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Castelo de Cartas

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Aprenda como ser uma influência positiva sobre o seu cônjuge. Descuba como salvar um casamento à beira do desmoronamento, mesmo que ele passe por graves crises, envolvendo alcoolismo, abuso sexual, infidelidade, entre outras.

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ESTAVA NUM SUBÚRBIO de Chicago numa manhã fria de sábado, diri-gindo o seminário O casamento que você sempre quis, quando encon-trei Maria. Antes de começar, apresentei um resumo do meu livro Esperança para os separados: casamentos rompidos podem ser restaura-dos. Incentivei os presentes a comprar esse livro e dar de presente a algum amigo separado. Maria havia comprado um exemplar e o tinha em mãos.

— Dr. Chapman, quando o senhor vai escrever um livro para mim? — perguntou ela.

— O que você quer dizer com isso?— Tenho certeza de que esse livro é bom para aqueles que já

estão separados — disse ela — mas e quanto a pessoas como eu? Eu e meu marido não estamos separados. Somos casados há dezessete anos. Nenhum de nós acredita no divórcio; temos fortes convicções religiosas, mas nosso casamento é terrível. Temos alguns problemas realmente grandes que nunca conseguimos resolver. Brigamos por esses motivos e depois nos acertamos, mas as coisas fi cam bem ape-nas por algumas semanas. Então, voltamos à guerra. Precisamos de ajuda.

— Participamos de algumas sessões de aconselhamento, mas, aparentemente, não ajudou muito. Já lemos alguns livros sobre vida conjugal, mas eles parecem não lidar com nossos problemas. Sei que

Introdução

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deve haver outros casais como nós que querem de verdade que seu casamento dê certo, mas que não conseguiram encontrar a resposta sozinhos — disse ela.

Mais tarde, descobri que Maria vivia com um marido alcoólatra que, por essa e outras razões, também era irresponsável em seu tra-balho. Desse modo, as fi nanças sempre foram um problema em seu casamento.

Desde minha conversa com Maria, escrevi outros três livros, mas nunca me esqueci da pergunta dela: “Quando o senhor vai escrever um livro para mim?”. Não tive mais contato com ela e não sei o que aconteceu com seu casamento. Mas, se pudesse vê-la de novo, eu diria: “Maria, este aqui é para você”. Sim, para Maria — e para milhares de outros como ela, que sinceramente querem fazer que seu casamento desesperado dê certo.

Três fatores me motivaram a escrever este livro. Primeiramente, um grande número de pessoas como Maria tem me abordado nos seminários, pedindo ajuda prática para aquilo que consideram ser as maiores barreiras para a união conjugal, o tipo de questões que não temos tempo de abordar num seminário de fi nal de semana — problemas que têm perdurado por anos e cujas raízes são profundas; problemas que, se não forem resolvidos, podem destruir — e de fato destroem — muitos casamentos.

O segundo catalisador para a escrita deste livro é a lembrança de minhas próprias lutas nos primeiros anos de casamento. Lembro-me muito bem da dor que se seguiu a meses de tentativas de fazer o que eu achava ser certo, mas que foram em vão. Lembro-me do sentimento de desespero que se apossou de mim, o pensamento recorrente de que estava casado com alguém com quem não ti-nha verdadeira intimidade. Os problemas pareciam tão profundos e meus recursos tão superfi ciais que eu achava difícil até mesmo procurar “outra abordagem”. Mas as respostas existiam, e, por fi m,

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INTRODUÇÃO 13

as encontramos. Karolyn e eu estamos casados há mais de 45 anos e passamos a vivenciar uma intimidade que nunca imaginei ser pos-sível. A dor é uma lembrança distante, mas ela me motiva a ajudar outros que se empenham tão sinceramente quanto nós.

