24

Compassion Portugees 2014 nr1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Compassion is the international magazine of the Sisters of Charity.

Citation preview

Page 1: Compassion Portugees  2014 nr1
Page 2: Compassion Portugees  2014 nr1
Page 3: Compassion Portugees  2014 nr1

Muitos temas relacionados com o que chamamos de ‘atenção plena’ (‘mindfulness’, em inglês) não passam de uma moda. Quem não se lembra do movimento New Age, que agora já passou do seu apogeu? Posso estar enganada, mas, na minha opinião, isso é porque há muito interesse em tudo que tem a ver com a atenção plena. O tema também está incluído na lista de temas tratados nas comunicações do Comitê de Religiosas Neerlandesas. Há algum tempo, ouvi alguns CDs de reconhecidos oradores flamengos que tratavam de assuntos importantes. Entre eles, uma série de conferências de Rik Torfs, um advogado canônico de renome, que hoje também é Reitor da Universidade Católica de Lovaina (Bélgica). O interessante é que ele também defendia a ideia de se viver com um foco mental específico. Aparentemente, na época das palestras, o conceito ‘atenção plena’ ainda não era muito difundido. Seja como for que consideremos o fenômeno, a verdade é que muitas vezes vivemos nossas vidas nos concentrar no momento presente. Não vivemos o ‘aqui e agora’, as nossas mentes estão constantemente planejando algo no futuro ou avaliando o que fizemos no passado. Com frequência, surpreendo-me comendo ou lavando a louça de forma inconsciente, com a mente dirigida à próxima atividade, ou pensando e me censurando por algo que não fiz bem ou por algo que não deveria ter dito. Acho que isso já dá uma ideia do estado da minha mente durante os meus momentos de meditação.

No segundo semestre, a nossa Congregaçãodeverá organizar um ICB em Roma, dedicado aos sinais dos tempos. Na presente edição ainda não exploramos o tema, mas preparamos matérias sobre São Vicente e o seu carisma, sobre a peregrinação de Zwijsen, e sobre como o Brasil celebrou a publicação do livro que nos conta o quanto a expressão da vida religiosa tem mudado nos últimos 50 anos. Também nesta edição o Brasil também faz um relato sobre o Movimento Jovem da Misericórdia; uma das nossas irmãs da Província Neerlandesa recebeu uma condecoração real, e uma irmã que conheceu o nosso Fundador conta como aconteceu esse encontro, há muitos anos, e as impressões que deixou nela. Na página dedicada à meditação visual, encontraremos imagens de São Vicente publicadas em nossa revista. Esperamos que a contemplação visual também agrade aos nossos leitores. Como poderão comprovar, oferecemos, uma vez mais, uma variedade de imagens e artigos, que podem ser lidos e admirador por todos, de acordo com o interesse de cada um, ou até mesmo levar a reflexões e a um estímulo diário. Isto, em si, pode se converter em um exercício para desenvolver a ‘atenção plena’....Esperamos poder oferecer momentos de agradável leitura, e aproveitamos para enviar a todos os mais calorosos cumprimentos do Conselho Geral em Den Bosch.

Ir. Rosa Olaerts, Superiora Geral

Page 4: Compassion Portugees  2014 nr1

CarreiristaAo se ler uma biografia de São Vicente, não se pode deixar de ficar surpreendido com a enorme transformação pela qual passou este homem. Vicente nasceu em 1581, uma época conturbada da história da França. Os seus pais não tinham dinheiro, e desde muito cedo Vicente teve que ajudá-los nos trabalhos do campo. Era bom aluno, e os seus pais insistiram em que estudasse para ser padre. Isto permitiu a Vicente escapar da pobreza dos pais. Aos dezenove anos, foi ordenado padre em Château-l’Evêque. Durante os primeiros anos como padre, poucos eram os sinais de que esse homem viria a se tornar o defensor dos pobres. Quando fazemos um retrocesso da sua vida, aprendemos que Vicente escreveu que muitas vezes sentia vergonha do seu pai, coxo e mal vestido. Mostrava poucos sinais de respeito aos pobres.Se tivéssemos que caracterizar Vicente em linguagem atual, poderíamos descrevê-lo como um carreirista. Optou por se tornar padre, mais do que qualquer outra coisa para se beneficiar das vantagens financeiras que isso representava. Uma missão interessante como padre lhe garantiria uma boa situação financeira. Vicente tentou várias vezes obter um cargo lucrativo, mas perdeu várias oportunidades. Em 1608 Vicente se instalou em Paris: desiludido, pobre e com enormes dívidas.

Por volta de 1610, a vida de Vicente mudou para melhor. Tornou-se esmoler na corte da Rainha Margaria de Valois. Também, conseguiu o que há muito buscava: uma renda garantida na Abadia de São Leonardo de Chaumes. Aos trinta anos de idade, Vicente, filho de uma família pobre, conseguia o êxito com que sempre tinha sonhado.

Três fontes de inspiraçãoDurante o tempo que passou na corte, Vicente conheceu Pierre de Bérulle. Este padre tornar-se-ia o conselheiro espiritual do ainda jovem Vicente. De Bérulle o apresentou ao movimento de renovação espiritual na França. Esses reformadores religiosos se concentravam em Deus e em Jesus, e enfatizavam a importância de padres adequadamente formados. Por causa do seu contato com de Bérulle, Vicente começou a refletir sobre o significado do sacerdócio. Até então, tinha sido principalmente uma forma de assegurar uma renda decente. De Bérulle também foi importante para Vicente por razões práticas. Permitiu que Vicente se tornasse padre em Clichy e, mais tarde, também teve papel instrumental para que conseguisse o seu cargo junto à família Gondi.Através de de Bérulle, Vicente conheceu André Duval, que mais tarde se tornaria o seu conselheiro espiritual. André Duval, por sua vez, se inspirava em Benoît de Canfield (Benet de Canfield). André Duval ensinou a Vicente que não era importante afirmar sucessos e ser inspirado pelos seus próprios desejos. O que importa é aprender a entender a vontade de Deus.Uma terceira fonte de inspiração para Vicente foi Francisco de Sales. Ele lhe transmitiu a ideia de que qualquer um podia aspirar à santidade. Não era preciso seguir todos os tipos de regras complicadas e grandiloquentes, como defendia o seu preceptor Pierre de Bérulle. O que era preciso era uma atitude humilde e benevolente com relação à vida, conforme pregada Francisco de Sales. Vicente extraiu elementos dessas três fontes de inspiração, que mais tarde marcaram a sua vida e o seu trabalho.

