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Colégio Real
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio.
Caio Dors Delazzeri
Gabriel Matheus Engels
Gabriel Thiago de Almeida Titon
Guilherme Marcello Casagranda
Isadora Piovesan Franciscon
João Marcos Zeni
Logan Deola
Lucas Eduardo Hergessel
Luis Carlos Schons
Mariana Bals Dreher
Renan Coradin
Sarah Emili Dal Molin
Vitor Matheus Triches da Rosa
Mylena Cooper Fedrigo
Thalya Vitoria Becher
Realeza – Paraná
2015
Dedicamos esta Coletânea de Crônicas
aos nossos pais, que nos fazem acreditar que somos capazes de
transformar sonhos em realidade, e aos nossos professores pelo apoio,
convivência, conhecimento e experiências.
Meus filhos terão computadores, sim,
mas antes terão livros. Sem livros, sem
leitura, os nossos filhos serão incapazes
de escrever, inclusive, sua própria
história.
Bill Gates
A crônica [...] para muitos pode servir de caminho não apenas
para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura [...]
Por meio dos assuntos, da composição solta, do ar de coisa
sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à
sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque elabora
uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais
natural. Na sua despretensão, humaniza; e esta despretensão
lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a
outra mão certa profundidade de significado e certo
acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma
inesperada embora discreta candidata à perfeição. [...]
Antônio Cândido de Mello e Souza
Orientação, revisão e diagramação:
Professora Karen Sayuri Takahara Golin
Ilustrações:
(da Internet)
Caio Dors Delazzeri
Gabriel Matheus Engels
Gabriel Thiago de Almeida Titon
Guilherme Marcello Casagranda
Isadora Piovesan Franciscon
João Marcos Zeni
Lucas Eduardo Hergessel
Luis Carlos Schons
Mariana Bals Dreher
Renan Coradin
Sarah Emili Dal Molin
Vitor Matheus Triches da Rosa
Mylena Cooper Fedrigo
Thalya Vitoria Becher
QUE FOI, PAI? Caio Dors Delazzeri .........................................................................
1
A ARTE DA ARTE ABSTRATA É ABSTRATA? Gabriel Matheus Engels...................................................................
6
LEAGUE OF ADICCTION Gabriel Thiago de Almeida Titon.....................................................
9
A NOVELEIRA Guilherme Marcello Casagranda.....................................................
12
NEM TODAS AS NOVELAS ESTRESSAM Isadora Piovesan Franciscon...........................................................
16
FACULDADE João Marcos Zeni.............................................................................
19
O QUE FAZER AGORA? Lucas Eduardo Hergessel.................................................................
22
VÍCIO NA TECNOLOGIA Luís Carlos Schons............................................................................
25
PEDRA É COISA. HOMEM É O QUÊ? Mariana Bals Dreher........................................................................
27
(DES) AMORES DE ADOLESCÊNCIA Mylena Cooper Fedrigo...................................................................
29
O BRASILEIRO E A CORRUPÇÃO Renan Coradin ................................................................................
33
O QUE IMPORTA Sarah Emili Dal Molin.......................................................................
36
MACHISMO Thalya Vitoria Becher......................................................................
39
OBESIDADE Vitor Matheus Triches da Rosa........................................................
43
QUE FOI, PAI?
Caio Dors Delazzeri
Após mais um dia comum, e até mesmo chato, chego a casa e
sento-me à beira da piscina. Observo meu filho, que logo vem para
ficar ao meu lado, mexendo em seu celular. Ele jogava ao mesmo
tempo em que conversava por mensagens com os amigos. Repetia os
mesmos movimentos: Escrevia algo e logo em seguida voltava para a
tela do jogo.
Vendo aquela cena se repetir na minha frente seis ou sete
vezes, percebi que a modernidade tirou das crianças uma infinidade de
brinquedos e brincadeiras. Minha mãe e meus avós sempre me
falaram que eles observavam a ausência de grupos de meninos e
meninos nas ruas da cidade, e que no tempo deles, as crianças tinham
coisas muito mais simples, mesmo assim, se divertiam muito mais.
Pessoalmente, acho que por ter nascido em um período
considerado de transição entre a época em que achávamos algo no
chão e logo transformávamos aquilo em brinquedo, e a época que se
começamos a comprar tudo em lojas, posso bancar o paizão e tentar
mostrar a meu filho as outras formas de nos divertirmos.
Levantei - me e convidei aquela criança que não parava de
correr os dedinhos na tela daquele aparelho de última geração, meu
filho, sair e tomar um sorvete. Impus uma condição: que deixasse o
celular em casa. Após fazer uma cara de sofrimento e tentar me
mostrar como ele estava insatisfeito, acabou aceitando.
Enquanto dirigia até a sorveteria, prestando atenção no
trânsito, comecei a relembrar de coisas e a contar como foi a minha
infância, enquanto meu filho ouvia-me, curioso:
- Lá pelo ano de 2004 já existiam computadores mas quase não eram
usados. Lembro-me muito bem que vivíamos jogando bola e era raro o
dia em que não nos encontrávamos com amigos fora da escola.
Lembro-me que eu e os meus amigos jogávamos bulita...
