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Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 342 Documentos ISSN 0102-0110 Dezembro, 2012 Foto: Max S. Pinheiro

Conservação e Uso de Animais Silvestres

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Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres

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ISSN 0102-0110 Dezembro, 2012

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Documentos 342

Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres José Roberto Moreira Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Brasília, DF 2012

ISSN 0102-0110 Dezembro, 2012

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Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Endereço: Parque Estação Biológica - PqEB – Av. W5 Norte (final) Caixa Postal: 02372 - Brasília, DF - Brasil – CEP: 70770-917 Fone: (61) 3448-4700 Fax: (61) 3340-3624 Home Page: http://www.cenargen.embrapa.br E-mail (sac): [email protected] Comitê Local de Publicações Presidente: João Batista Teixeira Secretário-Executivo: Thales Lima Rocha Membros: Jonny Everson Scherwinski Pereira

Lucília Helena Marcelino Lígia Sardinha Fortes Márcio Martinelli Sanches Samuel Rezende Paiva Vânia Cristina Rennó Azevedo

Suplentes: João Batista Tavares da Silva Daniela Aguiar de Souza Kols

Revisão técnica: Silvia Tereza Ribeiro Castro Revisão de texto: José Cesamildo Cruz Magalhães Normalização bibliográfica: Ana Flávia do Nascimento Dias Editoração eletrônica: José Cesamildo Cruz Magalhães Foto da capa: Max S. Pinheiro 1ª edição (online)

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei n 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

© Embrapa 2012

Moreira, José Roberto Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e uso de animais silvestres. / José Roberto Moreira. – Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2012. 20 p. – (Documentos / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 342). Revisão técnica: Silvia Tereza Ribeiro Castro 1. Recursos Genéticos – Animal. 2. Conservação. 3. Animais silvestres. I. Título. II. Série. 636.08 – CDD 21

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Autores José Roberto Moreira Ph. D. em Zoologia, Pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia [email protected]

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Apresentação

Desde o início da década de 1970, há uma crescente conscientização mundial sobre a necessidade de preservação dos recursos genéticos, que são essenciais para o atendimento das demandas por variabilidade genética dos programas de melhoramento, principalmente aqueles voltados para alimentação humana. O enriquecimento e a manutenção contínua da variabilidade genética das coleções são prioritários e estratégicos, considerando as restrições internacionais ao intercâmbio de germoplasma e a diversidade de recursos genéticos de animais zootécnicos do país. Na década de 1970, a Food and Agriculture Organization (FAO), órgão das Nações Unidas, estimulou o estabelecimento de uma rede mundial de centros para a conservação de recursos genéticos situados em regiões consideradas de alta variabilidade genética. Em 1974, o Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR) criou o International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR), hoje transformado no Bioversity International. No mesmo ano, a Embrapa reconheceu a importância estratégica dos recursos genéticos com a criação do Centro Nacional de Recursos Genéticos (CENARGEN), que mais recentemente adotou a assinatura-síntese Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A criação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a consolidação do SNPA estabeleceram ambiente propício para a formatação da Rede Nacional de Recursos Genéticos. A partir de então, paulatinamente, coleções de germoplasma foram estruturadas em diferentes Unidades Descentralizadas, predominantemente na área vegetal e a partir de 1983 passou a trabalhar na área animal. Em 1993, por intermédio de deliberação da Diretoria Executiva, a Embrapa formalizou, como ferramenta de gestão das coleções, o Sistema de Curadorias de Germoplasma e definiu os papéis e as responsabilidades para os diversos atores envolvidos nesse Sistema, tais como: curadores de coleções de germoplasma, chefes de Unidades Descentralizadas que abrigavam as coleções e a Supervisão de Curadorias. Os projetos em rede foram definidos como figuras programática e operacional, possibilitando o custeio de atividades de coleta, intercâmbio, quarentena, caracterização, avaliação, documentação, conservação e utilização de germoplasma, além da manutenção das coleções. De 1993 até a presente data, muitas coleções de germoplasma foram estabelecidas e, atualmente, o Sistema de Curadorias da Embrapa reúne 209 coleções, incluindo Bancos Ativos de Germoplasma Vegetal (BAGs), Núcleos de Conservação Animal, Coleções Biológicas de Micro-organismos e Coleções de Referência, as quais abrangem espécies nativas e exóticas. Como consequência desses 30 anos de atividades relacionadas ao manejo dos recursos genéticos, os curadores adquiriram uma bagagem de conhecimentos práticos na área, conhecimentos estes que foram, em parte, sistematizados e disponibilizados para a sociedade por intermédio da presente obra: “Manual de Curadores de Germoplasma”.

