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wanda pimentel

CONEXÃO ARTES VISUAIS APRESENTA

wanda pimentel

Daniela Labra

fundação de ar te de niterói / fan /mac de niterói1ª edição, 2010

O Conexão Artes Visuais possibilita a artistas, curadores, pesquisadores e especta-

dores participar de uma grande rede de troca de ideias e experiências no campo das

artes visuais. O programa – realizado pela Funarte com patrocínio da Petrobras, por

meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – já se disseminou por todo o Brasil, al-

cançando grandes centros urbanos e municípios menores.

Em 2010, os trinta projetos viabilizados pela segunda edição do programa amplia-

ram esse intercâmbio. Dois dos proponentes contemplados publicaram seu próprio

edital para convocar propostas de todo o país, uma novidade que torna o Conexão

ainda mais democrático. Quarenta cidades brasileiras recebem exposições, inter-

venções, oficinas e debates. Além disso, livros e websites reúnem textos críticos e

acervos artísticos, de forma a fomentar a documentação e a reflexão.

Esse conjunto reflete a diversidade de linguagens hoje presente nas artes visuais, da

fotografia ao grafite, da videoarte à instalação. Os artistas e produtores contemplados

promovem eventos de caráter performático, ações de difusão da cultura digital, pes-

quisas que integram arte e ciência, além de atividades que fazem circular bens culturais

e seus criadores por diversas regiões do país. As ações são registradas pelos proponen-

tes em textos, fotos e vídeos. O material abastece o site do Conexão e servirá de base

para a produção de um catálogo, o que garante a difusão dos resultados para um pú-

blico ainda mais abrangente.

A primeira edição do programa viabilizou, em 2008, cerca de 300 atividades, ofe-

recidas gratuitamente a mais de 80 mil pessoas, em 42 cidades. Para nós é um grato

prazer saber que muitos desses projetos continuam a evoluir, incentivando o trabalho

de outros artistas e atraindo novos públicos para as artes. Esperamos que o Artistas

Brasileiros – Monografias de Bolso siga essa trilha de sucesso, propiciando cada vez

mais olhares diversos para as artes visuais no Brasil.

Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2010

Sérgio Mamberti (presidente da Funarte)

Sem TíTulo, 1968vinilica sobre tela116 x 89 cm

D i s t R i bu i ç ão g R at u i ta , p Ro i b i Da a v en Da .

Labra, Daniela. Wanda Pimentel / Daniela Labra ; revisão e tradução Renato Rezende. – 1. ed. – Niterói : Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 2010. 32 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-63334-03-9

1. Artes plásticas. 2. Escultura. I. Título.

CDD 730.981

Catalogação na publicação : alan Luiz e silva Ramos

bibliotecário CRb /7 nº 5718

brasileira, a qual, surgida durante o período ditatorial no País, possuia

carga de contestação política de tom freqüentemente irônico.

A ironia está de fato presente, ainda que sutilmente, na série

“Envolvimento” e suas crias – como os relevos escultóricos que

simulam nacos de espaços públicos dentre calçadas, rampas e es-

cadas. Já as pinturas que exibem recortes de cenas urbanas ou

íntimas interferidas por pés e pernas, predominantes nesta série,

têm humor fleumático.

A artista foi aluna do mestre Ivan Serpa, um dos pioneiros da arte

construtiva no Brasil na década de 1950, o que de certa forma expli-

ca a geometrização das figuras e o uso constante da linha reta e

marcada em toda a sua produção. Atualmente, embora tenha se

afastado do colorido e da visualidade que a aproximou da estética

Pop, Wanda Pimentel ainda recorre a motes semelhantes, enfocando

a relação do homem com o mundo, impondo a suas obras o mistério

que de certo é tão importante para atrair o olhar do espectador.

Sem TíTulo, Sem daTacaneta esFerográFica sobre papel12 x 23,5 cm

O conjunto de obras de Wanda Pimentel na Coleção MAC/ João

Sattamini, tem um recorte focado nas décadas de 1960 e 70, com

exceção de uma pintura de 1982. A maior parte das peças integra

ou é contemporânea à série “Envolvimento”, que abarcou pinturas

e relevos em madeira desde o início da carreira da artista, extenden-

do-se por pouco mais de uma década.

Em “Envolvimento”, Wanda Pimentel criticava o mundo mecani-

zado e impessoal, num momento em que os meios de comunicação

de massa e a estética espetacular corporificados na televisão, já

declaravam vitória sobre o silêncio da intimidade. Além disso, estava

explícita nas obras dessa fase uma reflexão acerca do lugar da mu-

lher já emancipada numa sociedade consumista que iria se descobrir

pós-moderna dali alguns anos. O título da série, por sua vez, sugeria

um comentário sobre a experiência do ser humano no mundo e a

relação com as coisas que nos envolvem, fabricadas para facilitar

nossa existência terrena.

O mistério e silêncio do elemento gráfico chapado são caracterís-

ticas da poética e do estilo de Wanda Pimentel. Até hoje, o mundo

e que lhe preenche são o tema principal da artista, para quem uma

visita às lojas de quinquilharias do Centro pode virar um bom traba-

lho de arte – ainda que sua visualidade, em especial a da primeira

década, toque o kitsch apenas de leve. Sobre este aspecto, pode-se

perceber nas obras desta fase uma afinidade com a estética das

colagens Pop norte-americana e também com a Nova Figuração

apresentação Daniela Labra

abSTraTo Verde, 1969acrílica sobre tela116,2 x 89 cm

De acordo com o crítico Fernando Coc-

chiarale, Wanda Pimentel começou a

construir sua série Envolvimento em

1966. A obra acima, ainda que datada

de 1969, é uma peça que integra esta

série, sendo um bom exemplo das obras

com questões feministas, ligadas à vida

privada. Os pés descalços sugerem um

corpo relaxado de mulher que observa

preguiçosamente um pequeno caos na

mesa da cozinha, lugar que havia sido por

excelência dominado pelo sexo feminino

até poucas décadas.

Esta obra traz também todos os ele-

mentos que estarão presentes nas futu-

ras pinturas na série Envolvimento: os

objetos que observam o observador, os

fragmentos de corpos humanos, a falta

de clareza do local da cena, o silêncio,

a predileção pela linha e a visualidade

da linguagem gráfica. Esta caracterís-

tica marca o estilo de Wanda Pimentel.

Por último, vale refletir sobre o título

da obra, uma das poucas intituladas na

época. Para a artista, pensar a figura-

ção ou o abstracionismo nunca foi uma

questão e portanto o nome do trabalho,

“Abstrato Verde”, pode ser compreendi-

da como uma ironia sutil com o próprio

circuito da arte da época, ainda preso a

muitas discussões de ordem formal (abs-

tratos x figurativos) e histórica.

