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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
ESTER DE SOUZA FERRAZ DE TOLEDO
A APLICAÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DOS
PORTADORES DE TEA
São Paulo
2019
ESTER DE SOUZA FERRAZ DE TOLEDO
A APLICAÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DOS
PORTADORES DE TEA
Trabalho de conclusão de curso Lato Sensu
Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental
Orientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon
Coorientadora: Profa. Msc. Eliana Melcher Martins
São Paulo
2019
Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte.
Toledo, Ester de Souza Ferraz Aplicação da terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento dos portadores de TEA. Ester de Souza Ferraz de Toledo, Renata Trigueirinho Alarcon, Eliana Melcher Martins – São Paulo, 2019. 25 f. + CD-ROM Trabalho de conclusão de curso (especialização) - Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Orientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon Coorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins 1 Terapia cognitivo-comportamental, 2. Transtorno do espectro autista. I. Toledo, Ester de Souza Ferraz. II. Alarcon, Renata Trigueirinho. III. Martins, Eliana Melcher.
Ester de Souza Ferraz de Toledo
Aplicação da terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento dos portadores de TEA
Monografia apresentada ao Centro de Estudos em
Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das
exigências para obtenção do título de Especialista
em Terapia Cognitivo-Comportamental
BANCA EXAMINADORA
Parecer: ____________________________________________________________
Prof. _____________________________________________________
Parecer: ____________________________________________________________
Prof. _____________________________________________________
São Paulo, ___ de ___________ de _____
DEDICATÓRIA
A você Murilo que inspirou esta imensa vontade de
aprender mais sobre o autismo e buscar conhecer mais opções
de intervenção na TCC para continuar o nosso trabalho, e que
não deixa que as dificuldades diárias mudem o meu sentimento
por você, pelo contrário, aumentando o meu carinho a cada
milagre realizado por você todos os dias.
AGRADECIMENTOS
Durante dois anos, enfrentei alguns desafios e agradeço a Deus pelas
oportunidades e pelas forças proporcionadas para superar e nunca pensar em
desistir.
À minha família, meus filhos e marido, meus pais e irmãos que estiveram sempre
presentes nos momentos mais difíceis.
A esta família linda e maravilhosa, que com muito amor entenderam meus
momentos de ausência e mesmo não sendo fácil para eles, não hesitaram em me
apoiar. Vocês são a razão por toda força existente em mim e por isso os amo muito.
Agradeço imensamente ao corpo docente do Centro de Estudos em Terapia
Cognitivo Comportamental, muito importantes pela forma e competência que
ministraram suas aulas fazendo com que valesse a pena todos os esforços feitos por
mim para realização desta especialização, nos proporcionando um curso de
qualidade.
À orientadora Renata pela compreensão e dedicação durante a construção deste
trabalho, compartilhando seus conhecimentos e incentivando sempre a melhoria do
mesmo, sendo que sem a sua colaboração a sua realização não ocorreria de forma
tão rica, deixo um especial agradecimento.
Sou grata pelos amigos conquistados em especial as amigas: Cinthia, Denise, Isis,
Sandra, Simone, e Zenaide, que me acompanharam na concretização desta
especialização incentivando e compartilhando comigo dores, alegrias e
inseguranças.
RESUMO
O presente estudo é importante por buscar modelos para intervenções à pacientes
autistas na abordagem cognitivo comportamental, visando a diminuição dos déficits
cognitivos dos mesmos, melhorando a qualidade de vida dos portadores. A
metodologia utilizada foi uma pesquisa qualitativa através de levantamento
bibliográfico referente aos processos cognitivos de indivíduos neurotípicos e dos
portadores do TEA, assim como a aplicação da TCC nas intervenções com os
mesmos. Como resultado, foi possível identificar que a abordagem cognitivo-
comportamental tem conseguido resultados satisfatórios, sendo muito eficaz nos
casos de TEA, trabalhando os processos do desenvolvimento cognitivo e modelando
os comportamentos de acordo com as necessidades de cada portador, resultando
em uma vida com mais qualidade e funcional.