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Esperamos que esta publicação em série torne-se um guia para curadores de germoplasma no Brasil e no exterior, e que contribua efetivamente para o aprimoramento da gestão dos recursos genéticos deste país.

Mauro Carneiro Chefe Geral Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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Sumário

Introdução 08

Manejo sustentável 09

Manejo de população-problema 11

Limitações da legislação 13

Criação comercial em cativeiro 13

Criação de animais de grande valor 14

Conservação in situ 15

Conservação ex situ 15

Referências 19

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Conservação e Uso de Animais Silvestres José Roberto Moreira Introdução

A fauna sempre foi um importante recurso para as populações rurais, como também para os centros urbanos. Antes da colonização portuguesa, os índios brasileiros utilizavam a fauna local de maneira extrativa. Apenas um animal de nossa fauna – o pato (Cairina moschata) – foi domesticado pelos indígenas. Apesar de seu potencial de uso, a fauna neotropical continua sendo muito pouco utilizada ou, ainda, aproveitada de uma maneira marginal pelas populações rurais ou de baixa renda. A criação de animais silvestres em cativeiro é cara e antieconômica, a não ser para espécies de alto preço de mercado. Algumas espécies silvestres brasileiras apresentam potencial para serem exploradas por meio do manejo sustentável na natureza. Infelizmente, o manejo sustentável de animais silvestres é proibido por lei no Brasil. Nenhuma exploração é permitida que não seja em cativeiro. Recentemente, conflitos por espaço entre o homem e os animais silvestres em áreas urbanas, e mesmo rurais, têm sido recorrentes no Brasil. O controle desses indivíduos abre espaço para sua utilização. O método mais adequado para a conservação da diversidade genética de espécies silvestres é a conservação in situ. Metodologias de conservação ex situ devem ser consideradas como ferramentas adicionais à manutenção da diversidade genética, porém podem ter importância quando aplicadas a espécies ameaçadas de extinção. Neste manual, serão mostrados os diferentes usos e métodos de conservação da fauna Brasileira e os animais com maior potencial de uso.

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Figura 1. Pato-selvagem (Cairina moschata), única espécie de animal silvestre domesticada no Brasil.

Manejo sustentável

Manejo sustentável refere-se a sistemas de manejo que podem existir indefinidamente sem depauperar os recursos do ambiente. Pode-se resumir os objetivos de manejo de populações de animais silvestres em três diferentes alvos: a) aumento de uma população em declínio e/ou que esteja ameaçada de extinção; b) exploração de uma população para obtenção de uma produção sustentável; e c) redução da densidade de uma população-problema cujo tamanho encontra-se acima do desejável. A técnica mais simples para se alcançar o manejo sustentável de uma espécie é a remoção de parte da população no mesmo percentual de sua taxa de crescimento. Isso significa que quanto maior for a taxa de crescimento de uma população, maior será o percentual desta que se pode explorar. Uma população pode ser estimulada a crescer, caso se aumente o volume de recursos essenciais disponíveis para os animais. A forma mais fácil de aumentar a disponibilidade de recursos para cada indivíduo é por meio da remoção de uma parcela dessa população. Cada indivíduo que permanece na população passa a ter mais recursos a seu dispor, e a consequência disso é o aumento da fertilidade e a redução da mortalidade, especialmente de indivíduos jovens dessa população.

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Figura 2. Tracajá (Podocnemis unifilis), espécie de quelônio que tem potencial para ser manejada de maneira

sustentável.

Pode-se dizer, também, que quanto menor for o tamanho populacional, maior será o volume de recursos disponíveis para cada indivíduo e maior será a taxa de crescimento populacional; portanto, maior será a taxa de exploração sustentável possível de submeter essa população. Assim, uma população pequena pode crescer muito e ser submetida a uma taxa alta de exploração. O inverso também é verdadeiro. Entretanto, não é interessante explorar muito uma população pequena, nem explorar pouco uma população grande. A produção máxima sustentável (PMS) de uma população encontra-se em um ponto intermediário entre esses dois extremos. Também é importante perceber que, para se obter uma determinada produção sustentável (dada em número de animais abatidos), existem dois possíveis tamanhos de população (fora a PMS).