A artista se coloca em todo o momento

como uma observadora do mundo. Em

seus recortes de situações urbanas, a

lembrança do barulho da cidade, assim

como da violência e do caos ao redor

são eliminados. No lugar destes, há o

silêncio de uma situação estranha, que

conjuga máquina e homem. Aqui, no-

vamente os pés femininos se introme-

tem, e desta vez sequer parecem estar

no contexto mais adequado, isto é, num

ambiente “feminino”. A imagem sugere

uma frente de caminhão, mas como é

típico de Wanda, o elemento figurati-

vo pode ser compreendido como quase

uma abstração geométrica, confundin-

do o imaginário de quem observa. Que

veículo é esse e o que fazem esses pés

descalços ali? Como nunca haverá res-

postas, o mistério proposto pela artista

se impõe e dá o tom da leitura da obra

que é quase um enigma.

Sem TíTulo, Sem daTa (circa 1969-1970)vinílica sobre madeira (eucatex)122 x 211 cm

obras selecionadas

Em 1979 a artista realizou uma exposição

individual na Galeria Saramenha, no Rio

de Janeiro, onde exibiu uma série de 15

pinturas sobre madeira, representando

portas em tamanho natural. Nestas obras,

a cena é mais evidente, porém o mistério

permanece quando o observador tenta

penetrar, sem sucesso, o espaço inter-

no, ameaçador e entreaberto na pintura.

Esta obra, com outras da mesma épo-

ca, se situa entre a pintura propriamente

dita e os objetos em escala natural, com

elementos reais, que a artista desenvolve

no início da década de 1970.

Sem TíTulo, 1978acrílica sobre madeira210 x 80 cm

Sobre as experiências de Wanda com su-

portes, ao longo do período abarcado

na coleção Sattamini, o crítico Frederico

Morais escreveu em 1979:

“Wanda começou percorrendo os espa-

ços da casa – quartos, banheiro, cozinha,

sala de estar – neles retratando objeto

que, em seguida, eram vistos como que

por dentro, radiografados ou dissecados:

gavetas, arquivos, o estuque da parede se

desfazendo. E como que antecipando seu

contato com o mundo exterior, passou a

retratar objetos que também eram meios

de comunicação: telefone, televisão, má-

quinas fotográficas. E foi entre tímida e as-

sustada, que um dia abriu a porta da rua.

Antes, no plano formal, já passara da tela

para os relevos, recortando no próprio su-

porte, a forma dos objetos retratados, daí

chegando à construção de “objetos”: por-

tas com capachos, escadas, cantos de sala,

trechos de calçadas, nos quais introduz

tampões de água, esgoto sanitário etc.”

Sem TíTulo, 1970vinílica sobre madeira30 x 140 x 77 cm

Sem TíTulo, 1969vinilica sobre tela146 x 114 cm

Sem TíTulo, 1969vinílica sobre aglomerado (duratex)122 x 210,5 cm

Série – enVolVimenTo 3, 1968vinílica sobre tela130 x 97 cm

enVolVimenTo, 1973acrílica sobre tela89 x 116 cm

Sem TíTulo, 1969vinilica sobre tela146 x 114 cm

Sem TíTulo, 1968acrílica sobre tela99,5 x 81 cm

Sem TíTulo, 1969acrílica sobre tela115 x 88 cm

Sem TíTulo, 1969vinilica sobre tela130,5 x 97 cm

Sem TíTulo, 1982óleo sobre tela50,3 x 70,2 cm

S/ TíTulo, Série bueiroS, 1970tinta vinilica s/ madeira186 x 200 x 14 cm

Sem TíTulo, 1970vinil sobre madeira45 x 210 x 150 cm

ladeira, 1970tinta industrial sobre madeira61 x 87 x 172,5 cm

A pintura de Wanda Pimentel tem sido,

desde o início, na década de 60, uma

metáfora do aprisionamento. Tudo em

sua obra – temas, imagens, colorido,

relações espaciais, estrutura gráfica – é

empregado para aumentar esta sensa-

ção de opressão e confinamento. Atra-

vés dessa metáfora abrangente, a artista

expressa um sentimento dominante em

sua obra – a solidão do ser humano.

Em sua abordagem temática do univer-

so, Wanda começou por aquilo que esta-

va próximo à sua mão, extensões de seu

corpo – os objetos da casa. Colocou-os

em primeiro plano, agigantando-os, com

a visível intenção de demonstrar a opres-

são que eles exercem sobre nós. Foi uma

luta feroz entre o sujeito que se recusava

a torna-se, também ele, mercadoria, pres-

sionado e manipulado pelas artimanhas

do consumo ostentatório e publicitário, e

o objeto que se recusava a abrir mão de

seu comportamento autoritário. Nos idos

de maio de 68, podia-se ler nos muros de

Paris: “cachê-toi objet” (como que a lem-

brar que a questão do objeto passara do

âmbito metafísico para o revolucionário).

Mais adiante, em outro muro, alguém

perguntava: “Objeto inanimado, tens

alma?“ A abordagem de Wanda sobre o

objeto pode ser vista como uma tentativa

de resposta a esta indagação. Para obrigá-

los a sair de seu mutismo e inércia, Wan-

da abriu gavetas e armários, isolou e

imobilizou objetos, multiplicando sua ima-

gem no espaço da tela. Tentou como que

domesticá-los , fazer-se presente neles,

dar-lhes um currículo e uma biografia.

Logo percebeu que estes objetos fa-

ziam parte de um sistema maior, a casa.

Passou então a dissecar cada um dos

espaços domésticos. Arrancou o rebo-

co das paredes, abriu portas há muito

fechadas, avançando pelo labirinto de

sótãos, porões, jiraus etc. A casa ficou

reduzida a puro osso, pouco mais que a

planta baixa que lhe deu origem.

Exorcizados momentaneamente os fan-

tasmas da casa – o que ela guarda de me-

mória e esquecimentos – sentiu-se forte

para enfrentar a rua, o grande mundo lá

fora. Porém, tímida, pouco avançou além

da escada que dá acesso à rua, limitando-

se a observar o capacho, a calçada, o buei-

ro, o hidrante. Ei-la, então, de volta à casa

e aos objetos, estreitando e fechando o

círculo da solidão e do confinamento. Já

não era, então, a mesma pessoa. Mudou

de casa (na vida real) e de pintura. Fechou

a porta, abriu a janela, tentando trazer a

montanha para dentro de casa.

