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t ENTREVISTA “O jornalismo impresso é uma espécie em vias de extinção” Luís Miguel Viana, director da Agência Lusa, gere com agilidade o maior órgão de informação do país. Fala nas mudanças, no seu dia-a-dia e na relação dos media com a sociedade. \\\ P. 2 a 4 t CULTURA A cidade está-se a preparar para a sua maior festa. As sãojoaninas são o ponto alto das festividades. \\\ P. 14 S. João de Braga espera 1 milhão de pessoas t REPORTAGEM Novas tecnologias e o futuro do jornalismo Pacheco Pereira, Eduardo Cintra Torres e Joaquim Vieira analisam a influência das novas plataformas na internet na sociedade. \\\ P. 8-9 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA t PRODUZIDO PELOS ALUNOS DO 2.º ANO DO CURSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DE BRAGA t N.º 11 / JUNHO DE 2011 t DIRECTOR ALFREDO DINIS 15103 toxicodependentes são tratados a Norte t ENTREVISTA “O Theatro Circo tornou-se numa aberração” Na esplanada do café A Brasileira, em Braga, Adolfo Morais de Macedo dá a voz a Adolfo Lux- úria Canibal. Incisivo e penetrante, o advogado, que afirma não saber cantar, fala da advocacia, de Braga, de cultura e dos Mão Morta. \\\ P. 12 e 13 - A FACFIL BREVEMENTE TERÁ RÁDIO - procuram patrocinadores - e-mail: radio.facfi[email protected] t SOCIEDADE Histórias de quem tenta deixar a droga e reconstruir a vida \\\ P. 05

Comunica*te

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Jornal Tuara do 2º ano do curso de Jornalismo da FACFIL - Braga

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Page 1: Comunica*te

t entrevista“O jornalismo impresso é uma espécie em viasde extinção”

Luís Miguel Viana, director da Agência Lusa, gere com agilidade o maior órgão de informação do país. Fala nas mudanças, no seu dia-a-diae na relação dos mediacom a sociedade.\\\ P. 2 a 4

t Cultura

A cidade está-se a preparar para a sua maior festa. As sãojoaninas são o ponto alto das festividades. \\\ P. 14

S. João de Braga espera 1 milhãode pessoas

t reportagemNovas tecnologiase o futurodo jornalismoPacheco Pereira, Eduardo Cintra Torres e Joaquim Vieira analisam a influência das novas plataformas na internet na sociedade. \\\ P. 8-9

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA t PRODUZIDO PELOS ALUNOS DO 2.º ANO DO CURSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO DA FaCulDaDe De FilosoFia De Braga t N.º 11 / jUNhO DE 2011 t DireCtor alFreDo Dinis

15103 toxicodependentes são tratados a Norte

t entrevista

“O Theatro Circo tornou-se numa aberração”Na esplanada do café A Brasileira, em Braga, Adolfo Morais de Macedo dá a voz a Adolfo Lux­úria Canibal. Incisivo e penetrante, o advogado, que afirma não saber cantar, fala da advocacia, de Braga, de cultura e dos Mão Morta.\\\ P. 12 e 13

- A FACFIL brevemente terá rádIo - procuram patrocinadores - e-mail: [email protected]

t soCieDaDe Histórias de quem tenta deixar a droga e reconstruir a vida \\\ P. 05

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“Jornalismo impressoestá em viasde extinção”de uma forma descontraida o director da lusa falou ao comunica*te sobre como dirige a lusa, do futuro jornalismo e da sua vida pessoal

02 | COMUNICA*TE | junho 2011 junho 2011 | COMUNICA*TE | 03

Entrevista | Luís Miguel Viana, director da Lusa

Entre tempestades, pres-sões e sorrisos, Luís Miguel Viana falou da actualidade em geral enquanto esperava para testemunhar em tribu-nal. Objectivo e firme nas respostas, lá foi falando de tudo, sempre com a resposta na ponta da língua.

Licenciou-se em Filo-sofia na universidade de Coim­bra, porque envere-dou para o jornalism­o?

Por acaso. Houve na altura um projecto jornalístico em Coimbra que envolvia o meu professor na escola secundá-ria e correspondentes nacio-nais de vários jornais como o Expresso, o Jornal de Notí-cias, entre outros. O objectivo era dar à cidade um jornal re-gional com qualidade. E eu na altura queria ganhar uns tro-cos, candidatei-me e fiquei.

Foi difícil?Foi uma experiência fantás-

tica. O meu primeiro trabalho não foi fazer uma breve, foi entrevistar o ministro das Fi-nanças. E, como todos nós tí-nhamos uma grande ambição, convenci o então ministro, Miguel Cadilhe, a dar a entre-vista.

Ao longo da sua carreira

passou pelo jornal Públi-co, Independente, Visão, Diá­rio de Notícias. Qual lhe deu m­ais gozo?

O Público. O Público nos seus anos iniciais foi uma ex-periência profissional e hu-mana absolutamente fantás-tica. A novidade do Público da altura caminhava em dois pés: um bom tratamento da informação internacional, cultural e científico-tecno-lógica, que não existia; e um jornalismo local, dirigido às classes mais dinâmicas das cidades, com uma qualida-de nunca antes vista. Tinha uma qualidade redactorial e fotográfica que prestou um serviço a Portugal de um nível equivalente ao que se prestava em outros países europeus.

O jornalism­o im­presso é a sua paixão?

É, e para além disso é a mi-nha paixão inicial. Mas estou completamente lúcido e sei que o jornalismo impresso é uma espécie em vias de extin-ção.

O que o leva a dizer isso?

Os jornais todos os dias têm menos leitores, as rádios têm todos os dias menos ouvintes, as televisões por si só todos os dias têm menos especta-dores: todas as plataformas convergem para a Internet. O

problema é que a Internet não consegue recolher dinheiro, ainda não foi descoberta a fórmula para se ganhar di-nheiro com o jornalismo na Internet. O grande problema é que neste momento, no seu conjunto, a nível mundial, a actividade jornalística não é economicamente sustentável. Isso é muito preocupante.

Qual é o futuro do jornal im­presso?

A maior parte daquilo que nós conhecemos hoje como jornais ou como revistas serão absorvidos por essa plataforma aglutinadora de todas as outras que é a In-ternet. Tudo irá interagir: a imagem, o som, o texto, os vídeos, a infografia. Esta últi-ma acho que vai ganhar uma importância absoluta, uma vez que é o sítio onde a fo-tografia, vídeo, som, texto e ilustração se vão conjugar. O jornal impresso creio que ficará como um negócio de nicho, ou de “luxo” em cer-tos casos. E lidará com outro fenómeno que hoje já esta-mos a viver plenamente: a passagem da transmissão de informação do modelo «one to many» dos média tradi-cionais (um órgão para mui-tos leitores, espectadores ou ouvintes), para o siste-ma «many to many», que é toda a gente falar com toda agente, seja nos blogs, seja no facebook, seja no twitter.

AnA CArvAlho, André ArAnes, CArolinA CAmpelo, CAtArinA vilAs boAs e mArgAridA rAmos

Luís Miguel Viana

da filosofia para a paixão,o jornalismo

PERFIL

luís miguel ramos Gilsanz Viana nasceu em Coimbra a 14 de setembro de 1966. É casado, pai de dois filhos e conta no seu historial pro­fissional com passagem por dez órgãos de comunicação. desde o jornal de Coimbra em 1988, projecto que o fez desviar da filosofia para o jornalismo, nunca mais pa­rou: do público ao indepen­dente, do diário de notícias à lusa, onde é director ago­ra, luís miguel Viana exerce o trabalho que sempre quis: fazer jornalismo. hoje, é ainda docente da cadeira de “speech Writing” na pós graduação em “Estratégias de comunicação e asses­soria mediática” no insti­tuto superior de línguas e administração entre 2007 e 2010.Considerando­se como um velho conhecido do jornalismo português, lmV foi distinguido pelo Clube de jornalistas do porto com o “prémio região norte” em 1992 e pelo “prémio poder local” em 1996 enquanto jornalista do público. re­cebeu também pelo Clube português de imprensa o “prémio nacional de repor­tagem” em 2000 enquanto jornalista da revista Visão.actualmente, é director da agência de notícias lusa, cargo que diz ocupar com o rigor, esforço e determi­nação que sempre teve por onde passou.

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Luís MigueL Viana na sala de espera do tribunalfoto: margarida ramos

02 | COMuniCa*Te | junho 2011 junho 2011 | COMuniCa*Te | 03

Entrevista | Luís Miguel Viana, director da Lusa

Essas redes sociais, e outras que vão surgir, irão disputar aos jornalistas o papel de “gatekeeper” que dá acesso aos palcos mediáticos.

Tendo um cargo tão im­portante e não reconheci­do pela maioria das pes­soas, o que tem a dizer sobre si que a sociedade não conhece?

(risos) Eu não sou uma es­trela pop. Em todo o caso, devo dizer que não cheguei à Lusa caído do céu aos tram­bolhões. Sou um velho co­nhecido do jornalismo em Portugal, fui subdirector do Público e Diário Económico e redactor principal no Público e no Diário de Notícias. Na televisão é que apareço pou­co, vou lá esporadicamente.

Como é o dia do director da agência Lusa?

É um bocado complicado porque a Lusa é uma máqui­na muito grande. Nós temos a maior redacção do país, aquela que produz mais notícias: produz qualquer

coisa como 550 notícias em dia útil. Para além disso, eu como director tenho que gerir orçamentos, há toda uma parte muito pesada de gestão. Portanto, há muitas vezes em que eu gostava de editar textos, fazer reporta­gens ou até entrevistas e não posso.

Sente muito a falta des­

se lado do jornalismo?Sim, sinto falta e regressarei

a ele, já que nunca se é direc­tor durante muito tempo. Di­rector é um estado transitório em que nós executamos fun­ções. E, como tudo na vida, tem ciclos: mais cedo ou mais tarde muda­se de funções.

Sente que o seu lugar na Lusa é muito cobiçado?

Deve ser, mas sinceramente eu não penso muito nisso.

Em 2008 viveu­se um clima de tempestade den­tro da redacção da Lusa, nomeadamente entre si e o conselho de redacção. Como está o clima ago­ra?

Não mudou muito, simples­mente nota­se menos. O con­selho de redacção da Lusa lastimavelmente funciona como contra­poder. Quando eu cheguei à Lusa, como em qualquer sítio havia um gru­po que dominava a redacção. E, como a Lusa tem capital do Estado, é um lugar onde as pessoas tinham muito medo em partir ovos para fazer

omeletas porque achavam que facilmente poderiam ser acusadas de estar a fazer fretes ao Governo. Eu, como tenho uma folha de serviços completamente limpa e uma consciência tranquila a esse respeito, não hesitei em par­tir ovos.

