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CONTABILIDADE DE CUSTOS PROF.FÁBIO BRUSSOLO 1 – INTRODUÇÃO A contabilidade pode ser considerada como uma metodologia que capta, registra, acumula, resume e analisa todos os eventos que afetem a situação financeira, econômica e patrimonial de qualquer entidade. Porém, uma das principais funções atuais da contabilidade, é fornecer diferentes tipos de informações de acordo com a necessidade de seu usuário. Portanto, foram criadas algumas nomenclaturas, à saber: Contabilidade Financeira: é aquela que atende às necessidades legais da contabilidade e os requisitos fiscais; Contabilidade Gerencial: ligada à administração da empresa. Tem como principal função gerar informações para a tomada de decisões dentro da empresa; Contabilidade de Custos: voltada à análise dos gastos realizados pela entidade no decorrer de suas operações. A Contabilidade de Custos nasceu juntamente com o advento da Revolução Industrial (Século XVIII), pois até então, só existia a chamada contabilidade financeira (ou geral). Com o crescimento das empresas industriais, o contador da época se viu obrigado a criar procedimentos para se chegar ao valor dos estoques nesse novo tipo de empresa. Para isso, utilizou os princípios já utilizados pelas empresas comerciais e criou os procedimentos hoje conhecidos como Contabilidade de Custos. Até anos atrás a Contabilidade de Custos era aplicada mais especificamente pelas empresas industriais, mas com o crescimento das empresas prestadoras de serviços, e o aumento da concorrência, a decisão baseada em custos se

Contabilidade de Custos - Conceitos Básicos

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CONTABILIDADE DE CUSTOSPROF.FÁBIO BRUSSOLO

1 – INTRODUÇÃO

A contabilidade pode ser considerada como uma metodologia que capta, registra, acumula, resume e analisa todos os eventos que afetem a situação financeira, econômica e patrimonial de qualquer entidade.

Porém, uma das principais funções atuais da contabilidade, é fornecer diferentes tipos de informações de acordo com a necessidade de seu usuário.

Portanto, foram criadas algumas nomenclaturas, à saber:

Contabilidade Financeira: é aquela que atende às necessidades legais da contabilidade e os requisitos fiscais;

Contabilidade Gerencial: ligada à administração da empresa. Tem como principal função gerar informações para a tomada de decisões dentro da empresa;

Contabilidade de Custos: voltada à análise dos gastos realizados pela entidade no decorrer de suas operações.

A Contabilidade de Custos nasceu juntamente com o advento da Revolução Industrial (Século XVIII), pois até então, só existia a chamada contabilidade financeira (ou geral). Com o crescimento das empresas industriais, o contador da época se viu obrigado a criar procedimentos para se chegar ao valor dos estoques nesse novo tipo de empresa.

Para isso, utilizou os princípios já utilizados pelas empresas comerciais e criou os procedimentos hoje conhecidos como Contabilidade de Custos.

Até anos atrás a Contabilidade de Custos era aplicada mais especificamente pelas empresas industriais, mas com o crescimento das empresas prestadoras de serviços, e o aumento da concorrência, a decisão baseada em custos se torna cada vez mais importante, então as técnicas utilizadas pelas indústrias passaram a ser necessárias também em empresas de serviços.

2 – TERMINOLOGIA BÁSICA PARA A CONTABILIDADE DE CUSTOS

Para se entender bem qualquer assunto, o primeiro passo é se firmar os conceitos que serão utilizados durante todo o seu estudo.

Os conceitos apresentados serão utilizados para se entender a Contabilidade de Custos. Outras ciências podem trazer conceitos um pouco diferentes para os itens apresentados à seguir, o que não será objeto de discussão. Os conceitos apresentados à seguir serão considerados para fins de estudo da Contabilidade de Custos.

GASTOS: todo o sacrifício financeiro com que uma empresa arca para a obtenção de um produto ou serviço qualquer. Em outras palavras, podemos dizer que tudo o que a empresa adquirir para dentro de suas operações são gastos. Portanto, pode-se dizer que uma empresa

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tem um gasto com a compra de mercadorias, um gasto com salários, gasto com a compra de uma máquina, entre outros exemplos.

INVESTIMENTOS: são os gastos que a empresa faz com itens que farão parte do seu ativo em função de sua vida útil ou pelos benefícios futuros que o mesmo pode trazer para as empresas. A compra de matéria-prima, por exemplo, enquanto estiver no estoque da empresa é considerado um investimento, pois a empresa espera obter um retorno futuro com esta matéria-prima. Outro exemplo de investimento pode ser dado pela compra de uma máquina que fará parte do processo produtivo da empresa, a qual tem uma vida útil longa e a empresa espera obter benefícios no futuro.

