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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO/PUC-SP Cintia Ortegosa Cordeiro Leitura de histórias em voz alta: proposta de intervenção de um fonoaudiólogo com professores MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA SÃO PAULO 2015

Cintia Ortegosa Cordeiro Leitura de histórias em voz alta: … · 2017-02-22 · voz alta do livro: “Bruxa Bruxa! Por favor venha a minha festa”, nos momentos pré e pós-intervenção

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO/PUC-SP

Cintia Ortegosa Cordeiro

Leitura de histórias em voz alta: proposta de intervenção de um

fonoaudiólogo com professores

MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA

SÃO PAULO

2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO/PUC-SP

Cintia Ortegosa Cordeiro

Leitura de histórias em voz alta: proposta de intervenção de um

fonoaudiólogo com professores

MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Fonoaudiologia, sob a orientação da Profa. Dra. Léslie Piccolotto Ferreira.

SÃO PAULO

2015

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É expressamente proibida a comercialização deste documento,

tanto em sua forma impressa, como eletrônica. Sua reprodução

total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos

e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do

autor, título, instituição e ano da tese/dissertação.

CORDEIRO, Cintia Ortegosa

Leitura de histórias em voz alta: proposta de intervenção de um fonoaudiólogo com professores

Cintia Ortegosa Cordeiro – São Paulo, 2015.

Viii, 74 f.

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo – Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia

Story-reading-aloud: effects of a speech pathologist’s

intervention a on kindergarten teachers.

Voz 2. Expressividade 3. leitura

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Cintia Ortegosa Cordeiro

Leitura de histórias em voz alta: proposta de intervenção de um fonoaudiólogo

com professores

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Fonoaudiologia, sob a orientação da Profa. Dra. Léslie Piccolotto Ferreira.

Aprovada em: ____ de ______________ de 2015.

BANCA EXAMINADORA

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DEDICATÓRIA

A DEUS, por caminhar ao meu lado e me carregar nas horas difíceis.

À memória da minha avó

Meus pais e irmã por me apoiarem.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Profa. Dra. Léslie Piccolotto Ferreira, que mesmo

diante de difíceis situações, sempre me deu valiosas orientações e compartilhou da

minha empolgação. Minha eterna gratidão por me guiar durante toda a trajetória com

tanto carinho, por me acolher como “filha científica”, pela paciência de ler tantas

vezes e fazer correções construtivas. Obrigada pela convivência harmoniosa durante

esta trajetória, por ser tão querida, atenciosa, forte, respeitosa, doce, sábia e

brilhante profissionall!

À Profa. Dra. Sandra Madureira Obrigada pelo acolhimento nas disciplinas,

por ser tão atenciosa, pela disponibilidade em ajudar, contribuições e sugestões tão

essenciais.

À Profa. Dra. Lucila Pastorelo Obrigada pelas sugestões na pré-

qualificação, pelas indicações de livros infantis e para referências bibliográficas.

Agradeço pelas contribuições e cuidados demonstrados durante a qualificação.

À Profa. Dra. Laura W. Martz por todas as valiosas contribuições e pelo

acolhimento e cuidados demonstrados durante a qualificação.

À Profa. Dra. Zuleica e amigos do LIAAC por me acolherem nas disciplinas

cursadas.

Às colegas do Programa Municipal de São Paulo e PUC-SP. Agradeço a

experiência de fazer parte do curso de Bem-estar vocal para professeres. Foram

momentos muito agradáveis de convivência e muito aprendizado.

Aos colegas do Laborvox, pela convivência, divisão de tarefas e trocas

científicas.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia e

Linguística.

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A CAPES, pela bolsa concedida como estímulo à pesquisa.

Às professoras que participaram como sujeitos de pesquisa. Foram

momentos descontraídos de muito aprendizado.

Aos alunos do curso EAD que como juízes, ao participarem da pesquisa,

possibilitaram a realização de mais um trabalho científico para a Fonoaudiologia.

Aos amigos Maria Teresa Bonato e Deyves pela paciência de ler e fazer

sugestões.

Aos colegas amigos Adriana Esteves, Adriana, Aline, Ana Terra, Thaynã,

Tati, Mila Valle, Samlya, Guilherme, Marjorie, Ezequiel, Natalie, Ariane, Mariana,

Ivana por dividirem as alegrias e angústias em todas as etapas do mestrado.

Às amigas Lilian Kun, Gabriela Carolina, Daniela Serrano, Nathalia,

Viviane Barrichelo, Cristiane Silva pelas sugestões, ajudas e contribuições

Aos técnicos do Laboratório de Rádio da PUC-SP Ronaldo e Ernesto,

pela sugestão do gravador utilizado nesta pesquisa e ajuda na edição das vozes.

À Virgina que sempre atende todos alunos com respeito e paciência.

Às amigas yoginis professoras Dras Graça, Wanda e Raphaella que

pacientemente revisaram este estudo e contribuiram com sugestões.

Às funcionárias da biblioteca Narbal Fontes e em especial Raquel pela

atenção e valiosas sugestões.

À Nossa Senhora da Aparecida que me ajudou em tantas etapas e sempre

caminha comigo.

Aos meus gurus Swami Sivananda e Swami Vishunu Devananda

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ilustração do livro Bruxa, Bruxa venha a minha festa, de

Arden Bruce(1995)...................................................................................

35

Figura 2 - Ilustração da página do enunciado escolhido.......................... 37

Figura 3 - Tela exibida aos juízes (Plataforma online “SurveyGizmo”.)

para registro do Termo de Consentimento Livre Esclarecido....................

39

Figura 4 - Tela exibida aos juízes onde deveriam informar seu sexo,

idade, e tempo de atuação com educação infantil....................................

39

Figura 5 - Na terceira tela, foram apresentadas as instruções gerais...... 40

Figura 6 - Na quarta página (Figura 6) foi apresentado o material

contendo as duas gravações conforme sorteio realizado, ou seja,

referente a P2 = gravação 1Pré, gravação 2Pós.....................................

40

Figura 7 - Exemplo de leitura do enunciado “Gato gato, por favor venha

a minha festa” pré e pós intervenção........................................................

42

Figura 8 - Ilustração de forma resumida os procedimentos

metodológicos deste estudo......................................................................

43

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Descrição do primeiro encontro........................................... 45

Quadro 2 - Descrição do segundo o encontro........................................ 46

Quadro 3 - Descrição do terceiro encontro............................................. 47

Quadro 4 - Descrição do quarto encontro.............................................. 49

Quadro 5 - Descrição do quinto encontro............................................... 50

Quadro 6 - Descrição do sexto encontro................................................ 51

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Idade, tempo de docência e duração do enunciado (DE), nos

momentos pré e pós intervenção das participantes....................................

52

Tabela 2 - Análise quantitativa das variáveis idade e tempo de trabalho

na educação infantil dos juízes....................................................................

52

Tabela 3 - Número e percentual de juízes segundo a comparação entre

os professores na classificação da leitura Pré e Pós a intervenção............

53

Tabela 4 - Número e percentual de juízes segundo comparação na

classificação da leitura. Análise da Partição do X2......................................

54

Tabela 5 - Avaliação da mudança das características da leitura para o

Professor 1 (P1)...........................................................................................

55

Tabela 6 - Avaliação da mudança das características da leitura para o

Professor 2 (P2)...........................................................................................

57

Tabela 7 Avaliação da mudança das características da leitura para o

Professor 3 (P3)...........................................................................................

58

Tabela 8 Avaliação dos resultados na perspectiva das participantes......... 60

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Percentual de juízes que classificaram as leituras Pré e Pós

a intervenção, segundo professores..........................................................

53

Gráfico 2 - Proporções Pré e Pós a intervenção para o P1, segundo

características da leitura............................................................................

56

Gráfico 3 - Proporções Pré e Pós a intervenção para o P2, segundo

características da leitura............................................................................

57

Gráfico 4 - Proporções Pré e Pós a intervenção para o P3, segundo

características da leitura............................................................................

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RESUMO

A leitura em voz alta em sala de aula exige uso de recursos vocais para obter a atenção, motivação, suspense e curiosidade dos alunos. Objetivo: investigar os efeitos de uma intervenção realizada por um fonoaudiólogo, com foco na expressividade oral, para melhorar a leitura de histórias em voz alta de professoras de educação infantil. Método: três professoras foram submetidas a essa intervenção (seis encontros) e a gravação (gravador Marantz, com microfone AKG) de leitura em voz alta do livro: “Bruxa Bruxa! Por favor venha a minha festa”, nos momentos pré e pós-intervenção.. As amostras de leitura foram, digitalizadas em formato wav., editadas, e devidamente etiquetadas no Praat. Apenas o trecho correspondente a frase “Gato, Gato! Por favor venha a minha festa” foi destacado para análise. Foram extraídas medidas acústicas da duração desse enunciado e 35 professores, na função de juízes, ouviram individualmente as amostras referente à leitura das professoras sem o conhecimento de quais situações eram pré ou pós intervenção. Esses registraram as impressões auditivas classificando-as como iguais ou diferentes. Caso fossem diferentes, deveriam escolher qual era mais: cativante, motivante, interessante, melodiosa, clara e pausada. Verificou-se os conhecimentos obtidos das participantes, por meio de uma ficha de avaliação entregue após a intervenção. Resultados: Na inspeção acústica houve aumento das medidas de duração do enunciado nas três participantes depois da intervenção. A maioria dos juízes notou diferença estatisticamente significativa entre as leituras (pré e pós intervenção) em todas participantes, considerando o momento pós-intervenção das três professoras como mais cativante, interessante, motivador, pausado e melodioso. As professoras referiram efeitos positivos da intervenção, percebidos em todos aspectos de expressividade oral trabalhados. Após a intervenção as participantes revelaram terem obtido novos conhecimentos em relação à expressividade e colocaram esses em prática. Conclusões: Os professores juízes perceberam diferença significativa nas leituras e julgaram melhor o momento pós-intervenção, principalmente quanto a estar mais pausada, melodiosa, interessante, cativante e motivadora para o público infantil. O programa de intervenção gerou efeito positivo nas participantes.

Palavras chave: Voz, expressividade, leitura.

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ABSTRACT

This paper reports the results of an investigation of the effects of a story-reading-aloud program on some expressiveness features in kindergarten teachers. Methods: Three preschool teachers were engaged in a simulated story-reading-aloud task and produced narrations as they normally do with their students. The narrations were audio-recorded using a Marantz professional tape recorder and an AKG microphone. Each narration was digitized individually using Praat. The effects of the programs were assessed doing the same recording procedures after the intervention. Thirty five kindergarten experienced teachers listened to the speech samples from the different moments (before and after the story-reading program) and made comparative judgments regarding pauses, clarity, interesting, motivation and melody. Results: Results showed that the teachers modified their speech at multiple levels. As a group, the participants demonstrated increased enunciation duration. The majority of the judges noticed statistically significant differences between the reading samples (before and after intervention) in all participants, considering the moment after intervention from the teachers as more: interesting, motivational, paused and melodic. The teachers referred positive effects from the intervention, referred in every aspect of oral expressiveness practiced. The participants reveled obtaining new vocal expressiveness knowledge after intervention and put this is use during in their work activities. Conclusion: Enunciation duration significantly increased when reading the stories aloud after intervention. The kindergarten experienced teachers, who listened the samples, noticed statistically significant differences between the reading samples and judged the moment after intervention as the best, mainly as being more paused, melodic, interesting, and motivating for children. The intervention program had a positive effect among the participants.

Keywords: Voice, expressiveness, reading.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................

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2. OBJETIVO...................................................................................................

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3. REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................

3.1 Histórico das práticas de narrativas orais e leitura na educação

infantil...............................................................................................................

3.2 Expressividade oral................................................................................

3.3 Análise de parâmetros de expressividade em contexto de leitura em

voz alta.............................................................................................................

3.4 Estudos de Intervenção com foco na expressividade oral....................

21

21

26

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30

4. MÉTODO.....................................................................................................

4.1 Seleção dos sujeitos..............................................................................

4.2 Coleta de dados.....................................................................................

4.2.1 Seleção do livro............................................................................

4.2.2 Registro de coleta de leitura.........................................................

4.3 Oficina....................................................................................................

4.4 Edição do material.................................................................................

4. 5 - Análise dos dados referentes à coleta de amostra de leitura em voz

alta...................................................................................................................

4.5.1 - Avaliação de sentido....................................................................

4.5.2. Inspeção acústica..........................................................................

4. 6 - Análise Estatística..............................................................................

4.7 - Avaliação do processo de intervenção pelos participantes.................

34

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5. DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO...................................

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6. RESULTADOS............................................................................................

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7. DISCUSSÃO................................................................................................

61

8.CONCLUSÕES............................................................................................. 67

ANEXOS..........................................................................................................

68

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1. INTRODUÇÃO

Leitura para crianças pequenas é um tema cada vez mais popular. Essa

prática, além de realizada pelos pais, e comum na educação infantil por professores,

tem sido mais realizada também por leitores em espaços públicos como bibliotecas,

livrarias e salas de leitura. Porém, é no cotidiano escolar que se encontram os

instrumentos para que se realizem transformações significativas, no sentido da

constituição de leitores. Cabe, portanto, aos professores, a possibilidade de dar um

rumo à história. Lembrar que ler não é decodificar as letras, como se fossem sinais,

sem dar a elas maior significação. Essa idéia de leitura afasta as pessoas dos livros

(Perrota et al., 1995).

