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13/9/2014 Constitucionalismo e as Constituições Brasileiras http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=16559 1/64 Constitucionalismo e as Constituições Brasileiras MÓDULO I – CONSTITUCIONALISMO E AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Curso: Introdução ao Direito Constitucional - Turma 07 Livro: Constitucionalismo e as Constituições Brasileiras Impresso por: Lucas Grangeiro Bonifácio Data: sábado, 13 setembro 2014, 19:13

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Constitucionalismo e asConstituições Brasileiras

MÓDULO I – CONSTITUCIONALISMO E AS CONSTITUIÇÕESBRASILEIRASSite: Instituto Legislativo Brasileiro - ILBCurso: Introdução ao Direito Constitucional - Turma 07Livro: Constitucionalismo e as Constituições BrasileirasImpresso por: Lucas Grangeiro BonifácioData: sábado, 13 setembro 2014, 19:13

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SumárioMÓDULO I – Constitucionalismo e as Constituições Brasileiras

Unidade 1 – Conhecendo o Direito Constitucional: definição, origem e evoluçãoPág. 1 - Direito Constitucional: definição, origem e evoluçãoPág. 2 - Mudanças sociais que refletiram no pensamento jurídicoPág. 3 - Direito Constitucional: antes e depoisPág. 4 - Direito Constitucional: antes e depoisPág. 5 - ExemploPág. 6 - Direito Constitucional: antes e depoisPág. 7 - Movimentos constitucionaisPág. 8 - O ConstitucionalismoPág. 9 - ImportânciaPág. 10 - Direitos sociaisPág. 11 - InfluênciasPág. 12 - MarcosPág. 13 - Evolução do ConstitucionalismoPág. 14 - Exemplos e conclusão da unidade 1

Unidade 2 – A Constituição Imperial de 1824 e a Constituição Republicana de 1891Pág. 1 - IntroduçãoPág. 2 - Constituições brasileirasPág. 3 - Constituição de 1824Pág. 4 - Constituição da MandiocaPág. 5 - Assembleia Nacional ConstituintePág. 6 - ProvínciasPág. 7 - Revoltas sociaisPág. 8 - O quarto poderPág. 9 - Direitos FundamentaisPág. 10 - Constituição de 1891Pág. 11 - RepúblicaPág. 12 - Os três PoderesPág. 13 - Direitos FundamentaisPág. 14 - Conclusão da unidade 2

Unidade 3 – A Constituição de 1934, a Carta de 1937 e a Constituição Democrática de 1946Pág. 2 - Constituição de 1934Pág. 3 - EleiçõesPág. 4 - Assembleia ConstituintePág. 5 - Estado Social de DireitoPág. 6 - Justiça EleitoralPág. 7 - Constituição de 1937Pág. 8 - Carta de 1937Pág. 9 - Modificações da Constituição de 1934Pág. 10 - Retrocessos e AvançosPág. 11 - Constituição de 1946Pág. 12 - Nova CartaPág. 13 - Nova Capital e conclusão da unidade 3

Unidade 4 – A Constituição do período militar e a redemocratização do país com a Constituição de 1988Pág. 2 - Constituição de 1967Pág. 3 - Volta do presidencialismoPág. 4 - Atos InstitucionaisPág. 5 - Texto de 1967Pág. 6 - AI-5Pág. 7 - Golpe dentro do golpePág. 8 - Emenda Constitucional nº. 1, de 17 de outubro de 1969Pág. 9 - Governos MilitaresPág. 10 - Movimentos sociaisPág. 11 - Diretas jáPág.12 - Constituição de 1988Pág. 13 - RedemocratizaçãoPág. 14 - Direitos fundamentais do indivíduoPág. 15 - Conclusão do Módulo I

Exercícios de Fixação - Módulo I

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MÓDULO I – Constitucionalismo e as ConstituiçõesBrasileiras

Ao final deste módulo, em relação ao Direito Constitucional, o aluno deverá ser capaz de:

Diferenciar a travessia histórica por que passou;

Identificar a origem e a evolução de seu conceito;

Relatar as experiências constitucionais brasileiras.

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Unidade 1 – Conhecendo o Direito Constitucional: definição,origem e evolução

Nesta unidade, será estudada a definição de Direito Constitucional e sua evolução notempo. Para isso, será oferecida a definição tradicional da disciplina e sua confrontaçãocom ideias contemporâneas, como a doutrina do neoconstitucionalismo e dotransconstitucionalismo.

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Pág. 1 - Direito Constitucional: definição, origem e evolução

Vamos começar nosso curso a partir da própria definição do tema. Tradicionalmente, costuma-sedizer que o Direito Constitucional é o ramo do direito público que tem por objeto de estudo asnormas da Constituição de um Estado.

Dessa maneira, é a parte do direito que analisa, sistematiza e interpreta as normas fundamentais decerto país. E a Constituição é o documento que congrega tais normas, estabelecendo os princípios eas regras que organizam o funcionamento do Estado e delimitam as garantias e os direitos docidadão.

Em resumo, o Direito Constitucional é a disciplina que se dedica ao direito fundamental de umasociedade.

Essa definição ainda é satisfatória nos dias atuais? Isto é: podemos dizer que o Direito se divide em dois grandes ramos,público e privado, e que o Direito Constitucional pertence àquele primeiro ramo, isoladamente?

Essa clássica divisão do direito, ora atribuída aos romanos, ora associada ao jurista francês Jean Domat, enxergava umadistinção entre leis civis e leis públicas. Estas cuidavam dos assuntos estatais, enquanto aquelas tratavam de matérias davida privada, como as regras contratuais, a capacidade civil e o direito de família. O Direito Civil era a “Constituição Privada”,e regulava a vida do indivíduo sob o ponto de vista de seu patrimônio.

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Pág. 2 - Mudanças sociais que refletiram no pensamentojurídicoNo entanto, recentemente, passamos por mudanças sociais que refletiram diretamente no pensamento jurídico. A crise dochamado “liberalismo de mercado”, nitidamente excludente, fez com que o Estado marcasse maior presença nas questõesindividuais. O Direito Civil, por sua vez, não poderia se importar apenas com o lado patrimonial do indivíduo. Era preciso queele se mostrasse hábil para realizar os “valores da pessoa humana como titular de interesses existenciais”.

As Constituições “públicas”, outrora dedicadas somente a assuntos estatais, passaram a influenciar a vida cotidiana daspessoas, conformando valores e princípios, como o da dignidade da pessoa humana, que contagiaram o Direito Civil.Vivenciamos a “publicização” do Direito Civil.

Dessa forma, ao mesmo tempo em que houve constitucionalização de direitos, houve também superação da dicotomia“público-privado”, que reinava no século XIX.

Então, como podemos compreender o Direito Constitucional atualmente?

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Pág. 3 - Direito Constitucional: antes e depoisLevando-se em conta esse novo quadro jurídico e social, que será detalhado mais adiante, o Direito Constitucional ocupa,hoje, o centro do ordenamento jurídico, e o influencia por completo, tanto na esfera privada quanto na pública. Ele é filtro detodo o sistema jurídico e tem, no princípio da dignidade da pessoa humana, o seu principal valor.

Alocação do Direito Constitucional

a) VISÃO TRADICIONAL

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Pág. 4 - Direito Constitucional: antes e depois

b) VISÃO CONTEMPORÂNEA

Essa mudança fez nascer a possibilidade de aplicação dos direitos fundamentais constitucionais também nas relaçõesprivadas, paralelamente à já consolidada aplicação na relação vertical Estado-particular.

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Pág. 5 - ExemploPara exemplificar: na relação Estado-particular, o direito fundamental da igualdade ou isonomia nos diz que as regras doconcurso público têm que ser iguais para todos. Mas esse princípio deve ser seguido na relação particular-particular? Porexemplo, uma empresa deve seguir o princípio da igualdade na hora da contratação ou da demissão de um empregado?

O STF vem se posicionando no sentido de haver, sim, a possibilidade de se aplicar os direitos fundamentais nas relaçõesprivadas, sobretudo quando se tratar de matéria com relevância pública. Essa nova visão ficou conhecida como "eficáciahorizontal dos direitos fundamentais", pois envolve duas pessoas que estão, em tese, na mesma hierarquia.