Nesse percurso, bastante linear, cada

novo espaço abrange o anterior, signifi-

cando uma ampliação de seu universo te-

mático. É a passagem gradual do micro

para o macromundo. Antes, protegida

Wanda Pimentel e a estética da solidãoRio de Janeiro, agosto de 1994

Frederico Morais

bueiroS, 1969/1970acrílica sobre aglomerado (eucatex)110 x 150 x 6 cm

Sem TíTulo, 1970acrílica sobre madeira (duratex)80,5 x 131 x 6,5 cm

tudo é ambíguo, apesar da precisão da

imagem. Num primeiro momento, vaci-

lamos: é a imagem de um homem ou de

uma estátua? Ou é apenas uma sombra

projetada? Se é homem, ele está de fren-

te ou de costas para nós, e, se homem

ou estátua, está dentro, cercado por gra-

des, ou fora? Só depois de algum tempo,

percebemos que se trata de uma estátua,

que se encontra sobre uma base, muito

baixa, e na qual há uma placa que, no

entanto, nada informa. O perfil da figura

está envolto por um fio de luz dourada,

como se fosse uma aura santificadora.

Se a figura (homem ou estátua?) está

aquém da grade, é a cidade que se en-

contra cercada. Uma nesga azul-marinho

e a luminária indicam que é noite, mas o

branco das paredes cegas dos edifícios

diz que é dia. É sonho ou realidade. Tudo

muito magrittiano.

Esta ambigüidade está presente em

outras telas. A imagem de um terno

azul vestindo um manequim, um expos-

to numa vitrine, não é menos intrigante.

O manequim é uma imagem recorrente

na pintura metafísica – sempre a meio

caminho entre o homem e o autômato

– assim como é persistente a presença a

sombra. Este manequim tem uma luz pró-

pria muito forte, quase humana, eu diria.

Mas, como as estátuas, ele está colo-

cado sobre uma espécie de pedestal. Por

outro lado, este azul-marinho é sempre

céu nas telas recentes de Wanda, e, no

entanto, está lá, vestindo o manequim

dentro da vitrine.

Numa outra tela, a poça d´água que

se formou com a água do guarda-chu-

va aberto (e que por isso não consegue

atravessar a porta) ganha um destaque

imprevisto, iluminando subitamente o

interior da casa, mantido na semi-obs-

curidade. É uma imagem anamórfica e

perturbadora. Esta mancha já aparecera

em telas da fase inicial da artista – o lei-

te derramado sobre o fogão, a fumaça

do cigarro no interior do Volkswagen.

Ênfase posta num detalhe, geralmen-

te de cor branca, que tanto serve como

fonte de energia luminosa, quanto para

alavancar o processo perceptivo do es-

pectador. É o caso do puxador da gaveta

das poças d´água-tapetes que, realizadas

com matéria áspera, contrastam com as

retas e a lisura do restante da superfície

da pintura. Ou, então, este sapato solitá-

rio, em ocres e marrons, objeto biográfico

e não protocolar, reavivando a memória

de sua pintura anterior.

Afora um único quadro, todos os de-

mais, datados de 1994, têm uma pale-

ta mínima: preto, cinza, bege e azul – o

branco funcionando como contraponto

luminoso. Esta redução drástica das co-

res somada às retas e diagonais reforça

mais ainda esta estética do refúgio, da

solidão e do aprisionamento.

Apesar desse confinamento, há nas

pinturas atuais de Wanda Pimentel gran-

de riqueza espacial. O espectador não

apenas é colocado abruptamente dentro

do espaço, como a tela absorve o espaço

no qual ele se encontra. Alguns pintores

flamengos projetavam este espaço exter-

no num espelho estrategicamente colo-

cado na tela a sombra do abajur, que por

sua vez, se repete, mais ao fundo, como

aquela imagem do casal Arnolfino, na

pintura de van Eyck.

A referência aos pintores flamengos

e holandeses não é gratuita, pois, como

no abrigo da casa, sentia-se maior que o

mundo; depois, na rua, sujeita às amea-

ças da realidade exterior, sentiu-se menor

que o mundo. Isto fica claro no fato de

que em suas primeiras pinturas, seu corpo

aparecia entre os objetos, como se Wan-

da quisesse dizer: eu estou aqui, tentan-

do dialogar com estes objetos que me

oprimem. À medida que se aproxima do

mundo exterior, através de objetos como

televisão, telefone, máquina fotográfica

etc., seu corpo vai desaparecendo da tela.

Com o tempo, aliás, foi ficando claro

para a artista que há uma relação estreita

entre a casa e a sociedade. Com efeito, a

organização interna dos espaços, sua ocu-

pação, bem como a distribuição dos obje-

tos e, finalmente, o relacionamento deles

com os seus usuários, tudo isto indica se-

melhantes relações nos planos social, eco-

nômico e cultural. Os pintores flamengos

refletiam em suas telas a visão burguesa e

puritana da sociedade, à época da econo-

mia mercantil. Em suas telas dificilmente

se avança além da sala de estar. Os artistas

da Pop-Art e da Nova Figuração devassam

os interiores do espaço doméstico, cuja

privacidade já fora contaminada pelos

meios de comunicação massiva. O exame

da Casa – Grande ( e seu apêndice, a sen-

zala), no contexto da economia da cana-

de-açúcar, da “morada paulista“ à época

das bandeiras ou da casa mineira em rela-

ção ao ciclo do ouro revela, em minúcias,

diferentes estruturas sociais – fechada e

autocrática, aberta e liberal.

Pierre Francastel e Lewis Munford de-

fendem a tese de que os pintores anteci-

param em suas telas e cenários a organi-

zação espacial das cidades renascentistas

ou barroca. O interesse de tantos artistas

contemporâneos pela temá tica da casa

e dos objetos antecipou, ou no mínimo

continua ilustrando, a crise da estrutura

familiar ou, em sentido mais amplo, a cri-

se do homem moderno.

Mas como está a pintura de Wanda

Pimentel, hoje? Basicamente é a mesma

– na forma, nos temas, na perfeita ade-

quação entre suas intenções e a técnica

empregada. Seu estilo continua límpido,

nítido, frio. Na superfície da tela nenhuma

textura, nenhum resquício de um pincel

mais afoito, de acidentes ou gestos preci-

pitados. A artista continua mantendo todo

o processo sob absoluto controle emocio-

nal. Tudo em sua pintura é cálculo e preci-

são. Sua pintura está igual – e diferente.

Os três espaços antes tão nitidamen-

te diferenciados agora constituem uma

unidade, continuuum visual, o dentro e

o fora se confundem, o que, paradoxal-

mente, vem reforçar a metáfora do apri-

sionamento e o sentimento de solidão.

A cidade moderna é antes de tudo ba-

rulho, agitação, velocidade. Mas, conta

Wanda, nos fins de semana, com a má-

quina a tiracolo, ela faz incursões ao cen-

tro da cidade. O eu busca, e encontra, é

uma paisagem urbana vazia de aconte-

cimentos e de gente, uma outra cidade –

silenciosa, metafísica. O que encontra, e

busca, são figuras humanas imobilizadas

no bronze, contidas nos estreitos limites

do pedestal. Grades que mantêm prisio-

neiros os habitantes em suas casas e apar-

tamentos, ao mesmo tempo que cercam

jardins, praças, estatuas ou tuneis, que

não indicam a luz ao final.

