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Ciência e Superstição Ateus.net » Artigos/ensaios » Ceticismo Autor: Patrick J. Hurley Tradução: Álvaro Nunes Fonte: Filosofia e Educação Original: A Concise Introduction to Logic, Wadsworth, Belmont, 2000, pp. 588-606 A idéia de que a mente humana no seu esforço para compreender a realidade é capaz de operar a níveis diferentes é tão velha quanto a própria filosofia. Há vinte e quatro séculos Platão traçou uma distinção entre aquilo a que chamou opinião e conhecimento. Ele disse que a opinião é uma espécie de consciência incerta, confinada ao particular, inexata e sujeita à mudança, ao passo que o conhecimento é certo, universal, exato e eternamente verdadeiro. Cada ser humano começa por operar na vida ao nível da opinião e só com grande luta e esforço pode escapar-lhe e elevar-se ao nível do conhecimento. Chama-se a esta luta educação e abre os olhos da mente para realidades que do ponto de vista da opinião não podem sequer ser imaginadas. A distinção atual entre ciência e superstição é a equivalente moderna da distinção de Platão entre ciência e opinião. Todos reconhecem que a ciência revelou verdades extraordinárias acerca do mundo natural. Pôs homens na Lua, erradicou doenças mortais e conduziu-nos à era dos computadores. Quase todos reconhecem também que a superstição pouco mais é do que tolice. Leva as pessoas a recearem passar por debaixo de escadas, partir espelhos e derramar sal. Quase toda a gente concorda que se uma afirmação tem fundamento científico, provavelmente vale a pena acreditar nela, ao passo que se tem por fundamento a superstição, provavelmente não vale a pena. Onde as pessoas não concordam, porém, é no que constitui ciência e no que constitui superstição. Aquilo a que uma pessoa chama ciência, outra chama tolices supersticiosas. Tanto a ciência como a superstição recorrem a hipóteses, pelo que os quatro critérios apresentados na Secção 9.5 para avaliar hipóteses são relevantes para a distinção entre ciência e superstição. Estes critérios são a adequação, a coerência interna, a consistência externa e a fecundidade. Mas a distinção entre ciência e superstição também envolve elementos psicológicos e volitivos. Envolve fatores como de que forma os estados subjetivos do observador influenciam o modo como vê o mundo e de que forma as suas necessidades e desejos têm um papel na formação das suas crenças. Consequentemente, para explorarmos a distinção entre ciência e superstição, temos de introduzir critérios que incluam estes elementos psicológicos e volitivos. Os critérios que sugerimos são o apoio em provas, a objetividade e a integridade. A descrição que iremos fazer do apoio em provas inclui a adequação e a fecundidade e a descrição da integridade inclui a adequação, a coerência interna e a consistência externa. A ciência e a superstição são, em larga medida, pólos opostos. Onde a atividade científica reconhece a importância do apoio em provas, a objetividade e a integridade, a superstição ignora-as. Conseqüentemente, estes critérios podem ser usados como uma espécie de régua para medir as diversas crenças que as pessoas têm acerca do mundo. Quanto mais essas crenças são apoiadas em provas, são objetivas e resultam de uma investigação que reflete integridade, mais se aproximam do ideal de ciência e mais justificadas estão. Inversamente, quanto mais as nossas crenças não partilham estas características, mais se aproximam do “ideal” de superstição e menos justificadas estão. Chamamos, no entanto, a atenção para que dizer que uma crença está justificada não é dizer que é de certeza absoluta verdadeira. Como vimos na Secção 9.5, todas as crenças que têm origem na ciência são na melhor das hipóteses tentativas. Mas essas crenças são as melhores que por agora podemos ter. Do mesmo modo, dizer que uma crença não está justificada não é dizer que é absolutamente falsa. É muito possível que uma crença que se funda hoje na superstição possa amanhã fundar-se na ciência. Mas essa crença não merece aquiescência hoje. Pode-se encontrar uma analogia no lançamento dos dados.

Ciencia e Supersticao

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Ciencia e superstiçao

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  • Cincia e Superstio Ateus.net Artigos/ensaios Ceticismo

    Autor: Patrick J. Hurley

    Traduo: lvaro Nunes

    Fonte: Filosofia e Educao

    Original: A Concise Introduction to Logic, Wadsworth, Belmont, 2000, pp. 588-606

    A idia de que a mente humana no seu esforo para compreender a realidade capaz de operar a

    nveis diferentes to velha quanto a prpria filosofia. H vinte e quatro sculos Plato traou uma

    distino entre aquilo a que chamou opinio e conhecimento. Ele disse que a opinio uma espcie de

    conscincia incerta, confinada ao particular, inexata e sujeita mudana, ao passo que o conhecimento

    certo, universal, exato e eternamente verdadeiro. Cada ser humano comea por operar na vida ao nvel

    da opinio e s com grande luta e esforo pode escapar-lhe e elevar-se ao nvel do conhecimento.

    Chama-se a esta luta educao e abre os olhos da mente para realidades que do ponto de vista da

    opinio no podem sequer ser imaginadas.

    A distino atual entre cincia e superstio a equivalente moderna da distino de Plato entre

    cincia e opinio. Todos reconhecem que a cincia revelou verdades extraordinrias acerca do mundo

    natural. Ps homens na Lua, erradicou doenas mortais e conduziu-nos era dos computadores. Quase

    todos reconhecem tambm que a superstio pouco mais do que tolice. Leva as pessoas a recearem

    passar por debaixo de escadas, partir espelhos e derramar sal. Quase toda a gente concorda que se uma

    afirmao tem fundamento cientfico, provavelmente vale a pena acreditar nela, ao passo que se tem por

    fundamento a superstio, provavelmente no vale a pena. Onde as pessoas no concordam, porm, no

    que constitui cincia e no que constitui superstio. Aquilo a que uma pessoa chama cincia, outra chama

    tolices supersticiosas.

    Tanto a cincia como a superstio recorrem a hipteses, pelo que os quatro critrios apresentados

    na Seco 9.5 para avaliar hipteses so relevantes para a distino entre cincia e superstio. Estes

    critrios so a adequao, a coerncia interna, a consistncia externa e a fecundidade. Mas a distino

    entre cincia e superstio tambm envolve elementos psicolgicos e volitivos. Envolve fatores como de

    que forma os estados subjetivos do observador influenciam o modo como v o mundo e de que forma as

    suas necessidades e desejos tm um papel na formao das suas crenas. Consequentemente, para

    explorarmos a distino entre cincia e superstio, temos de introduzir critrios que incluam estes

    elementos psicolgicos e volitivos. Os critrios que sugerimos so o apoio em provas, a objetividade e a

    integridade. A descrio que iremos fazer do apoio em provas inclui a adequao e a fecundidade e a

    descrio da integridade inclui a adequao, a coerncia interna e a consistncia externa.

    A cincia e a superstio so, em larga medida, plos opostos. Onde a atividade cientfica reconhece

    a importncia do apoio em provas, a objetividade e a integridade, a superstio ignora-as.

    Conseqentemente, estes critrios podem ser usados como uma espcie de rgua para medir as diversas

    crenas que as pessoas tm acerca do mundo. Quanto mais essas crenas so apoiadas em provas, so

    objetivas e resultam de uma investigao que reflete integridade, mais se aproximam do ideal de cincia

    e mais justificadas esto. Inversamente, quanto mais as nossas crenas no partilham estas

    caractersticas, mais se aproximam do ideal de superstio e menos justificadas esto.