O que mudou?Não havia a mínima con­

sideração pelos horários em que a agência produzia para ser útil aos clientes. A pri­meira reunião do dia era ao meio dia, não havia um editor a entrar antes das 10 horas da manhã. Ora, mudar isso foi o primeiro choque, depois foi puxar pelo ritmo, foi puxar pela qualidade do trabalho, e isso não caiu bem. Houve pessoas que pediram a demis­são e saíram da Lusa porque, simplesmente, não estavam em condições de aguentar chegar à agência às 10 horas da manhã. A cultura jorna­lística deles era trabalhar até tarde, era à antiga. Mas esta é completamente inadequada a uma realidade noticiosa mar­

cada pelo multimédia e pela necessidade de dar informa­ção o mais cedo possível. Isto tudo levou a um ranger de dobradiças. Havia um gru­po que estava habituado a mandar, e do qual as pessoas tinham medo porque tinha poder dentro da agência, que tentou (e ainda tenta) passar a imagem de que a Lusa faz fretes ao Governo, o que é completamente mentira. Eu demonstrei isso sempre que fui depor à Assembleia da República. Não houve ne­nhuma circunstância pública em que a independência do nosso trabalho não tenha fi­cado provada com elementos concretos. Nós mudámos a Lusa para muito melhor. A quantidade e qualidade da rede interna, por exemplo, é absolutamente diferente daquela que existia há cinco anos.

Ao longo da sua profis­são cometeu muitos erros? Voltaria a cometê­los? Arrepende­se de alguma coisa?

Arrependo­me bastante de alguns. Já fiz coisas que po­deria ter feito muito melhor, nomeadamente como jorna­lista. Alguma vezes fui cruel, deselegante até. A preocupa­ção em ser incisivo levou­me a ter alguma ferocidade, típica da idade. Mas houve um erro que nunca cometi, o de faltar com a verdade.

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“o grande problema é que neste momento, no seu conjunto, a nível mundial, a actividade jornalística não é sustentável,o que é muito preocupante”

Luís Miguel Viana

da filosofia para a paixão,o jornalismo

PeRFiL

luís miguel ramos gilsanz Viana nasceu em Coimbra a 14 de setembro de 1966. É casado, pai de dois filhos e conta no seu historial pro­fissional com passagem por dez órgãos de comunicação. desde o jornal de Coimbra em 1988, projecto que o fez desviar da filosofia para o jornalismo, nunca mais pa­rou: do público ao indepen­dente, do diário de notícias à lusa, onde é director ago­ra, luís miguel Viana exerce o trabalho que sempre quis: fazer jornalismo. hoje, é ainda docente da cadeira de “speech Writing” na pós graduação em “estratégias de comunicação e asses­soria mediática” no insti­tuto superior de línguas e administração entre 2007 e 2010.Considerando­se como um velho conhecido do jornalismo português, lmV foi distinguido pelo Clube de jornalistas do porto com o “prémio região norte” em 1992 e pelo “prémio poder local” em 1996 enquanto jornalista do público. re­cebeu também pelo Clube português de imprensa o “prémio nacional de repor­tagem” em 2000 enquanto jornalista da revista Visão.actualmente, é director da agência de notícias lusa, cargo que diz ocupar com o rigor, esforço e determi­nação que sempre teve por onde passou.

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04 | COMUNICA*TE | junho 2011

Entrevista | Luís Miguel Viana, director da Lusa

As novas tecnologias estão a mudar a forma de se fazer e pensar o jornalismo?

Sim. Estão a mudar pelas ra­zões que toda a gente percebe. Por exemplo, numa entrevista como esta, é muito fácil trans­mitir som, fotos, texto, vídeo, formas muito diferentes e mais rápidas do que aquelas que ha­via. Isto tem muitos ganhos por­que há uma proximidade maior à realidade, o que, porém, nem

“Nova geração de jornalistas é mais independente”

sempre equivale a que ela seja melhor percepcionada. Em al­guns casos, o velho jornalismo – em que o jornalista era mais claramente mediador, con­textualizando – acabava por transmitir mais informação ao espectador do que agora uma transmissão integral de uma conversa.

Existe uma nova gramá­tica e novas regras para os jornalistas escreverem para a Web?

Deveria haver porque eu acho que a linguagem determina tudo. Se fizermos uma análise hermenêutica a uma notícia, va­mos ver que a mensagem é deter­minada pelo meio. Uma notícia lida num jornal ou transmitida na televisão é percepcionada de uma forma diferente.

Como está o jornalismo no panorama nacional?

Acho que está melhor. Te­mos a capacidade de informar melhor. Há um problema grave que é o da falta de sustentabili­dade da actividade que se afir­ma desde o final do século XX. As redacções estão enfraqueci­das de gente mas a nova gera­ção de jornalistas é mais inde­pendente.

Há liberdade de imprensa em Portugal?

Completamente.

Considera a wikipédia uma fonte inimiga dos jor­nalistas?

Inimiga também é de mais. O problema da wikipédia é que a verdade se mistura com a men­tira, a bondade com a maldade. Os jornalistas deixaram de ter o privilégio de ser os «gate ke­epers», agora qualquer um de nós pode entrar nesse palco me­diático.

A Lusa está a habituar­se à aceleração mediática que se tem verificado?

Eu acho que sim. Quando che­guei à Lusa havia duas câ­maras de vídeo, agora há mais de 90. Estamo­nos a modernizar e a adaptar o mais rápido possível.

Quais foram as maiores

dificuldades nesta adapta­ção?

O nosso objectivo era a trans­formação e o nosso desafio, que era único, era o de pegar numa redacção convencional e transfor­má­la toda sem excluir ninguém. Claro, umas pessoas fizeram-no com grande entusiasmo e outras foram empurradas, a arrastar os pés. A maior dificuldade foi con­jugar isso tudo.

LUís VIANA admite que “nunca se é director durante muito tempo”Foto: margarida ramos

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junho 2011 | COMUNICA*TE | 05

Sociedade | Toxicodepêndencia em Braga

Nas ruas do vício

António Magrinho Coelho des­loca-s­e mens­almente ao Centro de Atendimento de Toxicodependentes­ para s­e abas­tecer de buprenorfina, um s­ubs­tituto derivado da morfina que atenua a res­s­aca violen-ta do utente em reabilitação. Como ele, es­tão integrados­ na rede pública de tratamento da toxicodependência 38 875 utentes­, s­endo 15 103 oriundos­ do Norte do país­.

António iniciou o curs­o de engenharia mas­ não cons­eguiu terminá-lo. Enveredou pelo mundo das­ drogas­ com 21 anos­ e o “apetite de s­aber como era” prolongou-s­e, acabando por de-calcar a s­ua vida. Cres­ceu s­em que nada lhe faltas­s­e, para hoje lhe faltar tudo. Mas­ não é quan-do fala do conforto em que vivia que a s­audade nas­ce. A verda-deira perda de António reflecte-s­e na amargura com que fala da família: “O meu pai já morreu. A pior coisa que fiz enquanto

cons­umia foi roubar a minha mãe e ela nunca me perdoou”. António es­tá há s­eis­ anos­ “lim-po, s­em cons­umir nada”.

Para Mafalda Lourenço, s­ocióloga, “exis­te uma multi-plicidade de caus­as­ as­s­ociadas­ à toxicodependência, des­de fac-tores­ ps­icológicos­ como a débil auto-es­tima e frus­tração, a fac-tores­ s­ociais­ e económicos­”. “O us­o de s­ubs­tâncias­ ps­icoactivas­ foi e s­erá uma cons­tante his­tó-rica” que acarreta “cons­equên-cias como a fragilização dos laços­ s­ociais­, exclus­ão s­ocial e marginalização”.

Hugo Serafim, 30 anos, conhe-ce melhor do que ninguém es­s­a marginalização. Trabalha como motoris­ta e colaborador na Des­-pertar há oito mes­es­ e já foi “acus­ado de roubo por ter es­-tacionado a carrinha em fren-te a uma habitação que havia s­ido as­s­altada horas­ antes­, e por pertencer a uma as­s­ociação de reins­erção s­ocial”. “Para a maior parte da s­ociedade o to-xicodependente reabilitado ou não, é incapaz de produzir algo pos­itivo”, mas­ na Des­pertar

Hugo sente-se capaz de superar o negativis­mo da s­ociedade que o s­ufoca: “bas­ta funcionarmos­ como uma equipa, para que pos­-s­amos­ ajudar quem mais­ preci-s­a de nós­”.

Sofia (nome fictício) é es­tu-dante da Faculdade de Filos­o-fia e iniciou o cons­umo de dro-gas­ leves­ aos­ 16 anos­. Cons­ome haxixe e cannabis­ regularmen-te e fá-lo porque “liberta e de-s­inibe” e, nas­ palavras­ dela, tranforma-a numa es­pécie de s­uper-mulher, cujo “céu é o li-mite”. Daqui a dez anos vê-se licenciada e empregada, mas­

Rede pública de tratamento da toxicodependência tem 38 875 utentes registados, sendo 15 103 oriundos do Norte do país

Catarina vilas boas,gonçalo Cardoso,juliana gomes e riCardo dória

Cat de braga FOtO: margarida ramOs

38875é O NúMErO de utentes na rede pública de reabilitação

5044KG dE CANAbIs apreendidosem 2009, o número mais altoda década

CAsOs dE vIdA

NUNOnuno, chamemos-lhe assim, tem 16 anos e iniciou o consumo de drogas aos 13. sob o olhar atento da mãe, que o observa de longe, diz, quase a segredar que, “ape-nas” fuma haxixe e erva”. o seu esforço é simplesmente mecânico, pois os pais já descobriram a dependência do filho. É essa a razão pela qual se encontra à porta do centro de atendimento a to-xicodependentes, em braga, à espera de ser recebido por um terapeuta que o irá acon-selhar: “Vim fazer análises. os meus pais obrigaram-me”. ao longe, a mãe continua a vigiar o filho, mirando com desconfiança o gravador para o qual este fala. chama-o, e nuno segue-a.TIAGO

tiago não quer revelar o seu nome verdadeiro. tem 21 anos e começou a “fumar charros aos 14”. a curiosi-dade é a sua fraqueza. aos 18 anos quis inalar cocaína “numa garagem de uns ami-gos”. “começou tudo numa estupidez, mas 85% das pes-soas conhecem as drogas, é uma sensação espectacular”. para tiago “a erva é a folha de deus”, e a cocaína é inevitável”. “não sou toxico-dependente”, remata

confes­s­a que “é pouco provável largar a erva”.

Em Portugal, a descriminaliza-ção do cons­umo de droga exis­te há dez anos, e o presidente do Ins­tituto da Droga e da Toxicode-pendência (IDT), João Goulão, faz um balanço “muito positivo” da lei em vigor des­de 1 de Julho de 2001. ”Exis­te em Portugal um número recorde de pes­s­oas­ em tratamento, o que simboliza uma enorme evolução” - 10% dos­ doentes­ em tratamento s­ão con-s­umidores­ de cannabis­. “Hoje, quando confrontados­ pelos­ téc-nicos­ das­ comis­s­ões­, acabam por perceber que fumar ‘cannabis­’ tem cons­equências­ para a s­aúde e aceitam o tratamento”.

