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Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
235
QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS COM DIABETESMELLITUS
QUALITY OF LIFE OF PEOPLE WITH DIABETESMELLITUS
CALIDAD DE VIDA DE LAS PERSONAS CON DIABETES
MELLITUSCarla lube de Pinho Chibante1
Vera Maria Sabia2
Enas Rangel Teixeira3
Jorge Luiz Lima da Silva4
Objetivou-se identificar o perfil sociodemogrfico de pessoas com DM tipo 2 integrantes do Grupo dos Diabticose avaliar a qualidade de vida das pessoas com DM tipo 2. Tratou-se de pesquisa quantitativa. Foram utilizadosdois questionrios para a coleta de dados: sociodemogrfico e SF-36. Foi realizada anlise estatstica. Os resultadosinformaram que a maioria dos participantes era do sexo feminino (64%), com mdia de idade de 58,62 7,9 anos.Constatou-se um impacto negativo do diabetes na qualidade de vida dos participantes. Concluiu-se que conhecer os
dados demogrficos, socieconmicos e os domnios contemplados no SF-36 possibilita planejar aes de promooda sade que contribuam para a melhoria da qualidade de vida desses indivduos.
PALAVRAS-CHAVE:Enfermagem. Diabetes Mellitus. Qualidade de vida. Educao em sade.
The aim is to identify the socio-demographic profile of persons with type 2 DM who are part of the Diabetic Group and
evaluate the quality of life of people with DM type 2. A quantitative research. Two questionnaires were used for data
collection: socio-demographic and SF-36. A statistical analysis was performed. The results demonstrated that most of
the participants were female (64%), with average age of 58.62 7.9 years. A negative impact was observed of diabetes
in the quality of life of the participants. To know the demographic and socio-economic data and the domains of the
SF-36 makes it possible to plan actions for promoting health in the sense of contributing for the improvement of the
life quality of these individuals.
KEY WORDS: Nursing. Diabetes Mellitus. Quality of Life. Health Education.
Se objetiv identificar el perfil socio-demogrfico de las personas con DM tipo 2 integrantes del Grupo de los Diabticos
y estimar la calidad de vida de las personas con DM tipo 2. Se trat de una pesquisa cuantitativa. Se utilizaron
dos cuestionarios para recoger datos: socio-demogrfico y SF-36. Se realiz un anlisis estadstico. Los resultados
demostraron que la mayora de los participantes fueron del sexo femenino (64%), con media de edad de 58,62 7,9
aos. Ha sido constatado un impacto negativo de la diabetes en la calidad de vida de los participantes. Se concluy
que conocer los datos demogrficos, socioeconmicos y los dominios contemplados del SF-36 posibilita planear
acciones de promocin de salud en el sentido de contribuir para la mejora de la calidad de vida de estos individuos.
PALABRAS-CLAVE: Enfermera. Diabetes mellitus. Calidad de vida. Educacin en salud.
1 Enfermeira. Mestranda em Cincias do Cuidado em Sade da Universidade Federal Fluminense (UFF). [email protected] Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora titular da UFF. [email protected] Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor titular da UFF. [email protected] Enfermeiro. Mestre em Enfermagem. Professor da UFF. [email protected]
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236Qualidade de vida de pessoas com diabetes mellitus
Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
INTRODUO
Atualmente, o estudo da qualidade de vida
(QV) vem despertando interesse nos pesquisa-
dores no campo da sade, pois a forma de vida
do sujeito est diretamente relacionada suacondio de sade ou de doena. Todavia, qua-
lidade de vida deve ser compreendida em seu
contexto social, que se desdobra nas condies
ambientais, na biologia humana, na qualidade
dos servios de sade, que so componentes de-
terminantes da sade (SABIA, 1997; TEIXEIRA
et al., 2006).
A Organizao Mundial de Sade (OMS) defi-
niu o termo qualidade de vida como a percepo
do indivduo de sua posio na vida, no contex-
to da cultura e sistemas de valores nos quais vive
em relao aos seus objetivos, expectativas, pa-
dres e preocupaes (ALMEIDA; GUTIERREZ;
MARQUES, 2012).
Diabetes mellitus (DM) representa um pro-
blema de sade pblica devido ao aumento de
sua incidncia e prevalncia. Por se tratar de uma
doena progressiva, os indivduos acometidos
tendem a deteriorar seu estado de sade com
o passar do tempo, quando comeam a apare-
cer as complicaes derivadas do mau controle
glicmico. Essa situao pode acarretar uma de-
preciao da qualidade de vida, pois se reflete
em seus diferentes aspectos, como debilidade do
estado fsico, prejuzo da capacidade funcional,
dor em membros inferiores, falta de vitalidade,
dificuldades no relacionamento social, instabili-
dade emocional, entre outros (FARIA et al., 2013;
SOUSA et al., 2005).