No último número de Compassion, oferecemos a oportunidade de visitar os lugares da peregrinação Vicentina no conforto de uma espreguiçadeira. No terceiro trimestre do ano passado, foi organizado um curso Vicentino no centro de encontros de Tilburg, durante o qual vários oradores partilharam a sua visão de São Vicente. Esse mesmo ciclo de cinco reuniões já tinha sido oferecido no centro São Vicente de Paulo em Nijmegen. Franneke Hoeks fez o curso em Tilburg, que lhe serviu de inspiração para estudar a evolução espiritual do Santo. Neste artigo, faz-nos um relato.

Page 5: Compassion Portugees  2014 nr1

Mudança de cursoComo é possível que este homem, que parecia estar totalmente voltado à sua própria carreira, tenha acabado como patrono dos trabalhos de caridade? Em 1617 aconteceu uma mudança drástica no curso na sua vida. Na época, trabalhava para a rica família Gondi. Além de cuidar da educação e dos assuntos espirituais da família Gondi, Vicente também cuidava das necessidades espirituais dos empregados nas terras da família. Certa noite, foi chamado a atender a um moribundo. Ficou chocado com o fato de o homem não ter nenhuma ideia do significado da fé. O homem lhe confessou os seus pecados, quem nunca tinha ousado confessar antes. Vicente reconheceu nele o ‘homem pobre’, que nunca tinha recebido nenhuma atenção de um padre ou que nunca tinha experimentado o amor de Deus. No final da sua conversa com ele, esse homem lhe disse da felicidade de poder abrir o seu coração à beira da morte.Comovido por essa experiência, Vicente passou a pregar sobre a importância e o valor da confissão. Grande parte dos paroquianos logo passaram a se confessar, e Vicente quase não dava conta do trabalho. Em outros lugares por onde pregava, Vicente constatava que as pessoas começavam a aparecer em grandes números para se confessar. Isto fez com que Vicente se convencesse da necessidade do cuidado espiritual no campo.No entanto, após tais experiências, Vicente se sentia cada vez menos à vontade no seu trabalho bem remunerado para a família Gondi. Sentia que algo não estava certo, e queria exercer o seu sacerdócio de forma diferente. Seguindo as recomendações do

seu conselheiro de Bérulle, Vicente tornou-se padre na paróquia abandonada de Châtillon-sur-Chalaronne.Uma das primeiras medidas de Vicente foi reunir os padres da paróquia em um tipo de comunidade. Dessa forma, tencionava reforçar o sacerdócio, utilizando melhor os padres em prol dos interesses dos paroquianos. A forma em que Vicente organizou os padres para o trabalho para o bem da população iria, mais tarde, transformar-se na Congregação da Missão.

Em Châtillon, Vicente, mais uma vez, se deu conta da vida difícil do campo. Em um de seus sermões, Vicente falou de uma pobre família em uma aldeia, com quem ninguém jamais tinha se preocupado. Após a celebração, quase todos os habitantes da aldeia saíram para ajudá-la. Em uma de suas falas, anos mais tarde, Vicente lembrava esse evento com as seguintes palavras: “Eu me encontrava com essas mulheres generosas que se apresentavam em grandes números, e Deus me fez perguntar: Não seria possível encorajar essas mulheres a se entregar a Deus através do serviço aos pobres e doentes?” (CCD IX:166)

Page 6: Compassion Portugees  2014 nr1

Era uma ideia simples, que produziria um impacto enorme. Esse evento encorajou Vicente a organizar o cuidados aos pobres e doentes. Acreditava que as pessoas tinham vontade de ajudar, mas que era importante organizar essa ajuda. Por isso fundou a primeira ‘Conferência da Caridade’, uma

associação feminina de caridade. Foi o primeiro passo na organização dos cuidados aos doentes, pelos quais Vicente de Paulo é conhecido até hoje.

Uma nova forma de vidaem conventoQuando a Madame de Gondi pediu ao seu conselheiro Vicente que voltasse a Paris, ele aceitou, sob a condição de que tivesse tempo suficiente para realizar as suas tarefas pastorais. Naquela época, a França estava frequentemente envolvida em guerras, e Vicente sabia, por experiência própria, que os cidadãos mais pobres eram os que mais sofriam a incessante violência de uma guerra.Vicente mostrou-se excelente organizador,

utilizando a sua influência para dirigir a atenção da nobreza e da alta classe média à lamentável situação da população francesa. A sua estória provocou uma ressonância positiva. Ao lado de Louise de Marillac, uma viúva, filha de uma família poderosa, Vicente conseguiu unir a elite feminina da França sob a denominação de ‘Damas da Caridade’. Essas associações eram coordenadas por senhoras que Vicente tinha convencido a doar o seu tempo e, principalmente, o seu dinheiro para apoiar os menos favorecidos no seu meio. Mas elas, muitas vezes, confiavam esse trabalho aos seus empregados.Vicente percebeu que precisava de mais pessoas para realizar a enorme quantidade de trabalho que tinha pela frente. As mulheres ricas preferiam não sujar as próprias mãos. Junto com Louise de Marillac, iniciou então a formação das primeiras irmãs da caridade, em 1633; essas irmãs eram algumas das empregadas que tinham sido enviadas por suas ricas patroas para a tarefa, e que mais tarde se transformariam na Congregação das Filhas da Caridade.Ele pediu às ‘Filhas’ que fizessem um voto com a duração de uma ano de cada vez, e essas mulheres viviam em casas normais, ao contrário do que faziam outras religiosas aquela época. Assim, Vicente queria evitar o que tinha acontecido com Francisco de Sales e as suas Irmãs da Visitação, isto é, que Roma as obrigasse a começar a viver em um convento fechado.

Page 7: Compassion Portugees  2014 nr1

Vicente queria algo novo: mulheres religiosas que não vivessem por trás das paredes de um convento, mas que simplesmente vivessem com o povo. Ele estava convencido de que Deus podia ser encontrado na convivência com os pobres, ao passo que as paredes do convento imporiam uma distância entre as suas ‘filhas’ e Deus. “Os seus hospitais servirão de conventos; a sua cela será um cômodo alugado; a paróquia é a sua capela; os corredores do convento são as ruas da cidade e as alas do hospital; a clausura é a obediência; as grades das janelas são o seu temor a Deus, e o seu véu é a modéstia sagrada.” Com essa ideia de mulheres religiosas vivendo entre os pobres, Vicente lançou a base de uma vida religiosa totalmente nova para as mulheres.