Observe o seguinte exemplo, que ilustra essa nova tendência e mostra a eficácia vertical e horizontal dos DireitosFundamentais:

a) EFICÁCIA VERTICAL

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Pág. 6 - Direito Constitucional: antes e depoisb) EFICÁCIA HORIZONTAL

O STF decidiu ser inconstitucional a “discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca doindivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso (...)”. O caso concreto é o da empresa AIR FRANCE, quenão aplicava o Estatuto do Pessoal da Empresa, mais vantajoso, a brasileiro empregado da companhia, pelo fato de ele nãoser francês. O tribunal resolveu a questão dizendo que o princípio da igualdade, estampado no art. 5º da CF/88, é aplicávelnas relações entre particulares e assentou que o brasileiro faria jus às mesmas condições dos empregados franceses. (RE161.243-6)

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Pág. 7 - Movimentos constitucionais

Feita essa breve reflexão, cabe indagar: qual a origem do Direito Constitucional? Por que eleapareceu e onde?

Essas questões nos levam a pensar, sem dúvida, num fenômeno chamado constitucionalismo.E, aqui, é preciso ressaltar que ele não possui um sentido único nem universal. Como apontaGomes Canotilho, é melhor dizer que existiram – e existem – movimentos constitucionais aolongo da história. O que se passou na Inglaterra não se reproduziu nos Estados Unidos daAmérica, nem tampouco na França. Da mesma maneira, o Brasil teve sua própria versão deconstitucionalismo.

Todavia, podemos apontar algumas características comuns que, reunidas, nos dão o núcleoda ideia de constitucionalismo. Assim, a busca pela limitação do poder do governante e a lutapela garantia de direitos fundamentais do indivíduo integram o conceito dos movimentos constitucionais.

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Pág. 8 - O ConstitucionalismoEm outras palavras: o constitucionalismo é, no plano político e social, a luta da sociedade para regrar a atuação dogovernante, impondo-lhe limites e deveres, e fixar os direitos básicos do homem em face do Estado. Paralelamente, no planojurídico, traduz-se na necessidade de condensar essas regras numa Constituição escrita. No entanto, esta ideia foi maisdesenvolvida a partir do século XVIII, com as Revoluções Liberais da Inglaterra e da França.

Para exemplificar: no mundo antigo o constitucionalismo se mostrava na possibilidade de os profetas, entre os hebreus,fiscalizarem os atos governamentais que ultrapassassem os ditames bíblicos. Também nas cidades-Estados gregas vê-se umrelevante exemplo com a democracia direta, exercida pelos cidadãos, que determinavam o rumo da política de sua cidade.

Na Idade Média, a Carta Magna de 1215, também denominada “Carta do Rei João sem Terra”, foi o grande marco doconstitucionalismo medieval inglês. Outros documentos também tiveram sua importância, como o “Petition of Rights”, de1628; o “Habeas Corpus Act”, de 1679; o “Bill of Rights”, de 1689; e o “Act of Sttlement”, de 1701.

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Pág. 9 - Importância

Esses pactos tinham como fundamento o acordo de vontades entre o monarca e os súditos, no qual se estabeleciamconvenções em relação ao modo de governo e às garantias dos direitos individuais. Nos Estados Unidos, ficaram conhecidosos “contratos de colonização”, de que são exemplos as “Fundamental Orders of Connecticut”; na França, as leis fundamentaisdo reino impuseram limitações ao próprio rei.

No entanto, foi no constitucionalismo moderno que as constituições ganharam importância central. A constituição passou aser o local onde se consagrava o triunfo do constitucionalismo. Era a arma ideológica contra o Antigo Regime absolutista. Aomesmo tempo, nela deveriam estar consignados a limitação estatal e os direitos fundamentais, sob pena de não existir.

É isso que dispôs a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1789: “toda sociedade na qual não está assegurada agarantia dos direitos nem determinada a separação dos poderes, não tem Constituição”. As principais Cartas Constitucionaisforam a dos EUA, de 1789, fruto do movimento de independência do país, e a da França, de 1791, que sintetizou os ideais daRevolução Francesa.

A Constituição da Polônia é anterior à francesa, tendo sidopublicada em 3 de maio de 1791.

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Pág. 10 - Direitos sociaisEsses documentos são marcos históricos da transição da sociedade para a idade contemporânea e foram inspirados pelosvalores do liberalismo clássico. Neles, previa-se que todos eram livres e iguais perante a lei, abandonando-se os privilégiosdo absolutismo, e que o Estado não intervinha nas leis do mercado, que se regia livremente. Além disso, o direito depropriedade era garantido, e o governante sofria limitação constitucional.

Nessa época ficaram consagrados os direitos de primeira geração, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade, àmanifestação de pensamento e ao voto.

Esse modelo foi colocado em xeque no fim do século XIX e começo do século XX, pois a autorregulação do mercado nãopermitiu o enriquecimento de todos. Na verdade, gerou concentração de renda e grande exclusão social. Direitos básicos,como saúde, trabalho e educação, não faziam parte da vida da maioria das pessoas.

Nessa etapa, o constitucionalismo marchou para o Estado Social de Direito, em que o Estado passou a garantir condiçõesmínimas de existência ao indivíduo. Surgiram os direitos de segunda geração, marcadamente garantidores de direitos sociais(trabalho, saúde, educação etc.), econômicos (o Estado passou a intervir no mercado, sobretudo depois da crise da Bolsa deValores, em 1929) e culturais.

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Pág. 11 - Influências

Fala-se, aqui, que a Constituição começou a ser dirigente, já quepassou a obrigar o governo a elaborar e executar políticas quealcançassem os objetivos programados em seu texto.

As principais constituições sociais foram a Mexicana, de 1917, e aAlemã, de 1919, também conhecida como Constituição de Weimar.

Elas influenciaram, inclusive, a nossa Constituição de 1934, que eraclaramente uma constituição social.

Mas elas foram realmente efetivas?

Principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, esse modelo de Constituição se mostrouineficaz, pois não passou de um convite à atuação dos governantes. Por estar sujeito às vontades do administrador, diz-seque o texto não possuía força normativa para realizar suas promessas. Em alguns casos, como no estado nazista de Hitler ena Itália fascista de Mussolini, a Lei Maior serviu para proteger e justificar um estado de barbárie. O Judiciário tinha poucaimportância na realização dos direitos fundamentais.

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O pensador aponta três marcos determinantes para isso:

a) marco histórico: o constitucionalismo do pós-guerra, que "redefiniu o lugar da Constituição e a influência do direito

constitucional nas instituições contemporâneas". As principais referências são: a Lei Fundamental de Bonn, de 1949

(Alemanha), e a Constituição da Itália, de 1947. No Brasil, cita-se a Constituição de 1988.

b) marco filosófico: o pós-positivismo. Explicando melhor o que se entende por pós-positivimo, podemos dizer que é a

junção das ideias no jusnaturalismo do século XVIII com as do positivismo do século XIX, criando uma nova forma de

entender o direito. A corrente jusnaturalista fundou-se na crença de que existem princípios de justiça universalmente

válidos para todos os seres humanos. Ela impulsionou as revoluções liberais do século XVIII, mas, por ter sido

considerada "abstrata" ou metafísica, foi substituída pelas ideias do positivismo. Este igualou o Direito à lei, retirando

toda carga valorativa e filosófica da norma. Era a Ciência pura do Direito. Com a crise desse sistema em meados do

século XX, era preciso repensar a filosofia jurídica. Como esclarece Barroso: "o pós-positivismo busca ir além da

legalidade estrita, mas não despreza o direito posto; procura empreender uma leitura moral do Direito, mas sem recorrer

a categorias metafísicas."

c) marco teórico: primeiramente, a constituição passou a ser dotada de força normativa. Isso quer dizer que o texto

constitucional deixa de ser um convite à atuação do governante, uma mera carta política, e reconhece o papel do

Judiciário na concretização de direitos. Em segundo lugar, consequentemente, há uma expansão da jurisdição

constitucional, criando-se Tribunais Constitucionais com o objetivo de efetivar o texto constitucional, na perspectiva da

Supremacia da Constituição. Por fim, em terceiro lugar, houve uma mudança em relação à forma de se interpretar a

norma constitucional. A nova interpretação constitucional passou a ter que lidar com a existência de princípios e

conceitos abertos, a serem concretizados pelo intérprete, a exemplo do princípio da dignidade da pessoa humana. Além

disso, a técnica da ponderação de interesses e a argumentação jurídica se tornam fundamentais para a solução de colisõesentre direitos.

Pág. 12 - Marcos Nesse passo, o Direito Constitucional entra em mais uma importante fase de sua evolução. Conforme muito bemtratado pelo jurista Luís Roberto Barroso, deu-se início ao "novo direito constitucional" ou "neoconstitucionalismo".

