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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CIDADANIA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE
Por: AMILCAR DE FIGUEIREDO GALVÃO
Orientador
Prof. JORGE VIEIRA
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CIDADANIA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Cândido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Gestão Pública.
Por: AMILCAR DE FIGUEIREDO GALVÃO
3
AGRADECIMENTOS Agradeço á DEUS, a minha família e todos aquelas pessoas que contribuíram de uma
forma direta ou indiretamente para me dar força para essa conquista. Para que eu possa
cada vez mais alcançar meus objetivos.
4 DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia primeiro a mim, a minha mulher, a meu pai, minha mãe em
especial a minha filha, por quem luto dia a dia, e quem é a minha luz, a minha inspiração
de vida.
5
RESUMO
Esta pesquisa visa as dificuldades da construção da cidadania no nosso país,
principalmente no que se refere aos direitos sociais.
A educação para a cidadania pretende fazer de cada pessoa um agente de
transformação. A idéia de educação deve estar intimamente ligada às de liberdade,
democracia e cidadania. "A democracia não se refere só à ordem do poder público do
Estado, mas devem existir em todas as relações sociais, econômicas, políticas e culturais.
Educar para a cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas.
Na área da saúde as grandes transformações da medicina desde as últimas décadas, têm
contribuído para o estabelecimento de novos paradigmas. De acordo com os princípios e
diretrizes do Sistema único de Saúde/SUS. Vários foram e são, atualmente, os programas
que envolvem a Educação em Saúde.
A emergência do campo da Saúde do Trabalhador no Brasil está marcada pela conjuntura
de ascensão das lutas dos trabalhadores. A luta pela saúde requer atuação no cotidiano
dos trabalhadores em seu processo de trabalho partindo das experiências concretas por
eles vivenciadas.
A crise da saúde no Brasil vem de longa data e continua presente no dia a dia da
sociedade. No meio da crise está á população que precisa de atendimento, direito
garantido pela nossa Constituição. O que deveria ser prioridade para todas as
autoridades torna-se mais um instrumento de disputa política. O fato é que há escassez
de recursos financeiros, materiais e humanos, para manter os serviços de saúde
operando com eficiência. É difícil apontar apenas um motivo para tal crise, poderíamos
escrever milhares de linhas sobre o assunto e chegaríamos à mesma conclusão: em
pleno século XXI pouco se evoluiu em termos de política de saúde no Brasil. Já passamos
da hora de criarmos um Código Nacional da Saúde, respaldado na eticidade, para que
possamos organizar este setor no Brasil.
6 METODOLOGIA
A coleta de dados bibliográficos foi realizada através de consulta a livros que continham
informações sobre o tema de Cidadania na Educação e Cidadania na Saúde, e em sites
na internet sobre o tema abordado.
Após a coleta dos dados sobre o tema abordado, foi feita uma seleção do que seria
aproveitado para conter na pesquisa. Primeiro foi selecionado o conteúdo da Cidadania
na Educação e após o término deste estudo, foi feita a seleção do conteúdo da Cidadania
na Saúde.
Pretende-se no final da pesquisa fazer com que os leitores tenham percepções e
entendimentos sobre a natureza geral do assunto abordado.
7
SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 08
CAPÍTULO I – A Cidadania do Brasil.............................................................................. 09
1.1 - Longo Caminho desde a Colonização ................................................................ 09
1.2 - Marco Divisório ................................................................................................... 14
CAPÍTULO II – Cidadania na Educação ......................................................................... 22
2.1 - Educação para a Cidadania .............................................................................. 22
CAPÍTULO III – A Cidadania na Saúde ........................................................................... 25
3.1 – Avaliação Participativa em Programa de Saúde ............................................... 25
3.2 – Saúde do Trabalhador ....................................................................................... 29
3.3.- A Saúde nos Dias Atuais....................................................................................33 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 36
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 37/38
8
INTRODUÇÃO A educação tem como finalidade a construção da cidadania. Na escola sua ação e
reflexão poderá contribuir como uma educação emancipadora, onde os cidadãos e as
cidadãs descubram a sua real capacidade de perceber o mundo em que vive. A presente
pesquisa tem como foco de interesse a “cidadania na educação e na saúde”. Onde
poderemos observar as condições da vida da população, do ambiente e da utilização dos
serviços públicos. A saúde, Sob o lema “Saúde direito de todos e dever do Estado”
Constituição Brasileira (1988), a questão da participação popular que não pode, ser
negligente. Seu destaque se dá, especialmente por se constituir também em direito
garantido no texto constitucional, compondo uma das principais diretrizes do atual sistema
de saúde. Por outro lado, para que a relação dialética conscientização/participação se
desenvolva, no caso do setor da saúde, do espaço micro da prática participativa
representado por relações cotidianas como as que se estabelecem nas Unidades de
Serviço.
9
CAPÍTULO I – A CIDADANIA NO BRASIL A cidadania pode ser definida como o gozo dos direitos civis, políticos e sociais.
Respectivamente, esses direitos significam aqueles fundamentais à vida, à liberdade, à
propriedade, à igualdade, voltados para a participação do sujeito no governo da
sociedade, bem como seu acesso à educação, ao trabalho, à saúde. O Estado é quem
deve assegurar esses direitos. No momento em que o indivíduo tem esses direitos
violados, ele perde sua condição de cidadão. Ser cidadão é ter consciência de que se é
parte integrante e responsável pelo meio em que está inserido e ser capaz de alterá-lo,
melhorá-lo. Para se formar um cidadão é preciso educá-lo, abastecê-lo de conhecimento
e possibilidade para que ele possa exercer a sua cidadania. (CARVALHO, 2001).
1.1 – O Longo Caminho Desde a Colonização
Brasil colonial: Uma das razões fundamentais das dificuldades da construção da
cidadania está ligada ao "peso do passado", mais especificamente ao período colonial
(1500-1822), quando "os portugueses tinham construído um enorme país dotado de
unidade territorial, lingüística, cultural e religiosa. Mas tinham deixado uma população
analfabeta, uma sociedade escravocrata, uma economia monocultora e latifundiária, um
Estado Absolutista". Em suma, foram 322 anos sem poder público, sem Estado, sem
nação e cidadania. Os conquistadores: Já no princípio da história do Brasil, as
contradições apareceram. Primeiro, pode-se dizer que o Brasil não fora "descoberto",
conforme comumente menciona-se, mas, sim, "conquistado" pelos europeus
(portugueses). O encontro dessas duas culturas (a européia versus a dos povos nativos
das Américas) foi o confronto trágico de duas forças em que uma pereceu
necessariamente, um encontro pouco amigável entre duas civilizações: uma considerada
"desenvolvida", por conhecer certas tecnologias (a irrigação, o ferro e o cavalo) versus a
nativa ("desconhecida" e, por isso mesmo, considerada "bárbara"). Os nativos viviam
ensimesmados com a natureza, com uma religião diferente do cristianismo europeu. Suas
crenças eram mescladas com os elementos da natureza: a lua, o sol, as estrelas. Até
mesmo a palavra "índio" foi o nome dado pelos europeus ao se confrontarem com o
"outro" e quem deu o nome, no caso, acabou se apossando, ficando dono. Os espanhóis
e, mais tarde, os portugueses chegaram, impuseram sua força e conquistaram com a
violência (armas) e a ideologia (religião): em uma das mãos, com a cruz do Cristo
europeu, simbolizando o poder da Igreja; na outra, a espada para a conquista. O
resultado foi o extermínio, pela guerra, escravidão e doença (sífilis, varíola, gripe), de
10 milhões de índios. Grande parte da população indígena foi dizimada rapidamente pelo
homem "civilizado". Outra característica do período colonial está ligada à conotação
comercial. O Brasil serviu à produção de monocultura para resolver o problema da
demanda européia, fornecendo a cana-de-açúcar. Isto exigia largas extensões de terras e
mão-de-obra escrava dos negros africanos. No Brasil se configurou o latifúndio
monocultor e exportador de base escravista. Outros ciclos de exploração se sucederam
no Brasil como o da mineração (séc. XVII), do gado, da borracha, do café..., servindo
assim, por muito tempo, apenas como fornecedor de matérias-primas à metrópole
(Portugal). A escravidão: No período colonial, a cidadania foi negada à quase totalidade
da população; porém, os mais afetados foram os escravos negros provenientes do
continente africano. Foi por volta de 1550 que os escravos começaram a ser importados.
Essa prática continuou até 1850, 28 anos após a independência. Calcula-se que até 1822
tenham sido introduzidos na colônia cerca de 3 milhões de escravos. É importante
destacar que em todas as classes sociais desse período havia escravos. Depois de mais
de 300 anos, o Brasil chegou à abolição da escravidão, mais por pressão externa do que
por um amadurecimento da consciência social da população, mas da própria elite
pressionada pelos interesses econômicos internacionais. Pela utilização da mão-de-obra
escrava nas colônias, foi possível a formação e o desenvolvimento dos Estados Nacionais
na Europa e a construção das cidades. Além disso, realizou-se a Revolução Industrial na
Inglaterra, devido à importação de negros africanos, que eram mestres ferreiros,
marceneiros e carpinteiros, o que propiciou o acúmulo de riqueza gerador do capitalismo
A situação do negro, hoje, continua sendo de marginalização e exclusão. Por isso, há a
necessidade de medidas não apenas afirmativas, mas, também, transformativas na
emancipação da etnia negra no país. Há muito que fazer para que a verdadeira abolição
da escravidão aconteça, principalmente na questão da educação, acesso ao trabalho e à
renda.N a questão do acesso ao trabalho, as diferenças são expresivas, segundo ainda
os dados do IBGE, em 1999, a população branca que trabalhava tinha rendimento médio
de cinco salários mínimos. Pretos e pardos alcançavam menos que a metade disso: dois
salários. Essas informações confirmam a existência e a manutenção de uma significativa
desigualdade de renda entre brancos, pretos e pardos na sociedade brasileira.
