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Citações e Pensamentos de Florbela Espanca - PDF Leyapdf.leya.com/2012/Jan/citacoes_e_pensamentos_de... · Paulo Neves da Silva (organizador) CITAÇÕES E PENSAMENTOS DE FLORBELA

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CITAÇÕES E PENSAMENTOSDE FLORBELA ESPANCA

Paulo Neves da Silva(organizador)

CITAÇÕES E PENSAMENTOSDE FLORBELA ESPANCA

200 CITAÇÕES

40 REFLEXÕES E PENSAMENTOS

100 POEMAS 50 QUADRAS

ISBN 9789895555871

© Paulo Neves da Silva, citador

Direitos reservadosCASA DAS LETRAS uma marca da Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda.uma empresa do grupo LeYaRua Cidade de Córdova, 22610-038 AlfragideTel.: 21 041 74 10, Fax: 21 471 77 37E-mail: [email protected]

Revisão: Ayala MonteiroCapa: Maria Manuel Lacerda/Oficina do Livro, Lda.

1.ª edição: Fevereiro de 2011

Florbela Espanca (1894-1930) é uma das maiores poetisasportuguesas de todos os tempos. A teatralidade da sua poesia e aaparente superficialidade de parte da sua obra contribuíram paraa construção de uma imagem controversa não obstante o seu ine-gável valor, expressão máxima de uma sinceridade profunda,envolta num timbre único e inconfundível que elege o soneto comoa composição perfeita do sentimento, onde os últimos dois ver-sos captam a embriaguez da eternidade. Verdadeiro concentradode pensamentos arrebatadores e frases sedutoras, plenas de forçade sugestão, insinuação, expressão e relevo, a sua obra é dos melho-res exemplos de uma poesia viva, na medida em que parte davivência real da autora. Eternamente viva como literatura, umavez que, ao insuflar-lhe a sua própria vida, passou a sua poesia ater vida própria, estando a sua expressão única de sensibilidade eimaginação inacessível às condições do tempo e do espaço.

Perseguidora do ideal do amor acima de todos os outros aspec-tos da vida, transportou como ninguém todos os sentimentos queviveu para a poesia, com uma intensidade autobiográfica que expõegenialmente os mais obscuros recantos do interior do seu ser, glo-rificando em tons de angústia e ansiedade a sede infinita de umamor que está para lá do que é humano, num mundo paralisadono tempo onde duas bocas juntas representam a mais completaunião, e simultaneamente a dispersão de uma realidade em quetodos os outros seres se misturam na indiferença de uma paisa-gem que absorve as suas presenças.

Florbela intensamente procurou esse amor desde a mais tenraidade, fruto eventualmente de carências afectivas na sua infância.

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INTRODUÇÃO

De amor em amor, passou por três casamentos onde a felicidadepouco durou, vítima da sua inquietação constante e da sua ina-daptação a um mundo que considerava hostil às suas aspirações.Estes casamentos concretizavam-se enquanto o noivo era um ternoreflexo da própria Florbela, mas cedo chegavam ao ponto em queFlorbela, tal como disse a um dos ex-maridos: «Nas nossas duassinas tão contrárias, um pelo outro somos ignorados; sou filha deregiões imaginárias, tu pisas mundos firmes já pisados.» Florbelarapidamente se libertava dos seus amores, tal o contraste entreaquilo que idealizava e o que realizava, tanto que, em desespero,dizia que só um Deus a poderia amar. «Um baixo amor os fortesenfraquece» (Camões), e amar, para Florbela, era um gesto mágicoonde continuamente procurava atingir um estado de euforia e ins-piração, tentando compensar assim a indiferença que todos osoutros aspectos da vida lhe causavam. Como ela afirmava, «eu fuisempre a grande revoltada e a grande ambiciosa que só quer a feli-cidade quando ela seja como um turbilhão que dê a vertigem eque deslumbre». Aparentemente encontrou esse grande amoralguns meses antes de pôr término à sua vida, conforme se podeconstatar numa carta que escreveu nessa altura: «Devo agradecerao destino o favor de ter ouvido a minha voz. Pôr finalmente nomeu caminho a linda alma nova, ardente e carinhosa que é todoo meu amparo, toda a minha riqueza, toda a minha felicidade nestemundo. A morte pode vir quando quiser: trago as mãos cheias derosas e o coração em festa: posso partir contente.» Num misto deserenidade e predestinação, suicida-se no dia dos seus anos e emvésperas de publicação do seu último livro Charneca em Flor,ciente de que, a partir desse momento, o seu espírito pouco maisteria a viver neste mundo.