O diabetes um grupo de doenas metabli-
cas caracterizado por hiperglicemia e associado
s complicaes, disfunes e insuficincias de
vrios rgos. Pode resultar de defeitos de se-
creo e/ou ao da insulina envolvendo pro-
cessos patognicos especficos. O diabetes tipo
2 ocorre por uma deficincia relativa de insulina.
A administrao da insulina no visa evitar a ce-
toacidose, mas alcanar o controle do quadro
hiperglicmico (BRASIL, 2006).
Nesse contexto, o paciente com DM, em par-
ticular tipo 2 (DM2), enfrenta diversas dificul-
dades de ajustamento, as quais podem afetar a
apreciao subjetiva que faz de sua condio de
vida, de acordo com o estgio de desenvolvimen-
to das complicaes relacionadas doena. Alm
disso, uma condio crnica que persiste portoda a vida e, algumas vezes, vem acompanhada
de outras comorbidades. As complicaes agudas
decorrentes do DM tambm exercem impacto di-
reto sobre a QV, pois aumentam a predisposio
a transtornos depressivos e de ansiedade, inter-
ferem nas relaes de trabalho, no desempenho
de tarefas domiciliares e escolares, bem como na
prpria independncia (SOUSA et al., 2008).
Como condio crnica, o diabetes exige
do paciente o seguimento de um regime tera-putico e a sua coparticipao em cerca de 90%
dos cuidados dirios para a obteno de um
melhor controle metablico. Alm disso, requer
uma adeso ao tratamento, incluindo desde o
uso de medicamentos at o seguimento da die-
ta, prtica de atividade fsica e incorporao de
hbitos saudveis, que podem interferir na quali-
dade de vida dessas pessoas (FARIA et al., 2013;
FERREIRA; SANTOS, 2009).
Programas educativos em DM tm sido pre-
conizados como uma das estratgias de cuidado
que contribuem para melhorar os indicadores
relacionados percepo dos aspectos fsicos,
da funcionalidade, da dor, da condio geral de
sade, assim como da vitalidade, dos aspectos
sociais, emocionais e da sade mental que afe-
tam a qualidade de vida relacionada sade dos
clientes (FARIA et al., 2013).
Para o enfermeiro, a educao em sade
intrnseca formao, sendo uma estratgia fun-
damental no cuidado e importante recurso na
busca de uma melhor qualidade de vida. No cui-
dado do cliente diabtico, a educao em sade
torna-se um dos pilares da teraputica a ser ins-
tituda (SABIA, 2003).
Na enfermagem, a educao em sade um
instrumento importante para a melhoria da qua-
lidade de vida dos clientes, pois o enfermeiro, ao
atuar como educador e juntamente com o clien-
te, pode realizar intervenes na perspectiva de
orientaes voltadas para o autocuidado e de es-
clarecimento das dvidas inerentes ao processo
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Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
de adoecimento ou preveno das complicaes
do diabetes.
Dessa forma, a QV tem se tornado um cri-
trio importante na avaliao da efetividade de
tratamentos e intervenes na rea da sade.
Os indicadores de qualidade de vida tm sidoutilizados para verificar o impacto das doenas
crnicas no cotidiano das pessoas. Para isso,
preciso avaliar indicadores de funcionamento f-
sico, aspectos sociais, estado emocional e mental
e percepo individual do bem-estar. Entre os
instrumentos utilizados para este propsito, des-
taca-se o Medical Outcomes Study 36-Item Short-
Form Health Survey (SF-36), traduzido e validado
no Brasil (CICONELLI, 1997; REGASSINI, 2009).
A prtica educativa em sade transformadora
dialgica, reflexiva, sensvel e contextualizada. Visa
congregar saberes que possam trazer mudana sig-
nificativa na vida dos sujeitos e no se resume a
repassar conhecimentos. Nesta viso, a educao
em sade favorece a construo de conhecimen-
tos que permitam clientela no s cuidar de sua
sade, mas compreender as causas, solues e fo-
mentar a avaliao crtica sobre a qualidade das
aes desenvolvidas (SABIA, 2003).