Defensor dos pobresVicente é frequentemente mostrado como um padre rodeado de crianças nos seus braços e/ou nas suas mãos, pois a atenção às crianças também foi um dos aspectos que mais enfatizou. Assinalava o efeito destrutivo das guerras e a pobreza, e era consciente do fato de que as crianças constituíam o grupo mais vulnerável. Nas ruas de Paris, muitas vezes, se deparava com crianças abandonadas, a quem acolhia. Talvez esse tenha sido o aspecto mais marcante de Vicente: não foi um reformadorespiritual notável, mas conseguiu inspirar e ser um homem extremamente prático.

Não se pode resolver as necessidades das pessoas apenas com boas intenções e belas palavras; a situação também requer atuação prática.

O bem estar espiritual e material se consegue com palavras e ações. Vicente não considerava o trabalho com os pobres apenas uma atividade socialmente relevante as, antes, uma forma mito concreta de se seguir os passos de Jesus e de se proclamar o Evangelho. Na verdade, São Vicente tinha a certeza de que Deus se encontrava entre os pobres. “Não perdeis nada, irmãs, por deixar a oração ou a Eucaristia para atender aos pobres pois, ao servir aos pobres, estareis se aproximando de Deus.”

As ilustrações usadas neste artigo são detalhes de estórias em quadrinhos francesas sobre São Vicente.

Page 8: Compassion Portugees  2014 nr1
Page 9: Compassion Portugees  2014 nr1
Page 10: Compassion Portugees  2014 nr1

Alguns anos após a fundação do Movimento da Misericórdia no Brasil, foi a vez do Movimento Jovem da Misericórdia se instalar. A Ir. Ursula van de Ven, uma missionária holandesa que vive no Brasil, fala deste Movimento Jovem.

As origens do movimento Teremos que retroceder até 1987 para encontrar as primeiras ideias que, mais tarde, se concretizariam no Movimento da Misericórdia no Brasil. Naquele ano, as Irmãs de Caridade SCMM daquela Província começaram a pensar na possibilidade de associar leigos ao seu trabalho. Tudo começou com Ana Elias, que tinha sido noviça com as irmãs, mas teve que voltar para casa para cuidar dos seus pais idosos. Passado algum tempo, Ana Elias, que já não podia voltar como religiosa, perguntou se podia unir-se às irmãs para orar com elas.A partir de então, vinha todas as segundas-feiras de manhã à casa das Irmãs em Santa Rita para orar com elas. Orientada pelo seu

conselheiro espiritual, mais tarde perguntou se poderia fazer votos privados como leiga, pois queria fazê-lo na nossa Congregação. E, assim, fez os votos privados no Domingo de Pentecostes, em 1989.O ritual se repetiu todos os anos e outras pessoas também se interessaram. Pouco a pouco, criou-se um grupo de pessoas em Santa Rita, e começaram a chamar-se associados. Todos tinham sido atraídos pela espiritualidade e pelo carisma das Irmãs de Caridade SCMM. Em outros locais onde as Irmãs viviam e trabalhavam, as pessoas começaram a querer se associar ao carisma das Irmãs de Caridade. Desta forma, o grupo de associados foi crescendo até se tornar um autêntico movimento; os seus membros se autodenominaram Movimento da Misericórdia. Ana Elias é considerada a fundadora do grupo de associados e, consequentemente, do Movimento da Misericórdia.As Irmãs apoiavam os membros do movimento, mas também o movimento passou a apoiar as Irmãs! Todos os membros estão ligados às Irmãs de alguma forma; por exemplo, através das Comunidades

Adultos partilhando experiências em um grupo

Page 11: Compassion Portugees  2014 nr1

Eclesiásticas de Base, do trabalho pastoral, dos cuidados para com as mães e crianças, ou das atividades da Fundação Dom Hélder Câmara. É preciso lembrar que atualmente há também algumas pessoas que querem manter laços ainda mais estreitos com as Irmãs, e que agora gostariam de se tornar verdadeiros membros da Congregação.

Atenção aos jovensOs membros do Movimento da Misericórdia oram pelas vocações em nossa Congregação, e estão envolvidos constantemente na promoção das vocações. Até 2008, as Irmãs acreditavam no valor da pastoral das vocações através das tradicionais reuniões para meninas interessadas na vida religiosa; a partir de um determinado momento, no entanto, perceberam um contínuo declínio na participação e no interesse.Era preciso encontrar os jovens de uma forma mais direta. As Irmãs começaram, então, a pensar em um novo método, diferente do que se vinha adotando até então. Havia uma participação significativa de jovens no Movimento da Misericórdia. Por isso, as Irmãs decidiram falar diretamente a esses jovens e, em especial, àqueles que já eram membros do Movimento há algum tempo.Então, aconteceu uma mudança radical na pastoral das vocações. No segundo semestre de 2010, as Irmãs da equipe das vocações realizaram uma reflexão sobre planos para o futuro, e começaram a pensar em um Movimento da Misericórdia para os jovens. Decidiram reunir-se com os jovens e ouvir a sua opinião. O primeiro passo foi uma reunião com os jovens na Várzea Nova, para

saber o que pensavam sobre as propostas, e como achavam que o Movimento poderia ser organizado. Depois de um longo e construtivo debate, parecia que tinham alcançado um resultado positivo. No mesmo ano, as Irmãs decidiram buscar orientação, e convidaram uma jovem do Movimento da Misericórdia de Santa Rita para lhes ajudar.Começaram então a refletir sobre o propósito, estrutura, método e, naturalmente, um nome para o Movimento. Foi escolhida a denominação: Movimento Jovem da Misericórdia (MJM). O propósito do MJM é divulgar o carisma da misericórdia entre os jovens. O seu slogan é: inspirados pela misericórdia.

