, que corresponde s Ideias de Plato, as quais so os modelos formativos que constituem e regem todas as coisas e so, por assim dizer, os pensamentos de Deus, como que a Razo ("Nous") no Uno. Esses pensamentos de Deus, ou Ideias ("Nous"), so a nica, verdadeira e duradoura realidade que assume (realizando-as) as mltiplas e passageiras formas dos corpos dos homens, dos animais e dos vegetais. Mas no so o Uno e a Razo que criam o universo, pois esta a funo da Fora Vital, ou Princpio vitalizante que, afinal, d-lhes a forma pr-determinada pela Razo. Fica assim definido tambm o conceito de Beleza, que no somente proporo e harmonia, como haviam escrito Plato e Aristteles, mas a expresso exterior da alma no interior das coisas (a predominncia da alma sobre o corpo). Assim, as artes realizam uma importante funo medinica, enquanto ajudam a alma a procurar na beleza das formas materiais ou humanas a Unidade divina que une todas as coisas em sublime e maravilhosa harmonia (Enade V,ll). E, pois, que a virtude o movimento ascencional da alma para Deus; assim, beleza e virtude se confundem numa nica operao. Encontramos, portanto, na filosofia de Plotino, elementos pitagricos, aristotlicos e esticos, mas sobretudo o ncleo central da doutrina de Plato, e sua viso do universo: Deus, o Demiurgo, a alma, o mundo dos homens, tudo na medida exata em que os dilogos no-los apresentam. Por exemplo, "O Banquete" encontra sua sinttica e mxima expresso na Enade - 111,5, a qual inicia dizendo: "O amor de Deus um gnio ou uma paixo da alma? Ou, melhor, no ser Deus, sob um aspecto; gnio, sob outro; e paixo, sob um terceiro aspecto? sobretudo a Plato que devemos nos reportar, por ser ele o nico que frequentemente escreveu sobre o amor".

Plato o mestre que Plotino estuda, embora no o siga literalmente, como quando, por exemplo, substitui as ideias subsistentes (de Plato) pelas ideias que tm sua realidade na Inteligncia. Alis, parece evidente que 34 Plotino se afasta da doutrina da filosofia grega, em quatro pontos. O primeiro ponto de que ele concebe o Uno como inacessvel tanto xperincia sensvel como a qualquer labor intelectual. O seGundo ponto que, pela impossibilidade humana, o Uno no pode ser nem aproximadamente descrito e nem mesmo descrito por meio de negaes, como, por exemplo, "o Uno no material", "o Uno no finito", "o Uno, princpio de todos os entes, um no-ente", etc. O terceiro ponto uma consequncia do primeiro e do segundo, a saber: se na tradio helnica, o ser se mostrava tanto mais perfeito quanto mais determinado (e, por consequncia, o infinito era sinnimo de nocompleteza, pois a ele se podia sempre acrescentar algo), na filosofia de Plotino, o verdadeiro Ser se torna, pela primeira vez, in-finito, isto c, no finito, no determinado, pois d'Ele que emanam as essncias finitas e os seres delimitados. E. finalmente, o quarto ponto que Plotino, preocupado com a salvao do indivduo, substituiu a filosofia grega pela filosofia vdica. Os filsofos greeos situavam a salvao do homem na tomada de conscincia da natureza humana, a fim de ser inserida num justo lugar no cosmos; enquanto que os filsofos hindus faziam consistir essa elevao no no fortalecimento da personalidade, mas na sua dissoluo no Nirvana. Teramos assim uma filosofia mstica em oposio a uma filosofia racionalista. A palavra "nirvana" no foi escrita por acaso. Realmente, depois de Plato, so as ideias vdicas que alimentaram a filosofia de Plotino. Essas ideias lhe chegaram atravs da escola de Alexandria, por intermdio de Antnio Sacca. As influncias orientais sobre a cultura grega existiam bem antes de Alexandre Magno (356-323 a.C.), unificar povos, culturas e pensamentos. Havia ligaes entre a Grcia, a sia Menor, a Mesopotmia, o Ir, a ndia e quase certamente, a China. De outra forma, como explicar a semelhana entre as tcnicas do bronze e da cermica e suas decoraes? Afinidades de raas e lnguas explicam melhor o parentesco dos deuses vdicos com os deuses gregos. Mais tarde, j no incio do Budismo, com Gautama (563-483 a.C), encontramos a metempsicose, que se encontra parimente na Grcia no mesmo perodo, nas doutrinas de Pitgoras. E assim, tanto na ndia como na Grcia, as pessoas esforavam-se por escapar ao ciclo das reencarnaes, com rituais de purificao da alma. O prprio Plotino seguiu o exrcito do Imperador Gordiano no s para

