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antagem a não exclusão do caráter biológico - que até hoje assola a Educação Física -, mas a ua discussão vinculada ao surgimento da cultura ao longo do tempo. Para o autor, o trabalho lesenvolvido deve partir do acervo cultural dos alunos, pois bs-moviFfteatos-cofp-Oíâís-que-elea-. íossuem extrapolam a influência da escola, são culturais e têm significados. Desta forma, ensinar' uma prática esportiva nas aulas de Educação Física é muito mais do que o ensinamento das regras, técnicas e táticas próprias daquele esporte. É-preciso-contextualizar sssa prática na-realidade sociocultural onde ela .se-encontra,'.possibilitando--.sua.contínua avaliação e reconstrução, ao invés da simples repetição de movimentos.padronizados. .. . A partir de um raciocínio semelhante, Godoy (l995),--em-seus estudos, .aborda e valoriza a Educação Física que se dá fora do ambiente escolar (a Educação Física não Escolar) como extremamente válida para se atingir os objetivos nos diferentes graus de ensino. O autor defende a necessidade de uma utilização pedagógica dessas atividades para que,, apropriando- se do saber sistematizado, os alunos possam "compreender,, corrigir --^transformar-. a ,realidade em que vivem, a sociedade da qual fazem parte, mesmo'.que -seja o-pequeno, grupo de amiguinhos do quarteirão onde moram." (p.33). Ghiraldelli (1991) também inclui a questão cultural na discussão da Educação Física e afirma que o professor dessa disciplina desenvolve a tarefa de-agente cultural, pois atua no sentido de implantar no movimento humano os' ditames de uma determinada cultura. Para o autor, é preciso que a aula se tranformé num ambiente crítico, onde a riqueza cultural dos movimentos humanos se estabeleça como trampolim para a crítica. A abordagem crítico-superadora, justamente por assumir uma estmtura dialética, pressupõe e enfatiza a interdependência que os temas da Educação Física têm com os grandes problemas sócio-polítícos atuais, tais como a ecologia, saúde pública, relações sociais no trabalho, preconceitos sociais e raciais, distribuição do solo urbano, distribuição de renda e dívida externa. Para Soares et ali! (1992), os conteúdos devem ser buscados dentro da prática social, a fim de que possam viabilizar a leitura da realidade estabelecendo laços concretos com projetos políticos de mudanças sociais. Outra linha-de trabalho percebeu na Aptidão Física e Saúde uma alternativa viável e educacional, o que parece lembrar a concepção biológica de tempos atrás. Entretanto, esta vertente justifica-se pela incidência cada vez maior de adolescentes e jovens obesos, pelo sedentarismo tão comum da modernidade e pelas possibilidades de se deparar com acidentes cardiovasculares, entre outros. Segundo Mattos e Neira (2000), a ideia de uma educação para a saúde conquistou um lugar privilegiado na sociedade atual, pois pode tornar o aluno capaz 66

Continuação pg66 -69Concepções Pedagógicas da Educação Física Escolar

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antagem a não exclusão do caráter biológico - que até hoje assola a Educação Física -, mas a

ua discussão vinculada ao surgimento da cultura ao longo do tempo. Para o autor, o trabalho

lesenvolvido deve partir do acervo cultural dos alunos, pois bs-moviFfteatos-cofp-Oíâís-que-elea-.

íossuem extrapolam a influência da escola, são culturais e têm significados. Desta forma,

ensinar' uma prática esportiva nas aulas de Educação • Física é muito mais do que o

ensinamento das regras, técnicas e táticas próprias daquele esporte. É-preciso-contextualizar

sssa prática na-realidade sociocultural onde ela .se-encontra,'.possibilitando--.sua.contínua

avaliação e reconstrução, ao invés da simples repetição de movimentos.padronizados. .. .