Segundo o IDT, a droga mais­ cons­umida em Portugal é a cannabis­, s­eguida de longe pela cocaína, s­egunda droga prefe-rencialmente utilizada. O maior número de apreens­ões­ de can-nabis­ foi regis­tado nos­ dis­tritos­ de Braga, Porto e Lis­boa, onde, s­ó no ano de 2009, foram apre-endidos­ 5044 kg de cannabis­, regis­tando o valor mais­ elevado da última década.

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06 | COMUNICA*TE | junho 2011

Sociedade | Política em Braga

Sucessão de Mesquita Machadona recta final

Mesquita Machado presidente da câmara municipal de Bra­ga há 35 anos cumpre o seu nono e último mandato. Impos­sibilitado por lei e a um ano das eleições internas para a conce­lhia do Partido Socialista (PS) perfilam-se três candidatos.

Vitor Sousa, vice­presidente da câmara municipal de Braga; Hugo Pires, vereador da juven­tude e responsável pelo projec­to “Braga Capital Europeia da Juventude”; e António Braga, presidente da assembleia mu­nicipal e secretário de Estado das comunidades. São estes os nomes em cima da mesa para a sucessão a Mesquita Machado no PS e na câmara municipal de Braga.

José Palmeira, coordenador da licenciatura em Ciência Po-lítica da Universidade do Mi­nho, afirma que “uma sucessão costuma ter sempre linhas de continuidade e de ruptura”. Sendo uma sucessão complexa

Presidente da Câmara de Braga há 35 anos, Mesquita cumpre o seu nono e último mandato: Concelhia do PS prepara sucessão

ANDRÉ ARANTES, FELICIANO FERREIRA E JOÃO BASTOS

António Fernandes da Silva Braga, licenciado em filosofia, é inspector da inspecção - ge-ral do ensino. Deputado desde 1987 pelo círculo eleitoral de Braga no quinto governo constitucional; vice - presi-dente da Comissão Parlamen-tar da Educação, Ciência e Cultura; membro da delega-ção parlamentar portuguesa à assembleia parlamentar do Conselho da Europa; membro da delegação parlamentar portuguesa na união da Euro-pa ocidental. hugo Alexandre Polido Pires, formado em

de analisar devido à longevida­de do poder do actual presiden­te e por se tratar de uma lógica político-partidária, crê-se que “o perfil deve adequar-se aos anseios de um concelho que tem uma população jovem”, diz José Palmeira. Braga como ter­

ceira cidade de Portugal precisa de um sucessor que “lute contra a bipolaridade Lisboa­Porto”, afirma o coordenador.

Neste tempo de liderança de Mesquita Machado houve in­vestimento em infra­estruturas e crescimento da cidade: “Ago­

ra tem de se tirar proveito das infra­estruturas que estão su­baproveitadas e de promover o desenvolvimento económico e social”, remata o professor.

O presidente da concelhia do PS foi sempre até aos dias de hoje o candidato ao mu­nicípio. Mesquita Machado presidente desde os 29 anos de idade, agora com 64 anos, não aponta sucessores: “No PS vamos a votos e será nas urnas que ficará decidido”, disse o presidente da câmara à comunicação social.

A recente nomeação de Vitor Sousa para vice­presidente da câmara, depois de estar ligado a cinco pelouros camarários; as contínuas nomeações de Hugo Pires para os sete pelouros que dirige, sendo que só o presi­dente da câmara atribui estes cargos municipais; e António Braga o actual presidente da assembleia­geral do município estão, pelo percurso, na linha da frente como principais can­didatos ao município e ao Par­tido Socialista de Braga.

UM MINUTO

Cortes do estado afogam APPACDMo presidente da direcção da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficien-te Mental do distrito de Braga (APPACDM-Braga), António Melo, fez saber que a associa-ção vive momentos financeiros muito difíceis. Esta situação já foi comunicada a D. jorge or-tiga, Arcebispo de Braga, numa reunião em que foram dadas algumas probabilidades de so-lução para os problemas.A APPACDM-Braga é uma as-sociação que visa promover a integração, na sociedade, do cidadão com deficiência men-tal, bem como o equilíbrio das suas famílias.

Universidade do Minho passa a fundaçãoo conselho geral da universida-de do Minho aceitou a passa-gem da organização ao regime de fundação de direito privado. o tema gerou bastante contes-tação levando vários profes-sores, funcionários e alunos a protestarem à porta da reitoria. A mudança foi feita por sufrágio tendo dezasseis votos a favor e 7 contra. o processo iniciou-se à 3 anos e pelo volume da con-testação promete não acabar por aqui.

“Observatório Social”na Católicade Braga A Faculdade de Ciências So-ciais da universidade Católica de Portuguesa vai participar até ao final do ano no desenvolvi-mento de uma convenção para o observatório Social da Con-ferência Episcopal Portuguesa. o objectivo do observatório é uma unidade de produção di-nâmica de informação e de co-nhecimento sobre as questões e transformações sociais na so-ciedade portuguesa. Fará parte do projecto o Arquiepiscopado de Braga e a Diocese do Porto e iniciar-se-à no inicio de 2012.

Arquitectura, é vereador da Câmara Municipal de Braga, é responsável pelos pelouros da gestão urbanística e renova-ção urbana, do planeamento e ordenamento, da juventude, e da protecção civil, do trânsito, da polícia municipal e dos bombeiros municipais. Vitor Manuel Amaral de Sousa, formado em gestão é vice - presidente da Câmara Municipal de Braga, é res-ponsável pelos pelouros das actividades económicas, do turismo, do mercado municipal e das obras municipais.

sede partido socialista de braga em braga FotograFia: andré arantes

Os quatro que se perfilam

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Sociedade | Homossexualidade e PEB

junho 2011 | COMUNICA*TE | 07

A rede “Ex-aequo” é uma as-sociação sem fins lucrativos que visa apoiar a juventude lésbica, gay, bissexual e transgénera, e tenta mudar mentalidades em relação às questões de orienta­ção sexual e identidade do género. A associação tem vá-rios pólos espalhados pelo país, aumentando assim o seu raio de acção. Em Braga, a associa-ção reúne duas vezes por mês, recebendo cerca de dois novos

DIOGO OLIVEIRA, MÁRIO SANTOSE NUNO SOARES

Luta contra a discriminação homofónicaem Braga regista 4 novos membros por mês

membros por reunião.Rui Luz, 23 anos, um dos

coordenadores do centro dis­trital de Braga, partilhou com o Comunica*te alguma da sua experiência pessoal e algumas das dinâmicas vividas com o grupo. Segundo o coordenador, a mentalidade dos portugueses tem vindo a mudar: “Tenho co­legas do grupo que andam de mão dada em público no centro da cidade, sem sofrer qualquer tipo de represália ou discrimi­nação”. Quem procura ajuda na associação encontra sempre um

ponto de abrigo, mesmo sendo casos com alguma gravidade, como membros que pensam em suicídio, não são deixados de lado, mas segundo Rui Luz “esses casos têm que ser reme-tidos para a sede nacional, pois em Braga a associação não pos-sui meios de apoio a esses casos problemáticos”.

Um dos factores principais psicológicos que afectam os no­vos membros “é o facto de eles próprios não se aceitarem como são e em espaços de convívio social fazerem piadas e critica­

rem a sua opção sexual e a dos outros”.

Para Alfredo Dinis, coorde­nador da licenciatura de psico­logia e director da Faculdade de Filosofia de Braga, as socieda­des europeias têm vindo, com o tempo, a “aceitar progressiva­mente um considerável número de ideias e práticas morais tais como os comportamentos ho­mossexuais”, que eram vistas como tabu. Fazendo uma ligação ao crescimento económico e cul-tural das sociedades, o director afirma que estas novas atitudes e novos valores são “próprios da sociedade da informação e do co-nhecimento”. Defendendo que o grau, tanto da homossexualida-de como a da heterossexualida-de, não define ninguém, Alfredo Dinis considera que a sociedade não deve marginalizar e ofender as pessoas homossexuais “sem que esta lhes deva reconhecer o direito a uma integração social plena”.

Uma das fases mais complica­das a nível psicológico e pesso-al é a chamada fase do “coming out”, pois não é fácil para as pessoas fazerem a revelação da sua sexualidade perante a família e amigos. Rui Luz par-tilhou que quando fez o seu “coming out” juntou cerca de 30 membros da minha família e houve alguma tensão, “mas hoje convive­se bem com isso apesar de ainda ser um tema tabu”,. Reconhece no entanto que há uma maior aceitação por parte das famílias em ge-ral ou um lidar melhor com a situação em menos tempo. Mas mesmo por parte dos pais tem de haver um “coming out”, pois ali é uma idealização dos filhos que se vai: “os pais aceitam, mas sentem que não era aqui­lo que queriam para os filhos, os pais pensam sempre que os filhos vão seguir um rumo “nor­mal ” de vida, namorar, casar, ter filhos e a partir daí têm de abandonar essa ideia”.

Discriminação homofóbica Diminui em braga

“Ex-Aequo” integra jovens homossexuais

PEB com lucros de 34 mil eurosO Parque de Exposições de Bra-ga (PEB), criado em 1981, é uma estrutura direccionada para a realização de exposições, con-gressos, feiras e outras activida-des sócio­culturais.

O PEB tem uma dimensão equivalente a quatro campos de futebol e contém um auditório com capacidade para 1300 pes-soas, sendo o maior auditório de Braga.

Em 2010 contabilizaram­se mais de 101 eventos, dos quais 13 referentes a feiras. Nesse mesmo ano, conseguiu­se um lucro de €34.135.77. O próximo objectivo é a internacionalização do PEB e a exportação de uma imagem mais forte para o resto do país.

JOANA LOPES, JOÃO BARBOSA,MANUELA CASTRO E TERESA SILVA

Miguel Corais, administrador executivo do PEB, afirma que as parcerias são privilegiadas, pois “hoje em dia é difícil ter os recur-sos todos numa só instituição”.

Hoje em dia o PEB conta com um contrato­programa com a Câmara Municipal de Braga e estão a ser construídos alguns projectos com a AIMINHO (As-

sociação Industrial do Minho), a Universidade do Minho, a Universidade Católica e com a ACB (Associação Comercial de Braga).

Apesar da crise estar pre-sente, Miguel Corais defende que as atenções não podem recair somente no corte dos custos. “Cortar em “gorduras” parece­me bem, mas às vezes podemos estar a cortar nos “músculos” e até no “osso”. O administrador afirma ainda que o “PEB é um contributo importante para a actividade económica da região”.

Miguel Corais não descura o projecto Braga Capital Eu-ropeia da Juventude 2012 e afirma que o PEB “será uma instituição importante neste grande evento.”