    Chamamos, no entanto, a ateno para que dizer que uma crena est justificada no dizer que

    de certeza absoluta verdadeira. Como vimos na Seco 9.5, todas as crenas que tm origem na cincia

    so na melhor das hipteses tentativas. Mas essas crenas so as melhores que por agora podemos ter.

    Do mesmo modo, dizer que uma crena no est justificada no dizer que absolutamente falsa.

    muito possvel que uma crena que se funda hoje na superstio possa amanh fundar-se na cincia. Mas

    essa crena no merece aquiescncia hoje. Pode-se encontrar uma analogia no lanamento dos dados.

  • Nenhuma pessoa com juzo apostaria um para um em que um par de dados sair snake eyes [1] no

    prximo lanamento, mesmo que perceba que amanh se possa descobrir que os dados estavam viciados

    a favor deste resultado.

    Apoio em provas

    Na seco anterior deste captulo vimos que as hipteses em si mesmas so meras conjecturas e

    que antes que acreditemos nelas devem ter o apoio de provas. Esta regra aplica-se quer s hipteses que

    sustentam a cincia quer s que sustentam a superstio. Esta regra cumprida risca na cincia, mas

    freqentemente ignorada no reino da superstio. Por exemplo, no sculo XVI Coprnico formulou a

    hiptese de que o Sol o centro do nosso sistema planetrio e que a terra gira em torno do Sol em

    oposio hiptese ptolemaica dominante, que colocava a terra no centro. Nos anos que se seguiram, o

    telescpio foi inventado e foram feitas milhares de observaes que confirmaram a hiptese copernicana e

    infirmaram a hiptese de Ptolomeu. Sem estas observaes, a hiptese copernicana nunca teria sido

    adotada.

    Por oposio, considerem a superstio segundo a qual permitir que um gato preto cruze o caminho

    de algum trar m sorte. Nunca foram coligidas quaisquer provas que apiem esta hiptese. Nunca

    foram levados a cabo quaisquer testes nem realizadas quaisquer experincias. possvel que numa

    ocasio ou noutra algum permita que um gato preto cruze o seu caminho e depois perca dinheiro na

    bolsa ou seja ferido num acidente de carro, mas seria certamente irracional acreditar que permitir que um

    gato preto cruze o caminho de algum cause a perca ou o acidente. Um tal raciocnio constitui um caso

    clssico de falcia do post hoc ergo propter hoc (falsa causa). Mas apesar da falta de provas, muitas

    pessoas acreditam na hiptese do gato preto.

    Contudo, antes de investigarmos mais a necessidade de provas, temos de investigar primeiro o que

    considerado como uma prova. Deve o testemunho de autoridades ser considerado como uma prova? E

    de autoridades antigas? A resposta que as hipteses cientficas so acerca do mundo natural, pelo que

    apenas as observaes do mundo natural so consideradas como provas. Cada experincia cientfica

    uma questo que o experimentador pergunta sobre o mundo e o resultado dessa experincia a resposta

    da natureza. O problema com o testemunho de autoridades que no temos conhecimento certo de que

    a avaliao que a autoridade faz est correta. O mesmo verdade da Bblia. No temos nenhuma forma

    de saber se o que a Bblia diz sobre o mundo natural verdade. Se algum respondesse que a Bblia

    inspirada por Deus, a resposta bvia seria: como que sabemos? Temos alguma prova observacional a

    seu favor? Os apelos a autoridades e a Bblia equivalem a fugir responsabilidade de explicar.

    Outro gnero de prova que considerado duvidoso a prova anedtica. Supe que tens cancro e

    que um amigo te diz que se comeres alho, curas-te. Decides seguir este conselho e depois de comer um

    dente de alho todos os dias durante um ano, o cancro entra em remisso. O alho curou o cancro? A esta

    espcie de prova chama-se anedtica e normalmente rejeitada pela cincia. O problema da prova

    anedtica que demasiado isolada para estabelecer qualquer ligao causal. Deste modo, a prova do

    alho ignora as milhares de pessoas com cancro que comeram alho e no se curaram; e ignora as milhares

    de pessoas em que se deu a remisso espontnea do cancro e no comeram qualquer alho. Alm de que

    no possvel fazer o relgio andar para trs e tentar a experincia outra vez.

    Uma das caractersticas fundamentais do processo de obteno de provas cientficas que uma

    experincia possa ser repetida sob condies controladas. Isto significa que a experincia tem de poder

    ser repetida por cientistas diferentes em ocasies e locais diferentes. A replicabilidade ajuda a assegurar

    que o resultado da experincia no resulta de algo peculiar a um determinado experimentador a operar

    num nico local e numa nica ocasio. Alm de que as condies controladas so desenhadas para

    eliminar a influncia de fatores estranhos. Talvez, no que se refere ao exemplo do alho, a cura fosse

    efetuada no pelo alho mas por outra coisa que comeste, por algum dos outros milhares de fatores que

  • ocorreram durante este perodo ou por alguma combinao desses fatores.

    As provas apresentadas para apoiar as hipteses supersticiosas raramente podem ser repetidas e,

    quando podem, no apiam a hiptese. Por exemplo, a crena em fantasmas normalmente apoiada pelo

    que um ou mais indivduos alegam ter visto numa nica ocasio. Esta ocasio no pode ser repetida. s

    vezes afirma-se que a crena em fenmenos psquicos como a percepo extra-sensorial suportada por

    experincias com cartas Zener: cartas impressas com cruzes, crculos, linhas onduladas, estrelas, e

    quadrados, cujas imagens um observador pode transmitir a um receptor com capacidades psquicas.

    Mas quando estas experincias foram repetidas sob condies cuidadosamente controladas, o resultado

    foi sempre o que seria de esperar que ocorresse por mero acaso.

    Outro defeito das hipteses supersticiosas serem freqentemente to vagas que praticamente

    impossvel confirm-las de forma inequvoca. Por exemplo, no caso da hiptese do gato preto, o que,

    realmente, se entende por m sorte? O que interpretado hoje como m sorte pode revelar-se amanh

    uma sorte incrvel. Se uma pessoa perde 1 000 hoje na bolsa, isso pode lev-la a ser mais cuidadosa e

    fazer com que no perca 10 000 no futuro.

    Por oposio, as hipteses da cincia so freqentemente construdas em linguagem matemtica ou,

    pelo menos, podem ser traduzidas para expresses matemticas. Este fato propicia confirmaes

    extremamente precisas e em larga medida responsvel pelo sucesso extraordinrio de que a cincia tem

    gozado nos ltimos 500 anos. Por exemplo, em 1802 o qumico francs Joseph Louis Gay-Lussac formulou

    a hiptese de que se se subisse em 1 grau Celsius a temperatura de qualquer gs contido num recipiente

    fechado, a presso do gs aumentaria 0.3663 por cento. A hiptese foi testada milhares de vezes por

    qumicos e por estudantes em laboratrios de qumica e revelou-se sempre correta.