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Pág. 13 - Evolução do ConstitucionalismoESQUEMA GERAL DA EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO

Histórico do Constitucionalismo Exemplos

Constitucionalismo Antigo Hebreus, gregos e romanos.

Institucionalismo MedievalCarta Magna de 1215, Petition of Rights, Billof Rights, Habeas Corpus Act, FundamentalOrders of Connecticut.

Constitucionalismo ModernoDeclaração Universal dos Direitos do Homemde 1789, Constituição Americana de 1789,Constituição Francesa de 1791.

Constitucionalismo Social (séc.XX)

Constituição Mexicana de 1917 e Constituiçãode Weimar de 1919.

Novo Direito Constitucional –Neoconstitucionalismo

Constituições do pós-guerra. Destaques: LeiFundamental de Bonn de 1949 (Alemanha) ea Constituição da Itália de 1947. No Brasil,Constituição de 1988.

Direito Constitucional Além dasFronteiras –

Transconstitucionalismo

Caso da Princesa de Mônaco, que teve fotosíntimas publicadas na internet. O que deveprevalecer: o direito fundamental da liberdadede imprensa ou o da intimidade?

Portanto, vemos que o Direito Constitucional vem se transformando no decorrer dos tempos. E, nos dias atuais, coloca-seum novo problema a ser enfrentado por essa ciência jurídica: como resolver uma determinada questão que envolve mais deuma esfera constitucional? Ou melhor: o que fazer quando dois órgãos não hierárquicos enfrentam um problema comfundamento constitucional e que ultrapassa os interesses de um país?

Para ilustrar, trazemos a lição do professor Marcelo Neves, que desenvolveu a ideia do “transconstitucionalismo”. Conformepalavras dele: “o transconstitucionalismo é o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas, tanto estatais comotransnacionais, internacionais e supranacionais, em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional.”

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Pág. 14 - Exemplos e conclusão da unidade 1

Dentre os vários exemplos ofertados na tese de Marcelo Neves, podemos citar o da princesaCaroline de Mônaco, que teve fotos íntimas publicadas por paparazzi na imprensa alemã. Elaentrou com processo judicial, e a Corte Constitucional Alemã decidiu que, em casos como odela, em que a pessoa é socialmente proeminente, não há que se falar em direito àprivacidade. Ela recorreu ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que, em decisãocontrária, defendeu haver direito à privacidade, mesmo em se tratando de pessoas públicas,como Caroline de Mônaco, não se aplicando, aqui, a liberdade de imprensa.

Qual decisão deve prevalecer? Marcelo Neves defende que não se deve impor uma ou outradecisão, mesmo porque esses órgãos não possuem grau de hierarquia entre eles. Deve-se buscar a orientação socialmentemais adequada. É preciso que haja um diálogo entre as Cortes Constitucionais para se definir o caminho a ser tomado.

Para encerrar esta unidade, veja mais alguns exemplos e conheça mais um pouco deste tema assistindo à seguinteentrevista dada pelo professor, que aborda, também, os assuntos da ponderação de princípios e do controle do Judiciário:

Vídeo 1/3

Vídeo 2/3

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Vídeo 3/3

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Unidade 2 – A Constituição Imperial de 1824 e aConstituição Republicana de 1891

A segunda unidade do Módulo I terá a história como pano de fundo a fim dedemonstrar como, e sob qual paradigma, um determinado diploma constitucional éelaborado. Aqui, as Constituições de 1824 e 1891 serão analisadas e suascaracterísticas mais relevantes destacadas.

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Pág. 1 - IntroduçãoNas próximas duas unidades, falaremos das experiências constitucionais brasileiras. Abordaremos, brevemente, o contextohistórico de criação de cada Constituição e suas principais características.

Também forneceremos os dados necessários para que o aluno possa compreender o que se passou com cada diplomaconstitucional pátrio. Alertamos que este assunto é extenso e profundo.

Por isso, este curso não esgotará o tema. Na verdade, temos o interesse de despertar a curiosidade do estudante para queele possa, posteriormente, buscar mais informações e realizar novas pesquisas.

Introduzido o assunto, sigamos.

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Pág. 2 - Constituições brasileiras

O Brasil teve sete constituições, a saber:Constituição Imperial de 1824 (a primeira do Brasil)Constituição de 1891 (inaugurou a República)Constituição de 1934 (pôs fim à República Velha)Constituição de 1937 (início do Estado Novo, de Getúlio Vargas)Constituição de 1946 (redemocratizou o país)Constituição de 1967 (emendada pela EC nº. 1/69, vigorou na Ditadura Militar)Constituição de 1988 (“Constituição Cidadã”, trouxe de volta o Estado Democrático)

Apesar de alguns juristas considerarem a EC nº. 1/69 como mais uma carta constitucional brasileira, analisaremos seu textoem conjunto com a Constituição de 1967. Reconhecemos o caráter “revolucionário” do diploma e trataremos desse tópico naUnidade 4.

Sendo assim, passemos ao estudo das nossas duas primeiras Constituições.

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Pág. 3 - Constituição de 1824A Constituição de 1824 foi a que por mais tempo vigorou em nosso país: 65anos. Ela é fruto de acontecimentos que se iniciam com a vinda da FamíliaReal Portuguesa, no ano de 1808. Devido à ocupação das terras portuguesaspelas tropas napoleônicas, a monarquia teve que se retirar de Portugal,estabelecendo-se no Brasil, ainda colônia.

Pertencendo, agora, ao Reino Unido de Portugal e Algarves, cujo Rei era D.João VI, o Brasil era a sede da metrópole portuguesa, tendo como capital acidade do Rio de Janeiro. Alguns historiadores denominam esse fato de“inversão metropolitana”, pois Portugal era governado a partir da antigacolônia.

Muitas coisas mudaram coma chegada da corte portuguesa. Fundou-se o Banco do Brasil, criaram-se aBiblioteca Real, o Jardim Botânico, a Academia Real Militar e duas escolas deMedicina, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro, dentre outrasinstituições.

Além disso, foi assinado o Decreto de Abertura dos Portos às NaçõesAmigas, em cumprimento ao apoio dado pelos ingleses aos portugueses naviagem até o Brasil. Ele marcou o fim do pacto colonial e trouxe váriosprivilégios aos britânicos, que poderiam negociar diretamente com o Brasil,sem ter que passar pelas alfândegas de Portugal.

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Pág. 4 - Constituição da Mandioca

Com a derrota de Napoleão e o crescente poderio britânico sobre os portugueses, deu-seinício, em 1820, à Revolução do Porto. Esse movimento reivindicava a volta da Família Realpara restabelecer a colonização das terras brasileiras e expulsar os ingleses do controlemilitar.

Assim, D. João VI retorna a Portugal, mas deixa no Brasil seu filho, D. Pedro de Alcântara, nacondição de Príncipe Regente.

Sob pressão dos liberais, D. Pedro, desrespeitando as ordens da corte portuguesa, fica noPaís (Dia do Fico, 9 de janeiro de 1822) e declara a independência em 7 de setembro de1822, tornando-se D. Pedro I, imperador do Brasil.

Convocada uma Assembleia Nacional Constituinte, deu-se início aos trabalhos para elaborara primeira Constituição da nação independente. Havia dois partidos que integravam aConstituinte: o partido Luso e o partido Brasileiro. D. Pedro, obviamente, apoiava o partido Luso, pois não queria perder opoder. O partido brasileiro era liderado pelos “irmãos Andrada” (José Bonifácio de Andrada e Silva, Antônio Carlos Ribeiro deAndrada Machado e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada), que elaboraram o primeiro anteprojeto de constituição,conhecido como Constituição da Mandioca.

Por que Constituição da Mandioca?

Foi em virtude desse projeto que a Assembleia Nacional Constituinte foi dissolvidapelo Imperador D. Pedro I. Ele previa o voto indireto e censitário, levando-se emconsideração a quantidade de terras cultivadas com mandioca. Paralelamente,para ser eleito, também era necessário ser proprietário de grande quantidade deterras com plantio de mandioca.

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Pág. 5 - Assembleia Nacional ConstituinteUma vez que a maioria dos proprietários de terra era brasileira, os portugueses seriam excluídos do poder, tanto comoeleitores quanto como representantes. Vendo essa jogada jurídica dos liberais, o imperador dissolveu a Assembleia (esseepisódio ficou conhecido como “Noite da Agonia”, que aconteceu do dia 11 para o dia 12 de novembro de 1823) e nomeousomente portugueses para redigir a Constituição, que seria imposta ou outorgada em 25 de março de 1824.