CUSTOS: são os gastos com bens ou serviços que serão utilizados na transformação de outro bem ou serviço. Pode-se dizer que são os gastos que são consumidos no produto ou no serviço prestado pela empresa. A matéria-prima consumida no processo produtivo é um exemplo de custo. Outro exemplo considerado como custo é a mão-de-obra consumida dentro do processo de produção, o aluguel da fábrica, entre outros.

DESPESAS: são os gastos com bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receitas. São os gastos que não estão ligados ao processo produto, no caso de uma indústria, nem ao serviço diretamente prestado por uma empresa prestadora de serviços. Normalmente são os gastos relacionados com as áreas administrativa e comercial de uma empresa. Exemplo: Salário do pessoal administrativo, comissão de vendedores, consumo de material de escritório, entre outros.

PERDAS: representam gastos com bens ou serviços consumidos de forma anormal e involuntária dentro das empresas. Podem ser operacionais, quando decorrem da própria operação da empresa (perda de matéria-prima) ou fortuitas quando vem de fontes externas à empresa, como por exemplo um incêndio, uma enchente, etc... No primeiro caso (operacionais) as perdas passam a fazer parte do custo do produto, já que em grande parte conseguem ser medidas, já no segundo caso (fortuita) como não podem ser medidas, são transferidas para despesas, já que não podem ser relacionados com o produto da empresa.

Em um primeiro momento, o mais importante é diferenciar com atenção os custos das despesas, pois essa é, com certeza, a maior polêmica em relação à terminologia dos custos. De modo geral, pode-se dizer que os custos estão relacionados com o produto, ou seja, os seus valores comporão o valor do estoque de produtos da empresa até que sejam vendidos, enquanto as despesas estão relacionados com o período e com os gastos administrativos e comerciais, devendo ir para o resultado no período em que ocorreram.

3 – CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS

Os custos de uma empresa podem ser classificados de acordo com dois critérios principais. O primeiro em relação ao volume de produção, e o segundo em relação a sua apropriação ao produto.

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a) Em Relação ao Volume de Produção

Chamamos de volume de produção a quantidade produzida pela empresa em determinado período. Em relação à essa quantidade, os custos classificam-se em:

FIXOS – são aqueles que em determinado período de tempo e em certa capacidade instalada, não variam, qualquer que seja o volume de atividade da empresa. Mesmo que a empresa não tenha produção durante o período esses custos deverão ser computados. Exemplo: aluguel, salário mensal de um funcionário da produção, seguro da fábrica, entre outros.

VARIÁVEIS – são aqueles que sofrerão variações conforme a empresa aumente ou diminua o seu volume de produção. Quanto maior a produção, maior o valor destes custos, quanto menor a produção, menor o seu valor. Exemplo: matéria-prima, ou seja, quanto maior o volume de produtos produzidos, maior o consumo de matéria-prima.

SEMI-FIXOS – são custos que tem características de custo fixo, mas que podem sofrer uma variação acima de um volume de produção, voltando a ser fixo até que a empresa alcance um novo volume de produção.

SEMI-VARIÁVEIS – são custos que tenham a característica de um custo variável, mas que possui uma parte fixa dentro de si, deixando variar totalmente conforme o volume de produção.Exemplo a energia elétrica que varia conforme o volume produzido pela empresa, mas que possui uma parte fixa dentro de si, conhecida como taxa mínima.

b) Em Relação a Apropriação dos Custos aos Produtos:

Apropriação dos custos aos produtos é a maneira como a empresa faz a divisão dos custos de um período aos diversos produtos que ela fabrica. Em relação à essa apropriação, os custos podem ser classificados em:

DIRETOS: são os custos que devido às suas características podem ser diretamente identificados com os produtos que a empresa fabrica, bastando haver uma medida de consumo que possa claramente identificada, como por exemplo: quilogramas de materiais consumidos, embalagens utilizadas, horas trabalhadas, quantidade de força consumida, etc. Neste caso é possível saber com exatidão quanto foi consumido efetivamente destes custos em cada um dos produtos fabricados;

INDIRETOS: são aqueles que não possuem uma medida objetiva e não são facilmente alocados aos produtos. Para que esses custos sejam alocados aos produtos deve ser criado o que é conhecido como critério de rateio, que normalmente é feito com base em estimativas e de forma arbitrária, exemplo o aluguel, a chefia da produção entre outros.

4 – ELEMENTOS DE CUSTOS

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Conforme visto no item anterior os custos diretos são aqueles que podem ser facilmente identificados aos produtos conforme uma medida de consumo e os custos indiretos são aqueles que necessitariam de um critério de rateio para serem alocados aos produtos.

