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CONTADOR DE HISTÓRIAS
Ms. Maralice Silva Borges
Samita Rodrigues de Sousa Oliveira
O contador de histórias é uma figura ancestral,
presente no imaginário de inúmeras gerações ao
longo da História. Em um universo desprovido de
recursos midiáticos, este ser era imprescindível para
a formação dos futuros adultos, conferindo às
crianças, através das narrativas de histórias,
‘causos’, mitos, lendas, entre outras, uma imagem
menos apavorante de uma realidade então povoada
pelo desconhecido.
Ao mesmo tempo em que amenizava os medos e uma
existência muitas vezes desfavorável, o narrador ajudava as
pessoas a entenderem melhor o que se passava a sua volta,
a enfrentar os dilemas e confrontos de natureza social e
individual, extraindo das experiências o aprendizado mais
profundo.
Normalmente o contador está muito presente na Era Medieval, nos
castelos tantas vezes sombrios, nas moradas mais remotas, nos
povoados disseminados pelas áreas rurais, com o objetivo de
compartilhar suas vivências e gerar em torno do grupo magnetizado
por suas histórias uma proteção gerada pelo próprio encanto do
momento e pela força do coletivo. As narrativas eram tecidas pela
voz mágica do contador, ao redor de fogueiras ou lareiras que
contribuíam para criar uma atmosfera de intensa magia.
Mas o narrador oral é ainda mais antigo, remontando
historicamente à Antiguidade greco-romana, na figura dos
bardos, responsáveis pela transmissão de histórias, lendas
e poemas orais na forma de canções. Quanto mais
desconhecido era o mundo em que se vivia, maior
necessidade se tinha de povoar este universo com imagens
que pudessem, ao mesmo tempo, educar e fortalecer a
coragem, predispondo as pessoas a enfrentarem os
monstros, dragões e demônios que habitavam suas mentes.
O contador de histórias não era um mero
reprodutor de narrativas, ele também gerava seus
relatos, simplesmente mantendo-se atento à reação
psicológica dos ouvintes. Conforme a disponibilidade
ambiental, ele improvisava e ampliava seus contos,
tendo como principal instrumento a palavra, que
detém o poder de transformar o comportamento
humano.
Como é possível perceber na mensagem
transmitida pelas 1001 Noites, onde as histórias se
entretecem para manter Scherazade viva e livre, e
ao mesmo tempo para curar o vizir, purificando seu
coração do incessante desejo de vingança contra as
mulheres. Aliás, no Oriente esta tradição de curar a
psique através da narrativa de estórias é
amplamente preservada pelos psicoterapeutas.
Recentemente a imagem do contador de histórias
retornou com força total, principalmente na segunda
metade do século XX. Inúmeras pessoas optaram por este
caminho, procurando cursos e oficinas técnicas para se
habilitarem profissionalmente.
Hoje, pode-se afirmar que esta ocupação começa a deixar
as mãos de amadores para seguir na direção da
profissionalização, pois atualmente há uma demanda
crescente por este profissional, principalmente nas escolas.
Algumas destas instituições chegam a reservar um espaço
no currículo escolar para este evento. Às vezes até mesmo
professores e bibliotecários são preparados para exercerem
esta tarefa no âmbito escolar.
Atualmente os contadores de histórias procuram encantar
com palavras e levar a mágica dos contos para a imaginação
das crianças. O diferencial da arte de contar histórias é que
o contador deve ser o dono das palavras, pois ele tem a
história e com sua palavra e seu poder de narrativa, é que
ele vai convencer e encantar o seu público.
“ A arte de contar histórias”. Ana Luisa Lacombe e Ilan
Brenman.
As histórias vão ajudar a criança a elaborar os seus medos,
sofrimentos, extravasar e elaborar de alguma forma positiva.
Principalmente as histórias com final feliz que dá aquele
alívio de que por mais que se passe por dificuldades, algo
bom acontecerá no final. A criança cresce acreditando nisso.
Fanny Abramovich na obra “Literatura infantil: gostosuras e bobices”, relata
sobre:
A importância das histórias.
O primeiro contato da criança com o texto é feito oralmente, através da voz da
mãe, ou de algum familiar, num momento de aconchego.
Ler histórias para crianças é poder se divertir com ela e ser cumplice do autor.
É também suscitar o imaginário, com possibilidade de descobrir um mundo
diferente e assim esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um
caminho para a solução delas.
É ouvindo que se pode sentir emoções importantes e assim enxergar com os
olhos do imaginário.
Como contar histórias;
Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluido como uma canção, ou se brinca
com a melodia dos versos, como o acerto das rimas, como o jogo das palavras.