Ele logo me interrompeu e pediu o que era bulita. Animado
com aquela conversa e com a oportunidade de passar à minha geração
o sentimento que tínhamos quando criança, como um perito no
assunto, continuei.
- Consistia basicamente em arremessar pequenas bolinhas de vidro em
um buraco ou em uma bola maior e, no final, o ganhador ficava com as
bolinhas do adversário. Nossa! Ainda tenho umas guardadas em casa!
Senti que aquela criança sentada no banco do carro, sorriu com um
olhar atento.
- Naquela época, filho, qualquer coisa se transformava em uma tarde
de diversão. Algumas vezes, alguns amigos iam lá em casa e levavam
algumas coisas, como por exemplo um crachá. E lembro que daquele
crachá inventávamos histórias de que éramos espiões trabalhando
secretamente em um hospital e, passávamos a tarde inteira
“sapateando” pela casa.
Nunca entendi exatamente porque escolhíamos ser espiões
que trabalhavam em um hospital mas, naquela época, um hospital era
o que entendíamos ser um lugar especial.
-Pronto, chegamos!
Estacionei em meio às dezenas de veículos que tentavam parar
no mesmo lugar. Respirei quase que aliviado por conseguir uma vaga.
- Me traz um picolé de chocolate! Disse a ele, já com aquela pressa
habitual.
O menino desceu do carro e entrou na sorveteria. Enquanto
esperava, pensava comigo mesmo como as coisas de hoje em dia estão
diferentes. Até mesmo eu que cresci dessa forma, me adaptei. Não
vejo mais tanta graça naquilo que fazíamos. Os computadores, que por
um lado são maravilhosos por nos ajudarem a respondermos questões
sobre o mundo, não errarmos e sermos exatos, também tiram de nós a
experiência, a oportunidade de sermos criativos.
Após alguns segundos imerso em meus pensamentos, corro os
olhos a procura do meu filho que demorava a voltar com meu picolé
de chocolate e o quê vejo?! Um menino parado em frente ao freezer
mexendo no celular. Supostamente o aparelho deveria estar em casa.
Quando aquele menino volta, após eu esperar uma infinidade de
tempo e estar com cara de pai furioso, olha-me e indaga:
- Que foi pai?
Meu filho não se lembrava do acordo de deixarmos o celular
em casa. E eu, bem... Franzi a testa, liguei o carro, abri meu picolé, dei
uma mordida:
- Pelo menos coma seu sorvete antes que derreta! – Disse,
calmamente, entendendo que aquele pequeno ser ao meu lado era
uma versão mais avançada que seu pai e que o problema, na verdade,
é que não vem com manual de instruções. *
*****
A ARTE DA ARTE ABSTRATA É ABSTRATA?
Gabriel Matheus Engels
Essa semana estava eu navegando na internet e me deparei
com a seguinte notícia: “Sheik árabe paga 20 milhões de dólares por
quadro de duas cores, feito pelo pintor italiano Francesco Mazzio”.
Confesso que fiquei chocado quando vi os zeros, mas não tanto
quanto no momento em que vi o quadro: azul nas partes de cima e de
baixo e branco no meio – se já não o tivesse visto, diria que é a
bandeira de um país.
Um tempo depois, refleti mais sobre o assunto, e quanto mais
conectava as coisas, mais bravo ficava, e de nenhum jeito consegui
ligar os 20 milhões de dólares ao quadro de duas cores. Foi aí que
resolvi entrar em um fórum na internet e compartilhar meu rancor
com outras pessoas – além de fazer uma bela crítica destrutiva à arte
abstrata e aos seus idealizadores. Nesse momento percebi que não era
o único: mais de 400 pessoas estavam comentando no fórum, a
minoria, como era de se esperar, composta pelos “amantes da arte”.
Entretive-me na discussão do fórum por aproximadamente duas
semanas, até que fui bombardeado novamente: “Pintura feita por
macaco é leiloada a mais de 170.000 dólares”. Apesar de ter me
deixado ficar brabo novamente, esta notícia acabou me dando uma
ideia brilhante, e me propus a um desafio: produzir 15 quadros e ver o
quanto ganharia com eles.
Na mesma semana tive uma tarde de folga, tempo perfeito
para fazer as quinze “artes abstratas” que sonhei. Meu plano foi
escolher nove cores diferentes, pegar duas pistolas d’água e enchê-las
com tinta de cores preta e branca, e sete borrifadores, e enchê-los com
as cores restantes escolhidas por mim.
A verdade é que os quadros ficaram mal feitos, porém uma
‘obra-prima’ para as pessoas a quem os venderia. Então os mandei a
leilão.
O resultado foi que arrecadei mais de 3.000 reais, que decidi
doar à caridade – coisa que os “artistas” milionários e preguiçosos não
tiverem a capacidade de fazer.
Uma coisa que é verdade e precisa ser dita é que as pessoas
não estão mais se importando com a qualidade das coisas, mas sim em
agregar valor a elas. Assim, acabam se esquecendo de que as coisas
simples existem e que também devem ser valorizadas. *
*****
LEAGUE OF ADDICTION
Gabriel Thiago de Almeida Titon
Os Jogos eletrônicos cada vez mais ocupam lugar na vida de
muitos adolescentes que acabam saindo do meio social para viver
online, muitos desses jovens se viciam, pois sua vida online é muito
melhor que a social, talvez por falta de amigos ou companhias.