Parque De exPosições De braga foTo: margariDa ramos

UM MINUTO

Banco alimentar recolhe 150 toneladasA campanha de solidarieda-de organizada pelo Banco Alimentar Contra a Fome de Braga recolheu 150 toneladas de bens alimentares. A inicia-tiva decorreu nos dias 28 e 29 de maio junto das grandes superfícies comerciais espa-lhadas pelo distrito de Braga. Milhares de voluntários deram asas à iniciativa que provou que o distrito está cada vez mais solidário visto que em igual iniciativa o ano passado o aumento de doações foi de 23 toneladas

Marketinginfantil discutidona FacFil“Brincar é uma coisa muito sé-ria” foi o mote que esteve no dia 25 de Maio em discussão na Faculdade de Filosofia. Na Aula Magna da FacFil falou-se des-de os anúncios de brinquedos na televisão portuguesa até ao Marketing Infantil e educação para consumo. Coordenado por Luísa Magalhães o Seminário de Comunicação empresarial, contou ainda com a presença da Dr.ª Sara Bolonas da em-presa B+ Comunicação e com a Professora Luísa Agante do Instituto Português de Adminis-tração de Marketing.

A “Influênciada ComunicaçãoSocial” debatidaO colóquio “A influência da Co-municação Social” realizou-se em Barcelos no passado dia 23 de Maio. no Auditório da Biblio-teca Municipal de Barcelos falou-se do comportamento o humano e daquilo que pode ajudar a me-lhor a sua compreensão. A aber-tura do Colóquio ficou a cargo de joão Albuquerque, Director Ge-ral da Associação Comercial e Industrial de Barcelos e de josé Maria Faria, contou ainda com a presença do Fotojornalista Ri-cardo Machado, Carlos Araújo da Barcelos TV e ainda Alberto Serra da RTP Porto.

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Reportagem | As novas plataformas em debate na Faculdade de Filosofia

Para onde nos levam as novas tecnologias? Faculdade promove reflexão sobre as implicações das novas plataformas no Jornalismo e na democracia

André ArAntes, João bAstose ricArdo bArrosFoto: MArgAridA rAMos

Numa altura em que a licen­ciatura de Ciências da Comu­nicação celebra o seu quinto aniversário, a Faculdade de Filosofia de Braga (FacFil) re­lançou os próximos anos com a promoção de um debate sobre as implicações das novas pla­taformas na formação de um novo jornalismo. Subordinado à questão “Novas Plataformas, Novo Jornalismo?”, o debate contou com a presença de Pa­checo Pereira, Eduardo Cintra Torres e Joaquim Vieira, ser­vindo ainda para consumar dois projectos antigos. A inau­guração da rádio da Faculdade de Filosofia (FF) e a apresenta­ção do site de notí­cias do jor­nal Comunica*te.

O presidente do Observatório da Imprensa, Joaquim Vieira, considerou que as novas pla­taformas de comunicação não geram um novo jornalismo, mas uma nova linguagem. “Não faz sentido levarmos para a inter­net as formas de comunicação tradicionais da televisão ou dos jornais. Se é admissí­vel que num jornal se publique uma entrevis­

ta com três páginas, na internet ninguém vai ler isso, porque o cidadão não tem o mesmo tipo de atenção que num jornal”. Daí­ que Joaquim Vieira entenda que para se captar a atenção do lei­tor seja necessário que os textos de internet sejam “pequenas cápsulas de informação”.

Apesar disso, o ex­provedor do jornal Público observa que a mudança de linguagem, propor­cionada pelas novas platafor­mas, não acarreta uma alteração da ética jornalí­stica. “Os parâ­metros e os valores da prática do jornalismo não devem ser alterados com o advento das no­vas tecnologias”.

O mediático crí­tico de tele­visão Eduardo Cintra Torres apontou como potencialidades das novas plataformas a capaci­dade “de amplificação de fenó­menos”, a partilha universal de informação e a velocidade com que isso está a ser feito. “Antiga­mente fazí­amos um comentário no bairro ou no café e isso fica­va por ali. Hoje, se escrevermos na internet, passados dez segun­dos, um chinês ou um argentino pode ler isso”, exemplificou. Em sentido inverso, Cintra Torres sublinhou que a expansão das novas plataformas está a provo­

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Reportagem | As novas plataformas em debate na Faculdade de Filosofia

O factor Web a partir de Setembro

sITE COMUNICA*TE

Um novo órgão de informação em Braga

Faculdade de Filosofia prepara lançamento do site de notícias Comunica*te já para Setembro.Concebido como extensão do jornal Comunica*te, o site pretende ser um “laboratório de apredizagem”. Financiado pela faculdade e pelo mecenato, a nova plataforma expande, assim, a oferta informativa em Braga, prometendo “não concorrer com o mercado, mas estar no merca-do”, segundo Domingos de An-drade, professor de jornalismo.

car uma perda de importância dos jornais, das televisões e das rádios. “A rádio é um exemplo de um meio de comunicação que se tornou em algo de menos re­levante para a vida colectiva”.

Sobre as implicações das no­vas plataformas para a definição de um novo jornalismo, o crítico realça que estas não podem in­fluir no núcleo duro do jornalis­mo. “O jornalismo é uma activi­dade profissional, inserida numa instituição, consensualmente, reconhecida pela sociedade”. Nesse sentido Cintra Torres apontou como maus exemplos de “pseudojornalismo” os blo­gues e o dito jornalista cidadão, considerando que nem os blo­gues são órgãos de comunicação nem o jornalista cidadão é jor­nalista. “Os cidadãos não se trei­naram na actividade, trabalhan­do numa instituição e seguindo regras próprias”.

Num regresso à FacFil, Pa­checo Pereira, antigo aluno da faculdade, vincou que o jornalis­mo deve ser encarado “como um exercício de mediação que trabalha a notícia, colocando­a em contexto, enquadrando­a de forma a torná­la compreensí­vel”. Para Pacheco Pereira “não há sociedades democráticas sem esta mediação, mesmo em face da pressão da demagogia”. O co­mentador apontou como exem­plo “a ideia que na internet vale tanto quem sabe como quem não sabe

Numa abordagem mais so­ciológica das alterações que as novas plataformas estão a pro­vocar, indicou, como um fenó­meno recente da sociedade con­temporânea, a solidão urbana. “Há poucas coisas tão solitárias como alguém às três da manhã diante de um computador. Esta solidão é acompanhada pelas novas sociabilidades geradas na internet como o Facebook”.

Para o historiador, “as novas tecnologias exercem um efei­to pernicioso se destruírem o equilíbrio fundamental para a existência de uma democracia”. O equilíbrio entre logos, pathos e ethos. Se as novas tecnologias se centram apenas no pathos, no espectáculo, nas relações emotivas, as sociedades empo­brecem. E se, para além disso, tornam difícil o acesso ao logos, a argumentos intelígiveis, que não cabem no soundbite das notícias, então entramos numa sociedade desequilibrada”, fun­damentou.

A marcar o Dia Aberto da Fa­cFil, onde um grupo de jovens das escolas secundárias do distrito de Braga visitou a faculdade, esteve o lançamento da rádio FF. Aos microfones da rádio, o director da FacFil, Alfredo Dinis, fez questão de frisar o “carácter católico” da estação, que promoverá o plura­lismo, a tolerância e os valores do humanismo cristão”. O director adiantou que a rádio FF tem um acordo com a rádio Renascença, que lhe permite emitir noticiários da mesma. Concebida como um laboratório de aprendizagem, a rádio ganha, agora, forma no en­derço www.facfil.braga.ucp.pt.

500MIlhõEs dE FACEbOOkEANOsFACEbOOk lIdErA rEdEs sOCIAIs

2MIlhõEs dE POrTUgUEsEsACEdEM dIArIAMENTE à INTErNET sEgUNdO relatório anual da MarKteSt de 2010

Três CONvIdAdOs

O jornalismo em análise

Pacheco PereiraComentADor polítiCoe hiStoriADor

Que avalição faz do jorna­lismo em Portugal?

A minha avaliação é má. temos um jornalismo pouco cuida­doso, pouco elaborado, muito atrás das modas, com pouca memória, com pouca densida­de, por exemplo, nos editoriais. penso que um dos problemas graves do jornalismo português prende­se, precisamente, com a fragilidade da edição e do papel dos editores nos jornais.

Como avalia os modelos de debate entre os candidatos a primeiro­ministro?

estes modelos de debate são francamente maus. repare­se que o grosso do debate é sobre economia. Como é que se podem fazer perguntas com sentido em relação à evolução do debate se, na verdade, não

se sabe nada de economia? este tipo de debates é pre­judicado pela falta de trabalho jornalístico. para além disso, valoriza­se o debate que é um meio espectacular.

Em que medida estes de­bates contribuem para o esclarecimento dos portu­gueses?

não acho que se retire gran-de informação, por exemplo, de um debate entre louçã e Jerónimo de Sousa. Se houves­se um critério jornalístico os debates seriam entre passos Coelho e Sócrates e, eventual­mente, portas e louçã. Devia haver uma algum critério, mas o que acontece é que se segue um modelo pseudorepresenta­tivo que, aliás, é imperfeito, na medida em que os pequenos partidos ficam de fora.

“NãO se retira graNde iNfOrmaçãO Num debate eNtre LOuçãe JeróNimO”

Joaquim VieirapreSiDente Do oBServAtórioDA imprenSA

As novas plataformas po­dem acabar com a reporta­gem?

Considero que as novas plata­formas podem dar uma nova dimensão à reportagem. isto é, não fazer a reportagem na forma clássica, quer seja da televisão, quer dos jornais ou das rádios, mas permitir que, através das novas tecnologias multimédia, se façam reporta­gens que integrem as lingua­gens tradicionais. É preciso um exercício de imaginação para aplicar as tecnologias da internet e através delas compor um tipo de reportagem completamente diferente, com uma linguagem completamente nova.

Como analisa o estado da reportagem nos jornais portugueses?

verifico que há pouca repor­tagem. e acho que há pouca reportagem porque isso implica algum investimento. repare que é preciso sair da redacção, da cidade, às vezes, até do país. Como os jornais, hoje em dia, e de uma forma geral os órgãos de comunicação em portugal, estão a atravessar uma crise económica, em que se exige contenção de custos, isso leva a que se invista mui­tíssimo pouco na reportagem.

O que significa para o jor­nalismo a reportagem?

A reportagem como um género novo do jornalismo é, de certa forma, aquilo que em grande parte torna o jornalismo fasci­nante. lamento que este desin­vestimento esteja a afectar os jornais e o jornalismo.

“ a repOrtagem tOrNa O JOrNaLismO fasciNaNte”

Eduardo Cintra TorresCrítiCo De televiSão

Atendendo aos resultados da RTP, a melhor solução será privatiza­la? E a Lusa?

não é o fundamental. o impor­tante é haver algum serviço público com bons conteúdos. Se a rtp continuar pública tem reduzir drasticamente os custos, para que o dinheiro, que todos pagamos para alimentar aquele “monstro”, seja bem utilizado. Quanto à lusa, não vejo problema em continuar com uma participa-ção do estado. mas também não sei qual é o drama de se tornar privada. Até porque houve casos de intervenção política. o director da lusa é amigo pessoal do primeiro­mi-nistro, sendo indicado por ele. havendo esta intervenção na lusa não vejo qual é o proble-ma de se privatizar o capital do estado.