Clique aqui para saber o que foi a "Noite da Agonia"

Com a outorga da Constituição, passamos a ser uma monarquia hereditária, cujo Imperador e Defensor Perpétuo do Brasilera D. Pedro I.

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Pág. 6 - Províncias

As capitanias hereditárias foram transformadas em províncias, as quais eram administradaspor presidentes nomeados pelo Imperador. Elas integravam os Estados Unidos do Brasil,cuja capital era a cidade do Rio de Janeiro. Foram os embriões das atuais unidades daFederação.

Nosso Estado detinha a forma unitária, ou seja, o poder era centralizado em um únicoórgão, a Coroa, não havendo autonomia política das províncias. Essa condição só foimodificada com a Constituição de 1891, quando se adotou o federalismo.

Houve uma tentativa de derrubar esse unitarismo, durante a Regência Trina Permanente(1831-1835), período em que D. Pedro I abdica do trono, deixando D. Pedro II, aindamenor, no poder. A Lei nº. 16 de 1834, também chamada de Ato Adicional, modificandonormas da Constituição, criou as Assembleias Legislativas Provinciais, dando a elas certaautonomia.

No entanto, essa tentativa não foi bem sucedida, tendo sido totalmente extirpada com a Lei nº. 105 de 1840, queinterpretou as modificações trazidas pela Lei 16/1834. Aliás, a referida lei ficou conhecida como “Lei de Interpretação”.

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Pág. 7 - Revoltas sociaisMesmo assim, as revoltas sociais eclodiam em várias partes do território nacional, tendo como ponto comum odescontentamento com o poder central. São exemplos: a Cabanagem, no Pará (1835); a Farroupilha, no Rio Grande do Sul(1835); a Sabinada, na Bahia (1837); a Balaiada, no Maranhão (1838); e a Revolução Praieira, em Pernambuco (1848).

Outra característica importante de nossa primeira Carta Maior foi o fato de termos uma religião oficial: a Católica ApostólicaRomana. Em virtude disso, todas as outras formas religiosas não podiam ter manifestação pública. Aceitava-se, apenas, seuculto doméstico.

Na nossa primeira experiência constitucional, não adotamos a forma popular e revolucionária de repartição dos poderes. Adenominada Tripartição dos Poderes de Montesquieu, em que havia os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, comatribuições complementares, autônomas e independentes, não foi implementada na Carta de 1824.

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Pág. 8 - O quarto poderNa realidade, pelas ideias de Benjamin Constant, a organização dos Poderes do Império abrangia um quarto poder, o PoderModerador, ao lado daqueles três. Ele era a “chave” de todo o complexo político e assegurava ao Imperador o controle dosdemais poderes.

Estava regulado nos arts. 98, 99, 100 e 101. Veja o que diz, com a grafia da época, o art. 98:

"O Poder Moderador é a chave de toda a organização Política, e é delegado privativamente aoImperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente

vele sobre a manutenção da Independência, equilíbrio, e harmonia dos demais Poderes Políticos."

Ao lado desse centralismo político, o Imperador era considerado uma pessoa sagrada e inviolável. Vigia a teoria dairresponsabilidade total do Estado: “o rei não erra” (the king can do no wrong). O art. 99 assim o dizia: “A Pessoa doImperador é inviolável, e Sagrada: Ele não está sujeito a responsabilidade alguma.” Essa ideia marcou o absolutismoeuropeu até o século XVIII e ainda perdurou no Brasil até a proclamação da República, em 1889.

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Pág. 9 - Direitos Fundamentais

No que se refere aos direitos fundamentais, a Constituição de 1824, por influência da Constituição Francesa de 1789,defendia a liberdade, a segurança e a propriedade. Por essa linha de pensamento, assegurou importantes direitos civis epolíticos de primeira dimensão (direitos individuais).

A grande contradição, todavia, foi a permanência da escravidão, que atendia aos interesses de grandes latifundiáriosmonocultores de café e de cana de açúcar. Podemos citar, também, o fato de o voto ser restrito aos homens e ser censitário(conforme a renda).

Por fim, a garantia do habeas corpus não foi constitucionalizada em 1824. Houve sua previsão infraconstitucional no CódigoCriminal de 1830 e no Código de Processo Criminal de Primeira Instância de 1832. Essa importante garantia só viria a terstatus constitucional em 1891, como veremos na sequência.

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Pág. 10 - Constituição de 1891O surgimento de nossa segunda constituição está ligado ao enfraquecimento da monarquia, que pode ser observado desde1831, quando houve a tentativa de descentralizar o poder. Como dissemos anteriormente, a Lei nº. 16 de 1834 concedeualguma autonomia às províncias, ao possibilitar que elas legislassem. Porém, tal lei foi “interpretada” e praticamenterevogada em 1840. O poder continuou centralizado, e essa capacidade de legislar foi retirada das províncias.

No entanto, a partir de 1860, o centralismo político começava a ser um problema para algumas classes. Por exemplo, mesmosendo vitoriosos na Guerra do Paraguai, em 1870, os militares ficaram extremamente descontentes com o fato de terem seuorçamento e seu efetivo reduzidos pelo imperador D. Pedro II.

Outro fato que demonstra o descontentamento com a monarquia é a publicação do Manifesto do Centro Liberal, em 1869, edo Manifesto Republicano, em 1870. Nesses documentos, reivindicava-se maior legitimidade da representação do País,exigindo o fim da vitaliciedade do mandato no Senado e no Conselho de Estado.

Paralelamente, também a Igreja se mostrava insatisfeita com o regime, especialmente em razão de ser submissa ao EstadoImperial. Um fato que mostra essa contrariedade é a prisão dos bispos de Olinda e Belém, em 1874, ao não ter sidoaprovada uma bula papal que censurava a maçonaria. Além disso, o Imperador perdeu o apoio dos produtores rurais,ocasionando a libertação dos escravos em 1888.

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Pág. 11 - RepúblicaDentro desse contexto, a República é proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889, por meiodo Decreto nº. 1. Esse decreto foi redigido pelo conhecido jurista Rui Barbosa e previu um Governo Provisório com o objetivode consolidar o regime e elaborar a nova Constituição, a qual seria promulgada em 24 de fevereiro de 1891. É a primeiraconstituição promulgada da nossa história, marcando o fim do absolutismo monárquico.

Embora o Decreto nº. 1 de 1889 já tivesse reunido as províncias sob a condição de “Estados Unidos do Brasil”, a formafederativa foi constitucionalizada em 1891. A capital era o Distrito Federal, com sede na cidade do Rio de Janeiro. É aqui quesurge a ideia de se levar a capital do país para o planalto central. O art. 3º assim o dispôs: “Art. 3º - Fica pertencendo àUnião, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcadapara nela estabeIecer-se a futura Capital federal”.

A partir da CF/1891, deixamos de ser um Estado unitário centralizado. Os estados federados passaram a ter autonomia paralegislar e administrar seus territórios. Alguns até adotaram o bicameralismo, como foi o caso de São Paulo e de Pernambuco,que possuíam a Câmara dos Deputados Estaduais e o Senado Estadual.

Como se disse, a república era a nova forma de governo, e a monarquia foi afastada do poder e banida do territóriobrasileiro. Com ela se foi também o Poder Moderador e a concepção de Benjamim Constant. Na nossa segunda Constituição,as ideias de Montesquieu prevaleceram, e a tripartição dos Poderes foi adotada.

A Família Real só iria poder retornar ao Brasil em 1920, quando houvea revogação de seu banimento pelo decreto 4.120 de 3 de setembrode 1920.

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Pág. 12 - Os três Poderes

O Poder Executivo era exercido por um Presidente, eleito diretamente pelo povo. Todavia, somente os homens acima de 21anos votavam.

O Poder Legislativo era comandado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, tendo os parlamentares mandato de3 e 9 anos, respectivamente. Fixou-se, assim, o bicameralismo federativo, com uma casa iniciadora e outra revisora.

O Poder Judiciário, por sua vez, passou a ter um órgão máximo independente, o Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro detalhe importante é que, com a Constituição de 1891, não havia mais religião oficial no Brasil. O País, agora, eralaico, leigo ou não confessional. Em virtude disso, algumas práticas mudaram: era proibido o ensino religioso nas escolaspúblicas; os cemitérios eram administrados pela autoridade municipal e não mais pela Igreja; não existia mais o padroado(direito de o imperador intervir nas nomeações de bispos e de alguns cargos eclesiásticos), bem como o recurso à Coroa paraatacar as decisões dos Tribunais Eclesiásticos. Houve, portanto, a separação total entre Igreja e Estado.