O analfabetismo: Outra marca registrada do período colonial foi o analfabetismo. A
maioria da população, segundo Carvalho (2002) era analfabeta: em 1872, meio século
após a Independência, apenas 16% da população era alfabetizada. Apenas a elite
brasileira da época era portadora do conhecimento, enquanto o alfabetismo predominava
nas classes mais pobres. Entre os letrados, principalmente, era comum a formação
11 jurídica feita em Portugal: primeiro em Coimbra e, depois, em Lisboa. Além disso,
Portugal proibiu o Brasil de abrir universidades em seu territorio. Estado sem nação: É
importante destacar que a construção da cidadania está ligada essencialmente à
construção de uma nação e de um Estado. Isto é, tem a ver com a formação de uma
identidade entre as pessoas (tradição, religião, língua, costumes), com a construção de
uma nacionalidade ou, sob o aspecto jurídico na formação de um estado. Assim, o
sentimento de pertencer a uma nação é um indicativo importante para a construção de um
Estado. Sentir-se parte de uma nação e de um Estado é condição fundamental para a
construção da cidadania: "Isto quer dizer que a construção da cidadania tem a ver com a
relação das pessoas com o Estado e com a nação. As pessoas se tornavam cidadãs à
medida que passavam a se sentir parte de uma nação e de um Estado" (CARVALHO,
2002, p.12). No Brasil, como veremos, o Estado precedeu a formação da nação. A
formação do Estado deu-se exclusivamente pela vontade da elite portuguesa que aceitou
e negociou com a Inglaterra e com a elite brasileira a "independência" do país: "Graças à
intermediação da Inglaterra, Portugal aceitou a independência do Brasil mediante o
pagamento de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas". As condições se
mostravam favoráveis para a independência do Brasil, o que veio a ocorrer em 7 de
setembro de 1822; porém, à revelia do povo. No período imperial, existiam dois partidos
políticos com ideologias semelhantes: o Conservador e o Liberal. O primeiro defendia os
interesses da burguesia reacionária proveniente dessa mesma classe, dos donos das
terras e senhores de escravos (domínio agrário); enquanto o segundo defendia os
interesses da burguesia progressista, representada pelos comerciantes (domínio urbano).
No período colonial, assim como na República Velha (1890-1930), a grande maioria da
população ficou excluída dos direitos civis e políticos, com um reduzido sentimento de
nacionalidade. Isso não significa que não houve resistência por parte de alguns grupos
oposicionistas. República sem participação popular: Assim como a emancipação
política (independência), a Proclamação da República brasileira apresentou
características golpista e elitista ao ser instituída. O povo, por sua vez, não só não
participou como foi tomado de surpresa com a proclamação do novo regime. O processo
eleitoral (participação política) da população durante os períodos imperial e republicano foi
insignificante. De 1822 até 1881, votavam apenas 13% da população livre. Em 1881,
privou-se o analfabeto de votar. De 1881 até 1930 - fim da Primeira República -, os
votantes não passaram de 5,6% da população. Foram cinqüenta anos de governo,
imperial e republicano, sem povo. Assim, até o final da República Velha (1930), a
participação política popular foi restrita. Não havia propriamente um povo politicamente
12 organizado, nem mesmo um sentimento nacional consolidado. Os grandes
acontecimentos na arena política eram protagonizados pela elite, cabendo ao povo o
papel de mero coadjuvante, assistindo a tudo sem entender muito bem o que se passava.
Outro aspecto da vida política brasileira que marcou não apenas o período colonial e
republicano, mas, de certa forma, nossa história política atual, está ligado aos "males" ou
"vícios", como o patrimonialismo, o coronelismo, o clientelismo, o populismo e o
personalismo das nossas instituições e lideranças políticas. Fica explícito, que o
coronelismo foi um sistema político nacional baseado na "troca de favores" entre o
governo central e os detentores do poder local. As relações entre o poder local (coronéis)
e o governo podem ser descritas como um caminho de duas vias, ou seja, um
necessitava do outro para sobreviver: A questão do coronelismo, foi tratada por Victor
Nunes Leal, na obra Coronelismo, enxada e voto, publicada em 1948. Na concepção de
Leal, o coronelismo é visto como um sistema político, uma complexa rede de relações que
vai desde o coronel até o Presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos.
Percebe-se que, muitos outros vícios permanecem na vida política brasileira. É
necessário, além da participação dos setores organizados da sociedade civil e do olhar
crítico e imparcial da mídia, outras formas de controle e responsabilização dos atos
administrativos das pessoas que ocupam cargos públicos. Trata-se aqui de inserir o
conceito de autoridades politicamente responsáveis, autoridades que podem ser
responsabilizadas pelos seus atos, que devem prestar contas dos seus atos". O controle
democrático pode ser vertical (relação governantes e governados) e horizontal: poderes
externos podem punir o governo – separação de poderes (autoridades estatais que
controlam o próprio poder: que pode empreender ações que vão desde o controle
rotineiro até sanções legais ou inclusive impeachment, conforme o caso. (VIANNA -1972
– CARVALHO – 2010).
Década de 1930: Surgem os direitos sociais: A partir dos anos 20 inicia, uma nova era
na história política do Brasil, as influências internas, como o processo crescente de
urbanização, industrialização, aumento do operariado, influências externas, a crise da
Bolsa de Valores de Nova Iorque, e a Semana de Arte Moderna acabam modificando as
relações econômicas e políticas no Brasil. A partir desta data, houve aceleração das
mudanças sociais e políticas, principalmente com a criação do Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio e a Consolidação das Leis do Trabalho em 1943. Fica evidente que,
no Brasil, os direitos sociais não foram conquistados, mas, sim, conseqüência de
concessões de governos centralizadores e autoritários. Em 1937 Vargas instaura uma
13 ditadura apoiado pelo aval dos militares instituindo o Estado Novo ( Em termos políticos
tivemos retrocesso). O período do Estado Novo termina em 1945. Logo após esse
período, o país passou pela primeira experiência democrática (1945 até 1964), tendo
como principal característica política o populismo e o nacionalismo.
Ditadura militar (retrocesso dos direitos): Depois da breve experiência democrática
dos anos anteriores, o Brasil entrou, do ponto de vista dos direitos civis e políticos, nos
anos mais sombrios da sua história. Os Atos Institucionais (AIs) deram a tônica do
governo. O AI 1, de 1964, cassou os direitos políticos. O AI 2, de 1965, aboliu a eleição
direta para a Presidência da República, dissolveu os partidos políticos criados a partir de
1945 e estabeleceu um sistema de dois partidos. Já o AI 5, de 1968, foi considerado o
mais radical de todos, o que mais fundo atingiu direitos políticos e civis. O Congresso foi
fechado, passando o presidente, general Costa e Silva, a governar ditatorialmente. Foi
suspenso o habeas corpus para crimes contra a segurança nacional, houve cassações
de mandatos, suspensão de direitos políticos de deputados e vereadores, além da
demissão sumária de funcionários públicos, censura à imprensa e a instituição da pena de
morte por fuzilamento. No que se refere aos direitos sociais, percebe-se que houve uma
sensível melhora na época dos militares. Foram criados o Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Banco Nacional de Habitação (BNH), e em
1974 o Ministério da Previdência e Assistência Social. Aos poucos o período da ditadura
militar dá sinais de esgotamento e os ares de novos tempos começam a soprar no cenário
político do Brasil. Depois da pressão política da oposição, da opinião pública, de
intelectuais, artistas e da população em geral, os militares deixam o poder, de forma
negociada, no ano de 1985. Novos partidos foram criados e a nova Constituição Nacional
foi promulgada em 1988. Essa Constituição, apesar das defesas de alguns setores
conservadores da sociedade (como o "Centrão" – deputados que defendiam as grandes
propriedades rurais), foi considerada a Constituição mais liberal de todas. Ulisses
Guimarães, na época a designou como a "Constituição Cidadã". No entanto, apesar dos
avanços políticos, os direitos civis e sociais são deficientes desde 1985. Há precariedade
na questão da segurança e no acesso à Justiça, além da morosidade – e há um número
reduzido de defensores públicos. Aconteceu no Brasil, diferentemente de outros países, a
lógica inversa: primeiro os direitos sociais, depois os políticos e civis. Acreditamos que os
principais obstáculos para a construção da cidadania brasileira encontra-se no latifúndio
agro-exportador do período colonial, bem como o escravismo, o analfabetismo marcaram
14 negativamente nossas origens e, até hoje dificultam avanços no âmbito político-social e
econômico. Além dessas, outras razões foram e continuam sendo entraves para a
consolidação das instituições política, que impedem os avanços necessários para uma
cidadania plena. Na ordem política permanecem ainda algumas mazelas históricas como
o patrimonialismo (promiscuidade entre o público e o privado), o personalismo
(messianismo), coronelismo com sua nova roupagem, o clientelismo, além da corrupção,
entre outros...Há um longo caminho a percorrer. É só ativar um pouco a nossa acuidade
natural e veremos que estamos cercados de um sem número de mazelas que insistem
em infestar a nossa sociedade. Os representantes que, mal acabam de se eleger, dão as
costas para o eleitor e este não lhe nega a recíproca, deixando aqueles ainda mais à
vontade para as suas rapinagens. Uma pesquisa divulgada pelo Ibope1[2] em 25.11.03
traz dados preocupantes sobre as nossas relações de cidadania. Indica que 56% dos
brasileiros não têm vontade de participar das práticas capazes de influenciar nas políticas
públicas. 35% nem tem conhecimento do sejam essas práticas e 26% acham esse
assunto “chato demais” para se envolver com ele. Nem tudo está perdido: 44% dos
entrevistados manifestaram algum interesse em participar para a melhoria das atividades
estatais, e entendem que o poder emana do povo como está previsto na Constituição. A
pesquisa anima, de forma até surpreendente, quando mostra que 54% dos jovens (entre
16 e 24 anos), têm interesse pela coisa pública. Interesse que cai progressivamente à
medida que a idade aumenta. A pesquisa ajuda a desmontar a idéia que se tem de que o
jovem é apático ou indiferente às coisas do seu país. (VIANNA -1972 – CARVALHO –
2010)
1.2 – O Marco Divisório
Vitorioso no Rio de Janeiro, a 24 de outubro de 1930, o movimento pacificador dirigido por
civis e militares de três estados da federação, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba,
depôs o Presidente Washington Luis. Episódio este conhecido por Revolução de 30, foi
sem dúvida o acontecimento mais marcante da história política do Brasil desde a
Independência . Tomou poder uma junta Governativa composta de Generais de Divisão.
