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Carta aos estudantes da FAU sobre a posição da Diretoria em relação aos piquetes Esta carta vem esclarecer aos estudantes da FAU o piquete realizado nas Diretorias da USP no dia 2 de setembro, inclusive da FAU que teve como consequência um Boletim de Ocorrência e possibilidade de culpabilização de alguns estudantes. No Conselho Universitário do dia 26/08, mesmo após ter sido votado o adiamento de pauta da desvinculação dos hospitais universitários, o reitor Zago colocou em votação a desvinculação do HRAC, cujo resultado foi favorável à desvinculação. Ignorando as discussões dentro da comunidade FAU e também da Congregação, a Diretoria se colocou favoravelmente à posição do reitor. Esse posicionamento é possibilitado em regulamentações de seu cargo. No entanto, demonstra seu alinhamento às políticas da reitoria. Com a intenção de pressionar os diretores a escutar a posição das categorias de suas unidades, além de demonstrar repúdio ao alinhamento às posições autoritarias da reitoria, a Assembléia Geral dos Estudantes da USP deliberou a realização de piquetes nas diretorias cujos diretores haviam votado a favor da desvinculação do HRAC. A Assembleia dos Estudantes da FAU integrou-se aos piquetes das diretorias e posicionou-se ainda em repúdio à ação do diretor desta unidade em carta aberta que foi distribuída a funcionários, docentes e estudantes durante o piquete. Sendo assim, o comando de greve dos estudantes, na terça-feira 02 de Setembro de 2014, executou os piquetes nas diretorias da FAU, FFLCH, ECA e Biologia. No mesmo dia, durante o almoço, soubemos que foi emitido um Boletim de Ocorrência em relação ao ocorrido na FAU. Ele usava como argumentos: “atentado ao direito de ir e vir” e “danos materiais”. Depois, à tarde, dois oficiais da Polícia Científica vieram à FAU averiguar o ocorrido. Conversando com funcionários, soubemos que existe a possibilidade de que alguns estudantes da FAU sejam penalizados individualmente pelo piquete. O piquete representa para os estudantes uma manifestação política que, com bloqueio temporário e simbólico de atividades cotidianas, rompem com a normalidade e buscam chamar a atenção para a gravidade da atual situação da Universidade. De maneira nenhuma o piquete é uma ameaça à integridade fisica dos móveis e ,menos ainda dos diretores e servidores da USP. No caso da FAU houve conversa com todos os funcionários afetados, para conversar e esclarecer a posição tomada o máximo possível. Em carta aberta à Comunidade FAU, a Diretoria se posicionou em repúdio ao que dizem ser “atos de violência e coerção”, dizendo que os piquetes ferem um direito constitucional e afirmando que sempre mantiveram o diálogo em aberto, buscando constituir o momento enquanto momento de reflexão sem ameaças ou violências. O piquete é um instrumento de pressão política utilizado em greves, sendo historicamente pautado nas Universidades pelas categorias de estudantes e trabalhadores. Instrumentos de pressão são utilizados pelos movimentos justamente quando há ausência de diálogo pelas partes que estão no poder. Nesse sentido, é preciso ressaltar que a forma pelo qual a Diretoria da FAU estrutura a sua argumentação aliena a sua real posição de poder: pelas formas hierárquicas, mantidas através de relações de trocas entre seus membros, as Diretorias se constituem muito mais próximas à reitoria do que as suas próprias unidades ou institutos. Dentre outros poderes, constituem parte significativa do Conselho Universitário. Em geral, o discurso da diretoria gira em torno de um viés moralista, que pode surtir efeito, caso não sejam considerados para a análise crítica da realidade os agentes políticos e econômicos com seus respectivos projetos para a Universidade. A violência expressa por um piquete é apenas simbólica. A violência dos que deliberam pelos seus interesses em detrimento das posições do coletivo é a violência da opressão. Constitui a negação dos indivíduos enquanto sujeitos políticos e sobrepõem interesses individualistas aos do coletivo. Além disso, a Diretoria apela para uma fragilidade da categoria dos estudantes: a dificuldade em não deixar que a História da sua organização política e da Universidade seja apagada. Sendo o conhecimento da História de sua escola obtido principalmente através de conversas dentro e fora dos espaços coletivos, a rotatividade estudantil na Universidade, dentre outros fatores, favorece a desconstrução dos processos que se deram ao longo do tempo. Isso tanto para alertar sobre o termo “escalada de violência”: os estudantes da USP sempre os utilizaram, os da FAU, em específico, até mais do que utilizam hoje. E, também, para alertar quanto à suposta “abertura ao diálogo”que atual Diretoria tem pautado. A verdade é que tanto a sua posição na atual greve geral, como durante todo o processo da Reforma da Cobertura da FAU, a Diretoria da FAU se mostrou intransigente- isso sem mencionar ações de Diretorias anteriores. O discurso de quem está no poder se pauta na legalidade exceto quando a própria Lei não lhe convém. Para a Lei que vai contra seus interesses, usam a distorção. Em carta aberta, a Associação de Juizes para a Democracia garante: “Deflagrada a greve, com respeito às formalidades legais, compete à entidade empregadora manter diálogo direto, aberto e de boa-fé com os trabalhadores e não valer-se da via judicial para abafar o conflito e negar aos trabalhadores o direito à ação política.”. E ainda reafirma: “O direito ao piquete é assegurado aos trabalhadores (art. 6º. da Lei n. 7.783/89) e mesmo diante das restrições do texto legal (§ 3º.) o que se tem é um conflito de direitos, sendo certo, de todo modo, que no Direito do Trabalho a lógica coletiva supera a individual.” No que se diz respeito ao diálogo, estudantes e trabalhadores se colocam à disposição desde o início da greve e tentam, inclusive pelas vias institucionais, se posicionar e dialogar com aqueles que detém o poder. Na reunião do C.U. de 26 de Agosto, o reitor se negou a ouvir o que diziam os representantes discentes e representantes dos trabalhadores dizendo que “poderia consultar a plenária, mas não iria”. Posterior a essa reunião, o diretor Marcelo Romero, ao seu voto favorável à desvinculação do HRAC, disse que quem deve se manter no posicionamento da Congregação é o membro da Congregação presente no C.U., mas que ele não é obrigado a votar conforme o que foi decidido pela sua Unidade na Congregação. O ato de violência real tem sido feito por parte da reitoria e das diretorias que cortam os pontos de funcionários -deixando-os sem salário para colocar comida na mesa-, que “incentivam” funcionários à uma demissão que livra a Universidade de suas obrigações trabalhistas e que chamam a PM para reprimir a manifestação política dentro da própria Universidade, ferindo todos os princípios que deveriam nortear o livre pensamento. A Diretoria da FAU em nenhum momento se colocou contra a essas ações. O direito a ser defendido é o direito de sobrevivência, que é cortado dos trabalhadores junto aos seus salários. É o direito à educação pública, que vem sendo trucidado pelo projeto de desmonte da universidade pública. Diálogo não é feito pela mediação de agentes judiciais. Diálogo não é feito com a criminalização e intimidação daqueles que se manifestam politicamente. Comando de Mobilização da FAU setembro de 2014