Cabe destacar que a realizao deste estudo
justifica-se pela carncia de pesquisas que bus-
quem avaliar a qualidade de vida em pessoas em
condies crnicas, em especial o DM2, tendo
em vista os prejuzos que trazem ao indivduo,
famlia e sociedade, uma vez que onera o
setor sade, devido aos custos para o tratamen-
to, manejo das complicaes e possveis inter-
naes que podem ocorrer durante o percurso
da doena. Nesse sentido, o objeto do estudo
a qualidade de vida de pessoas com Diabetes
Mellitustipo 2.
Assim, os objetivos traados foram: identificar
o perfil sociodemogrfico de pessoas com DM
tipo 2 integrantes do Grupo dos Diabticos; e
avaliar a qualidade de vida das pessoas com DM
tipo 2.
MATERIAIS E MTODOS
Trata-se de um estudo com abordagem quan-
titativa, do tipo transversal. A amostra foi cons-
tituda por clientes adultos com no mnimo 40
anos de idade e idosos, de ambos os sexos, por-
tadores de DM tipo 2 que participam ou j par-
ticiparam do Grupo dos Diabticos do Hospital
Universitrio Antnio Pedro da Universidade
Federal Fluminense (HUAP/UFF) h pelo menos
1 ano ou mais.O cenrio do estudo foi o ambulatrio do
grupo dos diabticos do HUAP/UFF. A pesqui-
sa foi realizada durante o perodo de dezembro
de 2010 a junho de 2011, com 50 clientes do
ambulatrio.
O universo considerado engloba cerca de
2.000 clientes cadastrados, porm no represen-
ta o nmero de clientes que necessariamente
frequentam regularmente o servio de atendi-
mento. A amostra foi definida por convenincia,de acordo com a demanda de atendimento nos
dias pr-estabelecidos pelos pesquisadores, que
foram as segundas e quartas-feiras, no perodo
da manh e da tarde, j que eram os dias da
consulta de enfermagem aos clientes com DM2.
Para a coleta de dados, foram utilizados dois
instrumentos: o Medical Outcomes Study 36-
Item Short-Form Health Survey (SF-36), que
um questionrio genrico de fcil administrao
e compreenso, validado no Brasil (CICONELLI,
1997); e um questionrio sociodemogrfico, es-
truturado, baseado em protocolos pr-existentes
atualmente utilizados no Servio de Diabetes
Mellitusdo HUAP com clientes de primeira vez
nas consultas de enfermagem.
Para a caracterizao do perfil sociodemo-
grfico, foram utilizadas as seguintes variveis:
sexo, idade, procedncia, estado civil, renda e
escolaridade. Para mensurar a qualidade de vida,
utilizou-se o questionrio SF-36.
O citado questionrio permite uma avaliao
ampla sobre a qualidade de vida, alm de possi-
bilitar a comparao entre diferentes patologias.
Trata-se de um instrumento multidimensional
composto por 36 itens, englobados em 8 dom-
nios: capacidade funcional (10 itens), aspectos
fsicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral da
sade (5 itens), vitalidade (4 itens), aspectos so-
ciais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens) e
sade mental (5 itens), alm de mais uma ques-
to comparativa entre as condies de sade
atual e a de um ano atrs.
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Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
Esse questionrio avalia tanto os aspectos
negativos da sade (doena ou enfermidade),
como os aspectos positivos (bem-estar), e apre-
senta um escore final de 0 (pior estado geral de
sade) a 100 (melhor estado de sade), sendo
analisada cada dimenso em separado.A aplicao do instrumento teve durao de
aproximadamente 30 minutos para cada depoen-
te, devido s caractersticas dos dois instrumen-
tos utilizados na coleta de dados. O questionrio
SF-36 foi preenchido na ntegra e o sociodemo-
grfico teve preenchida a parte I, com os dados
de identificao do cliente. Os dois instrumentos
foram preenchidos pela pesquisadora com as
respostas dos participantes da pesquisa.
Os resultados obtidos foram dispostos em um
banco de dados, utilizando-se a tcnica de du-
pla verificao, para minimizar os possveis erros
de digitao. As medidas estatsticas descritivas
foram obtidas aps processamento dos dados,
utilizando-se o programa Statistical Package for
Social Science(SPSS) verso 15.0 para Windows.
O estudo atendeu Resoluo n. 196/96 do
Conselho Nacional de Sade (BRASIL, 1996),
foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa
do Hospital Universitrio Antonio Pedro, sob
o nmero CAAE 0198.0.258.000-10. Todos os
participantes do estudo leram e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
RESULTADOS
Foram analisados os dados obtidos median-
te a aplicao dos dois questionrios (um so-
ciodemogrfico e o SF-36) em 50 clientes com
diabetes mellitus tipo 2, que frequentavam o
programa educativo-participativo do HUAP/UFF.