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Pág. 13 - Direitos Fundamentais

Sobre os direitos fundamentais, podemos dizer que eles foram aprimorados, extinguindo-se algumas penas cruéis, como ade galés (trabalhos forçados), a de banimento e a de morte. Esta persistiu apenas na legislação militar em tempo de guerra.

A garantia do habeas corpus foi constitucionalizada pela primeira vez, no art. 72, § 22: “Dar-se-á o habeas corpus sempreque o indivíduo sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder”.

Pela abrangência do dispositivo, criou-se em nosso país a denominada “Teoria brasileira do habeas corpus”, pois esseremédio constitucional não protegia apenas a liberdade de locomoção, mas qualquer direito fundamental.

Em vista disso, em 1926, por meio da Emenda Constitucional nº. 1, o habeas corpus foi restringido apenas à liberdade delocomoção. Veja como ficou, à época, a nova redação do dispositivo: “Dar-se-á o habeas corpus sempre que alguém sofrerou se achar em iminente perigo de sofrer violência por meio de prisão ou constrangimento ilegal em sua liberdade delocomoção”.

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Pág. 14 - Conclusão da unidade 2A Constituição de 1891 vigorou até 1930, sofrendo apenas uma reforma em 1926, momento em que as faculdades e direitosdo governo central perante os estados foram ampliados. Na próxima unidade do nosso curso estudaremos os fatos quedeterminaram o fim da República Velha, a revogação desse ordenamento jurídico e a promulgação de um novo textoconstitucional, o de 1934.

Para encerrar esta unidade, assista aos vídeos do professor Boris Fausto, que faz alguns comentários sobre esse momentohistórico no Brasil:

Vídeo 1/3

Vídeo 2/3

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Vídeo 3/3

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Unidade 3 – A Constituição de 1934, a Carta de 1937 e aConstituição Democrática de 1946

A terceira unidade do Módulo I terá a história como pano de fundo a fimde demonstrar como, e sob qual paradigma, um determinado diplomaconstitucional é elaborado. Aqui, a Constituição de 1967, com a EC n.1/69, e a Constituição de 1988 serão analisadas e suas característicasmais relevantes destacadas.

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Pág. 2 - Constituição de 1934As experiências constitucionais brasileiras – A Constituição de 1934, a Carta de 1937 e a ConstituiçãoDemocrática de 1946

Chegou a vez de sabermos um pouco sobre as Constituições de 1934, de 1937 e de 1946. A de 34 marca o fim da PrimeiraRepública ou República Velha e o início de um novo período, que é interrompido pelo golpe de Getúlio Vargas, em 1937. Onovo regime instaurado por Getúlio, o “Estado Novo”, de cunho autoritário, se estendeu até 1946, quando houve aredemocratização do país. Vamos ao estudo.

Constituição de 1934

As principais causas para a extinção da República Velha, que perdurou de 1889 a 1930, podem ser associadas a doisfatores:

1) domínio das oligarquias mineiras e paulistas (o termo “oligarquia” significa “governo de poucos”); e

2) ruptura eleitoral do então presidente Washington Luís, que não respeitou o acordo da “política do café com leite”.

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Pág. 3 - Eleições

Como se sabe, por esse “acordo” os paulistas e os mineiros se alternavam na presidência da República. Porém, nas eleiçõesde 1929, ao invés de indicar o candidato mineiro, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Washington Luís apoiou o governadorpaulista, Júlio Prestes. Em contrapartida, Antônio Carlos posicionou-se em favor do gaúcho Getúlio Vargas, candidato pelaAliança Liberal, para as eleições de 1930.

Apesar de eleito, Júlio Prestes não tomou posse. A “Revolução de 1930”, liderada pelos militares gaúchos e deflagrada depoisdo assassinato de João Pessoa, fez com que Getúlio Vargas assumisse o poder, por meio de um governo provisório.

Nesse período, a Constituição de 1891 foi revogada, e o Congresso Nacional dissolvido. Getúlio Vargas governava pordecretos. Paralelamente, foram nomeados interventores em todos os estados da federação, exceto em Minas Gerais, estadodo governador Antônio Carlos, que apoiara Getúlio.

Mesmo com avanços em algumas áreas na época do Governo Provisório, a exemplo do Código Eleitoral, que trouxe osufrágio universal, direto e secreto, englobando o voto feminino, e várias garantias trabalhistas (descanso semanalremunerado, férias remuneradas, licença-maternidade e jornada de trabalho máxima de 8 horas diárias), vivíamos, naprática, sob o domínio de uma só pessoa, e não possuíamos, ainda, uma Constituição.

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Pág. 4 - Assembleia Constituinte

Em virtude disso, um movimento revolucionário reivindicava a convocação de Assembleia Nacional Constituinte com o intuitode elaborar a nova constituição. Ficou conhecido como “Revolução Constitucionalista de São Paulo”. Os conflitos iniciaram-seem 9 de julho de 1932, estendendo-se até outubro desse mesmo ano.

Mesmo tendo massacrado os paulistas, Getúlio Vargas se viu obrigado a convocar a Assembleia Constituinte, pois senãoperderia sua legitimidade. Fala-se que, embora vitorioso na “guerra”, Getúlio fracassou politicamente.

Dessa forma, a Constituição de 1934 é promulgada após intensos movimentosrevolucionários e num contexto mundial de profunda crise do capitalismo. Aquebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque evidencia a depressão do modelo

liberal. Ao lado disso, a recente industrialização, surgida com a Primeira GuerraMundial, deixa uma grande classe de operários sem emprego.

Diante desse quadro, a nossa terceira Constituição teve grande ênfase social,sofrendo influências da Constituição Alemã de 1919 (Constituição de Weimar), quetambém possuía a mesma preocupação. A Carta de 1934 marca uma importantetransição do nosso constitucionalismo, que passa a garantir os direitos sociais oudireitos de segunda geração, como por exemplo os direitos trabalhistas, o direito àsaúde e à educação e o direito de greve. Além, é claro, dos já consagradosdireitos de primeira geração (direitos civis e políticos: liberdade, igualdade perantea lei, direito à vida e à propriedade).

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Pág. 5 - Estado Social de Direito

Passamos, assim, do Estado Liberal ou Estado de Direito para o Estado Social de Direito, em que o Estado assume suaresponsabilidade perante a sociedade e deve garantir o mínimo para que as pessoas possam viver uma vida digna.

Outras características podem ser citadas sobre o texto constitucional de 1934:

a) o sufrágio universal, direto e secreto, abrangendo o voto feminino;

b) a forma republicana foi mantida;

c) a capital da República manteve-se no Distrito Federal, com sede no Rio de Janeiro (havia a previsão de transferência dacapital para um ponto central do país).

Continuamos a ser um país laico, sem religião oficial, mas esta característica foi amenizada, visto que a Constituição de 1891havia sido muito severa sobre o tema. Dessa maneira, o casamento religioso voltou a produzir efeitos civis, e o ensinoreligioso em escolas públicas se tornou facultativo.

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Pág. 6 - Justiça EleitoralCriou-se a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), e previu-se, pelaprimeira vez, o Mandado de Segurança e a Ação Popular, importantes mecanismos para garantir direitos fundamentais.

Havia a tripartição de Poderes. No entanto, instalou-se no Poder Legislativo Federal o que muitos chamam de “bicameralismodesigual” ou “unicameralismo imperfeito”, pois ele era exercido pela Câmara dos Deputados com a colaboração do SenadoFederal. Assim, o Senado Federal não detinha o mesmo status da Câmara, sendo um mero colaborador.

Apesar de alguns defeitos, o texto de 1934 representou importante avanço nas áreas da educação e da economia, bem comono campo social. Assista ao vídeo abaixo, que ilustra esse tema.

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Pág. 7 - Constituição de 1937

Constituição de 1937

Com a eleição de Getúlio Vargas para governar durante o período de 1934 a 1938,começou a haver uma forte disputa entre dois movimentos nacionais. De um lado,o da direita fascista, que defendia um estado autoritário, inspirado nas ideias deMussolini, representado pela Ação Integralista Brasileira (AIB); e, de outro, aAliança Nacional Libertadora (ANL), movimento de esquerda que apoiava ideiassocialistas e comunistas e pretendia combater o fascismo nacional.

Em 11 de julho de 1935, quatro meses após a criação da ANL, o Governo a fechou,sob a alegação de que essa aliança era ilegal em vista da Lei de SegurançaNacional. Paralelamente, para evitar o avanço comunista, Getúlio Vargas decretou oestado de sítio, inviabilizando uma insurreição político-militar que objetivavaderrubá-lo e instalar o comunismo, a denominada Intentona Comunista.