Depostas, igualmente todas as autoridades federais, estaduais e municipais que
apoiavam a situação anterior, chegou ao Rio de Janeiro, a 31 de outubro o chefe da
revolução, Getúlio Vargas, que a 03 de novembro tomou posse da chefia do 2º Governo
Provisório da República. Terminava assim a 1ª República que se caracterizava pelo
governo das oligarquias regionais principalmente, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande
15 do Sul. Dias depois por uma Lei Orgânica, foram limitados os poderes discricionários de
que se achava investido aquele Governo, sendo declarada ainda em vigor grande parte
da Constituição de 1891. Dissolvidos o Congresso Nacional, os Senados, Câmara dos
Deputados e Assembleias Legislativas Estaduais, resultou grande centralização
administrativa. A mudança mais importante verificou-se no avanço dos direitos sociais.
Uma das primeiras medidas do Governo Revolucionário foi á criação de dois novos
Ministérios, da Educação e Saúde e do Trabalho da Indústria e Comércio.
Consequentemente, novos rumos foram dados ao ensino e ao trabalho no Brasil,
reformando-se aquele e a seguir, veio vasta legislação trabalhista, e previdenciária,
completada em 1943 com Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Teve ainda o
Governo de Getúlio Vargas de enfrentar a séria situação econômica, financeira e
gerenciais, que até hoje afligem sua implementação. Os direitos políticos tiveram
evolução mais complexa, pois não foi de fácil aplicação o novo sistema político e
administrativo. O país entrou em fase de instabilidade, vivendo uma fase de grande
agitação política, alternando-se ditaduras e regimes democráticos, durando propriamente
a fase revolucionária até 1934 quando foi votada na constituição e que elegeu Vargas
presidente. Em 1937 com o golpe de Vargas, apoiado pelos militares, iniciou-se um
período de ditadura que duraria até 1945, quando foi revogada a carta de 1934, em vários
pontos, principalmente, a partir do chamado Ato Adicional que determinou a realização de
eleições presidenciais e gerais, de modo contrário ao disposto em vários de seus artigos.
A repressão iniciada em 1935 teve como desfecho o golpe de 10 de novembro de 1937,
que deu origem ao Estado Novo. Vargas apresentou à nação nova carta constitucional,
baseada na centralização política, no intervencionismo estatal e num modelo antiliberal de
organização da sociedade. Com a implantação do Estado Novo, Vargas cercou-se de
poderes excepcionais. As liberdades civis foram suspensas, o Parlamento dissolvido, os
partidos políticos extintos. O comunismo transformou-se no inimigo público número um do
regime, e a repressão policial instalou-se por toda parte. Mas, ao lado da violenta
repressão, o regime adotou uma série de medidas que iriam provocar modificações
substantivas no país. O Brasil, até então, basicamente agrário e exportador, foi-se
transformando numa nação urbana e industrial. O Estado como promotor da
industrialização e interventor da vida social, se voltou para o fortalecimento de uma
indústria de base e passou a ser o agente fundamental da modernização econômica. O
investimento em atividades estratégicas, tornou-se questão de Segurança Nacional. As
forças armadas passaram a ser um dos principais suportes do processo de
industrialização. Vargas com a centralização do poder procurou diminuir a autonomia dos
16 Estados, para maior controle das oligarquias Regionais. Buscando para o fortalecimento
do Estado Nacional, investiu na educação e cultura. O estado Novo na área social,
elaborou leis específicas e implantou uma estrutura corporativista, atrelando os sindicatos
a esfera estatal. Acabou com a pluralidade sindical e criou o imposto sindical, contribuição
anual obrigatória, paga por todo empregado, sindicalizado ou não. O salário mínimo foi
institucionalizado. Para mediar às relações entre patrão e empregado, o governo
regulamentou a Justiça do Trabalho. Através da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), sistematizou a legislação trabalhista. Em nome da valorização do trabalhador
nacional, o Estado Novo adotou uma política de restrição à imigração. Através do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que, além de exercer a censura sobre
todos os meios de comunicação, investia maciçamente na propaganda do regime, Getúlio
Vargas conseguia reforçar sua imagem de protetor da classe trabalhadora No entanto, a
partir de 1942 teve início o processo de desarticulação do Estado Novo. Certamente o
envolvimento do Brasil na II Guerra Mundial, aliando-se por razões de ordem econômica
aos Estados Unidos e rompendo com a Alemanha nazista, contribuiu para o
enfraquecimento do regime. Como justificar a manutenção da ditadura, se soldados
brasileiros lutavam na Europa em prol da democracia? Em novembro de 1945, Getúlio foi
deposto da presidência da República. Extinto, o Estado Novo deixava uma forte herança
histórica e matéria-prima para pesquisa e reflexão nas décadas seguintes. Analisar esse
período em todas as suas dimensões significa apreender paradoxos e afastar tentações
maniqueístas. Afinal, a despeito da ausência dos direitos políticos e da precariedade das
liberdades civis, o regime ditatorial consolidou a idéia do Estado como agente
fundamental do desenvolvimento econômico e do bem-estar social. Se a política
trabalhista de Vargas permaneceu praticamente intacta até os dias de hoje, se a
discussão sobre o formato do Estado e a reforma da previdência social são temas que
continuam mobilizando a sociedade, não se pode negar que o Estado Novo contribuiu
para reforçar a fragilidade de nossas instituições político-partidárias, para produzir um
descaso pelos direitos civis e políticos e para disseminar a ideologia do anticomunismo. A
crença na dicotomia entre democracia social e democracia política, na supremacia do
Executivo sobre o Legislativo e da técnica sobre a política são algumas das heranças do
Estado Novo que comprometem até hoje a consolidação da nossa democracia.
O nacionalismo econômico do estado novo só fez crescer com o passar do tempo. Seus
cavalos de batalha foram a siderurgia e o petróleo. A siderúrgica de Volta Redonda
tornou-se um dos símbolos do nacionalismo brasileiro. O governo ditatorial criou um
Conselho Nacional de Petróleo, primeiro passo para o estabelecimento do monopólio
17 estatal da exploração e refino do petróleo, que só foi possível quando Vargas voltou ao
poder, na década de 50. A oposição ao estado novo só ganhou força por efeito das
mudanças externas trazidas com o final da Segunda Guerra Mundial. De 1937 a 1945 o
país viveu sob um regime ditatorial civil, garantido pelas forças armadas. Terminada a
guerra, em 1945 voltou à cogitação geral a política interna do Brasil, registrando-se
grande insatisfação pela continuidade da situação criada pelo golpe de Estado de 1937.
Determinada a realização de eleições, surgiram as candidaturas. Neste ano, nova
intervenção militar derrubou Vargas e deu início a primeira experiência, que poderíamos
de chamar de “Democrática”, em toda a história do país. O voto popular começou a ter
peso importante por sua crescente extensão e lisura do processo eleitoral. Este período
ficou conhecido como de política populista. Esta experiência terminou em 1964, quando
os militares intervieram novamente implantando nova ditadura. Apesar de tudo, porém,
não se pode negar que o período de 1930 a 1945 foi a era dos direitos sociais. A luta
sucessória foi decidida em favor do General Eurico Gaspar Dutra, Ministro da guerra no
governo de Vargas graças ao apoio que lhe deu o ex-presidente, poucos dias antes das
eleições. A quinta Constituição brasileira (quarta da República), foi promulgada a 18 de
setembro de 1946, por nossa quarta Assembleia Constituinte. Esta Constituição manteve
as conquistas sociais do período anterior e garantiu os tradicionais direitos civis e
políticos. Até 1964, houve liberdade de imprensa e de organização política. Vários
partidos políticos nacionais foram organizados e funcionaram livremente dentro e fora do
Congresso, à exceção do Partido Comunista, que teve seu registro cassado em 1947.
Uma das poucas restrições sérias ao exercício da liberdade referia-se ao direito de greve.
Greves só eram legais se autorizadas pela justiça do trabalho. Essa exigência, embora
conflitante com a constituição, sobreviveu até 1964, quando foi aprovada a primeira lei de
greve, já no governo militar. O que não impediu que várias greves tenham sido feitas ao
arrepio da lei. O quinquênio presidencial do governo Eurico Gaspar Dutra (1946 a 1951),
transcorreu em relativa paz política. Ao se candidatar a eleição presidencial de 1950, o
ex-ditador não teve dificuldade em eleger-se, conquistando quase 49% dos votos. Seu
segundo governo foi marcado por radicalização populista, e nacionalista e consolidou sua
imagem de “pai dos pobres”. Apesar da sua reconhecida capacidade de governante, não
era mais o mesmo político hábil e maneiroso do período anterior, e outras eram as
circunstâncias então apresentadas pelo país. Fez tentativas no sentido da obtenção de
certo congraçamento partidário, mas teve de enfrentar, desde o início, ativa oposição, em
grande parte alimentada por incompatibilidades criadas em seu anterior governo
discricionário. O resultado dessa situação foi uma crescente desconfiança contra ele,
18 culminada quando, em 1954, da tentativa de assassinato de um jornalista da oposição,
senhor Carlos Lacerda, resultou a morte de um oficial da Aeronáutica o major Rubens
Vaz. O fato irritou os militares e precipitou os acontecimentos. Os chefes das três forças
exigiram a renuncia do presidente. Velho e sem a energia e a astúcia que tinham
caracterizado sua primeira fase de governo, Vargas preferiu matar-se a ceder ou a lutar.