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Figura 3. Taxa sustentável de abate e produção sustentável em relação a tamanho populacional.

Tendo em vista que a taxa de extração em um sistema de manejo sustentável de animais silvestres baseia-se na taxa de crescimento populacional, é importante a escolha do método de estimativa do tamanho populacional. O método escolhido deve levar em consideração a espécie-alvo, o ambiente em que ela habita, a densidade da vegetação, a época do ano a ser realizada a estimativa, o custo da sua realização e a pergunta experimental. Alguns dos métodos de estimativa do tamanho populacional utilizados para animais silvestres são: contagem direta, método de distância, marcação-recaptura, índice-manipulação-índice, índice e controle e contagem dupla. Caso a pergunta esteja relacionada apenas à variação do tamanho populacional, podem ser utilizados índices de abundância. A superexploração de um recurso pode levá-lo à extinção local. Assim, é importante que a variação do tamanho populacional seja monitorada ao longo dos anos para que seja avaliada sua tendência. A falta de avaliação do poder estatístico de um programa de monitoramento pode ter como consequência a coleta de dados insuficientes para a detecção de tendências. Pode, portanto, ocorrer que a população esteja em decréscimo e isso não seja detectado pelo monitoramento. A Análise de Poder é uma ferramenta estatística que permite testar o poder de detecção de tendências por parte de programas de monitoramento de espécies. O programa MONITOR (que é encontrado de graça na internet) pode ser utilizado para esse fim, pois é uma ferramenta valiosa para acessar a eficiência de programas de monitoramento.

Manejo de população-problema

Em diversas regiões do país, é cada dia mais comum o conflito por espaço entre a vida silvestre e o homem. Nesses casos, a expansão agrícola faz com que animais silvestres compitam com espécies domésticas no campo ou destruam plantações comerciais. Nas cidades, a expansão imobiliária faz com que espécies silvestres passem a invadir as casas, comer plantas ornamentais em jardins, morrer afogadas em piscinas, causar acidentes

Tamanho Populac ional

Prod

ução

Taxa

de

Abat

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Produção

Taxa de Abate

ProduçãoMáxima

Sustentável

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automobilísticos nas ruas ou serem potenciais transmissoras de doenças. Essa situação abre espaço para o controle dessas espécies silvestres e seu potencial uso. É importante perceber que a exploração sustentável de uma população animal tem objetivos contrastantes com o manejo de uma população-problema. A exploração sustentável visa à maximização da produção animal que é representada em número de animais extraídos da população. O manejo de uma população-problema visa à redução do dano por ela causado. O sucesso de sua implementação tem que ser medido como percentual de redução do dano causado pela espécie, e não em termos do número (ou percentual) de animais extraídos da população-problema. Portanto, o controle é o meio e não o objetivo da ação de manejo. Não deve ser utilizado como subterfúgio para justificar a exploração da espécie-problema.

Figura 4. Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), espécie silvestre que tem sido considerada problema em

diversos locais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Conforme visto anteriormente, quando ocorre a remoção de parte de uma população silvestre, há um estímulo ao crescimento populacional que age contra o sucesso do manejo para controle. Consequentemente, o controle de uma população-problema tem de ser permanente e contínuo. Diversos questionamentos devem ser feitos antes de se iniciar qualquer ação de controle de uma população. O primeiro deles está relacionado à real necessidade de controle. Qual seria o nível de dano caso nenhum controle fosse realizado? A questão seguinte está relacionada ao custo/benefício do controle. Qual é o limite econômico ou estético para que a ação de controle seja necessária? Outra questão está relacionada às consequências do controle, seja para o meio ambiente, seja para espécies que não são alvo da ação.

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Finalmente, a última questão está relacionada às causas do dano. Seria a espécie escolhida como espécie-alvo a principal causadora do dano?

Limitações da legislação A partir de 1967, o Decreto-Lei nº 5197 (Lei de proteção de fauna) proibiu a utilização, perseguição, destruição, caça e captura de animais silvestres no Brasil. O manejo sustentável de animais silvestres é proibido por lei, excetuando-se o uso por comunidades indígenas. Por outro lado, a exploração comercial de produtos silvestres permaneceu legal, desde que produzidos em cativeiro. Toda a cadeia de produção de animais silvestres deve estar sob controle do órgão de controle ambiental. Além do criadouro, o abatedouro e os postos de venda de produtos de animais silvestres devem ser regulamentados pelo IBAMA. A caça desportiva é permitida pela lei de proteção de fauna brasileira e deve ser regulamentada pelos estados. O único estado que tinha a caça regulamentada e controlada no Brasil era o Rio Grande do Sul, até que a ação de sociedades protetoras dos animais levou à sua proibição em 2005.

