Como Meditar o Evangelho

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Como meditar o Evangelho IByPe. FausonOctober 28, 2009Beber das fontes de CristoUm dia em que Jesus se encontrava em Jerusalm, participando da grande festa dos Tabernculos, estando de p, exclamou: Se algum tiver sede, venha a mim e beba. Quem cr em mim, do seu interior jorraro rios de gua viva (Jo 7, 37-38).So palavras que lembram uma antiga profecia de Isaas: tirareis gua com alegria das fontes da salvao (Is 12,3).O prprio Cristo explica que essas guas significam o Esprito Santo que haviam de receber os que cressem nele (Jo 7,39). O Esprito Santo, que inundava a alma de Cristo, a luz, o amor, a fora divina que Cristo envia aos coraes dos fiis.H muitas fontes de gua viva (Jo 4,10), que brotam da Redeno realizada por Jesus: os sete Sacramentos, a orao crist, a unio com Deus pelos atos de amor, de caridade Hoje, na nossa reflexo, vamos fixar o olhar apenas numa delas: a meditao do Santo Evangelho, a lectio divina.As quatro fontesVoc conhece bem o rio de guas vivas que o Evangelho? um nico rio formado por quatro fontes: os Evangelhos escritos por So Mateus, So Marcos, So Lucas e So Joo. Encontra-os facilmente em qualquer boa edio da Bblia completa, ou do Novo Testamento, que a parte crist da Bblia.E que guas vivas encontramos nos Evangelhos? Eles narram de modo simples e vivo a vida de Jesus, o Filho de Deus, e nos transmitem a riqueza inesgotvel das suas palavras, dos seus ensinamentos (ver Jo 21,25).Os apstolos chamavam mestre (rabi) a Jesus, mas ele no mais um mestre, nem apenas um grande mestre, nem to s o maior mestre humano. Jesus Deus, o Verbo, o Filho, quer dizer, a segunda pessoa da Santssima Trindade, que se fez homem no seio da Virgem Maria. Lembremos o que nos diz So Joo: O Verbo era Deus Nele havia a vida, e a vida a luz dos homens O Verbo se fez carne e habitou entre ns (cf. Jo 1, 1 ss.). Era explica ainda a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem (Jo 1,9).Esta luz e esta vida so os tesouros as que ns encontramos, como gua divina que apaga a sede da alma, nos quatro Evangelhos (e em todo o Novo Testamento, que , todo ele, irradiao da luz do Evangelho).1)VendoJesus e os Evangelhos nos mostram um retrato ntido de Jesus -, ns vemos Deus. Ao apstolo Filipe, que na ltima Ceia pediu a Cristo que lhes mostrasse Deus Pai, o Senhor respondeu: H tanto tempo que estou com vocs, e ainda no me conhece? Aquele que me viu, viu tambm o Pai (Jo 15,9). Ser que Jesus no nos poderia dizer a mesma coisa?2) Ouvindo(isto , lendo e meditando) os ensinamentos de Jesus no Evangelho, escutamos o prprio Cristo: as palavras que, saindo dos seus lbios e do seu corao, ele dirige pessoalmente a cada um de ns. Se o ouvirmos mesmo, se acolhermos essas suas palavras, a nossa vida mudar. As minhas palavras so vida (Jo 6,64). Os ensinamentos de Cristo sero, dentro de ns, fonte de gua que jorrar at vida eterna (Jo 4,14).A vida que nasce das fontesConvena-se de que a nossa vida precisa, mais do que do ar que respiramos, das palavras de Jesus (e de seus exemplos, que so tambm palavras). S elas nos fazem viver de verdade, s elas nos fazem transformar em vida autntica cada instante da nossa existncia:1) Se tivermos dvidas sobre o caminho a tomar, sobre as solues a adotar, Jesus nos dir: Eu sou o Caminho (Jo 14,6). E, se aprendermos a meditar o Evangelho, no demoraremos muito a ganhar facilidade para captar com a ajuda do Esprito Santo a resposta que Jesus nos quer dar naquele caso concreto: Segue este caminho, faz isso e no aquilo2) Se duvidarmos sobre a verdade, neste mundo de idias confusas e interpretaes divergentes, Jesus nos dir: Eu sou a Verdade (Id.), e, ao meditarmos sobre o Evangelho, far brilhar na nossa alma a luz ntida e brilhante da Verdade que Ele transmitiu sua Igreja e quer fazer irradiar sobre cada um de ns.3) Se sentirmos a vida vazia, se perdermos o sentido da nossa existncia, se acharmos que tudo nos desencanta, que tudo se desgasta, que tudo murcha, Jesus nos dir: Eu sou a Vida (Id.), e, ao meditarmos o Evangelho, nos far ver panoramas de renovao de vida, ideais novos, possibilidades belssimas at ento insuspeitadas. E exclamaremos, comovidos, como So Pedro: Senhor, a quem iramos ns? S tu tens palavras de vida eterna (Jo 6,68).Terminamos aqui esta meditao, que s introdutria, a primeira reflexo sobre como meditar o Evangelho.J vimos que, antes de mais nada, o Evangelho tem que ser meditado com f, com esperana, com a certeza de que Deus nos ama e nos fala. Este a primeira condio, o primeiro como, o modo essencial de meditar.H, alm disso, muitas sugestes prticas, muitas experincias teis sobre essa lectio divina -como a chama a grande tradio crist , que procuraremos transmitir nas seguintes reflexes sobre esse mesmo tema.