A partir de um raciocínio semelhante, Godoy (l995),--em-seus estudos, .aborda e

valoriza a Educação Física que se dá fora do ambiente escolar (a Educação Física não Escolar)

como extremamente válida para se atingir os objetivos nos diferentes graus de ensino. O autor

defende a necessidade de uma utilização pedagógica dessas atividades para que,, apropriando-

se do saber sistematizado, os alunos possam "compreender,, corrigir --^transformar-.a,realidade

em que vivem, a sociedade da qual fazem parte, mesmo'.que -seja o-pequeno, grupo de

amiguinhos do quarteirão onde moram." (p.33).

Ghiraldelli (1991) também inclui a questão cultural na discussão da Educação Física e

afirma que o professor dessa disciplina desenvolve a tarefa de-agente cultural, pois atua no

sentido de implantar no movimento humano os' ditames de uma determinada cultura. Para o

autor, é preciso que a aula se tranformé num ambiente crítico, onde a riqueza cultural dos

movimentos humanos se estabeleça como trampolim para a crítica.

A abordagem crítico-superadora, justamente por assumir uma estmtura dialética,

pressupõe e enfatiza a interdependência que os temas da Educação Física têm com os grandes

problemas sócio-polítícos atuais, tais como a ecologia, saúde pública, relações sociais no

trabalho, preconceitos sociais e raciais, distribuição do solo urbano, distribuição de renda e

dívida externa. Para Soares et ali! (1992), os conteúdos devem ser buscados dentro da prática

social, a fim de que possam viabilizar a leitura da realidade estabelecendo laços concretos com

projetos políticos de mudanças sociais.

Outra linha-de trabalho percebeu na Aptidão Física e Saúde uma alternativa viável e

educacional, o que parece lembrar a concepção biológica de tempos atrás. Entretanto, esta

vertente justifica-se pela incidência cada vez maior de adolescentes e jovens obesos, pelo

sedentarismo tão comum da modernidade e pelas possibilidades de se deparar com acidentes

cardiovasculares, entre outros. Segundo Mattos e Neira (2000), a ideia de uma educação para

a saúde conquistou um lugar privilegiado na sociedade atual, pois pode tornar o aluno capaz

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de agir na perspectiva da promoção e recuperação da saúde no âmbito pessoal e coletivo. Por

conta disso, vários profissionais da Educação Física têm se utilizado desta postura biológica,-

defendendo que, ao melhorar_..a.MÚde_e. .aj^klãoJMsã^dgs indivíduos, estariam contribuindo

para o desenvolvimento social.

Embora Ferreira (1995) reconheça a importância de" uma teoria da Educação Física

direcionada à promoção da saúde, chama a atenção para o fato de que'no movimento humano

ficam-registradas repercussões' orgânico-fisiológicas, mas também-repercutem-signos histórico-

sociais .expressando- relações de hegemonia político-econômicas em .uma-.-dada .sociedade.

Assim sendo, tanto um como outro são um saber a ser socializado.

Com relação aos conteúdos'que podem ser trabalhados segundo as abordagens mais

recentes, Pellegrinotti (1995) sugere uma organização, de maneira clara e objetiva: para as

primeiras séries do ensino fundamental, os jogos, as danças e as atividades rítmicas; da 5a à 8a

série as atividades esportivas aparecem corno conteúdo mais-'específico.e,<; portanto,:--os--valores

educativos devem ser trabalhados por meio delas; a partir da-8---série,-.no entanto, outras

preocupações começam'a surgir, decorrentes da necessidade de trabalho, preparação para o

vestibular e início da adolescência. Sendo assim, a Educação-Física terá seu grande momento

se lidar com conceitos fundamentados na corporeidade, quer'por meio. dos esportes ou de

outras formas de vivências corporais. Terá seu grande espaço se os conteúdos vierem de

encontro com a intelectualização dos alunos nas questões que afligem a juventude e, ao mesmo

tempo, passarem informações que poderão, servir como direcionamento ao longo da vida, por

exemplo, com-relação ao compromisso do esporte com a sociedade, às atividades físico-

esportivas da moda e às formas corretas de se exercitar e de utilizar aparelhos disponíveis em

áreas de lazer.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-MEC/SEF, 1998) apresentam urna

organização dos conteúdos'em três blocos, os quais devem ser desenvolvidos ao longo de todo

o ensino fundamental: 1. esportes, jogos, lutas e ginásticas; 2. atividades rítmicas e expressivas;

3. conhecimentos sobre o .corpo. Os blocos se articulam entre si, têm vários conteúdos em

comum, mas guardam especificidades. O professor que abrace esta proposta deve distribuir os

conteúdos a serem trabalhados de maneira diversificada e adequada às possibilidades e

necessidades de cada contexto.