A terceira força que me leva a escrever este livro é a forte corrente de indivíduos com quem tenho trabalhado no gabinete de aconse-lhamento nos últimos 35 anos — pessoas que precisaram enfrentar o alcoolismo, abuso físico e verbal, infi delidade do cônjuge, persona-lidade controladora; aqueles que precisaram lidar com um passado doloroso envolvendo abuso infantil ou baixa autoestima; outros que estão casados com alcoólatras e outros, ainda, com cônjuges irres-ponsáveis. Uma das recompensas do aconselhamento é ver essas pes-soas dando passos responsáveis para lidar com problemas genuínos, apoiá-las em seus esforços e ver os frutos de um relacionamento melhorado. Estou convencido de que o sucesso delas precisa de uma audiência maior e que talvez os passos que deram também possam servir de orientação a outros.

Mudei os nomes e detalhes o sufi ciente para proteger a privacida-de dessas pessoas, mas os relatos que você lerá nas páginas a seguir re-tratam a vida de pessoas reais, com problemas reais, que encontraram soluções signifi cativas para casamentos desesperados.

Em cada capítulo, procurarei primeiramente identifi car a nature-za dos problemas específi cos e fazer uso da pesquisa social e psicoló-gica disponível. Nas questões de moralidade, oferecerei orientações de minha própria herança judaico-cristã. Meu propósito é apresen-tar sugestões práticas sobre como seguir adiante em seu casamento a partir do ponto onde ele se encontra para onde você quer que ele chegue. Obviamente, não posso garantir seu sucesso, mas posso lhe assegurar a satisfação de saber que você está realizando os maiores esforços para melhorar seu casamento.

Sim, Maria, este livro é para você.

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MILHARES DE CASAIS TÊM difi culdade no casamento. Talvez você es-teja entre eles e poderia escrever um livro chamado Como ser casado e infeliz. Alguns de vocês estão casados há 5 anos, e outros, há 25 anos. Você embarcou no casamento com as mesmas grandes espe-ranças que a maioria de nós, quando dissemos “sim” no altar. Você nunca quis ser infeliz; a verdade é que sonhou que seu casamento seria extremamente feliz. Alguns eram felizes antes de se casar e es-peravam que o casamento apenas melhorasse a vida já alegre. Outros entraram no casamento carregando uma história profundamente atribulada. Sua esperança era que, no casamento, você pudesse, en-fi m, encontrar propósito e felicidade.

Em todos os casos, um homem e uma mulher tinham esperanças de que o casamento pudesse ser uma estrada que levasse para cima; que, in-dependentemente do tipo de vida que tinham naquele momento, ela seria me-lhor após o casamento.

Sua experiência, porém, tem sido a de que, desde a cerimônia do casamento, a estrada só tem ido para baixo. Tem havido poucos

1Casamentos desesperados

Pense nistoComo você descreveria

seu casamento?

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picos de alegria e algumas pequenas curvas que apresentaram uma vista promissora. Mais tarde, porém, a vista se mostrou ser uma mi-ragem; a estrada conjugal mais uma vez apontou para baixo. Por um longo tempo, você viveu no vale da dor, do vazio e da frustração. Você vive um casamento desesperado.

É bem provável que você realmente não queira o divórcio. Para muitos, as crenças religiosas os impedem de seguir por essa saída. Para outros, os fi lhos são uma forte motivação para manter o casa-mento em pé. Outros, ainda, encontram um número sufi ciente de momentos de felicidade ou de apoio para manter vivas as esperanças de ter um casamento melhor.

Você sinceramente espera que as coisas melhorem. Muitos sen-tem que já tentaram lidar com as questões que têm impedido que você e seu cônjuge sejam unidos como casal. A maioria está desani-mada com os resultados. Se você buscou aconselhamento, ele tam-bém não foi produtivo. Se leu livros, provavelmente os leu sozinho, desejando que seu cônjuge pudesse ouvir o que o autor distante está dizendo e que se sentisse tocado para mudar. Alguns tentaram o calmo, controlado e direto método da confrontação gentil. Seu cônjuge respondeu com o silêncio. Em desespero, outros tentaram gritar e berrar. A dor tem sido tão intensa que você já até perdeu o controle ao tentar expressá-la. Em alguns casos, seus altos gritos pedindo ajuda levaram seu cônjuge a lançar um contra-ataque. Em outras situações, o cônjuge simplesmente se afastou.