Dados sociodemogrficos
Os 50 usurios participantes do estudo eram
adultos e idosos. Dentre eles, 60% encontravam--se na faixa etria de 40 a 60 anos, e 26% com
61 a 70 anos. A mdia e o desvio padro foi de
58,62 7,9 anos. Observou-se predomnio do
sexo feminino (64%). No que diz respeito pro-
cedncia, a maioria (60%) reside no municpio
de Niteri.
No que diz respeito ao estado civil, teve-se a
maioria de casados (68%). Em relao escolari-
dade, encontrou-se que 48% cursaram o ensino
fundamental incompleto. Quanto ocupao,26% eram aposentados e 36% referiram no ter
rendimentos.
Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas dos clientes com DM2, HUAP Niteri (RJ) 2011- (n=50)
Variveis n %Sexo
Homens 18 36
Mulheres 32 64
Distribuio etria
40 a 60 anos 30 60
61 a 70 anos 13 26
71 a 80 anos 07 14
Procedncia
Niteri 30 60
So Gonalo 20 40
Situao conjugal
Casado(a) 34 68
Vivo(a) 08 16
Solteiro(a) 05 10
Separado(a) 03 6
(continua)
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Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
Variveis n %
Escolaridade
Analfabeto 03 6
Ens. Fund. Incompleto 24 48Ens. Fund. Completo 11 22
Nvel Mdio Incompleto 03 6
Nvel Mdio Completo 09 18
Rendimento Mensal
Nenhum 18 36
Aposentadoria 13 26
Pensionista 07 14
Salrio mnimo (at 3) 12 24
Fonte: Elaborao prpria.
Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas dos clientes com DM2, HUAP Niteri (RJ) 2011 - (n=50)
Domnios do SF-36
O Grfico 1 apresenta os oito domnios do
Figura 1 Domnios do questionrio SF-36 e suas respectivas mdias de clientes adultos e idosos com
DM tipo 2 participantes do grupo educativo-participativo do HUAP Niteri (RJ) dez. 2010- jun. 2011
Fonte: Elaborao prpria.
questionrio SF-36 e as suas respectivas mdias:
(concluso)
Percebe-se que o domnio que teve a menor
mdia foi o da vitalidade (46,7). A segunda m-
dia menor foi a do domnio limitao fsica (48).
Ao mesmo tempo, o domnio da capacidade fun-
cional tambm obteve uma das menores mdias
(49). O domnio da dor recebeu a quarta menor
mdia (49,9), seguido dos domnios aspectos so-
ciais (50,1) e limitao emocional (54,1). Entre
os 8 domnios, o estado geral de sade (54,6) e
a sade mental (56,1) foram os que receberam
as maiores mdias.
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240Qualidade de vida de pessoas com diabetes mellitus
Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
DISCUSSO
A porcentagem maior do sexo feminino pode
estar relacionada maior procura das mulhe-
res pelo servio de sade. Alm disso, alguns
estudos realizados com pessoas portadoras deDM2 mostram a prevalncia do sexo feminino
(FARIA et al., 2013; FERREIRA; SANTOS, 2009;
PINHEIRO et al., 2002).
A literatura refere que as mulheres utilizam
mais os servios de sade que os homens, prin-
cipalmente os servios ambulatoriais. Em relao
ao gnero masculino, estudos constatam que os
homens diabticos tendem a apresentar maiores
sequelas crnicas da doena do que as mulheres.
Apesar de as taxas masculinas serem significa-
tivas nos perfis de morbimortalidade, observa-
-se que a presena de homens nos servios de
ateno primria menor do que a de mulheres
(GOMES; NASCIMENTO; ARAJO, 2007).
Para os adultos com idade inferior a 65 anos,
o diabetes tambm representa srio problema, j
que esses, quando se encontram em mau contro-
le metablico, tm que conviver durante muitos
anos com as comorbidades decorrentes da doen-
a, interferindo na sua expectativa e qualidade
de vida. A distribuio etria foi separada por
faixas, sendo a mdia de idade de 58,62 7,9
anos, com idade mnima de 46 anos e mxima de
76 anos. Estes resultados confirmam estudo que
demonstra maior prevalncia de DM em pessoas
com idade avanada (FERREIRA; SANTOS, 2009).