Assim, toda a vida de Florbela é uma permanente reivindi-cação. Nada lhe basta, nada a satisfaz, estando permanentementeansiosa de novos pretextos e a pretender sempre situar-se acimade todas as influências – influência de pessoas, de sentimentos ede circunstâncias exteriores. Como ela própria o disse: «Procu-rei o amor que me mentiu. Pedi à vida mais do que ela dava», e,na falta deste, busca a notoriedade através da sua obra, usando asua própria sede de amor como carta ao infinito. Florbela dá cons-tantemente a impressão de não caber em si, de transbordar para

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uma imensidão difícil de suportar devido à prisão estreita em quese sente viver, contribuindo toda esta insaciabilidade para a afir-mação de um Espírito maior, sem que esteja limitado a um sócorpo e a uma só alma. A expressão vibrante deste ser intangívelna sua poesia trouxe-lhe a imortalidade e o sonho de menina rea-lizado: «Sonho que um verso meu tem claridade / Para enchertodo o mundo!»

Este livro apresenta uma selecção exaustiva e objectiva detodas as frases e pensamentos de Florbela Espanca, que se podemdestacar independentemente do seu contexto, em duzentas cita-ções e quarenta textos, complementados com uma selecção decem poemas, numa organização temática que permite uma fácil erápida consulta. Além de quarenta poemas de Amor inclusos nasecção respectiva, o livro completa-se com uma secção adicionalde quarenta quadras de Amor. Numa leitura completa ou numaconsulta temática a este livro, o espírito de Florbela Espanca e oseu instinto de infinitude amorosa entranha-se, inspira e contagia,um autêntico manual do sentimento levado às suas expressõesmais profundas, catalisador de sensações das mais altas aspiraçõesàs mais baixas angústias. Estando o Céu e o Inferno contidos emcada um de nós, a obra de Florbela espreita para lá dos limites doCéu e desvenda as profundezas do Inferno, levando a um maiorconhecimento de nós próprios no universo do sentimento que éafinal, talvez, aquele onde o ser humano mais verdadeiramente serealiza na passagem por este mundo.

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Citações

ACEITAÇÃO

Nasci sensitiva e assim hei-de morrer, muito provavelmente…nós somos o que somos e não o que quereríamos ser; não teparece? Tens de me aceitar como eu sou visto que só assimeu creio que me possam ter amor.

Correspondência (1920)

AFEIÇÃO

Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura noprincípio das afeições e depois, passado um mês, completa-mente desinteressada delas. Eu sou ao contrário: o tempopassa e a afeição vai crescendo, morrendo apenas quando aingratidão e a maldade a fizerem morrer.

Correspondência (1916)

ALMA

Há almas privilegiadas e únicas que nada têm a ver com a lógicaabsurda das leis humanas. As turbas inconscientes e boçais lan-çam, à face de certos entes, anátemas que o céu, se o há, nãodeve perdoar. À gargalhada insultante deste mundo responde ainfinita serenidade do que fica para Além e que os olhos mío-pes não vêem.

Contos – A Paixão de Manuel Garcia (As Máscaras do Destino)

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A alma do homem, tão insignificante, sente-se às vezes ultra-passar o mistério infinito da própria existência e procura, ansiosa,um infinito maior ainda onde perder-se; é nessas horas que ohomem se sente perdoado do nefando crime de ser homem.

Contos – O Regresso do Filho (O Dominó Preto)

Tenho a alma tão dolorida sempre! Um nada me magoa, nemsei porquê.