Deu um tiro no coração do dia 24 de agosto de 1954, em seu quarto de dormir no palácio
do Catete, deixando uma carta-testamento de forte conteúdo nacionalista e populista. A
reação popular foi imediata e mostrou que mesmo na morte, o prestígio do ex-presidente
mantinha-se intato. De acordo com a Constituição assumiu a presidência o vice-
presidente João Café Filho. Presidiu, em 1955, à eleição de outro Presidente, o senhor
Juscelino Kubitschek de Oliveira, Governador de Minas Gerais, que recebeu a
Presidência da República a 31 de janeiro de 1956. Transcorreram em atmosfera de
incerteza os primeiros tempos de governo do novo presidente. Cedo demonstrou que
seus principais objetivos eram a transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília,
no interior do país, a obtenção de uma fase de intenso desenvolvimento material do
Brasil, mediante a abertura de grandes rodovias, o início de obras hidrelétricas de vulto e
o fomento a importantes atividades industriais. Apesar da oposição civil e de revoltas
militares a habilidade do novo presidente permitiu-lhe dirigir o governo mais dinâmico e
democrático da história republicana. Sem recorrer a medidas de exceção, à censura da
imprensa, a qualquer meio legal ou ilegal de restrição. Foi a época áurea do
desenvolvimentismo, que não excluía a cooperação do capital estrangeiro. Ao mesmo
tempo, tentou atrair o capital privado, nacional e estrangeiros, para promover a
industrialização do país. O êxito mais espetacular foi o da indústria automobilística, que as
grandes multinacionais implantaram beneficiando-se dos incentivos governamentais. O
salário mínimo real atingiu seus índices mais altos até hoje. Os industriais nunca tinham
tido incentivos tão generosos. Politicamente, Juscelino Kubitschek apoiou-se na aliança
dos dois grandes partidos, PSD e PTB, que lhe deram sustentação até o final. Ao final do
período, no entanto, já surgiam sinais de dificuldades. Mas Kubitschek teve o mérito de
encerrar em paz seu mandato e passar a faixa presidencial ao sucessor. Foi façanha que
até hoje nenhum outro presidente civil, eleito popularmente depois de 1930, foi capaz de
repetir. Seu sucessor, Jânio Quadros, foi eleito em 1960. Teve um governo curto. Tomou
posse em janeiro de 1961 e renunciou em agosto desse mesmo ano, alegando
impossibilidade de governar. Nunca esclareceu satisfatoriamente as razões da renúncia,
que foi aceita imediatamente pelo Congresso. Por dez dias o país se viu a beira da guerra
civil. A solução encontrada pelo Congresso foi adotar um sistema parlamentarista de
19 governo em substituição ao presidencialismo. Mas foi uma solução de emergência. Desde
o primeiro momento, Goulart (vice-presidente), e as forças que o apoiavam buscaram
reverter a situação e restaurar o presidencialismo. Depois de uma série de primeiros-
ministros, que não conseguiram governar, o congresso marcou um plebiscito para janeiro
de 1963 para decidir sobre o sistema de governo. O presidencialismo venceu e Goulart
assumiu os plenos poderes de um presidente. A partir do plebiscito, a luta política
caminhou rapidamente para radicalização sem precedentes. Os conflitos reduziram-se
cada vez mais a oposição esquerda / direita, sem deixar espaço para negociação. Planos
para derrubar o presidente começaram a ser traçados. Organizações nacionais unificadas
de trabalhadores, não permitidas pela CLT, começaram a surgir, tais como: Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT), e o Pacto de Unidade Ação (PUA). Entre os anos de
1962 e 1964, várias greves, ou ameaças de greve, de natureza política foram feitas, em
geral com o apoio do ministério do trabalho e de grandes companhias estatais, como a
Petrobrás. A União Nacional dos Estudantes (UNE), também adquiriu grande dinamismo
e influência. A mobilização política, no entanto, atingiu também as bases da sociedade.
A grande novidade no entanto veio do campo. Pela primeira vez na história do país,
excetuando-se as revoltas camponesas do século XIX, os trabalhadores rurais, posseiros
e pequenos proprietários entraram na política nacional com voz própria. O movimento
começou no Nordeste em 1955 sob o nome de Ligas Camponesas. Em 1963, o governo
promulgou um estatuto do trabalhador rural, que pela primeira vez estendia ao campo a
legislação social e sindical. O impacto maior do Estatuto foi sobre o processo de formação
de sindicatos rurais, tornando agora muito mais simples e desburocratizados.
O presidente achava-se imprensado entre os conspiradores de direita, que o queriam
derrubar, e os setores radicais da esquerda, que o empurravam na direção de medidas
cada vez mais ousadas. Incapaz de determinar um curso próprio de ação, cedeu afinal à
esquerda e concordou em realizar grandes comícios populares. O primeiro grande
comício foi realizado no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964. Foram muitos os
discursos inflamados, pedindo reformas e constituinte. O presidente não ficou atrás. Além
de discurso populista, assinou dois decretos, um deles nacionalizando uma refinaria de
petróleo, o outro desapropriando terras às margens de ferrovias e rodovias federais,
(sendo este o decreto mais explosivo) e de barragens de irrigação. A partir do dia 13 de
março de 1964, os acontecimentos se precipitaram. A essa altura o dia 02 de abril, já
tinha sido escolhido como a data da revolta contra o presidente. Goulart ainda deu um
motivo aos conspiradores, compareceu no dia 30 de março a uma reunião de sargentos
da polícia militar do Rio de Janeiro e fez um discurso radical, transmitido pela televisão
20 para todo país. Os conspiradores anteciparam a revolta para 31 de março. O destino do
presidente foi selado quando não aceitou sugestões do comandante de São Paulo, de
repudiar o CGT e o comunismo. As tropas de São Paulo aderiram às de Minas, e o
presidente não quis continuar a luta. Voou para Brasília e depois para o Rio Grande do
Sul, onde Leonel Brizola insistiu na resistência, que não foi aceita por Goulart que exilou-
se no Uruguai, enquanto o Congresso colocava no seu lugar o sucessor legal, o
presidente da Câmara dos Deputados. Os confiantes dirigentes sindicais convocaram
uma greve geral para o dia 31 de março em oposição ao golpe. As grandes massas não
apareceram para defender o governo. As que apareceram foram as da classe média, no
dia 02 de abril, para celebrar a queda do presidente. No dia 09 de abril lançou o Alto
Comando Revolucionário, composto com os novos Ministros da Guerra, Marinha e
Aeronáutica, General de Exército, um Ato Institucional, que modificou, em alguns pontos,
a Constituição de 1946. De acordo com o mesmo, em 11 de abril foi eleito pelo Congresso
Nacional para a Presidência da República o Chefe do Estado Maior do Exército e
coordenador do movimento revolucionário, General de Exército Humberto de Alencar
Castelo Branco, que transferido para a reserva no posto de Marechal, tomou posse no dia
15 de abril de 1964, iniciando-se assim mais um longo período de ditadura no país, que
durou até 1985, quando foram recuperados os direitos civis estabelecidos antes do
regime militar. (VIANNA -1972 – CARVALHO– 2010).
A Constituição de 1988 é chamada de Constituição Cidadã no auge do entusiasmo cívico.
“Havia ingenuidade no entusiasmo. Havia a crença de que a democratização das
instituições traria rapidamente a felicidade nacional. Pensava-se que o fato de termos
reconquistado o direito de eleger nossos prefeitos, governadores e presidentes da
República seria garantia de liberdade, de participação, de segurança, de
desenvolvimento, de emprego, de justiça social. De liberdade, ele foi. A manifestação do
pensamento é livre, a ação política e sindical é livre. De participação também. O direito do
voto nunca foi tão difundido. Mas as coisas não caminharam tão bem em outras áreas”.
(José Murilo de Carvalho). Apesar de 15 anos passados desde o fim da ditadura,
problemas centrais de nossa sociedade, como violência urbana, desemprego,
analfabetismo, a má qualidade da educação a oferta inadequada dos serviços de saúde e
saneamento, e as grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam sem
solução, ou se agravam, ou, quando melhoram, é em ritmo muito lento. Em consequência
disto existe a descrença dos cidadãos nos sistemas responsáveis. Diante destes e outros
fatos existe no povo a falta de perspectiva de melhoras importantes a curto ou médio
prazo, temendo que soluções adquiridas signifiquem retrocesso em conquista já feitas. O
21 fenômeno da Cidadania é complexo e históricamente definido. O exercício de certos
direitos, como liberdade de pensamento e o voto, não gera automáticamente o gozo de
outros, como a segurança e o emprego. O exercício do voto não garante a existencia de
governos atentos aos problemas básicos da população. Assim sendo a liberdade e a
participação não levam automáticamente, á resolução de problemas sociais. Como pode-
se entender que a Cidadania inclui varias dimensões e que algumas podem estar
presentes sem as outras. Uma Cidadania plena , que combine liberdade, participação e
igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível.Mas ele
tem servido de parámetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e
em cada momento histórico. Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis,
políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três direitos. Assim
teríamos os cidadãos incompletos, os que não tivessem alguns dos direitos e os não
cidadãos aqueles que não se beneficiassem de nenhum direito. Esclarecendo os direitos,
teríamos: DIREITOS CIVIS – São os fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à
igualdade perante a lei. Estes são os direitos cuja garantía se baseia na existencia de
uma justiça independente, eficiente, barata e acessível a todos. Pode – se ter direitos civis
sem direitos políticos. DIREITOS POLÍTICOS – Se referem à participação do cidadão no
governo da sociedade. Seu exercício é limitado, a parcela da população e consiste na
capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser
votado. Normalmente quando se fala em direitos políticos, é do direito de voto que se fala.