Vale dizer, os fantasmas, antes confi-

nados dentro de casa, renascem em seus

Monumentos. Na maior tela desta série,

Em 1969 Wanda Pimentel, uma das mais

instigantes artistas de sua geração, co-

meçou a produzir a série Envolvimento,

que marcou não só o início de seu percur-

so profissional e os desdobramentos de

seu trabalho por quase dez anos, como

também sua identidade poética.

Nascida no Rio de Janeiro, Wanda estu-

dou na primeira metade da década de 1960

com Ivan Serpa, um dos pioneiros da arte

construtiva no Brasil. Dele talvez tenha

herdado a organização espacial planar

construtivista. Mas é preciso aqui observar

que suas pinceladas lisas e chapadas, uti-

lizadas para figurar cenas intimas do coti-

diano feminino, decorriam, então mais de

sua proximidade com as questões da Nova

Figuração (para a qual a cor gráfica era um

elemento industrial, quase impresso), do

que da cromática característica da pintura

abstrata geométrica, que por motivos

diversos também aboliu os meios-tons.

Ao lado da possível influência do es-

paço planar do construtivismo, ressoam,

sobretudo, nas pinturas da série Envolvi­

mento e nos objetos da artista, ecos vi-

suais das assemblages da Nova Figuração

(Antonio Dias e Gerchman), da Pop ame-

ricana (Tom Wesselmann, por exemplo)

e do design gráfico, como indicam o fino

contorno em preto de cada objeto. Mais

que meras influências, estes ecos, no en-

tanto, são sinais da sintonia de Pimentel

com as demandas históricas da época

em que ela iniciou sua obra.

O Brasil do final dos anos 60 foi marca-

do por uma efervescência política similar

à que ocorreu na Europa e nos Estados

Unidos na mesma época. No caso brasilei-

ro a ditadura militar introduziu um dado

novo, mas fundamental: a luta pelas li-

berdades democráticas. Nesse contexto,

a Nova Figuração brasileira posicionou-se

de maneira inequívoca, embora distante

do enfrentamento político direto com os

governos militares.

A série Envolvimento de Pimentel é um

dos exemplos do sentido político tomado

pela arte brasileira do período. Discute não

só a relação entre a sociedade consumo,

então nascente no país, e a condição femi-

nina, como também já detecta a crise do

sujeito, uma das questões centrais do mun-

do contemporâneo. Nesses trabalhos a

presença da mulher é sempre fragmentária.

Se confrontarmos os trabalhos com

animais pertencentes à série mais recente

produzida por Wanda Pimentel, começa-

da em 1998, com aqueles iniciais da En­

volvimento podemos ver que, a despeito

de suas visíveis diferenças, eles possuem

questões cujo sentido comum só pode

ser apreendido ao longo de sua extensa

trajetória profissional.

Sobre esta última série de seu trabalho

ela escreveu: O interesse inicial é mostrar,

Fernando Cocchiarale eles, Wanda ama interiores limpos e quie-

tos (uma das telas, a do guarda-chuva,

tem um chão axadrezado como os qua-

dros de Vermer)nos quais os objetos,

estrategicamente distribuídos na com-

posição, se relacionam entre si e com o

espaço circundante de maneira comple-

xa e inteligente.

Contudo, o espaço de Wanda Pimentel

é ao mesmo tempo mais claustrofóbico

e mais aberto que os do flamengos. Em

alguns casos, é absolutamente cerrado,

como nesta tela em que vemos uma caixa

sobre a mesa. A perspectiva não ajuda a

abrir o espaço, pois encontra no fundo

uma barreira de pretos, beges e marrons.

É uma barra cinza, vertical, à esquerda,

que reafirma a materialidade da super-

fície, anulando qualquer pretensão ilu-

sionista. A imagem da caixa é, como as

demais criadas por Wanda, ambígua. É ao

mesmo tempo fuga e armadilha. A parte

inferior, interna, sugere que trata-se de

um alçapão: tentar escapar por aí é mer-

gulhar num abismo totalmente negro.

A parte interna da tampa sugere a exis-

tência de portas e/ou janelas. O branco

dessa estrutura é o mesmo do puxador,

que representa outra personalidade de

modificar o espaço: abrir a gaveta da

mesa. E aí, tudo pode acontecer.

Nas telas restantes, Wanda abre por-

tas e janelas, multiplica as perspectivas

internas e os pontos de fuga, de tal ma-

neira que o fora (céu, montanha, o abajur,

que não é lilás, edifícios e até a prima-

vera, na verdade uma releitura de Botti-

celli) penetra no dentro cinzento da casa.

Dinâmica espacial que não é suficiente,

entretanto, para modificar a atmosfera

emocional das obras.

O espectador da obra de Wanda Pi-

mentel, ou o leitor deste texto, poderá

concluir que tanto a artista quanto o crí-

tico elaboraram um discurso pessimista

e desesperançado.

Talvez sim, talvez não. Não creio, po-

rém, que a solidão deva ser vista como

uma derrota, mas como um direito (en-

tre os muitos direitos do homem) e, mais

do que isto, como uma conquista. O iso-

lamento, o silêncio, a quietude, o amor

ao vazio e à ordem, o exercício da me-

mória, a impregnação do ser pelo tempo

e a criação de espaços afetivos (que pode

ser um canto da sala, a sombra de um

objeto, o interior de uma gaveta, uma

poça d´água) são valores conquistados

pelo homem no seu relacionamento com

o universo. Integram um processo lento

e paciente de educação sensível e senti-

mental. O solitário tem um modo espe-

cial de olhar o mundo, e contemplar as

coisas, descobrir beleza nos detalhes, de

reverter o tédio e a mesmice do quoti-

diano em momentos de prazer íntimo,

em momentos de arte. Só um solitário

consegue dialogar com a estátua na ci-

dade grande.

Como escrever Bachelard em sua “Po-

ética do Espaço“: “Todo rincão da casa,

todo espaço reduzido onde gostamos

de ficar é, para a imaginação, uma so-

lidão, é o germe de um quarto, de uma

casa. E ao nos recordarmos das ‘casas’

e dos ‘quartos’, aprendemos a morar em

nós mesmos“.