    Relacionado de perto com o problema da vagueza est a amplitude da hiptese. Se a hiptese

    concebida com uma amplitude e uma abrangncia tais que at provas contraditrias servem para

    confirm-la, ento a hiptese no de fato confirmada por nada. Supe, por exemplo, que um

    profissional de cuidados de sade inventava uma hiptese sobre dieta. garantido que seguir esta dieta

    te vai fazer sentir bem, mas antes que isso ocorra pode fazer-te sentir muito mal ou como te costumas

    sentir. Aps teres seguido a dieta durante seis meses ds a saber que te sentes como antes. O

    profissional responde que a tua experincia confirma a hiptese, porque isso que a dieta supostamente

    faz. Por outro lado, supe que aps seis meses te sentes-te muito bem ou talvez muito mal. Novamente o

    profissional dir que a tua experincia confirma a hiptese. As hipteses deste tipo no so genuinamente

    cientficas.

    O filsofo Karl Popper descobriu em 1919 este mesmo problema a respeito das hipteses. Em

    resposta, defendeu que qualquer hiptese genuinamente cientfica tem de ser forjada de forma

    suficientemente precisa para que proba que certas coisas aconteam. Por outras palavras, a hiptese tem

    de ser falsificvel. Nos anos que se seguiram ao seu anncio, muitos filsofos criticaram o critrio de

    falsificabilidade de Popper porque, em rigor, as hipteses raramente podem ser refutadas. Mas, como

    vimos na Seco 9.5, as hipteses podem ser refutadas (ou tornadas menos plausveis). Desse modo,

    podemos reter a inspirao fundamental de Popper exigindo que qualquer hiptese genuinamente

    cientfica seja refutvel. Isto significa que a hiptese deve ser forjada de forma suficientemente precisa

    para que as provas possam p-la em causa. A hiptese gravitacional de Newton, por exemplo, satisfaz

    este critrio porque se fossem descobertos dois corpos grandes que no se atrassem mutuamente isso

    tenderia a infirmar a hiptese. Mas a hiptese diettica que acabamos de mencionar no passa o critrio

    de refutabilidade, porque nenhum resultado poderia alguma vez p-la em causa.

    Um problema intimamente associado com as hipteses excessivamente amplas o que surge a

    propsito daquilo a que se chama modificaes ad hoc das hipteses. Por exemplo, supe que s um

    socilogo e que ests a fazer uma investigao sobre o alcoolismo. Formulas a hiptese de que o

    alcoolismo causado por fatores culturais que tornam atrativo o consumo de lcool. Contudo, quando

    renes provas para apoiar esta hiptese descobres que so relativamente poucas as pessoas vindas

  • dessas culturas que so alcolicas. Assim, modificas a hiptese para dizer que o alcoolismo causado por

    fatores culturais mas apenas quando existe uma predisposio gentica. Mas nessa altura descobres que

    muitos alcolicos bebem para ajudar a suportar a dor da depresso e outros problemas psicolgicos.

    Posto isto, modificas a hiptese mais uma vez para ter em conta este fato. Investigaes posteriores

    mostram que os padres de consumo dos pais tm influncia, pelo que acrescentas outra modificao.

    Chama-se a estas mudanas modificaes ad hoc (para isto) porque so introduzidas apenas para

    encobrir um problema ou anomalia que no foi identificado quando a hiptese foi inicialmente concebida.

    O problema com as modificaes ad hoc que o seu propsito escorar uma falha nas provas que

    apiam a hiptese original. medida que so acrescentadas mais modificaes, a hiptese torna-se auto-

    suportada; torna-se uma mera descrio do fenmeno que supostamente explica. Por exemplo, supe

    que introduzimos uma certa hiptese h para explicar a ocorrncia de um certo fenmeno x num grupo de

    entidades A, B, C, D, E. medida que so acrescentadas modificaes ad hoc, descobrimos que A tem x

    devido a algum atributo nico de a, B tem x devido a b, e assim por diante. No fim, a nossa hiptese

    afirma que quem quer que tenha os atributos a, b, c, d, e exibe x. Mas o conjunto de atributos a, b, c, d,

    e meramente uma descrio de A, B, C, D, E. Se tivssemos de perguntar por que a entidade A tem x, a

    resposta seria que A tem x devido a a, onde a meramente algo nico que A tem. Aplicando esta anlise

    hiptese do alcoolismo, se perguntamos por que determinada pessoa (chamemos-lhe Silva) alcolico,

    a resposta que Silva alcolico devido a ter determinado atributo s que o faz ser alcolico. A explicao

    vazia.

    Outro problema com as modificaes ad hoc que resultam em hipteses que so to complicadas

    que se torna difcil aplic-las. A cincia favoreceu sempre a simplicidade em detrimento da complexidade.

    Dadas duas hipteses que explicam o mesmo fenmeno, a mais simples das duas sempre a prefervel.

    Em parte esta preferncia esttica. A hiptese mais simples mais bonita do que a mais complexa.

    Mas a preferncia pela simplicidade tambm resulta da aplicao daquilo a que se chamou a navalha de

    Occam. Este um princpio, introduzido pelo filsofo do sculo XII Guilherme de Occam, que sustenta

    que as entidades tericas no devem ser multiplicadas sem necessidade. Por que contentar-se com uma

    teoria complicada quando uma mais simples faz o trabalho igualmente bem? Alm disso, a mais simples

    mais simples de aplicar. Voltando questo do apoio em provas, uma das formas mais seguras de saber

    que as nossas hipteses esto apoiadas em provas que levam a predies que se revelam verdadeiras.

    Cada predio verdadeira representa um pilar que apia a hiptese. Mas algumas predies so melhores

    do que outras, e as melhores so as que revelam formas de ver o mundo que nunca teriam sido sonhadas

    sem as hipteses. Se a hiptese conduz a predies deste gnero, e se essas predies so confirmadas

    pelas provas, ento a hiptese adquiriu um tipo muito especial de apoio. Uma tal hiptese revela

    verdades escondidas sobre a natureza que nunca teriam sido identificadas sem ela.

    Um exemplo clssico de uma predio deste gnero resultou de uma hiptese que est na base da

    teoria da relatividade geral de Einstein. Uma das conseqncias preditas por esta hiptese a de que a

    luz afetada pela gravidade. Em particular, a hiptese predisse que um raio de luz vindo de uma estrela e

    passando pelo Sol deveria curvar-se na direo do Sol. Como conseqncia, a posio da estrela por

    relao a outras estrelas pareceria ser diferente da que era normalmente observada. bvio que testar

    uma tal hiptese em circunstncias normais seria impossvel, porque a luz do Sol to brilhante que

    bloqueia completamente a luz das estrelas. Mas poderia ser testada durante um eclipse solar. Uma

    oportunidade dessas surgiu em 29 de Maio de 1919 e os cientistas aproveitaram-na. A predio revelou-

    se verdadeira e, em conseqncia disso, a teoria de Einstein foi rapidamente adotada. Em poucos anos a

    teoria levou descoberta da energia atmica.

    As hipteses que produzem predies arrojadas e desconhecidas so em larga medida responsveis

    pelo progresso na cincia. E precisamente este gnero de predies que, defende o filsofo Imre

    Lakatos, distingue a cincia da pseudocincia. bvio que nem todas as hipteses cientficas levam a

    predies to impressionantes quanto as de Einstein, mas na pior das hipteses podem ser integralmente

    ligadas a hipteses mais abrangentes, mais amplas, que levaram a tais predies. Por oposio, as

    hipteses que esto na base da astrologia existem h vinte e sete sculos e no produziram uma nica

  • predio impressionante que tenha sido provada nem uma nica viso inovadora do curso dos

    acontecimentos humanos. No produziram qualquer grande plano para o futuro da civilizao nem

    qualquer pista sobre descobertas futuras em fsica ou em medicina. Esta falta de progresso ao longo dos

    sculos uma das razes que levaram o filsofo Paul Thagard a concluir que a astrologia uma

    pseudocincia.