Na prática clínica e educacional é frequente encontrar crianças que vêem a

leitura como uma das atividades menos prazerosas que a terapeuta ou escola

poderiam oferecer-lhes. Assim, a leitura de histórias, quando bem feita, seria uma

forma de transformar essa prática em uma experiência lúdica e de prazer.

Colocada numa situação de vida real em que precisa ler um texto, ou seja,

construir seu significado, cada criança mobiliza competências anteriores e deve

elaborar novas estratégias para concluir a tarefa (Jolibert, 1994). Pode-se pensar

que, antes da alfabetização, a criança constrói os sentidos do texto, quando ouve a

história lida por um adulto.

Combs e Beach (1994) consideram que a narração de histórias é essencial

para a construção de significados por crianças que estão no início da escolarização.

O estudo de Hutton et al. (2015), com crianças de três a cinco anos, mostrou que o

estímulo precoce à leitura influencia na atividade cerebral, mudando a maneira como

o cérebro processa as histórias e aumentando as chances de formar um leitor ávido.

Quanto mais consistente a exposição à leitura, mais áreas cerebrais que suportam o

processo semântico (atribuição de significado a frases e palavras) são ativadas pela

narrativa.

Chartier (1997) descreve a leitura como interação dinâmica, uma resposta às

solicitações do texto, um trabalho de interpretação. O texto para o autor, mesmo que

fixo em sua letra, não é o mesmo se mudarem os dispositivos do suporte que o

transmite a seus leitores, a seus ouvintes ou a seus espectadores.

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O professor, quando lê para seus alunos tem sua voz como principal

ferramenta para conquistar a transmissão da mensagem, de acordo com as

exigências de cada contexto. Na concepção de Pastorello (2010), a leitura em voz

alta é uma prática discursiva direcionada ao outro, e, portanto, quando praticada

pelo professor de educação infantil está endereçada às crianças. A produção de

significados é facilitada, pois a expressividade contribui para a compreensão do que

é lido. Dessa forma, ao considerar aspectos da expressividade oral, não se dissocia

voz da linguagem. (Pastorello 2010).

Ler em voz alta é uma atividade complexa que requer a coordenação de

diversas tarefas ao mesmo tempo. Para a conquista dessas, muitas habilidades são

requisitadas para que a fluência da leitura pareça sem esforço e natural (Logan,

1997). Na experiência docente em cursos de educação infantil é possível perceber

e experimentar a multiplicidade de recursos de que o professor se vale para alcançar

os objetivos propostos.

Zumthor (2000) afirma que transmissão e recepção são um ato único de co-

presença que gera o prazer. Ouvir histórias é muito importante na formação de

qualquer criança, é o início da aprendizagem para ser um leitor e, tornar-se um leitor

é começar a compreender e interpretar o mundo. Por isso é necessário “[...] ler

histórias para as crianças, sempre, sempre...” (Abramovich, 1993, p.17). Cavalcante

(1999) verificou que há mudanças de posição do infante com relação às modulações

de voz da mãe. Scarpa (2005) afirma que a prosódia estabeleceria a ponte inicial,

relacionando som e sentido. Assim, é o primeiro veículo da organização das formas

linguísticas, sobretudo por meio dos sistemas de ritmo e entoação. É aquela que se

caracteriza como melódica/ entoacional por excelência. Portanto, a prosódia precisa

ser trabalhada também na escola, uma vez que é iniciada cedo na vida da criança.

Propostas de intervenções com foco na expressividade oral em cursos

técnicos e de graduação para outros profissionais da voz são comuns, por exemplo,

Trindade (2008) trabalhou com repórteres, Morais (2010) com radialistas, e Azevedo

et al. (2009), com telejornalistas, e constituem-se um campo de atuação para o qual

o fonoaudiólogo tem sido chamado.

Dragone et al. (2010), ao revisar 15 anos de contribuição de estudos da voz

de professor, confirmam que a perspectiva da avaliação vocal tem sido privilegiada

nos estudos brasileiros, enquanto avaliações de efeito de intervenções são mais

recentes e ainda pouco representativas. Tal fato indica uma tendência de mudança

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de foco que pode auxiliar na compreensão da complexa realidade do uso da voz na

docência e nortear futuras ações fonoaudiológicas e inspirar mais estudos sobre

intervenção.

Em particular, quanto às intervenções realizadas com professores, o

trabalho da Fonoaudiologia focou, por muito tempo, as necessidades vocais básicas

e aspectos que visam prevenção ao distúrbio de voz e bem-estar vocal. Ferreira et

al. (2015) por exemplo iniciaram o Programa Municipal de Saúde Vocal, junto com a

Secretaria Municipal da Educação de São Paulo, com objetivo de promover ações

por meio de oficinas em vez de palestras, uma vez que promove maior

sensibilização e possibilidades benéficas para os participantes. Zenari e Latorre

(2008) e Xavier e Santos (2013) são outros exemplos de ações de promoção a

saúde vocal de educadores por meio de programas de intervenção.

No entanto, durante a atuação e participação ativa do processo de

educação/aprendizagem infantil, pode-se perceber a necessidade de uma

abordagem criativa que envolva a voz em leituras para os alunos durante as aulas.

Além de cuidar da voz dos professores, uma intervenção na expressividade oral

acrescentaria muito ao trabalho habitualmente realizado.

O presente estudo vem ao encontro da necessidade de mais pesquisas

voltadas para programas de intervenção dos recursos que possam ser utilizados

para melhorar a efetividade na transmissão da mensagem por parte de professores,

especialmente durante a leitura em voz alta. Pretende-se mostrar a voz sob outro

prisma. Aqui o foco será a voz como instrumento de expressividade para interpretar

diferentes papéis que ela pode assumir no decorrer da leitura em voz alta durante a

aula.

Diante da importância e contribuição que o trabalho fonoaudiológico pode

oferecer para a escola, espera-se que os achados desta pesquisa contribuam para

respaldar a atuação com professores de educação infantil, por possibilitar suporte

para sua prática. Espera-se no final, que os professores passem a fazer uso dos

recursos vocais de modo diferenciado.

Parte-se da premissa de que com as ferramentas adquiridas após a

intervenção, o professor poderá rever sua prática de leitura em voz alta utilizando-a

a seu favor. Acredita-se que, dessa forma, o profissional conheça mais recursos e

torne-se confiante perante seus alunos e apresente um melhor desempenho em sua

atuação. Assim, pretende-se oferecer novos subsídios para a relação entre a leitura

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e a construção de sentidos no texto, em contexto de leitura em voz alta, e oferecer

novas estratégias educacionais de aprimoramento para professores de educação

infantil e séries iniciais que auxiliem na interação com seus alunos.

Quanto mais instrumentalizado o professor estiver para revelar suas

intenções e emoções por meio de sua voz dentro da história pela interpretação, mais

interessante será sua atuação junto às crianças. Dessa forma, parte-se da hipótese

de que professores expostos a uma oficina em que aspectos de expressividade oral

seriam trabalhados teriam condições de produzir ao final dela leituras em voz alta

com diversos sons, e, portanto, produzindo diferentes sentidos.

De acordo com Madureira (2004), a expressividade da fala ou oral constrói-

se a partir das interações que se estabelecem entre elementos segmentais (vogais e

consoantes) e prosódicos (ritmo, entoação, qualidade de voz, taxa de elocução,

pausas e padrões de acento) e das relações que se estabelecem entre som e

sentido. Ao aumentar o conhecimento sobre a prosódia durante a leitura em voz alta

essa iria mudar a expressividade da leitura. Assim, prosódia se refere ao ritmo,

entoação e pausa na fala e serve para uma variedade de funções linguísticas e

afetivas (Bolinger, 1961). Entender que cada som pode resultar em diferentes

sentidos mudaria a forma de realizar a leitura em voz alta de um texto.

Neste estudo, os participantes serão avaliados nas mesmas condições antes

e depois da intervenção proposta para testar a hipótese de que haverá diferenças na

expressividade oral da leitura entre os dois momentos. Acredita-se que, o exercício

de “simulação” de leitura de histórias, compartilhadas com o grupo de professores,

de uma forma diferente das que estão acostumados a realizar, irá estimular

mudanças positivas. Frente à confirmação da mesma, iniciativas dessa natureza

poderão ser apresentadas a professores interessados em melhorar a sua

performance na atividade de leitura em voz alta.

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2. OBJETIVO

Investigar os efeitos de uma intervenção realizada por um fonoaudiólogo,

com foco na expressividade oral, para melhorar a leitura de histórias em voz alta de

professoras.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo está dividido em quatro partes: na primeira, Histórico das

práticas de narrativas orais e leitura na educação infantil, a proposta é realizar

uma contextualização histórica, que se torna necessária para compreender as

práticas de narrativas orais e a leitura na infância; na segunda, Expressividade

oral, apresenta-se a definição de expressividade e ao final são apresentados

estudos com professores. Na terceira, Análise de parâmetros de expressividade

em contexto de leitura em voz alta, alguns estudos que utilizaram a leitura em voz

alta como instrumento para analisar parâmetros de prosódia são descritos; e

finalmente, na quarta, Estudos de intervenção realizados por fonoaudiólogos

com foco na expressividade oral, pesquisas com esse tipo de intervenção em

áreas de atuação nas quais o fonoaudiólogo tem sido chamado (em especial

estudos com profissionais da voz como radialistas, locutores e teleapresentadores)

são destacadas, lembrando que esses foram referência para este estudo e servem

para o profissional refletir sobre as práticas existentes. Nas duas últimas partes, a

sequência cronológica foi considerada.

3.1 – Histórico de práticas de narrativas orais e leitura na educação infantil

Existem muitas práticas de leitura em voz alta documentadas em diferentes

contextos (Hébrard, 2001). Atualmente, observa-se a volta da figura do narrador de

histórias que era peculiar a culturas anteriores como na Europa Central (Matos,

2005). Na revisão realizada observasse a variedade de termos utilizados, como

leituras partilhadas, leituras oralizadas bem como narrativas orais. A leitura

partilhada européia se refere a leitura em voz alta, que é tema de muitos estudos, a

exemplo dos leitores populares da Renascença nos séculos XVI e XVII.

Ao revisar essas práticas na literatura espanhola, Chartier (1997) aponta

uma forte presença do livro, no século XVII, entre artesãos e comerciantes que

faziam leituras partilhadas de livros devocionais, vidas de santos e romances de

cavalaria. O autor conclui que a prática da leitura em voz alta criava um vasto

público de ouvintes que, pela mediação da voz leitora, adquiria familiaridade com a

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obra compartilhada. O público da literatura escrita não se limitava a seus leitores, no

sentido atual da palavra, mas estendia-se a um elevado número de ouvintes. Dessa

forma, o alto grau de analfabetismo não se constituía em obstáculo. Cada exemplar

de um impresso ou manuscrito podia alcançar um público muito numeroso por meio

da leitura oral. Se na família ou em uma comunidade houvesse uma pessoa que

soubesse ler, qualquer texto poderia ser desfrutado por muitos (Frenk, 2006).

Portanto, muitas obras eram acessíveis a diferentes classes sociais, graças a

narrativas dos leitores por meio da leitura em voz alta.

Em especial, referente à literatura para crianças, Vidal (2013) fez um

levantamento de obras direcionadas a esse público. A autora verificou que no fim do

século XVII, Charles Perrault escreveu durante o classicismo francês o que seria o

primeiro núcleo da literatura infantil ocidental: contos da Mãe Gansa. No século XIX,

os irmãos Grimm ampliaram esse universo ao recolherem antigas narrativas e

lendas e acrescentarem as sagas germânicas. Vinte anos depois, Hans Christian

Andersen apresenta 200 contos infantis com o título geral de Eventyr, que vieram a

ser publicados em diversas línguas. A fábula e, depois, o conto de fadas foram as

modalidades literárias que procederam à conversão de personagens não humanas

em símbolos de vivências e da interioridade da criança (Vidal, 2013).

No Brasil, a transposição começa com Figueiredo Pimentel e depois com

Monteiro Lobato, Viriato Correia e Érico Veríssimo (Lajolo e Zilberman, 2007).

Existem várias propostas de inserção de práticas pedagógicas que incluem a

literatura infantil como atividade habitual (Rockenback, 1990; Santos e Joly, 1994).

Os pedidos de cursos de formação para contadores de histórias remontam ao fim

da década de 1980 e início de 1990, quando contar histórias passou a fazer parte da

programação das bibliotecas da cidade de São Paulo, com a atividade Hora do

Conto. Essa iniciativa tinha o objetivo de entreter, conquistar o público espontâneo e

promover a leitura e o acervo das bibliotecas (Bandini, 2013). Entre as decorrências

da execução desse projeto registra-se o surgimento de professores contadores que,

em sala de aula, ou na biblioteca da escola, exercem a contação, com o intuito de

desenvolverem o gosto pela leitura (Patrini, 2005). No entanto, segundo a autora,

não havia programas nem conhecimento, por uma grande parte dos professores, da

necessidade de adquirem habilidades para contar as histórias para proporcionar

além do prazer e do lazer possibilitado pela sua escuta, o compartilhamento das

emoções e das vivências. Possivelmente, isso ocorreu, porque esse trabalho de

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contar histórias estava frequentemente vinculado a preocupações pedagógicas,

como as relacionadas à aquisição da leitura e da escrita.

Nos anos 1990, surgem novas experiências na área de leitura infantil.

Projetos foram desenvolvidos, como o da Fundação Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil (FNLIJ) realizado anualmente, desde 1999 com objetivo de contribuição para

a formação leitora das crianças das escolas públicas do Rio de Janeiro, por meio do

contato com escritores e ilustradores. Em 1992, foi criado o Programa Pró-Leitura

com o objetivo de contribuir para formação continuada de professores e ampliação

do seu repertório de vivências de leitura, a partir de uma iniciativa da Secretaria da

Educação dos Estados, Universidades, e Embaixada da França (Marinho, 2004).