O Movimento Jovem O MJM é formado por jovens de quatro locais onde existe o Movimento da Misericórdia: Santa Rita, Várzea Nova, Heitel Santiago e Bayeux. As Irmãs da nossa Congregação

também vivem ou costumavam viver nesses locais. O Movimento permite aos jovens aderir a partir dos 15 anos de idade, mas os mais jovens também podem aderir na qualidade de ser pré-candidatos a partir dos 13 anos.A primeira reunião oficial do MJM foi realizada em 2012, quando se decidiu o propósito e a estrutura organizacional do MJM. A formação

Um grupo ou ‘tribo’ de jovens brasileiros

Page 12: Compassion Portugees  2014 nr1

O Movimento Jovem da Misericórdia

Em uma das reuniões, em junho de 2012, a espiritualidade foi o tema principal. Falamos principalmente da leitura orante da Bíblia, que nos deu uma oportunidade de viver a oração de uma maneira diferente da que estávamos acostumados. Nessa reunião aprendemos que a leitura orante da Bíblia leva ao silêncio, à reflexão e, em seguida, à ação. Uma leitura reflexiva, guiada pelo Espírito, nos coloca em diálogo com Deus. É por isso que é bom planejar tais orações como parte da sua vida, para que realmente possa viver essa experiência. Para mim foi uma experiência enriquecedora, pela qual nunca tinha passado na minha vida, e que me aproxima de Deus.”É muito importante para esses jovens participar de movimentos que existem especialmente e exclusivamente para eles. Os movimentos lhes oferecem um espaço para a reflexão e para conhecer outros jovens, com quem podem ter a experiência da misericórdia que lhes inspira a servir. As Irmãs que, por sua vez, também vivem com o carisma do amor misericordioso, admiram a forma em que esses grupos de jovens se desenvolvem. O Movimento pertence ao jovens: é o seu espaço, onde podem buscar o sentido da vida e a sua vocação enquanto cristãos batizados.

no MJM consiste em quatro componentes: espiritualidade da misericórdia; formação política e cultura; ação baseada nos trabalhos de caridade e vocação. Cada um dos componentes é gerido por um coordenador

que lidera e modera as atividades.Para que seja possível promover uma boa organização e uma comunicação eficaz entre os grupos, cada grupo possui o seu próprio nome e um contato. Os jovens sugeriram que cada grupo recebesse o nome de uma das tribos de Israel. A partir de então, os vários grupos começaram a ser chamados de ‘tribos’. As tribos se reúnem individualmente todos os meses. E, a cada três, meses, todas as tribos se reúnem em um grupo de aproximadamente 40 membros.

A importância do Movimento para os jovensUm dos membros do MJM reatou o que sente sobre as reuniões: “O Movimento Jovem da Misericórdia deu novo sentido à minha vida.

Page 13: Compassion Portugees  2014 nr1

Kerkdriel

Para realizar a peregrinação segundo a cronologia da vida de Joannes Zwijsen, devemos começar por Kerkdriel. Ele nasceu aqui, a 28 de agosto de 1794, filho de um moleiro. Kerkdriel fica ao norte de ’s-Hertogenbosch, às margens do rio Meuse. Quando Zwijsen tinha onze anos, a família se mudou para Berlicum, onde o pequeno Jan fez a sua Primeira Comunhão. O padre local achava que Zwijsen tinha potencial, e pediu

que a família o enviasse à escola. Jan foi para o internato francês de Reek, próximo de Ravenstein, e ali ficou dois anos. Queria ser padre, e por isso foi para a escola de Latin em Uden, e depois para a escola de Helmond. Em outubro de 1810, depois de terminar os estudos, Zwijsen começou a formação para padre em Sint-Michielsgestel, no seminário de Herlaer. Em 1817 Zwijsen foi ordenado padre na catedral de Rombouts em Malines.

Igreja de ‘t Heike

A próxima parada deste circuito é Tilburg. Foi aqui que Zwijsen trabalhou como assistente do padre da paróquia de ‘t Heike. Um ano mais tarde, em 1818, foi nomeado cura de Schijndel, onde permaneceu durante dez anos. Em seguida, foi padre em Best. Em 1832 Zwijsen voltou para Tilburg, onde foi padre de ‘t Heike. Naquele mesmo ano, decidiu criar ‘uma instituição de caridade’ para educar as crianças pobres da paróquia. Por isso queria criar uma casa para treze irmãs. Em 23 de novembro de 1832 as primeiras três irmãs iniciavam o seu trabalho em uma casa degradada. Zwijsen mandou construir a casa paroquial frente à igreja.

Na edição anterior de Compassion foi possível acompanhar-nos na peregrinação por imagens pelos vários lugares da França que lembram a vida de São Vicente de Paulo. No entanto, os peregrinos que chegam de diferentes países para empreender esta viagem dos Países Baixos cumprem primeiro a peregrinação de Zwijsen. Trata-se de um circuito muito mais simples, que pode ser completado em um dia, ainda que a visita inclua dois países. Neste artigo, também poderá empreender esta peregrinação em palavras e imagens, sentada na sua confortável poltrona, independentemente de onde se encontra do mundo.

A casa de Kerkdriel, onde Zwijsen nasceu, e que já não existe

Page 14: Compassion Portugees  2014 nr1

Hoogstraten

As primeiras três irmãs, segundo se sabe, eram beguinas do Beguinário de Hoogstraten, aprox. 40 quilômetros ao sul de Den Bosch, na Bélgica. Na revista Compassion, número 2013/3, publicamos um relato sobre essas mulheres que foram as primeiras Irmãs da Caridade. A Casa Mão de Oude Dijk

Em maio de 1833, as primeiras três ‘irmãs’ (que ainda era beguinas) se uniram a outras três irmãs e se mudaram para uma casa maior. Em 5 de fevereiro de 1834, fizeram os primeiros votos em uma cerimônia na paróquia de ‘t Heike. Três meses depois, as irmãs se mudaram para a ‘casa com treze celas’ que Zwijsen tinha construído para elas e Oude Djik, ao lado da nova escola para as irmãs. Essa é a próxima parada da peregrinação de Zwijsen. As primeiras duas casas já não existem, mas ainda se pode visitar a imponente Casa Mãe da Congregação. Zwijsen teria preferido não aumentar o número de treze irmãs, mas cedeu ao pedido de Delft. Durante a sua vida, foram fundados 76 conventos das Irmãs da Caridade.

Meersel

Zwijsen também fundou a Congregação dos ‘Irmãos de Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia’ em 1844. As irmãs, que tinham começado a trabalhar em um orfanato para meninos e meninas na Casa Mãe, tinham muitas vezes dificuldades em lidar com os rapazes mais velhos. Embora Zwijsen se preocupasse com as responsabilidades e o peso da fundação de mais uma congregação, entendia que o Senhor queria que fosse adiante com o plano. Encontrou três homens preparados para assumir a tarefa, e os enviou primeiro para os Trapistas de Meersel, na Bélgica, para que completassem o seu noviciado. Enquanto isso, Zwijsen se ocupou da construção de uma casa em Tilburg para os primeiros três irmãos e para meninos órfãos, que se mudaram para a casa em 1845. A Congregação se expandiu rapidamente em Tilburg e em outros locais. Hoje, o mosteiro de Meersel é ocupado por frades Capuchinos, mas uma cela original foi conservada como era no tempo dos três noviços.