Carta aos estudantes da fau

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sobre a posição da diretoria da FAU em relação ao piquete do ME em sua porta

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Carta aos estudantes da FAUsobre a posição da Diretoria em relação aos piquetesEsta carta vem esclarecer aos estudantes da FAU o piquete realizado nas Diretorias da USP no dia 2 de setembro, inclusive da FAU que teve como consequência um Boletim de Ocorrência e possibilidade de culpabilização de alguns estudantes.

No Conselho Universitário do dia 26/08, mesmo após ter sido votado o adiamento de pauta da desvinculação dos hospitais universitários, o reitor Zago colocou em votação a desvinculação do HRAC, cujo resultado foi favorável à desvinculação. Ignorando as discussões dentro da comunidade FAU e também da Congregação, a Diretoria se colocou favoravelmente à posição do reitor. Esse posicionamento é possibilitado em regulamentações de seu cargo. No entanto, demonstra seu alinhamento às políticas da reitoria.

Com a intenção de pressionar os diretores a escutar a posição das categorias de suas unidades, além de demonstrar repúdio ao alinhamento às posições autoritarias da reitoria, a Assembléia Geral dos Estudantes da USP deliberou a realização de piquetes nas diretorias cujos diretores haviam votado a favor da desvinculação do HRAC. A Assembleia dos Estudantes da FAU integrou-se aos piquetes das diretorias e posicionou-se ainda em repúdio à ação do diretor desta unidade em carta aberta que foi distribuída a funcionários, docentes e estudantes durante o piquete. Sendo assim, o comando de greve dos estudantes, na terça-feira 02 de Setembro de 2014, executou os piquetes nas diretorias da FAU, FFLCH, ECA e Biologia.

No mesmo dia, durante o almoço, soubemos que foi emitido um Boletim de Ocorrência em relação ao ocorrido na FAU. Ele usava como argumentos: “atentado ao direito de ir e vir” e “danos materiais”. Depois, à tarde, dois oficiais da Polícia Científica vieram à FAU averiguar o ocorrido. Conversando com funcionários, soubemos que existe a possibilidade de que alguns estudantes da FAU sejam penalizados individualmente pelo piquete.

O piquete representa para os estudantes uma manifestação política que, com bloqueio temporário e simbólico de atividades cotidianas, rompem com a normalidade e buscam chamar a atenção para a gravidade da atual situação da Universidade. De maneira nenhuma o piquete é uma ameaça à integridade fisica dos móveis e ,menos ainda dos diretores e servidores da USP. No caso da FAU houve conversa com todos os funcionários afetados, para conversar e esclarecer a posição tomada o máximo possível.