conhecer as filosofias da ndia, mas tambm para ser iniciado nesses mistrios. A mesma China viu aparecer uma srie de doutrinas filosficas e religiosas muito semelhantes s dos gregos. Por exemplo, o preceito de Scrates (470-399 a.C.) "conhece-te a ti mesmo" se encontra nos ensinamentos de Confcio (551-479 a.C). Tambm Mo-Tsen, no fim do V sculo a.C, 35 proclama, como fazem os Eleatas (cerca de 550-450 a.C.) a existncia de um nico Deus ao qual o universo e os homens esto submetidos, o qual odeia o mal e quer o bem. Parimente, Tchovang-Tsen, no IV sculo a.C, glorifica o Ser Primordial, invisvel, no conhecvel, inefvel, acima da vida e da morte, sem passado, presente e futuro, no habitando nenhum espao. Cerca de cem anos antes, os Eleatas, Pitgoras e os Heraclteos expressavam ideias semelhantes. E, por fim, sabemos que Plato, na sua velhice, havia-se aberto aos mitos da Prsia (provavelmente trazidos para a sia Menor e para a Grcia pelos Mazdestas), e s ideias vdicas do ascetismo hindu. Plotino, como tambm os ltimos pensadores alexandrinos ou atenienses, vivia num ambiente saturado de influncias diferentes: mitos orientais, ideias gnsticas, cristianismo, mazdesmo, mitriasmo (muito forte no exrcito romano), e ainda o paganismo, a velha religio de latinos e de romanos. Era impossvel para Plotino prescindir da influncia de todas essas ideias uma vez que a necessidade da salvao se tornava sempre mais premente num mundo de valores to conturbados. 7. INTRODUO FILOSOFIA DE PLOTINO Damos aqui os nomes dos filsofos que precederam diretamente Plotino, juntamente com suas ideias e as obras que eventualmente nos legaram.O primeiro deles Numrico. Clemente Alexandrino o primeiro que menciona o filsofo Numrico de Apameia (Sria), apelidado "o romano". Na escola de Plotino, fazia-se a leitura comentada dos textos desse filsofo. Constatando certas analogias entre a doutrina de Numrico e a doutrina de Plotino, os contemporneos acusaram este de "plgio". Os discpulos de Plotino, Amlio e Longino, defenderam-no de tais acusaes. Os alexandrinos estimavam sobremaneira Numrico, e os autores cristos de Alexandria o louvaram frequentemente por haver refutado Celso e por haver falado com justia tanto do cristianismo como do judasmo. Provavelmente tenha vivido na segunda metade do sculo II d.C. S possumos os ttulos (e alguns trechos) de algumas de suas obras , a saber: 1. "Sobre as doutrinas secretas de Plato"; 2. "Sobre a indestrutibilidade da alma"; 3. "Eppte" (um dilogo);

4. "Acerca do mito de Er, o Panflio" (uma explicao); 5. "Nmeros e Lugar". Na obra intitulada "Preparao evanglica", Eusbio nos conservou algumas passagens de um dilogo de Numrico "Sobre o Bem". Os dois primeiros livros acima demonstram, contra os Esticos e contra Epicuro, a existncia de realidades incorporais. O resto da obra expe, s vezes sob o nome de Plato (o Moiss tico), uma nova teologia. (Para no ter o mesmo 36 (1) "rei preguioso". fim de Scrates, Plato teve que dissimular constantemente o mais original de seu pensamento!). No mais alto grau do Ser, h (diz Numrico) um Deus incognoscvel, inefvel, perfeitamente simples e sem partes, fonte de toda a luz inteligvel, estranho ao mundo (matria), e sede dos Inteligveis (as Ideias). Debaixo dEle (que Plato chama de "s :basileus argos)(l), h um Demiurgo que "circula no cu'1 ( : di uran in), sem dvida idntico Alma do mundo. O primeiro Deus a Ideia, isto , o