Importante esclarecer que não há direitos políticos sem os direitos civis. Os direitos civis
garantem a vida em sociedade, e os direitos políticos garantem a participação no gaverno
da sociedade. DIREITOS SOCIAIS – Garantem a participação na riqueza coletiva. Eles
incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aponsentadoria. A
garantía de sua vigencia depende da existencia de uma eficiente máquina administrativa
do poder Executivo. Os direitos sociais, em tese, podem existir sem os direitos civis e
certamente sem os direitos políticos. Podem até substituir os direitos políticos, mas na
ausencia de ambos, seu conteúdo e alcance tendem a ser arbitrários. (VIANNA -1972 –
CARVALHO – 2010).
22
CAPÍTULO II – A CIDADANIA NA EDUCAÇÃO. 2.1 – Educação para a Cidadania.
"A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres
humanos não é um dado. É um construído da convivência coletiva, que requer o acesso
ao espaço público. É este acesso ao espaço público que permite a construção de um
mundo comum através do processo de asserção dos direitos humanos." (Hannah Arendt)
A educação para a cidadania constitui um conjunto complexo que abraça, ao mesmo
tempo, a adesão a valores, a aquisição de conhecimentos e a aprendizagem de práticas
na vida pública. Não pode, pois, ser considerada como neutra do ponto de vista
ideológico".( Delors).
A educação é um meio de construção e reconstrução de valores e normas que dignificam
as pessoas e as tornam mais humanas. "Numa educação ética, é preciso resgatar e
incorporar os valores solidariedade, de fraternidade, de respeito às diferenças de crenças,
culturas e conhecimentos, de respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos." (Siegel-
2005).
A educação para a cidadania pretende fazer de cada pessoa um agente de
transformação. Isso exige uma reflexão que possibilite compreender as raízes históricas
da situação de miséria e exclusão em que vive boa parte da população. A formação
política, que tem no universo escolar um espaço privilegiado, deve propor caminhos para
mudar as situações de opressão.
Muito embora outros segmentos participem dessa formação, como a família ou os meios
de comunicação, não haverá democracia substancial se inexistir essa responsabilidade
propiciada, sobretudo, pelo ambiente escolar. A idéia de educação deve estar
intimamente ligada às de liberdade, democracia e cidadania. A educação não pode
preparar nada para a democracia a não ser que também seja democrática.
"A democracia não se refere só à ordem do poder público do Estado, mas devem existir
em todas as relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Começa na relação inter -
individual, passa pela família, a escola e culmina no Estado. Uma sociedade democrática
é aquela que vai conseguindo democratizar todas as suas instituições e práticas".
(Bóbbio-2002).
23 A adesão aos valores democráticos liberdade, pluralismo, resolução pacífica dos conflitos,
eleições etc., e a participação política estão diretamente relacionados ao nível de
escolaridade. O que afasta a maioria dos indivíduos da participação política são os
valores neoliberais.
Nesta reinante concepção econômica e social o indivíduo tem valor de acordo com a sua
capacidade de consumo. Somos tratados como consumidores e não como cidadãos. Ser
cidadão significa lutar por seus direitos em todos os espaços. Assumir o valor da
cidadania significa reafirmar o valor da solidariedade contra o individualismo, da
cooperação contra o valor da competição.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNS, outra maneira de se
trabalhar com os alunos os seus direitos de cidadão é utilizando a cultura. Através disto,
os alunos podem descobrir dentro dos esportes, música, teatro, leituras, pesquisa, das
brincadeiras e dos jogos, conhecimentos necessários para que se possa fazer uma crítica
dos valores sociais, que nos dias de hoje, estão cada vez mais voltados para os
interesses de pessoas que possuem mais poder dentro da sociedade. Na tentativa de
propor uma educação comprometida com a cidadania, elegeram, com base em textos
constitucionais, princípios pelos quais pode ser orientada a educação escolar, e que estão
descritos no PCN - Temas Transversais / Ética a seguir:
*Dignidade da pessoa humana, que implica no respeito aos direitos humanos, repúdio à
discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de uma vida digna, respeito mútuo
nas relações interpessoais, públicas e privadas.
* Igualdade de direitos que refere - se à necessidade de garantir que todos tenham a
mesma dignidade e possibilidade de exercício da cidadania. Para tanto há que se
considerar o princípio da eqüidade, isto é, que existam diferenças (éticas, culturais,
regionais, de gênero, etárias, religiosas, etc.) e desigualdades (socioeconômicas) que
necessitam ser levadas em conta para que a igualdade seja efetivamente alcançada.
* Participação, que como princípio democrático, traz a noção de cidadania ativa, isto é,
da complementaridade entre a representação política tradicional e a participação popular
no espaço público, compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea e sim
marcada por diferenças de classe, étnicas, religiosas, etc.
* Co - responsabilidade pela vida social, que implica em partilhar com os poderes
públicos e diferentes grupos sociais, organizados ou não, a responsabilidade pelos
24 destinos da vida coletiva.
São estes pontos que o professor necessita para trabalhar o conceito de igualdade e
democracia dentro do âmbito escolar. A educação escolar resulta ser um instrumento
básico para o exercício da cidadania. Ela, entretanto, não constitui a cidadania, mas sim
uma condição indispensável para que a cidadania se constitua. O exercício da cidadania
nos mais diferente organismo sindicatos, partidos, etc. não se dão de modo cabal sem o
preenchimento do requisito de acesso à cultura letrada e domínio do saber sistematizado
que constituem a razão de ser da escola. Portanto, não se pode, pois, dizer, que a
sociedade atual carece de ética, de educação e de cidadania. O que ocorre é que ela tem
uma ética, uma educação e uma cidadania que lhe são próprias e estão referidas a
alguns princípios gerais e abstratos, subsumem, entretanto, valores concretos que
consubstanciam a forma de vida própria da sociedade. Assim, os princípios da liberdade,
igualdade, democracia e solidariedade humana são subsumidos pelos valores do
individualismo, da competição, da busca do lucro e acumulação de bens os quais
configuram a moral. E a educação é chamada, na sociedade para realizar a mediação
entre ética e cidadania, formando os indivíduos de acordo com os valores requeridos por
esse tipo de sociedade. Assim, pela mediação da educação, se buscará instituir, em cada
indivíduo singular, o cidadão ético correspondente ao lugar a ele atribuído na escala
social.
Uma nova cidadania acontece por intermédio dos currículos oficiais e, para isso, é
necessário que os currículos sejam revistos. Acontece também em todos os demais
espaços escolares e tudo necessita de um olhar novo para que saiamos do quadro de
fracasso da instituição escolar no qual, sabemos, o país está imerso. É necessário
ensinar às nossas crianças e jovens não apenas a ler e a escrever, mas a olhar o mundo
a partir de novas perspectivas. Ensinar a ouvir, falar e escutar, a desenvolver atitudes de
solidariedade, a aprender dizer não ao consumismo imposto pela mídia, a dizer não ao
individualismo e sim à paz.
Educar para a cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas. É despertar para as
consciências dos direitos e deveres, é lutar pela justiça e não servir a interesses
seculares. É uma urgência que grita e que deveria ecoar nos corações humanos e não
nos alarmes das propriedades que tentam proteger a vergonha do que a civilização
humana construiu. Para alcançarmos isso, não podemos ficar somente no ensinar para a
cidadania. É preciso construir o espaço de se educar na cidadania. E nesse sentido, não
25 é somente a preposição que muda. Muda a postura do professor que de cidadão que
somente exige seus direitos passa a lembrar também dos seus deveres. (BOBBIO, 2002).
"É preciso plantar a semente da educação para colher os frutos da cidadania". (Paulo
Freire).
CAPÍTULO III – A CIDADANIA NA SAÚDE. 3.1 – Avaliação Participativa em Programas de Saúde. As grandes transformações na maneira de pensar as questões atinentes ao campo da
saúde e da medicina desde as últimas décadas do século XX têm contribuído para o
estabelecimento de novos paradigmas, centrados nos conceitos de promoção da saúde,
humanização, foco no paciente e cidadania. Na medida em que se avança nesta
perspectiva torna-se necessário recriar as práticas cotidianas, definindo um modelo de
atenção à saúde de bases programáticas – “eficiente, no que concerne aos custos;
inclusivo, no que concerne à eqüidade e universalização do acesso; e efetivo, no que
concerne aos resultados da intervenção”. Como apontam autores de diferentes países, a
atividade de planejamento, gestão e avaliação, neste cenário, ganha especial importância
vis-àvis à atividade assistencial propriamente dita.