Palavras-chave: Cognição, Autismo e TCC
ABSTRACT
The present study is important because it seeks models for interventions in autistic
patients in the cognitive behavioral approach, aiming to reduce their cognitive
deficits, improving the quality of life of the patients. The methodology used was a
qualitative research through a bibliographical survey concerning the cognitive
processes of neurotypical individuals and those with ASD, as well as the application
of CBT in the interventions with them. As a result, it was possible to identify that the
cognitive-behavioral approach has achieved satisfactory results, being very effective
in cases of ASD working the processes of cognitive development and modeling the
behaviors according to the needs of each carrier resulting in a life with more quality
and functional.
Keywords: Cognition, Autism and TCC
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 OBJETIVO .............................................................................................................. 10
3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 11
4 RESULTADOS ....................................................................................................... 12
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 20
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 23
8
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objetivo discutir em torno dos processos
cognitivos dos indivíduos, com e sem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), com
intuito de buscar conhecer, de que maneira, a prática do profissional psicólogo com
atuação na abordagem cognitivo-comportamental contribui no tratamento dos
indivíduos com TEA. Uma vez que a TCC fundamenta que, as alterações
emocionais e comportamentais dos indivíduos são resultantes dos processos
cognitivos e que os mesmos diferem nos indivíduos com o transtorno.
A abordagem Terapia Cognitivo-Comportamental tem como fundamento que
as nossas cognições influenciam nossas emoções e comportamentos e o modo
como agimos afeta nossos padrões de pensamento e emoções, o que leva as
intervenções serem realizadas no sentido de reverter cognições e comportamentos
disfuncionais, identificando pensamentos automáticos disfuncionais e flexibilizando-
os para torna-los mais funcionais, objetivando mudança no humor e no
comportamento.
Segundo Beck, A (1995), a primeira pessoa a desenvolver completamente
teorias e métodos para aplicar as intervenções cognitivas e comportamentais a
transtornos emocionais, as distorções cognitivas merecem considerável atenção.
Deste modo e nesta ótica, esta pesquisa se norteará inicialmente por
entender o desenvolvimento cognitivo nas crianças.
De acordo com o DSM-V (APA 2013), o TEA é situado no quadro de
transtornos invasivos do desenvolvimento, tendo sido descrito primeiramente pelo
médico Leo Kanner em 1943, e , segundo seus critérios e do CID 10 (1993), incluiu
perturbações características no uso da imaginação, da interação social , da
comunicação e do comportamento, caracterizando-se pelo desenvolvimento anormal
ou alterado da criança, manifestando-se antes dos 3 anos de idade, um dos critérios
para diagnóstico deste quadro.
Bosa (2006) defende que o diagnóstico preciso é muito importante, tendo em
vista que é o melhor procedimento para o desenvolvimento da criança, no entanto, é
muito raro, justificando-se pela falta de conhecimento sobre o desenvolvimento
normal de uma criança, ressaltando em particular a área de comunicação não verbal
e prejuízos na área de habilidades de atenção compartilhada.
9
O prognóstico e desfecho do autismo demonstram que o melhor resultado
está relacionado ao nível cognitivo da criança.
Isto posto, o trabalho terá como tema a ser elaborado, através de pesquisas
bibliográficas, a cognição, partindo da compreensão do processo de
desenvolvimento em relação à cognição dos indivíduos não portadores e portadores
do TEA e um tratamento psicoterapêutico que auxilie no desenvolvimento do
indivíduo portador do TEA, através da Abordagem Cognitivo-Comportamental.
10
2 OBJETIVO
Avaliar a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento dos
indivíduos portadores de TEA, considerando as diferenças no desenvolvimento
cognitivo dos portadores de TEA.
