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17/08/2015 Imprima http://revistaescola.abril.com.br/imprimaessapagina.shtml?http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacaocontinuada/copiatempoperdidodidatic… 1/5 No Brasil, os alunos copiam muito, por muito tempo, sem finalidade didática. Ilustrações: Gabriel Lora Cópia: tempo perdido Embora seja uma prática bastante comum nas salas de aula brasileiras, a cópia quase nunca faz sentido como um recurso didático Iracy Paulina Certamente você conhece esta cena: ao propor que as crianças copiem determinado texto, elas torcem o nariz, reclamam e, preguiçosamente, começam a transcrever o conteúdo para o caderno.Antes de lamentar a apatia da turma ou simplesmente seguir em frente com esse tipo de proposta ignorando o malestar, é necessário analisar a situação a fundo, em busca dos resultados que ela realmente proporciona e das aprendizagens que se pretende alcançar. Depois de fazer isso, pode acreditar, a cópia será praticamente banida das salas de aula, principalmente nas turmas de alfabetização. Já está mais do que comprovado que os alunos são levados desnecessariamente a copiar muita coisa por muitas horas. Ao pesquisar o motivo que fazia os estudantes cubanos terem desempenho melhor do que os de outros países latinoamericanos, o economista americano Martin Carnoy comparou 36 escolas de Cuba, Chile e Brasil. Entre várias descobertas, ele verificou que o tempo usado para copiar em território brasileiro é três vezes maior do que o registrado nas salas de aula cubanas.

Cópia Tempo Perdido

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CÓPIA NÃO É RECURSO DIDÁTICO!

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No Brasil, os alunos copiam muito, pormuito tempo, sem finalidade didática.Ilustrações: Gabriel Lora

Cópia: tempo perdidoEmbora seja uma prática bastante comum nas salas de aulabrasileiras, a cópia quase nunca faz sentido como um recursodidático

Iracy Paulina

 

Certamente vocêconhece estacena: ao proporque as criançascopiemdeterminadotexto, elastorcem o nariz,reclamam e,

preguiçosamente, começam a transcrever o conteúdo para o caderno.Antes de lamentar aapatia da turma ou simplesmente seguir em frente com esse tipo de proposta ignorando omal­estar, é necessário analisar a situação a fundo, em busca dos resultados que elarealmente proporciona e das aprendizagens que se pretende alcançar. Depois de fazer isso,pode acreditar, a cópia será praticamente banida das salas de aula, principalmente nasturmas de alfabetização. 

Já está mais do que comprovado que os alunos são levados desnecessariamente a copiarmuita coisa por muitas horas. Ao pesquisar o motivo que fazia os estudantes cubanos teremdesempenho melhor do que os de outros países latino­americanos, o economista americanoMartin Carnoy comparou 36 escolas de Cuba, Chile e Brasil. Entre várias descobertas, eleverificou que o tempo usado para copiar em território brasileiro é três vezes maior do que oregistrado nas salas de aula cubanas.

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Copiar não ensina ninguém a ler eescrever.

"A cópia ocupa um lugar de destaque naprática dos alfabetizadores, mas na maioriados casos é usada para fins que nãocontribuem para a aprendizagem e o avançodas crianças", afirma Najela Tavares Ujie,mestre em Educação e professora daUniversidade Estadual do Centro­Oeste(Unicentro). Em 2006, ela coordenou umapesquisa em que estudantes de Pedagogiaacompanharam a rotina em sala de aula de 30turmas de 1ª série em escolas públicas eprivadas de Prudentópolis, a 204 quilômetrosde Curitiba. Em apenas uma semana, eles se

depararam com 215 propostas de cópia. Em 81% dos casos, a atividade estava relacionadaà exercitação mecânica (visando o treino ortográfico para memorização e redução de erros),ao preenchimento de tempo (para punir as crianças e inibir conversas) e à reprodução nocaderno dos exercícios apresentados no livro didático. 