Presentationdaniela labra

the collection of works by Wanda pimentel in the

mac/ João sattamini collection is focused on the

decades of 1960 and 1970, with the exception of

a 1982 painting. most part of the pieces is part of

or is contemporary to the series “envolvimento”

[“involvement”], which includes paintings and

reliefs by the artist since the beginning of her

career through a litter over a decade.

in “involvement”, Wanda pimentel ques-

tioned an impersonal and mechanized world,

in an epoch when mass media communications

and the aesthetics of spectacle, embodied by

television, had already declared victory over the

silence of intimacy. besides, explicit in the works

of this phase there was a reflection about the

place of the already emancipated woman in a

consumer society that would find itself as post-

modern a few years later. the series’ title, on

its turn, suggested a commentary about human

experience in the world and the relation with

things that surrounds us, which are fabricated

in order to support our mundane existence.

the mystery and silence of the flat graphic

element are characteristics of Wanda pimen-

tel’s poetics and style. until today, the world

and that which fills it are the main theme of the

artist, for whom a visit to bauble stores down-

town may turn into a good art work – even if

her visualilty, especially that of the first decade,

only lightly touches the kitsch. From this per-

spective, one may notice in the works of this

phase an affinity to the aesthetics of ameri-

can pop collages as well of the brazilian new

Figuration that, emerged during the country’s

dictatorial period, carried a load of political

contestation of often ironic tone.

irony is indeed present, even if subtly, in the

series “involvement” and its offspring – like

the sculptural reliefs that simulate portions of

public spaces amidst sidewalks, ramps and stair-

cases. the paintings, on their turn, exhibiting

frames of urban or intimate scenes intervened

by feet and legs – which predominate in this

series – carries a phlegmatic humor.

the artist was a student of the master ivan

serpa, one of the pioneers of constructive art

in brazil in the decade of 1950, which in part

explains the geometrization of figures and the

constant employment of a precise and straight

line in her whole production. nowadays, although

distanced from the colorfulness and visualilty that

neared her to the pop aesthetics, Wanda pimen-

tel still makes use of similar themes, emphasiz-

ing the relation between man and world, and

imposing to her works the mystery that surely is

vital to attract the spectator’s regard.

Study of the Works

according to the art critic Fernando cocchiara-

le, Wanda pimentel started to build her series

involvement in 1966. the above work, even if

dated of 1969, is a piece integrated to that se-

ries, being a good example of the works with

feminist issues and connected to private life. the

bare feet suggest the relaxed body of a woman,

who lazily observes a small chaos on the kitch-

en table, a place per excellence dominated by

the female gender until just a few decades ago.

this work carries as well all elements that

will be present in future paintings of the se-

ries involvement: the objects that observe the

english versionatravés da reciclagem expressiva de vários

materiais, a poesia e o mistério do univer-

so de seres estranhos (…) animais como

insetos, ofídios, vermes, etc. reconduzi-

dos de seu ambiente aos novos caminhos

do artificial (…), a nova série, procura de

certa forma colocar o mundo animal como

expressão crítica de um outro mundo, in-

formatizado, mecânico.

Não resta a menor dúvida. Existe nestes

trabalhos de Pimentel um paralelo crítico

com seus trabalhos da segunda metade

d década de 1960: naqueles quadros os

objetos e bens de consumo são os perso-

nagens principais. Detalhes da anatomia

feminina (pernas desnudas e pés, sobre-

tudo) inscrevem-se sem cor em ambien-

tes domésticos, tipicamente modernos,

plenos de objetos e eletrodomésticos de

uso cotidiano. Estas mulheres sem rosto

não possuem qualquer identidade. Tudo

o que a artista nos deixa saber sobre elas

vem dos objetos eu as cercam. São eles

que nos revelam que elas vivem num am-

biente urbano e levam uma vida emanci-

pada como outras mulheres já o faziam

no final dos anos 60.

Estas pinturas trabalham, pois uma

inversão semântica essencial para seu

sentido crítico. Reduzida e mensurada

pelos objetos, a mulher torna-se deles

um refém. Mero sujeito do consumismo,

ela aparece, aos pedaços, qual um obje-

to qualificado pelo envolvimento com os

sujeitos das cenas pictóricas concebidas

por Wanda: os próprios objetos.

A crítica é despersonalizada pelo consu-

mo da série Envolvimento é, sem qualquer

dúvida, análoga à colocação do “mundo

animal como expressão crítica de um ou-

tro mundo, informatizado, mecânico…“

Lugar da predominância da espécie so-

bre o indivíduo, o mundo animal também

possui uma ordem visível do ponto de vista

espacial. Procissões de formigas, os voos ce-

gos dos morcegos, a ondulação dos corpos

em movimento de serpentes e de polvos,

tudo o que é objeto do conhecimento bio-

lógico do homem comparece como tema

ou como sujeito destas pinturas. Permane-

ce, portanto, aqui a estratégia semântica

da inversão. Num mundo somente animal,

sem objetos, ao contrário e à diferença de

nosso humano mundo, é possível enfim não

só perceber os bichos em sua integridade

coletiva e até mesmo solitária.

No entanto estes animais inscrevem-se

num cenário totalmente distinto daquele

em que circulam na natureza. O aparen-

te caos da vida in natura é subtraído pela

artista da cena pintada. Neutra, atonal,

predominantemente cinza, criada por

meio de quadrículas típicas dos desenhos

técnicos, a ordem desse espaço no qual

se incluem esses sujeitos, esses bichos, é

pictórica (sem ser naturalista) e cultural

(naquilo que a artista escolheu enfatizar

no cotidiano: uma cinza e única rotina,

desprovida de vibração sensorial, cro-

mática. Um plano de banal monotonia.

Wanda Pimentel é a artista figurativa

brasileira que possui o trabalho mais pla-

no jamais produzido no país. Sua pincela-

da lisa e chapada, herança do período da

Nova Figuração, não deve ser vista, no en-

tanto, apenas como um elemento formal,

comprometido com o caráter objetivo dos

espaços de duas dimensões (o quadro). O

tratamento planar é, no caso, sobretudo um

elemento semântico. Um elemento que faz

aflorar à superfície dos trabalhos questões

nem explícitas da arte e da vida brasileiras.

Wanda Pimentel and the Aesthetic of lonelinessFrederico morais [rio de Janeiro, august 1994]

Wanda pimentel’s painting has been, since the

beginning, in the 60’s, a metaphor of imprison-

ment. everything in her work – themes, images,

coloring, space connection, graphic structure –

is used in order to increase a feeling of oppres-

sion and confinement. through this comprising

metaphor, the artist expresses a prevailing feel-

ing in her work – the loneliness of human being.

in her thematic approach of the universe,

Wanda started with thins near her hand, body

extensions – home objects. she put them in first

plan, turning them huge, with clear intention to

demonstrate the oppression they exert on us. it

was a fell fight between the subject – who re-

fused to turn, himself, into goods, pressed and

manipulated by the artifices of ostentatious and

publicist consumption – and the object, which,

in its turn, refused to relinquish its overbearing

behavior. in may, 68, someone could read on the

walls of paris: “cache-toi-objet” (to remind that the

object’s matter transposed the metaphysic scope

towards the revolutionary one). Further more, on

another wall, somebody asked: “lifeless object,

have you got soul?” Wanda pimentel’s approach

of the object could be seen as an attempt to an-

swer this question. in order to force it out off its

muteness and inertness, Wanda opened draw-

ers and cupboards up, isolated and immobilized

objects, multiplying their image in canvas space.