Objetivo secundário
Esse trabalho teve como objetivo também fazer um levantamento bibliográfico
referente aos processos cognitivos dos indivíduos neurotípicos relacionando aos
processos cognitivos dos indivíduos portadores TEA.
11
3 METODOLOGIA
O conhecimento científico é sempre uma busca de articulação entre uma
teoria e a realidade empírica; o método é o fio condutor para se formular esta
articulação. O método tem uma função fundamental, além do seu papel instrumental,
o qual significa o próprio “caminho do pensamento”, conforme a expressão de
Habermas (MINAYO, 1993, p. 240).
A metodologia utilizada é qualitativa e será guiada pela abordagem
exploratória e contará com estudos de natureza teórica através de revisão
bibliográfica.
Para o embasamento dos estudos teóricos foram utilizadas as categorias
analíticas referentes à TCC, Transtorno Espectro Autista, Desenvolvimento Cognitivo
dos indivíduos com e sem o transtorno.
As bases de dados pesquisadas foram Scielo, Google acadêmico, além de
revistas e livros específicos sobre os assuntos abordados.
Critérios de inclusão: artigos, livros e revistas abordando autismo e
intervenções no modelo cognitivo-comportamental e sobre processos cognitivos.
Critérios de exclusão: artigos abordando autismo e intervenções em outras
abordagens.
Serão apresentados, a seguir, os dados levantados através das pesquisas
realizadas.
12
4 RESULTADOS
4.1 COGNIÇÃO
A palavra cognição, que é derivada de palavra latina Cognitione, significa a
aquisição de um conhecimento através da percepção. Tem origem nos escritos de
Platão e Aristóteles com significado de “ato ou processo de conhecer envolvendo
atenção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem percepção”
(BAPTISTA, 2013).
Para a aquisição desses conhecimentos, segundo Baptista (2013) a
aprendizagem exerce papel fundamental e, neste sentido, várias teorias são
formuladas nas quais, através de estratégias, a aprendizagem se encarrega dos
processos cognitivos.
Jean Piaget, nascido na Suíça (1896-1980, inicialmente dedicou-se a estudos
relacionados a natureza biológica, e depois passou a estudar a natureza humana,
investigando a relação entre o organismo e o meio, preocupando-se em entender
como o conhecimento é construído (FERRACIOLI, 1999). Nesse sentido, para
Piaget, o conhecimento é decorrente da interação do sujeito com o meio.
Segundo Piaget, em sua Teoria de Epistemologia Genética, que sintetiza e
sua Epistemologia Psicológica, para a compreensão da síntese das operações
intelectuais a observação da experiência entre sujeito e objeto é imprescindível.
“Quando interrogamos crianças de diferentes idades sobre os principais fenômenos que as interessam espontaneamente, obtemos respostas bem diferentes segundo o nível dos sujeitos interrogados. Nos pequenos, encontramos todas as espécies de concepções cuja importância diminui consideravelmente com a idade: as coisas são dotadas de vida e de intencionalidade, são capazes de movimentos próprios, e esses movimentos destinam-se, ao mesmo tempo, a assegurar a harmonia do mundo e servir ao homem. Nos grandes, não encontramos nada mais que representações da ordem da causalidade adulta, salvo alguns traços dos estágios anteriores. Entre os dois, de 8 a 11 anos mais ou menos, encontramos pelo contrário várias formas de explicações intermediárias entre o animismo artificialista dos menores e o mecanismo dos maiores; é o caso particular de um dinamismo bastante sistemático, do qual várias manifestações lembram a física de Aristóteles, e que prolonga a física da criança enquanto prepara as ligações mais racionais” (PIAGET, 1982, p. 173-174).