Preocupado com o déficit educacional e com o slogan "Brasileiro não gosta

de ler", o escritor Laé de Souza propõe a partir de projetos de leitura com o objetivo

de favorecer o hábito da leitura. Dentre esses destaca-se: "Encontro com o Escritor",

"Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na

Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na

Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade” (Ramos, 2011).

Outra iniciativa foi o Projeto Entorno, desenvolvido desde 2006 pela Editora

Abril e pela Fundação Victor Civita realizado em escolas estaduais e municipais.

Esse é um conjunto de ações de apoio à leitura por prazer, em parceria com as

secretarias municipais e estaduais de Educação, e promovem ações culturais e

educacionais de estímulo à leitura, além da ampliação do acervo das unidades

escolares (Ramos, 2011).

Existem pesquisas no campo das narrativas orais e da literatura, e autores

de diferentes áreas investigam práticas de leitura. Feitelson et al. (1993) avaliam os

efeitos de ouvir histórias sobre os padrões linguísticos de pré-escolares com

crianças árabes, e verificam que as do grupo experimental, submetidas a um

programa de contos infantis apresentados pela professora, tiveram um desempenho

superior às do grupo de controle, submetidas a um programa de melhoria de

habilidades lingüísticas proposto pelo Ministério da Educação.

Paz (2007) realizou pesquisa quantitativa com alunos da 2ª, 5ª e 7ª séries de

educação fundamental, com objetivo de analisar o hábito e a preferência para ouvir

história. Resultados revelam que 90% dos alunos das séries iniciais gostam de ouvir

história, enquanto nas outras séries o percentual sofreu um declínio, como

identificou junto aos da 7ª série, entre os quais esse percentual baixou para 50%.

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Registrou, ainda, que cerca de 80% dos alunos da 2ª série entendem melhor as

histórias contadas pela professora do que quando lêem sozinhos; e todos se

interessam em buscar outras histórias do mesmo tipo das contadas pela professora,

efetivando a contribuição da contação de histórias na formação de novos leitores.

Durante o levantamento para este estudo observou-se um termo que está

sendo usado, porém não no meio acadêmico, que vem a ser mediação de leitura. O

Ministério da Educação e Cultura (MEC) descreve o conceito de mediador como o

tradicional, a saber, professor, alfabetizador, educador profissional voltado para o

ensino sistematizado de uma unidade administrativo-política (União, Estado,

Município). No novo conceito de mediador, esse não está comprometido com um

sistema formal de ensino, articulado com missões sociais relevantes em várias

áreas, educação, direito, saúde, vida social, família, comunidade, valores.1

Provavelmente o termo vem sendo mais divulgado a partir do conceito de mediação

de Vigotsky (1987), no qual estímulos emitidos pelo meio são transformados por um

agente mediador - pai, mãe ou uma pessoa próxima da criança.

O MEC destaca que as diretrizes curriculares de educação infantil dizem que

ver, ouvir, falar e entender são as aprendizagens iniciais da comunicação. Destacam

a consciência fonológica, fluência e expressões vocálicas como componentes

principais da alfabetização. Um dos mediadores estudados, mas talvez sem a

continuidade necessária, é o professor. Paim e Prigol (2009) que estudaram os

mediadores, o papel desempenhado e as estratégias utilizadas por eles, ressaltam

que há um campo vasto e quase intocado de mediadores que precisam ser

analisados. Segundo os autores, a importância da figura do mediador como basilar

para a formação do leitor começou a ser destacada em meados dos anos de 1990.

Santos et al. (2009) organizaram uma obra e nela, apresentam estudos sobre a

importância da formação de leitores, de mediadores de leitura, o professor leitor,

bem como artigos que focam a leitura como expressões artísticas e formação de

leitores em diferentes linguagens.

Ao tratar do tema de formação de mediadores, Marques Neto (2009), aponta

que no Brasil, apenas em 2003, iniciou-se uma política nacional de livro e leitura

(PNLL)2 com a promulgação da Lei de no10.753 (a Lei do Livro) para dar diretrizes e

incentivo à leitura na cultura brasileira. O autor reflete sobre o olhar complacente e

1 Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/conferencia/documentos/edgar_linhares.pdf>. 2 Disponível em: <www.pnll.gov.br>.

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reprovador com propostas como: leitura em voz alta nas salas de aula ou de

incentivo aos programas de avós contadoras de histórias, a exemplo do que é feito

com sucesso na Argentina.

Hébrard (2001) lembra que no ambiente escolar há múltiplas formas de

leitura e os diversos elementos do contexto condicionam e influenciam a maneira de

ler. Muitas são as práticas documentadas em diferentes contextos escolares, desde

a leitura em voz alta até as da memorização de trechos envolvendo distintas

atividades com a escrita. Segundo o autor, as posturas dos professores ao

avaliarem a leitura também são diversas.

Hébrard (2001) e Mollier (2009) apresentam análises das influências de

modos de ler em diferentes contextos sócio-históricos e distintas épocas. O ato de

ler textos, segundo os autores, está relacionado às condições socioculturais e

pessoais, decorrentes do grupo que o indivíduo pertença. Os autores documentam

que o livro era usado como base aos rituais de coesão social, familiar ou a um grupo

de leitores individualizados.

Na concepção de Chartier (2001), as práticas de leitura se dão em um

espaço intersubjetivo, no qual no ato de ler o leitor compartilha atitudes,

comportamentos e significados culturais. Orlandi (1988) e Goulemot (2009)

consideram que ler é produzir sentidos, é constituir e não reconstituir um sentido. O

sentido se constitui por uma leitura empregada por um indivíduo e vai além das

palavras e agrupamento de frases. As relações com o livro, isto é, a possibilidade de

constituir sentido, se dá por meio das atitudes do leitor. Para Goulemot (2009), ler

em público uma obra é reconhecer que tal livro se constitui por si mesmo, o espaço

de sua leitura. Goulemot (2009) chama a atenção para diversos modos de narrativa

que existem no mesmo espaço cultural e social. Destaca que a leitura de cada um

depende das expectativas e demandas de seu público de leitura. Na mesma direção

Pastorello (2010) considera que ler é uma prática discursiva e um processo de

produção de sentidos. Para a autora, na leitura não há uma mensagem a ser

compreendida, dada a natureza polissêmica da linguagem, mas um texto a ser

interpretado.

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3.2 Expressividade oral

Hudson et al. (2005) destacam que ler com expressividade é hoje um

componente integral da fluência de leitura.

Inicialmente é importante definir o que vem a ser expressividade oral. Para

Sapir (1927), a expressão é inerente à comunicação oral e abrange a dinâmica e

qualidade da voz, articulação, estilo e vocabulário. Os estudos desse autor marcam

o início do interesse na associação entre som e sentido. O autor constatou que o

simbolismo sonoro poderia ser interpretado por traços acústicos, e considera que há

pessoas mais simbólicas no uso dos sons do que outras, e que esse uso pode

simbolizar traços de personalidade.

A expressividade oral é um tema estudado na Fonoaudiologia desde a

década de 1970, registrado em alguns livros como os de Mello (1972) e Soares e

Piccolotto (1977).

Madureira (1992) destaca que geralmente caracteriza-se a fala como

expressiva quando esta apresenta variabilidade de padrões melódicos e rítmicos.

A autora denominou esses como “recursos fônicos que veiculam efeitos de

sentido”. O termo “efeitos de sentido” é usado nesse contexto para sinalizar que a

matéria fônica causa impressões nos ouvintes, os quais lhe atribuem sentidos.

Porém, a autora (Madureira, 2004) chama a atenção de que toda fala é

expressiva, uma vez que vincula alguma forma de atitude, emoção, crença,

estado físico ou condição social por meio da fonação e da articulação dos sons.

Portanto, a fala comumente referida como monótona, também é expressiva,

aspecto que poderia indicar, por exemplo, desinteresse.

Dos elementos que compõem a expressividade oral, os chamados

prosódicos, compreendem parâmetros acústicos como a entoação, os padrões de

acento, a taxa de elocução, a taxa de articulação, as pausas, os alongamentos e

o ritmo da fala, os quais têm como correlatos acústicos a frequência fundamental

(f0), a duração e a intensidade (Madureira, 1992). A autora pontua as diversas

funções dos elementos prosódicos, entre elas: segmentar o fluxo da fala, facilitar

a compreensão da fala, destacar elementos na fala (conferir proeminência),

expressar modalidades (declarativa, interrogativa, entre outras), atitudes,

emoções. Vogais e consoantes co-articuladas constituem o fluxo da fala, e suas

características fonéticas alteram-se, dependendo das características prosódicas.

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Apesar de haver muitas pesquisas clínicas sobre voz, realizadas por

fonoaudiólogos, estudos com o foco em expressividade oral têm um número

reduzido na literatura consultada, quando comparados aos com tema de saúde e

cuidados vocais. Ferreira et al. (2003) afirmam que a expressividade oral como tema

de estudo é uma forma de atuação para além do contexto clínico-terapêutico, e esse

trabalho é definido de diferentes formas: assessoria fonoaudiológica, aprimoramento

ou educação vocal, estética vocal, e ainda treinamento. Nele, o profissional da voz

experimenta práticas corporais relacionadas à respiração, fonação e articulação, e

trabalha as questões da expressividade oral, adequando-a ao contexto de trabalho.

Um aprofundamento teórico, no campo da Linguística pode subsidiar a

atuação fonoaudiológica no trabalho com os recursos vocais na fala, e segundo

pesquisa realizada com fonoaudiólogos que trabalham com expressividade no rádio

(Viola et al., 2011), a estratégia mais usada é a leitura de textos, de diferentes

gêneros.

Destaque será dado a dois estudos que trazem dados referentes a

expressividade oral de professores. Barbosa et al. (2009) investigaram os recursos

de expressividade oral, bem como os recursos não-verbais apresentados por 13

professores universitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade

Federal de Minas Gerais. A expressividade oral foi avaliada por meio de análise

acústica e dos padrões de fluência da fala, e a expressividade não-verbal por meio

de teste de reconhecimento de expressão facial e ocorrência de gestos e expressão

facial em filmagens. Os dados encontrados forneceram indícios da expressividade e

dos recursos utilizados por cada professor. Segundo os autores, algumas variáveis

podem facilitar a utilização mais eficaz ou aumentar o leque de recursos

expressivos, como titulação, experiência e uma possível abordagem mais interativa

e inovadora de ensino. Além desses aspectos, as emoções interferem na fluência do

falante, possivelmente nos padrões de pitch e loudness e nos parâmetros não

verbais. Os autores sugerem novos estudos com a observação e filmagem das

práticas dos docentes no contexto de interação de sala de aula.

Ferreira et al. (2012) avaliaram a qualidade da voz, variação de loudness e

pitch, taxa de elocução, e ocorrência de pausa de quatro professoras do ensino

médio. As aulas foram gravadas numa mesma sala de aula, e os trechos de fala

foram analisados por futuros professores, alunos de Pedagogia. A expressividade

oral das professoras foi avaliada, classificando-a como motivadora, agradável,

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prende atenção e transmite firmeza ou hesitação, assinalando uma ordem de

preferência quanto à maneira de falar das professoras. Quatro juízes fonoaudiólogos

realizaram a análise perceptivo-auditiva. Os alunos elegeram uma das professoras

como preferida, pela fala clara, objetiva, com expressividade oral motivadora e que

prendeu a atenção. Outra professora apresentou fala repetitiva, utilizando a

expressão “tá”, porém expressividade oral agradável e firme. A professora que falou

rápido e sem pausas teve a expressividade oral considerada desagradável, porém

transmitiu firmeza. A última professora teve a expressividade oral classificada como

desagradável e hesitante porque gritou e falou com voz aguda e estridente. O

estudo concluiu que o modo de falar das professoras influenciou de maneira ora

positiva, ora negativa. A taxa de elocução, o emprego da pausa, a qualidade da voz

e a intensidade vocal foram aspectos valorizados pelos alunos, e determinantes na

escolha da ordem de preferência da fala das professoras.

3.3 Análise de parâmetros de expressividade em contexto de leitura em voz

alta

Sheng et al. (2003) estudaram aspectos prosódicos, sintáticos e lexicais da

fala de fonoaudiólogos no contexto terapêutico com objetivo de avaliar as

características da fala que é dirigida às crianças, deficientes e sujeitos normais. Dez

estudantes de mestrado e doutorado do curso de Fonoaudiologia da Universidade

Northwestern, falantes nativos do inglês americano, foram solicitados a narrar a

história do livro “Just A Pig At Heart”, do autor Mayer (1974) para um estudo da

compreensão das crianças da fala do terapeuta. Para cada grupo, os pesquisadores

criaram um perfil (por exemplo: crianças de três anos com atraso de linguagem,

crianças de três anos com desenvolvimento normal de linguagem) para que os

participantes narrassem a história solicitada. Quarenta narrações foram gravadas

em áudio, e analisadas em seguida quanto às medidas de duração do enunciado,

duração da pausa e taxa de elocução. Os resultados demonstraram que quando as

fonoaudiólogas narravam a história para o grupo de crianças pequenas e crianças

com alteração de linguagem foram observadas diminuições na taxa de elocução,

alongamento das pausas e uso de frases mais curtas e menos complexas.