Os problemas com os quais você e outros casais se deparam não podem ser resolvidos por meio de uma calma conversa na sala de es-tar. Eles também não se derretem debaixo do intenso calor da super-fi cialidade piedosa. Tal como um câncer, os problemas se alimentam da vitalidade de um casamento. Eles variam de casal para casal, mas a intensidade da dor é profunda para todos.

Através das páginas deste livro, vou levá-lo para dentro de portas fe-chadas, em direção à privacidade do meu gabinete de aconselhamento,

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e permitirei que você ouça maridos e esposas contando suas dores. Também o convido a ouvir aquilo que as pes-soas me dizem nos seminários sobre casamento que promovo por todos os Estados Unidos. (Mudei nomes e de-talhes para proteger essas pessoas.) Insisto em que você creia que há esperança para seu casamento desesperado.

Encontrando soluções amorosasNeste livro, falarei sobre como lidar com o cônjuge que pode ser: irresponsável ou workaholic; controlador ou que não se comunica; abusador verbal, físico ou sexual; infi el ou deprimido; alcoólatra ou usuário de drogas. Para todas essas situações — e outras — você pode encontrar soluções amorosas que são capazes de preservar seu casamento e fazer que você se sinta bem em relação a si mesmo e a seu cônjuge.

Não tenho a menor ilusão de que possa fornecer uma fórmula mágica para trazer cura a todos esses casamentos. Contudo, de fato creio, com base em minha própria experiência em aconselhamento, pesquisa de campo e princípios morais, que existe esperança para casamentos desesperados.

Creio que, em todo casamento pro ble mático, um parceiro ou ambos podem dar passos positivos que têm a potencialidade de mudar o cli-ma emocional de um casamento. No tempo devido, os cônjuges podem en-contrar respostas para seus problemas. Para a maioria dos casais, soluções derradeiras dependerão não apenas de suas próprias ações, mas também do apoio das comunidades religiosa e terapêutica de sua cidade. Mas

Pense nistoQue opções você

buscou para fortalecer seu casamento? Quais foram as mais úteis?

Pense nistoVocê acredita que uma pessoa possa dar passos capazes de promover

uma diferença positiva num casamento

desesperado? Por quê?

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vou dizer mais uma vez: há esperança para soluções duradouras em casamentos desesperados.

Expondo os mitosSe você tem um casamento desesperado, é hora de praticar a realida-de da vida. Ela começa ao se identifi car os mitos que o têm mantido preso. Então, ela os aceita como realmente são: mitos, não verdades. Você pode quebrar essas amarras à medida que começar a basear suas ações na verdade, em vez de baseá-las em mitos.

A realidade da vida signifi ca que você assume responsabilidade por seus pensamentos, sentimentos e ações. Exige que você avalie a situação da sua vida de maneira honesta e recuse colocar a culpa de sua infelicidade nos outros.

Veja as quatro declarações a seguir. Responda honestamente a cada uma com verdadeiro ou falso.

1. O ambiente determina meu estado mental. 2. As pessoas não podem mudar. 3. Em um casamento desesperado, tenho apenas duas opções:

resignar-me e aceitar uma vida infeliz ou sair do casamento. 4. Algumas situações não têm conserto — e a minha é uma delas.

Se você respondeu “verdadeiro” a qualquer uma dessas declara-ções, por favor, continue lendo. A verdade é que as quatro são falsas. Infelizmente, muitas pessoas que têm um casamento desesperado baseiam sua vida nesses mitos tão comumente aceitos.

Quem aceita qualquer um dos quatro mitos anteriores vai agir de acordo com eles, de modo que suas ações se transformam em parte do problema, em vez de parte da solução. Vamos analisar o resultado de aceitar e agir de acordo com cada um desses mitos.

Mito número 1: O ambiente determina meu estado mental. A visão normalmente aceita em nossa época é de que todos nós somos

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vítimas do nosso ambiente. Esse mito é expresso nas declarações a seguir:

“Se cresci numa família amorosa e apoiadora, serei uma pessoa amorosa e apoiadora”.

“Se cresci numa família problemática, então estou destinado ao fracasso nos relacionamentos”.