Como meditar o Evangelho IIByPe. FausonNovember 17, 2009Na nossa ltima reflexo (Como meditar o Evangelho-I), dizamos que h muitas sugestesprticase experincias teis sobre essa leitura meditada, que procuraramos ver em sucessivas meditaes. Hoje comearemos a falar dessa parte prtica.Para comear, lembremos que as pessoas que esto dando os primeiros passos passos de iniciao na vida espiritual -, podem encontrar-se em duas situaes:1) Pessoas que, mesmo tendo sido batizadas, nunca leram os Evangelhos (a no ser de modo muito espordico e fragmentrio) e no conhecem quase nada da vida de Jesus: no saberiam cont-la aos outros (p.e. aos filhos);2) Pessoas que conhecem a vida de Cristo e j leram os quatro Evangelhos ou boa parte deles talvez na escola, ou na preparao para a primeira Comunho e a Crisma -, mas que depois abandonaram a prtica crist ou passaram a viv-la por mero hbito e rotina sem f viva nem amor e, por isso, esqueceram muitas coisas, e bem pouco aprofundaram.Os primeiros passosSe voc se encontra no primeiro caso, ou seja, se tem de partir quase (ou sem quase) da estaca zero, penso que podem ser teis as seguintes sugestes:a)em primeiro lugar, compre (se no o tem) um exemplar de uma edio correta da Bblia ou do Novo Testamento (aconselhando-se antes), de preferncia uma edio que contenha introdues a cada Evangelho e notas explicativas. Essas notas, em geral, costumam ser breves, mas quase sempre ajudam: por exemplo, as das edies da Bblia da CNBB, da editora Ave Maria, da Bblia de Jerusalm (Ed. Paulinas), da Difusora Bblica portuguesa (publicada no Brasil pela Ed. Santurio, de Aparecida), da Liga dos Estudos Bblicos (Ed. Loyola), etc. Se desejar explicaes e notas extensas de grande valor, voc poder encontr-las no volume Os Evangelhos da Bblia de Navarra, traduzida e publicada pelas Edies Theologica de Braga (Portugal);b)em segundo lugar, como j recomendamos ao falar da meditao em geral, reserve todos os dias um horrio e um lugar bem definidos, e dedique, pelo menos, uns cinco ou dez minutos leitura pausada e meditada do Evangelho. O Catecismo da Igreja Catlica diz: A escolha do tempo e da durao da orao mental depende de uma vontade determinada No fazemos orao quando temos tempo: reservamos um tempocom a firme determinao deno o tomarmos de volta (n. 2710);c)em terceiro lugar(em bastantes casos, isto deveria estar em primeiro lugar), procure adquirir e ler uma boa Vida de Cristo, que muitas vezes precisar ser o primeiro passo necessrio para voc entender os Santos Evangelhos. Eu costumo recomendar a Vida de Jesus de Justo Prez de Urbel, publicada no Brasil pela Ed. Quadrante. Parece-me muito adequada, pela sua clareza, pelo estilo ameno e pelo carter didtico, mas isso apenas uma sugesto pessoal: em matria de preferncias, s se pode dizer eu gostei, para mim foi til;d)em quarto lugar(essa ordem no matematicamente rigorosa!), leia completos, em sequncia, do comeo ao fim, cada um dos Evangelhos no abrindo-os ao acaso nem dando s bicadinhas-, e siga a ordem em que eles se encontram na Bblia: Mateus, Marcos, Lucas e Joo. E, uma vez terminado o ciclo completo, repita-o vrias vezes, do primeiro captulo de Mateus ao ltimo de Joo (isso pode levar anos, o que bom; muitos seguem com proveito esse sistema a vida inteira). Repare que, por enquanto, no estamos falando dos outros livros do Novo Testamento (Cartas de So Paulo, p.e.), pois disso trataremos em outras ocasies;e)em quinto lugar, procure ler tendo uma agenda ou caderninho ao lado, e v anotando a a referncia aos trechos que quer gravar bem, e aos que no compreendeu, para medit-los outro dia ou para