13
Assim, para Jean Piaget, o desenvolvimento do conhecimento se dá através
de etapas/estádios hierárquicos que iniciam e decorrem do nascimento e se
consolidam aos 16 anos. São eles:
Estádio sensório-motor ou pré-verbal (do nascimento aos 2 anos) - Segundo
Rappaport, (2012), a consciência começa por um egocentrismo inconsciente, e
tudo que é percebido é centralizado sobre a própria atividade. Para Ferraciolli
(1999), nesta etapa, a criança restringe-se ao real, coordenando e integrando
informações que recebem pelo sentido.
Estádio pré-operatório (dos 2 aos 7,8 anos) – Neste estádio, ocorre a aquisição
da linguagem e a formação dos esquemas simbólicos. Caracterizado pelo
egocentrismo, onde a criança entende que tudo é parte do seu corpo
(RAPPAPORT, 2012). Para Ferraciolli, (1999) a aquisição da linguagem e da
representação simbólica desenvolve-se um pensamento simbólico e pré-
conceitual, seguido pelo pensamento intuitivo.
Estádio operatório-concreto (dos 7,8 aos 11,12 anos). De acordo com Ferraciolli,
(1999) neste estádio, surgem noções de tempo, causalidade, no entanto, ainda o
pensamento conserva seu vínculo com o real. É notado o declínio do
egocentrismo e da fala egocêntrica com a capacidade de formação de esquemas
conceituais (RAPPAPORT, 2012).
Estádio operatório-formal (a partir de 12 anos) – No operatório formal, segundo
Ferraciolli (1999) são formados os esquemas conceituais abstratos, ou seja , uma
independência do que é real ,surgindo o o raciocínio não baseado somente no
que é real , mas também em hipóteses.
Com base no exposto, conclui-se que para Piaget, o desenvolvimento do
conhecimento se dá através das etapas/estádios consolidados e a superação do
estágio anterior: em um processo de integração de fatores onde as estratégias
inatas, fator da hereditariedade, a partir das experiências vividas com a contínua
interação entre o indivíduo e o meio e com a troca ocorrida entre os mesmos.
14
4.2 TEA
Crianças isoladas que evitam contato visual e pouco ou quase nada falam.
Essas são algumas das manifestações do autismo, um distúrbio que ainda é um
enigma para a ciência, mas que afeta mais de 70 milhões de pessoas pelo mundo,
Segundo a Organização das Nações Unidas (apud NEGRETTI, 2017).
De acordo com DSM-V (APA 2013), o Transtorno do Espectro do Autismo
deve seguir os critérios diagnósticos descritos abaixo.
A-Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas
interações sociais, manifestadas de todas as maneiras seguintes:
1-Déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para interação
social;
2. Falta de reciprocidade social;
3. Incapacidade para desenvolver e manter relacionamentos de amizade
apropriados para o estágio de desenvolvimento.
B- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades,
manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo:
1 Comportamentos motores ou verbais estereotipados, ou comportamentos
sensoriais incomuns;
2. Excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento;
3. Interesses restritos, fixos e intensos.
4-. Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente
C- Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se
manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas
capacidades.
D- Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo nas áreas social,
ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento atual do paciente.
Vale dizer que a nova edição do DSM 5 (2014), muito utilizado para nortear
profissionais no diagnóstico, trouxe mudanças em relação ao anterior, indicando três
níveis de gravidade dentro do espectro, sendo avaliados pelos prejuízos na
comunicação social e nos padrões de comportamentos restritos e repetitivos como
nível 3, nível 2, e nível 1.
15
Seguem principais características de TEA descritas na tabela abaixo:
TABELA 1. Nível de gravidade
Nível 1- Grave: Apoio
muito substancial
Nível 2- Moderado:
Exigindo apoio
substancial
Nível 3- Leve: Exigindo
apoio
Comunicação: Prejuízos
intensos na capacidade
de comunicação social
verbal e não verbal.
Dificuldades severas em
dar início às interações
sociais.
Pouca resposta quando
as pessoas dão abertura
para iniciar uma
comunicação.
Comunicação: Sérias
dificuldades de
comunicação social verbal
e não verbal.