    Objetividade

    As nossas crenas acerca do mundo so objetivas na medida em que no so afetadas por condies

    peculiares ao sujeito. Estas condies podem ser tanto motivacionais como observacionais. Por exemplo,

    uma crena que seja motivada pelas emoes do sujeito e cujo fim seja principalmente satisfazer essas

    emoes tende a ter falta de objetividade. Tem igualmente falta de objetividade uma crena que se funde

    em observaes peculiares ao sujeito, como as alucinaes visuais. Embora a objetividade seja um ideal

    que nunca pode ser completamente atingido, quase toda a gente concordaria que as crenas merecem

    mais confiana se o seu contedo no for distorcido pelo sujeito. O cientista luta constantemente para

    evitar tais distores, mas a mente supersticiosa deleita-se com elas ou, em casos mais trgicos,

    sucumbe-lhes.

    As supersties existem pelo menos em parte para satisfazer as necessidades emocionais do sujeito.

    As principais emoes que esto na origem das crenas supersticiosas so o medo e a ansiedade, e so

    com freqncia reforadas por uma predisposio para a fantasia e para a preguia mental. Muito do

    medo e da ansiedade so provocados pelo fato de toda a gente morrer. A morte pode ser sbita, como

    num acidente numa auto-estrada, numa queda de um telhado, numa avalanche, ou pode resultar de um

    cancro, de um ataque cardaco ou de uma trombose. Para alm da morte, toda a gente est sujeita a

    ferimentos e aos sofrimentos que os acompanham, e a maior parte das pessoas numa altura ou noutra

    sentem o sofrimento mental que acompanha a rejeio, a solido e o fracasso.

    As pessoas tm um domnio limitado sobre estes fatos da vida e, para aliviar a ansiedade que eles

    produzem, muitas recorrem aos encantamentos e aos amuletos, aos rosrios de contas pendurados do

    espelho retrovisor ou do escapular, ou s medalhas exibidas em redor do pescoo. Se nenhuma outra

    coisa nos proteger dos terrores da vida, talvez estes objetos o faam. Afinal de contas, a cincia revelou-

    se incapaz de vencer a doena e a morte, e oferece ao crente apenas verdades temporrias que podem

    mudar amanh. Para as pessoas que enfrentam um futuro incerto, o desnimo ou a solido, pode parecer

    mais razovel ligar para a Psychic Friends Network e comprar um pouco de consolao imediata.

    Um segundo elemento na condio humana que origina ansiedade a liberdade e a responsabilidade

    que ela implica. A idia de que tu, e apenas tu, s responsvel pelo teu destino pode ser uma idia muito

    assustadora. Muita gente assusta-se com a idia e procura refgio num lder ou guru. Elas entregam todo

    o seu poder de pensamento crtico a este lder e seguem cegamente as suas instrues em detalhe.

    Quando o lder lhes ordena uma qualquer forma de tolice, por muita idiota que seja, obedecem-lhe.

    Dizem-lhes que a crena ou prtica que o lder ordena essencial para a sua proteo. E quando o lder

    lhes ordena que enviem um cheque de cinqenta dlares para auxiliar no restauro da torre da televiso

    ou para completar a manso na colina, obedecem-lhe. Recusar significa que tero de enfrentar a sua

    prpria liberdade. s vezes, seguir tais ordens pode conduzir tragdia, como aconteceu no massacre de

    Jonestown em 1978 e nos suicdios de Heavens Gate em 1997.

    Uma predisposio para formas de pensar mgicas e para a preguia mental facilita imenso o vo

    para a superstio. Muitas pessoas, talvez mesmo a maior parte, ficam fascinadas com o misterioso, o

    secreto e o oculto, e algumas preferem acreditar numa explicao que parece mgica do que numa

    explicao cientificamente fundada. Os psiclogos Barry E. Singer e Victor A. Benassi realizaram uma

    srie de experincias com os seus alunos nas quais tinham um mgico a fazer de conta que era um

    mdium e realizaram demonstraes de faanhas psquicas. Antes de as demonstraes comearem,

  • disseram vrias vezes aos estudantes com a mais clara das linguagens que o mgico estava apenas a

    fingir ser um mdium, e que o que eles iriam testemunhar era realmente uma srie de truques de

    ilusionista. No entanto, apesar destas advertncias, a maior parte dos estudantes concluram, experincia

    aps experincia, que o mgico era de fato um mdium. Alm disso, muitos concluram que o mgico era

    um agente de Satans.

    A predisposio para o mgico e o fantstico enormemente reforada pela mdia, em particular a

    televiso e os filmes. As mdias so servilmente subservientes para com os desejos de entretenimento das

    suas audincias, pelo que, dado o amplo fascnio com o mgico, as mdias lanam uma corrente constante

    de filmes, mini-sries e notcias devotadas ao tema. Estes programas abordam tudo desde vampiros e

    espritos desencarnados at conspiraes irracionais e a interveno de anjos. Esta ateno contnua para

    com o fantstico aumenta a aceitao pblica de explicaes supersticiosas sempre que explicaes

    realsticas no esto prontamente disponveis, ou at mesmo quando esto.

    Uma predisposio para a preguia mental tambm ajuda na formao das crenas supersticiosas. ,

    na verdade, extremamente difcil assegurar que as crenas de algum esto apoiadas em provas e

    passam o teste da coerncia interna. A lgica desleixada to fcil que no de admirar que as pessoas

    lancem mo dela. A maior parte das falcias informais tratadas no Captulo 3 pode ter origem no

    pensamento desleixado. Aps a velha Sra. Chadwicke passar a mancar pela igreja, um raio atingiu o

    campanrio e queimou completamente a igreja. bvio que a velha Sra. Chadwicke uma bruxa (falsa

    causa). Alm disso, a velha Sra. Chadwicke veste uma capa preta e um capuz preto. No h dvida de

    que todas as bruxas vestem dessa maneira (generalizao apressada). E bvio que as bruxas existem,

    porque toda a gente na aldeia acredita nelas (apelo ao povo).

    Outro gnero de pensamento desleixado o que envolve um apelo ao que se pode chamar falsa

    coerncia. Um agricultor descobre que uma das suas vacas foi morta. Ao mesmo tempo o agricultor l

    uma histria num tablide local contando que h um culto satnico na vizinhana. O culto pratica os seus

    ritos no dcimo terceiro dia de cada ms. A vaca foi morta a treze. Assim, o agricultor conclui que a vaca

    foi morta por adoradores de Satans. Esta forma de pensar tem muitas pontas soltas, mas isso raramente

    impede as pessoas de tirar uma concluso. Tornar-se um pensador crtico e esclarecido um dos

    principais objetivos da educao, mas infelizmente tornar-se educado to difcil para os estudantes de

    hoje como o era para os do tempo de Plato.

    At agora centramos a nossa ateno nas emoes e nas predisposies do sujeito que conduzem s

    crenas supersticiosas. Voltamo-nos agora para algumas das muitas formas como a nossa observao do

    mundo pode ser distorcida. Estas distores constituem avenidas pelas quais as condies peculiares ao

    sujeito entram no contedo da observao. Quando estas observaes distorcidas se combinam com as

    emoes e as disposies referidas anteriormente, provvel que as crenas supersticiosas surjam. As

    observaes distorcidas podem ocorrer na mesma pessoa que tem as emoes e as disposies ou podem

    ser transmitidas em segunda mo. Em qualquer dos casos, a combinao conduz superstio.