A ‘casa com treze celas’

Page 15: Compassion Portugees  2014 nr1

A Casa Gerra

Dois anos mais tarde, em 1842, Zwijsen foi nomeado Bispo de Gerra, depois de ter dedicado dez anos de trabalho em ‘t Heike. ‘Gerra’ é uma antiga diocese que já não existe; o título foi conferido a ele quando se tornou Bispo de Den Bosch. E durante algum tempo, Zwijsen também continuou a trabalhar como padre de ‘t Heike. Em 1853 mandou construir a casa de Gerra, localizada em um ponto prático, na estrada entre Tilburg e Den Bosch. Em 1863 Zwijsen sobreviveu uma tentativa de assassinato durante um assalto à Casa Gerra. Os detalhes do acontecimento foram publicados em Compassion, número 2010/3, onde se relata a vida e o trabalho de Zwijsen. Em 1877, depois da morte, por causas naturais, de Zwijsen, a casa continuou durante anos em mãos dos religiosos; em 2009, no entanto, foi adquirida por uma empresa imobiliária.

St. Janskathedraal

Em 1851 Zwijsen se tornou vigário apostólico (na verdade, diretor) da diocese de Den Bosch. Em 1853 também foi nomeado Arcebispo de Utrecht. A partir da casa de Guerra, conseguiu administrar as dioceses de Utrecht e Den Bosch durante anos, sem no entanto se afastar dos irmãos e irmãs. Continuou com Arcebispo de Utrecht até 1868, e governou a diocese de Den Boschaté a sua morte, em 1877. Em 1879 foi

levantado um monumento comemorativo de Zwijsen na Catedral. O jornal Roermond o descreve assim, em 15 de março de 1879: “O monumento foi construído em estilo gótico, de acordo com um projeto do arquiteto da Catedral, L. Hezenmans; as imagens foram criadas pelo reconhecido escultor Geld, e a placa de cobre dourado com as inscrições foi produzida nas oficinas de van Rijswijk, em Antuérpia. No centro, vemos São João Batista, patrono do Monsenhor Zwijsen, e, embaixo, as suas armas: ao lado da imagem há dois anjos com o escudo da Arquidiocese de Utrecht e da Diocese de Den Bosch; ao lado dos escudos, há dois querubins, símbolos do lema do Monsenhor, ‘mansuete’ (gentil), e a cruz e os carneirinhos, ‘fortiter’ (com firmeza), no lado esquerdo: com a espada e o leão.”

O monumento na catedral não está mais presente

Page 16: Compassion Portugees  2014 nr1

O Cemitério de OrthenOrthen fica na Paróquia de Den Bosch, que tinha um governo próprio, na época. Em 1858 foi construído um túmulo naquele cemitério. Zwijsen morreu na terça-feira, 1 de outubro de 1877, aos 83 anos. Alguns dias mais tarde foi enterrado em Orthen, depois dos serviços fúnebres, em que foi descrito como: “um homem verdadeiramente grande na sua simplicidade e, principalmente, pela suadiscreta dignidade”. No início, o túmulo de

Zwijsen era uma campa simples, de cimento, ao lado dos túmulos das Irmãs. Em 1882, no entanto, as Irmãs mandaram construir uma capela em memória do Monsenhor Zwijsen. O corpo do Mons. Zwijsen foi transladado à cripta da capela. Até hoje, os restos mortais de dignitários católicos são enterrados nesse mesmo lugar.

Os nossos agradecimentos a Peter van Zoest pela foto de Meersel

Page 17: Compassion Portugees  2014 nr1

Recentemente, nossa Edição recebeu um relatório especial da Irmã Lilian Turlings e da Sra. Lilianne Hecker, dos Arquivos Gerais. Os arquivos continham um texto do extraído da publicação het Congregatieklokje (= Pequeno Sino da Congregação) antecessora antiga de Compassion, de maio de 1952. No artigo, uma irmã já de idade avançada relata os encontros com o Mons. Zwijsen na sua juventude. Abaixo, publicamos uma versão editada da sua estória, depois de uma introdução à vida dessa Irmã, do número de 1952. A Irmã Lilian Turlings e Sra. Lilianne Hecker, dos Arquivos Gerais, e a Irmã Corneline Wouters e Thessa Ploos van Amstel também pesquisaram o tema e oferecem algumas informações sobre eventos, pessoas e lugares mencionados pela Ir. Anastasie.

No dia 18 de março de 1952, a irmã mais idosa da Congregação, que no ano passado tinha celebrado o seu Jubileu de Diamante, foi chamada ao céu. Trata-se da Ir. M. Anastasie van Bers, de 95 anos. Era a única irmã que tinha conhecido e conversado com o nosso grande Fundador, que ainda vivia. Durante anos, a Irmã Anastasie foi a diretora do internato em Oerle. Foi uma excelente professora e uma educadora muito respeitada, sem deixar de ser a irmã alegre da comunidade, que sabia utilizar os seus talentos durante as celebrações do convento. Depois de se aposentar, continuou a ajudar na escola enquanto foi possível. No entanto, tinha merecido o seu descanso, e por isso a Ir. Anastasie se mudou para Moergestel, onde pode se preparar para a longa viagem. Que ela descanse em paz.Sempre nos interessamos por tudo o que se relaciona com o nosso Fundador; por isso, a nossa queria Mãe, Leonie, que na época era a Superiora Geral, pediu à Ir. Anastasie que deixasse registrado no papel aquilo de que se lembrava sobre o Monsenhor. Este é o seu relato, ao qual as editoras e os Arquivos Gerais acrescentaram algum material de fundo.

Suas primeiras recordaçõesA Ir. Anastasie, Anna Marie van Bers, nasceu em ’s-Hertogenbosch no dia 24 de janeiro de 1857, onde viveu até entrar para a Congregação em 1876. “O Monsenhor Zwijsen nos visitou em casa uma vez. O Mons. tinha ido visitar a família Diepen1, que vivia na casa diagonalmente oposta à nossa. Não sei bem como aconteceu, mas o Mons. entrou para conversar conosco, e logo se foi.Sempre que se tinha que levar alguma coisa da nossa casa à casa do Bispo, era sempre eu quem ia, e por essa razão conversei muitas vezes com o Mons.Uma vez estava visitando a família van der Does de Willebois2. A Sra. van der Does de Willebois-Luyben, uma irmã do Ministro Luyben, era sobrinha do meu pai. Estávamos conversando quando a campainha tocou. A empregada entrou e disse: “Senhora, o Monsenhor está no hall de entrada.” A senhora se levantou para trazer o Mons. até a sala. O filho, Jozef3, perguntou “E o que eu faço, se tenho que ir a uma reunião?... Já sei!” Ele abriu a janela para pular para o jardim. Mas ficou preso em um prego. O Monsenhor entrou na sala naquele mesmo instante, entendeu o que se passava, e disse: “Josef, Josef, as suas calças, as suas calças!”