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Miller e Schwanenflugel (2006) pesquisaram escolares do 3º ano para

demonstrar a importância da taxa de elocução da leitura bem como da prosódia para

a compreensão. O estudo sugere que aspectos da prosódia possam relacionar-se

distintamente para diferentes aspectos do processo de leitura. Pausas longas, por

exemplo, podem sinalizar que os escolares têm dificuldades gerais com as suas

habilidades de decodificação. Em relação à frequência, grandes mudanças de pitch

no final das orações, em que são apropriadas, podem indicar que escolares têm

boas habilidades de compreensão. Os autores destacam que no contexto da leitura

oral, a prosódia pode refletir características linguísticas, como estrutura da sentença,

e características do texto como a pontuação.

Ditscheiner et al. (2012) analisaram perceptiva e acusticamente a emissão

da voz natural e da dublagem de dois personagens e dois atores realizada por um

dublador durante leitura de um texto em diferentes situações de fala. A análise dos

resultados evidenciou que o sujeito faz uso de diversos parâmetros para diferenciar

os personagens que dubla, dentre esses taxa de elocução, frequência fundamental,

modulação em diferentes situações de ênfase, além de algumas vezes emprestar

características de sua voz natural à dublagem.

Mira e Schwanenflugel (2013) determinaram os efeitos da expressividade da

leitura em voz alta na compreensão de livros de história por crianças cursando

educação infantil da faixa etária de quatro e cinco anos. Os autores exploraram os

possíveis impactos da prosódia na compreensão da leitura. Assim, 92 crianças

ouviram uma gravação com mais recursos de expressividade ou uma no qual os

leitores fizeram uma voz monótona de duas histórias semelhantes. A compreensão

da história foi testada utilizando avaliação de recontar livremente ou direcionada com

pistas. As crianças que recontaram com pistas apresentaram diferença

estatisticamente melhor quando ouviram a leitura com mais recursos vocais de

expressividade, comparadas com a leitura monótona. Esses mesmos autores

concluíram que leitura de livros de histórias com muita expressividade resulta em

melhor compreensão pelas crianças de educação infantil.

Revis et al. (2013) focalizaram de modo consistente a abordagem do uso da

expressividade da fala. O estudo objetivou analisar a plasticidade prosódica em um

imitador profissional, estudar suas estratégias de aproximação à fala imitada,

comparando à frequência e às medidas de ritmo prosódico durante a leitura com um

grupo de quatro falantes leigos. Para registro da coleta de amostra de leitura, os

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autores utilizaram o software Praat e destacaram, para análise, dois parâmetros

prosódicos, a saber: a área de extensão do pitch vocal e fluxo, considerando a taxa

de elocução, número e duração de pausas. Os resultados revelaram que somente o

imitador profissional mostrou um ajuste da área do pitch e aumento na duração das

pausas próximos do alvo, diferindo significativamente do grupo controle. Esses

achados mostram como a prática (imitador desenvolveu suas habilidades prosódicas

ao exercer sua atividade profissional) possibilita maior plasticidade vocal. Os autores

destacam que imitação é um excelente modo discursivo de adaptação: mudar a fala

e a voz, para ser confundido com outras pessoas, é uma tarefa que exige mais da

plasticidade vocal do que em situações simples de interação social. Destacam ainda

a existência de muitas estratégias vocais para tais fins, por exemplo: pitch, entoação

e taxa de elocução.

3.4 – Estudos de Intervenção com foco na expressividade oral

Trindade (2008) analisou o efeito de uma proposta de programa de

intervenção fonoaudiológica com parâmetros de expressividade oral de repórteres a

partir de estratégias de auto-percepção, por meio do julgamento realizado por

telespectadores e fonoaudiólogos. O estudo foi composto por 100 telespectadores e

três fonoaudiólogos especialistas em voz atuantes na área do telejornalismo que

realizaram o julgamento perceptivo-auditivo das vozes de três repórteres submetidos

a um programa de intervenção fonoaudiológica. As amostras de fala para cada

análise foram colhidas nos momentos pré e pós intervenção e editadas de forma

aleatória, em quatro combinações para cada repórter, totalizando assim 12

combinações. Os resultados apontaram melhora na performance dos três repórteres

no momento pós-intervenção, a partir do julgamento dos telespectadores. As

fonoaudiólogas também perceberam diferença significativa no relato das notícias e

julgaram melhor o momento pós-intervenção fonoaudiológica, e clareza foi o termo

mais referido (72,7%) para evidenciar essa melhora. A autora concluiu que o

programa de intervenção fonoaudiológica gerou efeito positivo no relato das notícias

dos três repórteres participantes. Esse foi percebido por telespectadores e por

fonoaudiólogas, em pelo menos dois. Os juízes apontaram para a melhora da

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credibilidade (telespectadores) e clareza (fonoaudiólogas), na transmissão da

notícia.

O estudo de Morais (2010) verificou os efeitos de um programa de

intervenção fonoaudiológica na expressividade oral de alunos de rádio. Quinze

estudantes de um curso de formação de radialistas participaram de oficinas, nas

quais foram trabalhadas as habilidades de percepção e escuta para o uso dos

recursos vocais a fim de contribuir na expressividade dos participantes. Todos foram

gravados lendo uma mesma locução pré e pós-intervenção. Essas amostras foram

apresentadas a ouvintes de rádio. A intervenção foi efetiva na maior parte dos

estudantes de acordo com a análise dos ouvintes e três vozes analisadas se

diferenciaram nos aspectos relacionados à modulação, loudness e ataque vocal. O

pitch agudo, na pior voz, e médio nas melhores; o loudness reduzido na pior voz, e

médio nas melhores; e a modulação reduzida na pior, e rica nas melhores. Os

parâmetros considerados importantes durante a leitura de uma locução comercial

radiofônica que diferenciaram as mesmas foram: a modulação, o loudness e o

ataque vocal. O estudo conclui que a intervenção fonoaudiológica produziu efeitos

positivos na expressividade oral durante a leitura da locução comercial radiofônica.

Azevedo et al. (2011) verificaram o efeito de uma intervenção

fonoaudiológica em telejornalistas e descreveram os aspectos positivos e negativos

na opinião dos participantes. Os autores verificaram o julgamento do melhor

desempenho dos telejornalistas, de acordo com a situação – pré ou pós-intervenção

na opinião de telespectadores além de diferenças quanto ao sexo e à idade dos

telespectadores, de acordo com o julgamento realizado para cada telejornalista. Seis

telejornalistas de uma emissora de televisão universitária foram submetidos a um

questionário de mapeamento do contexto ocupacional e das demandas, avaliação

ocupacional da voz falada; avaliação do desempenho, a partir de avaliação

fonoaudiológica de videogravações, e observação in loco. Os sujeitos foram filmados

em leitura simulada de apresentação de telejornal e depois foram submetidos a uma

intervenção fonoaudiológica. A edição foi apresentada, individualmente para 50

telespectadores adultos para que julgassem em qual situação o profissional

apresentava um melhor desempenho ou se elas estavam iguais. O estudo concluiu

que os principais aspectos positivos da intervenção relatados pelos telejornalistas

participantes, foram: conhecimento de técnicas, a autopercepção e percepção dos

outros do grupo. O principal aspecto negativo foi o tempo reduzido da intervenção.

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As autoras verificaram, na opinião de telespectadores, que quatro dos seis

telejornalistas obtiveram percentual estatisticamente significativo de preferência dos

telespectadores na situação pós-intervenção, demonstrando efeito positivo da

intervenção fonoaudiológica; e que não houve, para a maioria dos telejornalistas

analisados, predomínio quanto a sexo ou idade no julgamento dos telespectadores.

Souza et al. (2013) realizaram um estudo com o objetivo de analisar uma

proposta de intervenção fonoaudiológica na comunicação de universitários durante

apresentação de seminários, realizada também em forma de oficinas. A intervenção

com seis participantes foi composta de seis encontros nos quais foram trabalhados

aspectos como respiração e coordenação pneumofonoarticulatória, vivência de

diferentes estados de tensão do corpo, ressonância, projeção da voz, taxa de

elocução, entoação e demais recursos de ênfase, e a aplicação desses conteúdos

em um breve discurso espontâneo e na simulação de uma apresentação de

seminário. A avaliação dos resultados da intervenção aconteceu ao final do último

encontro e aproximadamente cinco meses após o término da intervenção. Para

investigar os efeitos dessa intervenção foram analisados os dados referentes aos

três participantes que cumpriram todas as etapas da pesquisa: filmagem em

situação real de apresentação de seminário, auto-avaliação e avaliação

fonoaudiológica de aspectos da expressividade pré e pós-intervenção, participação

na intervenção e entrevista. Foram encontradas seis categorias, a saber: aspectos

orais, aspectos corporais, aspectos interacionais, aspectos emocionais, estratégias e

julgamentos. Nas quatro primeiras categorias, foram correlacionados os dados pré e

pós-intervenção das auto-avaliações dos participantes e da avaliação

fonoaudiológica. As duas últimas foram detectadas e analisadas com os dados

levantados nas entrevistas. A conclusão do estudo foi de que a intervenção

apresentou efeito positivo nos participantes, que revelaram evolução em intensidade

e forma diferente para cada um, em todos os aspectos, especialmente quanto à

expressividade oral e segurança nas apresentações. As fonoaudiólogas avaliadoras

perceberam avanços quanto aos aspectos orais, corporais e interacionais após

intervenção. A intervenção foi julgada pelos participantes de modo positivo.

Silva et al. (2014) apresentaram exercícios vocais com foco no trabalho de

ressonância e consciência vocal em um grupo de alunos de curso técnico de teatro.

Foram utilizados exercícios aplicados durante aula pela fonoaudióloga/docente.

Após os exercícios, foram convidados a dizer uma frase dramática, utilizando as

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sensações de ressonância vivenciadas nos exercícios. Foi possível observar um

aumento de loudness ao direcionar o som para diferentes partes do corpo. As

autoras observaram que a estratégia usada foi facilitadora do uso das cavidades de

ressonância e diferenças ressonantais causadas pelas estruturas que o trajeto do

som encontrava e o uso de diferentes ajustes musculares pelos alunos mantendo

melhor projeção. O resultado revelado foi aumento de loudness vocal quando

comparado às emissões de exercícios ou cenas trabalhadas em outras aulas,

sugerindo melhor uso das cavidades de ressonância. Os alunos relataram “aumento

de percepção em relação à voz”, “sensações físicas da relação corpo/voz” e “maior

projeção vocal”. As autoras concluem que a estratégia trabalhada pode ser uma

possibilidade para o trabalho com foco na ressonância e consciência vocal em

alunos atores. Jogos teatrais que envolvam o trabalho corpo voz parecem aumentar

o conhecimento vocal e corporal dos alunos, questão importante no treinamento

vocal do ator.

Dragone (2015) descreveu um programa denominado “Vivência em Voz”,

direcionado a educadores, voltado para a saúde vocal e comunicação em sala de

aula. A autora descreveu ações desenvolvidas com professores da rede municipal

desde o ano 2000 e as dificuldades de adesão, mesmo após reuniões explicativas

sobre cada etapa dos programas com diretores e educadores. Assim, a partir de

2009, houve uma reformulação do programa com objetivo de melhorar a abordagem

temática (voz como recurso de trabalho), que foi chamada de Vivências em Voz. O

objetivo foi envolver o educador no contexto da comunicação oral em sala de aula,

discutir o uso vocal profissional e construir estratégias vocais e de comunicação oral

a serem introduzidas na rotina profissional. Foram realizadas vivências em que, por

exemplo, um educador voluntário lia uma breve história infantil para os colegas

durante simulação de vivências em suas rotinas durante essa atividade. Foram

trabalhados conceitos e estratégias vocais e de comunicação e os resultados da

avaliação desse programa revelam que a maioria dos educadores aprovou e aceitou

a ação classificando-a como excelente. Essa ação foi realizada em 26 escolas de

ensino infantil do município de São Paulo e contou com a participação de 499

educadores.

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4. MÉTODOS

Esta pesquisa de intervenção foi encaminhada ao Comitê de Ética em

Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) para análise.

Após aprovação (número do CAAE: 39281414.8.0000.5482, Anexo 1), o projeto foi

primeiramente apresentado ao diretor de uma escola municipal de educação infantil

de São Paulo. Os professores dessa escola foram convidados a participar deste

estudo e os que aceitaram foram informados sobre os objetivos e procedimentos da

pesquisa. Antes do início das atividades, assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Anexo 2) mediante a leitura prévia e esclarecimento de dúvidas.

Conforme explicitado no capitulo da Introdução, esta pesquisa realizou coleta de

dados antes e depois de uma intervenção (oficina composta de seis encontros)

proposta a professores de educação infantil.

4.1 Seleção dos sujeitos

Inicialmente sete voluntários, todos do sexo feminino mostraram interesse

em participar desta pesquisa, ou seja, frequentar a oficina, detalhada no item 5. As

professoras que, por quaisquer motivos, ficaram impossibilitados de comparecer a

todos os seis encontros dessa oficina puderam continuar participando do trabalho,

porém os seus dados foram excluídos da análise.

Assim foram analisados os dados referentes a três participantes,

denominadas P1, P2 e P3, que além de participarem da oficina, foram solicitadas a

realizar uma mesma leitura em voz alta, em dois momentos, a saber, antes e depois

da intervenção, assim como responder a questões referentes a dados sócio

demográficos e de situação funcional (nome, sexo, idade e tempo de atuação com

educação infantil).