Correspondência (1920)

Às vezes sinto em mim uma elevação de alma, o voo trans-lúcido duma emoção em que pressinto um pouco do segredoda suprema e eterna beleza; esqueço a minha miserável con-dição humana, e sinto-me nobre e grande como um morto.

Correspondência (1930)

A sua afeição por mim cega-o completamente: a minha alma– pobre dela! – não é nada do que a sua cegueira de amigopensa e julga. É apenas um pouco da minha charneca sel-vagem e triste, da minha charneca por quem ninguém podenada: não há água...

Correspondência (1930)

O meu mundo não é como o dos outros, quero de mais, exijode mais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia cons-tante que nem eu mesmo compreendo, pois estou longe deser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma almaintensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sentebem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!

Correspondência (1930)

Estou tão magrita! A lâmina vai corroendo a bainha, a poucoe pouco, mas implacavelmente, com segurança. Devo ter por

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alma um diamante ou uma labareda e sinto nela a belezainquietante e misteriosa das obras incompletas ou mutiladas.

Diário do Último Ano

Guardar-me intacta, como um cristal transparente, para quê?Mas não imitemos Jeremias... só na alma é que a lama se nãoapaga; aquela com que nos salpicam, sai com água limpa.

Diário do Último Ano

Há bocas sorridentes que gritam para dentro da alma o uivodos chacais nos matagais desertos.

Pensamentos (manuscrito)

Nas coisas luminosas deste mundo, / A minha alma é o túmuloprofundo / Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos!

Charneca em Flor

Alma de mais para viver, / Alegria do meu peito. / Ai tantosonho perdido, / Ai tanto sonho desfeito!

Poemas Dispersos

Quem me dirá se, lá no alto, o céu também é para o mau,para o perjuro? Para onde vai a alma que morreu? Queriaencontrar Deus! Tanto o procuro!

Correspondência

AMABILIDADE

A amabilidade de certas pessoas cresce na razão inversa danecessidade que delas temos.

Correspondência (1921)

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AMBIÇÃO

Tu julgas então que eu ambiciono alguma coisa no mundo?Ainda me conheces pouco! Eu fatigo-me até de desejar; nadahá neste mundo que me não tenha cansado! Eu mais do queninguém compreendo o poeta: «Tout passe, tout lasse.» E aindatu julgas que eu me preocupo a desejar sucesso aos meus ver-sos patetas!?... Se eu desejasse alguma coisa que deles meviesse, não trabalhava!

Correspondência (1916)

Para quê alcançar os astros!? Para quê!? Para os desfolhar, porexemplo, como grandes flores de luz! Vê-los, vê-os toda agente. De que serve então ser poeta se se é igual à outra gentetoda, ao rebanho?...

Correspondência (1930)

Para quê ser altura e ansiedade, / Se se pode gritar uma Ver-dade / Ao mundo vão nas sílabas dum verso?

Reliquiae

AMIZADE

A amizade é o maior sentimento que não morre.Correspondência (1911)

Tanta coisa bonita que me tem dito e como eu gosto que osamigos – mas só os amigos... – me digam coisas assim bonitas!

Correspondência (1930)

AMOR

Esquecia-se de que o amor vem à sua hora, e de que é elequem escolhe essa hora, e não nós. Esquecia-se também de

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que não são as grandes qualidades, as virtudes superiores, queinspiram as grandes paixões; seria demasiado simples...

Contos – Mulher de Perdição (O Dominó Preto)

É nas almas simples que o amor é mais puro e mais forte.O manancial de águas claras, que na planície vai matar sedese reverdecer os campos, jorra do seio das duras pedras dasmontanhas em sítios agrestes, longe e alto!

Contos – O Dominó Preto (O Dominó Preto)

Ama-se quem se ama e não quem se quer amar.Correspondência (1920)

Um homem sem vontade, sem energia, sem coragem, nuncapode ser verdadeiramente amado.

Diário do Último Ano

Faço às vezes o gesto de quem segura um filho ao colo. Umfilho, um filho de carne e osso, não me interessaria talvez,agora... mas sorrio a este, que é apenas amor nos meus braços.