    Um fenmeno bem documentado que influencia a nossa observao dos nossos prprios estados

    corporais o do chamado efeito placebo. Um placebo qualquer gnero de medicamento ou

    procedimento que no fornece nenhum benefcio medicinal ou teraputico em si mesmo, mas que pode

    efetuar uma cura quando se diz ao paciente que tem esse benefcio. Por exemplo, disse-se a pacientes

    com dores no joelho que uma operao os curaria e, aps uma pequena inciso que, em si mesma, no

    tem qualquer efeito teraputico, a dor desapareceu. Disse-se tambm a pacientes que sofriam de tenso

    nervosa ou de depresso que um pequeno comprimido colorido (que apenas acar) os curaria e, aps

    terem tomado o comprimido, a tenso ou depresso desapareceu. bvio que nestes casos no apenas

    o placebo que efetua a cura, mas o placebo juntamente com a sugesto implantada na mente do paciente

    pelos seus mdicos.

    Outro efeito bem documentado que influncia a nossa observao do mundo em nosso redor a

    chamada pareidlia. Este o efeito devido ao qual podemos olhar para as nuvens, para o fumo ou para os

  • revestimentos texturizados das paredes e dos tetos e ver animais, faces, rvores e assim por diante.

    Projetamos as imagens visuais com que estamos familiarizados em estmulos sensoriais vagos e

    relativamente sem forma e vemos essas imagens como se estivessem realmente l. A pareidlia

    responsvel por uma boa parte da superstio religiosa. Por exemplo, em Fevereiro de 1999, voluntrios

    que trabalhavam na Igreja Episcopal do Bom Pastor em Wareham, no Massachusetts, viram a imagem de

    Jesus nos ndulos de madeira de uma porta que estavam a pintar. Concluram que a imagem era uma

    apario miraculosa de Jesus. Afinal de contas, observou um deles, Jesus era um carpinteiro. Centenas de

    incidentes como estes foram relatados nos rgos de informao, mas nunca aconteceu que algum que

    tivesse sido educado como Budista ou Hindu tivesse visto uma imagem de Jesus.

    Relacionado de perto com a pareidlia est o conceito de conjunto perceptivo, em que conjunto se

    refere nossa tendncia para perceber acontecimentos e objetos da forma que a nossa experincia

    anterior nos levou a esperar. A idia de conjunto perceptivo um produto da psicologia Gestalt, segundo

    a qual observar uma forma de resoluo de problemas. Quando somos confrontados com um problema,

    como encontrar a soluo para um enigma ou para um quebra-cabeas, entramos num estado de

    incubao mental em que as potenciais solues so reviradas nas nossas cabeas. Este estado seguido

    por um momento de inspirao (assumindo que somos capazes de resolver o quebra-cabeas) aps o

    qual a soluo parece bvia. Quando examinamos o quebra-cabeas numa outra altura, a soluo pula

    para a nossa mente. Essa soluo chamada uma Gestalt, que, em alemo, significa forma ou

    configurao. Analogamente, qualquer ato de percepo envolve resolver o quebra-cabeas de organizar

    os estmulos sensoriais em padres com significado. Cada padro uma Gestalt perceptiva, ou conjunto

    e, uma vez esse conjunto formado, serve para guiar o processamento de percepes futuras. Em

    conseqncia, percepcionamos o que esperamos percepcionar.

    Consegues ver o tringulo branco?

    O tringulo branco est de fato ali?

    (Retirado de Kanizsa, 1979, 74.)

    Em 1949 os psiclogos Jerome S. Bruner e Leo J. Postman realizaram uma experincia famosa na

    qual eram mostradas aos sujeitos rplicas de cartas de jogar vulgares mas em que algumas das cartas

    foram alteradas invertendo a cor. Por exemplo, em alguns grupos de cartas, o trs de copas era preto e o

    seis de espadas era vermelho. Em vinte e oito indivduos, vinte e sete viram inicialmente as cartas

    alteradas como sendo normais. Um indivduo identificou o trs preto de copas como um trs de espadas

    em quarenta e quatro apresentaes sucessivas. Esta experincia mostra com clareza que

    percepcionamos o que esperamos percepcionar e, na verdade, este fato -nos a todos familiar. Por

    exemplo, esperamos receber um telefonema e, enquanto tomamos ducha pensamos ouvir o telefone

    tocar, apenas para que algum em outra diviso nos diga que o telefone no tocou. Ou, ao conduzir,

    podemos nos aproximar de um sinal octogonal vermelho no qual se l ST_P (a nossa viso do sinal

    estando parcialmente bloqueada por um ramo de rvore entre o S e o P). No entanto, paramos o carro,

    porque percebemos que o sinal se l STOP. Na verdade, o que o nosso sentido da viso recebeu foram

    trs consoantes (S, T, P), sem sentido at terem sido processadas por meio da percepo.

    Um outro fator que tambm influncia o nosso sentido da viso o efeito autocintico. De acordo

    com este efeito, uma pequena luz fixa rodeada por escurido ser com freqncia vista como estando-se

  • a mover. Podemos provar para ns prprios a existncia deste efeito olhando para uma estrela brilhante

    numa noite escura ou observando um pequeno ponto de luz fixo num quarto s escuras. O objeto

    iluminado parecer com freqncia mover-se. Os psiclogos conjeturam que o efeito autocintico o

    resultado de pequenos movimentos involuntrios do globo ocular do observador e mostraram que o efeito

    aumentado pelos relatos de outros observadores. Se algum que esteja prximo disser que acabou de

    ver o objeto mover-se, com freqncia outras pessoas confirmaro este relato. Pensa-se que o efeito

    autocintico seja responsvel por muitas alegaes de avistamentos de OVNIS.

    Os vrios tipos de alucinaes tambm podem distorcer o contedo da percepo. Dois gneros de

    alucinaes que afetam muitas pessoas nos momentos de sonolncia entre dormir e viglia so as

    alucinaes hipnaggicas e hipnopompicas (Hines, 1988, 61-62). As primeiras ocorrem imediatamente

    antes de adormecermos, quando as ondas cerebrais alfa mudam para ondas teta e as ltimas ocorrem

    precisamente antes de acordar. Durante estes momentos o sujeito pode ver imagens extremamente

    vvidas e emocionalmente fortes, que parecem ser muito reais. Pensa-se que estas alucinaes so

    responsveis pelos fantasmas e outras aparies que as pessoas s vezes vem nos quartos.

    As alucinaes coletivas so outro gnero de distoro perceptiva que pode ocorrer com grandes

    multides. Antes que as alucinaes possam acontecer, a multido tem de ser levada a um estado

    emocional muito elevado, que pode ser causado pela expectativa de verem algo importante ou

    miraculoso. Pode ter acontecido uma ocorrncia deste tipo em 13 de Outubro de 1917, quando cerca de

    70.000 pessoas reunidas na aldeia de Ftima, em Portugal, esperavam ver um sinal miraculoso dos cus.