A presença dessa proposta antiquada é tão preocupante que também despertou a atenção,em 2008, de 3 mil universitários de 96 faculdades de Pedagogia e Letras participantes doprograma Bolsa Alfabetização, em parceria com o programa Ler e Escrever, da Secretariada Educação do Estado de São Paulo. Os bolsistas atuavam juntamente com os professorestitulares de turmas do 2º ano para desenvolver uma investigação didática relacionada àspráticas escolares. "Eles rapidamente descobriram que o objetivo dos educadores era que ascrianças aprendessem a ler e escrever copiando e que isso, obviamente, não ocorria. Aatividade só servia mesmo para encher o caderno", conta Ellis França, professora daFaculdade Santa Marina. Outras percepções ficaram evidentes. Para os estudantesalfabéticos, a atividade era cansativa e sem sentido: eles não liam o que estavam copiando ecometiam muitos erros ortográficos, embora cumprissem a tarefa com rapidez. Para os não­alfabéticos, representava uma missão difícil de ser cumprida. "Eles copiavam letra porletra, pulavam palavras, perdiam a sequência do texto, demoravam muito e não conseguiamconcluir. Tudo isso provocava muita frustração", explica Ellis. Por fim, ficou claro tambémque nem para a caligrafia a dita­cuja funciona. Segundo Marisa Garcia, doutora emEducação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC­SP) e consultora doPrograma Ler e Escrever/Bolsa Alfabetização, ao chegar ao fim da folha, o aspecto visualdas letras está pior do que nas primeiras linhas. 

Não basta ter propósito social. É preciso haveraprendizagem 

Para que tenha alguma utilidade didática, a cópia tem de ser ressignificada pelosprofessores. "Ela tem sido considerada uma atividade com o poder de produzir escrita, mascopiar é transcrever, e não escrever", diz Marisa.

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Copiar era uma prática social importante.Hoje em dia, não é mais.

A tarefa pode favorecer a aquisição dosistema de escrita, quando, por exemplo, sepropõe à criança a cópia do título do livroque ela vai levar emprestado para ler emcasa. O desafio consiste em localizar ondeaparecem o título do livro e o nome do autor,o que se converte em uma desafiadorasituação de leitura. Essa é uma ideia citadaem La Lectura en la Alfabetización Inicial ­Situaciones Didácticas en el Jardín y laEscuela, publicação argentina coordenadapelas educadoras Claudia Molinari e MirtaCastedo, que reúne ações implementadas por

um programa de alfabetização inicial daquele país. 

Para ter alguma utilidade pedagógica, tem de responder muito bem à pergunta "copiar porquê?". Em uma palestra organizada em 2009 pela Secretaria da Educação do Estado de SãoPaulo, a educadora argentina Delia Lerner, da Universidade de Buenos Aires, sugeriu maisquestões para potencializar a indagação. A cópia é ou era uma prática social importante?Quais são seus propósitos? Para que se copiava antigamente? E hoje em dia? Além disso, éessencial, conforme destaca Delia, levar em conta o tipo de relação que existe entre a formacomo o ato de copiar é apresentado na escola e a maneira como existe fora dela, no dia adia. "É papel da instituição formar pessoas que saibam fazer coisas úteis fora de sala deaula" (leia o quadro abaixo).

A cópia ao longo da históriaAntes da invenção da tipografia, em 1449, pelo mestre gráfico alemão Johannes Gutenberg(1400­1468), a cópia era uma atividade imprescindível. Era graças aos manuscritos, feitospor monges e frades, chamados copistas ou escribas, que os livros se difundiam. "Se hojeconhecemos os escritos de grandes pensadores, como o filósofo grego Aristóteles (384a.C.­322 a.C.), foi porque os copistas os conservaram", diz Terezinha Oliveira, daUniversidade Estadual de Maringá (UEM). "Para isso, eles não precisavam sernecessariamente grandes leitores. Ainda assim, eram considerados artistas, pois para oshomens medievais a preservação do livro era vital para difundir o conhecimento e asabedoria." Tal ofício, como relatam os historiadores Guglielmo Cavallo e Roger Chartier nolivro História da Leitura no Mundo Ocidental, era extenuante. O escriba lia em voz alta otexto para ativar a memória imediata, enquanto transcrevia. Por volta do século 13,começaram a surgir equipamentos e móveis feitos para ajudá­los a reproduzir as páginasdos livros de maneira mais mecânica, sem terem de recorrer à leitura em voz alta."Iluminuras e gravuras de madeira, mostrando scriptoria da fase medieval tardia, mostramcopistas com a boca fechada, sentados em mesas equipadas com apoios para livros eutilizando uma variedade de novos marcadores de linha operados mecanicamente para

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guiar os olhos na ação de seguir o texto a ser copiado", descreve o livro. 