poder consultar a algum competente que possa esclarec-lo. Como provavelmente j sabe, os livros da Bblia se dividem emcaptuloseversculose, para anot-los e cit-los, utilizam-se abreviaturas, que as prprias edies da Bblia trazem e explicam; assim, por exemplo, a citaoMc 7,24significa: Evangelho de So Marcos, captulo 7, versculo 24; e a refernciaJo 6,66-71significa: Evangelho de So Joo, captulo 6, versculos 66 a 71;f)em sexto lugar, no se obrigue a ler uma quantidade determinada de pginas ou de versculos por dia. O importante ler devagar, assimilar e tirar proveito. Assim, um dia pode ficar dez minutos lendo, relendo e meditando s dois versculos (veja, p.e., Jo, 13,34-35), e outro dia pode precisar de ler vrias pginas (p.e. Lc 2,1-20, que a descrio do Natal);g)em stimo lugar, no encalhe nos trechos difceis ou desconcertantes, no fique gastando tempo tentando decifr-los, mas passe para os seguintes (anote os difceis, como j aconselhvamos, e pea esclarecimentos a quem conhea melhor a Bblia). Pelo contrrio, pare, medite, releia, saboreie devagar (como quem chupa bala) os trechos que mais lhe toquem ainteligncia(que claro, agora entendo!) e ocorao(porque vai descobrindo a beleza do amor de Jesus, e sente desabrochar o seu amor por Ele);h) isto que acabamos de dizer, o amor a Jesus, o segredo para entender o Evangelho, depois do principal segredo, que pedir luz ao Esprito Santo. Na leitura feita como at aqui explicamos produz-se um crculo virtuoso: pouco a pouco, meditando a vida e as palavras de Cristo, vai-se acendendo a chama do amor. Depois, esse amor desperta a uma grande fome de conhec-lo melhor, e sopra sobre aquela chamazinha amorosa, que cada vez se torna maior. Com o Evangelho acontece como com uma magnfica paisagem que amanheceu coberta de neblina; primeiro, nada se enxerga; aos poucos, o sol vai levantando a cerrao: comeam a ver-se alguns perfis de rvores, casas e montanhas, ainda sob uma luz confusa; mas, horas depois, tudo vai ficando claro, at que, sob o sol sem vus, a paisagem se mostra com um deslumbramento de beleza e esplendor.Os segundos passosOs segundos passos seriam os que devem dar os que como dizamos acima -, conhecendo os Evangelhos, quase os esqueceram e pouco aprofundaram neles. H vrias coisas a dizer sobre isso. Mas, para no alongar esta reflexo, procuraremos oferecer algumas sugestes no prximo captulo: Como meditar o Evangelho-III.

Como meditar o Evangelho IIIByPe. FausonNovember 26, 2009Os segundos passosNa meditao anterior (Como meditar o Evangelho-II), sugeramos alguns conselhos para os que do os primeiros passos na meditao do Evangelho. A maioria desses conselhos tambm podem ser teis para os que querem dar os segundos passos, ou seja, para os que j conhecem os Evangelhos, mas nunca se aprofundaram neles.Como que se nota que j estamos dando os segundos passos? Eu diria que se nota em duas coisas: no espelho e no farol. Bem. Isso precisa de uma explicao, que vamos dar a seguir.O espelhoTudo vai bem quando meditamos o Evangelho com tanto interesse e ateno, que -com a ajuda do Esprito Santo comeamos a ver-nos retratados nele, como num espelho. O que Jesus diz e faz como o fundo brilhante de um espelho, que nos ajuda a enxergar claramente, por contraste, as nossas falhas.Assim, por exemplo, quando lemos as seguintes palavras: No julgueis e no sereis julgados; no condeneis e no sereis condenados; perdoai e sereis perdoados, percebemos duas coisas:a) Jesus vivia assim: no julgava nem condenava, mas compreendia, ajudava, corrigia com carinho e perdoava (leia, p.e. Lc 7,36-50; Jo 8,1-11; Mt 9, 10-13; Lc 15,1-32).b) E eu? Eu