Esses conteúdos têm de custar 300 milhões de eu­ros aos contribuintes?

De certeza que não. A maior parte do dinheiro que vai para a rtp é para despesas administrativas, operacio­nais, pagamentos de dívidas causadas por erros de gestão acumulados durante décadas e para conteúdos que não são de interesse público. Com menos dinheiro pode­se fazer melhor.

Que programas da RTP não são de seviço público?

Quando falo em interesse públi­co, penso em programas que outras estações podem fazer, não sendo necessário aplicar o dinheiro dos cidadãos. Diria que o preço Certo e algumas novelas não são programas de interesse público.

“se a rtp cONtiNuar púbLica tem de reduzir drasticameNteOs seus custOs”

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Desporto | Treinadores jovens, atletismo e canoagem

OpINIãO

Por onde anda a impressa desportiva portuguesa?Como aspirante a jornalista venho trazer à liça uma proble-mática que, julgo, tem vindo a deixar estupefactos os mais diversos leitores da imprensa desportiva.Falo dos jornais desta espe-cialidade, que se mostram tendenciosos e em que a maioria das notícias não es-conde uma influência ou uma qualquer tendência clubista. não mencionarei nomes, como é óbvio, não sendo, contudo, difícil descobrirem o jornal a quem me dirijo através deste mesmo artigo.Vejamos: como é possível uma suposta imprensa nacional, independente, dar mais ênfase a uma vitória de um clube português contra uma equipa de escalão idêntico ou inferior e deixar passar a vitória de um clube revelação contra um colosso europeu? Como é possível fazer-se capa de um assunto sem grande relevância quando nesse mes-mo dia uma equipa se prepara para fazer aquele que pode ser o jogo da sua vida?o que me apraz dizer sobre determinada imprensa des-portiva praticada em Portugal é que é pura e simplesmente vergonhosa. não só no papel, como no ecrã fartamo-nos de ver e assistir a uma busca de-senfreada de pormenores para defender determinados interes-ses de um suposto clube, mes-mo que passe por minimizar o seu antagonista, por exemplo, através de repetições constan-tes de uma mesma jogada até que se encontre uma ponta de uma unha que toque no ad-versário para validar a tese de falta por marcar e retirar, mui-tas vezes, a justa crítica das imparcialidades da arbitragem. uma vergonha, este tipo de imprensa desportiva praticada em Portugal por alguns meios de comunicação quer escrita, falada ou televisionada.Porque não uma imprensa imparcial? Sem cores clubistas por trás com justificação em preten-sos “shares”? uma imprensa cativante para todo o tipo de leitor? Meus senhores, sugiro que mudem de atitude antes que os nossos jornais desporti-vos se transformem em autên-ticas revistas cor-de-rosa.

Adriano Pereiraaluno da FaCFil

O futebol hoje em dia é visto como uma fábrica de sonhos e dinheiro. José Mourinho é o ícone dessa fá-brica, onde cada vez mais jovens abandonam os seus estudos para irem em busca de um futuro pro-missor junto aos relvados.

Luís Pedro, mais conhecido como Joninhas, um jovem trei-nador licenciado em Ciências da Comunicação pela Universida-de do Minho, é um exemplo vivo dessa nova realidade. Com apenas 20 anos abandona a área da Co-municação para iniciar a sua vida profissional como treinador de futebol em Coimbra, na Fundação Miguel Escobar, uma instituição para crianças essencialmente des-favorecidas, onde o objectivo prin-cipal não é somente a preparação para uma carreira de futebol, mas também para a vida social. Percor-reu 2280 quilómetros em busca de um sonho, em Inglaterra, onde foi servente de mesa, trabalhando arduamente para conseguir pagar as suas formações como treinador, para mais tarde regressar a Portu-

Cristiana silva, João alves,Kátia Bernardes

em braga como no país os jovens abandonamtudo para seguir carreira no futebol

gal e seguir carreira. Actualmen-te encontra-se no Maximinense como treinador dos benjamins (sub-11) e adjunto da equipa de juniores. Tem como objectivo e sonho ganhar um dia a Liga dos Campeões, sendo a sua fonte de inspiração José Mourinho, mais conhecido como o “melhor treina-dor do mundo”.

O mesmo acontece com Bruno, um jovem de 25 anos licencia-do em Fisioterapia, curso que o despertou para o mundo dos rel-vados. Actualmente estuda Oste-opatia, mais uma especialização ligada ao corpo humano, área que considera fundamental dominar para desempenhar o seu papel como treinador de futebol.

Bruno inicia a sua vida profis-sional aos 22 anos onde começa a treinar crianças dos 10 aos 12. Ao contrário de Luís Pedro, que se inspira nas ideias de Mourinho, Bruno, apesar de ter uma admira-ção por este, não considera a sua metodologia de trabalho adequa-da aos treinos das camadas jovens, visto que, para este jovem treina-dor “no futebol de formação deve-se, não somente formar futuros

Treinadores em busca de maturidade

Luís Pedro22 anoSTreinador

Licenciado em Ciências da Comunicação. Treina os sub-11 no Maximinense e é adjunto da equipa de juniores.

Bruno25 anoSTreinador

licenciado em Fisioterapia. Treinou crianças dos 10 aos 12 anos, e está actualmente a estudar osteopatia.

jogadores, mas também ajudá-los a crescer como seres humanos”.

A admiração por Mourinho não se limita aos jovens treinadores. Nélito, 52 anos, actualmente ao serviço do Vilaverdense F.C., clube que recentemente se sagrou cam-peão da Divisão de Honra da A.F. de Braga, diz que “toda a gente ad-mira o Mourinho, pois ele tem um estilo próprio e é exemplar no ri-gor que impõe”. Em concordância com Mourinho, Nélito também defende o “rigor e disciplina”, no entanto ele salienta que têm de haver momentos de descontrac-ção e liberdade, assim como de responsabilidade e de respeito. Para Nélito “é fundamental que um aspirante a treinador viva, sinta e respire futebol”, sendo que considera indispensável a forma-ção profissional e a experiência prévia como jogador, para ter um futuro promissor como trei-nador, tendo sempre em mente como principais características de um bom treinador: “ser um bom orientador, ser rigoroso, saber im-por regras e respeito, saber gerir o balneário e, fundamentalmente , gostar e amar o futebol”.

SuSana e nélSon em entreviSta

Corrida pelo sonho

Susana Castro e Nelson Silva, dois jovens, com 29 anos, am-bos com Síndrome de Down. O que os difere dos restantes? Uma forte paixão pelo desporto e um pelo outro. Alunos da CERCIGUI (Cooperativa de Educação e Re-abilitação de Cidadãos Inadapta-dos do Concelho de Guimarães), viram no atletismo o caminho do sucesso, onde podem marcar a diferença. Já galardoados diver-sas vezes em competições nacio-nais e internacionais, estes dois jovens revelam que para além das limitações que a vida nos proporciona, tudo está ao nosso alcance, apenas requer esforço, dedicação e acima de tudo, uma enorme paixão pela modalidade.

Estes dois jovens viram no des-porto, nomeadamente no atletis-mo, uma forma de contornar as peripécias da vida. Mas não é só

Helena rodrigues,teresa silva, sílvio gonçalves

o atletismo que faz parte do rol de actividades praticadas por Nel-son e Susana, ambos têm uma vasta lista de modalidades como judo, futsal e mesmo desportos radicais. Prova disso é que, para além das competições ligadas ao atletismo, Nelson conseguiu me-dalha de ouro e o título de Cam-peão Nacional de Judo Adaptado para a Deficiência Intelectual. No atletismo, Nelson ganhou a medalha de ouro em estafeta no Campeonato do Mundo do Méxi-co e Susana venceu a medalha de prata nesse mesmo campeonato.

Dois casos de sucesso inseridos numa instituição que luta diaria-mente pelos direitos de igualdade e para um bem-estar de todos os seus utentes, uma instituição que tem como objectivo, segundo Rui Leite, professor e tutor de Sunana e Nelson, “Promover a inclusão social da pessoa com deficiência de acordo com o código de ética”. para além dessa mesma luta pelos

direitos de igualdade, a instituição faz também uma corrida contra o relógio para poder fornecer uma qualidade de vida diferente aos seus utentes, visto que os apoios são escassos, como afirma Rui Leite “Temos apenas o apoio ca-marário e dos nossos associados”. Mas apesar desses contratempos, conseguem prestar total apoio a todos os seus atletas, como o caso de Susana e Nelson.

Estes dois atletas não vêm só o desporto como a única alternati-va para o seu futuro, aliás, ambos

revearam ao Comunica*te que a cumplicidade de ambos ul-trapassa os limites da meta e já estão juntos à 18 anos. Ao serem questionados sobre prespectivas futuras, as respostas foram sim-ples e claras “Casar e arranjar um trabalho no futuro”.

Dois exemplos de sucesso que, com o apoio da CERCIGUI, al-cançaram o sonho que os une há vários anos e provam que a chamada “diferença” não passa de um estereótipo da nossa so-ciedade.

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Canoagem ganha asas no MinhoA canoagem em Portugal surgiu em meados dos anos 30, tendo ganho um novo impulso a par-tir de 2003, aquando da consa-gração de Emanuel Silva como campeão do mundo de juniores e, mais ainda, quando obteve o sétimo lugar nos Jogos Olímpi-cos de Atenas em 2004.

Natural de Braga, membro e atleta do Clube Náutico de Prado, Emanuel Silva é, aos 25 anos, o nome mais repre-sentativo da modalidade em Portugal.

Orientado no Clube Náutico de Prado pelo técnico José Sousa integra os planos de treino do seleccionador nacional, Ryszard Hoppe, sempre que se prepara para representar o país.

Em entrevista ao Comunica*te,

Emanuel Silva afirmou dedi-car-se a tempo inteiro à mo-dalidade, constituindo a bolsa olímpica que aufere por inte-grar o projecto olímpico Lon-dres 2012, a sua única fonte de rendimento. Quanto a outros apoios à modalidade, o atleta referiu que apesar da canoa-gem ter sido a mais medalha-da no ano transacto, os apoios governamentais são muito limitados e controlados. No entanto, Emanuel Silva con-sidera que a canoagem está em crescimento, encontrando muitos adeptos junto da po-pulação mais jovem, o que, na sua opinião poderia “ser po-tencializado se fosse incluida nos programas de desporto escolar”, diz o ateta.

Quanto às exigências para esta prática desportiva, o atleta de-clarou ser fundamental a mo-

João RibeiRo, Juliana gomese sofia alves

UM MINUTO

Vilaverdensesobe à 3ª nacionalo Vilaverdense garintiu a pro-moção ao terceiro escalão do futebol nacional. o clube termi-nou o campenato da divisão de honra da Associação de Futebol de Braga em primeio lugar com 63 pontos, levando a melhor sobre o seu adversário directo, o Marinhas, com 59 pontos.

tivação e o sentido de respon-sabilidade que, aliados a uma diversificada preparação física (ginásio, corrida, natação, ciclis-mo e treino no rio) tornam pos-sível a competição ao mais alto nível. Nos valores de Emanuel Silva não se inclui o recurso de substâncias proibidas, porque “mascaram a verdade desporti-va e colocam em risco a saúde dos atletas”.