Hoje, é possível copiar uma frase ou um texto inteiro com o computador ou comfotocopiadoras em segundos. "Não sei se os professores, quando pedem às crianças quecopiem algo, têm consciência do que estão fazendo. Copiar é um esforço grande e não estáclaro que, como prática social, seja necessário nos dias de hoje", observa a educadoraargentina Delia Lerner.

Um segundo grupo de questionamentos que deve ser feito tem a ver com a análise doensino dessa prática. Nesse sentido, é importante que o professor se pergunte: comofunciona a cópia na escola? Em que situações didáticas é proposta? Por quê? Ela apareceisolada ou relacionada a outras atividades? Como as crianças copiam? Afinal éfundamental também fazer com que o ato de copiar seja significativo para os estudantes.Em geral, imagina­se que basta propor que eles copiem coisas como letras de música, listade telefones dos colegas e receitas para serem consultadas depois. No entanto, não se tratadisso. "É preciso entender que nesse processo é imprescindível haver algumaaprendizagem", diz Delia. 

Um bom exemplo do emprego dessa estratégia é apresentado pela educadora argentina AnaTeberosky no artigo A Intervenção Pedagógica e a Compreensão da Língua Escrita. Aautora conta que uma professora de um grupo de crianças de 5 anos de uma escola deBarcelona, na Espanha, articulava ditado, leitura, cópia e escrita em uma só atividade,pedindo que os pequenos ditassem a história em que estavam trabalhando para que ela aescrevesse no quadro, deixando claro que registraria tudo o que fosse dito. Eles ditavamalguns trechos enquanto conversavam entre si e faziam comentários. Assim, ela anotou:"As sete cabrinhas era uma vez uma mãe ai que comprido a mãe foi embora". Quando leuem voz alta, todos protestaram, dizendo que havia palavras a mais, que não faziam parte dahistória. Então, ela solicitou que fosse indicado o que deveria ser apagado e isso era feitoenquanto relia o trecho. Ao fim da atividade, pediu às crianças para copiar do quadro otexto que haviam ditado, já com as correções feitas, para que continuassem trabalhando naaula seguinte. Nessa situação, a cópia tem razão de ser porque conserva um fragmento deuma história que vai ser retomada em outra ocasião e o texto que foi copiado é conhecido ­as próprias crianças o produziram. Essas são duas condições imprescindíveis para a cópiater algum sentido na perspectiva da alfabetização inicial, além de, é claro, estar explícitoque todos estão copiando para determinado fim e não só porque a professora quis quecopiassem. Nesse mesmo estudo, Ana também percebeu que muitos alunos copiavam otexto dos colegas mais próximos em vez de reproduzir o que estava no quadro. Fazem issoporque o caderno está mais próximo do que o quadro ­ uma atitude que, de acordo comDelia, tem um paralelo com os equipamentos criados para os copistas da Idade Média paraminimizar o grau de deslocamento ocular entre o original e a cópia.

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CONTATOS Marisa GarciaNajela Tavares UjieTerezinha Oliveira

BIBLIOGRAFIA História da Leitura no Mundo Ocidental ­ Volume 1, Guglielmo Cavallo e Roger Chartier, 232págs., Ed. Ática, tel. 0800­115­152, edição esgotada 

INTERNET Publicação La Lectura en la Alfabetización Inicial ­ Situaciones Didácticas en el Jardín y laEscuela (em espanhol)

Publicado em NOVA ESCOLAEdição 229, Janeiro/Fevereiro 2010,