Diplomadas da escola de formação de professores em 1913

1 Esta é, provavelmente, uma referência aos membros da família Diepen, incluindo o pai George, um político, e o filho Arnold Frans, que foi padre a partir de 1884 e Bispo de Den Bosch entre 191 e 1943. 2 Esta é uma referência a Joannes Maria Benedictus Josephus van der Does de Willebois, pai, diretor da Maatschappij van Brandverzekering voor het Koninkrijk der Nederlanden, (empresa de seguros do Reino dos Países Baixos), conhecida como “De Groote Bossche” e a sua mulher, Antoinette Cecile Marie Luyben.3 Referência ao filho Jozef, cujo nome completo era Petrus Josephus Johannes Sophia Maria van der Does de Willebois, e quem, mais tarde, se tornaria prefeito de Den Bosch.

Page 18: Compassion Portugees  2014 nr1

ExameAlguns anos mais tarde, fui trainee de professora com as Irmãs. A Irmã Octavie (Ir. Octavie Dericks, n.e. era a diretora da escola de formação de professoras4 e a Ir. Céline (Latour, n.e.) e outras irmãs ensinavam naquela escola. O Sr. de Vlam5 de Eindhoven também vinha algumas vezes por semana para nos dar aulas. Passámos a última parte do curso em Stratum para aproveitar ao máximo as suas aulas6. Éramos oito a nos preparar para o exame, duas irmãs e seis trainees de professoras.Quando se aproximava a data do exame o Sr. de Vlam disse que não permitiriam que as oito alunas fossem aprovadas; quatro seriam reprovadas. Por isso, tinham decidido que quatro de nós fariam o exame em Den Bosch, e a outra metade em Maastricht. Eu pertencia ao grupo de Maastricht, juntamente com duas irmãs e aquela que mais tarde seria a Ir. Celine Verluyten. Nós, as duas trainees,

dormimos na mesma cama em Maastricht, e passámos a noite rindo juntas. Nos perguntávamos: “Como é que vamos nos sair amanhã?” No entanto, apesar do nosso cansaço, tudo acabou bem, e pudemos voltar para casa em Den Bosch. Logo depois as outras quatro trainees fizeram o exame e todas passaram também. E todas fomos para Hinthamereind7. . Era lá que o Monsenhor geralmente visitava depois dos exames. Dessa vez, no entanto, recebemos uma mensagem: o Monsenhor nos parabenizada e, por causa da sua saúde, pedia que fôssemos nós a ir até ele. A Superiora de Den Bosch (provavelmente a Superiora da Comunidade, n.e.) foi conosco. Ele abençoou a cada uma de nós com as seguintes palavras: “Muito bem, minha filha, também está aqui? E que nota você tirou em holandês, e o que perguntaram? E como você respondeu?”

Profissão perpétua em 1913

6 Na época, Stratum era uma aldeia de agricultores próxima de Eindhoven na parte sul dos Países Baixos. Só em 1920 é que Stratum, juntamente com outras aldeias, foram integradas a Eindhoven; desde então, é parte daquela cidade.7 O Sr. Jan Jozef de Vlam era encarregado da escola de formação de Stratum, que tinha sido fundada em 1868. As Irmãs que estudavam para ser professoras recebiam a sua formação em Stratum; as moças trainees continuavam em Tilburg, sob a supervisão da Ir. Octavie. Em 1881 as irmãs também voltaram para Tilburg, onde o Sr. de Vlam se tornou encarregado da escola de formação de professoras.

4 Em 1852 as Irmãs fundaram o ‘educandário’ para garantir a formação ideal das professoras. A escola de formação de professoras era destinada a ‘moças com boa cabeça e com interesse em entrar para o convento.’ Desde a sua fundação, a Ir. Octavie foi a diretora da escola.5 O Sr. Jan Jozef de Vlam era encarregado da escola de formação de Stratum, que tinha sido fundada em 1868. As Irmãs que estudavam para ser professoras recebiam a sua formação em Stratum; as moças trainees continuavam em Tilburg, sob a supervisão da Ir. Octavie. Em 1881 as irmãs também voltaram para Tilburg, onde o Sr. de Vlam se tornou encarregado da escola de formação de professoras.

Page 19: Compassion Portugees  2014 nr1

Mundial, passou 2 anos em Helmond, onde trabalhou na Casa escolar 10. Depois da guerra, em setembro de 1945, voltou para Oerle, onde passou mais um ano, antes de se instalar em Moergestel, no final de 1946. Lá faleceu, em 18 de março de 1952, na idade madura de 95 anos.

Logo depois uma empregada bateu à porta para dizer que tudo estava pronto. O Monsenhor nos acompanhou ao salão, que estava lindamente iluminado. O Mons. se sentou à cabeceira da mesa. “Madre Superiora”, disse o Monsenhor, “é melhor abrir aquela garrafa, caso contrário ninguém vai poder beber. Por favor, Madre, não queremos mesquinhez por aqui, encha as taças até a borda!” Depois daquele dia tivemos algumas semanas de férias, e depois, em St. Stanislaus, recebemos o hábito (entrada na Congregação como postulantes em 13 de novembro de 1876, n.e.).

NoviçaComo noviça,8 trabalhava na escola de manhã, e às duas horas às vezes tinha que ajudar nas salas. Tudo tinha que ser lavado nas salas. Quando sabia que o Mons. estava em casa, pensava que seria muito divertido se ele passasse por lá. Quando ouvi o som dos chinelos se aproximando, fingi não perceber que era ele. Mas o Monsenhor parou ao meu lado, e então eu tive que olhar para cima e pedir a sua benção. Ainda me lembro da suas meias roxas.Ele perguntou, “Quem é você?” “Ir. Anastasie, Monsenhor”, respondi. E ele disse, “Sim, mas isso não me diz nada.” E eu respondi: “Marie van Bers, Monsenhor.” E ele disse, “Oh, filha, é você? Como você cresceu, já não reconhecia você. Venha comigo à sala um momento.”Ele me permitiu que me sentasse, e me fez muitas perguntas. Quando o relógio deu três horas, disse: “Tenho que ir, Monsenhor.” E ele respondeu: “Claro, você está pensando naquela fatia de bolo de mel. É hora do recreio da tarde, afinal. Eu vou dizer à sua família que você está bem.”Voltei para casa e entrei no refeitório das noviças com as faces coradas, e a Ir. Josepha me perguntou “Onde é que você esteve?” “Com o Monsenhor, Irmã Josepha, e ele me deixou...” “Sente-se, Irmã.” Mais tarde, no entanto, pude lhe contar toda a estória.”Esse encontro deve ter ocorrido antes de 1877, o ano na morte de Zwijsen. Três anos após a sua morte, a Ir. Anastasie fez os seus votos perpétuos, em 13 de novembro de 1880. Ela viveu e trabalhou os primeiros 13 anos no Hospital Católico (Binnenziekenhuis) de Eindhoven9, depois passou 11 anos em Deventer, e logo períodos mais curtos em Zutphen, Oss e Haarlem, sucessivamente, até voltar a Deventer em 1906 onde ficou mais 13 anos, e logo 14 anos em Oerle. Durante a Segunda Guerra