Sexta-feira à noite estava em meu quarto jogando League Of
Legends (um de meus jogos eletrônicos). Quando a partida acabou
resolvi olhar meu Facebook. Logo ao entrar vejo em meu feed de
notícias um post que me chamou a atenção, pois em seu título dizia ‘’
Benefícios e Malefícios dos Jogos Eletrônicos’’.
Li post inteiro. Levante-me da cadeira, dei uma volta pela sala,
fui à cozinha e fiz um lanche breve, apenas uma fatia de pão com
manteiga e um copo de suco. Tudo para poder voltar rapidamente à
frente do computador.
Confortavelmente sentado em frente à tela, reli o título do
post. Apenas o título. Deixei o conteúdo arquivado em minha cabeça.
Na verdade, aquelas palavras agiam como vozes no meu
subconsciente. Deparei-me com uma reflexão sobre o que estava
fazendo e por que o estava fazendo.
Levantei-me, como que se algo tivesse me despertado. Percebi
que a vida é real. Percebi que os jogos eletrônicos nos levam a
realidades surreais, talvez seja esse o maior motivo de seu sucesso.
Quando jogamos, não somos nós mesmos, mas um personagem, que
vive em seu próprio universo, com suas próprias regras e objetivos. Ou
seja, quando jogamos nos desprendemos de nossa atual realidade. Por
algum tempo, nossos problemas desaparecem, a escola não importa, o
trabalho não importa, a família não importa. A família não importa? No
que estava pensando?
Lembrei-me, então, dos objetivos da minha mãe quando ela,
gentilmente, me chama para o jantar. Lembre-me dos objetivos de
meu pai quando ele levanta bem cedo para ir ao trabalho. E os meus?
Como posso pensar que, mesmo que por um período de tempo, sou
um personagem? Nos jogos, nossos objetivos passam a ser os mesmos
do personagem que comandamos. E ao contrário da vida real, nos
jogos os objetivos costumam ser bem delineados, você sabe o que
precisa fazer e sabe que existe um jeito de fazer, a vitória é sempre
possível e eminente, e as recompensas vêm rapidamente. Além de
tudo, os jogos nos incentivam a gastar dinheiro com roupas para os
personagens, novos campeões, desbloquear aquela fase desejada por
todos etc. De acordo com sua condição financeira em determinados
jogos você pode ser o melhor, o mais poderoso demonstrando dessa
forma a superioridade de alguns jogadores e a competição entre eles.
Voltei à minha cadeira, confortável lugar da minha vida real.
Joguei durante algumas horas. Realizei-me pessoal e
profissionalmente, no jogo. Era tarde da noite. Todos estavam
dormindo. Já na vida real, adormeci pensando no jogo do outro dia. *
*****
A NOVELEIRA
Guilherme Marcello Casagranda
Estive pensando sobre as causas do sucesso estrondoso das
novelas na televisão. Arrolei alguns motivos. Lembrei-me de uma
vizinha que tive. Por onde anda a Dona Maria?
Ela nunca perdia um capítulo. Não importava se tinha uma
festa para ir, se tinha uma viagem marcada ou se o sinal da televisão
estava ruim. Sempre dava um jeito de ver a sua novela favorita. Essa
era Dona Maria, uma senhora do subúrbio paulista. Uma viciada em
novelas.
Os seus três filhos sabiam do seu vício, mas nunca se
importaram. Ela era como uma noveleira qualquer, assistia o capítulo
do dia e esperava ansiosa ao próximo. Até que a situação chegou a um
ponto extremo: Dona Maria parou de sair de casa com medo de perder
a novela. Caso precisasse de algo do supermercado ou da farmácia
ligava para o disque entrega. Suas amigas tinham de vir até ela e
faltava a todas as festas de aniversário.
A ciência tenta explicar em todas as suas vertentes a origem
do vício. A verdade é que os vícios de qualquer natureza são refúgios
de quem tem medo de viver, de quem se sente incapaz de superar
dificuldades e perdas incrustadas no passado. E a saída nesses casos é
aprimorar o senso de autovalorização para elevar a autoestima, além
de viver o presente com maior consciência nutrindo sempre o amor
por si mesmo.
Em se tratando de dependência, há grandes possibilidades de
se encontrar medicamentos definitivos e de maior qualidade, que
eliminem o vício em suas diversas formas. Naquele momento foi
necessária uma intervenção. A novela impediu que ela tivesse uma
vida normal. Maria tinha virado uma dependente daquele programa.
Ela negou o seu vício de todas as formas, deu todas as desculpas
possíveis.
Admitir o problema é sempre o mais difícil, ninguém quer ser
conhecido por aquele viciado em novelas. Para ela o vício em novelas
não era real. “Novelas não são como drogas”, era o que ela ficava
dizendo. Ela ainda afirmava que poderia ficar dias sem nem chegar
perto de uma televisão e que sua vida continuaria normalmente, e
dizia que parou de sair de casa porque era muito difícil para uma
senhora da idade dela caminhar longas distâncias.
