1
24 | Salvador, sábado, 28 de novembro de 2009 CORREIO Vida * [email protected] O pulso pop ainda pulsa Morando na Bahia há dez anos, com produtora e estúdio em Barra do Jacuípe, o cantor Guillherme Arantes, 56, diz que não tem mais a vaidade de estar nas paradas de sucesso, se aproxima das novas bandas pop de Salvador e critica o conservadorismo da axé music Perfil Guilherme Arantes Cara e coragem baianas EVANDRO VEIGA Guilherme Arantes, 56 anos, continua dando vida ao seu inseparável companheiro, o piano, instrumento no qual compôs clássicos pop como ‘Meu mundo e nada mais’ e ‘Amanhã’ Há dez anos na Bahia, Guilherme Arantes flerta com o novo pop local Ivan Dias Marques [email protected] O sotaque paulistano ainda é carregado. As opiniões, que sempre foram fortes, também não mudaram. A fisionomia alterou-se com o tempo, mas o cantor e compositor Gui- lherme Arantes, 56, não tem o que se queixar da vida que leva na Bahia. Num condomínio em Barra do Jacuípe, Lauro de Freitas, onde recebeu o CORREIO, ele comanda o estúdio, produtora e pousada Coaxo do Sapo, on- de produz discos e artistas, sempre com os cinco filhos (Pedro, Gabriel, Thiago, Ma- rietta - recém chegada de São Paulo - e Paola) por perto. “Isso só podia acontecer aqui na Bahia, porque se fosse em outro lugar não poderia ser assim de forma tão energética. A gente veio pra cá em busca de um sonho”, diz o autor de clássicos pop da música brasi- leira como Amanhã, Planeta água e Lindo balão azul. DIFERENTE Faz uma década que Guilherme Arantes resol- veu morar no estado, em Vilas do Atlântico, e tocar o Coaxo do Sapo e a ONG Instituto Pla- neta Água (www.planetaa- gua.net), que auxilia na pre- servação ambiental da região da margem direita do Rio Ja- cuípe. Com o título de eleitor transferido para cá recente- mente, o cantor e compositor relembra os motivos que o trouxeram para o estado. “Es- sa fórmula, de morar em São Paulo ou no Rio, cansou. Aí eu pensei em sair fora e a Bahia apareceu como um sonho an- tigo, de ir para um lugar real- mente diferente”, diz. O músico conta que preci- sava ampliar as amizades e a carreira, que, para ele, no final da década de 90, estava mo- nótona. Curiosamente, o car- ro onde estava num dia que- brou próximo ao Rio Jacuípe e Guilherme viu o anoitecer no local. “Me apaixonei por esse lugar”, garante. Para ele, ainda contribuí- ram para o estabelecimento na região o crescimento eco- nômico da Bahia na época e a possibilidade de seus filhos serem criados num lugar de maior diversidade étnica. CARREIRA O momento atual da carreira de Guilherme é, segundo ele, de manutenção. “Toco pelo prazer e para bus- car um troco também que é a minha sobrevivência. Mas não tenho vaidade de estar na parada do sucesso”, afirma. Diz que lança discos quando quer (o último foi Ló- tus,de2007),quenãoécobra- do por isso e critica aqueles que acham que os artistas fora do grande mercado estão ul- trapassados: “Temos o direito de ficar velho e de voltar ao os- tracismo”. No Coaxo do Sapo, Guilher- me fez da área verde um local para a produção de música. Foi tudo projetado por ele, A Bahia acaba aceitando aquilo que o Sudeste impõe para rebaixar a cultura local GUILHERME ARANTES, 56, cantor e compositor

Cara e Coragem Baianas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Matéria do Correio da Bahia - Novembro 2009

Citation preview

Page 1: Cara e Coragem Baianas

24 | Salvador, sábado, 28 de novembro de 2009CORREIO

Vida*[email protected]

O pulso pop ainda pulsaMorando na Bahia há dez anos,com produtora e estúdio em Barrado Jacuípe, o cantor GuillhermeArantes, 56, diz que não tem mais avaidade de estar nas paradas desucesso, se aproxima das novasbandas pop de Salvador e critica oconservadorismo da axé music

Perfil Guilherme Arantes

Cara e coragem baianas

EVANDRO VEIGA

Guilherme Arantes, 56 anos, continua dando vida ao seu inseparável companheiro, o piano, instrumento no qual compôs clássicos pop como ‘Meu mundo e nada mais’ e ‘Amanhã’

Há dez anos naBahia, GuilhermeArantes flerta como novo pop localIvan Dias Marques

[email protected]

O sotaque paulistano aindaé carregado. As opiniões, quesempre foram fortes, tambémnão mudaram. A fisionomiaalterou-se com o tempo, maso cantor e compositor Gui-lherme Arantes, 56, não tem oque se queixar da vida que levana Bahia.

Num condomínio em Barrado Jacuípe, Lauro de Freitas,onde recebeu o CORREIO, elecomandaoestúdio,produtorae pousada Coaxo do Sapo, on-

de produz discos e artistas,sempre com os cinco filhos(Pedro, Gabriel, Thiago, Ma-rietta - recém chegada de SãoPaulo - e Paola) por perto.

“Isso só podia aconteceraqui na Bahia, porque se fosseem outro lugar não poderia serassimdeformatãoenergética.A gente veio pra cá em buscade um sonho”, diz o autor declássicos pop da música brasi-leira como Amanhã, Planetaágua e Lindo balão azul.

DIFERENTE Faz uma décadaque Guilherme Arantes resol-veu morar no estado, em Vilasdo Atlântico, e tocar o Coaxodo Sapo e a ONG Instituto Pla-neta Água (www.planetaa-gua.net), que auxilia na pre-servação ambiental da regiãoda margem direita do Rio Ja-cuípe.

Com o título de eleitortransferido para cá recente-mente, o cantor e compositorrelembra os motivos que otrouxeram para o estado. “Es-sa fórmula, de morar em SãoPaulo ou no Rio, cansou. Aí eupensei em sair fora e a Bahiaapareceu como um sonho an-tigo, de ir para um lugar real-mente diferente”, diz.

O músico conta que preci-sava ampliar as amizades e acarreira,que,paraele,nofinalda década de 90, estava mo-nótona. Curiosamente, o car-ro onde estava num dia que-brou próximo ao Rio Jacuípe eGuilherme viu o anoitecer nolocal. “Me apaixonei por esselugar”, garante.

Para ele, ainda contribuí-ram para o estabelecimentona região o crescimento eco-nômico da Bahia na época e a

possibilidade de seus filhosserem criados num lugar demaior diversidade étnica.

CARREIRA O momento atualda carreira de Guilherme é,segundo ele, de manutenção.“Toco pelo prazer e para bus-car um troco também que é aminha sobrevivência. Masnão tenho vaidade de estar naparada do sucesso”, afirma.

Diz que só lança discosquando quer (o último foi Ló-tus,de2007),quenãoécobra-do por isso e critica aquelesque acham que os artistas forado grande mercado estão ul-trapassados: “Temos o direitodeficarvelhoedevoltaraoos-tracismo”.

NoCoaxodoSapo,Guilher-me fez da área verde um localpara a produção de música.Foi tudo projetado por ele,

A Bahia acabaaceitando aquiloque o Sudesteimpõe pararebaixar acultura localGUILHERME ARANTES, 56,cantor e compositor