Os sucessos alcançados não lhe retiraram a motivação para continuar a vencer na canoagem e merecer o reconhecimento público, em especial junto dos mais jovens.

Clube Náutico de Prado:um caso de sucessoO clube náutico de Prado foi formado a 1982, fruto de uma separação do grupo desportivo de Prado, onde os desportos

sEdE dO ClUbENáUTCO dE prAdOFoTo: AdriAno pereirA

náutios eram postos de parte, e todos os fundos monetários revertiam a favor da modalida-de mais praticada no país, o fu-tebol. Um clube em ascenção, mas com o nome já bem cimen-tado a nível nacional e inter-nacional. Possui cerca de 100 atletas federados, mas apenas 70 no activo, não contando com os jovens provenientes das es-colas. Um clube que se foca unicamente na canoagem, mas que em tempos “quando era secção do Grupo Desportivo de Prado tinha também remo, mas não andaram para a frente com isso”. São as palavras de José Sousa, antigo competidor de canoagem e actual treinador de Emanuel Silva. Um caso de sucesso, sempre presente em todas as competições interna-cionais para acompanhar os seus pupilos.

Clube de Rugby de Arcos de Valdevezé eliminado

S.C. Braga/ AAUM sagra-se campeãoo S.C. Braga/ AAuM consa-grou-se o campeão da série A do campeonato de Futsal correspondente à segunda divisão nacional, assegurando a promoção ao escalão máximo da modalidade em portugal.A equipa arsenalista disputa ainda o título de campeão nacional da segunda divisão frente aos Leões de porto Salvo (vencedo-res da série B) nos dias 4 e 11 de junho.

Vitória SportClube continuaaposta no basquetebolA secção de basquetebol do Vitória de Guimarães pretende continuar a apostar na regula-ridade do seu desempenho na primeira divisão nacional. os dirigentes do clube já comunica-ram que é vital a renovação de contrato com as peças funda-mentais da equipa, de modo a manter a estrutura base que será completada com a inclusão de varios jogadores das cama-das jovens.

o CrAV não conseguiu qua-lificar-se para a segunda fase da primeira etapa do circuito nacional de Sevens realizada dia 14, em Lisboa. num grupo em que tinha como adversários o Belenenses, Cascais e Se-tubal, a equipa minhota não foi além do terceiro lugar, com uma vitória e duas derrotas.

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“O Theatro Circo é uma aberração”Durante a semana, trabalha como consultorjurídico. Ao fim de semana cria músicacom a mesma determinação e serenidade

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Entrevista | Adolfo Luxúria Canibal

Pelo menos uma vez por sema-na, Adolfo Morais Macedo, de 51 anos, consultor jurídico do Instituto da Conservação da Natureza, muda de persona. Durante algum tempo esquece a toga, os seus dois últimos no-mes, e os processos cujo desen-rolar sem falhas deve garantir. Adolfo Luxúria Canibal, voca-lista dos Mão Morta, abre-se e fala ao Jornal Comunica*te. Sem se fazer notar, na Rua do Souto, no centro histórico de Braga, é na Brasileira que se empurra a porta para falarmos de outro universo.

Como estabeleceu o pri-meiro contacto com a mú-sica?

O meu contacto com a mú-sica é muito tardio. O contacto era esporádico e só quando vim para Braga frequentar o ciclo é que comecei a comprar alguns singles. As referências da altu-ra foram Alice Cooper, T-Rex e Creedence Clearwater Revi-val. Depois, contribuiu muito o meu grupo de amigos, que conheciam bastante bem ban-das como Beatles e até Helton John. Aqui, esta era a cultura dominante, viviam-se os bailes de adolescentes, a música para dançar, os shakes e os slows. Em 1977 com o punk, a músi-ca agressiva e repetitiva criava um tapete altamente industrial que se tornou uma revelação para mim. Foi nesta época que tive acesso aos primeiros discos como Never Mind The Bollocks dos Sex Pistols, Siouxsie and the Banshees e The Television.

Sentiu que a era punk que se vivia em Inglaterra

com o eixo Manchester Li-verpool teve reflexo em ter-ritório nacional?

Mais tarde quando fui para a Universidade em Lisboa, de-corria um ambiente marginal, underground, uma espécie de vivência do punk lisboeta. Acompanhei esta fase apaixo-nadamente porque tive acesso aos concertos e encontros, des-de o aparecimento dos Xutos e Pontapés, Minas e Armadilhas e os próprios Corpo Diplomá-tico. Sem qualquer apetência, sem predisposição e jeito per-cebi que queria fazer música e que para o fazer não era neces-sário saber tocar, mas sim criar uma performance musical. A música surge assim como mero pretexto de um acontecimento. Foi essa lição que captei, trouxe para Braga e veio a reflectir-se no meu percurso.

Antes de Mão Morta já ti-nha trabalhos em 1981 com os Bang Bang. Como se de-senvolveu este processo?

Desde os Bang Bang e os Au Au Feio Mau foram processos bastante demorados até conso-lidarmos um estilo para os Mão Morta. A grande influência foi os Swans. Eu tenho um handi-cap, não sei cantar e não tenho melodia na voz. No meu caso o Michael Gira conseguiu dar-me o paradigma de exploração da voz e foi assim que fui desen-volvendo o meu estilo pessoal.

Como é conciliar o facto de exercer advocacia e ser musico e cantor, são duas personas distintas?

Não, são exactamente as mes-mas. Não quer dizer que não haja excepções, mas normal-mente eu funciono como jurista durante a semana e, as músicas

acontecem normalmente ao fim-de-semana. Sendo assim é fácil de conciliar as duas coisas em termos temporais e não há agressões mutuas.

Considera sufocante e claustrofóbicos os padrões para a criação de música que se impõem nas cida-des?

Sim, não propriamente ligado à cidade porque não é a cidade que é claustrofóbica em si. É a falta de alternativa, a falta de preenchimento conjugada com a carência de estímulos e de es-paços criativos que funciona a claustrofobia.

O facto de se fazer músi-ca para um determinado público cria um distancia-mento deliberado. Acha que esta distância leva a criação de uma caricatura para o desconhecido e para o que é novo?

O mercado português é um mercado pequeno. Alguém que faz música de forma radical, e que não entre nos parâmetros do comum é caricaturado por essas experiências. Ou seja, a sua profundidade não chega às pessoas, a sua profundidade só chega a quem efectivamente está interessado no tipo de arte que faz.

De que forma surgiu a adopção do seu pseudóni-mo, Adolfo luxúria Cani-bal?

Como qualquer pessoa o pe-núltimo nome é da mãe e o úl-timo é do pai. A minha mãe é africana, tal como eu, o meu pai é bracarense. A luxúria tem a ver com o lado do calor, com o lado luxuriante que é tipica-mente africano, e o norte é a

André ArAntes, Luís CostAe MArgAridA rAMos

Adolfo Moraisde Macedo

51 Anos, AdvogAdo, MúsiCo e poetA

PERFIL

Adolfo Luxúria Canibal nasceu Adolfo Morais de Macedo em Luanda, em 1959. Licenciado em direito pela universidade de Lisboa, exerceu advocacia na capital até 1999 e ainda hoje é consultor jurídico do instituto da conservação da natureza. Viveu com a cineasta francesa Mariana otero entre 1993 e 2004 com quem teve um filho que vive com a mãe em Paris. Adolfo Luxúria Canibal foi para Paris em 1999, onde praticou diversos ofícios, como tradutor, actor de figuração, gerente comercial, jornalista, cronista, voz para telemóveis, estudos de mercado, crítico musical ou gestor liquidatário de sociedades cinematográficas. Depois de cinco anos regressou a Braga e à consultoria jurídica. Vive com Marta Abreu, antiga baixista dos grupos Voodoo Dolls e Mão Morta e gestora hoteleira, desde 2004.Fundador, letrista e vocalista dos grupos Auaufeiomau e Mão Morta. É com a segunda que cria o culto na cena musical portuguesa. Com álbuns como MUTANTES S.1, considerado o melhor português dos anos 90, Luxúria Canibal nunca viveu bem com o sucesso, prefere um estilo mais underground. A vida de artista nunca se limitou aos Mão Morta, foi colaborador convidado de grupos como Pop Dell’Arte, Santa Maria Gasolina Em Teu Ventre, Golpe de Estado, Mécanosphère, Clã, Wray Gunn e Moonspell. Adolfo Luxúria Canibal não se considera músico, mas sim um alquimista de estilos e abordagens vindos do global da cena musical que viveu até agora.

terra do granito, é a terra de al-guma forma dura, violenta, que está associada ao canibalismo.

No caminho que foi per-correndo desde os Bang Bang em 1981, desempe-nhou vários papéis como letrista e vocalista em qual deles se sentiu melhor?

Sinto-me à vontade nos dois. Mas de certo modo encaro me-lhor o papel de letrista, uma vez que como vocalista tenho algu-mas limitações. Como letrista sinto-me menos limitado, con-sigo facilmente fazer uma letra a partir do nada, sem estar com grandes preocupações, faço com que ela funcione de qual-quer forma.

De todas as bandas e pes-soas com quem trabalhou e desenvolveu projectos, tem alguma referência de com quem tenha gostado

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Luxuria CanibaLno café brasileira. foto: Margarida raMos

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Entrevista | Adolfo Luxúria Canibal

mais de trabalhar?Tenho e são sempre as mes-

mas. Fiz belíssimos trabalhos com o Carlos Fortes nomea-damente o álbum “Mutantes S.21”. Gosto de trabalhar em grupo e não há propriamente uma prevalência ou uma prefe-rência específica.

A última entrevista que fizemos foi para uma banda de Braga que são os Long Way to Alaska e tivemos oportunidade de conhecer os estúdios que alugam no estádio 1º de Maio. O que é que acha deste tipo de ini-ciativas lançadas por parte da câmara municipal?

Esta foi das iniciativas mais importantes em termos cultu-rais que a Câmara de Mesqui-ta Machado fez nos 35 anos em que está no poder. Desde o princípio dos anos 90 que cada banda se afastou para o

seu canto, para a sua garagem e a maior parte não se conhe-cia. Foi assim até existirem os estúdios do estádio que, não só permitem que o grosso de todas as boas bandas de Braga se reúna e troque ideias como possibilita a confraternização. Há bandas que foram criadas a partir do conhecimento que

os músicos fizeram nestes es-túdios. Foi uma revolução que só não foi acompanhada pelos locais onde essas bandas pos-sam tocar ao vivo. O que pode agora vir a mudar com outras iniciativas como a transmuta-ção do antigo quartel da GNR, no Campo da Vinha, em espa-ço cultural. Pelo projecto será provavelmente uma das gran-des obras em termos culturais para compensar o que foi feito no Theatro Circo, que seria o ex libris da cidade e é uma ver-gonha.