A definição de ação programática em saúde não trata simplesmente da incorporação de
práticas de planejamento/programação para organizar os recursos assistenciais. Esta
seria uma dimensão mais política, ou externa, da questão, enquanto a ação programática
origina-se nas dimensões técnicas, o processo de trabalho em saúde propriamente dito,
articulando o saber sanitário e o saber clínico, ao reconhecer as necessidades de saúde
no fenômeno saúde/doença na população ou grupos sociais e o caráter individual do
sofrimento. A organização programática da assistência reúne as seguintes características:
programas organizados por grupos populacionais (criança, adolescente, mulher, idoso
etc.) e por doenças de importância sanitária (tuberculose, hipertensão etc.); objetivos
definidos com base no diagnóstico de saúde da população; organização interna das
atividades (consulta médica, atendimento de enfermagem, grupos de atendimento, visita
domiciliar etc.); utilização de equipe multidisciplinar; padronização de fluxogramas de
atividades e condutas diagnósticas e terapêuticas; sistema de informação e avaliação
permanente; hierarquização e regionalização dos serviços. O modelo programático
contrapõe-se à tradição de programas verticais e planejamento normativo do Ministério da
Saúde e, apesar dos avanços na descentralização das ações, experimentados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) desde a última década, permanecem alguns desafios
26 para serem respondidos pela prática de gestão: não há métodos eficazes e
universalmente aceitos para articular a participação do nível local do sistema
preservando-se os objetivos do SUS; a autonomia e poder de decisão outorgados a cada
equipe não pode contraporse à coordenação operacional e política do sistema;
a efetiva participação do usuário nem sempre acontece nas instâncias formais; é
necessário motivar os profissionais aumentado sua autoestima, para que possam
comprometer-se de forma criativa com os objetivos da assistência. Neste artigo
apresenta-se um modelo de avaliação desenvolvido para ser aplicado ao Programa de
Saúde do Adolescente (PROSAD) da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro,
Brasil. Trata-se de uma ferramenta que visa a apoiar as equipes locais na apreensão e
Desenvolvimento da proposta programática, aumentando sua capacidade de superar
problemas e direcionar esforços a partir da maior integração da equipe interdisciplinar. O
modelo é participativo e constituiu-se baseando-se, numa revisão de metodologias de
planejamento/avaliação e gestão que vêm sendo aplicadas à saúde. (RIBEIRO–José
Mendes / BURSZTYN-Ivani).
No setor saúde, o ato de educar sempre esteve presente, em diferentes conjunturas e
com objetivos distintos, influenciando o processo de cuidado dos indivíduos e grupos. Até
as primeiras décadas do século XX, o educar em saúde primou pela adoção de bons
hábitos e o disciplinamento da classe trabalhadora, que deveria ser comportada, sem
distúrbios”, capaz de fornecer uma força de trabalho saudável que respondesse às
necessidades produtivas do capital então em expansão. Mais tarde, a partir da segunda
metade do mesmo século, a prática de educar, orientada por uma perspectiva
pedagógica, crítica e progressista, referenciada pela educação popular e nas ideias
libertárias de Paulo Freire, passou a preconizar também o protagonismo do sujeito, no
sentido de estimular a reflexão e a autonomia dos educandos em seu processo saúde-
cuidado, conformando este cuidado enquanto sinônimo de qualidade de vida. Neste
processo histórico de mudança da concepção do cuidado e do sentido da Educação em
Saúde, a Constituição de 1988 trouxe sua contribuição ao consagrar a saúde como direito
de todo cidadão e dever do Estado, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema
único de Saúde/SUS constantes nas leis 8.080 e 8.142 -denominadas leis Orgânicas da
Saúde/lOS -a partir dos anos 1990 (BRASIL, 1988, 1990). Princípios como universalidade,
equidade, preservação da autonomia, direito à informação, integralidade, dentre outros
(BRASIL, 1990), passaram também a fortalecer o enfoque mais crítico-pedagógico da
Educação em Saúde, impulsionando um fazer profissional diferenciado do tradicional.
(BRASIL, 1990) Ao longo desses pouco mais de 20 anos de SUS, pôde-se perceber a
27 maior vinculação de práticas em saúde como consultas, exames diagnósticos,
vacinações, internações, prescrição de medicação, dentre outras, com práticas educativas
em saúde com objetivo de promoção da saúde e não apenas prevenção de doenças.
Vários foram e são, atualmente, os programas que envolvem a Educação em Saúde e,
dentre eles, situa-se o Programa Nacional de DST/AIDS. No que concerne ao cuidado em
HIV/AIDS, o Brasil passou a lançar mão de práticas de saúde para combate ao vírus que
remontaram tanto à postura mecanicista/comportamental, quanto à postura de promoção
da saúde. Na realidade brasileira, estas duas posturas ficaram explicitamente evidentes
em toda trajetória por que passou e passa a política de prevenção em HIV/AIDS: A partir
de 1980 até 1985, quando do surgimento dos primeiros casos e planejamento e execução
das primeiras ações de controle, as práticas preventivas em saúde eram incipientes,
materializando-se em palestras, panfletagem e reportagens disseminadas pela mídia.
Além disso, tais práticas desenvolvidas nos serviços públicos utilizavam-se da mesma
abordagem disponibilizada ao portador de hanseníase, muito relacionadas à semelhança
que essas patologias apresentavam, especialmente, no que dizia respeito ao estigma e à
discriminação. O que se preconizava era a assistência médica, não havendo um plano
sistemático de prevenção envolvendo outras áreas que não a saúde, como a de educação
e a do Trabalho . (SODEllI,1999).
De 1985 a 1990, estabeleceu-se uma abordagem pragmática e mais técnica da
epidemia, com práticas preventivas, através do repasse de informação, por meio de aulas
teóricas, palestras e distribuições de panfletos informativos. Neste momento, apesar do
pragmatismo, começava a despontar um conhecimento teórico mais sólido sobre a
virologia e epidemiologia da AIDS (SODEllI,1999). Este conhecimento consubstanciou as
normas técnicas presentes no Programa Nacional de DST e Aids. Também neste período
e nos posteriores, a conduta dos programas estaduais no que diz respeito à defesa dos
direitos dos portadores do HIV/AIDS - ao menos perante a legislação - institui normas de
saúde pública pautadas no respeito ao anonimato do portador e de seu parceiro. A partir
dos anos 1990, com a ofensiva neoliberal e a política contencionista do governo Collor,
houve um retrocesso na condução das práticas cunhadas pelo Programa Nacional de
DST e Aids. Neste momento, a inércia do Estado frente à Aids provocou a
desestruturação do Programa Nacional, desencadeando a fragilização da vigilância
sanitária, o intercâmbio entre os estados, ONGs e outras instituições interessadas no
cuidado em Aids. Com o slogam “Se você não se cuidar, a AIDS vai te pegar”, as práticas
difundidas acarretavam desolação aos portadores porque a “Aids o pegou” e, aos não
28 portadores, pretendia incutir condutas seguras através do sentimento de pânico, pois a
Aids, afirmavam os anúncios divulgados, “a Aids mata” (SODEllI, 1999). Apesar de as
informações carregadas de juízo de valor terem contribuído para o incremento das visões
preconceituosas em relação à Aids e seu portador, além de aumentar o medo e não o
conhecimento popular sobre as reais causas e formas de cuidado, não colaborando,
consequentemente, para o declínio da transmissão, os anos 1990 também foram
marcados pela distribuição gratuita de medicamentos contra o HIV: primeiro o AZT e,
mais tarde, a oferta do coquetel. De 1992 até os anos 2000, houve a reformulação e
aperfeiçoamento das ações contempladas no Programa Nacional de DST/AIDS. No
sentido de recuperar e fortalecer as ações na luta contra a Aids, ganhou espaço, na arena
política, a parceria entre o Programa Nacional e o Banco Mundial, transformando o
Programa no financiador majoritário das frentes de trabalho desenvolvidas em todo
território brasileiro. Neste período, as práticas de saúde passaram a preconizar a
prevenção à Aids, a redução de danos, as campanhas de estímulo ao uso do preservativo
masculino e feminino, os grupos de adesão ao tratamento, o aperfeiçoamento dos testes
para detecção mais precisa do vírus, o acompanhamento mais rigoroso do pré-natal,
dentre outras. Dos anos 2000 até a atualidade, ocorreram avanços significativos como: a
introdução de novas drogas ao coquetel; a quebra de patente de medicamentos
antirretrovirais, passando a produção a ser realizada pelo Farmanguinhos (Instituto de
Tecnologia de Fármacos), ligado à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no caso do
Efavirenz; a possibilidade da produção de medicamentos genéricos do Tenofovir;
investimento na “Saúde e Prevenção nas Escolas”, projeto dos Ministérios da Saúde e da
Educação, que conta com o apoio da UNESCO e da UNICEF; dentre outros. A Educação
em Saúde tem, no Programa Nacional DST/AIDS e em outros, papel relevante na
promoção da saúde, ao buscar desencadear um processo de cuidado voltado para a
resolução conjunta dos problemas de saúde, para além dos aportes higienistas cunhados
nas ações institucionais tradicionais. O conceito de Educação em Saúde apregoado pelo
Ministério da Saúde/MS, hoje, diz respeito à capacitação dos grupos para resolução das
questões pertinentes ao processo saúde-doença e defesa inconteste do direito à Saúde.
longe de individualizar os problemas de saúde, culpabilizando os indivíduos, a perspectiva
pedagógica crítica, orientada pela Educação Popular, está além da aquisição de
informações e pressupõe o fortalecimento da autonomia e a vivência da saúde enquanto
um direito de cidadania. Dada às novas configurações que a epidemia de HIV/AIDS tem
apresentado na realidade brasileira, o presente artigo tem por objetivo discutir
perspectivas atuais sobre o emprego da Educação em Saúde como aporte estratégico
29 nas práticas de saúde voltadas ao HIV/AIDS, destacando o papel da equipe neste
processo. (Stotz et al, 2007).
