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CONTEXTUALISMO Antonio Castelnou
Introdução
O PÓS-MODERNISMO CONTEXTUAL não se
apresenta como uma teoria que quer substituir
o formalismo, mas sim como a superação dos
seus problemas, principalmente por resgatar
a tradição e a identidade do local.
Seus defensores utilizam materiais e técnicas
tradicionais – antes menosprezados –, além de
contribuírem com simbologias e inovações
ligadas à heterogeneidade de cada sociedade.
Considera-se como
PRÁTICA CONTEXTUAL
a contaminação ou influência
dos elementos e métodos
típicos da linguagem
moderna com elementos do
repertório tradicional, que se
encontram no local onde a
obra está inserida, ou seja,
o diálogo com o ambiente,
através da recuperação da
presença histórica.
Centro Gallego de Arte (1990/93, Santiago de Compostela, Esp.) Álvaro Siza (1933-)
Aos poucos, ocorreu o
abandono das abstrações
modernistas e também dos
exotismos formalistas,
preferindo-se uma arquitetura
que se relacionasse com seu
ENTORNO e sua comunidade
local, ou seja, tirasse de lá
suas soluções formais,
técnicas e significados.
Teatro Carlo Felice (1983/91, Gênova It.)
Aldo Rossi (1931-97)
Mario Botta (1943-)
Poltrona Charlotte
(1980/82)
O CONTEXTUALISMO
defende uma arquitetura que
associa elementos tradicionais
(passado) e contemporâneos
(presente), utilizando formas,
materiais, texturas e cores para
criar contrastes e combinações
com o contexto.
Seus expoentes valorizam a
cultura local, a TRADIÇÃO
histórica e o artesanato,
negando o reducionismo formal
e material do modernismo . Cemitério San Cataldo (1971/84, Sicilia)
Aldo Rossi (1931-97)
Rafael Moneo (1937-) Ayuntamiento (1998, Murcia, Espanha)
Os italianos, através do
Gruppo Nuova Tendenza,
foram os primeiros a discutir
a questão da presença
histórica e suas relações
com a arquitetura moderna.
Liderada por ALDO ROSSI
(1931-97), a vertente italiana
contextualista, surgida nos
anos 1960/70, voltou-se
para o estudo morfológico
da cidade, assim como da
tipologia arquitetônica.
Croquis rossianos
Rossi formulou um programa
de redução baseado em formas
elementares (ARQUÉTIPOS),
tiradas da geometria através
do filtro da história, no qual
procurava identificar imagens
mentais da memória coletiva.
Seu livro L’Architettura della
Città (1966) introduziu as
preocupações contextualistas
e neo-historicistas da pós-
modernidade arquitetônica.
Centro Direzionale (1988, Perugia It.
Aldo Rossi (1931-97)
Teatro del Mondo
(1980/81, Veneza, Itália)
Gênova (2004, prov.)
O pensamento rossiano
influenciou vários
arquitetos, que passaram
a aplicar suas ideias
contextualistas, tais como:
Luigi Snozzi (1932-),
Enzo Bonfatti (1932-),
Giorgio Grassi (1935-),
Franco Purini (1941-) e
Massimo Scolari (1943-).
Casa Studentesca
(1974, Chieti, Itália)
Giorgio Grassi (1935-)
Luigi Snozzi (1932-) Parlamento Nacional do
Principado de Liechtenstein (2008)
Ícaro (1988)
Massimo
Scolari (1943-)
Em paralelo, outros teóricos
vieram contribuir com seus
estudos, como VITTORIO
GREGOTTI (1927-), com
Territorio dell’architettura
(1966); e CARLO AYMONINO
(1926-2010), com Il significato
delle città (1975), além de
Maurice M. Cerasi (1933-) e
Manfredo Tafuri (1935-94),
entre outros.
Vittorio Gregotti (1927-)
Carlo Aymonino (1926-2010)
Com sua difusão
internacional, a partir dos
anos 1970/80, a teoria
contextualista serviu de
crítica ao FORMALISMO
PÓS-MODERNO e encontrou
novos fundamentos em uma
vertente anglossaxônica. Collage City (1984) Colin Rowe (1920-99)
GENIS LOCI (1980) = Conjunto de
características arquitetônicas,
socioculturais, de hábitos e de linguagem
que caracterizam um lugar, ambiente ou
cidade (caráter ou espírito do lugar).
Christian Norberg-schulz
(1926-2000)
LOUIS KAHN (1901-74),
por sua vez, defendia que
a escolha arquitetônica
deveria partir de uma forma
retirada do repertório da
memória e da geometria
elementar, que seria
repensada em função das
atividades que ali deveriam
ocorrer, sendo assim
“deformada” e “adaptada”.
A FORMA EVOCA A FUNÇÃO
Phillips Exeter Academy Library (1967/72, Exeter NH)
Louis Kahn (1901-74)
First Unitarian Church (1959/64, Rochester NH)
Louis Kahn (1901-74)
Dacca National Assembly Building
(1965/70, Dacca, Bangladesh)
Ainda atuante, o
CONTEXTUALISMO constitui-se
em uma corrente contrária à
tendência de uma “civilização
universal” (globalização), opondo-
se à uniformização/unificação
(padronização) da cultural geral.