Contar historias é uma arte. Ela que equilibra o que é ouvido com o que é
sentido. É o uso simples e harmônico da voz.
Quando se vai ler uma história é importante estar familiarizado com a
história, com as palavras, os personagens e saiba criar um clima de
envolvimento, de encantamento. Dando pausas e intervalos, respeitando o
imaginário de cada criança construir seu cenário, visualizar seus monstros
adentrar nesse mundo imaginário.
É bom evitar as descrições com muitos detalhes. Além de saber
usar as várias modalidades e possibilidades da voz.
Começar a contação com a palavra mágica. E mostrar a criança
que o que ouviu está impresso num livro.
Ouvir histórias pode estimular o pensar, o imaginar, o brincar, o
escrever. Alga Mariña Elizagaray lembra que “ Não devíamos
esquecer nunca que o destino da narração de contos é o de ensinar
a criança a escutar, a pensar e a ver com os olhos da imaginação...”
Betty Coelho na obra “Contar histórias: uma arte sem idade”,
discorre sobre:
1- Escolha da história;
Naturalmente é necessário fazer uma seleção:
- Que história contar (faixa etária, gosto, interesse);
- Indicadores que indicam a escolha (conhecimento dos interesses).
- Faixa etária (fase pré-mágica= situações que se aproximem da
criança; mágica= imaginação criadora; na idade escolar=enredo
elaborado e ouvinte peculiar= chave mágica).
2- Estudo da história;
Após a escolha, passamos a estudá-la, ou seja, divertir-se,
captar a mensagem implícita e identificar o elementos essenciais.
- Estrutura (introdução, enredo, clímax e desfecho).
- Explorando a história, levando em consideração que estudar a
história, é perscrutar lhe todas as nuances e possibilidades de
exploração oral.
- Música complementa a narrativa.
3- Formas de apresentação das histórias;
Os recursos mais utilizados são:
- Simples narrativa (tradicional e não requer acessórios a não ser a voz do
narrador);
- Com o livro (há histórias que requerem a apresentação do livro, pois a
ilustração os complementa).
- Com gravuras (ilustrações, gravuras, dentre outros).
- Com desenhos (descoberta gráfica).
- Com interferências do narrador e dos ouvintes(mantendo o equilíbrio sobre o
controle do narrador).
4- A narração da história:
- Conversa antes da história (as crianças falam para que depois se
predisponham a escutar).
As emoções se transmitem pela voz (intensidade, clareza e conhecimento).
- Cuidados que contribuem para o êxito da narração= para quem, onde será
contada e horário.
- Duração da narrativa: 5/10, ou 15/20.
- Como lidar com as interrupções (Contador e crianças).
- Conversa depois da história (não significa propor interpretativas/mensagem,
mas sim comentários interessantes, que denuncie conflitos existenciais.
“Quando o contador dá tempo às crianças de refletirem
sobre as histórias, para que mergulhem na atmosfera que a
audição cria, e quando elas são encorajadas a falar sobre o
assunto, então a conversação posterior revela que a história
tem muito a oferecer emocional e intelectualmente...”.
(Bruno Bettelheim).
5- Atividades a partir da história;
- Dramatização;
- Relatos;
- Pantomima (expressão corporal);
- Desenhos, recortes, modelagem, molduras;
- Criação de textos orais e escritos;
- Brincadeiras, dentre outros.
Enfim o ato de contar histórias deve ser algo prazeroso.
“Uma joaninha diferente” de Regina Célia Melo.
Música: Aos olhos do Pai.
Assistir : “Chapeuzinho amarelo”, de Chico Buarque.
Assistir: “ A arte de contar histórias no avental”.
Contar histórias é uma arte. Muitas pessoas têm um dom
especial para esta tarefa. Mas isso não significa que pessoas
sem esse dom excepcional não possam tornar-se bons
contadores de histórias. Com algum treinamento e alguns
recursos práticos qualquer pessoa é capaz de transmitir com
segurança e entusiasmo o conteúdo de uma história para
pequenos.
Utilizar os materiais/livros para contar histórias-
participantes.
A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e
interpretar sua experiência da vida real. Atualmente, com a crescente
competitividade e necessária inserção no mercado de trabalho, as
famílias não tem tido tempo suficiente para se dedicarem aos filhos.
Por isso, a maioria das crianças não tem oportunidade de ouvir
histórias no seio familiar. Cabe à escola e principalmente a fase da
Educação Infantil, assegurar que lhes não falte essa experiência tão
enriquecedora e tão importante para a aprendizagem da leitura.
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
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