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4.2 Coleta de dados

4.2.1 – Seleção do livro

Para coleta de dados referente à leitura em voz alta, foi selecionado o livro

Bruxa, Bruxa venha à minha festa, de Arden Bruce (1995) (Figura 1). Os critérios

utilizados para escolha desse livro foram: texto curto considerando o tempo de

leitura; presença de elementos adequados para faixa etária de educação infantil,

como imagens grandes e realistas que ocupam todas as páginas incluindo frases

curtas e repetitivas; variedade de personagens; diálogos e estrutura de textos

favoráveis para verificação prosódica dos padrões de entoação e visualização das

curvas melódicas vocais; e a época da coleta que foi realizada em

outubro/novembro de 2014, período em que na escola era apresentado o contexto

referente ao Dia das bruxas.

Figura 1 – Ilustração do livro Bruxa, Bruxa venha a minha festa, de Arden Bruce (1995).

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4.2.2 – Registro de coleta de leitura

As gravações da leitura em voz alta ocorreram nos momentos pré e pós-

intervenção fonoaudiológica (denominada oficina), ou seja, no primeiro e no sexto

encontros, em condições semelhantes quanto ao texto (para garantir a

homogeneidade do material fonético). As duas coletas de amostra de leitura foram

registradas em gravador da marca Marantz. Nesses dois momentos cada

participante foi orientada a permanecer sentada, com microfone AKG (modelo MPA

III micro mic phanton) posicionado à uma distância de 10 cm da boca, num ângulo

de aproximadamente 60 graus. No momento pré-intervenção, as professoras tiveram

contato com o livro antes da gravação e foi solicitado que lessem primeiro para se

familiarizarem com o texto, e em seguida, ler como habitualmente fazem para seus

alunos em voz alta, ocasião em que foi realizada a áudio- gravação.

4.3 – Oficina

A oficina foi realizada em um total de seis encontros de uma hora (total de

seis horas) e oferecida na própria escola em sala destinada a reuniões. A descrição

do que foi trabalhado em cada encontro está registrada em capítulo que antecede os

resultados. Nessa intervenção os participantes tiveram a oportunidade de

experimentar a realização de leitura em voz alta com a utilização de diferentes

parâmetros de expressividade oral, a saber: pausas, articulação, ressonância, pitch

e intensidade. A finalidade foi aplicá-los na simulação de apresentações de leituras

para crianças. Foram trabalhados também aspectos relacionados à respiração (em

especial a coordenação pneumofonoarticulatória).

Sempre que possível, as participantes foram alertadas quanto à

simultaneidade de parâmetros tanto referentes à expressividade oral quanto aos

gestuais/corporais e também de aspectos de bem-estar vocal. Todos os encontros

foram áudio gravados para subsidiar a pesquisa e servir como estratégia

denominada de auto-confrontação (Clot, 2002). O intuito dessa estratégia foi facilitar

que o sujeito falasse sobre si mesmo a partir do que via. Assim, as participantes

tiveram a oportunidade de ouvir suas próprias performances e puderam fazer um

intercambio das impressões das mesmas no grupo.

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4.4 - Edição do material

As duas coletas de amostra de leitura (gravadas pré e pós-intervenção)

foram digitalizadas em formato wav em registro mono e editadas no computador Dell

XPS Intel core i7 do Studio do Laboratório de Rádio da PUC-SP com assessoria de

profissional técnico de rádio. As amostras foram organizadas, separadamente,

considerando o material de cada professora, identificada em cada arquivo como P1,

P2 e P3.

O corpus contou com cinco trechos de leitura coletados nas mesmas

condições, nos dois momentos (pré e pós intervenção) das três professoras,

editados, e devidamente etiquetados no PRAAT (Boersma e Weenik, 2001).

Contudo, apenas o trecho correspondente a frase “Gato, Gato, por favor venha a

minha festa”, o terceiro dos cinco trechos, foi destacado para análise por representar

a modalidade de pedido e estar na página três, após dois enunciados, fato que

permitia a motivação para elaboração de mais recursos de vozes dos personagens

(a Figura 2 ilustra a página em que o texto está inserido).

Figura 2 – Ilustração da página do enunciado escolhido

Para garantir a forma cega de avaliação, ou seja, sem o conhecimento por

parte de avaliador de que houve uma intervenção e, portanto, quais eram as

situações pré ou pós-intervenção fonoaudiológica, o material de cada professor foi

sorteado e denominado gravação 1 (pré ou pós de acordo sorteio) e 2 (pré ou pós

de acordo sorteio) para que de forma aleatória o mesmo fosse submetido à audição

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perceptivo-auditiva. As combinações das três professoras ficaram assim distribuídas,

de acordo com o resultado do sorteio: P2 =pré pós, totalizando11 segundos, P3

=pós pré, totalizando 9 segundos, e P1=pós pré, totalizando 15 segundos (tempo

médio das participantes = 11,6 segundos. Cabe destacar que essa foi a sequência

apresentada para avaliação dos juízes e a duração de cada enunciado (que se

refere à velocidade da leitura), nos dois momentos de cada professora está ilustrada

em segundos nos resultados desta dissertação.

4. 5 - Análise dos dados referentes à coleta de amostra de leitura em voz

alta.

Os dados coletados foram submetidos à avaliação de sentido e inspeção

acústica.

4.5.1 - Avaliação de sentido

Na avaliação de sentido, 35 juízes ouviram as amostras de leitura. Esse

grupo foi composto por professores de educação infantil e, portanto, praticantes de

leitura para crianças. Esses foram convidados a participar desta avaliação, após

encerramento de um curso sobre bem-estar vocal promovido pela Prefeitura do

Municiipio de São Paulo em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP). Esses sujeitos, no papel de avaliadores, receberam via internet por

meio da plataforma “Survey Gizmo” (disponível em <http://www.surveygizmo.com>),

o material editado, segundo descrito anteriormente. A apresentação das imagens

aos avaliadores foi feita para todos numa mesma sequência (P2, P3 e P1) e de

forma cega, ou seja, sem o conhecimento de quais eram as situações pré ou pós-

intervenção fonoaudiológica.

Na primeira página do teste (Figura 3), foi apresentado um termo de

consentimento livre e esclarecido, que informa ao participante a finalidade da

pesquisa e sua participação voluntária, podendo desistir a qualquer momento.

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Figura 3 - Tela exibida aos juízes (Plataforma online “SurveyGizmo”.) para registro do Termo de Consentimento Livre Esclarecido

Na segunda página (Figura 4), os juízes deveriam informar seu sexo, idade,

e tempo de atuação com educação infantil.

Figura 4 - Tela exibida aos juízes (Plataforma online “SurveyGizmo”.)

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Na terceira página foram apresentadas instruções para realização da tarefa

de avaliação (Figura 5).

Figura 5 - Na terceira tela, foram apresentadas as instruções gerais.

Na quarta página (Figura 6) foi apresentado o material contendo as duas

gravações conforme sorteio realizado, ou seja, referente a P2 = gravação 1 Pré,

gravação 2 Pós.

Figura 6 – Gravações conforme sorteio realizado.

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Na sequência, analisaram individualmente as amostras de cada professor e

depois de ouvir o material deveriam registrar se as gravações de leitura (1 e 2) eram

iguais ou diferentes. No caso de relatarem serem diferentes, foram apresentados os

descritores: cativante, motivante, interessante, melodiosa, clara e pausada. Foi

solicitada a escolha de qual das duas gravações se destacava quanto a cada um

dos descritores.

4.5.2. Inspeção acústica

Foi realizada inspeção acústica das amostras de leitura das três professoras,

considerando material editado e devidamente etiquetado no PRAAT (Boersma e

Weenik, 2001) (Disponível em: <www.praat.org>) – software de livre distribuição

para pesquisa em fonética acústica. O mesmo trecho enviado para os juízes “Gato

gato, por favor venha a minha festa” foi submetido à medida acústica de duração do

enunciado (DE). O tempo de duração do enunciado (pré e pós intervenção) de cada

participante foi considerado em segundos. Na figura 7 encontra-se um exemplo de

imagem acústica do trecho desse enunciado de leitura do sujeito P2 pré e pós

intervenção.

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Figura 7 - Exemplo de leitura do enunciado “Gato gato, por favor venha a minha festa” pré e pós intervenção

4. 6 - Análise Estatística

Foi realizada a análise descritiva dos dados por meio de frequências

absolutas e relativas, medidas de tendência central (média e mediana) e dispersão

(desvio-padrão, valores mínimo e máximo). Identificou-se a distribuição das idades e

o tempo de trabalho na educação infantil dos 35 juízes participantes da pesquisa e o

número e percentual de juízes segundo a comparação entre os professores na

classificação da leitura Pré e Pós a intervenção.

Na comparação entre os professores foi utilizado o teste de associação pelo

Qui-quadrado e sua Partição. Para avaliar a mudança nas características da fala -

cativante, motivante, interessante, clara, melodiosa e pausada - das três professoras

observadas, segundo a opinião dos 35 juízes, aplicou-se o teste de McMenar.

Foi realizada medida acústica de duração do enunciado (DE) das três

participantes (pré e pós intervenção), assim como a descrição dos aspectos

referentes à avaliação da intervenção.

Assumiu-se um nível descritivo do de 5% (p<0,05) para significância

estatística. Os dados foram digitados na plataforma SurveyGizmo, transportados

para Excel e analisados no programa StatisticalPackage for the Social Sciences

(SPSS) versão 17.0 para Windows.

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4.7 - Avaliação do processo de intervenção pelos participantes

Ao final do processo de intervenção, foi entregue uma ficha de avaliação das

oficinas (Anexo 3) para cada uma das três professoras participantes, a fim de que

elas descrevessem os aspectos referentes aos recursos vocais trabalhados na

intervenção, que mais aproveitaram bem como os aspectos que julgaram positivos e

negativos do processo. Objetivou-se assim, verificar os conhecimentos obtidos em

relação à respiração, articulação, ressonância, pitch e intensidade bem como os

aspectos positivos e negativos da proposta. Esses dados foram analisados de forma

descritiva.

A Figura 8 - ilustra de forma resumida os procedimentos metodológicos

deste estudo.

Aprovação do Comitê de Ética da PUC de São Paulo

Sete professoras de Educação Infantil se interessaram antes do primeiro encontro

Três cumpriram todas as etapas da pesquisa.

Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Procedimentos para Coleta dos Dados

Contato com direção de escola de educação infantil

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Procedimento 3 pós

Gravação das

amostras de leitura:-

Individualmente;- Sala

silenciosa; Aplicação

de questionário

avaliação das oficinas.

Procedimento 2 Oficinas

6 encontros

...

Procedimentos para análise dos dados

Procedimento 1

Audição perceptivo-auditiva : Impressão

auditiva de 35 professoras de

educação infantil. Igual ou diferente (pré/pós

intervenção). Aponte as diferenças com descritores pré selecionados.

Procedimento 3

Questionário de avaliação das oficinas (anexo)

Ler como habitualmente leria para sua sala de educação infantil

Trecho escolhido para análise: Gato, Gato, por favor venha a minha festa

Procedimento 1 pré

Gravação das

amostras de leitura:

Individualmente;- Sala

silenciosa

Análise estatística inferencial

Procedimento 2

Inspeção acústica

Análise descritiva dos dados

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5 - DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Este capítulo tem por objetivo descrever o processo da intervenção. Detalha-

se, a justificativa, objetivos, estratégias de procedimentos e comentários da

intervenção fonoaudiológica, em seus seis encontros.

Encontro 1

Quadro 1 – Descrição do primeiro encontro.

JUSTIFICATIVA

A finalidade da prática da técnica respiratória é dar ferramentas para os professores, que em sua rotina de trabalho sobrecarregada, muitas vezes se esquecem de respirar corretamente, o que lhes causa ansiedade. Seus benefícios são fortalecer os pulmões e o sistema respiratório. A prática proporciona benefícios físicos e mentais. Quanto mais tranquilas e com respiração adequada, mais condições terão de realizar leituras eficientes e permitir o processo de criação de voz das personagens. Importante destacar que a coordenação pneumofonoarticulatoria por si também se constitui em um parâmetro de expressividade oral.

OBJETIVOS

Realizar a gravação denominada pré intervenção; Apresentar a proposta; Estabelecer um melhor padrão respiratório; Explicitar de forma breve a anatomofisiologia do mecanismo respiratório e fonador; Vivenciar padrão respiratório costoabdominal diafragmático; Sensibilizar as participantes a observar postura durante a aula, praticar exercícios e pensar em atividades de leitura para sala de aula; Favorecer a auto-observação com relação à expressividade

ESTRATÉGIAS

Leitura comentada do termo de consentimento; Apresentada a proposta básica do curso e deixada em aberto possibilidade de fazer sugestões durante os encontros; Esclarecido que o principal objetivo da intervenção era oferecer a elas a oportunidade de aprender técnicas e ferramentas de expressividade oral para suas apresentações de leitura. Apresentado desenho das costelas, músculos respiratórios e aparelho fonador (Atlas do corpo humano, editora abril São Paulo, 2008). Cada participante foi convidada a observar o padrão respiratório utilizado; Destacada a respiração abdominal e intercostal para projeção da fala com estratégias de observação do movimento da mão sobre o tórax e outra sobre o abdômen;

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Chamada atenção para utilizar todo o pulmão e não apenas a respiração de tipo superior; Prática de técnica respiratória conhecida no Yoga como Anuloma Viloma do livro The Hatha Yoga Pradīpikā (Swatmarama, 2000) Solicitado que no decorrer da semana realizassem exercício respiratório e observassem como lêem em sala de aula.

COMENTÁRIOS

As práticas tiveram adesão e aceitação por parte das professoras e essas relaram planejar fazer todos os dias antes de iniciar as reuniões. A pesquisadora enviou o material por email das explicações de como fazer a técnica do Anuloma Viloma.