Em carta aberta à Comunidade FAU, a Diretoria se posicionou em repúdio ao que dizem ser “atos de violência e coerção”,

dizendo que os piquetes ferem um direito constitucional e afirmando que sempre mantiveram o diálogo em aberto, buscando constituir o momento enquanto momento de reflexão sem ameaças ou violências.

O piquete é um instrumento de pressão política utilizado em greves, sendo historicamente pautado nas Universidades pelas categorias de estudantes e trabalhadores. Instrumentos de pressão são utilizados pelos movimentos justamente quando há ausência de diálogo pelas partes que estão no poder.

Nesse sentido, é preciso ressaltar que a forma pelo qual a Diretoria da FAU estrutura a sua argumentação aliena a sua real posição de poder: pelas formas hierárquicas, mantidas através de relações de trocas entre seus membros, as Diretorias se constituem muito mais próximas à reitoria do que as suas próprias unidades ou institutos. Dentre outros poderes, constituem parte significativa do Conselho Universitário.

Em geral, o discurso da diretoria gira em torno de um viés moralista, que pode surtir efeito, caso não sejam considerados para a análise crítica da realidade os agentes políticos e econômicos com seus respectivos projetos para a Universidade. A violência expressa por um piquete é apenas simbólica. A violência dos que deliberam pelos seus interesses em detrimento das posições do coletivo é a violência da opressão. Constitui a negação dos indivíduos enquanto sujeitos políticos e sobrepõem interesses individualistas aos do coletivo.

Além disso, a Diretoria apela para uma fragilidade da categoria dos estudantes: a dificuldade em não deixar que a História da sua organização política e da Universidade seja apagada. Sendo o conhecimento da História de sua escola obtido principalmente através de conversas dentro e fora dos espaços coletivos, a rotatividade estudantil na Universidade, dentre outros fatores, favorece a desconstrução dos processos que se deram ao longo do tempo.

Isso tanto para alertar sobre o termo “escalada de violência”: os estudantes da USP sempre os utilizaram, os da FAU, em específico, até mais do que utilizam hoje. E, também, para alertar quanto à suposta “abertura ao diálogo”que atual Diretoria tem pautado. A verdade é que tanto a sua posição na atual greve geral, como durante todo o processo da Reforma da Cobertura da FAU, a Diretoria da FAU se mostrou intransigente- isso sem mencionar ações de Diretorias anteriores.

O discurso de quem está no poder se pauta na legalidade exceto quando a própria Lei não lhe convém. Para a Lei que vai contra seus interesses, usam a distorção. Em carta aberta, a

Associação de Juizes para a Democracia garante: “Deflagrada a greve, com respeito às formalidades legais, compete à entidade empregadora manter diálogo direto, aberto e de boa-fé com os trabalhadores e não valer-se da via judicial para abafar o conflito e negar aos trabalhadores o direito à ação política.”. E ainda reafirma: “O direito ao piquete é assegurado aos trabalhadores (art. 6º. da Lei n. 7.783/89) e mesmo diante das restrições do texto legal (§ 3º.) o que se tem é um conflito de direitos, sendo certo, de todo modo, que no Direito do Trabalho a lógica coletiva supera a individual.”

No que se diz respeito ao diálogo, estudantes e trabalhadores se colocam à disposição desde o início da greve e tentam, inclusive pelas vias institucionais, se posicionar e dialogar com aqueles que detém o poder. Na reunião do C.U. de 26 de Agosto, o reitor se negou a ouvir o que diziam os representantes discentes e representantes dos trabalhadores dizendo que “poderia consultar a plenária, mas não iria”. Posterior a essa reunião, o diretor Marcelo Romero, ao seu voto favorável à desvinculação do HRAC, disse que quem deve se manter no posicionamento da Congregação é o membro da Congregação presente no C.U., mas que ele não é obrigado a votar conforme o que foi decidido pela sua Unidade na Congregação.

O ato de violência real tem sido feito por parte da reitoria e das diretorias que cortam os pontos de funcionários -deixando-os sem salário para colocar comida na mesa-, que “incentivam” funcionários à uma demissão que livra a Universidade de suas obrigações trabalhistas e que chamam a PM para reprimir a manifestação política dentro da própria Universidade, ferindo todos os princípios que deveriam nortear o livre pensamento. A Diretoria da FAU em nenhum momento se colocou contra a essas ações.

O direito a ser defendido é o direito de sobrevivência, que é cortado dos trabalhadores junto aos seus salários. É o direito à educação pública, que vem sendo trucidado pelo projeto de desmonte da universidade pública. Diálogo não é feito pela mediação de agentes judiciais. Diálogo não é feito com a criminalização e intimidação daqueles que se manifestam politicamente.

Comando de Mobilização da FAUsetembro de 2014