Prejuízos sociais notáveis,
mesmo com auxílio;
Limitação ao iniciar
interações sociais;
Resposta anormal a
aberturas sociais de
outras pessoas.
Comunicação: Quando
não tem apoio, apresenta
dificuldade na
comunicação social, com
danos perceptíveis;
Complicações para iniciar
interações sociais, além
de respostas incomuns ou
inexistentes a aberturas
das pessoas;
Pouco interesse por
interações sociais.
Comportamento:
Inflexibilidade de
comportamento;
Dificuldade severa para
lidar com mudanças e
ações restritas ou
repetitivas; sofrimento
para mudar o foco ou
ações.
Comportamento:
Inflexibilidade de
comportamento;
Relutância em lidar com
mudanças e ações
restritas e repetitivas
frequentes, sendo notadas
por observadores e
interferindo em outros
contextos;
Sofrimento para mudar o
foco ou ações.
Comportamento:
Inflexibilidade de
comportamento,
interferindo no
funcionamento de um ou
mais contextos;
Dificuldade em trocar de
atividade;
Problemas de
organização e
planejamento, que
interferem na conquista da
independência.
Fonte: Revista Segredos da Mente- Autismo – Ano 2, 2- 2018. Elaboração: Mattos, Beatriz Marques
(2018)
16
Ainda neste contexto, é importante dizer que, com as novas classificações, é
possível entender e intervir devidamente cada nível do transtorno.
4.3 TCC e TEA
A terapia Cognitiva foi desenvolvida por Aaron Beck, na Universidade da
Pensilvânia no início da década de 60, como uma psicoterapia breve, estruturada,
orientada ao presente, para depressão, direcionada a resolver problemas atuais e a
modificar os pensamentos disfuncionais (BECK, A 1964).
Segundo Beck, J (1977), embora os estudos iniciais da TCC tenham sido
marcados pelos estudos dos quadros depressivos, identificando aspectos de
funcionamento das estruturas cognitivas (esquemas negativos, a tríade cognitiva e
as distorções cognitivas), hoje a “vertente beckniana” oferece várias descrições e
procedimentos sobre os mais variados processos cognitivos nos diferentes
transtornos de personalidade e problemas psicológicos.
Para Wright et al (2003) a TCC baseia-se em dois princípios básicos: A
influência da cognição nas emoções e comportamentos e como o comportamento
afetam nossos padrões de pensamentos e emoções. Dessa forma, ainda segundo
Wright et al (2003) o processamento cognitivo no modelo cognitivo –comportamental
exerce papel central.
De acordo com Senra, (2018) especialista em TCC, para gerar mudanças
comportamentais o trabalho de intervenção tem como foco o funcionamento
cognitivo.
Nesse sentido, Beck, J (1977) menciona que o terapeuta procura produzir
mudanças cognitivas, tanto no pensamento como na crença do paciente,
objetivando promover mudança emocional e comportamental.
Sob esta ótica, Fadini (2018) argumenta que a flexibilidade cognitiva
relaciona-se à capacidade do cérebro de adaptação e mudança de conduta durante
acontecimentos variáveis e inesperados.
Em uma visão cognitivo-comportamental, Kravitz e Boehm (1971 apud
Soczek, 2011), as crianças autistas apresentam características que se assemelham,
mas que se apresentam em diferentes níveis de intensidade, sendo que não se pode
deixar de assinalar que comportamentos apresentados por autistas são também
observados em crianças normais, ainda que com taxa de frequência menor.
17
Considerando o exposto, podemos dizer que a aprendizagem dos autistas
não foge da aprendizagem dos demais comportamentos e que através de um bom
manejo comportamental há uma boa melhora nos desvios comportamentais dos
quadros dos autistas.
De acordo com Lampreia (2004), considerando o enfoque cognitivista, por ter
o módulo da linguagem prejudicado, considerada uma função cognitiva, a criança
não é capaz de se comunicar, não pode interagir socialmente.