Encontro 2

Quadro 2 – Descrição do segundo encontro.

JUSTIFICATIVA

O uso com conhecimento da ressonância da voz é de grande importância para o trabalho do educador, pois promove projeção e plasticidade vocal. A literatura especializada apresenta estratégias desenvolvidas com o objetivo de explorar e ajustar os ressonadores. Exercícios de voz ressonante, YBUZZ e vivências vocais são exemplos de estratégias utilizadas no treinamento vocal.

OBJETIVOS

Retomar brevemente aspectos referentes à respiração; Explicitar a importância e necessidade da realização do aquecimento vocal; Mostrar o impacto do uso de recursos vocais (ressonância, intensidade, pitch, velocidade) sobre as crianças ouvintes e a voz como instrumento de atenção e encanto para leitura e para tanto a necessidade de ser treinada; Praticar aquecimento vocal e mastigação sonorizada (Behlau, 2001; Kyrillos, 2004). Destacar o papel da ressonância na leitura; Praticar exercícios de ressonância como o humming enfatizando o papel da respiração, dos ressonadores, dos articuladores e da abertura bucal; Vivenciar uso variado de recursos vocais. Refletir sobre as técnicas de leitura usadas em sala de aula

ESTRATÉGIAS

Referência à voz fina e grossa (preocupação com o pitch) para introduzir exercícios de aquecimento; Explicitada a importância e necessidade da realização do aquecimento vocal. Realizada uma prática de aquecimento vocal; Explanado o conceito de intensidade (voz mais fraca ou mais forte) e projeção vocal como recurso de ênfase para história. Aumentar o volume de uma palavra, por exemplo, “andava pelo bosque quando DE REPENTE (com intensidade mais forte)”. Exemplo de “Tudo bem” muito forte pode dar impressão de outro significado; Foi discutido o papel das cavidades de ressonância com figuras.

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Solicitado que o grupo emitisse um som nasal (humming) tocando diversas regiões faciais. Emissão de humming para testa, nariz, boca, atentas à reverberação no espaço interno das caixas de ressonância. Instruídas a respirar lenta e profundamente, percebendo sua respiração e orientadas a imaginar a ressonância até o topo da cabeça e a direcionar este fluxo intencionalmente junto com o humming. Em seguida, foram instruídos a se levantar e realizar movimentos nos planos baixo, médio e alto mantendo o humming; e por último, deveriam vocalizar a vogal /a/ com o imaginário de um impulso abdominal e voz. Após os exercícios, foram convidados a ler um trecho fazendo a voz da personagem, utilizando as sensações de ressonância vivenciadas nos exercícios. Leitura de livro infantil: O grande rabanete (Belinky, 1999) P1 se voluntariou a ler um trecho observando velocidade, voz mais aguda ou grave intensidade forte e mudança de ressonância para diferenciação de personagens. Por exemplo: uma teria voz hipernasal, outra variar o pitch ou velocidade. Na sequência, ouviram a gravação da própria voz e relataram o que foi percebido. Ao final, foi discutido com o grupo o que observaram.

COMENTÁRIOS

As professoras aproveitaram os recursos vocais explanados e tiveram um desenvolvimento mais expressivo na variação de vozes. Ao término da oficina, falaram sobre a experiência com o exercício. P3 relatou utilizar esse livro em reuniões de pais. Foi observado que P3 não se voluntaria espontaneamente e lê com intensidade reduzida. P2 destacou que antes ficava basicamente apenas nas variações de pitch, o que muitas vezes forçava sua voz na tentativa de fazer muito fora do timbre habitual Todas observaram que seguindo o trabalho nos encontros poupavam suas vozes de esforços desnecessários.

Encontro 3

Quadro 3 - Descrição do terceiro encontro.

JUSTIFICATIVA

Recursos vocais como facilitadores de variação de expressividade

vocal. Ao abordar sobre um assunto, o professor pode elevar a melodia em

certos momentos, sobretudo quando frisa certas palavras, conforme as

necessidades da argumentação (Soares e Piccolotto, 1977). A garantia de

uma transmissão adequada do assunto conjuntamente com o despertar do

interesse do aluno, é conseguida inclusive por meio do uso de ênfases, como

por exemplo pausas e variação melódica da voz. (Casol, 2002). Cruttenden

(1997) afirma que entre os vários aspectos entoacionais, os que merecem

destaque são: a intensidade, o pitch e a duração.

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OBJETIVOS

Retomar a prática de ressonância; Observar intenção do personagem (ex: pedir? sugerir?) Destacar o papel de aspectos entoacionais (utilizando variações de intensidade, velocidade de leitura, ênfase e uso das pausas) para transmitir a intenção desejada. Refletir sobre os objetivos e intenções dos personagens; Vivenciar uso variado e novas possibilidades de recursos vocais trabalhados durante a leitura de livro O Grúfalo (Donaldson, 2009).

ESTRATÉGIAS

Leitura habitual de um trecho do livro: O Grúfalo (Donaldson, 2009) Explicitado o papel das pausas para reflexão e mistério. Pontuado que uma das professoras utilizou esse recurso na leitura inicial desse encontro. Exemplo: “andava pela floresta quando... pausa...”. Papel da velocidade. Falar mais rápido ou mais devagar como recurso de ênfase. Destaque que a fala acelerada dificulta a compreensão do aluno. A velocidade depende da articulação. Solicitado que apontassem alguém famoso com articulação que chama a atenção e deram como exemplo Bóris Casoy, o jornalista. Leitura de palavras de trechos do livro Dez sacizinhos (Belinky,2007) com articulação bem pontuada como recurso de ênfase ou de chamar atenção. Ex: O teatro pegou fogo e SOBRARAM.. quatro. Solicitada leitura com variação de velocidade, ressonância e pausas. Exercícios de mudança de posição da língua e mandíbula para variação de vozes; Convidadas a pensar nos significados e intenções das personagens ao ler em voz alta. O que a personagem quer? Qual o objetivo?; Abordado o uso da ênfase com base em Cruttenden (1997). P2, por exemplo, foi solicitada a emitir a frase “Feche a porta” com diferentes intenções e na sequência o grupo ouviu a gravação e observou as diferenças. Explanada as diferenças de contornos entoacionais para caracterizar uma ordem e um pedido ou uma sugestão. No pedido ou sugestão, o contorno entoacional da frase é descendente enquanto que na ordem é ascendente. Uma professora foi solicitada a falar a pergunta: “Por que você não muda para a Califórnia?” com a intenção de uma dica, como se achasse uma boa ideia, e depois falar essa frase apenas como pergunta. Foi perguntado quais diferenças entoacionais foram observadas. P3 fez o mesmo apenas

perguntando e depois sugerindo. // POR QUÊ VOCÊ NÃO MUDA PARA A / CALIFÓRNIA? // o uso do contorno ascendente no início da frase a transforma em uma interrogação

// POR QUÊ VOCÊ NÃO MUDA PARA A / CALIFÓRNIA? // ao passo que o uso do contorno descendente no início da mesma frase, a modifica para uma sugestão feita para um interlocutor. Solicitadas a escolher palavras do livro para dar ênfase durante a leitura em voz alta. (Utilizar recursos de ênfase da preferência de acordo com objetivos e intenções) Depois ler sem ênfase. O mesmo trecho de leitura do livro do Grúfalo do início da oficina foi refeito após os exercícios. A própria pessoa que leu teve que opinar sobre sua interpretação de leitura e identificar a utilização ou não de recursos expressivos.

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Todas leram o mesmo trecho, uma por vez, buscando enfatizar palavras diferentes ou de forma diferente, conferindo interpretação única. Audição do trecho da leitura, observação de que recursos de ênfase foram utilizados e comentários sobre as dificuldades.

COMENTÁRIOS

Os comentários das participantes referentes às atividades realizadas foram positivos destacando que não conheciam muitos dos recursos trabalhados. P1 decidiu dar um sotaque baiano para o rato (personagem de um dos livros desse encontro). Foram muito além das mudanças de pitch, que vinham fazendo. P3 observou que algumas pessoas gostam de mandar, mas pela maneira de falar não estão mandando, soa como pedidos dependendo da entoação. Outro exemplo foi de que uma vez uma operadora de telemarketing ligou na casa de P1 com articulação muito ruim. Essa professora relatou que seu filho aprendeu a articular muito bem porque seu marido tem deficiência auditiva. A mesma professora chamou a articulação exagerada como recurso de sobrevivência. Para não esganar a criança fala bem articulado (JÁ FALEI QUE NÃO...). P3 é a mais reservada do grupo, participando na maioria das vezes apenas quando solicitada.

Encontro 4

Quadro 4 - Descrição do quarto encontro.

JUSTIFICATIVA

A coordenação pneumofonoarticulatória é observada durante a leitura de palavras, orações e textos (Ferreira, 1998)

OBJETIVOS

Retomar o trabalho com recursos de ênfase; Aprimorar a coordenação pneumofonoarticulatória e a inteligibilidade de leitura.

ESTRATÉGIAS

Retomado o conceito de variações de contorno entoacional de acordo com a intenção de pedido, sugestão ou ordem. Leitura do livro Pedro e Tina (King, observando a modulação de acordo com o significado do conteúdo. Inicialmente separadamente, cada participante realizou a atividade. Durante a execução do exercício, foi observada a articulação e recursos utilizados. Audição para percepção da performance e observação individual; Apresentada atividade dirigida que permite aprimorar a coordenação da respiração com a precisão articulatória e diferentes recursos vocais. Para exercícios de coordenação pneumofonoarticulatória foram utilizados exercícios propostos por Ferreira et. al.(1998). Solicitadas em grupo exercícios que coordenaram contagem com inspiração e fala de palavras e frases na expiração; Revisados ajustes de mudanças de língua, mandíbula e ressonância para diferenciar as personagens;

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Leitura individual e observação da própria leitura.

COMENTÁRIOS

As professoras não tiveram dificuldades nos exercícios de coordenação. Durante a audição P3 observou que a palavra escolhida para dar ênfase ficou forçada na sua opinião. Segundo ela a intenção não era essa. A pesquisadora perguntou se gostaria de ler novamente, mas a participante não quis.

Encontro 5

Quadro 5 - Descrição do quinto encontro.

OBJETIVOS

Retomar vivências anteriores, considerando a expressividade durante a leitura; Revisar que o significado/sentido/intenção é comunicado não apenas por meio de palavras, ou da ordem em que às mesmas são colocadas na frase, mas também por meio da expressividade oral; Aplicar possibilidades expressivas e verificar conquistas expressivas.

ESTRATÉGIAS

Leitura do livro: O caso do bolinho (Belinky, 2004) de acordo com o que faria para ler a sua turma. Ouvir sua apresentação e observar os aspectos positivos e negativos do próprio desempenho de leitura. Revisada a utilização dos recursos vocais durante as apresentações de leitura para transmitir a intenção desejada; Pensar na intenção que quer passar. Qual o objetivo da personagem; Realizados exercícios para treinar o uso da ênfase (Cruttenden, 1997) com leitura de frases do livro dando ênfase às palavras marcadas previamente. Solicitado que as professoras lessem em voz alta algumas frases, dando ênfase às palavras marcadas. Em seguida repetiram as mesmas frases sem dar ênfase às palavras. P1 leu uma frase e, junto com o grupo, analisou quais recursos utilizou para quais intenções. Na sequência, P2 leu a mesma frase utilizando um recurso diferente do anterior e em seguida P3. Realizados exercícios para treinar a curva melódica: ler as palavras apresentadas em uma lista, realizando a modulação de acordo com a instrução fornecida; Dramatizar os diálogos apresentados, segundo proposta de Soares e Piccolotto (1977); Abordado novamente o uso da duração e pausa para leitura do livro “O caso do bolinho” novamente.

COMENTÁRIOS

Foi observada que às vezes P3 parece ler mais rápido, talvez por timidez e desejo de se livrar logo da atividade. Em um momento, quanto questionada sobre a percepção de sua leitura, essa relatou ter a impressão de estar muito rápida.

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Encontro 6

Quadro 6 - Descrição do sexto encontro.

OBJETIVOS

Revisar aspectos da expressividade que foram trabalhados durante a intervenção proposta; Aplicar as experiências vividas e conhecimento obtido ao longo dos encontros anteriores em leitura individual; Gravar cada participante para compor os dados referentes a modalidade pós intervenção, nas mesmas condições explicitadas na modalidade pré.

ESTRATÉGIAS

Breve revisão dos aspectos apresentados nos demais encontros; Preenchimento de questionário por escrito de avaliação das oficinas; Gravação nas mesmas condições da pré intervenção.

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6 - RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta a caracterização do perfil das três participantes deste

estudo, que apresentaram média de idade de 40,3 anos e de tempo de docência em

educação infantil de 19 anos. Com relação à inspeção acústica do tempo de duração

do enunciado, verificou-se que todas aumentaram no momento pós intervenção,

quando esse foi comparado ao pré.

Tabela 1 – Idade, tempo de docência e duração do enunciado (DE), nos momentos pré e pós intervenção das participantes

P1 P2 P3 Mediana

Idade (anos) 43 35 43 40

tempo de docência(anos) 23 18 16 19

DE-Pré (segundos) 6,455 6,113 5,909 6.15

DE-Pós (segundos) 12,944 9,097 6,915 9.63

Os 35 juízes que registraram as impressões auditivas das leituras das três

professoras eram em sua maioria, do sexo feminino (88,6%). Identifica-se (Tabela 2)

a distribuição da média de idade e o tempo de trabalho em educação infantil desses

juízes.