Cartão de oração da Ir. Anastasie. As datas indicadas estão incorretas

8 A Ir. Anastasie fez os votos temporários (que a tornaram noviça) em 13 de novembro de 1877. A Madre Begga van Haagen era a Superiora Geral da Congregação naquela época.9 O hospital, que hoje se chama Hospital Santa Catarina, começou com uma casa para os cuidados dos doentes que as Irmãs da Caridade SCMM abriram em Eindhoven em 1843.10 Antigamente, a Casa Escolar era utilizada para o ensino do artesanato e para a alfabetização de crianças. Originalmente, a educação só era dirigida a crianças pobres mas, mais tarde, Zwijsen incentivou as Irmãs a ensinar crianças de pais abastados também, de forma a poder gerar uma renda. No mesmo lugar havia também um leprosário, com cuidados iniciados pelas irmãs; mais tarde, em 1902, foi criado o hospital. Quando a Ir. Anastasie trabalhou lá, por volta de 1943, o hospital, portanto, já existia.

Page 20: Compassion Portugees  2014 nr1

Foram mais de dois anos de pesquisa em arquivos, relatórios e correspondência, e de colaboração e conversas com as irmãs, que culminaram com a redação e finalização do livro. Nele, encontramos o relato dos cinquenta anos de vida e missão das religiosas, numa América Latina em constantes mudanças. Por que estava tão ansiosa por contar essa história? Quis fazê-lo, antes de mais nada, porque tinham-me pedido que escrevesse para marcar o Jubileu de Ouro da Congregação no Brasil. Mas havia outra razão também. Queria mostrar como a vida religiosa e a vida na Igreja mudou nesse espaço de 50 anos e, em especial, durante as primeiras décadas. As pessoas que nasceram depois de 1960 não podem imaginar como eram aqueles tempos, e provavelmente, pensam que as religiosas sempre viveram como vivem hoje em dia. Mas isto está longe de ser verdade. Antigamente, as religiosas tinham que viver uma vida isolada, recolhidas no interior de um convento.No meu livro, conto como um bispo empreendeu uma viagem do Brasil até Roma para pedir permissão para que as irmãs pudessem viver em pequenas comunidades, junto ao povo. O propósito era construir algo juntos, uma autêntica comunidade cristã. O pedido do bispo foi concedido, e ele sugeriu às irmãs que fossem viver e trabalhar na pastoral, em lugares onde havia falta de padres.

O nosso próprio bispo, Dom José Maria Pirez, de 94 anos, autor do prefácio da obra, deu muito apoio no início desse processo de mudança. Era da opinião de que as religiosas precisavam ser um sinal de fraternidade entre as pessoas, e que deveriam transferir as grandes obras de caridade como escolas e hospitais aos leigos. Muitas congregações, inclusive a nossa, responderam a esse chamado e entregaram todas as atividades aos leigos. As irmãs começaram então uma nova vida, instalando-se junto aos pobres, em casas humildes, oferecendo o seu apoio e estando junto a eles. Esse foi o começo das Comunidades Eclesiais de Base no Brasil. Ao longo do tempo, nossas irmãs reconheceram as muitas necessidades das pessoas que encontravam. Para poder atender essas necessidades, dedicaram-se a melhorar as condições de vida das comunidades, participando de greves e de processos de conscientização e, com isso, as comunidades de base começaram a florescer.Queria contar tudo isso, principalmente às nossas irmãs mais jovens, que ficaram encantadas com o livro. A obra será, sem dúvida, utilizada na formação durante o postulado e o noviciado.

As primeiras Irmãs da Caridade SCMM puseram os pés no Brasil no dia 11 de maio de 1962. A Ir. Ursula van de Ven escreveu a história desta província em homenagem aos 50 anos das Irmãs no Brasil. Ela trabalhou em coautoria com Ernando Luiz Teixeira de Carvalho, um padre brasileiro. O livro, escrito em português, foi apresentado em Bayeux no dia 24 de novembro de 2013. A Ir. Ursula conta, abaixo, o que a levou a escrever o livro.

Page 21: Compassion Portugees  2014 nr1

A profissão e a cerimôniada tomada do hábitoEm setembro de 2013, as Irmãs Rosa e Mariana visitaram as Filipinas, onde assistiram aos votos perpétuos da Ir. Josephine Corpuz. Foi uma linda cerimônia, à qual a família da Ir. Josephine também esteve presente. Depois de um ano como postulante, Kardenia Matias recebeu o hábito no dia 24 de novembro de 2014, no Brasil. Isto significa que essa província agora tem mais uma noviça. Pedimos as suas orações para essas duas jovens irmãs.

CalamidadesO vulcão Sinabung, no norte da ilha de Sumatras está em atividade desde setembro de 2013. Desde então, entra em erupção ao menos uma vez por mês, e já houve pelo menos dezesseis vítimas. Sinabung está localizado próximo da cidade de Medan, mas as irmãs não tem tido qualquer problema. Em novembro de 2013, uma grande tragédia assolou as Filipinas. Cidades e aldeias inteiras na região central do país foram totalmente destruídas pelo devastador tufão Haiyan, que cobrou a vida de milhares de pessoas. As nossas irmãs vivem e trabalham nos arredores de Manila, região que foi poupada da violência do tufão. A nossa Congregação tem oferecido apoio às vítimas da catástrofe.