Senra (2018), especialista em TCC, salienta que no caso do TEA, há algumas
dificuldades, sendo as principais de interação social, ou seja, a forma de interagir
com outras pessoas, sejam da família ou não. Ainda de acordo com Senra (2018), a
abordagem TCC trabalha com foco no funcionamento cognitivo e dessa forma é
possível ensinar a criança através de desenvolvimento gradativo de habilidades
sociais, comportamentais e interpessoais gerando mudanças comportamentais.
Para Soczek (2011), é importante considerar as diferenças apresentadas por
cada criança e o tratamento ser de acordo com as particularidades de cada caso,
sendo assim, a avaliação e o diagnóstico devem enquadrar as técnicas ao quadro
dos pacientes.
“Habitualmente, os sintomas mais proeminentes das condições pertencentes ao espectro do autismo, ou transtornos invasivos do desenvolvimento, podem ser bem observados depois dos 2 anos de idade. Nos últimos anos, no entanto, o diagnóstico precoce das manifestações autistas tem despertado interesse, já que intervenções terapêuticas precoces nessas crianças poderiam atenuar problemas a longo prazo. Em algumas condições, o diagnóstico de autismo e transtornos relacionados levará à etiologia, que poderá implicar aconselhamento genético.” (Grillo & Silva, 2004, s. 22)
Aiello (2002) argumenta que o terapeuta, no momento do diagnóstico, deve
não só estar alerta no que é apresentado de déficit na criança autista, mas em tudo
o que ela apresenta de habilidades.
“Assim sendo, o terapeuta cognitivo-comportamental tem que levar em consideração não apenas que a criança tem um quadro autista e aceitar como consequência deste, comportamentos como déficit de interação social, de comunicação, comportamentos auto lesivos e agressivos, entre outros. Ao contrário, deve fazer um levantamento de todos os comportamentos que são emitidos pela criança, passando depois a estudar as situações de ocorrência, assim como possíveis reforçadores subsequentes aos comportamentos que podem ser seus mantenedores”. (Soczek , Adriana S., 2011)
18
Para elaboração do plano de intervenção, o profissional de psicologia se
norteará pelo nível de gravidade apresentada na tríade de dificuldades dos
pacientes autistas, apresentadas na tabela I, considerando não só a nosografia do
quadro, mas também o comportamento emitido pela criança, avaliando sua
funcionalidade no ambiente.
Soczek, (2011) apresenta passos para avaliação do quadro autista, podendo,
no entanto, serem utilizados para outros quadros. São eles:
Primeiramente o relato dos pais, levando em consideração não ser uma fonte
muito segura de informações, pois podem estar presentes reforçadores dos
comportamentos inadequados.
Observação da criança para levantamento dos comportamentos que com a
intervenção terapêutica serão minimizados, instalados ou mantidos.
Análise funcional dos comportamentos disfuncionais onde será avaliado o que
mantém tal comportamento, para a intervenção que poderá instala novo
comportamento,
Frequência destes comportamentos, estabelecendo metas e escolhas de
procedimentos para a intervenção, assim sendo, as intervenções devem
sempre serem avaliadas para mudanças se necessário.
Por fim, após a realização dos passos da avaliação, Soczek (2011) delineia
algumas técnicas, baseadas na TCC, para a intervenção terapêutica na criança
autista: São elas:
Intervenção intensiva: atuação terapêutica várias horas, com intuito de
aumentar repertórios de comportamento objetivando atuação da criança em
meio social. Podendo incluir também as AVDS (Atividades de Vida Diária),
assim como aquisição de comportamento verbal e social. Ainda sobre a
Intervenção intensiva frisa a importância de as intervenções ocorrerem
precocemente para inibir instalações ou correção mais fácil de
comportamentos disfuncionais.