Todos nós pensamos que para a pobre Dona Maria era tarde
demais, estava a caminho de uma clínica de reabilitação. Como não
existem vícios que não possam ser superados, vimo-la partir, com uma
pequena mala e um olhar desconfiado. O lugar para onde ia era uma
verdadeira fortaleza, nem o mais perigoso dos viciados em drogas
pesadas conseguia escapar de lá. Era o lugar correto para ela se curar.
Minha mãe pôs a mesa. Era hora do jantar. Hora também, da novela.
Mudamos o canal. Intrigado com aquela lembrança, indaguei:
- Mãe, lembra-se daquela nossa vizinha que era viciada em assistir
novelas? Tem notícias da Dona Maria?
- Dizem, se é verdade já não sei, que ela ficou duas horas na clínica.
Quando a novela estava prestes a começar, a coitada estava surtando.
Esse foi o último momento em que alguém a viu. Ninguém sabe como,
mas ela arrumou um jeito de fugir. Nesse momento ela deve estar
refugiada em algum lugar, mas com certeza está assistindo a sua
novela.
Achando graça daquela lembrança, voltamos a jantar. *
*****
NEM TODAS AS NOVELAS ESTRESSAM
Isadora Piovesan Franciscon
Em um dia entediante, que eu não tinha absolutamente nada
para fazer, sentei no sofá e liguei a televisão. Estava passando uma
novela de época, daqueles clichês fáceis de encontrar em todo lugar. A
verdade é que, não só eu, mas as pessoas em geral já estão de saco
cheio de novelas. Pronta para trocar de canal, resolvi dar uma chance a
ela, pois sabia que não iria encontrar alguma coisa melhor que aquilo.
Ao terminar de assisti-la, percebi que estava completamente errada.
Seu enredo tinha tudo o que uma novela de época tem: amor à
primeira vista, de classes diferentes e que sobrevive à todas as
dificuldades, além dos vilões e mocinhos. Porém, ao contrário do que
pensei, isso não era uma coisa ruim. Sua história era simples, mas
cativante.
Algumas horas mais tarde, começou outra novela, dessa vez
uma que se passava na atualidade. Quando chegou ao primeiro
comercial, eu já sabia o que esperar de sua história inteira, pois a
comparando às últimas que me lembro, todas possuem basicamente a
mesma fórmula de enredo: tramas, crimes, como roubos e
assassinatos, tiros, traições, brigas, gritos, e até mesmo um romance,
que tenta “amenizar” a violência apresentada.
Isso não era nada mais que nossa realidade em uma tela de TV.
Vivemos em um período de crimes em excesso, principalmente
corrupção, desigualdades sociais, intolerância religiosa e guerras.
Anterior a ela, noventa por cento do jornal que passava era
exatamente sobre esses assuntos. A novela só serviu como sua
continuação com uma pitada de ficção. É maçante, cansativo e
revoltante, afinal, a população está exausta de ouvir e ver sobre essas
coisas todos os dias, todas as horas. Portanto, não é à toa que a
audiência abaixa a cada dia que passa.
Então, aqui vai apenas um fato que percebi: histórias clichês
prendem muito mais sua atenção do que gritarias e violência. Por quê?
Nenhuma delas é inovadora, mas a novela de época torna-se mais
interessante pois possui um enredo envolvente e com os elementos de
sua narrativa na medida certa, além de transmitir uma essência, um
sentimento de ingenuidade e humanidade. Tudo o que falta nos dias
de hoje. *
*****
FACULDADE
João Marcos Zeni
Em uma tarde de terça- feira, eu estava em meu computador,
quando ouço o telefone tocando, estridentemente, na sala. Fui
correndo atender, disse oi e uma telemarketing de uma universidade
começa a pedir qual eram meus planos para o futuro. Futuro? Pensei
assustado. Respondi que era muito novo para pensar nisso agora, mas
ela insistiu em perguntar se eu era maior de idade. Não entendi a
razão de sua pergunta. Por que tenho que ser maior de idade para
decidir meu futuro? Se ela me ligou, é porque, de alguma forma, sabia
quem eu era. Hoje em dia, todos têm nossas informações. Acho que
devo ter preenchido algumas dessas pesquisas que fazem por aí nos
prometendo livros, revistas e coisas assim. Respondi e dei um jeito de
desligar o telefone. Aquela moça do outro lado só estava fazendo seu
trabalho, mas de certa forma fiquei contrariado com a ligação.
Fui para o meu quarto intrigado com aquela conversa: e eu
sei o que universidade frequentarei? Liguei o computador, abri o
Google. Pesquisei universidades referenciais no Paraná, lugar onde
morro. Procurando, me deparo com um site só de anúncios. Quando
entro, era (não sei como) o site Wikipédia. Alegremente grito:
-Obrigado Google! Foi exatamente isso que pedi!
Voltando a outros sites, achei universidades boas em Londrina,
Cascavel e Maringá. Porém, eu tinha mentido para a mulher da ligação.
Eu já tinha uma ideia do que eu queria cursar, que era algo relacionado
a animais marítimos, mas era bem provável que por perto não teria e a
moça (simpática e de boa voz) teria falado que sou louco.