    Ao meio-dia, uma das crianas que alegadamente estava em contato com a Virgem Maria gritou para as

    pessoas olharem para o Sol. Elas assim fizeram e, em conseqncia disso, viram o Sol rodopiar por entre

    as nuvens e precipitar-se para a Terra. Claro que se o Sol se tivesse de fato movido, teria feito disparar

    os sismgrafos em todo o mundo. Alm disso, muitas pessoas presentes no viram nada de invulgar, mas

    os seus relatos no foram tidos em conta. Contudo, mesmo hoje em dia muitos fiis consideram esta

    observao do rodopiar do Sol como uma prova de milagre.

    Finalmente, a operao da memria pode distorcer a forma como recordamos as nossas

    observaes. A memria humana no como o processo pelo qual um computador l a informao do seu

    disco, com exatido total. Em vez disso, um processo criativo passvel de muitas influncias. Quando as

    imagens so chamadas da memria humana, so recuperadas em pedaos. O crebro preenche depois as

    lacunas por um processo chamado confabulao. O crebro, de forma natural e inconsciente, tenta

    produzir uma descrio coerente do que aconteceu, mas como as lacunas so exatamente preenchidas

    depende dos sentimentos da pessoa na altura da recordao, das sugestes de outras pessoas acerca do

    acontecimento recordado e dos nossos prprios relatos do que aconteceu. Dado que, para comear, a

    recordao seletiva e que muitos detalhes so inevitavelmente deixados de fora, a imagem final

    recordada pode ir desde uma representao bastante precisa at uma completa inveno.

    Estes efeitos representam apenas algumas das formas como a observao e a memria humanas

    podem ser influenciadas pelo estado subjetivo do observador. Para evitar estas distores a investigao

    cientfica limita a observao humana a circunstncias em que menos provvel que as aberraes

    conhecidas da percepo e da recordao ocorram. Nas cincias naturais, a maior parte ou mesmo todas

    as observaes so feitas atravs de instrumentos, como voltmetros, contadores de Geiger e telescpios,

    cujo comportamento bem conhecido e altamente previsvel. Os resultados so ento gravados em

    suportes relativamente permanentes, como papel fotogrfico, fitas magnticas ou discos de computador.

    Nas cincias sociais, tcnicas como a amostragem duplamente cega [2] e a anlise estatstica de dados

    isolam o observador do resultado da experincia. Estes processos fornecem a garantia importante de que

    os dados no so distorcidos pelo estado subjetivo do experimentador.

    Integridade

  • Os nossos esforos para compreender o mundo no qual vivemos so ntegros na medida em que

    envolvem honestidade na reunio e apresentao de provas e pensamento lgico e honesto na resposta

    aos problemas tericos que surgem ao longo do caminho. A maior parte da superstio envolve elementos

    de desonestidade na reunio de provas ou uma falha lgica na resposta a problemas tericos. Estas falhas

    lgicas podem ser encontradas na falta de resposta da comunidade de praticantes aos problemas que

    envolvem a adequao, a coerncia e a consistncia externa das hipteses relativas s suas prticas.

    A falta de integridade mais grave ocorre quando as provas so forjadas. Um dos exemplos mais

    impressionantes de provas forjadas o caso do entertainer israelita Uri Geller. A partir dos princpios da

    dcada de 70, Geller apresentou-se em numerosos encontros em todo o mundo como um mdium que

    podia realizar proezas maravilhosas, como dobrar colheres, chaves, pregos e outros objetos de metal por

    intermdio do simples poder da sua mente. Estes objetos pareciam dobrar-se quando ele meramente os

    acariciava com o seu dedo ou mesmo sem que sequer lhes tocasse. Os cientistas foram chamados para

    testemunhar estas proezas e muitos regressaram convencidos da sua autenticidade. Mas, na realidade,

    Geller era apenas um hbil charlato que enganava as suas audincias fazendo-as pensar que tinha

    poderes psquicos. A fraude de Geller foi em larga medida revelada pelo mgico James Randi.

    Depois de ver gravaes das atuaes de Geller, Randi descobriu como Geller fazia os seus truques e

    tornou-se num instante tambm capaz de os fazer. s vezes Geller preparava uma colher ou uma chave

    previamente, dobrando-a vrias vezes at estar quase a partir-se. Mais tarde, tocando-lhe apenas ao de

    leve, podia faz-la dobrar-se. Noutras ocasies, Geller, ou os seus cmplices, usavam manobras de

    prestidigitao para substituir os objetos direitos por objetos dobrados. Num outro truque ainda, Geller

    afirmava ser capaz de desviar uma agulha de uma bssola meramente concentrando a sua ateno nela.

    No momento em que ele agitava as suas mos sobre a bssola, a agulha girava e as suas mos tinham

    sido exaustivamente examinadas antes em busca de ims escondidos. Mas Geller tinha escondido um

    poderoso im na boca e, medida que se inclinava sobre a bssola, a agulha girava em harmonia com a

    rotao da sua cabea.

    Antes de escrever um artigo sobre Geller, Singleton fez o seguinte teste:

    les (de um olho), envolvi-o em folha de alumnio e pu-lo em dois envelopes.

    Visitei Geller na tarde seguinte.

    omigo tendo sempre o envelope debaixo de olho, perceber o desenho. E falhou.

    tinha sido somente um dia muito mau para ele (Citado in Randi, 1982, 29).

    Donald Singleton, jornalista do New York Daily News, estava familiarizado com a alegada capacidade psquica de Uri Geller para dobrar colheres e chaves e identificar desenhos feitos mo que tinham sido fechados dentro de dois envelopes, um dentro do outro. Ele suspeitava de que este ltimo truque era realizado pondo os envelopes contra uma luz forte enquanto se distraa a ateno do indivduo.

    Fui a um serralheiro e obtive uma duplicata da chave mais forte e grossa do meu porta-chaves. Tentei com toda a minha fora e no pude dobr-la, mesmo pressionando-a contra o canto de uma secretria de ao. Depois fiz um desenho simp

    Durante mais de uma hora, ele tentou, c

    Depois ele fez um esforo para dobrar a chave, uma vez mais comigo tendo sempre a chave debaixo de olho. Uma vez mais, nada aconteceu. Uri disse que estava muito desapontado e que aquele

    Para outro exemplo de provas forjadas, olhemos para aquelas pessoas que caminham no fogo. Os

    praticantes desta arte alegam que os seus seminrios de auto-ajuda podem alterar a qumica do corpo de

    uma pessoa de modo a permitir-lhe andar descalo sobre uma camada de carvo incandescente sem se

  • queimar. Um dos principais gurus deste ramo Tony Robbins do Robbins Research Institute. Robbins usa

    aquilo a que chama programao neurolingstica para curar todo o gnero de afeces fsicas e

    psquicas, desde medos irracionais e impotncia at dependncia da droga e tumores. Como prova da

    eficcia desta tcnica, ele convida aqueles que fizeram o seu seminrio a caminhar no fogo. S por

    acreditarem, diz-lhes ele, no queimaro os ps e sobrevivero experincia ilesos.

    A verdade que qualquer pessoa, quer tenha ou no freqentado o seminrio e seja o que for aquilo

    em que acredite, pode, em condies controladas, caminhar pelas brasas e escapar ileso. O fsico Bernard

    J. Leikind provou-o, pelo menos para sua satisfao, quando apareceu num seminrio de Robbins no

    Outono de 1984 (Frazier, 1991,182-193). Embora ele no tenha freqentado as sesses e tenha

    declinado pensar pensamentos frios [3] conforme as instrues dos organizadores, verificou que podia

    caminhar no fogo sem sequer ficar queimado. Ele explicou o seu sucesso chamando a ateno para certas

    leis bsicas da fsica. Apesar da sua alta temperatura, o carvo de madeira contm uma quantidade muito

    baixa de calor e conduz muito mal o calor. Alm disso, o p est em contato com as brasas apenas por

    um segundo de cada vez, permitindo assim que apenas uma pequena quantidade de energia trmica flua

    para o p. Como conseqncia, o p daqueles que caminham no fogo raramente fica ferido (ou, pelo

    menos, seriamente ferido).