O método PEC (Picture Exchange Comunication System), utilização de
cartões com figuras para a comunicação, instalando e ampliando repertório
comportamental e como instrumento de comunicação para os que não
possuem comportamento verbal, podendo ajudar também para que a criança
consiga o que quer de uma forma mais adequada.
19
Automonitoração: Para diminuição de frustação, a criança aprende a definir
seus próprios sentimentos e pensamentos e comunicá-los a outros, no
entanto, esta técnica exige que haja um repertório do comportamento de
observação a si mesmo.
TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication
Handicapped Children): É um programa com base não somente behaviorista,
mas podendo em combinação com outros métodos, com bases cognitivistas e
comportamentais, as que se apresentam com melhor utilidade, guiando as
intervenções no Teacch. Desenvolve no autista as habilidades sociais,
independência e ensino de maneira geral. Baseia-se em quadros de rotinas,
murais e agendas , organizando o ambiente.
ABA (O applied Behaior Analysis): Estudo científico comportamental que tem
como objetivo alterar, criar ou extinguir comportamentos observados e
identificados previamente.
Autoinstrução: É empregada para que a pessoa possa melhorar o seu
comportamento. “A técnica consiste em ensinar à criança como orientar seu
próprio comportamento, servindo o terapeuta como modelo a ser seguido pela
criança no seu aprendizado. ”(Sampaio, 2005, p.2), no entanto , pouco
utilizada pois necessita de uma melhor comunicação.
Tentativas discretas: Consisti no terapeuta instruir a criança sobre o que
fazer, e observação das respostas, com dicas mais ou menos intrusivas, de
acordo com a necessidade da criança, utilizando –se de reforços social ou
material.
20
5 DISCUSSÃO
Os dados apresentados nos fazem refletir que o profissional psicólogo e a
abordagem Cognitiva comportamental, no atendimento em quadros de autismo, tem
larga possibilidade de contribuição nas intervenções terapêuticas, no sentido de
diminuir as perdas apresentadas no funcionamento Cognitivo, ligado diretamente ao
conhecimento, às experiências, a aprendizagem e a assimilação, onde os
portadores sofrem danos severos, potencializando o desenvolvimento da criança
autista.
Sob este ponto de vista e na condição de observação/ação, o terapeuta
conduz os desvios comportamentais estabelecendo meios e técnicas que atuam a
favor dos portadores do TEA, seja nas perturbações características da interação
social, da comunicação ou do comportamento enquadrando as técnicas aos
portadores e não utilizando se das mesmas de forma generalizada.
Para isto, faz-se necessário uma boa condução na avaliação, considerando
que cada ser é único, portanto, cada portador de TEA terá seu perfil e suas
necessidades comportamentais diferenciadas.
Os estudos realizados apontam que mesmo o desenvolvimento cognitivo do
autista tendo suas perdas, há possibilidades de flexibilidade cognitiva e neste ponto,
a TCC tem trazido muitos resultados positivos.
Outra avaliação possível, é que com tantas dificuldades por parte dos
portadores há uma necessidade de acompanhamento multidisciplinar e intensivo
para os mesmos e que isto muitas vezes encarece e dificulta muito o tratamento.
Vale ressaltar que nas pesquisas realizadas, vários destaques sobre a
importância do início precoce do acompanhamento terapêutico foram mencionados,
evidenciando um prognóstico melhor para os que estão no espectro autista quando
iniciados precocemente.
Enfim, podemos finalizar afirmando que muito evoluiu o processo terapêutico,
considerando toadas as etapas, das avaliações até as intervenções propriamente
dita, mas que muito pode ser pesquisado e estudado ainda, sempre com o
pensamento voltado para o melhor desenvolvimento cognitivo dos portadores do
TEA e em sua qualidade de vida e que a TCC pode contribuir muito nesta busca de
conhecimento, como tem sido até o momento.
21
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou uma análise da
aplicabilidade da Terapia Cognitivo-Comportamental nos pacientes portadores de
Transtorno de Espectro Autista.