A concepção abrangente de saúde aprovada no texto constitucional de 1998 aponta para
uma mudança progressiva dos serviços de saúde, passando de um modelo assistencial,
centrado na doença e baseado no atendimento a quem a procura, para um modelo de
atenção integrada à saúde, onde haja incorporação progressiva de ações de promoção e
de proteção, ao lado daquelas propriamente ditas de recuperação (Ministério da Saúde,
1990). A promoção da saúde se faz através de educação, da adoção de estilos de vida
saudáveis, do desenvolvimento de capacidades individuais, da produção de um ambiente
saudável. Está vinculada à implantação de políticas públicas voltadas para a qualidade de
vida e do desenvolvimento da capacidade de analisar criticamente a realidade e promover
a transformação dos fatores determinantes das condições de saúde. (DONATO, Ausonia-
2007).
3.2 – Saúde do Trabalhador.
As ações em Saúde do Trabalhador têm seu fundamento na participação ativa dos
próprios trabalhadores, daqueles que vivem e experimentam os processos de defesa da
saúde. Estes assumem a posição de agentes, co-protagonistas da investigação, da
produção do conhecimento para a transformação do processo saúde-doença em sua
relação com o processo de trabalho/processo de produção. Na luta pela saúde, os
trabalhadores buscam assumir o controle sobre as condições e os ambientes de trabalho
(Mendes & Dias, 1991) para anular ou minimizar suas nocividades. E, nesse processo,
“somente com a conquista de um poder real dos trabalhadores e do sindicato, é possível
impor as modificações, sejam tecnológicas, técnicas ou normativas que possam anular ou
reduzir ao mínimo os riscos a que o trabalhador está exposto no local de trabalho”
(Oddone et al., 1986).
A emergência do campo da Saúde do Trabalhador no Brasil está marcada pela conjuntura
de ascensão das lutas dos trabalhadores, no final dos anos 70, cujo marco são as
grandes greves operárias no ABC paulista, retomando de forma mais ampla a
participação dos trabalhadores nas lutas econômicas, sociais e políticas. O sindicalismo
brasileiro – em contraste com o quadro de mutação e refluxo na maioria dos países –
experimentou enorme expansão e difusão por vários setores sociais e manteve-se ativo
30 durante toda a década de 1980. Dessa forma, afirma-se no sindicalismo brasileiro uma
corrente denominada novo sindicalismo.
As lutas dos trabalhadores trouxeram e deram maior visibilidade a uma diversidade de
reivindicações, entre elas as relacionadas com a saúde no trabalho. Segundo Lacaz
(1996; 1997), o movimento sindical na luta pela saúde no trabalho nos anos de 1980,
empreendeu: a crítica ao assistencialismo nos sindicatos; incorporação da saúde como
direito; uma atuação intersindical por meio da criação do Departamento Intersindical de
Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat); a criação nos
sindicatos de assessorias sindicais em saúde e segurança do trabalho; o aprofundamento
de negociações sobre a saúde no trabalho nos acordos coletivos; a tentativa de
transformar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) em organização
autônoma dos trabalhadores nos locais de trabalho; a participação nos vários níveis de
gestão em Saúde do Trabalhador; a denúncia e elaboração de um contradiscurso em
relação ao oficialismo e à postura patronal no trato das questões relativas aos danos à
saúde dos trabalhadores e à explicação dos acidentes e doenças no trabalho, e o
intercâmbio com experiências e modelos desenvolvidos pelos organismos sindicais de
outros países.
No final da década de 1980, surge o Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST),
órgão de assessoria técnica em saúde no trabalho criado por uma central sindical, a
Central Única dos trabalhadores (CUT). A atuação do INST é pautada primeiramente
pelas campanhas contra a silicose, a asbestose, pelo controle do benzenismo, todas
ligadas à questão físico-química. Na seqüência desenvolve a campanha contra a LER,
pela elaboração do mapa de risco nos ambientes de trabalho e pela construção da
Organização por Local de Trabalho, a OLT.
Contudo, o movimento sindical enfrenta obstáculos importantes, entre os quais
destacamos, uma vez mais recorrendo a Lacaz (1996; 1997): a histórica e reduzida
organização dos trabalhadores nos locais de trabalho; os acordos coletivos, as cláusulas,
em sua maioria, ainda se mantiveram nos limites da Medicina do Trabalho e da Saúde
Ocupacional fugindo disso quando tratam das novas tecnologias, da estabilidade do
acidentado e do acesso aos resultados dos exames; as pesquisas desenvolvidas, em que
pese a contribuição prestada aos sindicatos demandantes por ocasião da negociação
coletiva, não foram acompanhadas de uma apropriação mais contundente pelas direções
sindicais das categorias investigadas; a permanência da lógica mercantil que privilegia a
31 "compensação" financeira aos danos causados à saúde dos trabalhadores expresso pelos
adicionais de insalubridade e periculosidade; a contradição expressa pela defesa genérica
do setor público de saúde e da previdência social pública e a inclusão de cláusulas nos
acordos coletivos de implantação ou ampliação de convênios ou planos de saúde
privados. (Brito Jc Myr e Athayde – 1999).
Nos anos 90, a saúde e a educação pública foram enormemente atingidas pelas políticas
de ajuste econômico, o que aprofunda a degradação das condições de vida e trabalho
dos trabalhadores em Educação. Conforme dados apresentados no IV Congresso
Nacional de Educação (2002), o déficit nacional de professores na educação básica está
assim distribuído: educação infantil (0-6) 836.731; para o ensino fundamental (7-14) é
167.706; e para o ensino médio (15-17) 215.000 professores. As políticas educacionais
dos anos 90 resultaram em: sucateamento da escola pública; baixa qualidade do ensino;
adoção de modelos autoritários de avaliação; estímulo à competitividade entre os
trabalhadores; insuficiência geral de recursos; desvalorização profissional; precarização
das relações de trabalho.
Os diversos sindicatos de trabalhadores da educação empreenderam resistências
diferenciadas e lutam pela valorização profissional, pela elaboração de um plano de
carreira, pelo piso salarial profissional nacional, e pela defesa da garantia dos direitos
sociais. Principalmente aqueles cuja base da categoria é composta dos trabalhadores da
rede pública de ensino, apesar de refluírem sua mobilização em relação aos anos 80.
Outra característica importante perseguida por esse sindicalismo é a unificação de seus
segmentos de profissionais (professores, funcionários, orientadores e supervisores
educacionais) na mesma entidade e/ou atividade sindical. (Maria AMV, Pina JA, Carmo
MAT & Mirdney Jensen 2002).
O projeto de pesquisa então iniciado configura-se como uma estratégia de luta sindical
pela saúde no trabalho, desenvolve um processo distinto da prática predominante na
atuação da política sindical. Era necessária uma maior aproximação, um contato direto
com as serventes e merendeiras para desvendar em detalhes seus afazeres cotidianos,
suas relações com os demais trabalhadores no interior da escola, suas condições e forma
de organização no trabalho, suas queixas de saúde e suas representações acerca desses
aspectos a partir da observação e do diálogo dentro da escola. Quando começamos a
pesquisa e perguntávamos se elas (merendeiras e serventes) tinham algum problema de
saúde no trabalho, elas respondiam que não. Mas, quando começávamos a conversar
32 revelavam-se muitos problemas que elas começam a perceber que eram relacionados
com seu trabalho... experiência que tive nas escolas conversando com as companheiras
foi ímpar. Foi o mais significativo.
Simultaneamente ao início da pesquisa, é lançada, em 1995, a campanha "Eu também
educo" pela valorização profissional dos funcionários das escolas, pela Secretaria de
Funcionários do Sepe. Atualmente prossegue sob o lema "Educar também é meu papel"
constituindo uma importante iniciativa articulada à defesa da saúde. Era preciso dar
condições aos funcionários exercer o papel de educadores. Por dentro da problemática da
saúde nós trabalhamos a valorização profissional.
Em particular, a luta pela saúde requer atuação no cotidiano dos trabalhadores em seu
processo de trabalho partindo das experiências concretas por eles vivenciadas. Segundo
avaliação dos entrevistados, o questionamento às condições de trabalho e saúde
contribuía para despertar a participação política e sindical de serventes e merendeiras:
Algumas merendeiras desconheciam seus direitos e suas funções; a partir do Projeto se
deram conta, começaram a exigir da direção quais suas funções, limitando suas
atividades naquilo que lhes cabiam, começaram a mobilizar as colegas a participar do
Projeto. O elemento saúde passou a ser objeto de reivindicação.
Os caminhos que levavam à conquista pela saúde no trabalho puderam ser percebidos
como cruzamentos que colocam no centro das observações a vida dos trabalhadores e a
trama de relações que os cercam. Se idealizassem a saúde como um objetivo, uma linha
imaginária a ser alcançada, certamente se teria que superar algumas insatisfações como
a desvalorização profissional e a perda da auto-estima.
Em 1997, o grupo de pesquisa (Grupo de Pesquisa Saúde, Relações de Trabalho e
Gênero da Ensp/Fiocruz) é ampliado e gradativamente vai se constituindo num projeto
integrado de pesquisa. Inicia-se um intercâmbio com Grupos de Pesquisa que tratam da
temática Subjetividade e Trabalho da Uerj, UFPB e Ufes.
A pesquisa passa a orientar-se por alguns eixos: o levantamento e análise de dados
quantitativos junto à Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida do Governo do
Estado do Rio de Janeiro (responsável pelo registro e acompanhamento dos servidores
afastados por motivo de saúde), tendo como foco a chamada "readaptação profissional";
a realização de estudo de campo através de visitas às escolas que inclui a observação do
processo de trabalho e o diálogo com os trabalhadores; a formação do trabalhador como
33 sujeito da investigação e de mudanças nos locais de trabalho, o reconhecimento das
estratégias de defesa desenvolvidas pelos trabalhadores e ainda incorpora-se a ótica das
relações de gênero na apreensão da organização do cotidiano do trabalho escolar.
3.3 – A Saúde Nos Dias Atuais.