Criação comercial em cativeiro

Com raras exceções, a fauna brasileira apresenta baixa taxa de crescimento corporal e pouca prolificidade. Criá-la em cativeiro é um processo caro e ineficiente. A produção de carne de animais silvestres em cativeiro é maior do que na natureza, mas a sua economicidade é questionável para a maioria das espécies. É fantasia acreditar que sua produção pode competir com as espécies domésticas melhoradas nos últimos 5.000 anos, e que sua produção seja econômica, mesmo que o preço de sua carne seja mais elevado. A apresentação da imagem de que a fauna brasileira tem alto potencial produtivo é, na maioria dos casos, charlatanismo. Devido ao alto custo de implantação e de manutenção de criadouros de animais silvestres, o sistema semi-intensivo de criação tem sido o mais recomendado para animais silvestres de grande porte (capivara, caititu, queixada). Geralmente é utilizada área de uso natural da espécie-alvo, toda telada. A alimentação é produzida externamente. Nesse sistema de produção, todo o ciclo reprodutivo do animal é realizado dentro do recinto, sem o isolamento da fêmea. No caso da capivara, é necessária a inclusão de um corpo d’água no cercado, tendo em vista que essa espécie é semiaquática. A capivara usa a água para regulação da temperatura corporal e para a cópula. É importante salientar que para o sucesso da criação de capivaras em cativeiro, é necessário que o grupo reprodutivo tenha sido capturado de um grupo original na natureza ou formado a partir de filhotes criados juntos desde os 60 dias de idade. Caso essas duas premissas não sejam seguidas, ocorrerão infanticídios e abortos no criadouro. Esse tem sido o principal problema enfrentado pelos criadouros de capivaras no Brasil e, também, a razão para seu insucesso.

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Figura 5. Carcaças de capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) produzida em cativeiro.

Criação de animais de grande valor

Muitas espécies da fauna silvestre brasileira são utilizadas como animais de estimação, de uso canoro ou de laboratório; outras têm alguns de seus produtos utilizados na indústria farmacêutica ou até na decoração. Nesses casos, devido ao alto preço alcançado por esses produtos, a criação em cativeiro em sistema intensivo pode ser economicamente viável. Por exemplo, a arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) pode ser vendida por mais de U$ 7,000 nos Estados Unidos, o que permite sua criação em sistema intensivo. As espécies nativas brasileiras que se prestam para a criação em cativeiro ou para o manejo sustentável estão listadas na Tabela 1.

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Figura 6. Papagaio-verdadeiro (Amazonia aestiva), espécie de psitacídeo muito utilizada como animal de

estimação, que tem potencial para ser criada em cativeiro.

Conservação in situ

O melhor e mais eficiente meio de conservação da fauna nativa é por meio da conservação in situ. Espécies silvestres ameaçadas de extinção não devem ser recomendadas para o uso comercial. Elas devem ser conservadas em unidades de conservação. Por outro lado, espécies de uso comercial são geralmente espécies de maior prolificidade, generalistas e que não se encontram vulneráveis em seu estado de conservação. São, na maioria das vezes, espécies abundantes em seu estado natural. Assim, sua conservação em unidades de conservação presta-se à manutenção de uma diversidade genética do recurso que pode estar sendo reduzida pela destruição de habitat e pela pressão antrópica fora das unidades de conservação. O manejo sustentável de animais silvestres na natureza (fora de unidades de conservação) permite a manutenção da diversidade genética da população em questão e pode ser utilizado como mais uma ferramenta para a conservação de espécies e de habitats nativos.

Conservação ex situ

A criação de animais silvestres em cativeiro, seja em criadouros comerciais ou em zoológicos, é uma forma ex situ de conservação do recurso genético de animal silvestre. Seu uso na conservação limita-se à manutenção de uma diversidade genética descaracterizada daquela da natureza. Pode ser de algum uso em programas futuros de repovoamento em áreas nas quais a espécie encontra-se extinta ou ameaçada de extinção.