modelo do Demiurgo ao qual Ele (Deus) passa toda a sua luz para que possa cumprir o papel de Ordenador e Legislador. O primeiro considera o segundo como um servidor, e o segundo observa constantemente o primeiro "como um piloto observa as estrelas". Diante do Demiurgo est a matria eterna, ilimitada, em perptuo por-vir. Na alma humana existe o mesmo dualismo. Assim como o homem tem dois olhos e duas orelhas, tambm ele tem duas almas, uma racional ( :loguik), e a outra privada de razo (s : sensitiva). A matria, eterna e ilimitada, como Deus, o princpio do mal, assim como Deus o princpio do bem, havendo, por isso, no mundo uma infinidade de gnios e de demnios. No h originalidade nessa filosofia, pois em muito semelhante primeira Academia Platnica, a qual foi influenciada pelo dualismo iraniano. Podemos encontrar tambm na filosofia de Numrico algum parentesco com as doutrinas gnsticas e com as doutrinas orientais e judaicas de um Deus transcendente. Mas as pesquisas desses ltimos decnios nos provam que contatos filosficos eram frequentes naquelas pocas, e os filsofos antigos viam de bom grado que outros, mais novos, espalhassem suas ideias, mesmo sem citar seus nomes. Outro grande filsofo foi Amnio Saccas, considerado por Plotino o verdadeiro iniciador do "alexandrinismo", isto , do neo-platonismo. Amnio Saccas (carregador de sacos) era cristo, mas converteu-se ao paganismo. Foi mestre de Longino, de Orgenes e de Hernio. Plotino,

porm, foi o mais destacado dentre todos os seus discpulos. Era, sem dvida, um filsofo, alm de ser um asceta, um iniciado, um modelo de virtudes. O ambiente de Amnio era grego. Em sua escola, a maioria dos alunos eram pagos, mas havia tambm gnsticos, como Saturnil, e muitos cristos. 8. O UNO; O INTELECTO; A ALMA; A IDEIA CENTRAL DA FILOSOFIA DE PLOTINO A doutrina da unidade do Ser representa o motivo pelo qual Plotino ficar Para sempre lembrado na histria da filosofia; Unidade do Ser, ou doutrina 37 do Uno. A Escola filosfica de Elia j havia apresentado a unidade do Ser, porm, o Ser concebido por esta tinha um sentido igual e idntico tanto na causa como nos efeitos. Para Plotino, a unidade do ser tem outro sentido: o Ser possui a plenitude da essncia e da existncia em si mesma; mas na medida em que d'Ele emanam as realidades materiais da essncia do Ser, diminuem progressivamente tais realidades. Com isso, Ele no est perdendo algo; Ele est dando sempre menos algo de si. Poderamos, usando o exemplo da luz, dizer que, a partir de um centro gerador de luz, esta diminui de intensidade enquanto irradia pelo espao afora. Estamos prximos ideia de Plato e dos Esticos. De acordo com essa viso do Ser, Plotino acreditava que somente era sbio aquele que conseguia superar as formas aparentes surgidas pela disperso do Ser, e que com isso reencontrava a Unidade geradora de todas as formas, efmeras, materiais: tarefa possvel para quem percorre a srie de intermedirios escalonados entre a matria e o Uno em si mesmo. Quem realizar esta tarefa, ter a ideia de uma hierarquia de formas sempre mais perfeitas, as quais ligam a matria Divindade. Plato havia deixado entrever essa hierarquia quando falava do Bem Supremo, "o sol do mundo inteligvel", "o mundo das Ideias", em oposio ao "mundo sensvel", que constitui a matria em perptuo porvir, e, por isso, princpio de desordem. Nesse sentido, Plotino platnico. E tambm aristotlico, quase-discpulo de um Aristteles que props o "motor-imvel", isto , o Princpio que, embora no sendo movido por ningum, d incio a tudo o que se move: minerais, vegetais, animais, homens e os astros inteligentes e divinos. Tambm no deixa de ser um pouco estico, com a ideia do "fogo de Zeus", isto , a vida que se torna presente em todos os seres. E, finalmente, tambm gnstico, pelo menos em sua interpretao de "emanao": toda uma srie hierarquizada de deuses e "cones" que emanam do Uno.