Através de estratégias de
assimilação e reinterpretação,
busca manter uma identidade
própria em um mundo globalizado
através de duas vertentes: o
CULTURAL e o FÍSICO .
Enrique Browne (1942-) Casa Zapallar (1998, Santiago, Chile)
Residência do Arcebispo (1985, Mariana MG) Éolo Maia (1942-2002)
Trata-se de uma corrente pós-
modernista que concebe o
contexto como algo abstrato
(soma não-aritmética do sítio
com a história).
Isto resulta na absorção de
elementos ou aspectos mais
abstratos do entorno – diga-se
CULTURAIS, como memória,
tradição em usos e costumes,
tipologias e simbologias, etc.
Contextualismo Cultural
L’Auditori (1987/96, Barcelona Esp.) Rafael Moneo (1937-)
Museu de Arte Romana (1980/85, Mérida Esp.)
Os contextualistas culturais
procuram fazer uma
RELEITURA provocativa da
paisagem, transformando
formas arquetípicas retiradas
da história e memória.
Mario Botta (1943-) Casa Bianchi (1972/4, Tavole Tessin, Suíça)
São características do
CONTEXTUALISMO
CULTURAL:
a) Resgate da dimensão cultural
da cidade, através de um novo
sentido de urbanidade (urbano
definido pela presença física de
objetos que mantêm relações de
continuidade entre si) e de
contextualidade histórica,
incentivado pelos programas de
renovação urbana e habitação
social que proliferam nos anos
1960/70.
New Town of Poundbury (Dorchester UK)
Nuova Città di Alessandria (Itália)
Rob (1938-) & Léon Krier (1946-)
b) Leitura original, provocativa e estimulante de monumentos, baseada
na transformação volumétrica dos espaços interiores e na utilização
autônoma de estruturas formais, inclusive antigas.
Petronas Towers (1996/98, Kuala Lampur Malásia)
Cesar Pelli (1926-) Prédios mais altos do mundo de 1998 a 2004 (88 andares)
Kek Lok Si Pagoda (1890/1903, Penang,
Malásia)
c) Contaminação e distorção das
formas a partir do contato com
o entorno, procurando
harmonizar-se com ele,
respondendo a ele e servindo
de transição.
d) Reintegração da imagem
urbana (continuidade visual-
espacial), além de buscar a
criação de espaços que
permitam a afirmação
da identidade cultural, a
convivência cívica e a
conscientização política .
Torhaus auf dem Messegelände
(1983/4, Frankfurt, Alem.) Oswald M. Ungers (1926-2007)
World FinancialCenter (1982/7, Battery Park – New York)
César Pelli (1926-)
Arata Isozaki (1931-)
Team Disney Corporation Office (1989/92, Orlando FL)
Museum of Contemporary Art
MOCA (1986/88, Los Angeles CA)
Nelson Fine Arts Center (1989, Tempe AZ)
Antoine Predock (1932-)
“Pueblo”
Architecture
Art Museum (1995, S. Francisco CA)
Mario Botta (1943-)
Catedral de Evry (1990/92, França)
Contextualismo Físico
Corrente pós-modernista que
concebe o CONTEXTO como algo
não-abstrato, composto por valores
reais e concretos – perceptíveis
por técnicas e materiais, além de
relações geométricas e tipológicas.
Preocupa-se com a conservação
de fortíssimos traços da condição
natural e regional de determinado
lugar, tentando conectar presente e
passado; invenção (novo) e
tradição (antigo). Residencial El Parque (1970/74, Bogotá Colômbia) Rogelio Salmona (1929-2007)
Também conhecido como
REGIONALISMO, baseia-
se na tradição local
(vernácula), inspirando-se
na arquitetura anônima e
típica de cada região.
Esta postura contextualista
critica a redução do
ambiente a uma série de
episódios cenográficos e/ou
racionalmente dispostos .
Casa do arquiteto (1971, Manaus AM)
Severiano Mário Porto (1928-)
Casa Edson Gil Costa (1980/85, Manaus AM)
Os arquitetos regionalistas
ligam-se a TENDÊNCIAS
NACIONALISTAS que
fazem a pesquisa de
técnicas de construção
alternativas, visando o
barateamento e a
“democratização” da
arquitetura, além das
questões ambientais.
Poltrona Mole (1957/60)
Sérgio Rodrigues (1927-2014)
Poltrona
Kilin (1973)
Nos EUA, as preocupações regionalistas já se mostravam
no trabalho dos arquitetos organicistas, como Frank
Lloyd Wright (1867-1959), Richard Neutra (1892-1970)
e Rudolph Schindler (1887-1953).
Frank Lloyd Wright (1867-1959) Taliesin West (1937/39, Scottsdale AZ)
Kaufman House (1946, Los Angeles CA) Richard Neutra (1892-1970)
Rudolph M. Schindler
(1887-1953)
Rodriguez House (1941, Glendale CA)
Schindler House (1921/22, West Hollywood CA)
A partir dos anos 1950, as ideias regionalistas
despontaram nas experiências da BAY AREA SCHOOL, liderada por William W.