she tried to domesticate them, to put herself into

them, to provide them a curriculum and a biogra-

phy. Wanda soon realized that those objects were

part of a whole system, the house. she started

to dissect each one of the domestic spaces. she

pulled wall’s coating out, opened doors closed

for so long, moving through a maze of garrets,

basements, wooden platforms etc. House was

reduced to skeleton, to something more than its

original plan of construction.

after having exorcized, for a small moment,

every ghost living in the house – which she keeps

in memory and in forgetfulness – she became

strong to face the streets and the big world out

there. but, diffident, she went through a small

course further on the front door stairway, restrict-

ing herself to watch the doormat, the sidewalk,

the drain-trap, the hydrant. and then she is back

to the house, to the objects, tightening and clos-

ing the circle of loneliness and confinement. at

this time, she wasn’t no longer the same per-

son. she changed the house (actually) and the

style. she closed the door, opened the window,

trying to bring the mountain inside the house.

in that way, very linear, each new space com-

prises the previous one, meaning an enlarge-

ment of her thematic universe. it is the gradual

passage from a micro to a macro world. before,

protected by her safe house, she felt bigger than

the world. that becomes clear when we observe

that in her first painting, her body appeared

among object, as if Wanda wanted to say: i am

here, trying to talk to this oppressive objects.

as she approaches the external world, through

objects like television, telephone, cameras etc.,

her body begins to disappear from the screen.

With time, it was becoming clear to the artist

that there is a close relationship between house

and society. in fact, inner organization of spaces,

their occupation, as well as objects distribution

and, at last, the relationship between the users

and them, all of this indicate similar relations

at social, economic and cultural plans. Flemish

painters reflected in their screens the bourgeois

and puritan society vision, at the time of mer-

cantile economy. on their screens, they hardly

go beyond the living-room. the pop-art and

new Figuration artists penetrate the domestic

space interior, whose privacy has been fouled

spectator, the fragments of human bodies, a

lack of clarity of the place of the scene, silence,

a predilection for lines and the visualilty of a

graphic idiom. this characteristic marks the

style of Wanda pimentel.

last but not least, it’s worthwhile to ponder

over the work’s title, one of the few entitled

works of this epoch. For the artist, to think over

figuration or abstractionism was never an is-

sue and, therefore, the work’s title “abstrato

verde” [“green abstract”] may be understood

as a subtle irony about the time’s art circuit,

still tied up to several formal (abstract x figu-

rative) and historical discussions.

at all times the artist takes the stance of an ob-

server of the world. in her scenes of urban situ-

ations, the remembrance of the city’s noise, as

well as of its violence and surrounding chaos

are eliminated. instead, there is the silence of

a strange situation, conjugating man and ma-

chine. Here, once again, female feet are present

and, in this case, they not even seem to be in

an appropriate context, that is, in a “feminine”

environment. the image suggests the front of

a truck, but as it is typical in Wanda, the figu-

rative element may be understood almost like

a geometric abstraction, baffling the imaginary

of the observer. What kind of vehicle is this and

what are these bare feet doing there? since we

will never know the answers, the mystery pro-

posed by the artist is imposed and grants the

reading tone of a work that is almost nothing

but enigma.

in 1970, the artist held a solo exhibition at

galeria saramenha, rio de Janeiro, where she

displayed a series of 15 paintings on wood, rep-

resenting doors in natural size. in these works,

the scene is more evident; nevertheless, the

mystery remains when the observer unsuccess-

fully attempts to penetrate the inner, threat-

ening and half-opened space of the painting.

this work, like many from the same period,

is placed between painting per se and the nat-

ural scale objects with real elements that the

artist develops in the beginning of the 1970’s.

this work is part of a series of wood reliefs that

simulate fragments of urban spaces. ramps,

sidewalks with real manholes and drains,

among others, took Wanda pimentel’s research

of geometric lines and indefinite spaces to a

three-dimensional level. the same mystery

she conveys to her drawings and paintings are

kept here – although the spectator has now the

opportunity to seek the piece materialized in

the real world, which may give him the false

impression of being watching a “truth” about

the represented object and that, therefore, it

were further from becoming an abstraction.

about Wanda’s experiences with supports

throughout the period encompassed by the

sattamini collection, the art critic Frederico

morais wrote in 1979:

“Wanda started running through the spaces

of the house – bedrooms, bathroom, kitchen,

living-room – portraying in them objects that,

soon, were seen as if from inside, radiographed

or dissected: drawers, archives, falling plaster on

the wall. and as if anticipating her contact with

the outer world, she began to portray objects that

also were means of communication: telephone,

television, photographic cameras. and between

timid and frightened, she one day opened the

door to the street. before, in a formal level, she

had already moved from canvas to reliefs, cutting

out of the very support the shape of the portrayed

objects, thus arriving at the construction of “ob-

jects”: doors with doormats, staircases, corners

of rooms and pieces of sidewalks, in which she

introduces different kinds of manholes.”

she puts emphasis in one detail, usually

white, that acts as a luminous energy source

and as a crowbar in the viewer perceptive pro-

cess. it is the case of the puddle-carpet drawer

handle which, made up with rough materials,

contrasts with lines and with the smoothness

of the painting surface remaining. or this lone-

ly shoe, ochre and brown, biographic and not

pertaining to a protocol object, reawakening

the memory of her previous painting.

except for a single screen, all the rest, made up

in 1994, has a minimum palette: black, grey, beige

and blue – white acting as lightening counterpoint.

this drastic reduction of colors added to the lines

and diagonals reinforce even more this aesthetic of

the refuge, loneliness and confinement.

despite of this confinement, there is a great

spatial richness in Wanda pimentel’s current

paintings. the space opens itself up to the viewer

like a box or a fruit cut in a half. the viewer is put

suddenly inside the space and, besides it, the

screen absorbs the space in which he is located.

some Flemish painters projected this exterior

space on a mirror strategically placed, at first

plan, on the screen and that lamp in its turn re-

peats itself, a little more distant, like that image

of the arnolfino couple, in van eyck’s painting.

the Flemish and dutch painters reference is

not unfounded, because, like them, Wanda loves

clean and quiet interiors (one of the screens,

the one with the umbrella, has got a checkered

floor like vermeer paintings) in which the ob-

jects, strategically placed in the composition,

are related amongst themselves and with the

surrounding space in a complex and smart way.