Diário do Último Ano

Até hoje, todas as minhas cartas de amor não são mais do quea realização da minha necessidade de fazer frases. Se o PrinceCharmant vier, que lhe direi eu de novo, de sincero, de ver-dadeiramente sentido? Tão pobres somos que as mesmas pala-vras nos servem para exprimir a mentira e a verdade!

Diário do Último Ano

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?... / Que importao mundo e seus orgulhos vãos?... / O mundo, Amor?... Asnossas bocas juntas!...

Livro de Soror Saudade

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Quem disser que se pode amar alguém / Durante a vida inteiraé porque mente!

Charneca em Flor

O amor dum homem? – Terra tão pisada! / Gota de chuva aovento baloiçada... / Um homem? – Quando eu sonho o amordum deus!...

Charneca em Flor

Tudo o que é chama a arder, tudo o que sente / Tudo o que évida e vibra eternamente / É tu seres meu, Amor, e eu ser tua!

Charneca em Flor

Um grande amor é sempre grave e triste.Espólio

Procurei o amor que me mentiu. Pedi à vida mais do queela dava.

Espólio

Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser há-de ser luz doSol em tardes quentes... Há-de ser Outro e outro nummomento! Força viva, brutal, em movimento, astro arrastandocatadupas de astros!

Espólio

Onde está ela, Amor, a nossa casa, o bem que neste mundomais invejo?

Espólio

Se as minhas mãos em garra se cravassem sobre um amor emsangue a palpitar... Quantas panteras bárbaras mataram sópelo raro gosto de matar!

Espólio

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ANIMAIS

Se todos tivessem pelos bichos a simpatia que eu tenho, todaa gente se empregaria em tratá-los bem, como eles às vezesmerecem bem mais do que as pessoas. De pessoas é que eunão gosto; e eu, que não ligo importância a uma criança, enter-neço-me vendo uma lagarta rastejar.

Correspondência (1922)

Os olhos do meu cão enternecem-me. Em que rosto humano,num outro mundo, vi eu já estes olhos de veludo doirado, decantos ligeiramente macerados, com este mesmo olhar pue-ril e grave, entre interrogativo e ansioso?

Diário do Último Ano

ATENÇÃO

Muitas vezes as nossas mais delicadas atenções, as nossas maio-res provas de amor, os nossos cuidados, são como aquelaspérolas que um dia alguém atirou a uns porcos…

Correspondência (1921)

AUSÊNCIA

Não há maior tristeza do que a gente ver-se longe daqueleque para nós é tudo ou mais do que tudo; é um aborreci-mento de todas as horas que coisa alguma faz desaparecer.

Correspondência (1921)

AUTOCONHECIMENTO

Sou uma criatura vulgarmente educada, vulgarmente inteli-gente, vulgarmente cultivada. Tudo vulgar, querida, tudo!

Correspondência

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Eu sou uma mulher, e uma criança, e uma artista que se julgaalguém.

Correspondência (1920)

Nem saúde, nem dinheiro, nem liberdade. A pantera estáenjaulada e bem enjaulada, até que a morte lhe venha cerraros olhos, e da sua miserável carcaça cinzele um tronco robustoa latejar de seiva, ou uma sôfrega raiz a procurar fundo a águaque lhe mate a sede.

Correspondência (1930)

Foram-se, há muito, os vinte anos, a época das análises, das com-plicadas dissecações interiores. Compreendi por fim que nadacompreendi, que mesmo nada poderia ter compreendido demim. Restam-me os outros... talvez por eles possa chegar às infi-nitas possibilidades do meu ser misterioso, intangível, secreto.

Diário do Último Ano

Sob a serenidade austera da minha terra alentejana, latejauma força hercúlea, força que se resolve num espasmo, quequer criar e não pode. A tragédia daquele que tem gritos ládentro e se sente asfixiado dentro duma cova lôbrega; a amargarevolta de anjo caído, de quem tem dentro do peito um mundoe se julga digno, como um deus, de o elevar nos braços, acimada vida, e não poder e não ter forças para o erguer sequer!