Wurster (1895-1973), e na obra de Harwell H. Harris
(1903-90), no sul da Califórnia.
Wurster House (1959/61, S. Francisco CA)
William W. Wurster
Harwell H. Harris Birtcher House (1949, Los Angeles CA)
Contudo, a ARQUITETURA
REGIONALISTA intensificou-
se mesmo a partir da década
de 1970, em especial devido
ao Despertar Ecológico, fruto
da crise energética e das
críticas ao modelo de
desenvolvimento vigente.
Centre Social Mémé (1970/77, Woluwé St.Lambert, Bélgica)
Lucien Kroll (1927-)
Residencial Os Carvalhos (1979/82, Marne-la-Vallée, França)
Nos últimos 50 anos, a discussão
mais forte sobre a arquitetura
latino-americana vem girando em
torno da questão de IDENTIDADE,
ou seja, da preservação de seu
patrimônio, memória e cultura
diante do mundo globalizado.
Isto tem gerado correntes
regionalistas no continente,
preocupadas com o resgate de
traços culturais de distintas
realidades no tempo e no espaço.
Enrique Browne (1942-) Casa Caracola
(1987, Santiago, Chile)
Denomina-se TRANSCULTURAÇÃO o processo de miscigenação que ocorre entre as culturas local e importada e
baseia-se em estratégias de transferência, adaptação e transformação, que variam conforme a criatividade e
diversidade de cada povo americano durante sua história.
Palácio do Governo (1969, Fortaleza CE) Sérgio Bernardes
(1927-2002) São Clemente Park Hotel (1944/45, Nova Friburgo RJ) Lucio Costa (1902-98)
Severiano Mario Porto (1928-) Pousada da Ilha de Silves (1979, Amazonas, Brasil)
Museo de Arte Contemporáneo (1991, Monterrey, México)
Ricardo Legorreta (1931-2011)
Eladio Dieste (1917-2000) Iglesia de Atlántida (1958/60, Uruguai)
Miguel Angel Roca (1940-) Casa Calamuchita (1997/2004, Córdoba, Argentina)
Rogelio Salmona (1929-2007) Biblioteca Virgilio Barco (2000/01, Bogotá, Colômbia)
São características do
CONTEXTUALISMO
FÍSICO:
a) Busca efeitos emocionais através da
continuidade das tradições,
transformando materiais e técnicas existentes no
entorno; e usando-os nos novos edifícios
como elementos (texturas, cores,
agenciamentos e formatos).
Luis Barragán (1902-88)
Casa Gilardi (1980/83, Ciudad del México)
Casa Galvez
(1975/77, Ciudad
del México)
b) Valorização tanto do táctil como
do visual, opondo-se à tendência
de substituir a experiência pela
informação (maior sensibilidade às
questões de luz, calor, umidade e
deslocamento do ar, bem como a
diversidade dos aromas e sons).
Vivendas Quinta de Malagueira (1975/77, Evora Port.)
Álvaro Siza (1933-)
Casa Vieira de Castro (1988/97, Famalicão Port.)
Restaurante Boa Nova (1958/63, Matosinhos Portugal)
c) Ênfase em questões relacionadas ao conforto ambiental (iluminação,
ventilação, orientação, isolamento, etc.), tendo alto sentido ecológico e
procurando resgatar formas regionais de vida, técnicas artesanais e
materiais naturais.
Akil Sami House (1978/80, Dahshur, Egito)
Hassan Fathy (1899-1989)
d) Combinação frequente
entre os novos materiais,
técnicas industriais e muito da
sensibilidade moderna –
mas sem o idealismo e
objetivo de melhoria social – ,
que são associados a práticas
convencionais e até
vernaculares;
Sverre Fehn (1924-2009) Schreiner House (1963, Oslo, Noruega)
Villa Norrköping
(1963/64, Suécia)
Busk House (1990, Bamble, Noruega)
e) Emprego de elementos
referenciais ao entorno próximo
(disposições espaciais, eixos de
ordenação, contornos e cores, etc.),
além de símbolos que remetem a
conteúdos históricos e culturais do
sítio onde a obra se insere; assim
como a incorporação da
mão-de-obra local.
José Zanine
Caldas (1919-2001)
Habitat
Memorial da Cidade de Curitiba (1995/96)
Fernando Bopp & Valeria Bechara
Obras de João Turim, Poty Lazarotto, Zaco Paraná, Sérgio Ferro e outros artistas curitibanos
Leitura Complementar
APOSTILA – Capítulo 14 e 15.
BROWNE, E. Otra arquitectura en América Latina. México: Gustavo Gili, 1988.
GREGOTTI, V. Território da arquitetura. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, Col. Debates, n. 111, 2001.
MONTANER, J. M. Depois do Movimento Moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. México: Gustavo Gili, 2002.
PORTOGHESI, P. Depois da arquitetura moderna. São Paulo: M. Fontes, 2002.
ROSSI, A. A arquitetura da cidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.