    Para um terceiro exemplo de provas forjadas basta que olhemos para os milhares de cartomantes,

    leitores de sinas, e mentalistas que usam a arte da leitura fria para adivinhar todo o gnero de verdades

    espantosas acerca das vidas dos seus clientes. A maior parte das pessoas que contratam os servios

    destes leitores fazem-no porque tm problemas de amor, de sade ou de finanas. O leitor sabe isto e

    freqentemente comea a leitura com um falatrio lisonjeador que talhado para servir a praticamente a

    toda a gente. Este recital tem por objetivo pr o cliente vontade e lev-lo a abrir-se com o leitor. Ao

    mesmo tempo, o leitor capta todos os pormenores: idade do cliente, sexo, peso, atitude, padres de

    discurso, vocabulrio, contato visual, constituio, mos, vesturio (estilo, poca, limpeza, e custo),

    penteado, jias e tudo o que o cliente possa trazer ou carregar (livros, chaves do carro, etc.). Tudo isto

    fornece pistas sobre a personalidade, a inteligncia, a profisso, o estatuto socioeconmico, a religio, a

    educao e a filiao poltica do cliente.

    O leitor usa esta informao para formular hipteses que depois apresenta ao cliente na forma de

    sutis questes. Dependendo das reaes do cliente expresso facial, movimento dos olhos, dilatao da

    pupila , o leitor pode com freqncia dizer se est no caminho certo. Quando o leitor encontra algo

    prximo da verdade, o cliente geralmente reage com admirao e revela mais detalhes sobre si. Depois

    de deixar passar um intervalo de tempo aceitvel, o leitor reformula esta informao numa seqncia

    diferente e comunica-a ao cliente, para cada vez maior espanto deste. O cliente fornece ento mais

    detalhes, que o leitor combina com tudo o resto que soube. O uso de uma bola de cristal, de capa de

    cetim ou de cartas de tarot conjuntamente com um sentimento refinado de confiana transmite ao cliente

    a idia de que o leitor pode efetivamente ler a sua mente.

    a acerca de uma jovem que visitou um leitor de mentes durante os anos 30:

    agora de estar em p mais tempo do que antes, implicando que ela trabalhava

    O psiclogo Ray Hyman, que, enquanto adolescente, leu a sina para complementar os seus rendimentos, estudou a arte da leitura fria com alguma profundidade. Ele relata uma histri

    Ela usava jias caras, uma aliana e um vestido preto de material barato. O leitor atento reparou em que ela usava sapatos que so normalmente publicitados para pessoas com problemas nos ps. Ele assumiu que esta cliente vinha v-lo, como fazia a maior parte das clientes do sexo feminino, por causa de um problema de amor ou de finanas. O vestido preto e a aliana levaram-no a pensar que o marido dela tinha morrido recentemente. As jias caras sugeriam que, durante o casamento, ela no tinha problemas financeiros, mas o vestido barato indicava que a morte do marido a tinha deixado sem dinheiro. Os sapatos ortopdicos significavam que ela tinha

  • para se sustentar desde a morte do marido.

    A sagacidade do leitor levou-o seguinte concluso que se revelou correta: a senhora conheceu um homem que a pediu em casamento. Ela queria casar com o homem para deixar de ter dificuldades econmicas, mas sentia-se culpada por casar-se pouco tempo depois da morte do marido. O leitor disse-lhe o que ela queria ouvir que no havia qualquer problema em casar quanto antes (Frazier, 1981, 85-86).

    Se as tcnicas enganadoras do mgico que finge ser mdium, do programador neurolingstico e do

    leitor frio so aceitas acriticamente, parecem constituir provas que suportam realmente as hipteses na

    base destas atividades. Mas, falsificar as provas no a nica forma pela qual os praticantes da

    superstio carecem de integridade. A outra forma diz respeito reao da comunidade de praticantes a

    problemas que surgem ligados adequao, coerncia e consistncia externa dessas hipteses.

    Problemas destes surgem tambm ligados s hipteses cientficas. Quando surgem em cincia, a

    comunidade de cientistas muda para o que o filsofo Thomas Kuhn chama um modo de soluo de

    quebra-cabeas, e os cientistas trabalham neles com grande persistncia at que os problemas sejam

    resolvidos. Esta atividade de soluo de quebra-cabeas conquista a ateno da maior parte dos cientistas

    durante a maior parte das suas carreiras e constitui o que Kuhn chama cincia normal. Alm disso,

    precisamente o fato de a cincia normal consistir na soluo de quebra-cabeas, defende Kuhn, que a

    distingue da pseudocincia.

    Por exemplo, aps a hiptese copernicana ter sido introduzida, descobriu-se um problema a respeito

    de aquilo a que se chama a paralaxe estelar. Se, como sustenta a hiptese, a Terra gira em torno do Sol,

    ento, no decurso da sua rbita, as estrelas longnquas deveriam parecer mudar de posio por relao s

    estrelas prximas. Podes observar um fenmeno semelhante medida que mudas de posio num

    quarto. A lmpada distante, que originalmente aparecia esquerda da cadeira que est em primeiro

    plano, aparece agora direita. No caso das estrelas, no entanto, nenhuma paralaxe podia ser observada.

    A explicao dada na altura foi que as estrelas estavam demasiado longe para que alguma paralaxe

    pudesse ser detectada. Contudo, a paralaxe estelar constitua um problema de adequao, que a

    comunidade de astrnomos via como um quebra-cabeas e trabalhou nele durante 300 anos. Finalmente,

    foram construdos telescpios mais poderosos que detectaram efetivamente uma mudana na posio das

    estrelas medida que a Terra orbitava em torno do Sol.

    Por oposio, quando uma predio astrolgica no se verifica, a comunidade de astrlogos nunca se

    lana ao trabalho para compreender o que falhou. Os astrlogos nunca voltam a verificar o local e a data

    de nascimento do cliente ou a posio exata dos planetas na altura do seu nascimento. Lanam-se pura e

    simplesmente para diante e fazem mais predies. Analogamente, quando as dobras da cabea de uma

    pessoa no indicam caractersticas essenciais da personalidade da pessoa ou quando as linhas na palma

    da sua mo no revelam traos da sua vida, a comunidade de frenlogos e a comunidade de leitores da

    sina nunca tentam explicar os fracassos. Ignoram-nos e avanam para o grupo seguinte de clientes. Uma

    tal resposta revela uma falta de integridade da parte destes praticantes para com as suas respectivas

    hipteses. H algo obviamente errado com as hipteses ou com as medies, mas ningum se preocupa o

    suficiente para fazer o que quer que seja em relao a isso.