Espólio

Sou eu! Sou eu! A que nas mãos ansiosas prendeu da vida,assim como ninguém, os maus espinhos sem tocar nas rosas.

Espólio

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados num mundode maldades e pecados, sou mais um mau, sou um pecador...

Espólio

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BELEZA

Nunca fui bonita, e sempre vi em volta de mim mais rapazesdo que talvez nenhuma rapariga visse em toda a vida, e, comovês, sou hoje a criatura mais desprendida de tudo isso que tupoderias ter encontrado no teu caminho.

Correspondência (1920)

BONDADE

Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezarquase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um.

Correspondência (1916)

CASAMENTO

Acho que é no casamento que está a felicidade de um homemnormal.

Correspondência (1927)

COMPREENSÃO

À tua compreensão só pode chegar a percepção dos objectosque os teus misérrimos sentidos te apresentam, e tal comoeles tos apresentam.

Contos – O Resto é Perfume... (As Máscaras do Destino)

Sentir é muito, compreender é melhor.Pensamentos (manuscrito)

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CONSELHO

Oh! Meu amor, se tu queres / Toda a vida viver bem / Hás--de ouvir, hás-de calar, / Não dizer mal de ninguém.

Poemas Dispersos

CONTENTAMENTO

Dizes contentar-te com pouco; é essa, na realidade, a supremasabedoria, mas eu fui sempre a grande revoltada e a grandeambiciosa que só quer a felicidade quando ela seja como umturbilhão que dê a vertigem e que deslumbre!

Correspondência (1920)

CONVERSAÇÃO

Eu só sei falar dentro de quatro paredes e um telhado; aoar livre, principalmente em frente ao mar, sou Guilherme,o Taciturno.

Correspondência (1930)

CORAÇÃO

Pena é não haver um manicómio para corações, que para cabe-ças há muitos.

Correspondência (1912)

Quem me dera um coração / Que por mim bata somente. /Dai-me essa esmola, Senhor, / Para que eu morra contente!

Trocando Olhares

Mistério das coisas! Em tudo existe / Um coração que sentee que palpita / Desde o sol rubro até à urze triste!

Trocando Olhares

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Amo todos os sonhos que se calam de corações que senteme não falam.

Espólio

CRENÇA

Não falaremos de política nem de religião; não nos entende-ríamos. Sou pagã e anarquista, como não poderia deixar deser uma pantera que se preza...

Correspondência (1930)

CRUELDADE

É pensando nos homens que eu perdoo ao tigre as garras quedilaceram.

Pensamentos (manuscrito)

DEFEITO

Sou bem diferente, sou, das outras mulheres todas. Eu queroantes os meus defeitos do que as virtudes de todas as outras.

Correspondência (1920)

DESTINO

Eu fui, desde que principiei a conhecer a vida, a mulher semlar, a mulher casada sem marido, sem lar, a que nunca tivera,como todas as raparigas sonham, as horas doces dum noivadoque até à morte se recorda.

Correspondência (1920)

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DINHEIRO

Não há dinheiro que chegue para se viver com uma certadecência numa cidade.

Correspondência (1930)

A questão dinheiro não me prende duma maneira exagerada,se bem que me não desagradasse ganhar algum para satisfa-zer os meus dois vícios: flores e livros.

Correspondência (1930)

DISTRACÇÃO

Sou uma criatura que necessita de trabalhar e trabalhar muito;felizmente que um trabalho como o meu é muito bem pago etem as suas compensações, principalmente uma, que emextremo me agrada: distrair-me. É isto que eu procuro na vida,sempre e a propósito de tudo, com um afã com que todos osmortais procuram a sempre decantada e fugidia felicidade.

Correspondência (1916)

DOR

Neste mundo só temos certa a dor e nada mais; dizem que ador é para os eleitos... e, se só os maus são felizes, benditaseja a desgraça que nos torna bons!

Correspondência (1916)

Para as traições, para as mentiras, para o que é vil e falso, tema gente remédio: tem o orgulho; mas para a dor que te fazmal, para essa nenhum remédio há.

Correspondência (1926)

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