Em relao procedncia dos sujeitos, fo-
ram distribudos de acordo com os municpios
de Niteri (60%) e So Gonalo (40%). Os resul-
tados apresentados esto em conformidade com
o atendimento do HUAP, por ser um hospital de
nvel tercirio e quaternrio de ateno, organi-
zado de acordo com o SUS, tendo um sistema de
referncia local e regional.
No que se refere ao estado civil, constatou-
-se que a maioria era casada e 16% eram vivos.
Estudo diz que isto pode constituir um fator que
interfere no manejo do diabetes, uma vez que a
perda do companheiro pode provocar alteraes
de sade, como depresso, desnimo e perda da
vontade de viver, o que interfere na qualidade
de vida(OTERO; ZANETTI; TEIXEIRA, 2007).
Dos 50 participantes da pesquisa, 12 (24%) ti-
nham algum vnculo empregatcio, enquanto 38
(76%) disseram viver da aposentadoria, penso
ou se consideraram do lar. Os resultados confir-mam estudos que demonstram maior prevaln-
cia de pessoas com DM tipo 2 entre aquelas que
no exercem atividade profissional. Foram pes-
quisas realizadas com sujeitos participantes de
grupo educativo com 42,8% e 50% sem vnculo
empregatcio, respectivamente, em Minas Gerais
e So Paulo (FERREIRA; SANTOS, 2009; OTERO;
ZANETTI; TEIXEIRA, 2007).
A qualidade de vida dos sujeitos foi avaliada
por meio do questionrio SF-36, no qual o dom-
nio que teve a menor mdia foi o da vitalidade
(46,7), que avalia o nvel de energia e de fadi-
ga. Esta mdia representa uma diminuio de
energia e um aumento da fadiga, uma vez que
a maioria dos participantes relatou cansao na
execuo de tarefas cotidianas, como caminhar
e carregar sacolas de supermercado.
Este resultado foi encontrado em outro estu-
do, em que a vitalidade foi verificada como uma
das menores mdias (52,4). Em contrapartida, a
avaliao da QV em pacientes com insuficin-
cia renal crnica apresentou os menores escores
nas dimenses capacidade funcional (46) e es-
tado geral de sade (49). (CASTRO et al., 2003;
REGASSINI, 2009).
A segunda mdia menor foi a do domnio
dos aspectos fsicos (48), relacionada ao domnio
da vitalidade, pois, ao sentirem dificuldade na
realizao das atividades dirias, os participan-
tes relataram diminuio do vigor, da fora de
vontade e um aumento do cansao e da fadiga.
Estudo realizado para avaliar o DM e a qua-
lidade de vida mostra que os domnios da vitali-
dade e dos aspectos fsicos so os que recebem
as menores mdias (FERREIRA; SANTOS, 2009).
Ao mesmo tempo, o domnio da capacida-
de funcional tambm obteve uma das menores
mdias (49). Este domnio avalia a presena e a
extenso das limitaes relacionadas capacida-
de fsica. Com isso, nota-se que menos energia
proporcional a mais dificuldade de realizar as
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241Carla lube de Pinho Chibante, Vera Maria Sabia, Enas Rangel Teixeira, Jorge Luiz Lima da Silva
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atividades cotidianas. Outro estudo corrobora
este resultado, ao verificar mdia 46 para este
domnio (CASTRO et al., 2003).
O domnio da dor recebeu a quarta menor
mdia (49,9). A finalidade dessa varivel medir
a extenso ou interferncia da dor nas atividadesda vida diria dos pacientes. Pode-se dizer que
a dor relaciona-se com todos os outros domnios
citados, pois, ao ser sentida, vem acompanhada
de diminuio da energia, aumento do cansao
e, consequentemente, de dificuldade em realizar
tarefas e atividades cotidianas.
No estudo de Regassini (2009), que avaliou
a QV em pacientes diabticos, esse domnio re-
cebeu a quarta menor mdia (67,3), assim como
neste estudo. Entretanto, por ter-se obtido um
escore mais elevado, pode ser que no tenha
interferido de forma significativa na QV dos par-
ticipantes, diferentemente desta pesquisa.
Entre os 8 domnios, o estado geral de sade
(54,656) e a sade mental (56,186) foram os que
receberam as maiores mdias. Esses domnios
refletem a percepo e as expectativas do indiv-
duo em relao sade e como est se sentindo
no seu dia a dia. Percebe-se que, apesar de os
participantes relatarem cansao, desnimo, difi-
culdade na realizao das atividades cotidianas
e certa limitao fsica e social, avaliam que, de
forma geral, a sua sade boa.