“Se estou casado com um marido alcoólatra, terei uma vida infeliz”.“Meu estado emocional depende das ações do meu cônjuge”.Esse tipo de abordagem à vida deixa qualquer pessoa deses-

perada em meio a um ambiente hostil. Desperta sentimentos de desesperança e, com frequência, leva à depressão. No casamento desesperado, essa mentalidade de vítima leva o cônjuge a concluir: “Minha vida é horrível, e minha única esperança é a morte do meu cônjuge ou o divórcio”. Muitas pessoas sonham acordadas com am-bas as opções.

O ambiente realmente afeta quem você é, mas ele não o con-trola. Em vez de ser uma vítima indefesa, você pode superar um ambiente repleto de obstáculos, seja a cegueira (Helen Keller), seja a poliomielite (Franklin Roosevelt) seja um pai alcoólatra cujo abuso infl uenciou suas atitudes no casamento. O ambiente pode infl uenciar, mas ele não precisa ditar nem destruir seu casamento ou sua vida.

Mito número 2: As pessoas não podem mudar. Esse mito pro-clama que, assim que uma pessoa alcança a vida adulta, os traços de personalidade e os padrões de comportamento estão estabelecidos de maneira imutável. Aqueles que acreditam nesse mito creem que, se um cônjuge demonstrou certo comportamento por um longo pe-ríodo, continuará a agir dessa maneira.

Uma esposa presume que seu marido, que foi sexualmente ati-vo com múltiplas parceiras antes do casamento e sexualmente infi el

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depois do casamento, é viciado nesse comportamento e não pode mudar.

Um marido presume que sua esposa, que foi irresponsável com o gerenciamento do dinheiro nos primeiros quinze anos do casamen-to, sempre será fi nanceiramente irresponsável.

Se você aceitar esse mito como verdade, então experimentará sentimentos de futilidade e desesperança. Mas a verdade é que você encontra, em qualquer biblioteca, a biografi a de pes soas — adultas — que fi zeram mudanças radicais nos padrões de comportamento. Santo Agostinho viveu para o prazer durante um tempo de sua vida e achava que seus desejos eram inevitáveis. Charles Colson, o envol-vido no caso Watergate, arrependeu-se e deu início a uma agência internacional para oferecer ajuda espiritual a prisioneiros.

As pessoas podem mudar, e de fato mudam, e muitas vezes as mudanças são radicais.

Mito número 3: Em um casamento desesperado, tenho apenas duas opções: resignar-me e aceitar uma vida infeliz, ou sair do casamento. Aqueles que acreditam nesse mito limitam seus hori-zontes a duas alternativas igualmente devastadoras e, assim, tornam--se prisioneiros dessas opções. Milhares de pessoas vivem em prisões autoimpostas porque acreditam nesse mito de opções limitadas.

Shannon e David faziam parte desse grupo. Durante quinze anos, eles viveram infelizes e analisaram a possibilidade do divórcio. Mas, quando saiu do meu gabinete, depois de seis meses de aconse-lhamento, David disse:

— Eu costumava sair do seu gabinete tendo raiva no meu cora-ção em relação a Shannon. Hoje saio percebendo que esposa mara-vilhosa eu tenho.

Um sorriso se abriu na face de Shannon enquanto falava: — Dr. Chapman, nunca imaginei que pudesse amar meu mari-

do outra vez e que pudéssemos ter o casamento que temos.

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Obviamente, Shannon e David romperam a ligação com aquele mito. Você pode fazer a mesma coisa. Não se deixe acreditar que você tem apenas duas opções no casamento desesperado. Não esco-lha se contentar com a infelicidade ou o divórcio.

Mito número 4: Algumas situações não têm conserto — e mi-nha situação é uma delas. A pessoa que aceita esse mito pensa da seguinte maneira: Talvez exista esperança para os outros, mas meu casamento não tem esperança. A ferida é profunda demais. O dano é irreversível. Não há esperança. Esse tipo de pensamento leva à depres-são e às vezes ao suicídio.