Porém, o estopim desse quadro histórico foi a descoberta do famoso “Plano Cohen”,que novamente pretendia derrubar Getúlio. Foi descoberto pelo Estado-maior doExército e veiculado em rádio nacional. Como pretexto para “salvar” o Brasil docomunismo, Getúlio Vargas decreta o golpe de estado e fecha o CongressoNacional.

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PLANO COHEN - A matéria a seguir conta que, na verdade, o Plano Cohen foi uma fraude para tentarmanter Getúlio Vargas no poder. Vale a pena lê-lo.

Clique no link para ler o PLANO COHEN

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Pág. 8 - Carta de 1937

Na sequência, Getúlio outorga (impõe) a Carta de 1937, iniciando o que chamou de “Estado Novo”. Essa constituição foielaborada por Francisco Campos e teve o apelido de “Polaca”, em virtude da influência da constituição polonesa fascista eautoritária de 1935.

Apesar de ter estabelecido em seu art. 187 que seria submetida a plebiscito nacional, isso nunca aconteceu. Suacaracterística principal foi o autoritarismo, tendo sido fechado o Parlamento, e o Judiciário passou a ser controlado peloExecutivo.

Para se ter uma ideia, o art. 170 da Carta de 1937 dispôs que “durante o estado de emergência ou o estado de guerra, dosatos praticados em virtude deles não poderão conhecer os Juízes e Tribunais”. Isso equivalia a dizer que por mais atrozesque fossem as condutas de militares, o cidadão não poderia levar isso ao conhecimento de nenhum juiz. Vivíamos numatripartição apenas “formal” dos Poderes, pois na prática apenas o Poder Executivo comandava o País.

Igualmente, a federação também sofreu limitações. O Governo nomeou interventores nos estados federados, diminuindo suacapacidade de se autogovernar. A forma federativa era apenas “nominal”, não existia de fato.

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Pág. 9 - Modificações da Constituição de 1934Houve retrocesso em algumas criações da Constituição de 1934, como é o caso da Justiça Eleitoral, que foi extinta. Damesma forma, os partidos políticos foram dissolvidos pelo Decreto-lei nº. 37 de 1937. A eleição para Presidente da Repúblicapassou a ser indireta.

No entanto, a área mais afetada foi a dos direitos fundamentais. Veja algumas dessas modificações:

a) retiraram-se do texto constitucional o Mandado de Segurança e a Ação Popular;

b) o princípio da irretroatividade das leis não mereceu muita atenção;

c) estabeleceu-se a censura prévia, restringindo-se o direito à liberdade de manifestação do pensamento, e todos os jornaisficaram obrigados e inserir comunicações do Governo, quando assim fosse necessário;

d) previu-se a pena de morte para crimes políticos e quando se tratasse de homicídio cometido por motivo fútil;

e) a greve era proibida.

Ao arrepio da Constituição, a tortura era utilizada como forma de repressão, a exemplo do que aconteceu comOlga Benário, mulher do comunista Luís Carlos Prestes. O filme “Olga” ilustra bem esse fato. Ela foi entreguee, posteriormente, assassinada em um campo de concentração nazista, na Alemanha. Está disponível otrailer:

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Pág. 10 - Retrocessos e Avanços

Como se vê, esse momento foi muito duro para a história brasileira, sobretudo sob o ponto de vista dos direitos individuais.Mas em razão da forma populista de governo, podemos dizer que houve avanços nos campos trabalhista e industrial. É dessetempo a criação de importantes empresas estatais: a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Companhia Hidroelétrica do SãoFrancisco (1945) e a Companhia Siderúrgica Nacional, que começou a operar em 1946.

O Brasil só viria a ser redemocratizado em 1946, após uma contradição na politica adotada por Vargas, como veremos aseguir.

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Pág. 11 - Constituição de 1946

Constituição de 1946

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O Estado Novo se prolongou de 1937 a 1946, sendo que Vargas governou, efetivamente, desde o Governo Provisório,instalado em 1930. No total, foram mais de quinze anos de “Era Vargas”. Como se viu, a política interna se baseava emideias da direita fascista e se norteava pelo autoritarismo, configurando-se como uma verdadeira ditadura.

Porém, com o início da 2ª Guerra Mundial, o Brasil declarou guerra aos países do “Eixo” (a Alemanha nazista, a Itália fascistae o Japão), combatendo, assim, do lado dos “Aliados” (EUA, URSS, China, França e Inglaterra).

Numa clara contradição entre a política interna (ditadura Vargas nazifascista) e a política externa (apoio aos países quequeriam destruir as ditaduras nazifascistas), foi publicado o “Manifesto dos Mineiros”, que evidenciava esse quadrocontroverso.

Tendo perdido apoio e entrado em crise política, Getúlio Vargas se viu obrigado a convocar eleições para a Presidência doBrasil. Por meio da Lei Constitucional nº. 9, de 1945, ele o faz e começa a corrida das eleições.

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Pág. 12 - Nova Carta

Embora tenha surgido o movimento “queremismo”, que, em síntese, significava “queremos Getúlio”, ele não foi eleito.Alguns fatos, como a substituição do chefe de polícia do Distrito Federal pelo seu irmão, fez com que Getúlio Vargas fosseexpulso do poder pelas Forças Armadas, mais especificamente pelos Generais Góis Monteiro e Gaspar Dutra. Pensava-se queele poderia dar um novo golpe e se perpetuar no poder.

O Executivo passou a ser exercido pelo Presidente do STF, José Linhares, até que o General Gaspar Dutra foi eleito parachefiar o país, a partir de 1946. Antes disso, a Lei Constitucional nº. 13, de 1945, atribuiu poderes constituintes aoParlamento, para que este elaborasse outra constituição.

A nova Carta foi promulgada em 18 de setembro de 1946 e teve o importante papel de redemocratizar o Brasil. Dentre asprincipais mudanças, destaque-se que os direitos fundamentais voltaram a ter a proteção adequada, sendo que o Mandadode Segurança e a Ação Popular foram recolocados no diploma constitucional. Vedou-se a pena de morte, salvo em tempo deguerra e de acordo com a legislação militar. Reconheceu-se o direito de greve.

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Pág. 13 - Nova Capital e conclusão da unidade 3

A forma federativa do Estado foi consagrada, afastando-se os interventores dos estados. A capitalda República permaneceu no Rio de Janeiro até sua mudança para Brasília, no governo deJuscelino Kubitschek (1956-1961), efetivando o disposto no art. 4º do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias da CF/46.Assim dizia o referido dispositivo:“Art. 4º - A Capital da União será transferida para o planalto central do Pais.§ 1 º - Promulgado este Ato, o Presidente da República, dentro em sessenta dias, nomeará umaComissão de técnicos de reconhecido valor para proceder ao estudo da localização da nova Capital.§ 2 º - O estudo previsto no parágrafo antecedente será encaminhado ao Congresso Nacional, quedeliberará a respeito, em lei especial, e estabelecerá o prazo para o início da delimitação da área aser incorporada ao domínio da União.§ 3 º - Findos os trabalhos demarcatórios, o Congresso Nacional resolverá sobre a data damudança da Capital.§ 4 º - Efetuada a transferência, o atual Distrito Federal passará a constituir o Estado daGuanabara.”

Assim, a Constituição de 1946 deu ao Brasil as bases necessárias para construir um país democrático. Todavia, devido aoconhecido “Golpe de 64”, mergulhamos num dos períodos mais conturbados de nossa história. Como veremos na próximaunidade, a Constituição de 1967, emendada pela EC nº. 1/69, assemelhou-se em muitos pontos à Carta de Vargas,representando um retrocesso político e social para os brasileiros.

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Unidade 4 – A Constituição do período militar e aredemocratização do país com a Constituição de 1988

A quarta unidade do módulo I terá a história como pano de fundo a fimde demonstrar como, e sob qual paradigma, um determinado diplomaconstitucional é elaborado. Aqui, a Constituição de 1967, com a EC n.1/69, e a Constituição de 1988 serão analisadas e suas característicasmais relevantes.

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Pág. 2 - Constituição de 1967Estudaremos, agora, as duas últimas constituições do Brasil. A de 1967, que sofreu uma importante emenda em 1969 evigorou durante a ditadura militar. E a de 1988, hoje vigente, que simbolizou a volta do Brasil para o Estado Democrático e,mais do que isso, a evolução de nosso constitucionalismo para a construção de espaço aberto ao debate.

Sendo assim, comecemos pelos fatos que antecederam a criação da CF/1967.

Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional nº. 1, de 1969

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou dividido em dois grandes blocos: a parte capitalista, liderada pelosEUA, e a parte socialista, chefiada pela ex-URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Essas potências ajudavam nareconstrução dos países destruídos pela guerra e, paralelamente, exerciam sua influência para a garantia de poder ecomando sobre tais territórios.

Nessa época, o Brasil se vinculou ao mundo capitalista, tendo, inclusive, recebido algumas multinacionais para explorar omercado nacional. Aliás, especialmente a partir da década de 50, que desnacionalizou segmentos importantes da economianacional, como a área do petróleo, tal política econômica ficou conhecida como “entreguismo”.

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Pág. 3 - Volta do presidencialismo

Nesse passo, havia no País um espírito de “caça aos comunistas”, devido à ideologia adotada por nosso governo. Todavia, napresidência de Jânio Quadros começa a haver um desemparelhamento com o bloco norte-americano. O governo brasileirocomeça a travar relações com a China e com a ex-URSS, expoentes do mundo comunista.

Perdendo apoio tanto da direita quanto do centro, Jânio Quadros renuncia. Em seu lugar, assumiria o vice-presidente JoãoGoulart, que no momento da renúncia estava na China. As Forças Armadas queriam impedir que “Jango”, como ficouapelidado, assumisse a presidência, e tentaram impedir seu retorno ao Brasil.

Para contornar a situação, o Congresso Nacional aprovou um regime parlamentarista, em que João Goulart ficaria comochefe de Estado e Tancredo Neves seria o chefe de Governo. Esse sistema, no entanto, foi rejeitado pela população, que, emplebiscito, escolheu a volta do presidencialismo (6 de janeiro de 1963).

Dessa forma, João Goulart voltou a ocupar a chefia do Poder Executivo, sob o sistema presidencialista, e, por ter um viéspopulista, coordenou as “Reformas de base”. Nessas reformas, o presidente Jango permitiu que os analfabetos votassem,iniciou a reforma agrária, limitou a remessa de capital ao exterior e deu grande incentivo à educação.

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Pág. 4 - Atos Institucionais

Apesar de ter ampla aprovação do operariado, a classe média,assim como a Igreja, não via com bons olhos essa políticapopulista. Nesse contexto, em 31 de março de 1964, acusado deestar a serviço do comunismo internacional, João Goulart éderrubado do poder pelos militares.

Em seguida, é constituído o Supremo Comando da Revolução pelosmilitares vitoriosos – General Costa e Silva, Brigadeiro FranciscoCorrea de Melo e Almirante Augusto Rademaker. Esse SupremoComando, no exercício do Poder Executivo, baixou os famosos AtosInstitucionais (AI), que governariam o país até a imposição daCarta de 1967.

Vejamos a síntese de cada um deles.

O AI-1 permitiu ao Comando decretar o estado de sítio, quando assim se fizesse necessário, alémde conferir o poder de aposentar qualquer civil ou militar. Ainda, por meio desse Ato, os militarespoderiam suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais oumunicipais.

O AI-2 estabeleceu eleições indiretas para Presidente da República.

O AI-3 fez o mesmo que o 2, porém na esfera estadual.

O AI-4, a seu turno, convocou o Congresso Nacional, que estava fechado, para elaborar a novaCarta Constitucional, que regeria o país a partir de então.

Embora conste que o texto foi promulgado, é bom frisar para o estudante que ele foi impostounilateralmente pelo regime militar. Houve apenas as formalidades de votação, aprovação epromulgação. Na verdade, o Parlamento estava ali para atender aos interesses do “Comando daRevolução”.

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Pág. 5 - Texto de 1967

Em síntese, de 1964, quando houve o golpe de Estado, até 1967, quando a Constituição foi outorgada, o Brasil foi regido porAtos Institucionais. A Constituição de 1946 existia apenas formalmente. Ela foi revogada, em definitivo, no dia 15 de marçode 1967, data em que passou a viger o novo texto constitucional.

Dentre as características mais marcantes do texto de 1967, podemos destacar o centralismo político, que significou o “fim”do federalismo. Experimentamos, praticamente, um estado unitário, em que os estados federados não possuíam muitaautonomia.

A Tripartição dos Poderes também não existiu na prática, pois o Executivo foi extremamente fortalecido, esvaziando acompetência dos demais Poderes. O Presidente governava mediante a edição de Decretos-Lei, fazendo do parlamento ummero coadjuvante. Some-se a isso o fato de que as eleições presidenciais eram indiretas e se davam pelo Colégio Eleitoral.

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Pág. 6 - AI-5

Mas foi com o AI-5 que a Ditadura deixou seu maior “legado”, ao restringir, violentamente, os direitos fundamentais doindivíduo. Por ele, o Presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e dasCâmaras dos Vereadores, sendo que, nesse período, ele assumiria as funções desses órgãos.

O AI-5 também permitia ao Presidente intervir nos Estados e nos Municípios, sem as limitações previstas na Constituição. Ochefe do Executivo também poderia decretar o confisco de bens de todos aqueles que tivessem enriquecido de maneirailegal, no exercício de cargo ou função pública, bem como suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos, pelo prazode 10 anos.

Conforme o art. 10 do Ato, a garantia de habeas corpus foi suspensa nos casos de crimes políticos contra a segurançanacional, a ordem econômica e social e a economia popular. E, de forma mais autoritária, excluiu da apreciação judicial osatos praticados em acordo com seus comandos.

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Pág. 7 - Golpe dentro do golpePercebe-se, portanto, que o estado autoritário instalado ofendia os direitosindividuais e gerava descontentamento por parte da sociedade civil. Outrossetores também se mostravam insatisfeitos com o Governo Militar, como foi ocaso do Deputado carioca Moreira Alves, que, em 1968, sustentou não havernada a se comemorar no Dia da Independência, pois vivíamos sob o domínio (edependência) dos militares.

Nesse meio tempo, no fim de agosto de 1969, o presidente Costa e Silva adoecee sua substituição se faz necessária. No entanto, seu vice, Pedro Aleixo, que foracontra o AI-5, é descartado pelos militares.

Num golpe dentro do golpe, os militares assumem o poder. Eles editam o AI-12,que permite a uma “Junta de Militares” governar o país enquanto Costa e Silva estivesse afastado por motivos de saúde. Emseguida, editam a EC nº 1/69, acrescentando alguns pontos importantes na CF/67. Vejamos alguns detalhes dessa“Emenda”.

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Pág. 8 - Emenda Constitucional nº. 1, de 17 de outubro de1969Como dissemos no início da Unidade 2, discute-se se esta Emenda não configuraria uma nova Constituição, já que ela é frutode um poder “revolucionário”, que afasta da presidência quem deveria assumi-la (o vice-presidente Pedro Aleixo), e outorgaum novo diploma constitucional.

Certamente, essa visão pode ser defendida, pois a EC 1/69 constitucionalizou o uso dos Atos Institucionais, que já regulavamo país, além de ter mantido em vigor os Atos já baixados. Aumentou, também, o mandato do Presidente para 5 anos. Noentanto, ela não revogou expressamente a CF/67, mantendo, inclusive, vários pontos de seu texto.

O estudante precisa ficar atento a essa discussão, sempre lembrando que colocamos o nome “Emenda Constitucional” pararespeitar o que se sucedeu na história constitucional brasileira.

E como conseguimos superar o estado autoritário? Como passamos à sociedade que atualmente vivemos, sob os princípiosde um Estado Democrático? É isso que veremos no tópico adiante.

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Pág. 9 - Governos Militares

Durante o regime militar, mais especificamente no governo do General Emílio Médici, experimentamos o“milagre econômico” (período de 1968 a 1973). Houve um crescimento econômico muito grande, mas à custado endividamento nacional. E por ter sido a classe média a privilegiada, as classes mais pobres não forambeneficiadas com esse “milagre”.

No governo de Ernesto Geisel (1974-1979), asconsequências da política econômica adotada naadministração anterior foram aparecendo e passamospor um período de inflação acelerada e criseeconômica acentuada. Acrescente-se a isso a criseinternacional do petróleo, que também atingiu o Brasil.

Mesmo assim, Geisel não modificou seus projetos de desenvolvimento (era preciso mostrar ao povoque o Governo Militar ia bem), deixando o país com uma dívida externa altíssima. Diante disso, osmilitares foram perdendo apoio e temiam que alguns movimentos de oposição se insurgissem contraeles.