Foram sobretudo as doutrinas gnsticas que o ajudaram a perceber a presena da Divindade tanto na matria orgnica como na matria inorgnica, de forma que a essncia da Divindade est igualmente em tudo, embora num grau diferente de existncia. Por tudo isso, certamente real, na filosofia de Plotino, a influncia de Plato, de Aristteles, dos esticos e dos gnsticos. Admitida a presena da divindade em tudo o que existe, as primeiras perguntas que Plotino faz a si mesmo so como e onde encontrar a essncia 38 do Lino, de Deus, ao que responde: h dois caminhos; o primeiro, pela contemplao da Natureza, isto , "saindo fora" de ns; o segundo, quando, "entrando dentro" de ns, e esquecendo o mundo l fora, procurando enxercar, "com o olho interior da alma", o Ser que est em ns, que d sustentao ao nosso mundo material e psquico. Com efeito, diz Plotino, somos um "segmento" (no importa quo distante, pois espao e tempo no existem) do Ser Universal. Plotino usa esses dois mtodos para estabelecer a meditaocontemplao interior que desabrochar na intuio, o suporte para a racionalizao de seu pensamento. Contemplando as formas'materiais do mundo sensvel, o filsofo se eleva at o Intelecto Universal e, deste, ao Uno, a Deus. Por outro lado, a contemplao interior proporciona a Unio mstica do filsofo com o seu Deus, pois d'Ele emana e a Ele est unido j que ambos existem devido ao ser. O ponto de partida da filosofia de Plotino a Unidade do Ser, e como tudo o que , e que vive, parte do Ser, temos a "Unidade de tudo", noutras palavras: "O Uno". "O Uno , escreve Plotino, todas as coisas, sem ser exclusivamente nenhuma delas; o Uno est alm do Ser (particular) e de qualquer outra categoria". Para os leitores preocupados em detectar o conceito de pantesmo em Plotino, poderamos dizer, parafraseando o filsofo: o Uno todas as coisas, quanto essncia (hoje, por influncia da fsica moderna, diramos "quanto energia"), pois axioma filosfico que do nada vem nada; todavia, evidente que o Uno no nenhuma das coisas, j que a existncia do Uno eterna e permanente, e a existncia das coisas, transitria. Logo, o Uno no pode ser conhecido, e quando Plotino diz que n'Ele h trs "hipstases" (realidades, substncias, fundamentos, pessoas, aparncias), que so o Uno, o Intelecto e a Alma, na realidade, usa essas trs distines nica e exclusivamente para facilitar o entendimento humano Plotino sabe t afirma que n'Ele, no Uno, no h separao, mas pura unidade.

O Uno est presente no Intelecto, e o Intelecto est presente na Alma, e a Alma est presente na matria. Assim, devido a essa hierarquia, a matria est no Ser do Uno, embora, teoricamente, haja uma asceno da matria at ' Alma, at o Intelecto, at o Uno ou seja, da multiplicidade, numrica e quantitativa, para a Unidade, que representa a Unidade (talvez hoje fosse melhor acrescentar: "energtica") nica e eterna. Pelas razes supra-mencionadas, podemos falar (do ponto de vista do entendimento humano e dentro de uma distino puramente lgica) de um 39 movimento de descida, definida como emanao, e de um movimento de subida, ou retorno. Claro que, ontologicamente, no h descida nem subida.! No nico modo de ser do Uno h operaes, ou movimentos (para usar de palavras humanas, j que nos faltam palavras ontologicamente tcnicas) sem que, evidentemente, isso inclua potencialidade, pois que no Uno h o eterno presente, o eterno real e nessa Unidade de substncia (ou energia), tudo aquilo que possvel, somente possvel como forma ou aspecto transitrio de algo j essencialmente real, de modo que no se pode, em nenhuma hiptese, falar em potencialidade. Assim, fica comprovado que no, Uno no h tempo, nem espao, nem mudanas reais, j que no h sucesso 1 de eventos, pois no Uno tudo aquilo que . Nesta linha de pensamento, entende-se a frase de Plotino: "Quando nossa viso interior (nossa intuio) tiver penetrado o vu das aparncias, no encontrar outra coisa que no o Ser", isto , a Existncia, que inclui todas as vidas passadas, presentes e futuras, a Existncia eterna, que inclui, numa nica Energia, toda a multiplicidade dos seres. Plotino retoma a analogia de Pitgoras: como a unidade precede todos os nmeros, que so apenas desdobramentos dela, assim a substncia (Energia) eterna e universal precede todos os segmentos que dela derivam: " por causa do Uno (isto , a Unidade substancial ou energtica) que todos os demais seres so seres ( ), isto , que todos os demais existentes existem. A partir dessas consideraes, Plotino entende que o Uno no pensa, j que pensar introduzir em ns a ideia de um objeto que "no ns" (s). Nem mesmo o Uno pode pensar si mesmo, porque, se Ele pensasse a si mesmo, introduziria uma imagem de si em si Evidentemente, Plotino aqui entende o processo de pensar como processo humano; o que h no Uno, ns o desconhecemos. Por isso, conclui Plotino, o Uno est acima e aqum do conhecimento (isto , do processo de conhecimento entendido por ns, homens).