Abrindo e fechando janelas, lendo, navegando, vendo
anúncios, finalmente encontrei na universidade em Florianópolis, uma
tão sonhada cidade, o curso que pretendo. Chegou um amigo. Fomos
tomar uma coca-cola e a voz da moça do outro lado do telefone já foi
esquecida. Por hora, o presente. *
*****
O QUE FAZER AGORA?
Lucas Eduardo Hergessel
Depois de um exaustivo dia de trabalho, naquele calor infernal,
finalmente estava na hora de ir para casa. A expectativa era a de
chegar a casa e aproveitar o final de semana inteiro assistindo TV e
jogando videogame. Mas, quando cheguei, uma terrível tragédia havia
acontecido: a internet não estava funcionando!
- O que eu vou fazer agora?!
Com tanto tempo de sobra, e sem absolutamente nada para
fazer, me coloquei a pensar e questionar-me sobre coisas que jamais
eu pensaria. Por que estou sem fazer algo? Por que eu não consigo
mais me divertir sem a tão famosa internet? Talvez seja porque eu
estou pagando por um serviço que não me dá retorno, mas eu acho
que é algo mais, eu acho que nos dias atuais nós não conseguimos ficar
sem ela, precisamos nos conectar com o mundo, com os nossos
amigos, nosso trabalho e assuntos de nosso interesse.
A internet acabou se tornando a meio de comunicação e
entretenimento mais popular e importante do mundo. A velocidade
com que as informações são passadas, dá muitas vantagens a nós,
usuários.
Horas se passaram a internet não voltava. Não voltava nunca!
Nunca mais voltava! Estava ansioso. Ansioso não, eu estava irritado!
Numa sexta-feira à tarde (não poderia ser em um dia melhor!) eu
percebi como é difícil passar o tempo sem a internet.
Tudo está de alguma forma ligado (não é à toa que a
chamamos de rede) a web. Por essa ligação tão forte com as
informações e com a comunicação, estamos deixando de lado a
amizade, o contato físico com as pessoas.
Bem, no final daquela noite, eu estava deitado no sofá,
assistindo TV, tomando sorvete, quando percebi que a internet voltou!
- “Ahh, que bom! Agora vamos ao que nos interessa.
E quando estava ligando o meu computador... Bum, a energia
elétrica acabou, o que é outra história... *
*****
VÍCIO NA TECNOLOGIA
Luís Carlos Schons
Tudo pronto: deveres de casa, já levei o cachorro para passear,
lavei meus tênis, uniforme pronto para ir ao colégio amanhã. Hora de...
de jogar on-line! Uhul!
- Nossa! Quase dois anos! Só mais dez dias e completarei 2 anos
jogando isto! Demais! Sou o cara...
Após dedicar-me ao jogo durante algumas horas. Já cansado
vejo (não sei como não tinha visto antes) que existe uma contagem de
tempo. Levo um susto. Disponibiliza um cálculo do número de horas
''perdidas'' com tal atividade. Nem quis ver. Era tarde, precisa dormir.
Desde não muito tempo atrás, o homem começou a ter acesso a
vários apetrechos surpreendentes, e desde então suas formas de se
comunicar nunca mais foram as mesmas. E-mails, telefonemas,
mensagens de texto, tudo. Parece que hoje em dia ninguém sobrevive
sem checar ou atualizar as redes sociais a cada dez minutos. Além de
formas de se comunicar vieram outras formas lúdicas de utilizar estes
apetrechos, jogos, músicas, vídeos etc.
Voltei ao jogo. Na verdade, estava ansioso para jogar. Cliquei.
Cliquei, sim. Resolvi encarar a realidade.
- Aff! Não acredito! Não pode ser verdade!
Minha mãe, assustada, vem correndo ao quarto.
- Mãe, o site diz que desde 1° de novembro de 2013 perdi, pelo menos,
90 dias de jogo continuo! 90 dias!
Calculei mentalmente o que significava isso em horas. Naquele
dia não joguei. Apenas naquele dia. Não parei de jogar. Jogo menos.
Sinceramente, agora jogo pouco. Passei a valorizar mais e melhor o
tempo ''off-line''.*
*****
PEDRA É COISA. HOMEM É O QUÊ?
Mariana Balz Dreher
A mãe sempre chegava do trabalho e se deparava com seu
filho dormindo às seis da tarde, e ficava irritada por ele não ter feito
nada durante o dia todo, só ficava deitado na cama, por horas. Toda
vez que ela o via tinha a mesma discussão dizendo que ele precisava
mudar seus hábitos, e ele sempre argumentava que estava bem e não
precisava de nenhuma mudança.
Agia (dormia) como uma pedra, sempre. Na verdade, as pedras
não dormem, pois só as coisas é que não precisam dormir, mas não
passam de coisas, e assim vamos dormindo perante a coisificação
humana. Pedra é coisa. Homem é o que? Psiu! Silêncio! Não acordem o
povo, deixem dormir como uma pedra e não como homens...