sei compreender os outros? Fao facilmente maus juzos? Caio logo na crtica interior e na suspeita? Procuro perdoar quanto antes os que me ofendem?As concluses vm facilmente ao corao e cabea: Jesus vamos dizer ento-, me perdoe tantos maus juzos e crticas! Jesus, me ajude a ver primeiro, como voc, o lado bom das pessoas!Outro exemplo. Leio estas palavras de Jesus: Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles (Mt 6,1), e logo percebo duas coisas:a) Jesus no era vaidoso. Tudo fazia pelo bem dos outros, e detestava o exibicionismo. Por isso, mesmo depois de ter feito milagres, pedia: V que no o digas a ningum (Mc 1,44). E, na Paixo no andou proclamando que Ele era Deus, que morria por ns. Aceitou ser ignorado e desprezado.b) E ns? Agimos da mesma forma quando estamos a ss com a famlia, que na vida social, quando outros nos vem e queremos fazer boa figura aos olhos deles por vaidade? Procuramos fazer o que certo, porque Deus assim o pede, mesmo que os outros nem reparem nem nos agradeam?Logo vemos que h muita vaidade na nossa vida, excessiva preocupao com a nossa imagem, excessivo desejo de ficar bem. E ento pedimos: Jesus, me perdoe a falta de humildade. Me ajude a ter inteno reta e a fazer as coisas bem feitas s porque so as coisas certas, as que Voc me pede e a minha conscincia me indica como meu dever.O farolOutro sinal de que estamos j nestes segundos passos nota-se quando a meditao do Evangelho, alm de ser um espelho que ressalta as nossas falhas, um farol que nos mostra os caminhos do amor e nos incentiva a segui-los, com o desejo de progredir cada vez mais.Voc l, por exemplo, a cena do lava-ps (Jo 13, 2-17), e v Jesus humilde, aos ps dos Apstolos, prestando-lhes um servio prprio de escravos, e dizendo-lhes: Eu vos dei exemplo para que, assim como eu vos fiz, assim faais vs tambm. Se compreenderdes essas coisas, sereis felizes se as praticardes. Neste ponto, pode ser que venha memria alguma coisa que j lemos antes, como aquele trecho do Evangelho em que Jesus nos pede: O que quiser ser entre vs o primeiro, faa-se vosso servidor, ao mesmo tempo em que nos diz que Ele veio ao mundo no para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para redeno de muitos (Mt 20,27-28).Por pouco que meditemos sobre isso, o nosso corao, primeiro, se envergonha e, depois, arde em desejos de mais generosidade: Meu Deus, como fui egosta at agora! Tenho estado quase totalmente voltado para mim, para os meus interesses, para os meus gostos. Eu te peo, por favor, que me ds um corao como o de teu Filho Jesus, generoso, aberto aos demais, pronto para ajudar, disposto a ser til, material e espiritualmente, aos meus irmos.Como num filmeSo Josemaria Escriv, que ensinou inmeras almas a amar e meditar o Evangelho, dizia: No basta ter uma idia geral do esprito de Jesus, mas preciso aprender dEle pormenores e atitudes. E, para isso, dava o seguinte conselho: Quando amamos uma pessoa, desejamos conhecer at os menores detalhes da sua existncia. por isso que temos que meditar a histria de Cristo, porque preciso que a conheamos bem, que a tenhamos toda inteira na cabea e no corao, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de livro algum, fechando os olhos, possamos contempl-la como num filme;m de forma que, nas mais diversas situaes da nossa existncia, acudam memria as palavras e os atos do Senhor.Isso possvel? Sim! Desde que nos decidamos a ler e meditar com perseverana, todos os dias durante alguns minutos, os Santos Evangelhos.Precisaramos de falar ainda de um terceiro passo na meditao do Evangelho. Mas vamos deix-lo para a nossa prxima reflexo.