Sempre na mesma linha de pensamento, Plotino afirma que o Uno no tem conscincia, pois, pelo fato de Ele ser somente o que , no pode refletir sobre seu pensamento, j que nenhuma outra situao diferente d'Ele O pode atingir, pelo simples fato de que no pode existir uma outra situao. Conscincia sempre conscincia de algo, e mesmo quando conscincia de si, sempre conscincia de alguma imagem de si. A consequncia disso, diz Plotino, que o Uno no pode ter intenes ou vontades, o que suporia a existncia de algo fora d'Ele, capaz de determin-lo; mas por ser Ele a nica Unidade, tudo o que existe uma emanao d'Ele e, portanto, tem n'Ele a sua realidade substancial. Assim, o Uno no est no homem, uma vez que Ele O homem: no o homem enquanto fenmeno humano, transeunte, que comea a existir num determinado momento e morre num outro momento, mas o homem enquanto expresso real e atual da substncia universal, ou Energia universal. 40 Somente concebido assim, o Uno causa (), fora primeira ( ), fora de todas as causas ( ), o Bem () continuando, porm, a ser atividade, isto , a emanar, embora "sm que nada saia d'Ele". Esta ideia constantemente afirmada por Plotino: nada sai, nem flui d'Ele: como um lampejo que torna as coisas visveis (e, portanto, reais, numa noite escura), sem todavia que a fonte perca energia. Torna-se, portanto, evidente que, para Plotino, s existe uma nica substncia, que eterna, porque est aqum de qualquer comeo e fica alm de qualquer fim; e infinita, pois no h nada fora dela, e nela tudo est contido, porque ela tudo no no sentido de que ela a soma de tudo, mas no sentido de que ela nica. difcil dizer o que Plotino entendia por "substncia". Em lngua latina, essa palavra composta por outras duas: "sub", "por baixo de" e "stans", ''aquilo que est". Uma vez unidas, temos "substncia", que significa "aquilo que est por baixo" (daquilo que se v, que se toca, das aparncias sensveis). Talvez se Plotino vivesse hoje, tomaria emprestado de Einstein a palavra "energia", que vem do grego, e significa fora. Nesse caso, "substncia" poderia ser interpretada como "a fora que faz subsistir as formas aparentes dos seres criados". A palavra "Uno" a personificao (se que esse termo seja apropriado) dessa Fora Vital nica. Portanto, quando Plolino fala em emanao, no entende a "produo de algo", como poderia ser, num sentido humano, ou seja, a "reorganizao de elementos pr-existentes"; tampouco entende a "criao" no sentido cristo ("ex nihilo sui et subiecti"), primeiro, porque fora do Uno no existe nada; segundo, porque ele sabia que do nada vem nada! Por "emanao" Plotino entendia quase que "prolongamento" ou "expanso" do Uno. Claro que prolongamento e expanso no so a ideia

completa; Plotino sabia disso. Portanto, recorre aos exemplos: os raios de luz, os quais medida que se afastam do centro luminoso se tornam mais fracos, sem todavia diminuir a fonte de luz; o perfume que uma flor emana, o qual se torna sempre mais fraco medida que a flor for afastada... Uo mesmo modo. diz Plotino, as emanaes diminuem e se degradam medida que se afastam do Uno; logo, num momento pode no haver mais luz, comente escurido ... mas, cuidado! , pois essa escurido est ainda no Uno. O ltimo lampejo antes da escurido apenas a ltima forma de emanao do Uno, dentro do Uno. Como pode perceber o leitor, Plotino tinha perfeita conscincia de estar trabalhando na esteira da intuio, a qual carece de qualquer instrumento, de qualquer dado, da lgica humana; na qual faltam, portanto, as palavras adequadas aos smbolos, pois no temos palavras metafsicas para smbolos metafsicos. 