Quanto aos aspectos metodológicos, Hiídebrandt e Laging (1986) entenderam as novas

concepções de Educação Física como a construção de situações em -que se tornam possíveis

experiências específicas para a superação de situações de vida presentes e futuras, sempre

.ondicionadas à 'história social e às necessidades dos atoo, Propuseram um ens.no

Jternativo vinculado à 'realidade sôcio-econômica e à poHtica nacional. Sendo uma concepção •

de ensino jberto, baseia-^ na ideia de propiciar ao aluno a participação nas decisões durante o

proe^so ensino-aprendizagem. Os autores analisaram, de modo profundo, as possibilidades

metodológicas da nova proposta, comparando-a com os princípios das demais existentes. De

.cordo com as descrições desses estudiosos, as abordagens tradicionais representam a

'concepção de ensino fechado, centrado em tarefas motoras, sem possibilidades de dec.sao para

os alunos e no qual todo o processo é determinado, dirigido é controlado pelo professor.

A questão que se levantou foi a de como alcançar os:objetivos maioresda educação

(autonomia atitude critico-questionadora, capacidade de transformar a.realidade) sem que se

permita aos alunos a prãnca de posturas condizentes? Desta forma, faz-se necessária uma sene

de modificações nas aulas propostas. Porém, tal mudança não precisa - e nem deve - ser

repentina isto e, o grau de abertura no ensino depende do gratude-possibilidade de co-dec.sao,

Lido e determinado pelo professor. Aos poucos, serâ,ossível viabilizar uma concepção

aberta na Educação Física, em que, cada vez mais, o ensino se preocupe com a subjeUvaçao

dos conteúdos, procure medidas não-diretivas, permita aos alunos a modificação e ^ a

transformação da situação proposta, o desenvolvimento da inictativa própna e a part.c.paçao

'em atividades produtivas (Hildebrandt & Laging, 1986).•Observando práticas inovadoras em diversas escolas brasileiras, Ramalho (2000)

constatou aue as mudanças realmente estão surgindo. A construção de uma nova Educação

Física vem envolvendo a necessidade de reavaliar conceitos, objetivos, perspect.vas e

atividades na tentativa de torná-la mais democrática e menos excludente. GaranUr a

participação d, todos é, aliás, uma preocupação que deve nortear o planejamento das aulas, o

oue leva 'o professor à diversificação dos temas, escolhendo aqueles que Unham mais

,-elevância para o grupo. Para isso, deve considerar o bairro, a escola, o momento, as

peculiaridades regionais e, principalmente, o interesse dos alunos.

A FIEP (2000) concluiu, em seu Manifesto Mundial da Educação Física, que ha um

consenso entre todas as concepções educativas da atuahdade de que a disciplina em questão se

conaitui numfator de equtlíbrio entre as pessoas. Acredita que, por meio de ativ.dades soc.o-

psicomotoras, esse eauUíbrio se expressa na interação espírito e corpo, afetividade e energ.a,

indivíduo e grupo, promovendo a totalidade dessas pessoas.Enfim a Educação Física Escolar segue escrevendo sua história, suas verdades e

concepções ao longo do tempo. E para que não retroceda, para que não volte a defender rde.as

je já estiveram em evidência {hoje superadas?), para que realmente possa avançar na busca de

ma Educação melhor, colaborar na formação de um ser humano mais feliz e na construção de

ma sociedade mais humana, livre e justa, é necessário .que os profissionais da área se

moenhem. É preciso que conheçam a traietória da disciplina inserida num contexto social, de-

iodo que compreendam seus valores e funções e, então, possam contribuir de forma

.onsciente e positiva na definição dos rumos tomados.