Como meditar o Evangelho IVByPe. FausonNovember 26, 2009O terceiro passoQuem j achou no Evangelho o espelho do amor e das virtudes de Jesus que nos convida a imit-lo -, e achou tambm o farol que ilumina os caminhos da vida (ver Como meditar o Evangelho-III), no fica satisfeito com isso, tem mais fome: fome de aprofundar no conhecimento e no amor de Jesus. E a que sente a necessidade de dar um terceiro passo.Em que consiste esse novo passo? Consiste na contemplao de Jesus Cristo, que tem, entre outras, estas manifestaes:a) nsia cada vez maior de olhar sem cansao e de aprofundar com amor na figura, na vida e na Palavra de Jesus. Isso era o que fazia, l na sua casa de Betnia, Maria, a irm de Marta, sentada aos ps de Nosso Senhor, sem se cansar de olh-lo e de ouvi-lo (Lc 10,38-42).b) Desejo de viver as passagens do Evangelho, no como coisa do passado, mas como realidades atuais. De viver por exemplo, o Natal, a Paixo de Jesus, a alegria da sua Ressurreio como cenas que esto acontecendo hoje Veja o que nos diz, acerca disso, o Catecismo da Igreja Catlica:- A contemplao o olhar de f fito em Jesus, Eu olho para Ele e Ele olha para mim, dizia o campons de Ars, em orao diante do Sacrrio (n. 2715);-Tudo o que Cristo , tudo o que fez e sofreu por todos os homens participa da eternidade divina, e por isso abraa todos os tempos e em todos se torna presente (n. 1085). Quer dizer que, de uma maneira divina, Jesus nasce agora, vive agora, d a vida por mim agora, uma vez que todos os mistrios da sua vida esto ligados para sempre sua presena real na Eucaristia: Santa Missa e ao sacrrio.c) Fome de falar com Jesus vivo, de lhe dizer que o amamos muito, de agradecer-lhe tudo, de desabafar e chorar reclinados no seu corao, de pedir-Lhe com confiana, de consol-lo, de t-lo como companheiro, tal como os discpulos de Emas (Lc 24, 13 ss.).Como mais um personagemTodos os santos contemplaram assim o Evangelho. Nos nossos dias, um guia experiente para essa contemplao So Josemaria Escriv. Veja como nos ensina a ser contemplativos (falo apenas do que ele comenta sobre a contemplao do Evangelho, pois tambm ensinava a sermos contemplativos no meio do mundo, o dia inteiro).Misturai-vos com frequncia- dizia entre os personagens do Novo Testamento. Saboreai aquelas cenas comoventes em que o Mestre, Jesus, atua com gestos divinos e humanos, ou relata com modos de dizer humanos e divinos a histria sublime do perdo, do Amor ininterrupto que tem pelos seus filhos.O meu conselho acrescentava que, na orao, cada um intervenha nas passagens do Evangelho como mais um personagem. Primeiro, imaginamos a cena ou mistrio, que servir para nos recolhermos e meditar. Depois empregamos o entendimento para considerar este ou aquele trao da vida do Mestre: seu Corao enternecido, sua humildade, sua pureza, seu cumprimento da Vontade do Pai. Depois, contamos-lhe o que nos costuma acontecer nessas matrias, o que sentimos, o que nos est acontecendo. preciso permanecermos atentos, porque talvez Ele nos queira indicar alguma coisa: e surgiro essas moes interiores, o cair em si, essas reconvenes.Exemplos vivosQuer ver alguns exemplos vivos da forma em que So Josemaria praticava essa contemplao? Vou dar-lhe apenas trs, que servem como amostra:1) Meditao do Natal. Metia-se na gruta de Belm e contemplava, pasmado, Jesus recm-nascido, com Maria e Jos. Ento fazia-se criana e introduzia-se dentro da cena. Aproximava-se de Jos, puxava-lhe da manga e lhe pedia que o deixasse pegar nos braos o Menino Jesus: Que bom Jos! Trata-me como um pai a seu filho. At me perdoa, se tomo o Menino em meus braos e fico, horas e horas, dizendo-lhe coisas doces e ardentes! E beijo-O, e O embalo, e canto para Ele, e lhe chamo Rei, Amor, meu Deus, meu nico, meu Tudo!.2) A Paixo de Jesus. Acompanhava Jesus, passo a passo, pela Via dolorosa, bem pertinho de Maria e Joo. E, quando via, por exemplo, Jesus cair pela terceira vez sob o peso da Cruz, rasgava o corao: Meu Deus! Que eu odeie o pecado e me una a Ti, abraando-me Santa Cruz para cumprir por minha vez a tua Vontade amabilssima.3) A Ressurreio. Imaginava-se criana e unia-se alegria indizvel de Nossa Senhora, dos Apstolos, das Santas mulheres, quando Jesus lhes apareceu ressuscitado. E inflamava tambm a alma dos que liam seus comentrios sobe a Ressurreio, incentivando-os a participar juntamente com ele, com palavras como estas: Apareceu a sua Me Santssima. Apareceu a Maria de Magdala, que est louca de amor. E a Pedro e aos demais Apstolos. E a ti e a mim, que somos seus discpulos e mais loucos que Madalena. Que coisas lhe dissemos! Que nunca morramos pelo pecado; que seja eterna a nossa ressurreio espiritual. E, antes de terminar, beijaste as chagas dos seus ps, e eu, mais atrevido por ser mais criana -, pus os meus lbios no seu lado aberto.Que achamos? Que nos falta muito para dar esse terceiro passo? Pois ento aproximemo-nos de Nossa Senhora e peamos-lhe que, como boa Me, nos ensine a contemplar e a viver com Ela as maravilhas da vida de seu Filho.