Tabela 2 – Análise quantitativa das variáveis idade e tempo de trabalho na educação infantil dos juízes

Variáveis

(dp) Mediana Mínimo Máximo

Idade (anos) 37,6 (6,5) 36 27 54

Tempo de trabalho com educação infantil (anos)*

9,0 (5,9) 8 1 24

* dados referentes a 31 juízes, pois 4 nunca trabalharam com educação infantil.

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Na Tabela 3 (e Gráfico 1), observa-se na comparação entre os professores

(P1, P2 e P3),segundo os juízes que classificaram à leitura dos professores em

momento Pré e Pós intervenção, julgando-as como iguais ou diferentes, que houve

associação estatisticamente significativa (<0,001) entre as leituras e o professor. O

P3 apresentou o menor percentual de leitura classificada como diferente (65,7%).

Tabela 3 – Número e percentual de juízes segundo a comparação entre os professores na classificação da leitura Pré e Pós a intervenção.

Leituras P1 P2 P3 p

n (%) n (%) n (%)

Iguais 1 (2,9) 2 (5,7) 12 (34,3) <0,001

Diferentes 34 (97,1) 33 (94,3) 23 (65,7)

Total 35 (100,0) 35 (100,0) 35 (100,0)

Gráfico 1 – Percentual de juízes que classificaram as leituras Pré e Pós a intervenção, segundo professores.

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Contudo, fez-se necessário identificar em quais professores esta

classificação apresenta associação entre as leituras (Tabela 4). Por meio da

Partição do Qui-quadro (X2) verificou-se que as professoras P1 e P2 apresentam

uma porcentagen maior de leituras classificadas como diferentes quando comparas

ao P3 (95,7% versus 65,7%; p<0,001).

Tabela 4 – Número e percentual de juízes segundo comparação na classificação da leitura. Análise da Partição do X2.

Comparações Leituras P1 + P2 P3 p

n (%) n (%)

Partição Iguais 3 (4,3) 12 (34,3) <0,001

Diferentes 67 (95,7) 23 (65,7)

Total 70 (100,0) 35 (100,0)

Estratificação 1 Leituras P1 P2 p

n (%) n (%)

Iguais 1 (2,9) 2 (5,7) 1,000

Diferentes 34 (97,1) 33 (94,3)

Estratificação 2 Leituras P1 P3 p

n (%) n (%)

Iguais 1 (2,9) 12 (34,3) 0,001

Diferentes 34 (97,1) 23 (65,7)

Estratificação 3 Leituras P2 P3 p

n (%) n (%)

Iguais 2 (5,7) 12 (34,3) 0,003

Diferentes 33 (94,3) 23 (65,7)

Total 35 (100,0) 35 (100,0)

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As Tabelas 5, 6 e 7 (e respectivamente os Gráficos 2, 3 e 4) apresentam a

análise dos descritores, considerando cada descritor apresentado.

Na Tabela 5 (e Gráfico 2), verifica-se que em P1 somente o descritor clara

não apresentou mudança estatisticamente significativa na leitura Pré e Pós a

intervenção (p= 0,864).

Quanto às demais variáveis, destaca-se a leitura melodiosa (p=0,024).

Dos 11 juízes que julgaram a voz mais melodiosa do P1 na avaliação Pré, após a

intervenção 10 verificaram uma piora e um registrou que permanecia com o mesmo

status. Por outro lado, dos 24 classificados como menos melodiosa, 100,0%

passaram a mais melodiosa no momento pós intervenção (Tabela 5). No Gráfico 2,

observa-se a proporção Pré e Pós a intervenção.

Tabela 5 – Avaliação da mudança das características da leitura para o Professor 1 (P1).

Características da leitura (P1)

Pós

- + Total p

Pré n (%) n (%)

Cativante + 6 (85,7) 1 7 <0,001

- 0 28 (100,0) 28

Motivante + 5 (83,3) 1 6 <0,001

- 0 29 (100,0) 29

Interessante + 5 (83,3) 1 6 <0,001

- 0 29 (100,0) 29

Clara + 18 (100,0) 0 18 0,864

- 1 16 (94,1) 17

Melodiosa + 10 (90,9) 1 11 0,024

- 0 24 (100,0) 24

Pausada + 8 (100,0) 0 8 0,003

- 1 26 (96,3) 27

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Gráfico 2 – Proporções Pré e Pós a intervenção para o P1, segundo características da leitura.

.

Na Tabela 6 (Gráfico 3), ressalta-se que todas as características de P2

apresentaram mudanças estatisticamente significativas. Pode-se destacar a

categoria interessante que, dos três juízes que julgaram a voz mais interessante do

P2 na leitura Pré, após a intervenção dois juízes verificaram uma piora e para um

permanecia com o mesmo status. Entretanto, dos 31 classificados como menos

interessante, 96,9% passaram a mais interessante (Tabela 6). No Gráfico 3,

observa-se a proporção Pré e Pós a intervenção.

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Tabela 6 – Avaliação da mudança das características da leitura para o Professor 2 (P2).

Características da leitura (P2)

Pós

- + Total p

Pré n (%) n (%)

Cativante + 3 (75,0) 1 4 <0,001

- 1 30 (96,8) 31

Motivante + 3 (75,0) 1 4 <0,001

- 1 30 (96,8) 31

Interessante + 2 (66,7) 1 3 <0,001

- 1 31 (96,9) 32

Clara + 5 (83,3) 1 6 <0,001

- 1 28 (96,6) 29

Melodiosa + 3 (75,0) 1 4 <0,001

- 1 30 (96,8) 31

Pausada + 5 (83,3) 1 6 <0,001

- 1 28 (96,6) 29

Gráfico 3 – Proporções Pré e Pós a intervenção para o P2, segundo características da leitura.

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Na Tabela 7 (e Gráfico 4), verifica-se que houve uma mudança

estatisticamente significativa nas características de leitura Pré e Pós a intervenção

de P3. Na categoria cativante, dos sete juízes que julgaram a voz mais cativante do

professor P3 ao início, após a intervenção três (42,9%) dos juízes verificaram uma

piora e quatro identificaram o mesmo status. Quanto aos 28 classificados no

momento Pré como menos cativante, 71,4% passaram a mais cativante (Tabela 7).

No Gráfico 4, observa-se a proporção Pré e Pós a intervenção.

Tabela 7 – Avaliação da mudança das características da leitura para o Professor 3 (P3).

Características da leitura (P3) Pós

- + Total p

Pré n (%) n (%)

Cativante + 3 (42,9) 4 7 <0,001

- 8 20 (71,4) 28

Motivante + 4 (50,0) 4 8 0,003

- 8 19 (70,4) 27

Interessante + 4 (50,0) 4 8 0,003

- 8 19 (70,4) 27

Clara + 2 (33,3) 4 6 <0,001

- 8 21 (72,4) 29

Melodiosa + 5 (55,6) 4 9 0,011

- 8 18 (69,2) 26

Pausada + 4 (57,1) 3 7 <0,001

- 9 19 (67,9) 28

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Gráfico 4 – Proporções Pré e Pós a intervenção para o P3, segundo características da leitura.

A tabela 8 ilustra a avaliação dos resultados na perspectiva das três

participantes. Ressaltasse que todas relataram ter obtido conhecimentos em todos

os recursos vocais trabalhados na intervenção, a saber: respiração, articulação,

ressonância, pitch e intensidade. Observa-se que a respiração foi um aspecto que

foi relatado tanto quando se referiram aos conhecimentos novos obtidos (P1) quanto

ao que foi colocado em prática (P1 e P3). Verifica-se que o tempo poderia ter sido

maior de acordo com P1 e P2.

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Tabela 8 - Avaliação dos resultados na perspectiva das participantes Sujeito/ Aspecto P1 P2 P3

Conhecimentos que mais gostei

Importância da respiração

Entoação e pausa Mudar a voz sem forçar

Exercicio /Respiração

Narina alternada Inspira enche o abdomen e expira narinas alternadas

Respiração alternada utilizando os dedos

articulação Todos foram bons Falar mais exagerado Abrir bem a boca na leitura

ressonância Todos foram bons De passar a voz pelo nariz Trazer a voz para o nariz

Pitch grave/agudo) grossa/fina

Gostei de todos Como a mudança de tonalidade pode ajudar no lugar de aumentar o volume da voz

Para aquecer

intensidade Gostei de todos Mais forte, mais suave, projetar mais a voz

Contar durante a respiração

Coloquei em prática

Respiração Entoação e pausa Respiração e aquecimento

Dúvidas que não foram esclarecidas

não não não

Tempo proposto foi suficiente

não Sim, mas se tivesse mais seria ainda melhor

sim

Curso ajudou a melhorar minha expressividade na leitura

Sim, principalmente quanto a usar outros recursos que poupem a voz

Sim, principalmente quanto a melhor articulação

Sim, principalmente quanto a mudança de vozes

Curso atingiu minhas expectativas

Sim, conheci novos exercícios

Sim Sim, as dinâmicas e exercícios

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7 – DISCUSSÃO

O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de uma proposta de

intervenção realizada por um fonoaudiólogo, com foco na expressividade oral, para

melhorar a leitura em voz alta de três professoras. A análise dos efeitos dessa

intervenção foi realizada por 35 juízes também professores com experiência

docente, em sua maioria, em educação infantil.

A intervenção buscou desenvolver dinâmicas de aprimoramento dos

recursos de expressividade oral e o objetivo principal foi orientar e sensibilizar as

participantes sobre a importância de uma leitura de história de forma clara e

motivadora para crianças. As atividades realizadas permitiram a vivência de recursos

vocais e foi destacada a auto-observação e observação dos outros do grupo, como

recurso metodológico (Clot, 2002). O intuito dessa estratégia foi facilitar que o sujeito

falasse sobre si mesmo a partir do que via. Assim, por meio da audição das próprias

performances, puderam fazer um intercambio das impressões das mesmas no

grupo. Tomou-se o cuidado de trabalhar a percepção do que são ajustes

inadequados para evitá-los, assim como o quanto o uso de algumas práticas podem

auxiliar no bem-estar vocal.

Os resultados do estudo de Mira e Schwanenflugel (2013) revelaram que

crianças de educação infantil apresentaram diferença estatisticamente melhor no

teste de compreensão da história quando ouviram a leitura com mais recursos

vocais de expressividade. Esses fatos reforçam a importância do desenvolvimento

de programas de intervenção para professores de educação infantil.

A seleção de juízes (atuantes em sua maioria em educação infantil) baseou-

se na pressuposição de que a experiência docente com crianças faria com que

esses professores apresentassem uma maior percepção do que é uma leitura

interessante e mais motivadora para esse público.

Observou-se aumento das medidas de duração de tempo, durante leitura do

enunciado, nas três participantes depois da intervenção fonoaudiológica (Tabela 3),

com registro de aumento da duração do enunciado. Meireles e Barbosa (2009)

apontam que cada falante possui um tempo intrínseco próprio, e essa taxa depende

de cada um dos falantes. Há falantes, que, por natureza, falam mais rápido do que

outros. Por outro lado, as mudanças na duração também podem estar relacionadas

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ao uso de recursos expressivos, como parece ter acontecido neste estudo.

Observou-se aumento das medidas de duração de tempo do enunciado em todas

participantes, depois que as mesmas variaram o uso de recursos de expressividade

oral praticados na intervenção. Contudo, por não ser o objetivo deste estudo realizar

a avaliação acústica dos parâmetros, não se pode afirmar quais recursos

determinaram esse aumento. No estudo de Ferreira et al. (2012), a professora que

falou rápido teve a expressividade oral considerada desagradável pelos alunos

juízes. Nesse estudo, a duração foi um aspecto valorizado pelos alunos, e

determinante na escolha da ordem de preferência da fala das professoras. O estudo

de Sheng et al. (2003) revelou que quando fonoaudiólogas narravam a história para

um grupo de crianças pequenas, falavam mais devagar do que para crianças de 12

anos.

Conforme observasse na classificação referente à leitura das professoras

Pré e Pós intervenção como iguais ou diferentes, segundo professor (tabela 4), a

maioria dos juízes notou diferença entre as leituras (pré e pós intervenção) em todas

participantes. Entretanto, para P3, as mudanças foram percebidas em menor

porcentagem quando comparadas as das demais participantes (P3 - 65.7% dos

juízes, enquanto para P1 e P2 aproximadamente 95%). Cabe destacar que durante

a realização da intervenção P3 foi a que se mostrou mais tímida, frente a realização

das estratégias apresentadas. Durante os encontros, foi frequente observar que P3

lia com intensidade reduzida, não se voluntariou para começar as dinâmicas e se

colocava somente quando chamada. P1 e P2 espontaneamente fizeram comentários

e trouxeram referências do seu dia a dia. P1, por exemplo, se destacou por fazer

observações sobre a leitura das outras participantes do grupo e até sugerir outros

exemplos, formas e sentidos de leitura. Sabe-se que a possibilidade de cada pessoa

observar a si mesma e ao grupo pode causar transformações na expressividade oral

(Kyrillos, 2014).