Quanto à questão do The-atro Circo pensa que o ego político o tornou num ele-fante branco?

O Theatro Circo é uma aber-ração. Existiu uma obra de re-cuperação da qual o resultado final incluiu a criação de uma segunda sala e de um espaço de palco perfeitamente moderno,

com todos os apetrechos que supunham a utilização e a ren-tabilização desse espaço. Come-ça a ser um descalabro de gestão económica e cultural quando, depois desta renovação, se pre-tende manter o Theatro Circo tal com era antes. Nos primei-ros tempos, a programação era um luxo, principalmente nos primeiros 6 meses e continuou a ser um luxo relativo no pri-meiro ano. Depois foi descam-bando até ao estado que está actualmente. Portanto, é esta falta de investimento cultural que o transforma numa aberra-ção económica.

A falta de investimento cultural coincide com a ge-rência actual?

Sim. Coincide com a gerência, com os egos “político - parolos” dos responsáveis que basica-mente envolvem duas pessoas. Por um lado o Rui Madeira e

por outro a vereadora da Cul-tura, não podemos encontrar mais responsáveis em lado nenhum. Os responsáveis são esses, têm um nome, têm uma cara, portanto, não vale a pena estarmos aqui a não dar o nome aos bois.

De que forma será possí-vel reavivar o centro histó-rico de Braga?

O reapropriar do centro his-tórico é um fenómeno que está a acontecer no Porto, e em Lis-boa em que o centro começa a ser desertado pelos habitantes.

Eu estou profundamente convencido que se o engenhei-ro Mesquita Machado, que não é é particularmente sensível à cultura, tivesse bons assesso-res culturais esta cidade podia ser uma cidade fascinante. Re-úne as condições, a juventude, os meios e um centro histórico lindíssimo.

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“Esta cidade podia ser uma cidade fascinante. Reúne as condições, a juventude, os meios e um centro histórico lindíssimo”

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Cultura | S. João Braga e Guimarães 2012

UM MINUTO

Sara Tavares vai por bracarenses a “xintir”A 11 de junho às 21:30h sobe ao palco do theatro Circo, Sara Tavares com o seu novo álbum “Xinti” que três anos depois sucede Balancê. “Xinti” ou “sente” foi apresentado pela primeira vez ao vivo no Barbi-can Theatre de Londres como afirma Sara: “Este álbum não é sobre uma canção, é algo para sentir”. Recentemente a can-tora e compositora portuguesa recebeu o prémio de melhor voz feminina nos Cabo Verde Music Awards.

Festival Gil Vicente invade a cidade de Guimarãeshá vinte e quatro anos que se realiza o festival Gil Vicente, o principal festival de teatro na cidade de Guimarães. Este ano realiza-se novamente no Cen-tro Cultural de Vila Flor no mês de junho entre os dias 2 e 11. o festival vimaranense preten-de invocar o patrono do festival e valorizar o teatro como uma arte, apresentando sempre es-pectáculos em estrea e ante-estreia.

Galeria Show Me aposta em João NoutelA galeria de arte contemporã-nea bracarense apresenta en-tre os dias 7 de maio e 8 de ju-nho a apresentação intitulada por GLORY DAYS. João Nou-tel é designer atural do Porto e mora em Lisboa. Licenciou-se na Lusíada em Direito e fez um pós graduação em dese-nho técnico. A sua verdadeira paixão é o design que pratica a tempo inteiro.

Em 2012 o “berço” respira Cultura“Guimarães 2012 Capital Euro-peia da Cultura” é um projecto que pretende, por um lado, de-senvolver uma economia criati-va e, por outro lado, desenvolver uma nova geografia dos lugares da cidade de berço. Quem o diz é Ana Bragança, que trabalha na direcção do projecto, acrescen-tando ainda que se trata de um conjunto de projectos direccio-nado para a experiência da vi-sita à cidade. Pretende-se que o turismo em Guimarães deixe de ser só cultural e passe a ser mais criativo, de interacção social.

É um projecto que por si só já empregou muitas pessoas e tem um laboratório de empreende-dorismo que “tem como objec-tivo criar 27 novas empresas de jovens inovadores, mas que muitas vezes não sabem dar o primeiro passo e não têm as fer-

ELSA BRITO E FILIPA OLIVEIRA ramentas necessárias do ponto de vista de gestão de uma em-presa”, explica Ana.

A direcção do evento tem um indicador do número de pesso-as que gostaria de atingir de um milhão e meio, incluindo tanto turistas como artistas, produ-tores. O maior número de visi-tantes são nacionais, os estran-geiros vêm especificamente para um determinado evento.

110 milhões de euros é o orçamento total da Câmara para o evento

A cidade está em alvoroço devido às obras de remodela-ção, mas, para além disso, está também a sofrer um problema de alojamento. Ana Bragança diz que, apesar desta dificulda-de “este ano já estão a aparecer novos investimentos turísticos e contaremos também com a aju-da de localidades próximas que poderão acolher visitantes”.

Centro Cultural vila flor foto:elsa brito

O projecto é uma oportuni-dade única “a cidade vai tor-nar-se num modelo e exemplo a nível europeu de como con-segue capitalizar e aproveitar este extraordinário investi-mento para o desenvolvimen-to de uma nova realidade e de

uma nova economia”, remata Ana Bragança. O evento tem como principal objectivo me-lhorar a qualidade de vida das pessoas da cidade e criar con-dições para que seja uma ci-dade atraente a nível cultural, profissional e económico.

dE pEssOAs prEvIsTAs NOs fEsTEjOs

1 m

A festa popular do S. João em Braga é a mais concorrida da ci-dade. Remonta o século XV. Este ano decorre entre os dias 18 e 26 de Junho. A cidade já começou a vestir-se de luz e de cor para receber acima de um milhão de pessoas. O senhor Luís Silva é um típico bracarense, envolvido há muitos anos na Associação de Festas de S. João em Braga, e ainda lembra as noites de S. João da sua juventude, quando se levavam mantas, o garrafão de vinho, a “regueifa enfiada no braço” e o farnel com a sar-dinha, pataniscas e o bacalhau frito. “Todas as famílias, quer as urbanas quer as rurais, levavam mantas e estendiam-nas perto da ponte de S. João e estava-se ali a ouvir a banda filarmónica e a ver o fogo de artifício”, diz. Após a meia noite e, ao fogo de artifício, se houvesse dinheiro o chefe de família ia comprar o doce típi-co da festa o “doce branco, de cristalino açúcar” e, a limona-da, mas “havia anos que íamos para lá quase a seco, sem nada”.

AdRIAnA GOnçALVESE ARIAnA AndRAdE

Na recta final para a festa mais esperada de Braga os preparativos e as histórias são muitas

A noite era passada nas ruas da cidade e na manhã seguinte ia-se lavar a cara ao rio, no dia de S. João, porque se dizia que a água estava abençoada e trazia prosperidade. A procissão dos Santos do Mês de Junho percor-re a cidade no dia de S. João, e inclui o carro das ervas à frente, seguido do Cortejo do Rei David e o Carro dos Pastores, e conta com milhares de espectadores. Estas procissões enquadram-se num programa de romarias da cidade. “Em Braga o S. João des-taca-se por ser uma romaria au-tentica, com todos os ingredien-tes de uma romaria do Minho, com cor, alegria, o que exibe a chama do povo minhoto”, e que o senhor Silva tentou manter o mais fiel possível “embora hoje o S. João seja mais profano que religioso”, rematou.

São João BaptistaPrimo de Jesus Cristo, filho de Santa Isabel e de São Zacarias. Segundo Jesus Cristo, São João era o maior de todos os profetas, chegando mesmo a proferir que ele próprio não era digno de lhe desatar os cordões das sandá-

Capela de s. joão foto: andré arantes

S. Joãodá cáum balão

MIl EUrOs EM gAsTOs NO EvENTO

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lias. Foi São João quem baptizou Jesus Cristo. Vivia no deserto, alimentava-se de gafanhotos e vestia peles de animais. Foi de-golado pelo rei Heródes a pedido da bailarina Salomé porque São João recriminava a vida pecami-nosa que o rei partilhava com a mãe de Salomé. A iconografia costuma representar São João com um atributo, o cordeiro, porque segundo a Bíblia, quando Jesus Cristo chegou ao pé de São João para ser baptizado apontou e disse “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

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Cultura | Roteiro, laboratório e sugestões

junho 2011 | COMUNICA*TE | 15

brAgA pOr UM pINCEl André ArAntes, Luís costA e MArgAridA rAMos

lAbOrATórIO brACArENsE

Vitor Zapa:O Pintor VoadorÉ na sua casa, no cubículo onde se encontra o ateliê, que se reproduzem as ideias de Vítor Zapa. Com 53 anos e um percurso que remonta a Angola, onde começa a criar os primeiros quadros. homem que vendeu caracóis e cer-veja, percorrendo o país a montar palcos de espectáculos, recria agora a contestação e a descriminação social que flúi ao som de Frank Zappa. A elaboação de arte urbana reflecte intuitivamente o que absorve na realidade do dia-a-dia, sem nunca limitar a compreensão de quem aprecia o seu trabalho. não impõe títulos. Divaga na caracteriza-ção da sociedade sob um ponto de vista pessoal. Pintar retratos e paisagens não o satisfazem. Define-se como um surrealista influenciado por Salvador Dalí.num tom calmo, o cheiro a incenso envolve a conversa e as revelações surgem. “não sou licenciado, vivo da pintu-ra e faço o que me torna feliz”. Mas Zapa não vive só des-sa experiência. Fervilham ideias no sentido de transformar espaços públicos em exposições, recorrendo à escultura e à pintura. É sua ambição levar a arte para as ruas.A passagem por Lisboa e Badajoz deixa saudades, mas é no norte de Portugal que vive e se funde com a população jovem de Braga, inspiração de muitas das suas obras. Algmas das exposições passaram pela Torre de Mena-gem, pela Velha-à-Branca e a próxima a realizar é de 15 de junho a 15 de julho, em Braga, na galeria de Arte Feng Shui. LuíS CoStA e MArgAriDA rAMoS

SugestõeslIvrOs/DIsCOs/FIlMEs

Heitor e a procurada felicidadeAutor: Francois Lelordeditora: Lua de PapelPreço: 12,15€ A história de um jovem psiquiatra que tinha quase tudo que pretendia, e mesmo assim não era feliz. heitor parte numa viagem em busca de compreender o que faz as pessoas felizes e infelizes.

O Morgadode Fafe AmorosoAutor: Camilo de Castelo Branco editora: opera omniaPreço:10€ o Morgado de Fafe em Lisboa foi publicado novamente numa nova edição da comédia de costumes, intitulada de o Morgado de Fafe Amoroso, tal como na edição anterior, foi Cândido de oliveira Martins o responsável pela publicação.