Nos dias de hoje o excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente, no qual
a vida se tornou física e mentalmente comprometida; ar poluído, ruídos estressantes,
congestionamento de trânsito, e outros fatores, físico e psicológico estressantes,
passaram a fazer parte da vida cotidiana da maioria das pessoas. Nossa obsessão pelo
crescimento econômico e emergência pessoal, subjugado por um sistema de valores de
uma sociedade altamente competitiva, no qual o objetivo maior passou a ser a busca
desarrazoada por dinheiro, prestígio e poder. No Brasil, nesta onda de globalização, há
um grande descompromisso político com a qualidade de vida, a situação torna-se grave,
uma vez que modelos de produção e gerenciamento importados ocorreram sem
considerar o nosso contexto.
Os problemas sociais de nosso tempo são decorrentes de uma visão reducionista e
mecanicista da vida, que geraram tecnologia, instituições e estilos de vida patológicos.
Neste contexto as doenças surgem cada vez mais freqüentes e esquecemos que estas
estão intimamente ligadas com atitudes estressantes, alimentações excessivas e
desequilibradas, abusos de drogas, vida sedentária e poluição ambiental, e uma cobrança
absurda de produtividade, aliada à aspiração pessoal descontrolada.
Muitos desses riscos são ainda agravados pelo nosso sistema de assistência a saúde
que adota o mesmo paradigma que está perpetuando a saúde precária. Reduzem-se,
assim, os cuidados à saúde à medicina hospitalar e farmacêutica, tratando a prevenção e
a saúde como processos distintos. Considera-se o corpo humano como uma máquina que
pode ser reduzida em termos de suas peças. Há no modelo biomédico de hoje uma
divisão entre corpo e mente, onde atém-se apenas ao corpo físico negligenciando os
aspectos psicológicos, sociais e ambientais na geração de doenças e sua interação.
Deveria lidar com o paciente como um todo, pois enquanto isso não ocorrer não se
adiantará gastar cada vez mais com a saúde, pois isso não gerará melhoras significativas
na população (Capra,1993; Damásio, 1998).
A saúde tem dimensões todas decorrentes de complexas interações, sendo que a
origem da doença tem vários fatores. Seus efeitos diferem de pessoa para pessoa, pois
34 dependem de reações emocionais do indivíduo a situações estressantes e próprias dos
ambientes social e biológico.
Nos dias de hoje, embora exista um descontentamento geral a maioria das pessoas
ainda não percebe quão profundamente a vida é influenciada por complexos fatores.
Prefere-se falar em hipertensão, estresse, doenças cardíacas etc, como algo fisiológico
isolado ao invés de conceber uma visão holística da saúde e promover uma
transformação social e cultural. Esse movimento holístico da saúde está cada vez mais
ativo e procura-se entender e conceber as doenças como um fenômeno multidimensional
que envolve três níveis interdependentes:
Individual: o indivíduo deveria estar em sincronia consigo mesmo e ter um senso
de autodomínio para fazer escolhas menos estressantes e relaxantes. Para isto, o
funcionamento do sistema nervoso autônomo parassimpático (SNAP), que é
restaurador, deveria predominar e muito sobre o simpático (SNAS), desgastante. Aí
está um ponto chave do equilíbrio para alcançar o controle emocional para o nosso
bem-estar, tranqüilidade na vida, enfim ficar de bem consigo mesmo. Seria
necessário períodos de tranqüilidade, no dia para fazer introspecção e dormir
profundamente, que permitem fazer um contato da consciência individual com o
seu Ego, obtendo uma melhor percepção interior do seu ser.
Social: a sociedade deveria formular e adotar novos modelos políticos, produzindo
um novo sistema de valores na cultura social, em que se buscasse com prioridade
a qualidade de vida e o de atingir a qualquer preço os indicadores econômicos.
Ecológico: as novas políticas a serem adotadas deveriam visar a manutenção de
um ambiente sadio e auto-sustentável, diminuindo os fatores agressivos do dia-a-
dia e aumentando a chance de uma integração natural do homem com seu meio.
Tão logo para se evitar os distúrbios psicossomáticos deveremos entender a pessoa
como um todo, envolvendo corpo, mente, ambiente físico e social. Com esses objetivos
pretendemos esclarecer a causa das doenças psicossomáticas e propor alguns modelos
de como sanar as doenças e promover a saúde.
A crise da saúde no Brasil vem de longa data e continua presente no dia a dia da
sociedade. Freqüentemente nos deparamos com notícias que revelam filas de pacientes
nos hospitais e postos de saúde, essencialmente do serviço público, além da falta de
leitos, equipamentos etc. E no meio da crise está a população que precisa de
atendimento, direito garantido pela nossa Constituição, além dos médicos que, em
35 condições precárias de trabalho, precisando de até cinco empregos, ainda são
processados em muitos casos por supostas negligências ou erros. Enquanto isso, o que
deveria ser prioridade para todas as autoridades torna-se mais um instrumento de disputa
política.
Independente do jogo de empurra, o fato é que há escassez de recursos financeiros,
materiais e humanos, para manter os serviços de saúde operando com eficiência.
Problemas, como atraso no repasse dos pagamentos do Ministério da Saúde para os
serviços conveniados, baixos valores pagos pelo SUS aos procedimentos médico-
hospitalares, entre outros, consolidam o entrave no setor. O mundo econômico da saúde
é cruel. Estatísticas da Abramge/Fenaseg, são gastos R$ 31 bilhões para cuidar de 35
milhões de segurados, enquanto todo o SUS para suprir o direito à saúde de mais de 145
milhões de brasileiros gasta quase a mesma quantia. Por essas e outras razões nos
encontramos no 124º lugar no ranking da OMS em qualidade de saúde.
É difícil para qualquer especialista apontar apenas um motivo para tal crise. Mesmo com
toda a evolução do contexto político-social pelo qual o Brasil passou, pouco foi mudado.
Na realidade, em 500 anos de Brasil, independente do regime vigente, a saúde nunca
ocupou lugar de destaque no governo, ficando sempre em plano secundário. Até hoje, só
olhou-se atentamente para o setor quando determinadas epidemias se apresentavam
como eminentes ameaças à sociedade.
Poderíamos escrever milhares de linhas sobre o assunto e chegaríamos à mesma
conclusão: em pleno século XXI pouco se evoluiu em termos de política de saúde no
Brasil.
Atualmente são colocados no mercado de trabalho 8.862 novos médicos, provenientes de
120 faculdades de medicina em todo o país. Esses dados são de uma recente pesquisa
do Conselho Federal de Medicina, que revela ainda que a má distribuição de médicos no
país ainda persiste. São 65,9% deles atuando nas regiões Sul e Sudeste, onde se
concentra apenas cerca de 25% da população.
É a saúde continuando um sistema embrionário e contraditório, onde nos destacamos
mundialmente por nossas pesquisas pioneiras, no combate a Aids, tendo reconhecimento
dos nossos profissionais, mas não conseguimos dar atendimento básico à maioria do
povo. Já passamos da hora de criarmos um Código Nacional da Saúde, respaldado na
eticidade, para que possamos organizar este setor no Brasil.
36 CONCLUSÃO
Ao longo do caminho percorrido, para a construção da cidadania no Brasil, vemos que
não chegamos completamente satisfeitos em relação a essa construção. O progresso foi
feito, mas de forma muita lenta, e temos consciência que devemos melhorar e muito. Com
os direitos sociais, políticos e civis, se desenvolvendo com o passar do tempo temos no
fundo uma grande esperança que as vidas dos cidadãos brasileiros irão melhorar sem
dúvida alguma com o futuro. Para isso é preciso muita cumplicidade entre a população e
os governantes, pois estes fazem parte de uma engrenagem de uma máquina chamada
BRASIL. A população tem que cada vez mais exigir seus direitos de cidadãos e
cumprirem com os seus deveres, para um progresso sem problemas que são bases em
qualquer lugar do mundo, que são a educação e a saúde. Com os programas
desenvolvidos nas secretarias de saúde de todo o Brasil, vemos que os sistemas de
saúde tem por objetivo desenvolver a busca da cura ou melhora, principalmente nas
doenças graves, contagiosas e terminais, através de avaliações participativas de
programas de saúde. A saúde do trabalhador foi de maior visibilidade e de uma
diversidade de reivindicações, entre elas as relacionadas com a saúde no trabalho. Na
luta pela saúde, os trabalhadores buscam assumir o controle sobre as condições e os
ambientes de trabalho. No final da década de 1980, surge o Instituto Nacional de Saúde
no Trabalho (INST), órgão de assessoria técnica em saúde no trabalho criado por uma
central sindical, a Central Única dos trabalhadores (CUT). Movimento sindical que busca
os direitos dos trabalhadores e que enfrentam obstáculos para um bem maior que é do
Cidadão brasileiro.
Nos tempos atuais o que ocorre em relação a saúde no Brasil, é que as doenças são
cada vez mais freqüentes . Para se evitar os distúrbios psicossomáticos devemos
entender a pessoa como um todo, envolvendo corpo, mente, ambiente físico e social.
Com esses objetivos poderemos esclarecer a causa das doenças psicossomáticas e
propor alguns modelos de como sanar as doenças e promover a saúde. Mas para que
haja uma melhora significante, teremos ainda que remar muito contra a maré, pois nosso
sistema de saúde está longe do ideal, regredindo cada vez mais em conta dos problemas
já mostrados na pesquisa apresentada. As condições precárias dos hospitais públicos,
dos atendimentos precários dos médicos, sem ás vezes ter culpa desse atendimento, em
fim de todas as impossibilidades presentes neste contexto.
A nossa esperança, é que esses problemas estruturais do nosso Brasil, se aproxime cada
vez mais do fim, para um país melhor, porque a nossa saúde está doente.
37 BIBLIOGRAFIA
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