P3 foi também a participante que registrou menor variação nas medidas de

duração do enunciado na comparação entre os momentos pré e pós intervenção,

com diferença mínima de aproximadamente um segundo (Tabela 1). Em um

momento, quando questionada sobre a percepção que tinha da própria articulação,

relatou ter impressão de falar muito rápido, “principalmente no final de frases”. Em

uma ocasião numa dinâmica de intenções dos personagens, essa professora fez um

comentário sobre pessoas que às vezes querem falar uma ordem, mas na verdade

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soam como se estivessem fazendo um pedido. Parece que P3 se identificou com

esse exemplo e talvez apresente dificuldade em expressar oralmente suas intenções

em alguns momentos. Características da expressividade oral não são dissociadas

da personalidade e Sapir (1929) aponta que há pessoas mais simbólicas no uso dos

sons do que outras. De acordo com Barrichelo (2013), a variação da duração de

tempo é um recurso que expressa personalidade do falante, presente também no

contador, que imprime ritmos variados à história e, assim, sugere situações e

subtextos. Portanto, é natural que se observe maior variação de uso de recursos

praticados nas professoras que apresentaram menos reservas em realizar as

dinâmicas propostas e “ousaram” mais nas mudanças de vozes das personagens.

Para Rasinski et al. (2009), uma leitura fluente também depende de uma taxa de

elocução apropriada, e a expressividade da leitura causa impacto no engajamento

dos ouvintes e na motivação para leitura. Viola (2010) considera que a melodia de

uma frase entoacional é o resultado de uma variedade de forças que expressa a

participação afetiva do falante.

Pode-se hipotetizar que apesar de ter sido registrada mudança

estatisticamente significativa para todos os professores, talvez para P3, com

característica de personalidade mais reservada, uma intervenção demande mais

tempo e mais encontros, do que os colocados em prática neste estudo (seis horas,

seis encontros de uma hora cada). É interessante observar (Tabela 9), porém que

somente P3 não percebeu a necessidade de maior tempo para futuras propostas de

intervenção como a deste estudo.

Por meio de análise estatística, verificou-se que as professoras P1 e P2

apresentaram leituras classificadas como diferentes em porcentagem maior quando

comparas ao P3 (95,7% versus 65,7%; p<0,001).

Pode-se observar (tabelas 5, 6 e 7) que a maior parte dos juízes, que

perceberam diferenças entre os dois momentos da intervenção, preferiram o

momento pós como mais cativante, interessante, motivador, pausado e melodioso. A

única exceção foi para o descritor: clara, em P1, que não apresentou mudança

significativa entre as leituras (pré/pós). No entanto, para os outros participantes

houve mudança estatisticamente significativa para todos os descritores. Dessa

forma, pôde-se justificar o quanto uma intervenção, fundamentada na literatura e nas

pesquisas, pode contribuir para o desenvolvimento e capacitação na expressividade

de professores da educação infantil. Segundo Barrichelo (2013), a inflexão de vários

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tons pode criar uma entoação que desenha curvas melódicas. Dependendo do

desenho, o resultado define diferentes intenções e sentidos. Os estados emocionais

das personagens precisam ser representados por entoações, e, pela experiência

dos próprios ouvintes, fica fácil identificá-los. Pastorello (2010) considera que ler é

uma prática discursiva e um processo de produção de sentidos. Madureira (1992)

destaca que geralmente caracteriza-se a fala como expressiva quando esta

apresenta variabilidade de padrões melódicos e rítmicos. O termo “efeitos de

sentido”, denominado pela autora, é usado nesse contexto para sinalizar que a

matéria fônica causa impressões nos ouvintes, os quais lhe atribuem sentidos. Foi

esse aspecto – atribuição de sentidos – que foi analisado neste estudo, quando os

juízes fizeram uso de descritores pré-determinados para avaliarem as mudanças

ocorridas nos dois momentos da intervenção.

As respostas da avaliação na perspectiva das três participantes (Tabela 9)

mostram que após a intervenção as participantes revelaram terem obtido novos

conhecimentos em relação à expressividade e colocaram esses em prática.

Apontaram terem conhecido novos recursos para mudanças de suas vozes em

contexto de leitura. Para as professoras, conforme o que referiram, os efeitos

positivos da intervenção foram percebidos em todos aspectos de expressividade oral

trabalhados (em quesitos diferentes para cada uma). P2 utilizou as palavras

entoação e pausas ao referir novos conhecimentos obtidos e também colocados em

prática. Esses achados estão de acordo com as mudanças observadas no descritor:

pausada no qual o grupo de avaliadores apontou como mais pausada pós-

intervenção em todas participantes. Em especial em P2, 82.9% dos juízes

perceberam a leitura como mais pausada depois da intervenção.

As professoras também observaram que recursos de expressividade oral

podem ser utilizados a serviço da saúde vocal quando responderam que o curso as

ajudou a “poupar a voz” (P1) e “não forçar” (P3). Um dos resultados da oficina foi o

uso com maior conhecimento de bem-estar vocal em sala de aula. Os exercícios

respiratórios e de coordenação pneumofonoarticulatória foram mencionados na

avaliação feita pelos participantes e P3 utilizou as palavras “contar durante a

respiração”. Uma hipótese é de que talvez o aumento das medidas de duração de

enunciado tenha sido resultado também dessas dinâmicas.

Tais fatos apontam para a necessidade do fonoaudiólogo mudar cada vez

mais seu olhar nas questões de trabalho com professores. Muitos professores dizem

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que aquilo que o fonoaudiólogo prescreve acaba sendo sempre beber água e comer

maçã. Dessa forma, seria interessante apresentar propostas como a deste estudo

para esses profissionais perceberem que ao trabalhar a expressividade oral podem

de forma paralela cuidar da voz. Para os professores essa experiência é também

benéfica pelo fato de que variar a forma de falar causa efeitos nos alunos.

Algumas considerações sobre a proposta podem ser explicitadas.

Ao se refletir sobre os resultados, acredita-se que a intervenção promoveu

um impacto positivo nas professoras, pois despertou o interesse em continuar

realizando os exercícios e a auto-observação de ajustes que ¨forçam a voz¨. Um dos

resultados da oficina foi segundo relato das participantes, o uso com maior

conhecimento em sala de aula. Certamente o programa aqui proposto, alcançou seu

objetivo de sensibilizar as envolvidas e provocar mudanças na expressividade oral

durante leitura de histórias, que de acordo com os resultados, agora estão mais

interessantes e motivadoras para crianças pequenas.

Acredita-se que os procedimentos adotados foram aceitos pelos

participantes, indo na direção da necessidade e interesse das participantes, e que o

conteúdo selecionado foi pertinente para o contexto de uso da voz durante leitura de

histórias. Entretanto, verificou-se a necessidade de um tempo maior para executar

todas as atividades propostas. Além disso, o espaço utilizado para intervenção foi o

da sala de reuniões da escola e por estarem no seu local de trabalho e conciliarem

suas tarefas e atividades, fez com fossem registrados atrasos para iniciar as oficinas

assim como interrupções. Dessa forma, primeiramente tinha-se planejado quatro

encontros (de uma hora e meia cada), no entanto, foram realizados seis de uma

hora cada.

É importante destacar ainda que a coleta de dados, deste estudo, possibilita

realizar futuras análises como a acústica, a perceptivo-auditiva realizada, bem como

o registro da partitura vocal. Além disso, crianças de uma faixa etária um pouco

maior que as do público selecionado neste estudo, por exemplo, poderiam ser juízes

avaliadores das vozes, ou mesmo solicitar que contadores de historia avaliem o

material.

Importante salientar que a proposta ora analisada priorizou apenas a

expressividade oral, mais presente na atividade de ler histórias em voz alta. Contudo

analisar aspectos de expressividade corporal é necessário uma vez que as duas

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instâncias- oral/corporal estão presentes na atividade de narrativas, principalmente

na contação de histórias.

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8. CONCLUSÕES

Uma intervenção realizada por fonoaudiólogo pautada em estratégias

relacionadas a respiração, recursos de expressividade oral e linguísticos propiciou

diferença na expressividade oral de professoras em situação de leitura em voz alta,

registrada pelo aumento da duração dos enunciados bem como julgamento positivo

da maioria dos juízes, principalmente quanto a estar mais pausada, melodiosa,

interessante, cativante e motivadora para o público infantil.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DE SÃO PAULO-

PUC/SP

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Pesquisador:

Título da Pesquisa:

Instituição Proponente:

Versão:

CAAE:

Leitura em voz alta: uma proposta de intervenção fonoaudiológica em professores deensino infantil

Cintia Ortegosa Cordeiro

Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC/SP

2

39281414.8.0000.5482

Área Temática:

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Número do Parecer:

Data da Relatoria:

1.049.152

20/04/2015

DADOS DO PARECER

O tema desta pesquisa é muito interessante por que discute a questão da expressividade vocal de um

professor como um fator que pode interferir negativa ou positivamente no processo ensino-aprendizagem.O

projeto está bem estruturado, bem justificado e bem fundamentado. O método está muito claro com os

critérios de seleção de sujeitos bem explicitados e sem risco de qualquer tipo de discriminação.Os critérios

de análise dedados estão bem delimitados e determinados.

Apresentação do Projeto:

Desenvolver, implementar e analisar os efeitos de um programa de intervenção fonoaudiológica junto a

professores de ensino infantil com foco na

leitura em voz alta de histórias

Objetivo da Pesquisa:

Não existem riscos diretos ou indiretos para os professores e os benefícios serão diretos e indiretos para

todo o grupo, pois, a intervenção que será realizada poderá beneficiar tanto aos professores como aos

alunos deste grupo.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

Mostra uma forma de olhar o ensino-aprendizagem inovadora, pois mostra que a expressividade em uma

tarefa de leitura pode ser um fator motivacional que desperta o interesse da

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Financiamento PróprioPatrocinador Principal:

05.015-001

(11)3670-8466 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Rua Ministro Godói, 969 - sala 63 CPerdizes

UF: Município:SP SAO PAULOFax: (11)3670-8466

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DE SÃO PAULO-

PUC/SP

Continuação do Parecer: 1.049.152

criança/aluno.

Estão todos em ordem.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

nenhuma

Recomendações:

O projeto atende aos requisitos do comitê de ética em pesquisa.

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

Aprovado

Situação do Parecer:

Não

Necessita Apreciação da CONEP:

Considerações Finais a critério do CEP:

SAO PAULO, 05 de Maio de 2015

Edgard de Assis Carvalho(Coordenador)

Assinado por:

05.015-001

(11)3670-8466 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Rua Ministro Godói, 969 - sala 63 CPerdizes

UF: Município:SP SAO PAULOFax: (11)3670-8466

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de Estudos Pós Graduados em Fonoaudiologia TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

AO SUJEITO DESTE ESTUDO

Nome do participante: ______________________________________________

Data: _____/_____/_____

Pesquisador principal: Cíntia Ortegosa Cordeiro

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

Rua Monte Alegre, nº 984 – Perdizes

CEP: 05014-901 – São Paulo/SP

1. Título do estudo: “Leitura em voz alta: uma proposta de intervenção

fonoaudiológica em professores de ensino infantil”

2. Propósito do estudo: desenvolver, implementar e analisar os efeitos de

uma intervenção fonoaudiológica junto a professores de ensino infantil

com foco na leitura em voz alta.

3. Procedimentos: A intervenção será realizada em quatro encontros de uma

hora e meia cada. Chamaremos de Oficinas. Nessa intervenção os

participantes terão a oportunidade de experimentar a realização de leitura

em voz alta com a utilização de diferentes parâmetros de expressividade

oral, a saber, intensidade, altura, modulação, articulação, qualidade vocal,

pausas entre outras.

4. Riscos e desconfortos: Não existem riscos ou desconfortos associados

com este projeto.

5. Benefícios: Participar de oficinas de leitura para uso docente. Os

resultados do estudo podem ajudar os pesquisadores a entender melhor

as questões relacionadas à expressividade da voz do professor de

educação infantil.

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6. Direitos do participante: Eu posso me retirar deste estudo a qualquer

momento.

7. Compensação financeira: Não serei reembolsado financeiramente pela

minha participação.

8. Confidencialidade: As gravações (áudio) que irei participar serão vistas e

analisadas apenas pelos participantes desse estudo, pesquisadores e

pelos membros autorizados do grupo de pesquisa da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo. Compreendo que os resultados

deste estudo poderão ser publicados em jornais profissionais ou

apresentados em congressos profissionais, mas que, minha identidade

não será revelada a menos que a lei requisite.

9. Se tiver dúvidas posso telefonar para Cíntia no número (11) 941237662 a

qualquer momento.

Eu compreendo meus direitos como um sujeito de pesquisa e

voluntariamente consinto em participar deste estudo. Compreendo sobre o que,

como e porque este estudo está sendo feito. Receberei uma cópia assinada

deste formulário de consentimento.

___________________________ ____/____/______ Assinatura do Profissional Data

_______________________________ ____/_____/______ Assinatura do responsável pelo estudo Data

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Sua avaliação sobre o curso será muito importante para que possamos fazer ajustes nas próximas apresentações do

mesmo.

1- Obtive conhecimentos sobre expressividade da leitura em voz alta que desconhecia?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

2- Obtive conhecimentos sobre respiração que desconhecia?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

3- Obtive conhecimentos sobre articulação que desconhecia?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

4- Obtive conhecimentos sobre ressonância que desconhecia?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

5- Obtive conhecimentos sobre pitch (grave/agudo) que desconhecia?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

6- Obtive conhecimentos sobre intensidade que desconhecia?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

7- Coloquei em prática hábitos que não tinha antes?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ___________________________________________________

8- Tive dúvidas em relação a assuntos da voz que não foram esclarecidas?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a_____________________________________________________

9- O tempo proposto foi suficiente?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a _____________________________________________________

10- O curso ajudou a melhorar minha expressividade na leitura?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a _____________________________________________________

11- O curso atingiu minhas expectativas?

( ) não ( ) sim Principalmente quanto a ______________________________________________________