40 Todavia, alm da dificuldade de uma adequada forma de expresso, o leitor entende que Plotino nos apresenta uma espcie de hierarquia: o Uno; O Intelecto; a Alma; o Mundo Material (a ltima emanao do Uno antes de chegar "escurido"). O Uno, o Intelecto e a Alma so chamados de "hipstase", e formam a trindade do mundo inteligvel, enquanto que os seres materiais formam o mundo sensvel. Quando analisamos o conceito plotiniano de Intelecto, encontramos tanto ideias platnicas como gnsticas. A ideia platnica seria: o mundo do inteligvel que encerra e contm os modelos de todos os seres reais e possveis, tanto na terra como no cu; modelos subtrados ao nascimento e morte, e portanto, isentos de qualquer imperfeio. A lembrana gnstica seria: essas ideias inteligveis so o modo de ser de um Intelecto perfeito do qual a universalidade das ideias forma um todo perfeitamente harmonioso; c por estarem as ideias fora do espao e do tempo, esto todas simultaneamente unidas, embora uma ideia no seja a outra. Todavia, esses elementos platnicos e gnsticos so expressados numa forma tpica; e essa forma tpica que representa o peculiar cunho plotiniano, a saber: esse mundo inteligvel uma comunidade de espritos, de anjos, de gnios, de astros, de homens (enquanto possuem o intelecto) que formam uma "comunidade de inteligncias" unidas entre si, porm espalhadas por todo o universo. por isso que esta "comunidade de inteligncias" representa, simboliza e significa o Uno ao qual est ligada, por ser expresso e emanao d'Ele (mediante o Intelecto), sem, todavia, haver fuso alguma, pois essa "comunidade de Inteligncias" emanao do Uno e no o Uno. evidente que podemos encontrar aqui duas influncias: a primeira, de Aristteles, que apresentou a Divindade como o Princpio imvel que tudo move, e a influncia dos gnsticos, que consideram os seres, como outras

tantas manifestaes da Divindade, a qual considerada o Ser Pleno (o Ser Total) eminentemente ativo. evidente que Plotino tem mais afinidade com a segunda interpretao. Por isso, embora entendendo que o Intelecto seja repouso (ideia aristotlica), porque, por possuir em si tudo aquilo que inteligvel, no tem necessidade de busc-lo fora de si; todavia, ele que "arruma" a "comunidade de inteligncias". Por isso, embora sendo "repouso" (porque est-em-si), o Intelecto tem uma "atividade perptua" (s), da qual tambm participa o homem, pelo fato de possuir vida intelectual, o que o torna capacitado para compartilhar com o mundo dos inteligveis, isto , com o mundo dos espritos. Nunca esqueamos, diz Plotino, que o intelecto do homem um "segmento" do Intelecto universal. Depois de termos analisado o conceito de intelecto, passaremos a analisar o conceito de Alma. A Alma , para Plotino, o princpio de movimento e de vida. Isso faz com qUc existam almas em todos os seres, uma vez que a alma o princpio de organizao (bio-fsico-qumica) de um ser, seja ele vegetal, animal ou humano. Sendo assim, h vrios tipos de alma: a alma que princpio de organizao e movimento; a alma que faz sentir o prazer e a dor; a alma que o princpio da reproduo, etc. H tambm a alma do nosso mundo, assim como uma alma para cada astro, dando-lhe forma e vida. Plotino considera a alma sempre ligada a um corpo presidindo sua evoluo. Por estar sempre ligada a um corpo, isto , matria, a alma no fica imune de impurezas e desordens; nesse sentido, a alma est envolta por aquilo que vulgarmente chamamos de "mal". Aristteles tambm considerava a alma como princpio normalizador das mudana orgnicas; c os rficos e os pitagricos apresentavam a alma como uma prisioneira do corpo, depois da sua queda, na origem dos tempos. Para Plotino, no havia "queda", evidentemente, e sim emanao; o que faz com que a ideia de impureza no seja total. Por outro lado, Plotino considera a alma como sendo estritamente ligada ao Intelecto, e no abandonada a si mesma, como