Até que numa dessas repentinas brigas a mãe chega dizendo
que aquela vida dele estava prestes a acabar, que depois que ele
chegasse do colégio não poderia passar o dia dormindo, ficar trancado
no quarto e só sair do quando precisasse ir ao banheiro... Assim que a
mãe conclui seu desabafo e deu uma ordem ao filho, o garoto
responde que ela deveria se acalmar e que na semana seguinte ele
faria tudo diferente, a mãe enfim aliviada pergunta a ele o que ele faria
para mudar, e ele responde:
- Agora vou dormir na sala. *
(DES) AMORES DE ADOLESCÊNCIA
Mylena Cooper Fedrigo
Como todas as gurias, quando eu tinha 13 anos eu tinha uma
paixãozinha, daquelas que o piá sabe que existe, mas mesmo assim ele
não dá bola. Coisa desses meninos da geração.
Eu meio que servia de estepe pra ele, sempre que ele queria
falar com alguém por se sentir sozinho, vinha falar comigo. Nós
marcávamos encontros para dar-nos alguns beijos, mas não passavam
de marcações. Ele me iludia até não poder mais e isso durou mais de
um ano. Eu nunca deixei de acreditar que isso aconteceria e, bom, de
fato nunca aconteceu. Hoje (já sou adulta), pelo menos isso já acabou,
mas quero contar essa história de um dos meus desastres amorosos da
adolescência.
Já dizia o Cazuza: ''Eu quero a sorte de um amor tranquilo com
sabor de fruta mordida.” Tem um fato em especial que me marcou e é
dele que quero falar. Seu nome era Pedro (isso mesmo, Pedro!). Pedro
era bonito, o típico menino que fazia as meninas babarem, cabelo
cacheado, alto, meio engraçado, sempre com um olhar sedutor. Eu me
derretia por ele.
Além disso, tudo, ele tocava guitarra na mesma escola de
música que eu tentava aprender violão. Só pra ficar perto dele. Porém,
Pedro vivia lá por sua paixão por música, ajudava o instrutor, cuidava
do lugar quando não tinha ninguém. Parafraseando Raul Seixas lá
estava eu, “Pedro onde você vai eu também vou. Mas tudo acaba onde
começou.”
Um dia uma amiga minha de uma cidade vizinha veio passar a
tarde aqui. Seu nome era Laura, com certeza ela era mais linda que eu,
não existia um que não pudesse se apaixonar por ela. Fiz a burrada de
apresenta-la ao Pedro. No meu “era uma vez”.... Era início do mês, dia
10, data em que eu tinha que pagar a mensalidade das minhas aulas de
violão. Laura – bela como sempre - estava comigo. Levei-a comigo
para pagar a conta e logo irmos embora. Mas, não esperava que o
Pedro estivesse lá no lugar da secretária pra me atender. Quando
cheguei lá, levei um susto. Apesar de o peito do pé de Pedro ser preto,
eu é que fiquei vermelha, azul, roxa!!! Ele estava lá sentado num sofá e
como não tinha mais ninguém, eu pedi pra ele onde estava a
secretária, ele disse que ela tinha saído e que eu voltasse mais tarde.
Foi aí que o tempo perguntou pro tempo: quanto tempo o tempo tem?
Nesse tempo em que sai de lá pra voltar depois, a Laura não parou de
falar do tal Pedro.
- Ele é lindo! Não! Ele é PER-FEI-TO.
Perfeito era somente o Pretérito das aulas de Português!
Pedro, na verdade, era maravilhoso! Laura e eu fomos fazer um
lanchinho na padaria, próxima ao conservatório, até dar o tempo
necessário para voltarmos e pagarmos a dita conta. Não aguentava a
Laura perguntando:
- O Pedro isso? O Pedro aquilo? Blá-blá...
Chegamos. Voltamos para pagar a conta. Aquele menino lindo
continuava lá. Ele veio ao meu encontro sorrindo lindamente. Queria
conversar. Rapidamente pedi à Laura que saísse (para onde nem me
lembro mais).
Em câmera lenta ele veio ao meu encontro. Eu espera ouvir...
Mas, eu ouvi: quem é sua amiga? Ela tem namorado? E recebi um
balde de água fria! Você sabe o que significa um balde de água fria? Eu
sei. É mais ou menos quando a gente tem uma coisa bem quente no
peito, nas mãos ou na cabeça. Um sonho, talvez. Muitos deles, quem
sabe. E você dá Farinha Láctea Nestlé para todos eles, que vão
crescendo fortes e sadios e, de repente, não mais que de repente, tudo
muda. Aquilo que era quente recebe água gelada. Choque térmico.
Pois bem. Após o banho de água fria, respondi tudo.
Laura e Pedro apaixonaram-se. Foi uma das maiores decepções
que tive na minha vida amorosa, por medo de contar as coisas, eu
acabei arrumando um namoro pra minha amiga, com o menino que eu
gostava. Pelo visto ele não gostava de mim, mas mesmo assim, foi
triste o fato de pensar que fui burra a ponto de apresentar um ao
outro e eles darem certo e eu sobrar pra titia.
Apaixonei-me também. Casei-me. O nome do meu grande
amor? Adivinhem: não! Não é Pedro! *
*****
O BRASILEIRO E A CORRUPÇÃO
Renan Coradin
Semana passada, na sexta-feira, logo que cheguei da aula, sem
nada para fazer, sentei-me no sofá. Não tinha a intenção de ver
televisão. Liguei-a apenas para não ficar em silêncio enquanto utilizava
o smartphone. Vi um título que dizia “Os Brasileiros e a Corrupção”.