However, Wanda pimentel’s space is at the

same time more claustrophobic and more open

than the Flemish ones. in some cases, it is ab-

solutely shut, as on this screen in which we see

a box over the table. the perspective doesn’t

help to open space, because it finds in the back-

ground a barrier of blacks, beiges and browns. it

is a vertical, grey bar on the left, that reaffirms

the surface materiality, preventing any illusion-

ist pretension. the box image is, like the others

created by Wanda, ambiguous. it is at the same

time escape and snare. the bottom side, more

interior, suggests the presence of doors and/

or windows. White in this structure means the

same as the handle, which represents another

possibility of modifying the space: to open the

table drawer. and then, anything can happen.

on the remaining screens, Wanda opens

doors and windows, multiplies inner perspec-

tives and points of escape, so that exterior (sky,

hill, lamp, that is not lilac, buildings and even

the spring, actually a rereading of botticelli)

gets into the grey of the house. spatial dynam-

ics that is not sufficient, however, to modify

the work emotional atmosphere.

the viewer of Wanda pimentel’s work, or the

one who is reading this text, can conclude that

the artist as well as the critic elaborated a pes-

simistic and discouraged speech.

maybe yes, maybe no. i don’t think, however,

that loneliness might be seen as a defeat, but

as a right (amongst several man rights) and,

more than this, as a conquest. isolation, silence,

calmness, the love for emptiness and for order,

memory exercises, the impregnation of soul by

time and the creation of affective spaces (which

could be a corner of the room, a shadow of an

object, the inside of a drawer, a puddle) are

values conquered by men in their relationship

with the universe. they integrate a slow and

patient process of sensitive and sentimental

education. the lonely one has a special way

to see the world, to watch things, to find out

beauty in details, to revert everyday tedious-

ness and routine into moments of close plea-

sure, into moments of art. only solitaire people

can dialogue with the statue in the big city.

by mass communication space interior, whose

privacy has been fouled by mass communication

media. slave holders house examination (and its

appendix, the slave quarters), in the context of

sugar cane economy, of “são paulo’s residence�

at the time of those exploring expeditions into

brazilian back-country, or of minas gerais’s

house in relation to the gold cycle, reveals, mi-

nutely, different social structures � closed and

autocratic, opened and liberal.

pierre Francastel and lewis munford support

the thesis that a painter anticipated on their

screens and views the spatial organization of

renaissance and baroque’s cities. the interest of

so many contemporary artists in the thematic of

house and objects anticipated, or at least keeps

on illustrating, familiar structure crisis or, in a

large sense, modern man crisis. but how Wanda

pimentel’s painting is now? basically the same

– form, themes, perfect adequacies between

intention and used technics. Her style remains

clear, bright, cold. there is no texture on the

canvas surface, no vestige of a bold brush, of

accidents or inconsiderate gestures. the artist

keeps all process under emotional control. ev-

erything in her painting is calculation and pre-

cision. Her painting is the same – and different.

three spaces, used to be clearly distinguished,

now form unity, visual continuum, inside and out-

side bewildered, what , paradoxically, comes to re-

inforce the imprisonment and loneliness metaphor.

modern city is, above all, noise, excitement,

speed. but, Wanda tells us, on week-ends, with

her camera, she goes downtown. What she

searches, and finds, is an urban view empty of

happenings and people, another city – silent,

metaphysical. What she finds, and searches,

is human shape immobilized through bronze,

embraced between pedestal’s tight borders.

gratings keeping people prisoners in their own

houses and apartments, at the same time fenc-

ing gardens, squares, statues or tunnels, which

do not indicate any light at the end.

it is important to say, those ghosts who were

previously confined in the house, revive in her

monuments. everything is ambiguous, despite of

figure’s precision, on this series biggest screen.

We hesitate, at a first moment: is it an image of a

man or of a statue? or is it just a projected shad-

ow? if it is a man, is he with his front or his back

turned to us, and, whatever it is a man or statue,

is it behind fences or outside? only after a while

we realize it is a statue, on a low support, and

on which there is a plate, that nevertheless, tells

nothing to us. Figure’s profile is wrapped up by a

gold light edge, as if it was a kind of sanctifying

aura. if the figure (man or statue) is outside the

fence, the city is inside. a navy blue patch and

the lamp indicate that it is night, but the white

on blind building walls tells that it is day. in this

dream or reality? everything is very magrittian.

it is possible to see that kind of ambiguity on

other screens. the image of a blue suit dressing up

a manikin, exposed at a shop-window, isn’t less

intriguing. this is an image largely used in meta-

physic painting – always half-way between man

and automan – as well as frequent is the presence

of shadows, this manikin has got a very strong

natural light, almost human, i would risk to say.

but, like statues, it stands on some support,

on the other hand, this navy blue is always sky

Wanda’s recent works and, however, it is there,

dressing up the manikin inside the shop-window.

in another screen, the puddle formed by the

water of the opened umbrella (that’s why she

can’t go through the door) gains an unexpect-

ed projection, suddenly lightening the house

interior, which was kept in semi-obscurity. it

is an anamorphic and disturbing image. this

spot has already appeared on some screens

of her initial stage – spilled milk on the cook-

stove, cigarette smoke inside of a volkswagen.

and consumption goods. the details of female

anatomy (specially naked legs and feet) were

presented colorless in domestic environments

that were typically modern: full of daily objects

and house ware. those faceless women didn’t

have an identity. all the artist allows us to know

about them comes from the objects around them.

these objects are the ones that tell us that they

live within an urban environment and lead an

emancipated life that was already common at

the end of the sixties.

in this way, these paintings work a seman-

tic inversion that is a essential for the critical

meaning. reduced and measured by objects, a

woman becomes their hostage. a mere subject

of consumption, she appears, in fragments, like

an object qualified by its involvement with the

subjects of the pictorial scenes conceived by

Wanda: the objects themselves.

such critical stance against the de-person-

alization caused by consumption that is found

in the involvement series is, doubtlessly, analo-

gous to placing “the animal world as a critical

expression of another world, more mechanical

and computerized…”

a place where the species is predominant

over the individual, the animal world has also

a visible order from a spatial point of view.

processions of ants, the blind flights of bats,

the undulating bodies of moving serpents and

octopuses, all that is part of men’s biological

knowledge appears as theme or subject of

these paintings. so here the semantic strat-

egy of inversion is still kept. in a purely animal

world, with no objects, different and contrary

to our human world, it is finally possibly not

only to perceive the animals in their collective

and even solitary integrity.

nevertheless, these animals are inscribed

within a landscape totally diverse from their

natural habitat. in the painted scenes, the artist

has subtracted the apparent chaos of natural

life. being neutral, atonal, predominantly gray,

created with the help of the small squares typi-

cal of the technical drawings, the order of the

space in which these subjects – these animal

– are inscribed is both pictorial (without being

naturalistic) and cultural (in that which the art-

ist has chosen to emphasize in daily life: a gray

and flat routine, with no sensorial or chromatic

vibration. a plane of tedious, banal monotony.