As lágrimas encheram meus olhos à medida que ouvia Lisa, uma mãe de 35 anos de idade, compartilhar o momento de sua vida em que viu o próprio pai assassinar a mãe e, então, voltar a arma para si mesmo. Lisa tinha 10 anos quando presenciou essa tragédia. Não há dúvida de que seu pai achava que a situação não tinha jeito.

Abandone os mitos

Fortaleça seu casamento abandonando estes quatro mitos comuns e dizendo a si mesmo a verdade.

• O ambiente NÃO determina meu estado mental.

• As pessoas PODEM mudar.

• Em um casamento desesperado, NÃO tenho apenas duas opções: resignar-me e aceitar uma vida infeliz, ou sair do casamento.

• Minha situação TEM conserto.

Você pode estar enfrentando difi culdades em seu casamento há muitos anos. Pode sentir que nada que tenha tentado produziu al-gum resultado. Pode até mesmo ter ouvido pessoas dizerem que seu

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casamento não tinha jeito. Não acredite nisso. Há esperança para o seu casamento.

Este livro examinará a natureza dos problemas dos casamentos desesperados e vai incentivá-lo a abandonar esses mitos e dar passos rumo à cura, em vez de simplesmente ir se afundando cada vez mais na infelicidade de tais relacionamentos. Contudo, vamos primeira-mente analisar aquilo que se tornou uma abordagem bastante popu-lar para esses problemas conjugais de maior destaque, a saber, a saída sinalizada com a placa “divórcio”.

Olhando o divórcio com honestidade Nossa sociedade tem sido chamada de “sociedade do descartável”. Compramos a comida em lindas embalagens, que jogamos fora. Nosso carro e os aparelhos domésticos rapidamente se tornam ob-soletos. Levamos nossa mobília para a loja de artigos usados não porque ela não funcione mais, mas porque saiu de moda. Até mes-

mo “jogamos fora” uma gravidez inde-sejada. Sustentamos relacionamentos comerciais apenas enquanto eles nos são lucrativos. Desse modo, não é de surpreender que nossa sociedade tenha chegado a aceitar o conceito de “casa-mento descartável”. Se você não é mais

feliz com seu cônjuge e se seu relacionamento tem passado por mo-mentos difíceis, a coisa mais fácil é abandonar o relacionamento e começar do zero.

Gostaria de poder recomendar o divórcio como uma opção. Quando ouço as pessoas com suas dores profundas, seja no meu ga-binete, seja durante os seminários, minha reação natural é gritar “caia fora, caia fora, caia fora! Abandone esse fracassado e toque a vida em frente!”. Essa certamente seria minha abordagem se eu tivesse com-prado ações ruins na bolsa de valores. Cairia fora antes que as ações

Pense nistoA qual desses quatro mitos você cede com maior facilidade? Há quanto tempo você acredita nesse mito?

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perdessem mais valor. Mas um cônjuge não é uma ação. O cônjuge é uma pessoa — alguém com emoções, personalidade, desejos e frus-trações; uma pessoa por quem você se sentiu profundamente atraído em determinado momento da vida; uma pessoa por quem você nu-triu sentimentos profundos e cuidado genuíno. Vocês dois estavam tão atraídos um pelo outro que assumiram o compromisso público de dedicar a vida um ao outro “até que a morte os separasse”. Agora, vocês têm uma história juntos. Talvez até mesmo tenham criado fi lhos juntos.

Ninguém pode abandonar um côn-juge tão facilmente como se estivesse vendendo um lote de ações na bolsa de valores. Pelo contrário, con-verse com a maioria dos adultos que optaram pelo divórcio como resposta e você descobrirá que a consumação do divórcio foi antece-dida de meses de intensa luta interior, além de saber que a situação como um todo é vista ainda hoje como uma experiência profunda-mente dolorosa.

Evelyn se assentou em meu gabinete dois anos depois de se di-vorciar de Bill.

— Nosso casamento estava mal — disse ela — mas o divórcio foi ainda pior. Continuo tendo todas as responsabilidades que tinha quando estávamos casados, só que agora com menos tempo e menos dinheiro. Quando estávamos casados, eu trabalhava meio período para ajudar a pagar as contas. Agora, preciso trabalhar o dia inteiro, o que me deixa menos tempo para estar com as meninas. Quando estou em casa, parece que fi co mais irritada. Surpreendo-me bri-gando com as meninas quando não respondem imediatamente aos meus pedidos.