Normal. Mas, de certa forma, naquele momento, aquilo me chamou
muito a atenção.
Primeira coisa que eu fiz foi colocar para gravar em um pen-
driver aquele noticiário para mostrar para as outras pessoas
posteriormente. Enquanto o noticiário passava, em minha cabeça eu
formulava um “filme” sobre esse assunto. O que eu achei mais
interessante foi quando falaram que os brasileiros são cegos em suas
escolhas. Tive que concordar. É obvio que algumas pessoas são
manipuladas em suas escolhas.
Quando começou o intervalo fui à cozinha tomar água. Não
conseguia tirar da cabeça esse assunto tão marcante. Voltei assim que
o horário da propaganda acabou. Hora da pior parte: a opinião dos
estrangeiros.
Quando o assunto é praia e cultura (cultura popular) o Brasil é
nota dez. Tudo lindo e maravilhoso sem qualquer problema, mas,
como nada é perfeito, quando o assunto é economia e política o “bicho
pega”, e aquela nota que era dez vai por “água abaixo”. Os
estrangeiros argumentam o porquê dos brasileiros não se revoltarem e
buscarem algo melhor.
Logo que acabou o noticiário resolvi compartilhá-lo em minhas
redes sociais. Em poucos minutos meu post já tinha sido visto por
muita gente foi como uma “chama”. Recebi críticas e ofensas. Também
recebi elogios, como por exemplo, da minha coragem de expor a
minha opinião em público, haja vista que na maioria dos casos as
pessoas que a expõem recebem vaias, mas vivemos em um país
democrático, não é? Muitas pessoas falam que o povo não tem nada a
ver, que quem está no governo sabe o que faz.
Hoje em dia não se fala em outra coisa a não ser sobre a
corrupção. Até aqueles que nem sabe o significado da palavra
corrupção (O verbo "corromper" - do latim e grego - significa tornar-se
podre na calúnia e manter o podre ou caluniado no poder do corrupto
e corruptor) ficam por aí tecendo comentários acerca do assunto.
Infelizmente esses momentos estão se tornando parte da rotina na
vida dos brasileiros. Grandes escândalos administrativos e financeiros
ocupam os noticiários intercalados às receitas culinárias. Exemplos
bons são raros.
Frustração é saber que nós mesmos escolhemos estes
corruptos para nos representar. Frustração maior, é saber que se nós
os escolhemos, também podemos tirá-los do poder, mas não o
fazemos.
Desliguei a televisão. Desliguei o computador. Essa história
(corruptos e corruptíveis brasileiros) não tem fim! *
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O QUE IMPORTA
Sarah Emili Dal Molin dos Santos
Eu ainda não cresci, eu sei que já tenho vinte cinco anos na
cara, apesar da minha mãe insistir em arredondar para trinta e dos
meus alunos jurarem de pés juntos que ainda tenho dezenove. Ainda
não cresci. Simplesmente não consigo aceitar essa possibilidade. Como
pode uma pessoa ser considerada adulta aos dezoito anos, se até hoje
eu nunca consegui responder a famosa frase “o que você quer ser
quando crescer”.
Esse pensamento me veio à tona hoje, depois que cheguei da
escola fundamental onde dou aulas para os alunos com dificuldades
toda quarta-feira. Enquanto ouvia a palestra do diretor sobre o futuro
e quais escolhas tomar, qual faculdade cursar. Logo pensei: ‘’Como
alguém, sem mera experiência concreta de vida, pode ter tanta
precisão sobre seu próprio futuro, com uma simples resposta?”
Quanto mais tempo passa na escola, você começa a entender
que aquelas matérias com as quais tem mais afinidade provavelmente
mostrem características sobre qual profissão seguir, logo as opções
mudam; afinal tudo muda, é uma questão de escolhas. A mudança é
uma das leis inevitáveis da vida.
Não sei quem inventou esse estereótipo que desde criança já
se tem que saber qual carreira irá seguir ou qual carreira lhe dará
maior sustento, conforto. Nem sempre precisamos ter as respostas na
ponta da língua.
As pessoas mudam, os gostos mudam, estamos em constantes
transformações. As estações ainda passam e os pássaros trocam de
plumagem. O tempo não resume o que já passou e o que há de vir.
Mas finalmente chega o dia, em que você entende que as melhores
coisas da vida, não são coisas, não são quantos carros tem ou não na
sua garagem, quanta roupa tem no armário e quanta mordomia seu
dinheiro pode te dar.
Depois desse longo dia reflexivo, aprendi muito e finalmente
chegando a minha casa depois de mais uma semana, mostrando e
ensinando as crianças, que não importa o que você faça, o quanto você
ganhe, aonde trabalhe, com quem more. Ser feliz é o que realmente
importa. Não devemos nos precipitar com coisas passageiras, a vida é
pra ser vivida com intensidade. Só temos uma, e não pode ser feita de
rascunho. *
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MACHISMO
Thalya Vitoria Becher
Em pleno sábado à noite, muito chuvoso, meu namorado e eu
estávamos entediados em casa, comendo brigadeiro e assistindo
televisão. Ele não parava de trocar de canal, não decidia um para
deixar e foi então que tomei o controle de sua mão. Nem bem terminei
de trazê-lo para mim quando de imediato ele falou ‘’Você não pode
ficar com o controle’’.