História da Filosofia- sem medo nem pavorAutor: Fernando Savatereditora: Planeta editoraPreço: 17,76€ uma abordagem simples e clara à filosofia. uma reflexão sobre a nossa humanidade. um relato de aventuras racionais, de genialidade e inteligência, onde não faltam descobertas surpreendentes. um livro que faz pensar.

It’s been a long Nightintérprete: Sean rileyand the Slow riderseditora: iplayPreço: 15,90€ o colectivo que se divide entre Coimbra e Leiria lançam o seu terceiro álbum no dia 30 de maio. Silver foi o primeiro single da banda portuguesa.

Codes and Keysintérprete: Death Cab For Cutieeditora: AtlanticPreço: brevemente A banda que iniciou actividade em 1997 conta com oito álbuns. no dia 31 de maio os americanos vão lançar o nono álbum de estúdio. Codes and Keys é o nome escolhido.

suck it and seeintérprete: Arctic Monkeyseditora: Domino recordsPreço: brevementeo lançamento do quarto álbum da banda britãnica está previsto para 7 de junho. A banda de Alex Turner, considerada parte da cena indie rock, regressam a Portugalpara o festival super bock super rock.

A árvore da vidarealizador: Terrence Malickgénero: Drama/ Fantasia o filme conta a história da vida de Jack, e toda a sua penosa infância até à desilusão da vida adulta. Com o intuito de eatar a sua complicada relação com o seu pai. Com tudo isto é questionado pela existencia da fé, procurando respostas para o significado da vida.

X - Men: o iníciorealizador: Matthew Vaughngénero: Acção / Aventura / Drama o quinto filme da saga, que saiu dos quadradinhos, X - Men, regressa ao início. Depois de haver um filme sobre Wolverine, desta vez é Magneto a estrela do filme. este filme mostra como os mutantes se comecaram a conhecer e treinar pela primeira vez. A história de maldade do pequeno erik começa-se a transformar no vilão que conhecemos hoje através dos filmes que sairam.

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CAsA DO rOlãO (lIvrArIA CENTésIMA págINA)Av. CentrAl

Casa construída na primeira metade do século XViii, apresentando uma fachada de dois pisos, representativa do gosto rococó. inicialmente era uma casa particular mas hoje em dia é uma livraria e cafetaria onde somos convidados a ler um livro e tomar café na esplanada.

CATEDrAl DE sTA. MArIA(sé DE brAgAruA dA sé

A Sé Catedral de Braga foi mandada construir no século Xi. o seu primeiro Bispo foi D. Pedro de rates, presente no tecto da entrada da igreja. na catedral estão henrique de Borgonha e Teresa de Leão, os condes do Con-dado Portucalense, pais de D. Afonso henriques. hoje é o ponto religioso de maior relevância do turismo em Braga.

ArCADA DA lApAPrAçA dA rePúbliCA

Foi mandada construir pelo arcebis-po D. diogo de Sousa com o intuito de dar à cidade espaços fora da mu-ralha. encontrava-se aqui até ao final do século passado o Mercado do Pei-xe e a Alfândega. hoje podemos ver a Capela da Lapa, mandada construir por D. gaspar de Bragança em 1761 e dois dos cafés mais emblemáticos da cidade, o Astória e o café Viana.

THEATrO CIrCOAv. dA liberdAde

É a maior sala de espectáculos da cidade de Braga e a mais importante, inaugurada em 1915 com a autoria do arquitecto joão Moura Coutinho. em 1999 tiveram início obras de re-qualificação que duraram sete anos, abrindo novamente ao público em 2006. uma das salas mais bonitas do país que recebe grandes espectácu-los culturais e diversificados.

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A JANEsruA do souto

já passaram muitos anos em que aqui, na loja da rua do Souto, circula-vam os cavalos para chegar à Casa do Passadiço. esta casa senhorial do séclo XVii cedeu o espaço para que se pudesse atravessar até à rua do Souto. Albergou uma das primeiras lojas de pronto a vestir de Braga e recentemente foi restaurada pelos arquitectos Fernando Pinto Coelho, Cristina guedes e Francisco Campos.

EsTáDIO 1º DE MAIOPArque dA Ponte

Lançada a primeira pedra a 28 de Abril de 1946 o estádio 28 de Maio foi inaugurado pelo Presidente da re-pública general Carmona em 1950. Mais tarde, a partir de 1974 com a revolução o estádio passou a deno-minar-se 1º de Maio. um facto pouco conhecido é que a municipalidade de roma ofereceu uma pedra do Coliseu como acto simbólico.

EsCOlA DE MúsICADO CArANDáruA dr. CostA júnior

o autor do projecto,Sousa Moura, desenvolveu um espaço inaugurado em 2010 de onde se concilia a apren-dizagem com o bem-estar e o lazer. em conjunto foi possível transformar um espaço marginal num pólo de desenvolvimento da cultura local.

CAsA DOs CrIvOsruA de são mArCos

A casa dos Crivos é a mais tradicional bracarense, sendo a única sobrevi-vente da tipologia habitacional em Braga. Construída entre os séculos XVii e XViii é agora um dos museus da cidade. Conhecida por a casa das gelosias, nome característico da arquitectura visível na fachada da casa. esta arquitectura em talha deu à cidade uma imagem das metrópoles muçulmanas.

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“ Há animosidadecontra a Católicapor ser Católica”

O ex-director da Faculdade de Teologia de Braga, empossado presidente do Centro Regional da Universidade Católica de Braga no dia 4 de Abril, veio substituir o professor Pio Alves de Sousa.

O primeiro presidente não clé-rigo do centro regional faz uma análise positiva do mandato de Pio Alves, levando-o a afirmar que “o professor Pio foi muito importante para a consolidação do centro regional”. Nada ad-mirado com a nomeação para o cargo actual, considera-a “ a continuação de um trabalho de muitos anos” dentro da Univer-sidade. “ Estou suficientemen-te por dentro, embora não em pormenor, de cada faculdade”, diz o presidente. Encarando de frente o novo projecto, João Du-que afirma que preferia dormir mais descansado sendo apenas director da Faculdade de Teolo-gia e professor, mas também lhe pesaria a consciência se se des-viasse “e simplesmente achasse

ANDRÉ ARANTES E SOFIA ALVES

Recém-chegado à presidência do Centro regional, João Duque faz uma análisedo que é, foi e vai ser a Católica de Braga

André Arantesaluno da facfil

que os outros é que deveriam trabalhar”.

João Duque não tem dúvi-das em dizer que comunidade académica do centro regional é melhor hoje do que no passado. “ Se formos a contar em percen-tagens, se correspondêssemos ao número de alunos da Univer-sidade do Minho, teríamos uma vida académica seguramente intensa”.

Chegado à faculdade num clima de tensão, com a comunicação social a virar as atenções para a Católica de Braga, o professor diz acreditar que tanto as notí-cias do Expresso como o caso do estudante que terá tirado a vida a um cidadão foram “ ex-cessivamente floreadas”. “O que significa que se fossem feitas em relação a outra instituição não teriam feito esse floreado, ou seja, há alguma animosida-de contra a Católica por ser ca-tólica”. O presidente lamenta que, no segundo caso, apenas se tenha reportado que era um estudante da Católica, quando segundo a judiciária conseguiu

apurar estavam alunos de ou-tras etnias e academias, que não a Católica. “Este episódio é muito complexo: primeiro ain-da não está bem demonstrado o que aconteceu, depois estiveram envolvidos muitos alunos nessa noite, a maioria dos quais nem eram da Católica”. Refutando no entanto a ideia de que exis-te uma perseguição à Católica, João Duque não gosta de teorias da conspiração, mas lamenta que estes episódios criem a ideia “de que há alunos violentos na Católica”.Crítico em relação ao “novo vento” que sopra na Euro-pa em geral, e aqui em Portugal em particular, diz que a socie-dade portuguesa “precisa de se voltar novamente para as ciên-cias humanas”. As identidades tecnológicas estão a “ recuperar o tribalismo e está-se a tornar num problema social”, afirma o presidente do centro regional.

“Precisamos de reaprender o pensamento rigoroso e pensa-mento crítico, até do ponto de vista político, senão é uma bara-funda”, remata o professor.

na sociedade actual assistimos a um crescendo de vendas e procura de meios de protec­ção pessoal e patrimonial. os assaltos a propriedades e mão armada aumentaram, num fenómeno que pode ser o reflexo da crise económica. Isto levou a sociedade a pôr trancas à porta de casa e a olhar por cima do ombro sempre que caminha na rua. Mas se nos protegemos tanto, se nos blindamos tanto, por que razão deixamos a porta da nossa vida pessoal, da nossa vida íntima aberta a toda gente? falo das redes sociais.um ser para ser social, quase obrigatoriamen­te, tem que pertencer à rede social, tem que colocar “gosto” em muitos assuntos, por vezes deslavados, para ser aceite, para não ser um estranho; para encaixar numa sociedade carregada de facilitismos, porque nessa sociedade é que há o excesso de pathos e não é necessário criar um ethos e muito menos usar o logos. Mas isto para dizer o quê!? Para dizer que a exposição privada que os facebokianos, na sua grande maioria, fazem é com­pletamente deslocada do que é necessário. É normal hoje em dia saber­mos quando alguém (amigo do amigo do primo) teve um filho, ver-lhe a cara mal este viu o mundo; saber quem tirou a carta de condução; quem está à procura de parceiro social ou sexual; é normal vermos fotografias de corpos despidos de preconceitos, elevando a degradação humana ao máxi-mo. isto faz­me perguntar se a nossa evolução como seres hu­manos nos levou a viver a vida em função apenas do objecto, e não da satisfação pessoal. Esta exposição faz com que nós não tenhamos nada para agirmos para nos próprios, faz com que o processo de individuação pessoal não exista. Cria um vazio intelectual dentro de cada um, que obriga a estar lá a comentar, a ver, a querer saber mais, a expor mais.não tenho facEBooKe “gosto”.

A vida privada morreu

ADRIANA GOmES E RIcARDO DóRIA

DIRECTORAlfredo Dinis

CHEFE DE REDACÇÃOAndré Arantes

EDITORESAdriano Pereira, João Bastos, Margarida

Ramos, Ricardo Barros e Sofia Alves

REDACÇÃOAdriana Gonçalves, Ana Carvalho, Ariana Andrade, Cristiana Silva, Diogo Oliveira,

Elsa Brito, Filipa Oliveira, Gonçalo Cardoso, Helena Rodrigues, João Alves, João

Barbosa, João Ribeiro, Juliana Gomes, Kátia Bernardes, Luís Costa, Manuela de

Castro, Mário Jorge, Nuno Soares, Ricardo Dória, Sílvio Gonçalves, Sofia Alves

ORIENTAÇÃODomingos de Andrade

[email protected]

ISSN 1646-8384 -Tiragem: 2000 exemplares

Jornal da licenciatura de Ciênciasda Comunicação da Faculdade

de Filosofia da UniversidadeCatólica de Braga

PALAVRASCORROSIVAS