Milhares de mães divorciadas podem se identifi car com Evelyn. O divórcio não as trata de maneira justa. O estresse de satisfazer as necessidades físicas e emocionais de seus fi lhos parece excessivo em alguns momentos.

Pense nistoComo você tem lutado

contra a possibilidade de divórcio em seu casamento?

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Nem todos aqueles que se subme-tem ao divórcio experimentam tais di-fi culdades; contudo, todos acham que os ajustes são dolorosos, mesmo quan-do voltam a se casar.

Wayne era todo sorriso quando me disse:

— Finalmente encontrei o amor da minha vida. Vamos nos casar em junho. Nunca estive tão feliz. Ela tem dois fi lhos, e eu os adoro. Quando estava me divorciando, nunca imaginei que poderia ser fe-liz de novo. Acredito nisso agora que estou prestes a colocar minha vida de volta nos trilhos.

Wayne estava divorciado havia três anos quando tivemos nossa conversa. Contudo, seis meses depois de seu casamento com Beverly, ele voltou ao meu gabinete, reclamando de sua incapacidade de se dar bem com Beverly e seus fi lhos.

— É como se eu fosse um intruso — disse ele. — Ela sempre coloca as crianças na minha frente. E, quando tento disciplinar os fi lhos dela, os defende e discorda de mim. Não posso gastar um centavo sem a aprovação dela. Nunca me senti tão infeliz em minha vida. Como fui entrar nessa confusão?

Wayne está experimentando as difi culdades comuns de estabele-cer uma “família mista”.

E o que dizer dos fi lhos que veem seus pais se divorciarem? Em seu livro Generation Ex, Jen Abbas, escritora e fi lha de múltiplos divórcios, escreve de modo franco:

Quando entrei na vida adulta, ansiosa por minha independência con-seguida a duras penas, fi quei surpresa ao perceber que os divórcios dos meus pais pareciam estar me afetando muito mais a cada ano, e não menos. Muito embora fosse bem-sucedida no aspecto acadê-mico e profi ssional, percebi que me estava tornando mais insegura a cada ano em relação às minhas habilidades emocionais. À medida

Pense nistoSe seus pais se divorciaram,

como você reagiu? Se não se divorciaram, o

que você aprendeu com o casamento deles?

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que vi meus amigos se casarem, comecei a questionar minha habi-lidade de ser bem-sucedida em criar e manter relacionamentos ín-timos, especialmente o meu próprio futuro casamento. Comecei a ver de que maneira os casamentos — e os divórcios — de meus pais haviam infl uenciado meus relacionamentos, especialmente no que se referia à confi ança. Quando a questão passou a ser o amor, fi quei paralisada, porque aquilo que eu queria tão desesperadamente era o que eu mais temia.1

Com o passar dos anos, aconselhei um número sufi ciente de pes-soas divorciadas a entender que, embora o divórcio remova algumas tensões, ele cria muitas outras. Não sou inocente o bastante para sugerir que o divórcio pode ser eliminado da vida da humanidade. Estou dizendo, porém, que o divórcio deve ser a última alternativa possível. Deve ser precedido de todos os esforços na reconciliação de diferenças, no tratamento de questões e na resolução de proble-mas. Existe um número grande demais de casais em nossa sociedade que optaram pelo divórcio cedo demais e a um preço alto demais. Creio que muitos casais divorciados poderiam ter se reconciliado se tivessem buscado e encontrado ajuda adequada. Desse modo, o foco deste livro sobre casamentos desesperados não está no divórcio, mas em algo que, creio, oferece muito mais esperança. É o que chamo de “realidade da vida”.

A realidade da vida, que começa ao reconhecer alguns mitos e continua ao rejeitá-los, termina abraçando as ações positivas que um indivíduo pode realizar para estimular a mudança construtiva em um relacionamento. No capítulo seguinte, apresentarei os princípios básicos dessa abordagem e, nos demais, mostrarei como aplicá-los a vários tipos de casamentos desesperados.

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