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Portanto, é de pouco uso para espécies comerciais que não se encontram vulneráveis. É de grande utilidade, entretanto, para espécies ameaçadas de extinção. A conservação ex situ/in vitro do recurso genético de animais silvestres ainda é pouco utilizada no Brasil. Trata-se da manutenção in vitro de sêmen e embriões de espécies silvestres. É de especial uso para espécies ameaçadas de extinção, pois facilita o manejo por meio do aumento do “pool” gênico da espécie-alvo. Pode auxiliar na manutenção de populações a longo termo pela redução da depressão endogâmica. Para espécies silvestres comerciais, pode vir a ser de utilidade para o auxílio no manejo da diversidade genética dos criadouros. Bancos de tecido e de DNA são de grande utilidade nos estudos de identificação de genes de importância econômica ou em estudos ecológicos e filogenéticos. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia mantém um Banco de Tecidos e de DNA de animais silvestres.

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Tabela 1. Espécies da fauna brasileira com potencial para uso.1

Nome vulgar Nome científico Manejo Cativeiro Capivara Hydrochoerus hydrochaeris X X Paca Cuniculus paca X Cotias Dasyprocta spp X Cotiaras Myoprocta spp X X Preás Cavia spp e Galea spp X X Mocó Kerodon spp X X Punaré Thrychomis laurentius X X Coandu Coendou prehensilis X Pacarana Dinomys branickii X Ratão-do-banhado Myocastor coypus X X Tapiti Sylvilagus brasiliensis X X Caititu Pecari tajacu X X Queixada Tayassu pecari X X Veados Ozotoceros bezoarticus, Odocoileus virginianus e

Mazama spp X

Cervo-do-pantanal Blastocerus dichotomus X Anta Tapirus terrestris X Quati Nasua nasua X Guaxinim Procyon cancrivorus X Guigó Callicebus spp X Guariba ou bugio Alouatta spp X Macaco-prego Cebus apella X Sagui Callithrix spp X X Tatus Euphractus sexcinctus, e Cabassous spp e Dasypus

spp X

Tamanduá-de-colete Tamandua tetradactyla X Gambá Didelphis spp X Macuco Tinamous spp X X Inhambu, jaó e zabelê Crypturellus spp X X Codorna Nothura spp X X Perdiz Rhynchotus rufescens X X Ema Rhea americana X X Cabeça-seca Mycteria americana X Jaburu ou tuiuiú Jabiru mycteria X Marrecos Dendrocygna spp X X Paturi Netta erythrophthalma X X Ananaí Amazonetta brasiliensis X X Pato-do-mato Cairina moschata X X Jacupemba Penelope superciliaris X Jacutinga Pipile jacutinga X Mutum Crax fasciolata X Urus Colinus cristatus e Odontophorus spp X X Pombas e rolinhas Columbina spp X X Avoante Zenaida auriculata X X Jandaias Aratinga spp X X Periquito Brotogeris chiriri X X Papagaios Amazona spp X X Araras Ara ararauna e Ara chloroptera X X Arara-azul Anodorhynchus hyacinthinus X X Tucanuçu Ramphastos toco X Sabiás Turdus spp X Canário-da-terra Sicalis flaveola X Coleirinhos Sporophila spp X Bicudo Oryzoborus maximiliani X Curió Oryzoborus angolensis X Trinca-ferro Saltator similis X Xexéu Cacicus cela X Encontro Icterus cayanensis X Pássaro-preto Gnorimopsar chopi X Pintassilgo Carduelis magellanicus X Tartaruga Podocnemis expansa X X Tracajá Podocnemis unifilis X X

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Jabuti Chelonoidis spp X X Muçuã Kinosternon scorpioides X Jacaretinga Caiman crocodilus X X Jacaré-de-papo-amarelo

Caiman latirostris X

Iguana Iguana iguana X X Teiú Tupinambis teguixin X X Cascavel Crotalus durissus X Jararacas Bothrops spp X Rã-manteiga Leptodactylus ocellatu X Sapo-cururu Bufo marinus X

1 A listagem acima representa apenas as espécies silvestres brasileiras que apresentam potencial de uso. Entretanto, a recomendação de uso dessas espécies exige que esse potencial seja anteriormente testado quanto à sua sustentabilidade.

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Referências

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