Nesta edição, apresentamos um rica coleção de imagens de estátuas e associações com São Vicente. Para a próxima edição, convidamos a todas a nos enviar uma foto de um sinal dos nossos tempos. Isso nos ajudará a preparar para o evento do ICC Sinais dos Tempos, que deverá ocorrer em Roma no mês de setembro. Um sinal dos tempos poderá ser um problema, mas também um evento que traz esperança. Dê uma olhada à sua volta, e tente fotografar algo para nós. Quanto melhor a qualidade da foto, melhores as chances de que a publiquemos! Envie as suas contribuições ao Conselho Geral em Den Bosch, por correio convencional ou, melhor ainda, por e-mail. Como sempre, estamos ansiosas pelos resultados positivos!

A redação

E, é claro, as irmãs jovens estiveram presentes durante a apresentação do livro. O grande salão de esportes da Fundação Dom Hélder Câmara foi lindamente decorado para a ocasião, os livros foram exibidos, e oferecemos música e comes e bebes. Os 130 convidados foram recebidos pelo comitê organizador. Muitos tinham se deslocado dos lugares mencionados no livro, e foi um encontro alegre e gratificante. Após a abertura da cerimônia por um membro do comitê,

ouve quatro oradores: a Ir. Maria Lijnen, da nossa Província, a Ir. Maria dos Anjos, da Congregação das Irmãs Franciscanas de Dillingen, o coautor, Ernando Teixeira, e eu. Em seguida, procedeu-se à venda e autógrafo dos livros. Muitas pessoas – e sou uma delas – voltaram para casa jubilosas. Já me perguntaram se pretendo traduzir o livro. Não está nos meus planos no momento, mas, quem sabe...

Page 22: Compassion Portugees  2014 nr1

alunos, uma professora não consegue aplicar testes individuais a menos que tenha ajuda. Juntamente com 24 pais que apoiam a escola, uma vez por semana fazemos leituras para as crianças do terceiro ao quinto grau que ainda não alcançaram um bom nível de leitura.

De abril a outubro ajudo na paróquia católica de Hoenderloo, que fica nas redondezas. Aos sábados podemos usar a igreja reformada da cidadezinha. Normalmente, há poucas famílias católicas vivendo em Hoenderloo, mas no verão há muitos turistas que assistem a missa. Muitos vem todos os anos. Algumas crianças não estão acostumadas a frequentar a igreja em casa, mas frequentam quando estão aqui. Foi nos anos 70 que me pediram para tocar o órgão durante os batismos, e foi assim que tudo começou. Agora também sou maestra e professora da escola dominical das crianças menores, organizo a liturgia e visito os idosos e os doentes. A paróquia é formada por um grupo muito coeso de pessoas, e também nos reunimos algumas vezes durante o inverno, caso contrário não nos veríamos muito. É emocionante ver as crianças crescerem, o que acontece quando se trabalha com crianças em idade escolar, e depois ver os filhos dessas crianças virem às minhas aulas ou à igreja.

Domingo é o meu dia de folga.

Para receber uma condecoração é preciso ter trabalhado como voluntária durante mais de 15 anos. Além disso, alguém tem que fazer a indicação. As crianças pedem que eu use a condecoração o tempo todo, pois acham que é maravilhoso; mas, claro, eu não uso. Todas estiveram presentes à cerimônia que ocorreu na escola, à qual foram convidadas as irmãs, as famílias e os habitantes de Hoenderloo. Para mim foi uma enorme surpresa, e foi um dia de muita festa; felizmente não foi tão formal, já que havia tantas crianças presentes.

No dia 10 de junho de 2013, a Irmã Regine Noor (77 anos de idade) foi condecorada com a Ordem Real Neerlandesa pelo prefeito de Apeldoorn, e agora é membro da Ordem de Orange de Nassau. A condecoração lhe foi conferida em reconhecimento pelos muitos anos de trabalho como voluntária na escola primária de Eloy em Ugchelen, e na paróquia católica de Hoenderloo. No artigo abaixo, a Irmã relata as suas atividades.

Às segundas-feiras vou a Arnhem, onde cuido das finanças das treze irmãs que vivem na casa Insula Dei. A irmã que se ocupou dessa tarefa durante mais de 25 anos já tem mais de 90 anos e precisa de ajuda. Distribuo as mesadas das irmãs, pago as contas e atualizo o orçamento. A viagem de volta a Arnhem é fácil, pois o ponto do ônibus fica bem na esquina.

A minha folga é sempre às terças e sextas-feiras, a menos que precisem de mim na escola, como ocorreu na semana passada, pois era época de exames. Claro que também tenho que limpar a casa, fazer as compras e cozinhar. Vivo sozinha em uma casa alugada em Apeldoorn. Durante a década de 1970, houve um plano para iniciar uma nova comunidade no local, mas embora eu tivesse encontrado logo um trabalho, as outras irmãs não conseguiram arrumar emprego. Vivo sozinha, mas não me sinto só. Tenho muitas amizades aqui, depois de tantos anos trabalhando na escola. Vou ao mercado bem cedo, quando ainda há pouca gente, caso contrário não conseguiria sair, pois as pessoas me parariam para conversar. Sinto que faço parte deste lugar, em poucas palavras.Felizmente, também tenho tempo para manter contato com as irmãs. Por exemplo, sou membro do Conselho Consultivo da Província neerlandesa. Também participo de um grupo de debate com as irmãs de Arnhem e da região vizinha; este grupo costumava ser liderado pelo Padre Hollander. Também partilhamos as alegrias e tristezas, e assim sinto-me parte da comunidade.

Às quartas e quintas-feiras trabalho na escola. Depois de me aposentar como professora, há quinze anos, eles logo me pediram que ajudasse, principalmente com a documentação. Agora sou professora de reforço escolar. Trabalho com uma criança ou com um grupo pequeno repassando material com que tem dificuldade. Além disso, faço testes e ajudo onde for necessário. Afinal de contas, com uma classe de trinta

Page 23: Compassion Portugees  2014 nr1
Page 24: Compassion Portugees  2014 nr1

onstituições

Dom João Zwijsen,nosso Fundador,tinha o carisma de descobrirno Evangelho, a boa notíciasobre a misericórdia.Ele sentia como sendo uma missãode dar uma forma concretaa esta misericórdiatanto na sua própria vida comona vida da Congregação que ele fundou. Confiando no poder do Espírito Santosoubre abrir, corajosamente,novos caminhos e estavapreparado para correr os riscosinerentes a este desafio.

(Artigo 3 - 4)

Compassion é uma edição periódica do conselho

geral das Irmãs de Caridade SCMM e aparece em

Holandês, Inglês, Português e Bahasa Indonésia,

também numa versão falada em Holandês.

ISSN 1879-9949