Como objetivo secundário, buscou-se compreender a forma que se dá os
desenvolvimentos cognitivos englobando a cognição dos indivíduos neurotípicos e
os déficits cognitivos dos indivíduos dentro do Espectro Autista.
Para tanto foi comentado sobre o desenvolvimento cognitivo dos indivíduos
neurótipicos, em que foi apresentada de maneira sintética teorias de Jean Piaget em
que o desenvolvimento se ocorre por estágios mediante o amadurecimento do
pensamento e das relações de troca com o meio tendo como fator necessário a
transmissão social pela linguagem em que uma grande quantidade de informações
são recebidas .
Foi comentado ainda sobre os prejuízos cognitivos dos indivíduos dentro do
TEA onde foi apresentado as principais características, entre elas , os déficits na
comunicação não verbal e verbal usadas para interação social e a falta de
reciprocidade social considerado de extrema importância no desenvolvimento
cognitivo.
Outro tema abordado foram os níveis de gravidade apresentado por cada
indivíduo com o TEA, fator de extrema importância para estabelecimento das
intervenções pelos profissionais envolvidos.
Importante frisar que ocorrem severos danos na cognição do portador de
autismo, uma vez que a cognição está envolvida com o conhecer, aprender,
assimilar e com a dificuldade na comunicação verbal e reciprocidade social a
aprendizagem fica comprometida.
Nesse sentido, vale notar que a Teoria Cognitivo-Comportamental, enfrenta
um grande desafio em sua utilização nos indivíduos dentro do TEA, considerando
que as propostas de intervenção do trabalho do profissional psicólogo nesta
abordagem, passa pela flexibilização cognitiva, atuando principalmente nas
distorções cognitivas dos indivíduos.
22
Por fim foi apresentado também propostas de intervenções pela TCC em
portadores de autismo onde pôde ser observado que apesar das dificuldades
encontradas, a flexibilidade cognitiva pode ocorrer mesmo com todos os déficits
cognitivos nos portadores de TEA.
Desta forma, foi possível perceber que a evolução terapêutica e educativa
muito tem favorecido os portadores do TEA, contribuindo com o seu
desenvolvimento diminuindo os seus prejuízos cognitivos, considerando de forma
individual as dificuldades e estabelecendo terapia adequada a cada necessidade
presente.
Cabe ressaltar a limitação desta pesquisa somente com revisão de artigos em
português, sendo de grande importância sua ampliação com elementos qualitativos
e quantitativos, proporcionando que novos aspectos possam ser explorados e
aprofundados.
Dada a importância do tema, torna-se necessário o desenvolvimento de
novos estudos que visem ampliar e ou melhorar práticas de intervenção junto aos
indivíduos dentro do TEA, garantindo desta forma sempre o melhor resultado na
atuação terapêutica.
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AIELLO, A. L. R., GUILHARDI, ET AL Identificação precoce de sinais de autismo- Sobre comportamento e cognição – contribuições para a construção da teoria do comportamento. Vol. 9 , 13 - 29. Santo André, 2002.
APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed. Porto Alegre, 2014.
BAPTISTA, D. M. Desenvolvimento Cognitivo da Criança, 11 de junho de 2013
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BECK, J, PH.D. Teoria Cognitiva – Teoria e Prática: 2ª Ed.: Porto Alegre: Artmed, 2013.
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ANEXO
Termo de Responsabilidade Autoral
Eu, Ester de Souza Ferraz de Toledo, afirmo que o presente trabalho e suas
devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da
responsabilidade autoral sobre seu conteúdo.
Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de
Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob
o título “A Aplicação da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento dos
portadores de TEA”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos
em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de
quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por
mim praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais
decorrentes das ações realizadas para a confecção da monografia.
São Paulo, __________de ___________________de______.
_______________________
Assinatura do (a) Aluno (a)