Wanda pimentel is the brazilian figurative

artist that has the most flat work ever pro-

duced in the country. Her smooth brushstroke,

inherited from the new Figuration period, nev-

ertheless, should not be seen only as a formal

element, committed to the objective character

of two-dimensional spaces (the canvas). the flat

treatment is, in this case, above all a semantic

element. an element that brings up to the works’

surface issues of brazilian art and life that are

not always explicit.

as bachelard wrote in his “poética do es-

paço”: “every corner of the house, every small

space where we like to stay is, for imagination,

a solitude, the germ of a room, of a house. and

when we remember the ‘houses’ and ‘rooms’,

we learn how to live in ourselves”.

Fernando cocchiarale

in 1969, Wanda pimentel, one of the most in-

triguing artists of her generation, began to pro-

duce the series involvement, which marked not

only the beginnings of her professional itinerary

and the unfolding of her work during almost ten

years, but also her poetical identity.

born in rio de Janeiro, during the first half

of the sixties Wanda studied with ivan serpa,

one of the pioneers of constructivism in brazil.

it was perhaps from him that she inherited her

plain constructivist spatial organization. but

it is necessary to notice here that her smooth

and flat brushstrokes, used to portrait inti-

mate scenes of female daily life, were due to

her identification with the issues raised by the

new Figuration movement (for which a graphic

color meant an industrial, almost printed ele-

ment), rather than exemplifying the chromatic

characteristic of abstract geometric painting,,

which that for different reasons had also abol-

ished halftones.

besides a possible influence of the constructivist

space, in the paintings of the series involvement

and in the artist’s objects as well we mostly find

visual echoes of the assemblages made by new

Figuration artists (antonio dias and gerchman),

of the american pop art (tom Welsselmann, for

instance) and of graphic design, as the fine black

outline of each object indicate. more than mere

influences, such echoes are signs of the artist’s

alignment with the historical demands of the ep-

och in which she started her career.

and the end of the sixties brazil was by a

political effervescence similar to the one that

look place in europe and us during the time.

in the brazilian case, the military dictatorship

forced a new, but crucial data: the struggle for

democratic freedom. in this sense, the brazil-

ian new Figuration stood within this context

in an unambiguous position, although distant

from the direct political confront with the mili-

tary government.

pimentel’s involvement series is one example

of the political meaning that brazilian art took

at that period. t not only discusses the relation-

ship between a society based on consumption,

which was then just flourishing in the country,

and women’s condition, but also already indicates

the crisis of the subject identify, one of the cen-

tral issues of contemporary life. in these works,

the presence of women is always fragmented.

if we compare the works with animals that

belong to the most recent series produced by

Wanda pimentel, started in 1998, with the ini-

tial pieces of the involvement series, we can see

that in spite of their visible differences, both deal

with issues that share meanings that could only

be apprehended throughout her long profes-

sional itinerary.

about this last series of her work, she wrote:

“my first interest is to show, through the expres-

sive recycling of several materials, the poetry

and the mystery of an universe of strange be-

ings (…) animals like insects, ophidians, worms,

etc. re-conducted from their environment to

new artificial paths (…), the new series aims

to, in a way, place the animal world as a critical

expression of another world, more mechanical

and computerized…”

there is no doubt. there is in these works

by pimentel a critical relation to her works dat-

ing from the second half of the sixties: in those

paintings the main characters were objects

caTálogo

autor /organizador

daniela labra

produção

suély balo

assistência

amanda Wanis

proJeto gráFico

dupla design

revisão e tradução

renato rezende

FotograFia

paulinho muniz

agradecimento

Fernando cocchiaraleFrederico moraisWanda pimentelmario grisolli

zeladores

alessandro santosalexsandro rosaandré luiz de souzaeduardo pereseliseu Ferreiragelvan alexandreisrael barretoleandro nascimentoluís damásiomarcelo barbalhorobson de mouraseverino rômulo de oliveiraubirajara cordeiro

técnico em ediFicações

charles santos

encarregado de manutenção

pôncio pereira

manutenção

carlos ramosgetúlio da silvagivaldo FalcãoJosé carlos souzaluiz Fernando carrazedomarcos andrérosemir de aguiarvaldo nogueira

cHeFe da divisão de arquitetura

sandro silveira

arquitetas

michele coyunjipaulete Fonseca

cHeFe da divisão de arte educação

márcia campos

produtora cultural

Fernanda Fernandes

arte educadores

eduardo machadoigor valenteleandro crisman

assistente administrativo

marcus vinícius verçosa

cHeFe da divisão de museologia

angélica pimenta

museólogas

cristina moura bastosroseane novaes

assistente administrativo

thiago pinheiro

cHeFe da divisão de teoria e

pesquisa

leda abbês

bibliotecário

alan ramosassistente

administrativo

adriana rios

assistente de pesquisa

Juliana lanhas

consultoria de gestão museal

telma lasmar

módulo de ação comuniTária

coordenação

márcia campos

coordenadores de oFicinas

eduardo machadoeliane carrapateirarodrigo paessandro silveira

instrutores de oFicinas

elielton queiroz Josemias moreira

assistentes administrativos

cristiano de oliveiraviviana garcia

estagiária da biblioteca

raquel Freitas

assistente de l impeza

Heitor vic tor

zeladores

douglas araújomaurício sousaraphael limarober to de Jesus

agradecimenToS

João leão sat taminisylvia sat taminianna maria niemeyerassociação de amigos do museu de arte contemporâneaescola de ar tes visuais do parque lage

mirante da boa viagem, s /nº boa viagem niterói, rJ tel /fax [55 21] 2620 2400 / [55 21] 2620 [email protected]

Horário de visitação

de terça a domingo, das 10 às 18h

visitas mediadas para grupos

agendamento pelos telefones[55 21] 2620 2400 / 2620 2481 ramal 29 [divisão de arte educação]

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referências bibliográficas[bibliographical references]

Fundação de arTe de niTerói

presidente

marcos sabino braga Ferreira

superintendente administrativo

ivan macedo

superintendente cultural

Francisco aguiar

muSeu de arTe conTemporânea de niTerói

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secretária

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márcia muller

conservação de obras de arte

nice mendonçamárcia FerreiraJuliana assis

cHeFe da divisão de administração

luís rogério baltazar

desenvolvimento cultural

suély balo

assistentes administrativos

amanda WanisJosiane scalabrimmarcelo Henrique

técnico de inFormática

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teleFonistas

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assistentes de l impeza

adilza quintanilhaclaudia marinselisabete costaJosé cordeiro sobrinhoKátia silvaluiz vicentemargarete costamaria verônica dos santospaula de souzaroseni vianasebastiana neves

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loJa

claudia dos santosmaria de lourdes rossi

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ESTE LIVRO FOI PUBLICADO COM RECURSOS DO EDITAL CONEXÃO ARTE VISUAIS MINC FUNARTE PETROBRAS 2010.

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