Pode-se dizer que dentro dos níveis normais de produção dentro de uma empresa, os custos de produção tem, em sua composição, a presença de três elementos principais, sem os quais os produtos não seriam fabricados. A esses elementos chamamos de Elementos de Custos, e podem ser assim separados:

a) MATERIAIS DIRETOS (MD): todo o material que possa ser diretamente identificado com o produto que está sendo fabricado, que sai da fábrica incorporado ao produto ou utilizado com embalagem no processo produtivo. Podemos dar como exemplo: a matéria-prima, os materiais auxiliares (desde que diretamente identificados aos produtos) e os materiais de embalagem;

b) MÃO DE OBRA INDIRETA(MOD): todo o valor de salário devido ao operário que trabalha diretamente no produto, cujo tempo pode ser identificado com a unidade que está sendo produzida;

c) CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO (CIF): são os demais custos relacionados ao processo produtivo que não podem ser diretamente identificados aos produtos fabricados pela empresa. Exemplo: materiais indiretos, aluguel da fábrica, materiais indiretos, mão-de-obra indireta, seguro, impostos, depreciação, etc...

5 – OUTRAS NOMENCLATURAS DE CUSTOS

Uma empresa industrial normalmente apresenta três tipos de estoque para controlar os seus custos.

O primeiro é o Estoque de Materiais Diretos que irá controlar todas as entradas e saídas de materiais diretos dentro de um período. Essa conta recebe valores (débito) quando a empresa adquire materiais diretos para futuramente serem utilizados no processo produtivo. Os créditos nessa conta (saída) acontecem quando a fábrica requisita esses materiais para o processo produtivo, e à partir do momento que são transferidos para o consumo no processo produtivo passam a fazer parte do custo do produto. Podemos dizer que o mecanismo dessa conta é dado por:

Estoque Inicial + Compras – Requisição de Materiais pela Fábrica = Saldo Final

O segundo estoque dentro de uma empresa industrial é conhecido como Estoque de Produtos em Elaboração ou Estoque de Produtos em Processos e representa o processo produtivo da empresa. Essa conta recebe (débito) valores quando da entrada dos elementos de custos (MD, MOD e CIF) para o processo produtivo. A soma dos elementos de custos que fazem parte do processo produtivo dentro de um período é chamada de Custo da Produção do Período. Os valores que saem dessa conta (crédito) referem-se aos produtos que foram acabados e agora estão a disposição dos clientes para venda. O valor das saídas dessa conta é conhecido como Custo da Produção Acabada. Portanto, pode-se identificar o mecanismo desta conta como:

Estoque Inicial + Custo da Produção do Período – Custo da Prod Acabada = Estoque Final

O último tipo de estoque é o chamado Estoque de Produtos Acabados, que pode ser definido como o estoque dos produtos que estão à disposição dos clientes para venda. Essa conta é

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debitada pela entrada de produtos acabados vindo de conta de Estoque de Produtos em Elaboração e é creditada pelo valor de custos dos produtos que foram efetivamente vendidos dentro do período, conhecido como Custo dos Produtos Vendidos. Somente neste momento é que o Custo gerado pela produção e comercialização dos produtos será demonstrado na Demonstração do Resultado do Exercício, ou seja, enquanto não houver a venda efetiva dos produtos, os custos gerados dentro do período estarão temporariamente “estocados”. O mecanismo desta conta pode ser calculado da seguinte forma:

Estoque Inicial + Custo da Produção Acabada – Custo do Produto Vendido = Saldo Final

A seguir, a representação gráfica da ligação entre os três tipos de Estoque:

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Baseado nessas informações, pode-se chegar ao esquema básico da Contabilidade de Custos, à saber:

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A presente figura representa, portanto, o esquema básico da Contabilidade de Custos, ou seja:

A primeira coisa a se fazer é separar os custos das despesas. Feito isso devemos alocar os custos aos produtos de acordo com o critério de custos diretos e custos indiretos. Os custos diretos são apropriados diretamente ao produto de acordo com as medidas possíveis de identificação, enquanto os custos indiretos passam primeiro por um critério de rateio para depois chegar até o produto. Enquanto os produtos não forem vendidos devem permanecer em estoques.

Após a efetivação da venda é possível calcular a Receita da Venda (pelo preço de venda) e o Custo do Produto Vendido que o valor dos produtos que deixam o estoque de produtos acabados da empresa, isto que dizer que os custos da empresa somente serão reconhecidos efetivamente em seu resultado quando houver a comercialização dos produtos (venda).

As despesas por estarem ligadas ao período e não ao produto são transferidas para o resultado da empresa no período em que ocorreram, independentemente de haver ou não venda efetiva dos produtos da empresa.

BIBLIOGRAFIA

BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens – Gestão de Custos e Formação de Preços – 3ª Edição – Editora Atlas – São Paulo – 2004

MARTINS, Eliseu – Contabilidade de Custos – 9ª Edição – Editora Atlas – São Paulo – 2009.