É dessa época a edição da famosa “Lei Falcão”, que reduziu a propaganda política, com o intuito deminar as possibilidades da oposição. Houve, também, o conhecido “Pacote de Abril de 1977”,elaborado por Geisel, que, dentre outras coisas, aumentou o mandato do presidente para 6 anos. Ele

pretendia fazer um caminho para a democracia, mas seria “lento e gradual”.

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Pág. 10 - Movimentos sociais

Mesmo tentando se manter no poder, os militares não tinham apoio popular. Vivíamos sob acensura, a tortura e sequestros de artistas e intelectuais. Nasceram alguns movimentos quecriticavam essa estrutura, como é o caso da Tropicália.

Há um site que traz informações interessantes sobre essemovimento. Há fotos, vídeos, biografias etc. Vale a penavisitá-lo: http://tropicalia.com.br

Em 1978, tentando contornar algumas controvérsias, edita-se o “Pacote de Junho”, que, emresumo, revoga o famigerado AI-5, suspende as decisões que cassaram os direitos políticos de alguns cidadãos e prevê aimpossibilidade de o Presidente da República suspender os trabalhos do Congresso Nacional. Era o início da redemocratizaçãodo país.

Outros fatos denotam o avanço do Brasil para o caminho democrático. O primeiro deles é a Reforma Partidária de 1979 (Leinº. 6.767/1979), que reinstitui o pluripartidarimo. Antes, havia apenas os partidos ARENA (Aliança Renovadora Nacional, desituação) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro, de oposição). Depois da Reforma, a Arena passou a se chamar PDS e oMDB se desmembrou em cinco novos partidos: PMDB, PP, PT, PDT e PTB.

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Pág. 11 - Diretas já

Também como passo rumo à democratização, podemos citar o estabelecimento de eleições diretas para governador dosEstados e o movimento “Diretas Já”, que pretendia tornar diretas as eleições para Presidente da República. A Proposta deEmenda Constitucional nº. 5/83 – “PEC Dante de Oliveira”, como ficou chamada – encabeçou essa tentativa. Todavia, mesmotendo imenso apoio popular, ela foi rejeitada.

Nas eleições indiretas de 1985, Tancredo Neves é eleito o primeiro civil depois de um longo período de governo só demilitares. Suas promessas eram de estabelecer a “Nova República”, baseada num governo democrático.

Porém, ele adoeceu e faleceu, não chegando a tomar posse como presidente. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, JoséSarney, que também era civil. Ele cumpriu a promessa de Tancredo e instituiu uma Comissão de Notáveis (Comissão AfonsoArinos), para elaborar um anteprojeto de Constituição.

Aliás, a Emenda Constitucional nº. 26 de 1985 determinou que fosse convocada uma Assembleia Nacional Constituinte com ofim de elaborar a nova Constituição do país. O curioso dessa emenda é que ela não pretendia modificar, e sim eliminar, aConstituição a que se refere (a CF/67, emendada pela EC n. 1/69). Por essa razão, não é razoável pensarmos que elaconfigura Emenda Constitucional. Enquadra-se, com maior propriedade, como ato político revolucionário, aos moldes do queacontecera com a EC nº. 1/69, só que com viés democrático.

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Pág.12 - Constituição de 1988

O Presidente, no entanto, rejeitou o texto apresentado pela Comissão, sobretudo em razão deela ter optado pelo regime parlamentarista de governo. Cumprindo o mandamento da EC nº.26, instala-se a Assembleia Constituinte em 1º de fevereiro de 1987, composta por 559Congressistas, sendo que o grupo majoritário era do Centro Democrático, também conhecidocomo “Centrão”, apoiado pelo Executivo e defensor de ideias mais conservadoras.

Após intensas discussões, vários lobbies e brigas políticas, a recém-elaborada constituição foipromulgada, em 5 de outubro de 1988, pelo presidente da Assembleia Constituinte, UlyssesGuimarães. Ele a denominou de “Constituição Cidadã”, pois o povo pode contribuir para suaelaboração, por meio de propostas populares. Além disso, ela inaugurou um novo país, erguidosob o Estado Democrático de Direito e que devia respeito à sua Lei Maior.

A nova Constituição fixou eleições diretas para Presidente da República, cujo mandato ficou estabelecido em 4 anos (porforça da Emenda Constitucional de Revisão n. 5, de 1994, que alterou a previsão constitucional original, com mandato de 5anos para Presidente). Esta regra também ficou sendo obrigatória para Estados-membros, Municípios e Distrito Federal. Oprimeiro presidente eleito segundo a CF/88 foi Fernando Collor de Melo, que, pressionado por denúncias de corrupção e jáaberto contra ele um processo de impeachment, renuncia ao cargo em 29 de dezembro de 1992 envolvido em escândalos decorrupção.

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Pág. 13 - Redemocratização

Com a CF/88, a forma republicana e o sistema presidencialista de governo foram consolidados. Isso ocorreu especialmenteapós o plebiscito (consulta popular) de 21 de abril de 1993, que confirmou a escolha da população por esses mecanismos deadministração pública.

Por sua vez, o federalismo foi reestabelecido e os entes da federação voltaram a ter autonomia política, administrativa efinanceira. Foi criado o estado de Tocantins e transformados em estados federados os antigos Territórios Federais deRoraima e Amapá. Ao lado disso, a ilha de Fernando de Noronha deixou de pertencer à União (era território federal, foiextinto) e passou para o domínio do estado de Pernambuco.

No entanto, devemos ressaltar que ainda há muitos resquícios de centralismo político, em que a União detém uma amplagama de competências administrativas e legislativas, como se pode ver pela leitura dos arts. 20 a 23 do atual textoconstitucional.

Clique aqui para abrir a Constituição Federal e confira a íntegra dos arts. 20 a 23.

Continuamos a ser um país laico, sem religião oficial, e ter a capital do país em Brasília. A redemocratização trouxe de voltaa tripartição real dos Poderes, que, conforme o art. 2º, são independentes e harmônicos entre si. No âmbito do PoderJudiciário, criou-se o Superior Tribunal de Justiça (STJ), competente para uniformizar o entendimento dos magistrados notocante às ações que se fundamentem em lei federal. Dessa forma, O STF passou a cuidar das matérias estritamenteconstitucionais.

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Pág. 14 - Direitos fundamentais do indivíduo

O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, formado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados,representantes dos Estados-membros e do povo, respectivamente. Estabeleceu-se, enfim, o bicameralismo paritário ouigualitário, em que uma casa legislativa não se sobrepõe à outra.

Enfim, não podemos deixar de anotar que foi com a “Constituição Cidadã” que os direitos fundamentais do indivíduo foramconsolidados em nosso ordenamento. Alguns até de forma inédita, como, por exemplo, o fato de o racismo e a tortura teremse tornado crimes inafiançáveis; e a possibilidade de impetrar habeas data “para assegurar o conhecimento de informaçõesrelativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráterpúblico” ou “para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo” (art.5, inciso LXXII).

O tema dos direitos fundamentais será analisado com mais detalhes no Módulo 3. Por ora, devemos ter em mente que aCF/88 representou uma quebra de paradigma com o sistema anterior (CF/67), pois alçou os direitos fundamentais comocentro do ordenamento jurídico, tendo a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado brasileiro.

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Pág. 15 - Conclusão do Módulo I

Ao lado da dignidade da pessoa humana, adotamos como fundamentos, ainda, a soberania (internamente, traduz-se naideia de que ninguém é superior ao Estado, e, externamente, significa que todos os países são iguais entre si), a cidadania(na qual o sujeito possui o direito e o dever de intervir na ordem política em que se insere, tanto elegendo seusrepresentantes como contribuindo para melhorar a sociedade), os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e opluralismo político (rompendo com a ordem anterior, que se baseava no bipartidarismo e no repúdio à diversidadepolítica).

Esta é a redação do art. 1º da CF/88:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados eMunicípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem comofundamentos:I - a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representanteseleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Assim, vimos que nossa história constitucional passou por avanços e retrocessos. Conseguimos superar estados autoritáriose progredir na proteção do indivíduo e da coletividade.

É preciso levar em consideração que nossa Carta Maior sempre sofrerá mudanças, pois a realidade social é fluida e está,constantemente, em transformação. À Carta atual já se incluíram dezenas de Emendas Constitucionais. Mesmo assim, énecessário proteger seus fundamentos, pois são eles que norteiam o espírito democrático e sustentam a construção de umasociedade melhor.

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Exercícios de Fixação - Módulo IParabéns! Você chegou ao final do Módulo I de estudo do curso Introdução ao Direito Constitucional.

Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e resolva os Exercíciosde Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domíniodo conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas!

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