Esses resultados corroboram os encontrados
em outros estudos que avaliam a qualidade de
vida em pessoas com DM e outras doenas cr-
nicas, em que o domnio estado geral de sade
recebeu um dos maiores escores (51,1), segui-
do do domnio sade mental (49,9). Do mesmo
modo, os domnios estado geral de sade e sa-
de mental receberam nesses estudos as maio-
res mdias, com 66,99 e 69,14, respectivamente
(CATTAI et al., 2007; FERREIRA; SANTOS, 2009).
Com isso, pode-se dizer que o conceito de
qualidade de vida difere de acordo com a pes-
soa, com o momento e com a cultura. Assim,
a qualidade de vida est diretamente ligada
percepo que o indivduo possui acerca de sua
posio na vida, no contexto da cultura e no sis-
tema de valores em que vive em relao aos seus
objetivos, expectativas, padres e preocupaes.
Nesse sentido, o enfermeiro, enquanto pro-
fissional da sade engajado na assistncia ao
cliente com DM2, deve programar novas prticas
de cuidado capazes de promover a qualidade de
vida das pessoas com diabetes, uma vez que a
adeso ao tratamento e o autocuidado so pon-tos frgeis da educao em sade. Alm disso,
importante a avaliao da percepo e dos sig-
nificados que o cliente apresenta da sua doena,
para que o cuidado seja integral e voltado para
estimular a qualidade de vida desses clientes.
Diante disso, avaliar a qualidade de vida
essencial, pois favorece o direcionamento de
aes frente s principais carncias encontradas,
uma vez que aspectos importantes, que podem
influenciar at mesmo no manejo do tratamen-
to e, consequentemente, na qualidade de vida
das pessoas com DM, podem ser solucionados
ou amenizados com a implementao de distin-
tas estratgias pela equipe multiprofissional de
sade.
CONSIDERAES FINAIS
Afirma-se que os instrumentos para avaliar a
qualidade de vida concedem parmetros objeti-vos para se compreender e intervir nas prticas
educativas em sade integradas com os dados
subjetivos da clnica. Assim sendo, so impor-
tantes para verificar o impacto da educao em
sade na qualidade de vida das pessoas que vi-
vem com DM tipo 2.
Constatou-se um impacto negativo do diabe-
tes na qualidade de vida dos participantes, per-
ceptvel pelas mdias obtidas em cada dimenso
do SF-36, principalmente nos aspectos fsicos, na
capacidade funcional e na vitalidade. Em contra-
partida, os domnios referentes sade mental e
ao estado geral de sade foram os que recebe-
ram os maiores escores.
Diante disso, conhecer os dados sociodemo-
grficos e os domnios contemplados no estudo
possibilita planejar aes de promoo da sa-
de voltadas para grupos de pessoas diabticas,
que contribuam para a melhoria da qualidade
de vida.
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242Qualidade de vida de pessoas com diabetes mellitus
Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 3, p. 235-243, set./dez. 2014
Como limitao do estudo, pode-se mencio-
nar a no utilizao de instrumento especfico
para avaliar a QV da populao com DM, uma
vez que o instrumento genrico no est dire-
cionado s caractersticas especficas da doena
em estudo, bem como das pessoas acometidas.Este estudo poder favorecer a criao de
outras estratgias para subsidiar a clnica do cui-
dado em enfermagem, numa perspectiva que
amplia o agir do enfermeiro, envolvendo famlia,
territrio e outros aspectos da promoo da sa-
de. De modo aditivo, contribuir para o desen-
volvimento de tcnicas e tecnologias em sade,
enfocando os cuidados das pessoas diabticas
tipo 2, prevenindo complicaes e operaciona-
lizando o processo de trabalho do(a) enfermei-
ro(a) no que se refere prtica educativa e ao
cuidado voltado para a melhoria da qualidade
de vida.
REFERNCIAS
ALMEIDA, Marco A.B.; GUTIERREZ, Gustavo L.;
MARQUES, Renato. Qualidade de vida: definio,
conceitos e interfaces com outras reas de pesquisa.
So Paulo: EACH/USP, 2012. Disponvel em: . Acesso em: 22 ago. 2012.
BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno
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Melitus. Braslia, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 23 jun. 2012.
______. Resoluo n. 196, de 10 de outubro
de1996. Aprova as seguintes diretrizes e normas
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Submetido: 12/8/2014
Aceito: 16/10/2014