    Uma resposta semelhante ocorre em relao a problemas de coerncia. A maior parte das

    supersties envolve incoerncias srias, muitas delas com origem na falta de ligaes causais

    conhecidas. Por exemplo, se a astrologia alega que os planetas influenciam as nossas vidas, ento tem de

    existir alguma conexo causal entre os planetas e os indivduos humanos. Mas o que pode ser esta

    conexo? A gravidade? Se sim, ento os astrlogos tm de mostrar como flutuaes gravitacionais

    muitssimo pequenas podem afetar a vida das pessoas. Por outro lado, se uma outra causa, os

    astrlogos tm de especific-la. Que gnero de leis a governam? uma lei da razo inversa do quadrado

    da distncia, como a lei da gravidade, ou algum outro gnero de lei? Analogamente, se as linhas da palma

    da mo de uma pessoa indicam algo acerca da vida da pessoa, ento que forma de causalidade opera

  • aqui? As linhas influenciam a vida ou ao contrrio? E a que leis obedece esta forma de causalidade?

    Qualquer ausncia de conexo causal um defeito de coerncia, porque indica a falta de uma

    conexo entre as idias que constituem uma hiptese. Contudo, uma tal falta de coerncia no tem de ser

    fatal para a hiptese. Desde o tempo de Hipcrates que os mdicos sabiam que as folhas de salgueiro,

    que contm o ingrediente essencial da aspirina, tinha o poder de aliviar a dor, mas at recentemente no

    conseguiram compreender a conexo causal. Mas o que distingue a comunidade biomdica da

    comunidade de astrlogos so as reaes de uma e de outra a problemas desse tipo. Os membros da

    comunidade biomdica reconheceram o problema da aspirina como um quebra-cabeas e trabalharam

    nele at que encontraram a soluo, mas os membros da comunidade astrolgica no esto interessados

    em identificar o mecanismo causal pelo qual os planetas influenciam as vidas humanas. De modo idntico,

    os membros da comunidade de leitores da sina e os membros da comunidade de frenolgos no se

    preocupam com identificar as conexes causais essenciais decorrentes das suas respectivas hipteses.

    As hipteses inconsistentes com as teorias ou as leis estabelecidas constituem um problema ainda

    mais srio. As alegaes dos promotores do movimento de Meditao Transcendental so um bom

    exemplo. A prtica da MT foi popularizada nos anos 60 pelo Maharishi Mahesh Yogi e, desde ento, atraiu

    milhares de aderentes. Consiste na repetio silenciosa de um mantra, que induz um estado mental

    semelhante auto-hipnose. Para muitos dos que a experimentaram, os benefcios so o relaxamento

    mental e fsico que leva a um sentimento de rejuvenescimento. Mas com instruo suplementar em MT (a

    um elevado custo para o estudante), podem ser induzidos transes maiores e mais profundos que, o

    Maharishi alega, permitem ao meditador levitar pairar no ar sem qualquer suporte fsico. Ele alega que

    milhares de discpulos aprenderam a faz-lo e divulgou fotografias que pretendem confirmar esta

    afirmao. Mas, claro, se a levitao ocorre efetivamente, constitui uma violao ou uma suspenso da lei

    da gravidade.

    A inconsistncia da hiptese de Maharishi com uma teoria to bem confirmada quanto a lei da

    gravitao constitui provavelmente razo suficiente para coloc-la na categoria de superstio. Mas a

    reao da comunidade de praticantes a esta inconsistncia deixa pouca margem para dvidas. Em 1971 o

    Maharishi comprou os terrenos e os edifcios do que era anteriormente o Colgio Parsons em Fairfield, no

    Iowa, e converteu o local na Maharishi International University. A Universidade tornou-se ento a sede do

    International Center for Scientific Research, que, poderamos pensar, seria o frum perfeito para

    investigar a levitao. Dada a disponibilidade de grandes quantidades de alegados levitadores, os

    cientistas da casa poderiam conduzir estudos detalhados sobre este fenmeno. As suas descobertas

    poderiam fornecer a base para viagens espaciais interplanetrias, j para no falar do que poderiam fazer

    por avies seguros. Contudo, desde o princpio, o International Center no conduziu a menor investigao

    em levitao. No se realizaram quaisquer experincias e no foram escritos quaisquer ensaios

    acadmicos. Esta resposta inconcebvel para qualquer bona fide centro de pesquisa cientfica.

    Sumrio

    Distinguir cincia da superstio no preocupao ftil de filsofos de poltrona, como alguns

    sugeriram, mas uma questo vital para o futuro da civilizao. Na Rssia Estalinista os cientistas

    responsveis eram enviados para os gulag devido a recusarem submeter-se s idias do Estado acerca do

    que era cientfico. E na Amrica, travaram-se batalhas judiciais sobre o que considerado cincia para a

    reforma curricular das escolas pblicas. Alm disso, a tentativa de distinguir cincia de superstio tem

    razes antigas na histria da filosofia. Pode ser vista como o equivalente moderno da mesma questo

    colocada por Plato h muito tempo; desde ento muitos filsofos abordaram a questo da sua prpria

    perspectiva.

    Nas pginas anteriores delineamos alguns traos que so caractersticos da investigao cientfica e

    alguns traos opostos que so caractersticos da superstio. O propsito desta exposio no foi fornecer

  • as condies necessrias e suficientes para traar uma linha de demarcao absoluta entre cincia e

    superstio. Em vez disso, o propsito, mais modesto, foi o de apresentar um grupo de semelhanas

    familiares que um investigador honesto pode usar para emitir o juzo de que mais provvel que um

    conjunto de crenas seja cientfico ou mais provvel que seja supersticioso.

    Termos-chave introduzidos nesta seo

    Modificaes ad hoc Navalha de Occam

    Provas anedticas Pareidlia

    Efeito autocintico Conjunto perceptivo

    Alucinao coletiva Efeito placebo

    Confabulao Replicabilidade

    Disconfirmability Progresso cientfico

    Alucinao hipnaggica Predies impressionantes

    Alucinao hipnopompica Hipteses vagas

    Na medida em que um conjunto de crenas se apia em hipteses que so coerentes, precisas,

    estritamente definidas, suportadas por evidncias genunas e produzem novas idias, pode ser

    considerado cientificamente fundado. Este juzo reforado pela resposta conscienciosa da comunidade

    cientfica aos problemas que surgem a respeito da adequao, coerncia e consistncia externa dessas

    hipteses. Mas, na medida em que um conjunto de crenas se apia em hipteses que so incoerentes,

    inconsistentes com teorias bem estabelecidas, vagas, excessivamente amplas, motivadas por

    necessidades emocionais, suportadas por provas que no so de confiana e que no levam a novas

    idias, ento essas crenas tendem a ser supersticiosas. Tal juzo reforado por uma reao de

    indiferena inconsciente por parte da comunidade dos praticantes a problemas que surgem em relao

    adequao, coerncia e consistncia externa dessas hipteses.

    Leituras selecionadas

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    Notas

    [1] Sai o um em cada um dos dados do par. (N. do T.)

    [2] Trata-se de uma tcnica de teste de um produto em que o investigador, ao analisar uma amostra de

    pessoas, no sabe se essas foram as pessoas que tomaram, por exemplo, o comprimido cujos efeitos se

    pretende determinar ou se elas pertencem ao chamado grupo de controle, que tomou apenas um

    comprimido de farinha; e as pessoas tambm no sabem se tomaram o comprimido que est a ser

    testado ou se tomaram apenas farinha. (N. do T.)

    [3] Uma vez que o objetivo andar sobre as brasas, os pensamentos frios teriam o efeito de arrefecer as

    pessoas permitir-lhes fazer o que pretendem. (N. do T.)

    Cincia e Superstio