Fiquei indignada com isso:
- Por que eu não posso ficar com o controle?
- Porque não! Sou eu quem manda.
- Mas você não se decide. Já passou por todos os canais umas mil
vezes! Eu só ia deixar em um. Pode escolher em qual você quer.
- Não interessa. Eu sou homem! Sou eu quem tem direito de ter a
posse das coisas.
Essa atitude dele me deixou impressionada e assustada.
Acabava de perceber que não conhecia direito meu próprio namorado.
Pelo menos não esse seu lado.
Seu comportamento me fez parar para pensar no assunto. Por
que a maioria dos homens acha que tem direito e poder? Por que
acham serem superiores às mulheres? Será isso orgulho? Machismo?
Respirei fundo e fiz esses questionamentos ao meu namorado. Não
obtive argumentos convincentes:
- Não, eu não sou machista! Nem acho que nós homens temos poder
ou somos superiores às mulheres, apenas naquele momento queria ter
controle sob o controle.
Era lógico que estava mentindo. Sem dúvida ele se encaixa nos
meus argumentos. Mas deixei esse assunto baixo, não quis levar
aquela conversa adiante e causar uma briga.
Outro dia, depois de uma semana chovendo, o sol nasceu forte
naquela manhã e então nós dois resolvemos ir à praia. Coloquei o
biquíni por baixo, um shorts e uma blusa aparecendo a barriga, por
cima. Logo que me viu, gritou:
- Aonde você pensa que vai?
- À praia?
- Com essa roupa?
- Se você preferir irei só com o biquíni.
- Pirou é? Essa roupa está muito curta. Seu shorts tem o quê, um
palmo?
- Meu Deus, é só para ir até a praia. Lá eu vou ficar de biquíni mesmo,
o que muda?
- Os homens vão te secar!
- Não tira pedaço olhar, mas afinal, você também está de shorts, e sem
camisa ainda! O que acha de eu não usar a parte de cima do biquíni?
- Mas eu sou homem!
E veio à tona a mesma história daquele dia:
- Tudo bem, eu entendo que você tenha ciúmes de mim, mas já parou
para pensar sobre isso? Todas as mulheres são questionadas por suas
roupas. As pessoas julgam-nas antes de conhecê-las. Chamam-nas de
“piriguetes” se usam roupa curta, mas, chamam-nas de feias, fora da
moda se usam roupa comprida. E quanto a vocês... Saem sem camisa
nas ruas e tudo é considerado normal. Por que as pessoas pensam
assim? Quem foi que disse que tal roupa é isso ou aquilo? Por que os
homens têm mais direitos, são considerados superiores?
- Tá bom meu amor, você tem razão, me perdoa?
- Eu sinceramente estou cansada disso. Essa não foi a primeira e com
certeza não seria nossa última discussão por causa disso. Acho que
nosso relacionamento acaba por aqui. Eu gostava de você, mas não
conhecia esse seu lado.
E foi só por isso que meu relacionamento de três anos acabou.
Mas não foi ‘’só’’ por isso, afinal, esse era um motivo muito importante
que eu estava defendendo. Não me arrependi em nenhum momento
de minha decisão, pra falar a verdade, eu estava muito feliz por ter
explicado a, pelo menos um, homem, que independente do sexo, nós
mulheres temos os mesmos direitos. Ninguém é superior a ninguém e
não é uma roupa que define um caráter. Infelizmente essa é nossa
realidade. *
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OBESIDADE
Vitor Matheus Triches da Rosa
Ontem, numa tarde chuvosa, liguei a televisão para assistir ao
jornal e estava passando uma matéria sobre uma família que sofria
com a obesidade. Percebi como era difícil para essa família fazer coisas
básicas do dia a dia. Vivemos em mundo onde há muito preconceito
apenas porque as pessoas não aceitam diferenças, e só conhecem um
mesmo padrão e, a mesma sociedade que discrimina essas pessoas,
também produz toneladas de alimentos gordurosos e exige modelos
anoréxicas nos desfiles de moda. Isso faz com que as pessoas obesas
estejam totalmente fora do padrão proposto pela sociedade e sejam
vítimas desses alimentos. Eu, pessoalmente, também acho muito difícil
aconselhar uma pessoa acima do peso, pois sempre tem aquele último
pedaço que você não consegue comer e oferece para o seu amigo que
já está acima do peso na esperança de que ele coma e você não tenha
que jogar no lixo apenas para evitar o desperdício.
Então como podemos ajudar essas pessoas se tudo está contra
elas? Incentivar é uma forma muito boa de ajudar alguém a perder o
peso indesejado, e fazer com que ele vença nessa grande guerra sem
fim.
Depois de me perder nos pensamentos enquanto assistia ao
jornal, ouvi algo que vinha das escadas do apartamento ao lado do
meu. Curioso pra saber o que era, coloquei só um olho pra fora da
janela. Era apenas o gato gordo do meu vizinho. *